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AULA 12
Esta aula tem por objetivo discutir o atendimento educacional ao aluno com altas
habilidades no Brasil, bem como descrever algumas estratégias de ensino que auxiliem o
trabalho pedagógico do professor no cotidiano de uma sala de aula regular. Para tal,
utilizaremos como referência básica a literatura especializada sobre o tema e os subsídios do
Ministério da Educação (MEC).
A existência de pessoas excepcionalmente inteligentes exerce fascínio no mundo
inteiro, porém seu estudo constitui um tema complexo e ainda pouco conhecido fora do
âmbito da pesquisa acadêmica. Cercadas de mitos, as pessoas que apresentam altas
habilidades sofrem bastante com as representações sociais sobre elas. Apesar de todas as
pesquisas, a ciência ainda não consegue afirmar, com certeza, a origem dessa capacidade.
Algumas teorias atribuem-na à genética, outras aos estímulos ambientais e outras, ainda,
defendem que o desenvolvimento de habilidades superiores se deva à combinação de fatores
externos e internos. Estudos mostram que o que difere uma pessoa com altas habilidades de
outra com uma inteligência mediana não é o tamanho do cérebro ou o número de neurônios,
mas a quantidade e a complexidade das conexões cerebrais que se dão através das sinapses2
(METTRAU, 2000).
A própria terminologia relacionada às altas habilidades tem sido alvo de diferentes
opiniões entre estudiosos. Comumente, encontramos num mesmo texto referências a essas
capacidades como superdotação, altas habilidades ou talentos, de forma indistinta. Conforme
Delou (2002), na década de 1920, eram utilizados termos como supernormais, talentosos e
precoces. No início da década de 1930, surgiu no Brasil a expressão “bem dotados”. Na
década de 1960, introduziu-se o termo superdotado, e posteriormente, na década de 1990
surgiu a terminologia altas habilidades. No presente texto utilizaremos essa expressão por ser
a sugerida pelo MEC (BRASIL, 1995; 1995a), bem como pelo European Council For High
Ability (Conselho Europeu para Alta Habilidade).
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Ligações originadas de impulsos elétricos entre as células nervosas.
A discussão sobre a elevada capacidade intelectual apresentada por algumas pessoas
começou nos Estados Unidos, no início do século XX, com a disseminação dos Testes de
Inteligência, como, a escala de Inteligência Stanford-Binet e a escala Wescheler de
Inteligência para Crianças (WISC III). Estes testes têm como objetivo medir o quociente de
inteligência (QI) do indivíduo. O QI é um índice quantitativo, obtido através da relação entre
a “idade mental” da criança determinada pelo score obtido no teste e sua idade cronológica
(idade mental/idade cronológica x 100). Estes testes se baseiam numa escala numérica que
busca quantificar a capacidade de pensamento da criança através da memória, atenção,
imaginação, compreensão, raciocínio, entre outros aspectos da inteligência. É considerado
com altas habilidades aquele que apresenta uma média superior a 140 pontos, enquanto que
indivíduos que obtêm média abaixo de 67 pontos na escala Stanford-Binet e 69 na escala
Wescheler são classificados como tendo uma deficiência mental.
Nas últimas décadas, no entanto, a avaliação baseada nesses testes tem sofrido severas
críticas (RENZULLI, 2006), entre outros aspectos, pelo fato dos mesmos medirem a
capacidade cognitiva ou inteligência humana restrita ao âmbito da lógica matemática e da
habilidade lingüística, sem levar em consideração o universo sócio-cultural da criança. Com o
avanço em outras áreas de conhecimento, o conceito de altas habilidades vem sendo
gradativamente ampliado, incorporando capacidades ligadas às artes, liderança e
psicomotricidade. Além disso, fatores de ordem social, econômica e cultural passaram a ser
também valorizados processo de identificação desses sujeitos.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que 3 a 5% da população
mundial, ou seja, uma em cada 20 pessoas apresenta um nível de inteligência acima da média,
possuindo altas habilidades (BRASIL, 2006). Deste universo, cerca de 0,1% pode ser
considerado “gênio”, que são aqueles que revolucionam os conhecimentos de sua época. Por
exemplo, Leonardo da Vinci, Sigmund Freud, Albert Einstein, Stephen Hawking3 e tantos
outros pensadores, cientistas e filósofos que foram capazes de imaginar teorias, projetos e de
fazerem descobertas para as quais só posteriormente a humanidade conheceria sua
aplicabilidade.
