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Terapia Comportamental Cognitiva com Crianças e Adolescentes


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

Introdução ao curso
Car@s alun@s!
A Psicoterapia Cognitivo-Comportamental para crianças e adolescentes tem como objetivo
avaliar e modificar a maneira como as crianças e os adolescentes compreendem a si
próprios, os outros e o mundo ao seu redor.

Essa abordagem terapêutica é vivencial e concentra-se no “aqui e no agora”. Crianças e


Adolescentes quando aprendem a controlar melhor suas emoções e são orientadas à ação,
desenvolvem capacidades de enfrentamento de conflitos, envolvendo habilidades
sociocognitivas.

É através de protocolos integrados e baseados em evidência de eficácia que terapeutas


cognitivos procuram identificar, avaliar e modificar crenças que levam a criança/adolescente
ao sofrimento emocional e a comportamentos desadaptados.

Nessa disciplina vamos abordar as principais técnicas cognitivo comportamentais para crianças
e adolescentes , bem como os protocolos de tratamento para depressão, ansiedade, TOD, TDAH
e TOC na infância e na adolescência.

Esse semestre terá 17 semanas totalizando horas.

Você poderá faltar em 25% das aulas, portanto poderá ter 17 faltas. As faltas serão lançadas
semanalmente no diário da disciplina.

Bom semestre para todos!


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28 de Fevereiro de 2023 – Aula 1

Disciplina semelhante à Teorias e Técnicas Psicoterapêuticas II (TTP II), mas aplicada às


crianças e aos adolescentes.

Ficha de TTP II:


http://www.ip.ufu.br/system/files/conteudo/ipufu31801_-
_teorias_e_tecnicas_psicoterapicas_ii.pdf

Ficha da disciplina:
http://www.ip.ufu.br/system/files/conteudo/gpi132_-_terapia_comportamental.pdf

Senha moodle: TCCinfantil (na terceira caixinha. TCC em maiúsculas e infantil em minúsculas)

Na Terapia comportamental pura, não se liga para a questão de diagnóstico, mas não se
abandona. Liga-se mais os processos. O nome é o que menos importa. O que importa é o que
está acontecendo com a pessoa. Na TCC, há avaliação em toda sessão: como se estava na
semana passada, como se está agora.

Não há como saber o que as pessoas estão sentindo. Dispomos de certas métricas estimativas.

Justificativa: Dar os fundamentos da práxis do psicólogo, enquanto profissional da saúde, na


abordagem cognitivo-comportamental clássica (porque existem muitas outras) aplicada às
crianças e adolescentes permite alinhar o aluno às novas práticas fundamentadas em estudos de
evidência e eficácia da Psicologia Clínica e da saúde.

Sessão de psicoterapia: não é se sentar para escutar. Beck afirma que o psicoterapeuta é ativo.
Ele não dá conselhos (psicólogo não dá conselhos), mas trabalha com a descoberta guiada. Isso
é nada mais nada menos que saber o que o adolescente faz.
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Objetivo
Objetivo Geral: Dar elementos teóricos e práticos ao aluno para que o mesmo possa realizar
uma avaliação e intervenção cognitivo comportamental nos quadros psicopatológicos mais
comuns na infância e adolescência.
Objetivos Específicos: Ser capaz de compreender os principais modelos de terapia cognitivo e
realizar os seguintes procedimentos: Conceituação cognitiva de crianças e adolescentes.
Terapia Cognitiva na primeira infância. Terapia de Reciclagem Infantil. Terapia de Regulação
Infantil. Terapia Metacognitiva na infância. Terapia do Esquema na Infância. Transtornos de
Personalidade na Infância.

Terapia do esquema: derivação da TCC.

Processo terapêutico é um processo de descoberta de hipóteses. Um diagnóstico pode congelar


a situação: “Fulano é deprimido”. O congelamento no diagnóstico pode congelar o tratamento.
Os terapeutas podem correr o risco de ter pressa e querer conduzir a sessão. A ideia de que a
terapia cognitiva é rápida é falsa, ainda que isso possa ser verdade em relação a outras
abordagens.

Enurese: fazer xixi na cama. Não é um problema de resolução rápida.

Pensamentos automáticos: é a chave. Nós automatizamos tudo na vida. Na aula de atenção,


em processos cognitivos, fala-se de processos automáticos. Processos automáticos são
automatizados como qualquer outro. Uma coisa automática não é necessariamente uma coisa
boa, mas na parte das vezes é um facilitador. É o que ocorre quando temos que falar em nossa
língua pátria. Nossos pensamentos e emoções se tornam automatizados também. Pessoas que
tendem a defender a permanência de seu jeito ser são as que mais resistência têm ao problema.

Regulação emocional: capacidade de não perdermos o controle de nossas emoções


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PROGRAMA
Semana 1- Noções básicas de Terapia Comportamental cognitiva.
Noções básicas sobre Terapia Cognitivo- Comportamental para crianças e adolescentes.
Semana 2 - Conceituação cognitiva de crianças e adolescentes.
Semana 3- Início do tratamento cognitivo-comportamental na infância e adolescência.
Semana 4- Pensamentos automáticos na infância e Distorções Cognitivas.
Semana 5- Terapia Cognitiva na primeira infância.
Semana 6- Depressão infantil e TCC.
Semana 7- Transtornos de Ansiedade na Infância e TCC
Semana 8- Emoções na infância e influência parental na regulação emocional.
Semana 9- Transtorno de Déficit de atenção e Hiperatividade- TDAH e a TCC
Semana 10- Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e TCC.
Semana 11- Terapia de Reciclagem Infantil
Semana 12- Terapia de Regulação Infantil
Semana 13- Terapia Metacognitiva e TOC na infância
Semana 14- Transtornos de Personalidade na Infância
Semana 15- Técnicas para Finalização de Terapia Infantil.
Semana 16- TDE- Terapia do Esquema para crianças e adolescentes
Semana 17-TDE- Terapia do Esquema para crianças e adolescentes

METODOLOGIA
As estratégias de aprendizagem serão baseadas nos seguintes elementos:
- Conhecimento dos temas por meio da leitura de textos-base e de aprofundamento indicados
pelo docente;
- Exercícios orientados à solução de casos teóricos sobre o tema estudado.
- Quanto aos recursos didáticos serão utilizados - Data Show, aparelho de som, minutas de
exercícios práticos.
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AVALIAÇÃO
As avaliações da disciplina serão efetuadas por meio das atividades listadas abaixo. O aluno
utilizará o Moodle UFU para o envio das atividades avaliativas. Após o término da atividade
será entregue a chave de correção com esclarecimentos de dúvidas no horário de atendimento
ao aluno. O aluno que não atingir 60 pontos fará uma avaliação substitutiva valendo 100 pontos
com toda a matéria do curso.

Atividade Pontuação Local


Exercício abordando o módulo 1- Exercício de Múltipla escolha 15 pontos Moodle
Exercício abordando o módulo 2- Exercício de Múltipla escolha 10 pontos Moodle
Exercício abordando o módulo 3- Exercício de Múltipla escolha 10 pontos Moodle
Exercício abordando o módulo 4- Exercício de Múltipla escolha 10 pontos Moodle
Exercício abordando o módulo 5- Exercício de Múltipla escolha 15 pontos Moodle
Exercício sobre a reflexão de técnicas 1 10 pontos Moodle
Exercício sobre a reflexão de técnicas 2 10 pontos Moodle
Exercício sobre a reflexão de técnicas 3 10 pontos Moodle
Exercício sobre a reflexão de técnicas 4 10 pontos Moodle
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BIBLIOGRAFIA

Básica
FRIEDBERG, Robert D. A prática clínica da terapia cognitiva com crianças e adolescentes. 2.
ed. Porto Alegre: ArtMed, 2018. ISBN 9788582715482. Disponível em:
https://www.sistemas.ufu.br/bibliotecagateway/minhabiblioteca/9788582715482. (Biblioteca
Virtual UFU)

FRIEDBERG, Robert D. Técnicas de terapia cognitiva para crianças e adolescentes. Porto


Alegre: ArtMed, 2011. ISBN 9788536324876. Disponível em:
https://www.sistemas.ufu.br/bibliotecagateway/minhabiblioteca/9788536324876. (Biblioteca
Virtual UFU)

STALLARD, Paul. Bons pensamentos, bons sentimentos: guia de terapia cognitivo-


comportamental para adolescentes e jovens adultos. Porto Alegre: ArtMed, 2021. ISBN
9786558820109. Disponível em: https://www.sistemas.ufu.br/biblioteca-
gateway/minhabiblioteca/9786558820109. (Biblioteca Virtual UFU)

Complementar

ASSUMPÇÃO JUNIOR, Francisco B. Práticas psicoterápicas na infância e na adolescência. Barueri:


Manole, 2002. ISBN 9788520444184. Disponível em:
https://www.sistemas.ufu.br/bibliotecagateway/minhabiblioteca/9788520444184. (Biblioteca Virtual
UFU)

GILLIHAN, Seth J. Terapia cognitivo-comportamental: estratégias para lidar com ansiedade, depressão,
raiva, pânico e preocupação. Barueri: Manole, 2020. ISBN 9786555764239. Disponível em:
https://www.sistemas.ufu.br/biblioteca-gateway/minhabiblioteca/9786555764239. (Biblioteca Virtual
UFU)

MADEIRA, Isabel Rey; LIBERAL, Edson Ferreira; VASCONCELOS, Marcio Moacyr (ed.). Saúde
mental da criança e do adolescente. 2. ed. Barueri: Manole, 2019. ISBN 9788520462096. Disponível
em: https://www.sistemas.ufu.br/biblioteca-gateway/minhabiblioteca/9788520462096. (Biblioteca
Virtual UFU)

McCLURE, Jessica; FRIEDMAN . TCC expressa: técnicas de 15 minutos para crianças e adolescentes.
Porto Alegre: ArtMed, 2021. ISBN 9786558820123. Disponível em: -
https://www.sistemas.ufu.br/bibliotecagateway/minhabiblioteca/9786558820123. (Biblioteca Virtual
UFU)

NELSEN, Jane. Disciplina positiva de A a Z: 1001 soluções para os desafios da parentalidade. 3. ed.
rev., atual Barueri: Manole, 2020. ISBN 9788520458754. Disponível em:
https://www.sistemas.ufu.br/bibliotecagateway/minhabiblioteca/9788520458754. (Biblioteca Virtual
UFU)
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Processo da TCC na Infância e na adolescência

O que é terapia cognitiva? Começando com um exemplo


Imagine que uma criança precise escolher um instrumento para tocar na banda da escola. Se
todos os instrumentos, a escolha por um (por ex. saxofone), será feita em função de suas
características individuais. Se apenas alguns estiverem disponíveis e muitos alunos estiverem
competindo, os fatores contextuais predominarão. Crianças e adolescentes são muito mais
influenciados pelos contextos. Somos muito influenciados pelos contextos nos quais estamos.
Essas inter-relações pessoais afloram. Fatores contextuais pesam muito para crianças e
adolescentes.
Diátese: fatores individuais (genética, temperamento, fatores constitucionais)
Estresse: fatores ambientais
Cf. hipótese diátese-estresse
Há muitos livros sobre comportamento adictivo (vício) em celulares. Não há diferenças no
cérebro dos viciados. O que temos é o estabelecimento de hábitos compulsivos.

