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Introdução a História da Neuropsicologia
Djalma Freitas

A história sempre nos mostra ações que podemos adotar e ou ações a


serem deixadas de lado. Na ciência não é diferente. Tendo isso em vista,
entendemos que estudar a história é coletar dados que podem organizar ou
gerenciar nossas ações atuais e futuras. Tomando esta assumpção como
ponto de partida, iremos discutir neste texto alguns aspectos históricos que
possibilitaram a existência da neuropsicologia como vemos hoje.
Em 1913 foi a primeira vez que o termo “neuropsicologia” foi utilizado.
Isto aconteceu em uma conferência proferida por Osler. Entretanto, com o
fomento da psicologia como ciência, Wundt, reconhecido como pai da
psicologia experimental, propôs o termo ‘psicologia fisiológica’ para a
neuropsicologia. Embora outros pesquisadores pensassem em outros termos,
a Psicologia Fisiológica permaneceu sendo utilizado durante muitos anos.
Antes de avançarmos ao século XX, o qual, teve o privilégio de
consagrar a Neuropsicologia como profissão e especialidade, precisamos
compreender como o estudo da relação cérebro e comportamento se tornou o
que é. Para tanto, precisamos voltar um pouco mais na história.
O mais antigo documento que descreve funções cerebrais - ou melhor
mentais como se tratava na época – é o papiro de Edwin Smith de 1.600 a.C.
Neste papiro estavam descritos 48 casos de lesões traumáticas. Estes papiros
registram as primeiras tentativas de buscar a localização de funções cerebrais.
Mais de 1.000 anos depois, na Grécia antiga, discutia-se a relação entre corpo
e alma, bem como, ou talvez, principalmente, a localização da alma no corpo.
Para alguns filósofos gregos (Platão (428-348 a.c) e Aristóteles (384-322 a.c))
as funções mentais se localizavam na alma e esta, por sua vez, se localizava
no coração. Contudo, outros pensadores gregos como Alcmaeon de Crotona
(500 a.C) e Hipócrates (460-377 a.C) contrapunham a ideia de que as funções
mentais residiam no coração. Para eles o cérebro era o responsável por cada
sensação. Deste modo criou-se a controvérsia Coração versus Cérebro.
Como é de se imaginar, a hipótese cerebral ganhou cada vez mais
espaço. Foi com Galeno (129-200 a. C) que o cérebro se tornou o centro das

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análises. Galeno propunha que os nervos se originavam no cérebro e na
medula diferente do que Aristóteles propunha. Neste ponto estava
praticamente aceito que cérebro era o responsável pelas sensações,
movimento e intelecto. Já na medicina foi Hipócrates (460-355 a.C) que
colocou o cérebro como uma das partes mais importantes do corpo e
responsável pela inteligência. René Descartes (1596-1650), muito tempo
depois, sustenta a hipótese cerebral, porém, tratando o homem de dualista, ou
seja, divisível entre corpo e alma.
Foi no século XIX que a ideia de o cérebro ser a sede de funções
mentais foi totalmente aceita. Contudo, havia novas questões, por exemplo,
não mais se questionava se a cognição se localizava no cérebro, mas, sim
quais eram as estruturas que compunham a cognição?
Franz Gall (1758-1828), médico alemão, foi o responsável por ser um
dos primeiros a realizar divisões no cérebro destacando a localização de
estruturas da cognição. Pouco tempo depois de Gall, Paul Broca (1824-1880),
médico francês, consegue estabelecer relações entre distúrbios de linguagem
com lesões cerebrais, especialmente no que se refere a expressão da
linguagem. Assim como Broca, Karl Wernicke (1848-1909), neuropatologista de
origem alemã, estudou o impacto de lesões cerebrais sobre a linguagem.
Wernicke descreveu casos em que lesões cerebrais causava alterações na
linguagem, especialmente, na compreensão.
Estava totalmente certo de que as funções cognitivas tinham estruturas
totalmente passiveis de serem localizadas. Entretanto, uma dúvida persistia:
Estas estruturas interagem entre si? Na corrida para responder esta questão
Lev Vygotsky (1896-1934) demonstrou em seus trabalhos que as estruturas
cerebrais se inter-relacionam ou estão inter-relacionadas entre si. Os estudos
de Vygotsky influenciaram os trabalhos de Alexander Luria (1902-1977),
importante personagem nas neurociências até hoje. Luria dividiu as estruturas
cognitivas em blocos: ativação, funcional e programação. Para ele, a partir
desta divisão, a neuropsicologia deveria dar conta de identificar lesões
cerebrais – fazer diagnósticos -, bem como, explicar como funciona o cérebro e
suas inter-relações.

