Você está na página 1de 11

CBI of Miami 1

DIREITOS AUTORAIS
Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os
direitos sobre o mesmo estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar
e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações
legais.

CBI of Miami 2
Princípios da Neurociência
Ellen Balielo Manfrim

Introdução
A neurociência é a área que estuda o sistema nervoso de forma
detalhada. Seu objetivo principal é compreender a mente e entender como o
encéfalo, também conhecido como cérebro, participa na formação, ou melhor,
na produção de comportamentos.

O Que São Comportamentos?


Comportamentos são respostas que um ser humano/animal apresenta
diante de determinadas situações. De forma mais simplificada,
comportamentos são reações dinâmicas/mutáveis que ocorrem em resposta
aos estímulos do ambiente.
O estudo do comportamento é realizado através do behaviorismo, que é
uma das mais importantes áreas da psicologia. Segundo o behaviorismo, toda
vida mental se expressa através de comportamentos, ou seja, através de atos,
gestos, palavras, expressões, ou qualquer outra forma que permita ao homem
reagir aos estímulos do meio.
Por muito tempo, o comportamento foi associado à emoção e a uma
causa subjetiva, como se o controle do comportamento fosse realizado por
outro órgão ou entidade. Muitos associavam as expressões comportamentais
ao coração, outros associavam a espiritualidade, como se determinados
comportamentos fossem resultado de possessão demoníaca.
Porém estudiosos relacionam o comportamento ao cérebro há muito
tempo, com diversos casos relatados sobre mudanças comportamentais após
acidentes, mas sem muita precisão na determinação das áreas cerebrais
envolvidas com o comportamento, já que essas descobertas só foram mais
precisas após o advento dos exames de imagem e neurofisiológicos.
Um dos casos mais famosos sobre a relação cérebro versus
comportamento, é o do operário americano Phineas Gage, um rapaz calmo,
educado, brincalhão e de muitos amigos. Aos 25 anos, Gage trabalhava na
construção de uma estrada de feno. No dia 13 de setembro de 1848, ele estava

CBI of Miami 3
dinamitando rochedos para abrir espaço para a construção de uma estrada de
feno, mas foi traído por um descuido. Gage colocou a pólvora no buraco
cavado, mas esqueceu de jogar areia sobre a pedra e a pólvora para evitar o
atrito. Ao pressionar a pólvora com uma barra de ferro, o atrito gerou uma
faísca, que resultou numa explosão: a barra de ferro voou e perfurou o rosto de
Gage, entrando pela bochecha esquerda e saindo pela região superior direita
da cabeça. Apesar dos danos sofridos, ele recebeu alta em bom estado físico
após 3 meses de internamento. Porém seu comportamento nunca mais foi o
mesmo: passou a ter um comportamento hostil, violento, arruaceiro, falava
palavras inapropriadas, arrumava brigas constantemente, o que o levou a ser
demitido do seu emprego e marginalizado socialmente. Seu caso foi
amplamente estudado na época, mas a contribuição foi mais a nível de história
do que da neurociência. Contudo, o caso de Phineas Gage exemplifica a
importância que o encéfalo tem sobre o comportamento humano. E a
neurociência se debruça sobre o estudo do comportamento, da mente,
relacionando-os ao encéfalo.
Como dizia Hipócrates, “para entender a mente, é necessário primeiro
conhecer o encéfalo”. Hoje, sabemos que tão importante quanto estudar o
encéfalo, é estudar as circuitarias neurais e suas ligações, e entender como as
mudanças moleculares a nível de neurônios modificam o nosso
comportamento.
E para entender um mais sobre isso, precisamos retomar alguns
conceitos básicos da neurociência. Como dito anteriormente, a neurociência
estuda o sistema nervoso. Os primeiros registros relacionados ao sistema
nervoso datam de XVII a.C. e são símbolos retirados de um papiro cirúrgico
onde haviam registros de sintomas, diagnósticos e prognósticos de pacientes
com fraturas ósseas do crânio. Esse papiro está na sala de livros raros, da
Academia de Medicina de Nova Iorque.