A TCC surge mais ou menos em 1952, com Aaron T. Beck. Ele é um judeu da Pensilvânia que
faleceu em 2021 com 100 anos. Judith Becker, sua filha, ficou com seu espólio.

Um olhar sobre a escolha do instrumento – Teoria da Aprendizagem Social


A teoria da aprendizagem social (Bandura, 1977; Rotter, 1982) parte do pressuposto de que o
ambiente, as características temperamentais e o comportamento situacional de uma pessoa
determinam-se reciprocamente e que o comportamento é um fenômeno dinâmico, em constante
evolução. Os contextos influenciam o comportamento, e este, por sua vez, molda os contextos.

Os sujeitos se espelham nos outros (comportamento vicário ou vicariante). Você passa a


analisar as consequências do comportamento com o que ocorre com os outros.

Não é verdade que o behaviorismo só dá ênfase às contingências. Uma contingência é que? O


que são contingências aversivas, reforçadoras? Contingência é a relação do sujeito com o
ambiente. Não é estímulo resposta. É comportamento-estímulo. Não é Pavlov. Skinner introduz
a resposta como comportamento. A resposta opera sobre o ambiente, e depois o ambiente opera
sobre a resposta.
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Bandura: não estou olhando para minhas consequências, mas para os outros (espelhamento).

Comportamento humano é mais do que tudo isso. A TCC de Beck vai introduzir os elementos
cognitivos (vulgo pensamento). A TCC é uma terapia do pensamento. Behavioristas não falam
de pensamento pois o pensamento é um processo interno. Watson vai jogar isso de lado, Skinner
vai reinterpretar isso, falar da mente como uma questão privada. Não preciso negar, mas não
preciso falar de mente.

Toda tradição dualista da psicologia vem da ideia de que a mente é uma entidade separada de
todo o resto. A mente é o corpo.

A Terapia infantil sobre um grande efeito da aprendizagem

Determinismo recíproco
Às vezes, os contextos podem ter a mais poderosa influência sobre o comportamento de uma
pessoa, ao passo que, em outras ocasiões, as preferências, disposições e características pessoais
determinarão o comportamento.

A terapia cognitiva sustenta que cinco elementos inter-relacionados estão envolvidos na


conceitualização de dificuldades psicológicas humanas (A. T. Beck, 1985; J. S. Beck, 2011;
Padesky & Greenberger, 1995). Esses elementos são o contexto interpessoal/ambiental, a
fisiologia, o funcionamento emocional, o comportamento e a cognição do indivíduo. Esses
aspectos distintos se modificam e interagem mutuamente entre si, criando um sistema dinâmico
e complexo.
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Outro olhar sobre a escolha do instrumento TCC


Os eventos ativam os pensamentos, os quais geram, como consequência, as emoções e os
comportamentos
Ex: Criança – “Não tem sax! Vou aprender um novo instrumento”
Emoção: surpresa/excitação
Fisiologia: PA-normal, Respiração profunda
Comportamento: Buscar o trompete, examinar o instrumento: “Uau, vou tocar o trompete”

Buscam-se os dados da criança nela mesma.

Pensamentos automáticos: alguns vão se tornar conscientes. O pensamento que aparece não
será desperdiçado. Há que diz respeito o pensamento de que não quer jogar coisas foras? Tudo
tem que ser visto num quadro mais geral, dentro de um score.

A terapia cognitiva sustenta que cinco elementos inter-relacionados estão envolvidos na


conceitualização de dificuldades psicológicas humanas (A. T. Beck, 1985; J. S. Beck, 2011;
Padesky & Greenberger)

Sintomas cognitivos, comportamentais, emocionais e fisiológicos ocorrem em um contexto


interpessoal e ambiental. Portanto, o modelo incorpora explicitamente as questões de contexto
sistêmico, interpessoal e cultural que são tão essenciais à psicoterapia infantil. Os sintomas não
ocorrem por acaso; por isso, os clínicos deveriam considerar as circunstâncias particulares ao
avaliar e tratar uma criança ou adolescente. Em geral, embora considerando o contexto, os
terapeutas cognitivos intervêm em nível cognitivo-comportamental para influenciar padrões de
pensamentos, ações, sentimentos e reações corporais (Alford & Beck, 1997)

Ex.
Essa escola é um tédio. Ela não tem saxofone.
Emoção: raiva. Fisiologia: agitação psicomotora
Jogar os instrumentos no chão/xingar
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Outra premissa tem como base a observação de que as distorções do pensamento, isto é, as
distorções cognitivas, são bastante prevalentes em diferentes transtornos

Distorções cognitivas são vieses sistemáticos na forma como indivíduos interpretam suas
experiências. Se a situação é avaliada erroneamente, essas distorções podem amplificar o
impacto das percepções falhas

O objetivo da terapia cognitiva é corrigir as distorções do pensamento.

Raciocínio de tudo ou nada (dicotômico – polarização)


É a percepção de situações em apenas duas categorias de pensamentos extremistas, como ‘certo
ou errado’, ‘sucesso ou fracasso’. Não há meio termo. Exemplos: “Deu tudo errado no primeiro
dia de aula” “Devo sempre tirar notas máximas ou ser um fracasso” “Ou eu ganho ou não jogo”

Ex: “Essa escola é um tédio. Não tem saxofone”.

A distorção é como um monstro interno. Uma criança não vai entender o que é tudo ou não,
distorção do pensamento, o que é uma ansiedade ou mania. Mesmo adolescentes e adultos não
vão entender. A terapia cognitiva exige um certo padrão de inteligência ou escolaridade maior?
Não necessariamente. Há outros tipos de materiais.

Pensamentos distorcidos ganham corpo, riqueza e poder de generalização.

As distorções transformam as informações de modo a manter intactos os esquemas cognitivos


(pensamento organizado que você aplica a situações que aparecem na vida, conteúdos passados
pelas instituições, família etc.). As distorções cognitivas funcionam por meio de processos de
assimilação e mantêm a homeostasia.

Por exemplo: Suzana tem uma percepção de incompetência. Ela acredita que não consegue
fazer nada direito e, por isso, sente-se ansiosa (emoção) em uma situação de desempenho.
Assim, pode alcançar uma nota na prova de matemática (situação) e acreditar que a nota não
importa, pois a prova estava muito fácil (pensamento automático). Ou seja, a criança está
depreciando o seu sucesso (distorção cognitiva)
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A informação que é discrepante de sua crença central é invalidada. Dessa forma, o esquema
cognitivo permanece intacto, consumando-se por meio do processo de distorção.

Susana é incapaz de extrair do ambiente dados desconfirmatórios. A escola provavelmente


continuará sendo uma situação que a expõe à pressão de desempenho e à autodepreciação. Por
sua vez, a menina provavelmente continuará a abominar pressões de desempenho.

Abstração seletiva / Filtro mental


A criança foca seus pensamentos exclusivamente no aspecto negativo das situações e
desconsidera todo o resto, deixando de lado os aspectos relevantes ou positivos. OU seja, a
parte negativa ou neutra é realçada e o restante não é percebido. Ex: “tirei 10 em matemática,
mas não conta, todos tiraram;’

As distorções vão sendo produzidas ao longo do tempo, ao longo da história.

Monstro dos óculos sujos

Especificidade de conteúdo nos quadros psicopatológicos


Na hipótese da especificidade de conteúdo, Beck e colaboradores (1987) propõem que os
transtornos emocionais têm um conteúdo cognitivo específico, ou seja, uma temática própria
de cada transtorno.
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Quadro 1.1 Perfil cognitivo dos transtornos psiquiátricos


1) Depressão: visão negativa de si, dos outros e do futuro: Criança/adolescente: eu não presto
para nada, ninguém me compreende e a vida vai ser sempre assim

2) Hipomania ou episódios maníacos: visão inflamada de si, dos outros e do futuro / )


Adolescente: nada acontece comigo

3) Comportamento suicida: desesperança e conceito autodesqualificador / Adolescente: eu não


presto para nada. Não devia ter nascido

4) Ansiedade generalizada: medo de perigos em situações específicas, evitáveis /


Criança/adolescente: viver é perigoso. Meus sentimentos são perigosos. Meu pai/mãe podem
morrer

5) Fobia: medo de perigos em situações específicas, evitáveis / Criança/adolescente: baratas são


assustadoras

6) Pânico: medo de um perigo físico ou morte iminente / Adolescente: Vou morrer do coração.
Estou contaminada. Vou enlouquecer.
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Perfis cognitivos (Beck): Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Baseado nos
conteúdos dos quadros psicopatológicos

Tríade cognitiva na infância


O interjogo de vários fatores (genético, ambientais, culturais, físicos, familiares, de
desenvolvimento e personalidade) predispõe o indivíduo à vulnerabilidade cognitiva.

