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CBI of Miami 2
Neurofisiologia
Ellen Balielo Manfrim
CBI of Miami 3
Os neurônios do Sistema Nervoso Central (SNC) são células altamente
diferenciadas que apresentam grande heterogeneidade de forma e tamanho,
tendo como funções receber, processar e transmitir informações. Podem ser
classificados como excitatórios ou inibitórios, sendo os primeiros geralmente os
neurônios principais que se projetam a longas distancia s como as células
piramidais do córtex, já os neurônios inibitórios são frequentemente
interneurônios e possuem axônios curtos.
Os neurônios são compostos de 4 regiões distintas, os dendritos, o corpo
celular, o axônio e os terminais sinápticos. É através do terminal sináptico que
ocorrem as sinapses, é o local onde os neurônios se comunicam.
A transmissão sináptica é basicamente dividida em três processos:
1. Os impulsos excitatórios (potencial de ação) que chegam ao terminal axonal
despolarizam a membrana pré-sináptica, fazendo os canais de cálcio
voltagem-dependentes se abrirem. Em consequência, os íons cálcio fluem
para o botão terminal e interagem com diversas proteínas, causando a fusão
da vesícula sináptica com a membrana pré-sináptica. As moléculas
neurotransmissoras nas vesículas são liberadas na fenda sináptica.
2. Essas moléculas neurotransmissoras se difundem através da fenda
sináptica e se ligam a receptores específicos na membrana pós-sináptica.
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3. A ligação dos neurotransmissores pode ser com receptores inotrópicos ou
metabotrópicos, sendo que os primeiros permitem a abertura de canais
iônicos e a entrada de íons negativos ou positivos para o interior da célula
neuronal, enquanto os segundos induzem a rápida formação de segundos
mensageiros, desencadeando uma sequência de acontecimentos que levará
à neuromodulação.
Os neurônios são capazes de transmitir informações porque são química
e eletricamente excitáveis. Essa excitabilidade é conferida através de canais
iônicos que são dependentes de voltagens e permeáveis a diferentes íons, por
ligação com os neurotransmissores, ou por pressão e estiramento. Em geral, os
canais iônicos neuronais conduzem íons através da membrana citoplasmática
de forma extremamente rápida, sendo que esse intenso fluxo de corrente
provoca rápidas alterações no potencial de membrana e é a base para o
potencial de ação.
Como já vimos, os neurotransmissores liberados por um neurônio em uma
célula ativam os receptores em dendritos de um outro neurônio e induzem o fluxo
de íons através dessa membrana, certo? Os sinais elétricos resultantes desse
fluxo de íons se espalham até o corpo celular. No corpo celular, esses sinais
sinápticos combinam-se e, se forem suficientes, despolarizam o segmento inicial
do axônio. Quanto o nível limiar de despolarização é atingido, o potencial de
ação é liberado. Portanto, o potencial de ação é uma onda elétrica que se
propaga através do axônio, desencadeando um influxo de Ca2+ nos terminais
axonais, que leva à liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica.
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Essa habilidade dos neurônios de gerar um potencial de ação é
decorrente da presença de fortes gradientes iônicos ao longo da membrana
plasmática:
Em repouso, a célula neuronal tem carga interna negativa, e o seu interior
está repleto de K+, enquanto o meio externo tem carga positiva e é composto
por Na+ e cloreto Cl-. Esses gradientes são mantidos pelo trabalho contínuo da
Bomba de Na-K, que usa energia (hidrólise de ATP) para manter o gradiente de
concentração. Na membrana do neurônio também encontramos os canais
iônicos voltagem-dependentes, que regulam o fluxo de Na, K e Ca através da
membrana. Em repouso, os canais de K e Cl estão abertos, de modo que os
gradientes de K e Cl determinam a diferença do potencial fora e dentro da célula,
ou seja, o potencial de membrana varia de -50 a -70mV.
Quando ocorre a sinalização pelo neurotransmissor, o Na entra na célula
através de canais iônicos químico-dependentes, tornando o meio interno cada
vez mais positivo, até atingir o Potencial Limiar, ou seja, o potencial de
membrana chega ao redor de -55mV. Nesse momento, os canais de Na
voltagem-dependentes são ativados, gerando um rápido carregamento desse
íon para dentro do neurônio, o que o deixa com o interior positivo, até atingir um
potencial de membrana de +40mV. Esse é o efeito chamado de “tudo ou nada”,
que leva à despolarização, que é a inversão de cargas no interior do neurônio.
Ao atingir essa voltagem, os canais de Na voltagem-dependentes se
fecham e ocorre automaticamente a abertura dos canais de K+ voltagem-
dependentes, que tiram o K+ de dentro da célula para deixá-la novamente
negativa, levando à repolarização. Conforme o K+ vai saindo da célula, o
potencial de membrana vai caindo novamente, porém os canais de K voltagem-
dependentes só se fecham a uma voltagem aproximada de -70mV, o que leva a
uma ligeira hiperpolarização. Dessa forma, teremos uma concentração maior de
Na no meio extracelular e de K no meio intracelular. Portanto, para jogar K para
dentro da célula e Na para fora da célula, precisamos de energia, e é aí que a
bomba de Na-K trabalha utilizando ATP e mantendo os potenciais em repouso.
Uma vez repolarizada, a inativação de Na termina, e a célula pode
disparar novamente. A duração dessa cadeia complexa é de 5-8 milissegundos.
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À medida que segmentos axonais sucessivos são despolarizados, o
potencial de ação é conduzido com grande velocidade ao longo do axônio. Isso
é potencializado pela mielinização, que aumenta a velocidade de condução pois
restringe o fluxo de corrente necessária para a condução do potencial de ação
nos espaços localizados entre os segmentos de mielina, chamados de nódulos
de Ranvier.
A neurofisiologia, como parte das neurociências, é o campo que estuda
como a atividade cerebral se correlaciona com os transtornos do
neurodesenvolvimento, sendo fonte de conhecimento capaz de revelar os nexos
que conduzem à formação dos transtornos mentais.
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Referências Bibliográficas
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