CBI of Miami 4
Introdução à Neurociência
A neurociência é uma ciência interdisciplinar que estuda os aspectos
moleculares, celulares, de desenvolvimento, estruturais, funcionais, evolutivos
e médicos. Embora seja considerada um ramo da biologia, ela colabora e
fornece informações para outras áreas como a educação, a química, a
engenharia, antropologia, linguística, psicologia, medicina e outros campos.
Seu objetivo, como falamos anteriormente, é entender a mente. Ou seja,
como nós agimos, como percebemos, como aprendemos, enfim, como essas
funções tão complexas são realizadas pelo cérebro humano. De forma
simplista, a neurociência objetiva entender o comportamento humano através
da compreensão de células nervosas individuais.
De maneira simples: a neurociência compreende 5 disciplinas:
• Neurociência Molecular: Estuda a importância funcional das moléculas;
• Neurociência Celular: Estuda as células que compõem o Sistema Nervoso,
suas estruturas e suas funções;
• Neurociência Sistêmica: Regiões do Sistema Nervoso, ou seja, a
neuroanatomia;
• Neurociência Comportamental: Explica as capacidades
mentais que produzem comportamentos;
• Neurociência Cognitiva: Capacidades mentais mais complexas,
como linguagem e memória.

CBI of Miami 5
Historicamente, sempre houve dois grandes grupos de discussão dentro
da neurociência:
• Globalistas: Acreditavam que o Sistema Nervoso era responsável, de forma
inteira, por todas as funções;
• Localizacionistas: Acreditam que diferentes áreas do cérebro eram
responsáveis por diferentes funções e que todas as capacidades mentais
vinham do Sistema Nervoso.

Segundo a visão da função encefálica denominada conexionismo


celular, amplamente estudada pelo neurologista Wernicke e o fisiologista
Ramón y Cayál, os neurônios individuais são as unidades sinalizadoras do
Sistema Nervoso. Eles são organizados em grupos funcionais e conectados
uns aos outros. A especificidade dessas conexões neurais estabelecidas ao
longo do desenvolvimento é a base da percepção, ação, emoção e
aprendizagem. Logo, a mente é um conjunto de operações realizadas pelo SN.
Muitos estudiosos, portanto, se dedicaram a estudar a neurociência e os
conceitos evoluíram de forma surpreendente. Hoje, entendemos que o Sistema
Nervoso é constituído de unidades distintas que se interagem e se
complementam. Sabemos que o Sistema Nervoso (SN) é um mosaico de
regiões, cada qual com funções específicas, porém, altamente ligadas e
conectadas entre si através das conexões neurais, ou seja, sinapses.

Sistema Nervoso
O SN é um dos 11 sistemas do organismo, caracterizado por um
conjunto de estruturas integradas que desempenha funções específicas e
vitais. Ele é formado por células (neurônios e células da glia).
O SN desempenha diversas funções e age junto com o sistema
endócrino para regular funções corporais. Mas basicamente o SN exerce
função motora (contração muscular), sensitiva (recebe informações),
moduladora (seleciona estímulos), associativa e psíquica. O SN sensorial, por
exemplo, recebe estímulos internos e externos, integra, analisa, armazena e
decide como usar esses estímulos, produzindo uma resposta.

CBI of Miami 6
De forma simplificada, podemos dizer que o SN tem duas grandes
funções:
• Manutenção da Homeostase: Pressão arterial, temperatura, glicemia e
volemia.
• Geração de Comportamentos Diversos: Reflexos, alimentares, de
defesa, fuga, sono.

Organização do Sistema Nervoso


A organização do SN é dividida em 3 importantes tópicos: embriologia,
anatomia e funcionalidade.

Organização Embriológica do Sistema Nervoso


Logo que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, forma-se o zigoto,
que é uma única célula. O zigoto começa a se dividir em células cada vez
menores e mais numerosas, originando a mórula e depois a blástula (que
significa “broto”, já́ que nessa fase que o embrião se fixa na parede uterina),
que é uma esfera oca de células embrionárias, conhecidas como blastômeros.
Na segunda semana de gestação, forma-se a gástrula, momento este em que
o embrião é formado por células indiferenciadas dispostas em 3 folhetos
embrionários (são as chamadas células tronco e ainda não formaram nenhum
tecido específico): endoderma, mesoderma e ectoderma.