As interações e interfaces de todos esses fatores entram em jogo na formação das crenças e dos
pressupostos idiossincráticos de si mesmo, das pessoas e do mundo, determinando quais
eventos de vida irão acionar reações mal-adaptativas.

Tríade cognitiva
Como vejo meu futuro / Como eu me vejo / Como vejo os outros

Quando uma criança está contando uma história, você pensa na tríade cognitiva. Na depressão,
usamos o inventário Beck de depressão. Usamos para ansiedade, ideação suicida

A forma como crianças interpretam suas experiências molda profundamente seu funcionamento
emocional. Suas percepções são um dos focos principais do tratamento

A forma como crianças e adolescentes constroem suas barreiras mentais em relação a si


mesmos, aos relacionamentos com outras pessoas, às experiências e ao futuro influencia suas
reações emocionais. As crianças e os adolescentes não recebem os estímulos ambientais nem
respondem a eles de modo passivo.

Em vez disso, constroem as informações ativamente, selecionando, codificando e explicando


as coisas que acontecem a si e aos outros.
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Material guerra dos monstros


Pensamentos distorcidos x pensamentos alternativos

Níveis de cognição
A TC identifica e trabalha três níveis de cognição (figura 1.2): pensamentos automáticos (PA),
pressupostos subjacentes e crenças nucleares

Todos nós temos crenças, pressupostos e PA tanto positivos quanto negativos, mas,
normalmente, quando nós falamos nesses conceitos, estamos nos referindo aos disfuncionais

Pensamentos automáticos: Crenças subjacentes (pressupostos e regras), crenças nucleares


(esquemas)
“Devo tirar 100. Caso contrário, meus pais não vamos me amar”

Esquema mais profundo: Há o desamor. Há o desvalor. E há o desamparo. (esquema da


cebola)

Terapia do esquema: é uma terapia de personalidade. É a terapia que busca as crenças


nucleares. É interessante, inclusive com crianças.

Terapia do esquema alemã: muitos recursos, inclusive fantoches. Trabalham com famílias,
gerações. Os alemães produzem muitos problemas por conta de sua natureza rigorosa.
Cristopher Luz (conferir nome)
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Esquemas – crenças centrais


Os esquemas cognitivos representam estruturas centrais de significado que direcionam a
codificação de atenção e lembrança (Fiske & Taylor, 1991; Guidano & Liotti, 1983, 1985;
Hammen, 1988; Hammen & Zupan, 1984). Os esquemas induzem operações e produtos
cognitivos. Essas estruturas cognitivas refletem as convicções mais básicos que os indivíduos
mantêm. Kagan (1986) descreveu o esquema como ‘uma unidade cognitiva que armazena
experiência de uma forma tão fiel que a pessoa consegue reconhecer um evento passado” (p.
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Ex: Imagine um jovem de 15 anos, com ansiedade social, que recorda ter sido humilhado em
um encontro de escoteiros-lobinhos quanto tinha 6 anos. Todas as vezes em que se depara com
uma nova situação social, seu esquema o leva de volta à humilhação original, dando-lhe a
sensação de estar revivenciando o evento. Talvez isso explique o fenômeno clínico em que os
clientes se mostram tão regredidos e imaturos quando estão severamente angustiados. No caso
desse menino de 15 anos, sempre que seus botões são acionados, ele olha para si e para o mundo
com os olhos de um escoteiro-lobinho de 6 anos desprezado.

Crenças centrais
Na teoria cognitiva, os esquemas podem representar um fator de vulnerabilidade que predispõe
crianças a sofrimentos emocionais (Beck, Rush, Shaw, Emory, 1979)

De modo conceitual, um estilo atributivo pessimista deve ser considerado uma diátese para a
depressão na infância.

Os esquemas desenvolvem-se cedo na vida, tornam-se reforçados com o passar do tempo, e,


devido a repetidas experiências de aprendizagem, consolidam-se por volta da adolescência e no
início da vida adulta. O primeiro material esquemático pode ser codificado em nível pré-verbal,
podendo conter imagines não-verbais, além de material verbal. Os esquemas das crianças
tendem a não estar tão bem consolidados quanto os esquemas adultos
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Tipos de crenças centrais


Judith Beck (1995) propõe que as crenças nucleares disfuncionais podem ser colocados em dois
grandes agrupamentos, expandidos agora para três

1. Crenças nucleares de desamparo (helplessness): crenças sobre ser impotente, frágil,


vulnerável, carente, desamparado, necessitado
2. Crenças nucleares de Desamor (unlovability): crenças sobre ser indesejável, incapaz de ser
gostado, de ser amado, sem atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado, sozinho
3. Crenças nucleares de Desvalor (unworthiness): crenças sobre ser incapaz, incompetente,
inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, fracassado, sem valor

Crenças secundárias
Estratégias de enfrentamento ou estratégias compensatórias (J. Beck, 1995) são os
comportamentos que o indivíduo utiliza na tentativa de lidar com suas crenças
Esses comportamentos de enfrentamento têm correlação direta com as regras e os pressupostos
disfuncionais e também acabam por reforçar ainda mais a crença
Os pressupostos condicionais modelam a relação entre as estratégias comportamentais e as
crenças nucleares

Para exemplificar: podemos imaginar que um indivíduo fóbico com crença nuclear “sou incapaz
de ser amado” tem o pressuposto

É muito perigoso interagir com as pessoas, pois elas não irão gostar de mi, e a regra “para não
ter problemas, eu não devo interagir com as pessoas” Sua provável estratégia de enfrentamento
será não se expor a alguma situação em que a interação social seja necessária.

Falando com a terminologia cognitiva, o paciente diria algo como “se eu me engajar em minha
estratégia compensatória, estarei bem; se não, minha crença nuclear ficará evidente ou se
mostrará verdadeira”. Portanto, se eu me afastar dos outros, eles ficarão longe e não tentarão
me fazer mal, caso contrário, eles irão me machucar”
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07 de Março de 2023 – Aula 2


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

Obs: ainda ficamos no slide da aula 1 (slide 20 de 26)


Quais são as semelhanças entre a terapia cognitiva com adultos e a terapia cognitiva com
crianças e adolescentes?

O estabelecimento do rapport, da confiança com o paciente e com a família, pois são crianças.
Na anamnese, a abordagem em geral é apresentada à família. Vários princípios estabelecidos
com adultos se aplicam às crianças. Crianças são capazes de fazer registros de pensamento por
meio de desenhos. Mas às vezes é preciso usar recursos mais concretos (como baralhos) para
ativar pensamentos automáticos. Com adultos, é mais fácil ativar os pensamentos automáticos
e as consequências de seu pensamento.

Embora a terapia cognitiva precise ser adaptada para adequar-se às características individuais
das crianças, vários princípios originalmente estabelecidos pelo trabalho com adultos ainda se
aplicam (Knell, 1993).

Outro ponto: empirismo colaborativo e a descoberta guiada são úteis com crianças. São os
meios pelos quais vamos trabalhar a terapia. A terapia precisa da participação do
cliente/paciente. No caso das crianças, precisa-se ainda dos familiares, o que gera problemas
adicionais, já que, não raramente, os pais terceirizam os problemas para a escola e/ou para o
psicólogo. Às vezes, os pais podem ser entrave para a adesão e engajamento na terapia. O
empirismo colaborativo diz respeito ao trabalho dialógico, colaborativo (da parte de quem foi
procurá-lo). Descoberta guiada: o terapeuta não dá a “receita”. É o processo de descoberta
juntos, entre o cliente/paciente e o terapeuta. O terapeuta é diretivo no processo, mas, por
diretividade, não quer dizer que o terapeuta diz o que a criança e pais devem fazer.

A conceptualização cognitiva é a chave do processo. A terapia cognitiva tem estrutura, técnica,


mas a compreensão do caso, do paciente deve ser feita pelo terapeuta.
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A estrutura da sessão também pode ser flexivelmente aplicada com crianças.

Assim, o estabelecimento da agenda e a evocação de feedback são princípios centrais que


orientam a terapia cognitiva com crianças. Verificação de humor, retomar o que foi feito na
semana anterior, tratar da agenda. O terapeuta é diretivo, mas não diz o que vamos falar. Ao
longo da sessão, vamos avaliar se a agenda vai sendo cumprida ou não. A agenda não deve
engessar, no entanto, pois estamos lidando com afetos e emoções. O assunto deve ser
importante para o paciente, e não para o terapeuta. Crianças costumam ser atendidas em um
espaço adequado, com objetos atrativos etc.

E a questão dos jogos? Depende do quadro da criança. Pense em uma criança hiperativa ou
autista. É preciso que o terapeuta recorra a algo que desperte o interesse desse público. Uma
das vantagens da TCC é a possibilidade de usar recursos em prol do reforçamento. A TCC
envolve também análise do comportamento. O que não pode ou não deve é usar coisas para
passar o tempo. A criança precisa ser reforçada de alguma maneira. Como esses materiais, essas
técnicas fazem sentido dentro desse contexto? É muito importante saber. Punição não deve ser
utilizada. Muitas coisas que ocorrem na sessão não estão programadas para acontecer.

É provável que a criança não participe da agenda, ou não queira estabelecer agenda ou ainda
sair da agenda.

O feedback: retomada do processo, diretividade (‘que tal pensarmos isso na próxima sessão?”)

É arriscado que, a partir de técnicas projetivas, se infira que, por exemplo, a criança está sendo
abusada
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Spiegler e Guevremont (1995) observam corretamente que a tarefa de casa é um elemento


central nas terapias cognitivo-comportamentais, um elemento que permite às crianças
experimentarem habilidades em contextos da vida real. A criança tem que sentir a tarefa como
um jogo, como um desafio, e não como uma obrigação escolar.