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Os achados de Luria influenciaram boa parte dos trabalhos no século
XX. O século XX é marcado também por trazer a Neuropsicologia como uma
especialidade do conhecimento. No período da segunda grande guerra muitos
achados sobre as relações entre cérebro (cognição) e comportamento foram
estabelecidos, assim como, a criação de mecanismos de reabilitação
neuropsicológica foram criados.
A história nos conta que no início de 1970 a neuropsicologia passa a
ser considerada uma profissão. Embora, tenhamos discutido questões da
história da neuropsicologia ao redor do mundo, esta história remonta a história
da neuropsicologia no Brasil.
No Brasil a neuropsicologia foi considerada uma especialidade em 2004
pelo conselho federal de Psicologia na Resolução 02/2004 que define a
profissão como atua no diagnóstico, no acompanhamento, no tratamento e na
pesquisa da cognição, das emoções, da personalidade e do comportamento
sob o enfoque da relação entre estes aspectos e o funcionamento cerebral.
Utiliza-se para isso de conhecimentos teóricos angariados pelas neurociências
e pela prática clínica, com lógica estabelecida experimental ou clinicamente.
Utiliza instrumentos especificamente padronizados para avaliação das funções
neuropsicológicas envolvendo principalmente habilidades de atenção,
percepção, linguagem, raciocínio, abstração, memória, aprendizagem,
habilidades acadêmicas, processamento da informação, visuoconstrução,
afeto, funções motoras e executivas. Estabelece parâmetros para emissão de
laudos com fins clínicos, jurídicos ou de perícia; complementa o diagnóstico na
área do desenvolvimento e aprendizagem.
O objetivo teórico da neuropsicologia e da reabilitação Neuropsicológica
é ampliar os modelos já conhecidos e criar hipóteses sobre as interações
cérebro-comportamentais. Trabalha com indivíduos portadores ou não de
transtornos e sequelas que envolvem o cérebro e a cognição, utilizando
modelos de pesquisa clínica e experimental, tanto no âmbito do funcionamento
normal ou patológico da cognição, como também estudando-a em interação
com outras áreas das neurociências, da medicina e da saúde. Os objetivos
práticos são levantar dados clínicos que permitam diagnosticar e estabelecer

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tipos de intervenção, de reabilitação particular e específica para indivíduos e
grupos de pacientes em condições nas quais:
A. Ocorreram prejuízos ou modificações cognitivas ou comportamentais
devido a eventos que atingiram primária ou secundariamente o sistema
nervoso central;
B. O potencial adaptativo não é suficiente para o manejo da vida prática,
acadêmica, profissional, familiar ou social;
C. Foram geradas ou associadas a problemas bioquímicos ou elétricos do
cérebro, decorrendo disto modificações ou prejuízos cognitivos,
comportamentais ou afetivos.

Além do diagnóstico, a Neuropsicologia e sua área interligada de


Reabilitação Neuropsicológica visam realizar as intervenções necessárias junto
ao paciente, para que possam melhorar, compensar, contornar ou adaptar-se
às dificuldades; junto aos familiares, para que atuem como coparticipantes do
processo reabilitativo; junto a equipes multiprofissionais e instituições
acadêmicas e profissionais, promovendo a cooperação na inserção ou
reinserção de tais indivíduos na comunidade quando possível, ou ainda, na
adaptação individual e familiar quando as mudanças nas capacidades do
paciente forem mais permanentes ou a longo prazo.
Ainda no plano prático, fornece dados objetivos e formula hipóteses sobre
o funcionamento cognitivo, atuando como auxiliar na tomada de decisões de
profissionais de outras áreas, fornecendo dados que contribuam para as
escolhas de tratamento medicamentoso e cirúrgico, excetuando-se as
psicocirurgias, assim como em processos jurídicos nos quais estejam em
questão o desempenho intelectual de indivíduos, a capacidade de julgamento e
de memória.
Na interface entre o trabalho teórico e prático, seja no diagnóstico ou na
reabilitação, também desenvolve e cria materiais e instrumentos, tais como
testes, jogos, livros e programas de computador que auxiliem na avaliação e
reabilitação dos pacientes.
Desenvolve atividades em diferentes espaços:
A. Instituições acadêmicas, realizando pesquisa, ensino e supervisão;

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B. Instituições hospitalares, forenses, clínicas, consultórios privados e
atendimentos domiciliares, realizando diagnóstico, reabilitação, orientação à
família e trabalho em equipe multidisciplinar. (CFP, 2004).

Assim temos estes recortes históricos que apontam desafios e avanços


enfrentados e alcançados pela neuropsicologia. Mais que isso, nos mostra
esforços importantes para que tenhamos atualmente uma neuropsicologia
como área de conhecimento, especialidade e profissão.

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