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Neurofisiologia
Ellen Balielo Manfrim

Muitos Transtornos Neuropsiquiátricos são relacionados a alterações nos


mecanismos do desenvolvimento neuronal. Nos estágios iniciais do
desenvolvimento cerebral, o que impulsiona o desenvolvimento de conexões
neurais no cérebro são as interações celulares. Conforme os circuitos vão se
formando, os neurônios e suas conexões são refinados de acordo com a
atividade que desempenha. Em um estágio mais maduro, a experiência vivida
torna-se a força que impulsiona e dá forma às conexões neurais, além de regular
essas conexões.
Dessa forma, os transtornos provenientes de problemas no
desenvolvimento cerebral inicial são provavelmente decorrentes de problemas
intrínsecos ou genéticos, enquanto aqueles que surgem mais tardiamente
podem ter uma origem nas experiências vividas. Em contraposição a essas
afirmações e ambições, novas hipóteses têm aparecido tanto nas pesquisas
genéticas como nas pesquisas sobre a neurofisiologia dos transtornos,
sinalizando a emergência de um modo mais complexo de compreender a
determinação biológica, baseando-se nas noções de epigenética,
neurodesenvolvimento e plasticidade.
A neurofisiologia é um campo da neurociência que estuda o
funcionamento do Sistema Nervoso (SN).
Para entender o fluxo de informações no SN, é importante saber que o
cérebro é formado por 2 tipos celulares principais: os neurônios e as células da
glia.
As células da glia, também conhecidas como neuroglias, são
exemplificadas pelos astrócitos, micróglias, oligodendrócitos e células de
schwann, sendo que cada uma delas desempenha função peculiar no sistema
nervoso.

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Os neurônios do Sistema Nervoso Central (SNC) são células altamente
diferenciadas que apresentam grande heterogeneidade de forma e tamanho,
tendo como funções receber, processar e transmitir informações. Podem ser
classificados como excitatórios ou inibitórios, sendo os primeiros geralmente os
neurônios principais que se projetam a longas distancia s como as células
piramidais do córtex, já os neurônios inibitórios são frequentemente
interneurônios e possuem axônios curtos.
Os neurônios são compostos de 4 regiões distintas, os dendritos, o corpo
celular, o axônio e os terminais sinápticos. É através do terminal sináptico que
ocorrem as sinapses, é o local onde os neurônios se comunicam.
A transmissão sináptica é basicamente dividida em três processos:
1. Os impulsos excitatórios (potencial de ação) que chegam ao terminal axonal
despolarizam a membrana pré-sináptica, fazendo os canais de cálcio
voltagem-dependentes se abrirem. Em consequência, os íons cálcio fluem
para o botão terminal e interagem com diversas proteínas, causando a fusão
da vesícula sináptica com a membrana pré-sináptica. As moléculas
neurotransmissoras nas vesículas são liberadas na fenda sináptica.
2. Essas moléculas neurotransmissoras se difundem através da fenda
sináptica e se ligam a receptores específicos na membrana pós-sináptica.

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3. A ligação dos neurotransmissores pode ser com receptores inotrópicos ou
metabotrópicos, sendo que os primeiros permitem a abertura de canais
iônicos e a entrada de íons negativos ou positivos para o interior da célula
neuronal, enquanto os segundos induzem a rápida formação de segundos
mensageiros, desencadeando uma sequência de acontecimentos que levará
à neuromodulação.
Os neurônios são capazes de transmitir informações porque são química
e eletricamente excitáveis. Essa excitabilidade é conferida através de canais
iônicos que são dependentes de voltagens e permeáveis a diferentes íons, por
ligação com os neurotransmissores, ou por pressão e estiramento. Em geral, os
canais iônicos neuronais conduzem íons através da membrana citoplasmática
de forma extremamente rápida, sendo que esse intenso fluxo de corrente
provoca rápidas alterações no potencial de membrana e é a base para o
potencial de ação.
Como já vimos, os neurotransmissores liberados por um neurônio em uma
célula ativam os receptores em dendritos de um outro neurônio e induzem o fluxo
de íons através dessa membrana, certo? Os sinais elétricos resultantes desse
fluxo de íons se espalham até o corpo celular. No corpo celular, esses sinais
sinápticos combinam-se e, se forem suficientes, despolarizam o segmento inicial
do axônio. Quanto o nível limiar de despolarização é atingido, o potencial de
ação é liberado. Portanto, o potencial de ação é uma onda elétrica que se
propaga através do axônio, desencadeando um influxo de Ca2+ nos terminais
axonais, que leva à liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica.