Em primeiro lugar, poucas crianças vêm para a terapia por vontade própria (Leve, 1995). Em
geral, elas são trazidas para tratamento pelos responsáveis, devido a problemas que talvez elas
nem admitam que tenham. Além disso, a experiência clínica sugere que, na maioria das vezes,
as crianças são encaminhadas para terapia porque suas dificuldades psicológicas criam
problemas a algum sistema (p. ex., família, escola).

Portanto, envolver a criança no processo de tratamento e aumentar sua motivação.

A ação na terapia é estimulante. A motivação das crianças aumentará quando elas estiverem se
divertindo.

A terapia cognitiva com crianças permanece focalizada no problema, ativa e orientada ao


objetivo (Knell, 1993), assim como a terapia com adultos.

Deve-se considerar cuidadosamente as idades das crianças, bem como suas habilidades
sociocognitivas (Kimball, Nelson, & Politano, 1993; Ronen, 1997), e adaptar o nível de
intervenção à idade e às capacidades do seu desenvolvimento.

Idade: Quando as exigências da tarefa terapêutica excedem as capacidades sociocognitivas das


crianças, elas podem equivocadamente parecer resistentes, esquivas e até incompetentes

Com crianças com menos fluência verbal, podem ser indicados desenhos, fantoches,
brinquedos, jogos, trabalho manual e outras tarefas que exigem menos mediação verbal.

Ler e contar histórias com essas crianças podem ser estratégias para conseguir aumentar sua
sofisticação verbal.
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Além disso, filmes, música são mídias que podem facilitar uma maior mediação verbal.

Adaptar as tarefas para que estejam à altura da capacidade linguística das crianças é um desafio
clínico crucial.

O reforço (social) explícito é uma parte central desse trabalho com crianças e adolescentes
(Knell, 1993). Elogios são comportamentos reforçadores. A criança se desenvolve com reforço
por desempenho. A criança precisa ser elogiada pelo que é, e não apenas pelo que tem.

É ressaltado com as crianças a importância de arrumar seus brinquedos na sala de jogos,


completar a tarefa de casa, revelar seus pensamentos e sentimentos, e assim por diante.

As recompensas comunicam expectativas e exercem funções de motivação, atenção e retenção


(Bandura, 1977; Rotter, 1982).

Em suma, as recompensas envolvem as crianças, direcionando-as ao que é importante e


ensinando-lhes o que deve ser lembrado.

Estrutura das sessões

A TCC tende a seguir um formato padrão, com cada sessão envolvendo todos os sete elementos
seguintes ou a maioria destes:

As sessões envolvem
Revisão geral
Atualização dos sintomas
Revisão das tarefas anteriores
Definição da agenda
Foco principal da sessão
Feedback da sessão
21
22

Apresentando o Slide 2

01. Entrevista de anamnese


02. O que é a conceituação cognitiva (ou conceitualização cognitiva)
03. Conceitualização de caso, um processo dinâmico
04. Plano de tratamento baseado na conceitualização de caso
05. Sistemas de classificação diagnóstica e conceitualização do caso
06. Combinando variáveis para descrever o paciente
23

14 de Março de 2023 – Aula 3


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

Atividade prática com o baralho de histórias. O que o baralho de histórias tem a ver com a
conceitualização de caso? Trata-se de um processo científico (levantamento de hipótese por
parte do psicoterapeuta) que vai possibilitando o teste de seus pensamentos, de suas crenças etc.
O baralho é indicado para crianças acima de 5 anos, pois já consegue entender e utilizar o
baralho com a ajuda do terapeuta. Hoje vamos fazer de conta que somos as crianças. Vamos
trabalhar em cima das cartas. Nessa seleção, tem o baralho dos problemas, feito pelo Ederaldo
e Renata. Trata-se de um baralho para levantar os problemas nos casos em que as crianças não
conseguem falar. 150 cartas em diferentes categorias diagnósticas. São 15 transtornos
selecionados no DSM-V, e produziram problemas, questões que a criança não consegue
verbalizar. Esse baralho provoca o pensamento da criança, e ela vai indiciar *aquilo que ela
acha que sente*.
Carta PE (problemas escolares: tenho vergonha porque não consigo fazer o que o professor
pede).

Algumas cartas foram selecionadas e o nosso trabalho consiste em pegar as cartas conforme o
problema, e aí vamos usar o baralho de histórias, que é composto por situações, personagens e
objetos. A pessoa vai ter uma situação, a criança vai escolher uma situação, alguns personagens
(4, por exemplo) e 2 ou 3 objetos. O trabalho da gente é: somos as crianças, com o problema
na mão, vamos montar uma pequena história considerando o lugar, os personagens (que podem
ser todos ou escolher a que quiser) e os objetos. Vamos montar uma pequena história pensando
no nosso problema, que está descrito no baralho. Que tipo de história uma criança poderia
montar considerando o lugar, os personagens e os objetos. A história não tem tamanho pré-
delimitado. Teremos um protocolo de registro no qual colocaremos o nome do grupo inteiro e,
na frente, vamos colocar a história.
Escrever: quais os personagens escolhidos? Qual a situação ou local escolhido? Quais as
emoções mais predominantes? Quais os pensamentos e problemas observados?
Comportamentos não-verbais observados? Essa história é apenas o começo. Em seguida, teria
o aprofundamento daquilo que a criança relatou na história. A ideia é que a criação da história
conte sobre as crenças centrais (expressas no esquema desvalor, desamor e desamparo).
24

Algumas cartas podem estar mais ligadas à situação de produzir uma história sobre a ansiedade
infantil.
Depois vamos ler o problema e o que foi produzido. Não se esqueçam de falar do lugar, das
pessoas etc.

A.I: ansiedade infantil (2 conjuntos de cartas diferentes)


DI: depressão infantil
PE: problemas escolares
TOD: transtorno de oposição desafiante

Só tem 1 lugar para se pensar onde vai ocorrer a história. Depois tem alguns personagens e
alguns objetos de acordo com o quadro que vamos receber.

Depressão infantil
Era uma vez, um reino em que havia uma princesa que estava por receber a coroa de seu pai, o
rei. Mas existia um monstro que deixava ela com medo e triste. Então, a família da princesa se
reuniu na sala de jantar pra ver o que fazer com o monstro. Eles falaram para ela que eles tinham
uma bengala mágica. Então ela pegou a bengala e bateu no monstro que se transformou no arco-
íris. Aí ela ficou feliz e recebeu a coroa
Personagens: criança, rei, rainha e monstro
Local escolhido: sala de jantar do castelo
Emoções predominantes: Tristeza, medo, coragem, felicidade
Pensamentos:

Problemas relatados:

Na TCC, o psicólogo não sabe nada. A história não é projeção. Eu suponho que, quando a
criança diz que o personagem está triste, ele está falando dele mesmo. A hipótese pode ser feita.
É um chute, que pode ser mal-dado ou bem dado. A terapia busca a alternativa
A terapia que mexe na crença central
25
26
27

Os passos seguintes: quais pensamentos automáticos? Há regras condicionais? É uma pessoa


deprimida mesmo?
Distorção cognitiva: viés cognitivo. É preciso procurar entender pelo paciente, buscar
elementos fáticos para sustentar a hipótese.
A criança odeia a escola. Essa frase é muito genérica. A conceitualização do caso consiste em
montar a conceitualização do caso. Usamos esse recurso para estimular o pensamento. É
improvável que usemos esse barulho com um adulto. Talvez em alguns casos com adultos com
muita dificuldade de comunicação. Se você precisar ‘tirar leite de pedra’, pode usar esses
recursos. Não há interpretação explícita. Parte do pensamento distorcido é derivado de
interpretação.

Ansiedade geralmente tem a ver com desamparo.

O baralho pode ser usado mais de uma vez.


28

Conceitualização cognitiva: ferramenta fundamental. A preocupação estrita com nomes,


diagnósticos é problemática. Se você para no diagnóstico, pode estar perdendo informações. Na
conceitualização, vamos rever nossas hipóteses e também o paciente. A conceitualização para
adultos, adolescentes e crianças é a chave para a terapia. Aceitamos diagnóstico, avaliação
psicológica, cognitiva, mas o mais importante é o dia a dia da terapia, em que você trabalha
com modelo cognitivo (tríade cognitiva: visão de si, do outro e do futuro). Pensamentos de
crianças com depressão (desesperança, ideação suicida): vamos esmiuçar o que a criança quer
dizer. Frases como ‘tenho medo’, ‘sou ansioso’ em si não dizem nada, já que todos têm
ansiedade. É uma emoção básica. Mas eu tenho ansiedade quando? Em que situações? Com
quem? O que faço? O que penso? Por que essa ansiedade se mantém?
Conceitualização se inicia na entrevista de anamnese.

Essa parte motivacional é muito importante, pois a criança precisa fornecer dados. É importante
que a criança participe, mas essa motivação está nas mãos do psicólogo. Crianças e adolescentes
podem ter sido levados (e até convencidos), mas esse público não tende a ir por conta própria.
Mesmo assim, sabe o que é se sentir mal, ansioso ou com medo.
Esse plano de trabalho deve ser atualizado conforme as informações vão chegando. Nossa vida
continua. Aparece, por exemplo, um caso de bullying previamente inexistente.
Conceitualização: combina variáveis que descreve o paciente a partir de um conjunto de
informações derivadas de diversas fontes. Fontes familiares, da escola
29

Fases da entrevista comportamental

1) Rápida descrição dos problemas


Desenvolvimento: precipitantes, duração, fatores predisponentes
É preciso conhecer psicologia do desenvolvimento. Nem toda criança que comete erros de
escrita tem dislexia. Nem toda criança tem TDAH
Duração: quanto tempo já faz isso?
Predisponente: está lá e pode se manifestar ou não. É algo latente. É uma criança que já sente
segura desde que é pequena. O predisponente diz respeito a fatores biológicos, psicológicos que
predispõe determinados transtornos.
Precipitantes: é o que falta para o caso vir à tona, é a gota d’água.