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Hawking possui esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa, um a um, os
músculos do corpo. Em 1985, sofreu uma traqueotomia, e desde então utiliza um sintetizador de voz para se
comunicar.Contudo, esta doença detectada aos 21 anos, não impediu que ele se tornasse um famoso físico , autor
de uma complexa teoria sobre o tempo e espaço publicada em “Cosmologia: uma breve história do tempo”
(1988) que explica certas inconsistências nas idéias anteriores acerca da origem do Universo. Ocupa a cátedra
que foi de Sir Isaac Newton na Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
Conhecendo o aluno com altas habilidades
O indivíduo com altas habilidades caracteriza-se por notável desempenho e elevada
potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade
intelectual geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; capacidade
de liderança; talento especial para artes visuais, artes dramáticas e /ou música; e capacidade
psicomotora. De acordo com a Secretaria de Educação Especial do MEC:
Esse modelo triádico foi ampliado em 1992 por Van Boxtel e Möks, que apresentaram
um modelo “multidimensional” que inclui componentes socioculturais como fatores
determinantes para a manifestação dos traços de portador de altas habilidades.
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Família
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Onde também eram atendidos alunos com deficiência mental e com outras necessidades educacionais especiais.
- originalidade na expressão oral e escrita, com produção intensa de idéias e respostas a diferentes situações;
- talento incomum para artes (música, dança, dramaturgia, desenho e outras formas de expressão);
- habilidade para apresentar alternativas de soluções, demonstrando pensamento flexível
- sagacidade e capacidade de se manter sintonizado através da observação intensa da realidade ao seu redor;
- busca de soluções para problemas desafiadores, enriquecendo-se da situação-problema apresentada;
- capacidade de combinar informações e conhecimentos na busca de novas associações de idéias;
- habilidade superior de julgamento e avaliação na busca de respostas lógicas
- facilidade de decisão;
- criticidade em relação a si e aos outros;
- gosto pelo aperfeiçoamento das soluções encontradas;
- gosto por correr riscos em várias atividades;
- senso de humor desenvolvido;
- capacidade em enxergar relação entre fatos, informações ou idéias aparentemente não relacionados;
- aprendizado rápido e fácil, especialmente no campo de seu interesse.
- apresentam vocabulário mais amplo e têm menor aceitação de informações colocadas como verdades e
questionam seus “por quês”;
- seus interesses são tanto diversificados quanto intensamente focalizados;
- apresentam melhor habilidade em tarefas individuais, concentrando-se por períodos de tempo mais prolongados
do que outras crianças de sua faixa etária;
- preferem a companhia de crianças mais velhas ou de adultos;
- estão constantemente motivadas e são persistentes em sua tarefa de conhecer;
- gostam de aprender coisas novas e de novas formas de fazer as coisas;
seu comportamento é geralmente objetivo e eficiente no que se refere a tarefas e à resolução de problemas.
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A letra da Lei diz: “aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados”.
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Role Playing Games: espécie de jogo de interpretação encenado e interativo, em que cada um dos participantes
incorpora um personagem na trama. Durante um jogo de RPG, que é chamado sessão, os jogadores interpretam heróis dentro de universos
fictícios e fantásticos, enfrentando antagonistas e resolvendo enigmas e situações.
apresente condutas consideradas indisciplinares e perturbe o restante da turma. Atividades de
enriquecimento ou aprofundamento de áreas de interesse do aluno tornam-se essenciais para
que este, em ambiente de sala de aula ou não, possa continuar aprimorando seus
conhecimentos, enquanto a turma mantém seu ritmo de aprendizagem, geralmente mais lento.