CBI of Miami 7
Portanto, o desenvolvimento do cérebro e do SN como um todo começa
a partir da segunda semana de gestacional, num processo pelo qual o
ectoderma forma a placa neural. Essa placa neural começa a se aprofundar e,
entre a 3ª e 4ª semana de gestação, dará origem ao tubo neural. O tubo neural
dará origem aos elementos do Sistema Nervoso Central (cérebro, cerebelo,
tronco encefálico e medula espinhal), enquanto as cristas neurais darão origem
ao Sistema Nervoso Periférico (nervos espinhais e cranianos, gânglios
espinhais).
A primeira parte que se fecha no tubo neural é a central, depois a parte
superior, seguida da inferior. O neuróporo rostral dará origem ao encéfalo,
enquanto o caudal à medula espinhal.
O neuróporo caudal cresce em comprimento e espessura. O neuróporo
rostral dilata e se divide em 3 estruturas (prosencéfalo, mesencéfalo e
rombencéfalo). O prosencéfalo formará os elementos anteriores, o
mesencéfalo formará os elementos da região média e o rombencéfalo formará
os elementos da região posterior.

Organização Anatômica do Sistema Nervoso


O SN é subdividido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema
Nervoso Periférico (SNP).
O SNC é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal, sendo o
encéfalo protegido pelo crânio e a medula espinhal pela coluna vertebral. O
encéfalo é constituído pelos hemisférios cerebrais, cerebelo e tronco encefálico
(mesencéfalo, ponte e bulbo). O cérebro e o cerebelo constituem a parte supra
segmentar do SNC, nas quais a substância cinzenta situa-se perifericamente,

CBI of Miami 8
constituindo o córtex (cerebral e cerebelar); o tronco encefálico constitui a
porção segmentar, cuja característica anatômica é possuir a substância
cinzenta disposta centralmente, e a branca perifericamente, como na medula
espinhal.
Já o SNP é composto por nervos e gânglios nervosos. Suas
ramificações originam-se da porção segmentar do SNC. Os nervos são
chamados de cranianos quando são oriundos do encéfalo, e de espinhais
quando são oriundos da medula espinhal.

Organização Funcional do Sistema Nervoso


O SN está continuamente em atividade, com a função de adaptar o
organismo às modificações do meio externo e interno. Sinais oriundos do meio
externo e interno chegam o tempo todo ao SNC, especialmente ao cérebro,
para que este, uma vez “informado sobre o que está́ acontecendo”, possa agir
de forma correta respondendo de acordo com a informação recebida. Para que
isso ocorra, contamos com mais uma tradicional divisão: Sistema Nervoso
Somático e Visceral.
O SN Somático é a parede do corpo, ou seja, é ele quem interage com o
meio externo, adaptando-nos para as condições necessárias para o momento.
Já o SN Visceral controla o ambiente interno, presidindo o funcionamento dos
órgãos.
Tanto o SN Somático quanto o Visceral têm vias aferentes e eferentes.
Todas as informações que chegam pelo Sistema Nervoso Periférico e vão para
o SN Central compõem a via aferente, sendo que esta é mais relacionada à
sensibilidade. Já a via eferente leva estímulos do SNC à periferia do nosso
corpo.
Se pensarmos novamente no SN Somático, vamos lembrar que ele é a
parte que tem contato com o meio externo. Portanto, sua via aferente é
responsável por toda a parte sensorial (ex.: tátil, visual, gustativa, propriociptiva
etc.). já a porção eferente, também conhecida como motora, corresponde aos
músculos esqueléticos; ou seja, a porção voluntária da musculatura que só se
contrai com a nossa vontade.

CBI of Miami 9
Já o SN Visceral, aquele que controla o meio interno, também tem via
aferente, isto é, recebe informações da periferia, porém sua porção eferente
(motora) é conhecida como SN Autônomo, pois controla de forma involuntária
toda a parte motora dos músculos lisos (ex.: peristaltismo que controla a
digestão, músculo cardíaco, secreção gandular etc.).

Células do Sistema Nervoso


As células do Sistema Nervoso são, principalmente, os neurônios e
neuroglias (também conhecidas como células da glia). Os neurônios são as
células mais importantes devido a sua capacidade de irritabilidade e
condutividade. Já as células da neuroglia, grosso modo, fazem o suporte e a
nutrição do neurônio.

CBI of Miami 10
Referências Bibliográficas

PURVES, D. Neurociências. São Paulo: Artmed, 2005.Kolb, B.; Whishaw, I.Q.


Neurociência do comportamento. 1ª Ed. Editora Manole. São Paulo.

KANDEL, E.R.; Schwartz, J.H.; Jessell, T.M. Princípios da Neurociência. São


Paulo: Manole, 2002.

MOORE, K.L.; Persaud, T.V.N.; Torchia, M.G. Embriologia Clínica. 9ªed. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2013.

CBI of Miami 11

Você também pode gostar