2) Descrição do comportamento que a família trouxe


Comportamental, cognitivo, afetivo, fisiológico (há problemas médicos? psiquiátricos?)
Qual? Quando? Onde? Com que frequência? Com quem? Qual o grau de desconforto? O quanto
é perturbador?
30

3) Contextos e variáveis moduladoras: situacionais (contextos), comportamentais, cognitivos,


afetivos (como a criança é no dia a dia? É arredia?), interpessoais, fisiológicos.

4) Fatores mantenedores: situacionais (contextos), comportamentais, cognitivos, afetivos,


interpessoais, fisiológicos.

5) Evitação: recursos de enfrentamento e outras qualidades

6) Histórico médico e psiquiátrico


Tratamento anterior: resposta / medicação atual
Há estados que podem ser criados ou mantidos por uso de medicamentos

7) Crenças sobre o problema


Engajamento
Estado mental/humor

8) Situação psicossocial: família, moradia, profissão, relações sociais, passatempos/interesses

Engenharia reversa, dessensibilizar: não é algo que ocorre em poucas sessões.


31

Conceituação cognitiva: o primeiro passo da TCC é elaborar uma conceitualização de caso.


Motivos para elaborar a conceitualização

A partir do momento em que você entende o quadro, você cria técnicas. Quando usar baralho?
Quando surgirem as necessidades? Quando avaliar a inteligência? Quando houver demanda.
A conceitualização permite que a gente use da flexibilidade. A introdução de uma técnica, o
redirecionamento do tratamento, essa flexibilidade só é possível à medida que você entende o
caso. Como e quando usar técnicas (maleta de truques)? Tem que haver uma razão para
introduzir técnicas.

Conceituação de caso, um processo dinâmico


A base da conceitualização de caso é elaboração de hipóteses, de maneira que se possa
incrementar o quadro diagnóstico da criança durante toda a intervenção psicoterapêutica; para
tanto é necessário habilidades de análise de dados clínicos (qualitativos). Não são dados
simples.

A Conceitualização de caso precisa ser simples, abrangente e impulsionada por uma visão
imparcial.

É preciso saber usar o critério diagnóstico para entender o caso. Há que se considerar a história
de contingências positivas e punitivas. O nome do diagnóstico é o que menos importa. É
importante para comunicação entre profissionais.
Quando você se casa com o diagnóstico, essa conceitualização poderá ser tendenciosa. Em
geral, você vai buscar coisas para alimentar o rótulo, e sua conceitualização perde qualidade.
Podemos, como psicólogos, fazer da conceitualização uma visão subjetiva (ou mais subjetiva,
porque subjetiva sempre é)
32

Para se chegar a uma conceitualização adequada, deve-se fazer questões de diagnóstico


diferencial (qual outra explicação para estes sintomas e comportamentos?) , apoiar-se em dados
oferecidos pelo cliente (importância do feedback da família e da criança às hipóteses
estabelecidas), estando pronto para deixar hipóteses sem apoio.
Os planos de tratamento especificam a sequência e a oportunidade de intervenção e, portanto
devem basear-se na conceitualização do caso sustentando o material psicoeducativo elaborado,
escolhido para cada sessão de psicoterapia.
É adequado que, ao final da sessão, aja um resumo dos pontos tratados, onde foi observado um
crescimento, os pontos que precisam ser melhorados. É preciso ser explícito, coerente,
transparente.
Há que se considerar a relação/confronto das percepções entre psicólogo e paciente. Planos de
tratamento podem ser reformulados.

Sistemas de classificação diagnóstica e conceitualização de caso:


•Diagnóstico psiquiátrico resumem os sintomas de forma geral, conceitualização de caso
oferecem descrições pessoais da personalidade e do psiquismo.

•Na conceitualização do caso, o diagnóstico classificatório é apenas um elemento constituinte


deste retrato psicológico do indivíduo
33

Ambientes mudam ou não. Independentemente do que aconteça, planos de trabalho precisam


ser reavaliados no quadro do paciente.
Sintomas discordantes: sintomas que complicam diagnóstico e que podem complicar plano de
tratamento

Na terapia de adulto, você tem acesso a essas informações mais facilmente.


Anamnse: pegamos antecedentes e consequentes do comportamento (precipitantes,
predisponentes), história de desenvolvimento, contexto cultural.
34

Que tipo de crença pode predominar nessa criança? Esses esquemas surgem na infância e, em
geral, são desadaptativos. É preciso conhecimento teórico, capacidade de fazer hipóteses etc.
Para fazer diagnóstico, basta aplicar testes, usar o DSM. Mas depois é preciso prosseguir com
a conceitualização. Você só entende o paciente fazendo a conceitualização de caso.
Contexto cultural: vai determinar às vezes se um comportamento é doente ou não

Você deve resumir sua experiência com a prática da semana indicando os seguintes aspectos:

1- Nome da técnica: Baralho de histórias

2- Objetivo da técnica: Trata-se de uma técnica que está a serviço da conceitualização de caso.
Considerando as dificuldades e limitações não só cognitivas, mas também concernentes à
expressão oral por parte das crianças, o baralho de história se mostra como uma ferramenta
importante para auxiliar o psicólogo a conceitualizar o caso e para elaborar diferentes
estratégias de intervenção cognitiva. Sua finalidade é também a de suscitar, no cliente, um
ambiente adequado e acolhedor para a exteriorização de seus problemas, pensamentos e
emoções. Por outro lado, acredito, a técnica pode ser eficaz no fortalecimento de vínculos
terapêuticos.

3- Idade indicativa: O uso do baralho de história não possui restrições de idade. Embora seu
uso seja prioritariamente recomendado para crianças que ainda não atingiram o nível de
verbalização abstrata e conceitual, não há quais restrições para o uso do baralho com crianças,
adolescentes, adultos e idosos. Talvez o único requisito seja a capacidade, por parte do
cliente/paciente, de manipular histórias em nível verbal, ainda que com escassos recursos
verbais. Espera-se, portanto, que este baralho seja apropriado para usar com crianças a partir
dos 5 anos de idade.

4- Facilidade e dificuldade para executá-la na sala de aula: Não há dificuldades importantes


relacionadas ao uso do baralho de histórias. É importante que o cliente se sinta convidado a
proceder a uma narrativa sob a inspiração dos textos, objetos e da situação motivadora.

5- Reflexão crítica da técnica (você faria adaptações, quais?) Justifique. A técnica constitui um
material lúdico muito apropriado para retirar o cenário terapêutico de um ambiente que pode
ser ineficaz para o diálogo entre o psicólogo e seu cliente, especialmente, mas não
35

exclusivamente, as crianças. Conforme propõe as próprias autoras do Baralho de Histórias,


Miriam Rodrigues e Carmem Beatriz Neufeld, o baralho de histórias é uma alternativa em
relação ao possível (e previsível) desconforto gerado pelas perguntas diretas sobre seus
problemas e sentimentos. A arte constitui um mecanismo privilegiado de exteriorização das
emoções, e é esperado que na narrativa a criança expresse os recursos, emoções, pensamentos
e problemas que lhe são inerentes. Esse recurso, no entanto, deve ser entendido como ponto de
partida para a conceitualização do caso, para a prática do diálogo e para possíveis intervenções
psicoterapêuticas, e não, ressalte-se, para uso hermenêutico a serviço do subjetivismo do
profissional.
36

21 de Março de 2023 – Aula 4


Sistemas de classificação diagnóstica e conceitualização de caso:
•Diagnóstico psiquiátrico resumem os sintomas de forma geral , conceitualização de caso
oferecem descrições pessoais da personalidade e do psiquismo.
•Na conceitualização do caso o diagnóstico classificatório é apenas um elemento constituinte
deste retrato psicológico do indivíduo.
37

Baralho de histórias
O Baralho de histórias permite a formulação cognitiva em crianças

A formulação cognitiva ou conceitualizção de caso deve ser colaborativa

Essa forma colaborativa de conceitualização pode ser aplicada em crianças a partir de 5 anos.

Permite de forma indireta, por meio das histórias contadas e os recursos adicionais (cartas do
terapeuta) que se mapeie pensamentos automáticos , crenças centrais e a tríade cognitiva em
crianças
Permite ainda um modo interventivo que visa instalar habilidades e competências nas crianças.
38

Carta tríade cognitiva

Como se acredita que será no futuro?


39

No modelo cognitivo, temos os pensamentos que chamamos de crenças intermediárias e


estratégias compensatórias. São regras que a pessoa cria a partir de seus pensamentos
automáticos. É uma fórmula que a pessoa encontra:

É sempre um argumento na condicional: Se...então...


Se eu for submisso ao fulano, obterei o carinho dele sempre.
A essas crenças se unem as estratégias compensatórias. Quais estratégias que eu uso para
expressar meu carinho? Posso ser excessivamente prestativo, generoso etc. A criança idem.
Dentro das cartas, tenho as que vão suscitar esses pensamentos intermediários e as estratégias
compensatórias.
A partir de uma história, aplico todo o modelo cognitivo.
Nosso papel é o de perguntadores, inquiridores.
40

Esta é a carta dos aspectos positivos. As profissões da saúde tendem a ressaltar a doença, e a
psicologia não fica atrás. Com essa carta, podemos trabalhar aspectos positivos, recursos
internos, estratégias para a solução de problemas. Podemos sempre fazer um elogio à sua ação
para internalização dos aspectos positivos. Acima, alguns aspectos positivos que podem ser
desenvolvidos. A assertividade é a capacidade de manipular a sinceridade a partir das emoções,
a partir de sua percepção subjetiva. Tendemos a ser mais polidos que verdadeiros.
Regulação das emoções: importante aspecto positivo a ser desenvolvido.
Conforme o quadro que você tem diante de si, você pode estimular/suscitar vários pensamentos.

Há um convite a convidar a criança para que tome iniciativa.


A psicoeducação infantil é fundamental.
41
42

Com esse baralho, você dá oportunidade sempre do personagem ter uma determinada
habilidade.