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Essa habilidade dos neurônios de gerar um potencial de ação é
decorrente da presença de fortes gradientes iônicos ao longo da membrana
plasmática:
Em repouso, a célula neuronal tem carga interna negativa, e o seu interior
está repleto de K+, enquanto o meio externo tem carga positiva e é composto
por Na+ e cloreto Cl-. Esses gradientes são mantidos pelo trabalho contínuo da
Bomba de Na-K, que usa energia (hidrólise de ATP) para manter o gradiente de
concentração. Na membrana do neurônio também encontramos os canais
iônicos voltagem-dependentes, que regulam o fluxo de Na, K e Ca através da
membrana. Em repouso, os canais de K e Cl estão abertos, de modo que os
gradientes de K e Cl determinam a diferença do potencial fora e dentro da célula,
ou seja, o potencial de membrana varia de -50 a -70mV.
Quando ocorre a sinalização pelo neurotransmissor, o Na entra na célula
através de canais iônicos químico-dependentes, tornando o meio interno cada
vez mais positivo, até atingir o Potencial Limiar, ou seja, o potencial de
membrana chega ao redor de -55mV. Nesse momento, os canais de Na
voltagem-dependentes são ativados, gerando um rápido carregamento desse
íon para dentro do neurônio, o que o deixa com o interior positivo, até atingir um
potencial de membrana de +40mV. Esse é o efeito chamado de “tudo ou nada”,
que leva à despolarização, que é a inversão de cargas no interior do neurônio.
Ao atingir essa voltagem, os canais de Na voltagem-dependentes se
fecham e ocorre automaticamente a abertura dos canais de K+ voltagem-
dependentes, que tiram o K+ de dentro da célula para deixá-la novamente
negativa, levando à repolarização. Conforme o K+ vai saindo da célula, o
potencial de membrana vai caindo novamente, porém os canais de K voltagem-
dependentes só se fecham a uma voltagem aproximada de -70mV, o que leva a
uma ligeira hiperpolarização. Dessa forma, teremos uma concentração maior de
Na no meio extracelular e de K no meio intracelular. Portanto, para jogar K para
dentro da célula e Na para fora da célula, precisamos de energia, e é aí que a
bomba de Na-K trabalha utilizando ATP e mantendo os potenciais em repouso.
Uma vez repolarizada, a inativação de Na termina, e a célula pode
disparar novamente. A duração dessa cadeia complexa é de 5-8 milissegundos.

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À medida que segmentos axonais sucessivos são despolarizados, o
potencial de ação é conduzido com grande velocidade ao longo do axônio. Isso
é potencializado pela mielinização, que aumenta a velocidade de condução pois
restringe o fluxo de corrente necessária para a condução do potencial de ação
nos espaços localizados entre os segmentos de mielina, chamados de nódulos
de Ranvier.
A neurofisiologia, como parte das neurociências, é o campo que estuda
como a atividade cerebral se correlaciona com os transtornos do
neurodesenvolvimento, sendo fonte de conhecimento capaz de revelar os nexos
que conduzem à formação dos transtornos mentais.

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Referências Bibliográficas

YUDOFSKY, Stuart C; HALES, Robert E. Fundamentos de neuropsiquiatria


e ciências do comportamento - 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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