A criação de ambientes diversificados, que exponham esse aluno a grande variedade
de idéias e experiências, bem como atividades de monitoria (trabalho em dupla entre o aluno
com altas habilidades e um colega) também contribuem para saciar sua sede de conhecimento
e informação, canalizando sua energia em direção ao processo criador e diminuindo a
probabilidade que ele desenvolva problemas de comportamento em sala de aula.
O professor pode estimular o estudo independente e a curiosidade por meio de várias
atividades, como, por exemplo, pesquisas experimentais, construção de maquetes, produção
literária ou grupos de discussão desenvolvidos dentro e fora da sala de aula, incentivando,
assim, o contato desses alunos com profissionais que desempenham trabalhos em sua(s)
área(s) de interesse. Ele pode propor, ainda, a realização de gincanas que estimulem as
habilidades de todos os alunos.
Para o desenvolvimento do pensamento criativo, Silverman (1988 apud BRASIL,
2002) sugere aos professores a realização de diversas atividades pedagógicas, como, por
exemplo:
- estimular o grupo a apresentar soluções inéditas para um mesmo problema (“tempestade cerebral”);
- incentivar a habilidade do debate, encorajando o aluno a discutir sobre assuntos de sua escolha, estimulando que
cada aluno defenda seu ponto de vista;
- propor que os alunos apresentem seus projetos de pesquisa, colaborando e apoiando seu desenvolvimento e
realização;
- fazer sessões de “idéias malucas”, onde somente noções incomuns podem ser discutidas;
- estimular os alunos a escreverem scripts para programas de rádio e televisão, participando de tais
programações;
- estimular os alunos com altas habilidades em matemática a criar quebra-cabeças e outros instrumentos que
estimulem o raciocínio lógico.
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Mentes que Brilham (Little Man Tate) é uma produção norte-americana de 1991, com direção da atriz
principal, Jodie Foster. O filme conta o drama de um garoto com altas habilidades, que apresenta precocidade e
talento excepcional em Matemática, Línguas, Pintura, Música e Literatura, dentre outras áreas. Porém apresenta
diversos problemas de relacionamento interpessoal, sobretudo com as crianças de sua faixa etária.
Ou seja, o fato de uma criança apresentar altas habilidades em várias áreas do conhecimento
não lhe garante maturidade pessoal e/ou social para lidar com os problemas do cotidiano.
Um outro aspecto, conforme apontado nos estudos de Fleith e Alencar (2006), é que
um número significativo de crianças que possuem altas habilidades passam despercebidas,
porque suas famílias não têm informação sobre as características e necessidades do seu filho.
Além disso, a maioria das famílias não tem condições de oferecer aos mesmos os estímulos de
que necessitam, por falta de recursos financeiros.
Neste aspecto, o papel da escola e do professor é essencial, auxiliando e orientando as
famílias quanto aos procedimentos necessários a serem adotados, dentro da realidade de seu
contexto social. Assim, fica evidente a necessidade de investimentos por parte das autoridades
em pesquisas na área de altas habilidades no que concerne à educação dessa população.
O compromisso da escola é proporcionar uma educação que contemple os diferentes
ritmos de aprendizagem em diferentes condições de ensino. Por isso, o professor deve ter
clareza de que o seu aluno com altas habilidades possui necessidades educacionais especiais
que devem ser consideradas e trabalhadas em sua especificidade.
Saber dosar as atividades do programa de enriquecimento e de aprofundamento
juntamente com as adaptações curriculares é a chave para uma educação inclusiva efetiva!
Referências bibliográficas
ALENCAR, E. S. Psicologia e Educação do Superdotado. São Paulo: E.P.U. 1986.
____. O aluno com altas habilidades no contexto da educação inclusiva. Revista Movimento
da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, nº 7, p.60-69, 2003.
____. Identificando e atendendo as necessidades educacionais especiais dos alunos com altas
habilidades/superdotação - Projeto Escola Viva – Garantindo o acesso e permanência de
todos os alunos na escola – Alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília:
MEC/SEESP, 2002.
GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
METTRAU, M. B. Inteligência: patrimônio social. Rio de Janeiro: Dunya, 2000.