Você reconta a história, mas apresenta cartas que introduzem situações nas quais as crianças
vai resolver problemas, conflitos, regular conflitos. Então, é a mesma história, mas agora a
partir de uma nova perspectiva. O terapeuta pode pedir para a criança dar conselhos aos
personagens
43
44
45

O baralho não é diagnóstico. Pode servir em diferentes momentos para a terapia.


46

Identificando problemas: Ensinando o modelo cognitivo. RPD. Distorções cognitivas

O tratamento precisa ser descrito de modo simples, compreensível e sensível ao


desenvolvimento

Esta aula sugere vários métodos para apresentar o tratamento a crianças, adolescentes e seus
pais (cuidadores, tutores)

Crianças, pais e terapeutas necessitam de um certo consenso em relação aos problemas a serem
tratados na terapia. Aqui temos o primeiro desafio: o que a criança tem? O que os pais acham
que tem? (pais são entrevistados primeiramente)

Esse primeiro passo pode apresentar desafios. Em geral, pais, professores ou outros adultos são
os primeiros a identificar e definir os problemas das crianças para elas. Você precisa obter
informações da criança para estabelecer um acordo genuíno sobre o problema a ser trabalho. É
na infância que começa a vir os problemas comportamentais

Não é recomendável continuar o tratamento antes que os problemas sejam definidos


cooperativamente, pois é provável que isso ocasione bloqueios terapêuticos

Se as crianças não concordarem com o terapeuta sobre o problema delas, talvez não se sintam
motivadas a fazer o tratamento. Este capítulo também oferece várias recomendações para
identificar problemas com crianças e adolescentes.

Como você apresenta de maneira envolvendo e compreensível a terapia às crianças dos anos
iniciais do ensino fundamental? Obviamente, as crianças precisam receber informações
concretas e simples. Se sentirem que você está dando uma palestra, não prestarão atenção. Essa
não é uma tarefa fácil de realizar na prática clínica. Desenvolvemos algumas estratégias,
histórias, jogos e metáforas (quando o coração fica triste?) para minimizar esse problema
47

Para crianças mais novas, aplicamos um formato de livro de histórias ou figuras para ilustrar a
associação entre fatos, pensamentos e sentimentos. O terapeuta faz perguntas para orientar a
narrativa da história. A criança dá respostas aos estímulos do terapeuta. Muitas vezes, a criança
será convidada a desenhar uma figura

O processo começa com o terapeuta desenhando a figura da criança segurando um balão


inflável. Recomendamos que o gênero da criança no desenho seja o mesmo da criança em
tratamento. O desenho também inclui um balão de pensamento. No desenho original, a criança
está sem expressão, e o balão de pensamento está vazio. Em seguida, você acrescenta o primeiro
estímulo. A seguinte interação ilustra o processo.

Em geral, o modelo de tratamento apresentado aos adolescentes da mesma maneira que para
adultos (J. S. Beck, 2011; Padesky & Greenberger, 1995). De modo habitual, o modelo
cognitivo é apresentado após o processo de avaliação ter sido quase ou totalmente concluído.
A seguinte transcrição ilustra a forma como o terapeuta apresenta o modelo cognitivo a uma
adolescente deprimida
48

Situação: o que aconteceu?


Sentimento: O que sentiu?
Pensamento: como pensou?

Segundo Beck, a cognição vem em primeiro lugar. Para outros autores, você tem os sentimentos
relacionados a determinados tipos de emoções e só então você tem processos cognitivos.

Síntese: apresentando o modelo de tratamento a crianças e adolescentes


Para crianças mais novas, utiliza gráficos e metáforas
As metáforas também podem envolver crianças mais velhas e adolescentes evasivos
Seja específico e garanta a relevância, abordando as preocupações dos clientes e os problemas
apresentados
Permaneça interativo e aberto a conversas; evita dar uma palestra

Identificando problemas com crianças e adolescentes


Identificar problemas com crianças e adolescentes é um processo desafiador até mesmo para
terapeutas mais experientes; todavia, é importante passo inicial no tratamento, por diversas
razões

Primeiro, talvez, as crianças não saibam por que estão vindo à terapia ou podem estar
ressentidas por estarem consultando um terapeuta

Segundo, a fim de tratar efetivamente os problemas e compor abordagem de tratamento


colaborativa, terapeutas, jovens e pais devem formar um consenso sobre o problema

Muitas vezes, uma boa dose de engenhosidade é necessária para envolver os jovens no processo
de identificação do problema. Algumas delas podem achar a tarefa maçante e sem graça. Outras
podem considerá-la dolorosa.

Já é um primeiro passo os pais, professores e terapeutas dizer o problema de uma maneira


simples. Se você não engajar a criança, não há tratamento.
49

Muitas terapeutas podem vê-la da mesma maneira. Entretanto, o processo não precisa ser
doloroso e sem graça. Os terapeutas devem se esforçar para que evitar que a identificação do
problema para uma confissão da criança.

Se as crianças percebem uma crítica e acreditam que o terapeuta as está culpando,


provavelmente se sentirão envergonhadas e indignadas. Portanto, o terapeuta cria uma forma
atraente para a criança identificar os problemas, que seja empoderadora em vez de depreciativa.

Assim, nessa seção, sugerimos vários métodos para identificar problemas com crianças que
estejam nos primeiros anos do ensino fundamental e com adolescentes.

É possível trabalhar de forma adiagnóstica, mas também é possível associar frases a diagnóstico
HIPEARTIVIDADE: eu não presto atenção
PROBLEMAS ESCOLARES: não consigo ler como meus amigos
ANSIEDADE: tenho medo de que alguém me faça mal
DEPRESSÃO: não tenho vontade de viver
TOD: acho que as pessoas são ruins comigo
BULIMIA: faça muito exercício até eu emagrecer
ANOREXIA: quando me olho no espelho, acho que preciso emagrecer
DEPENDÊNCIA DE SMARTPHONE: não consigo me controlar na aula por vontade de pegar
o smartphone
DEPENDÊNCIA DE REDES SOCIAIS: se pudesse, ficaria o tempo todo nas redes sociais
PROBLEMAS HABILIDADES SOCIAIS: não tomo a iniciativa para brincar ou conversar com
alguém

Como é o termômetro, em uma escala de muito fraco a muito forte, passando pelo fraco, médio
e forte? Qual é a força desses sentimentos para si? Psicologia não possui instrumento de medida.
50

Um exemplo de tarefa de casa

Crianças mais novas podem estar completamente alheias a porque estão na terapia. Talvez
achem que receberão uma injeção ou remédio do terapeuta. Outas podem encarar o terapeuta
como uma espécie de diretor de escola que as castigará por terem criado um problema. Corrigir
essas suposições equivocadas é a primeira tarefa na apresentação da terapia a uma criança e na
identificação dos problemas-alvo.

As cartas para o o(a) Caro(a) Doutor(a) ou Caro(a) Terapeuta oferecem uma forma de as
crianças conseguirem falar sobre si mesmas fazendo algo familiar, ou seja, escrevendo uma
carta e identificando os seus problemas (Padesky. 1988). Escrever uma carta é o passo inicial
rumo a uma revelação de si mesmo(a) mais direta, dando à criança uma confortável sensação
de distanciamento do terapeuta. Você poderia apresentar a tarefa da seguinte maneira:
“quero conhecer você um pouquinho melhor. Uma forma de eu saber sobre você é s se me
contar mais sobre si mesmo. Já escreveu uma carta a alguém antes? Bem, é isso que eu quero
que você faça na próxima semana. Quero que me escreva uma carta contando o que quiser sobre
si mesmo. Conte-me sobre as coisas que você faz, sua família, seus sentimentos de tristeza, de
raiva ou de preocupação, as coisas que vc gosta, as coisas que lhe trazem problemas, suas
escola, e seus amigos. Realmente quero que escreva qualquer coisa que queira que eu saiba
sobre você. Escreva aquilo que o deixa feliz e aquilo que o perturba.

A identificação de problemas com pré-adolescentes e adolescentes apresenta desafios únicos.


Às vezes, esses jovens são perfeitamente capazes de se beneficiar de métodos tradicionais para
a identificação de problemas. Outras vezes, pela falta de confiança e suspeita em relação aos
adultos, eles relutam em dizer o que realmente se passa em suas mentes. Portanto, precisamos
fazer esforços consideráveis para colaborar com adolescentes no processo de identificação do
problema

A forma mais convencional de identificar problemas com adolescentes é a lista de problemas


(Padesky, 1988; Persons, 1989). Ao desenvolvê-la, recomendamos que você operacionalize os
componentes cognitivos, emocionais, fisiológicos, comportamentais e interpessoais do
problema. É relativamente comum que adolescentes relutantes se distanciem do problema ou o
descrevam em termos do que os outros estão fazendo a eles. Por exemplo, quando perguntado
51

sobre seus problemas, um adolescente não colaborativo respondeu: “minha mãe é uma cadela
irritante”.
Conversinhas teens
SINOPSE

Versão para adolescentes do Conversinha.

Conversinha Teens é um recurso para uso nas primeiras sessões de psicoterapia com
adolescentes. Útil para adolescentes que não verbalizam espontaneamente seus problemas ou
que precisam ser introduzidos à linguagem e aos assuntos de interesse da psicoterapia, como
por exemplo, falar de problemas e expressar seus pontos de vista de forma tranquila. Ofereça
os 25 cartões ao adolescente com as perguntas voltadas para baixo e peça que ele escolha "às
cegas" 10 ou 15 perguntas. Na sequência, o terapeuta faz a pergunta, ou o próprio adolescente
lê e responde. As perguntas foram formuladas para promover discussão sobre questões do
cotidiano dos adolescentes, de interesse na terapia: autoimagem, autoestima, pais, amigos,
problemas, sentimentos, estudos.
público-alvo: Pode ser utilizado com clientes de 13 a 17 anos.

Síntese 5.2 Identificando problemas com crianças e adolescentes


Faça um convite à colaboração. Não tente arranjar uma confusão
Cultive métodos inteligentes
Permaneça lúdico e flexível. Utilize artes, artesanato etc.
Talvez você precise aceitar uma definição externa do adolescente como primeira etapa no
processo

Conclusão
A terapia é um mistério para a maioria das crianças e famílias. As pessoas abordam um território
desconhecido com grande ansiedade e ambivalência
52

RPD para crianças e adolescentes (Registro diário de pensamentos)


O que ‘pipocou’ em sua cabeça?
O que passou voando pela sua mente?
O que se precipitou em sua mente?
O que varreu a sua mente?
O que invadiu sua cabeça?
O que você disse a si mesmo?
53

28 de Março de 2023 – Aula 5


Faltei (evento César)
54
55
56

04 de Abril de 2023 – Aula 6


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes
2C – sala 140

Secad (Artmed): material atualizado


Artmed: 2 programas de psicologia
Propisco (SBP)
Procognitiva (FBTC): no ciclo 3, volume 3, encontramos o trabalho

No setting com os pais


Quando os pais estão de fato presentes, e qual a situação em que eles não estejam presentes
para trabalhar com eles. Não há como trabalhar com crianças sem a presença dos pais. Isso tem
prós e contras. Dependendo de quais são os problemas-queixas, e características do cuidador
(autoritativo, autoritário, permissivo por escolha, permisso por falha), os direcionamentos são
distintos. Quando você vê que o cuidador também está dialogando com esse ‘terapeuta’, há um
certo conforto. Tem-se a ideia de que estamos todos no mesmo barco. Se você atende na
sequência o pai ou a mãe, há muitos ganhos, mas existem questões de sigilo. Na prática,
atendemos a criança e o adolescente e depois os pais. Vamos sempre convidar a criança e o
adolescente para estar na conversa. Não é para falar o que ele falou, mas o que se pode falar
com o cuidador. Treinamento de pais suscita interpretações. Na prática, é preciso dialogar. A
criança precisa entender o processo. Um elemento que nos faz ficar de olho é o quanto a criança
fica ansioso quando se vai fazer treinamento com os pais. Isso aponta para alguma natureza de
estilo parental de educação. O mais saudável é o autoritativo. Mas há o autoritário, que gera
algum grau de ansiedade. Há o permissivo por escolha, ainda que saiba que não é bom. Esse
comportamento também gera ansiedade. Crianças e adolescentes sabem que não tem
orientação. E há uma necessidade básica que todos temos é a de ter orientação. Quando somos
privados de orientação, somos fomentados à ansiedade. Pessoas ansiosas podem ter tido muito
pouca orientação. Isso tudo é modelagem. Criança não sabe nascendo.
Pais autoritários: não precisam dizer como. Dizem o que. Isso também gera ansiedade. O
‘como’ não é problema meu. Na terapia, precisamos reparentalizar. O permissivo por falha, por
sua vez, não sabe que não está oferecendo orientação. Ele não possui essa consciência. 3
elementos são importantes nessa história toda.
57

Quando estamos olhando para a esfera familiar, temos que ver a “alta demonstração de amor”
e exigências (como se lida com exigências). Vamos pensar que eu tenha uma alta demonstração
de afeto e muito baixa exigência. Exigência demanda presença, escuta, esforço, estar presente
no contexto. Hoje em dia a baixa exigência tem sido prevalente. A alta exigência (pelo menos
no autoritativo) não é exagerada. É recomendada alta exigência + alta demonstração de amor.
Pensemos, por exemplo, na adaptação à escola. A permissiva por escolha acha que o problema
da adaptação é da escola. Então, eu posso ser uma pessoa extremamente afetuosa mas não
orientar a criança (terá que acordar cedo, se trocar, tomar café da manhã etc.). O autoritativo
sabe as demandas e mostra o seu afeto por orientação. Pais assim geram muita segurança
interior. Os pais mostram segurança e orientam em passos. Vamos imaginar agora que não
ajudamos a criança a formar seu repertório. Teríamos aqui o estilo permissivo, que está
associado a uma baixa exigência talvez porque eu não queira exigência para mim. A associação
entre o estilo permissivo por falha e a baixa demonstração de amor talvez seja o pior cenário.
Tarefas educativas parentais envolvem demonstração de algum grau de afeto e exigências sobre
como lidamos com certos desafios. A permissividade sempre está associada à baixa exigência,
e isso pode estar associado com baixa ou alta demonstração de afeto. Crenças de desamor, de
desamparo e de desvalor podem estar associadas a uma formação permissiva. É possível ter
crenças de amor e, ao mesmo tempo, sentir-me desamparado, o que gera o desvalor. É preciso
entender o papel desses elementos.

Responsividade: capacidade de estabelecer limites e fronteiras adequadas. Saber dizer ‘não’


quando necessário, estabelecer regras claras, ser firme, além de saber dar condições para que
os comportamentos desejáveis aconteçam. Saber dizer ‘não’ é muito difícil sempre. A
abordagem será mais sobre ‘exigência’ nos conceitos de punição, extinção e na técnica do time
out. Dizer ‘não’ para um adolescente que quer sair não é dizer que um adolescente não possa
sair, mas porque não pode sair para esse lugar.
É importante construir histórias de fronteiras.
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Habilidades socioemocionais:
Seguir orientações
Seguir regras
Ter uma boa regulação emocional (reconhecer e expressar emoções adequadamente). A
fronteira frustra.
Experimentar estabilidade nos relacionamentos interpessoais
Saber resolver conflitivos de forma assertiva. Uma característica do treino de assertividade é
não falar do outro nunca. Estamos falando de nós mesmos. Topografia de voz, do
comportamento.
Cooperar com os pares
Motivar-se para alcançar objetivos
Ter boa reciprocidade e empatia
Tolerar frustrações

O cuidador é toda pessoa que passa na vida de um indivíduo e que modela o seu senso crítico.
Quem está se sentindo sobrecarregado, tem dificuldade. Por isso os pais precisam ser ouvidos.
Treinamento de pais é importante. Ainda que se burle uma fronteira, estar ali não vai ser
escondido. Tudo será dito, contado.

Economia de fichas é uma técnica baseada no condicionamento operante utilizada para controle
de contingências. No caso de crianças pequenas, diversas são as formas de apresentação. Podem
ser elaborados cartazes com desenhos sobre os comportamentos que as crianças devem
conseguir apresentar (comportamentos-alvo), e a pontuação pode ser representada por uma
caixinha (estilo cofre), na qual são depositadas fichas (em forma de estrelas, por exemplo), ou
por adesivos colados ao lado de cada figura de comportamento-alvo. O objetivo é que a criança
se motive para adquirir a maior quantidade de pontos à medida que consegue apresentar bons
comportamentos. Os pontos podem ser trocados por premiações, preferencialmente por
reforços sociais e não materiais
Técnica de economia de fichas, ver Fava e Melo e Fava
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Técnica do time out: Passos


A criança deve saber o que é esperado dela (já foi avisada sobre a regra de brincar sem brigar
com o irmão mais novo)
Se houver um deslize na regra, a criança recebe um aviso
Se houver outro deslize, a criança é levada ao time out (espaço da casa sem estímulo, sem graça
e até mesmo considerado chato pela criança; por exemplo, hall de entrada, corredor etc).
Por fim, os pais são os responsáveis por retirar a criança do período que deve durar, o
equivalente a 1 minuto para cada ano de idade da criança
Técnica de extinção da resposta: diminuir a frequência ou a intensidade de comportamentos
indesejáveis. Diferentemente da punição, a extinção consiste na ausência de atenção (reforço)
direcionada a determinado comportamento. A extinção é mais utilizada em comportamentos
não-agressivos

No setting com as crianças


Crianças não são adultos pequenos e, por isso, não podem se sentar em uma poltrona e falar
sobre seus sentimentos
O egocentrismo característico da faixa etária pré-escolar pode ser um problema para uma
terapia convencional. As habilidades emocionais e o domínio afetivo podem ir além do
egocentrismo mesmo antes dos 6 anos. O pré-operatório pode se expressar mesmo em adultos,
sobretudo quando você está desregulado emocionalmente.

Relaxamento, mindfulness e respiração: 3 técnicas de regulação para tirar alguém do nível pré-
operatório ou operatório concreto ou ainda sensoriomotor (despersonalização) em estado de
ansiedade/desconforto

Empirismo colaborativo

Sigilo com o paciente: o pai tem direito de saber o que diz respeito à queixa. O artigo 26 do
Código de Ética, sabe-se que o sigilo só pode ser quebrado por abuso, experiências sexuais,
doenças sexualmente transmissíveis, uso e abuso de drogas, automutilação e ideação suicida e
casos em que a informação seja útil e necessária para que sejam tomadas medidas para o
benefício do paciente.
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Assim como todos nós, crianças e adolescentes não contam as histórias como elas são, mas
como a gente quer que os outros escutem. O que é contado pelo adolescente é o que ele quer
que você ouça. Cabe ao psicólogo entender a experiência e a vivência. Quais são as suas crenças
sobre essa experiência sexual? A partir daí, consigo entender os riscos da não-comunicação aos
adultos. O você acredita que eles fariam se soubessem? A partir desses dados, obtenho a melhor
forma para transmitir aos cuidadores, mas também após a psicoeducação.

Exemplos de frases/diálogos entre terapeuta e paciente


A agenda: “E aí, Lara! Tudo bem, florzinha? Estava com saudades de ti! Já preparei nossa lousa
divertida para que você coloque como será nossa sessão de hoje, ok?”

Tarefa
Brincar
Atividade
Resumo

Depressão é um problema sindrômico: afeta apetite, humor, memória, desregula sono. O que
chama a atenção é um ânimo irritável e/ou disfórica, desmotivada e com comportamentos
adaptativos instrumentais diminuídos. Em adultos, tende a ser crônica (cronificada). Em
crianças, tende a ser episódica (depressão em adultos e em crianças assume formas
diferenciadas), mas continua a ser depressão.
Na adolescência, a temática é diferente. Gira em torno a relações afetivas desfeitas, problemas
sociais, bullying. Tende a gerar distúrbios alimentares e de sono. Em crianças, há o medo de
perder os pais, objetos, animais. A depressão tem como sintoma central a perda. O grande tema
da depressão é perda, mesmo na infância. Na ansiedade, o tema é vulnerável e perigoso. É
comum que as crianças tenham pesadelo e quadros de ansiedade.
Sintomas: humor deprimido na maior parte do dia, mas é episódico. Diminuição de interesse
nas atividades. Pode haver perda ou ganho de peso, e temos que considerar o peso esperado
para uma criança naquela faixa etária. Pode ter insônia ou hipersonia.
Do ponto de vista motor: agitação ou retardo psicomotor (ou muito agitado, e geralmente há
quadro de ansiedade comórbido). Aparece culpa e senso de inutilidade relatados.
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TCC Expressa
“Ela não quer fazer nada, a não ser ficar sentada no quarto dela assistindo a vídeos no telefone.”
“Ele está de mau humor o tempo todo. Um perfeito rabugento. É como se achasse que o mundo
inteiro está contra ele.”
“Qualquer mínima coisa o abala.”
“Ela é muito mal-humorada. Qualquer coisa pode ativá-la e ela chora por quase nada.”

A tristeza é um sentimento normal que todos nós experimentamos. Quando a frequência e


intensidade da tristeza aumentam a ponto de interferir no funcionamento cotidiano típico de
crianças e adolescentes, são necessárias intervenções. Os pais ou jovens algumas vezes
identificam os sintomas depressivos, ou um profissional pode detectar os sintomas durante o
curso de uma consulta normal. Como alternativa, medidas de rastreio estão se tornando mais
comuns em práticas de atenção primária pediátrica, incluindo o relato dos pais ou medidas de
autorrelato dos jovens de um distúrbio do humor. Neste capítulo, descrevemos intervenções de
TCC expressa para sintomas depressivos que podem ser rapidamente implementadas em
ambientes escolares, de cuidados primários ou no contexto de outros tratamentos depois que os
sintomas depressivos foram identificados.

Dicas de ouro: crianças pequenas não possuem filtros. É a naturalidade, a ausência de sensor.
A sessão em grupo tende a ser bagunça. A ativação comportamental foi pedir algo para mãe.
Como você vai dosar? Você pedir que a criança faça o desenho, faça a atividade.

Você deve resumir sua experiência com a prática da semana indicando os seguintes aspectos:

1- Nome da técnica: Escolha um cartão...qualquer cartão.


Busca-se, por meio dessa técnica, usar um dos lados do cartão para que nele se escreva alguma
atividade ou atividades que possam ser realizadas durante a sessão expressa. Pede-se à criança
para que ela crie cartões adicionais com atividades fáceis de ser executadas em casa ou na
comunidade. Desenhos e pinturas podem ser realizados no cartão. Nosso grupo escolheu a
seguinte brincadeira: “Mestre mandou”. Dado que a criança de nossa simulação possuía 9
(nove) anos de idade e não possuía ainda por característica o amadurecimento, não houve o
risco de ela achar a brincadeira boba. Dado também que a mãe conjugava alta demonstração de
afeto e muito baixa exigência, cremos, o grupo, que bons resultados poderiam ser extraídos
dessa técnica.
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2- Objetivo da técnica: O objetivo central dessa técnica é a ativação comportamental na criança


com depressão. Em nosso exemplo, a criança foi estimulada a falar de sua família, de seus
afetos e foi motivada a expressar seu afeto por sua mãe. Buscamos, com isso, “aumentar a
compreensão da criança sobre a conexão entre ações e sentimentos e melhorar o humor por
meio do engajamento em atividades divertidas”.

3- Idade indicativa: a partir de 6 anos a criança apresenta um nível satisfatório de maturidade


para realizar essa atividade.

4- Facilidade e dificuldade para executá-la na sala de aula: A brincadeira não exige muitos
recursos materiais. Bastou a presença dos discentes/atores, um papel e uma caneta.

5- Reflexão crítica da técnica (você faria adaptações, quais?) Justifique. A técnica já passou por
protocolos em conformidade com as exigências expressas pelas abordagens psicoterapêuticas
baseadas em evidências. Nossa simulação falhou em considerar as variáveis que caracterizam
uma terapia familiar, como, por exemplo, desordens, desconfortos e, dentre tantas outras
situações, as interrupções. No entanto, acredito que nosso grupo conseguiu mostrar um caminho
eficaz para ativação comportamental em nível de afeto, expresso pelo pedido (como se presume,
sincero) da criança de receber um abraço da mãe.
63

11 de Abril de 2023 – Aula 7


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes
É preciso considerar que diferentes idades sustentam diferentes concepções de perigo.
Temos respostas comportamentais em reação ao perigo. No universo dos bebês, ansiedade se
expressa como irritabilidade (principal sintoma).
Ter pais muito ansiosos ou com outros transtornos mentais explica ou facilita o
desenvolvimento de transtornos mentais
Sensibilidade à ansiedade: percebe mínimas variações na sua fisiologia, na sua corporeidade.
Todos nós passamos por obstáculos naturais da idade. Mas entrar em um quadro
psicopatológico é mais prevalente em quem é mais sensível a mínimas variações fisiológicas.
Que tipos de condicionamento clássico ou operante uma criança passou?
Diátese (predisposição de um indivíduo para determinadas doenças ou afecções.) – estresse
Ansiedade: perceber que a situação é perigosa + perceber que não disponho dos recursos para
enfrentar a situação
Comportamento vicariante: Bandura: muito do nosso comportamento é por imitação. Imito a
resposta do cuidador (condicionamento vicariante). Os pais, ou porque superprotegem ou
porque reagem com muita ansiedade, são os responsáveis pelo repertório de construção de um
comportamento de ansiedade (a compreensão de que tudo é perigoso e de que não disponho de
ferramentas para cuidar desses perigos).
As pessoas, quando estão saudáveis, agem em conformidade com o viés de positividade: as
coisas são controláveis. O mundo não é um lugar ameaçador. É um viés de controlabilidade das
situações, e isso se constrói desde que você é bebê.
O deprimido colapsa esse viés de positividade: acreditar que o que está certo na sua vida tem a
ver com o que você fez. O que acontece de ruim tem a ver com os outros.
Existem vieses que são saudáveis e outros que não são saudáveis. O trabalho da terapia é fazer
reestruturar vieses positivos colapsados.
Só conseguimos pensar no futuro com base na experiência afetiva do presente. O problema está
na expectativa presente.
Existem distorções adaptadas e desadaptadas. Viés é sempre um atalho.
Esquema é um esquema: não cabe necessariamente falar em esquemas adaptados ou
desadaptados.
Bullying, relações parentais,
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Nascimento aos 6 meses: natural esperar resposta de ansiedade quando há perda de contato
físico com a mãe e barulhos intensos
Sertralina: remédio de escolha para crianças e adolescentes
TOC: fusão do pensamento + ação
A mudança é biológica. Os neurotransmissores são modulados pela fala.
Terapia de pessoa ansiosa (em qualquer idade): ensinar que pode dimensionar de forma mais
acurada o perigo (pode estar distorcendo). A catastrofização (E se...) é a principal delas.
Pensamentos que antecedem ou acompanham as crises. É preciso criar um plano para enfrentar,
o que em geral tem a ver com exposição. Existem situações em que a resposta é fuga e esquiva.
Estratégia em terapia: modelar, exposição in vivo (quando é possível),

Apresentaremos em linhas gerais as principais características dos seguintes transtornos de


ansiedade: medos e fobias; transtorno de ansiedade de separação; transtorno de ansiedade
generalizada e transtorno do pânico na infância.
Para que um medo infantil seja considerado fóbico, é preciso: a) que ele seja desproporcional
às demandas da situação; b) que a elevada ansiedade a ele associada o transforme em um
comportamento desadaptativo; e c) que seja provocado por estímulos objetivamente inócuos
(baratas, seres imaginários) ou por estímulos sob controle (por exemplo, cachorro na coleira).
Um outro critério é o de que o medo deve ser persistente. O atual DSM-5 reduziu este período
de tempo para quatro semanas. Pesquisas espanholas têm mostrado que os principais medos
infantojuvenis são: medo do fracasso escolar; medo do mal-estar físico; medo social e ansiedade
antecipatória (Caballo & Simon 2004).

Introdução (medos e preocupações)


“Ela odeia experimentar coisas novas.”
“Tudo o preocupa – se está chovendo, ele se preocupa com tornados; se está fazendo sol, ele se
preocupa com câncer de pele.”
“Se a programação dele é alterada, ele simplesmente tem uma crise.”
“Ela fica muito nervosa com injeções e só chora e diz que não consegue.”
Seja o medo de uma injeção iminente durante uma consulta pediátrica ou a ansiedade em
relação à escola, os medos e preocupações são frequentemente identificados como uma
inquietação pelas famílias quando elas buscam ajuda em centros de atenção primária, clínicas
de saúde mental, consultórios de terapeutas ou salas de supervisores e orientadores escolares.
65

Os sintomas podem variar desde um incômodo até o pânico debilitante.

A ansiedade é uma das razões mais frequentes por que as crianças são encaminhadas para
serviços de saúde mental, e também pode aparecer como um problema em outros centros de
atenção à saúde.

Os sintomas de ansiedade podem se beneficiar de intervenções breves in vivo que requerem


pouca introdução para as famílias e, assim, são ideias para intervenções baseadas em evidências
rápidas e efetivas em escolas, centros de atenção primária ou centros para tratamento de saúde
mental no contexto de outros cuidados, e também quando uma hora inteira de terapia
“tradicional” não pode ser dedicada a uma intervenção.

Tratamento baseado em evidências


A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a abordagem de tratamento baseado em
evidências para uma variedade de transtornos e sintomas de ansiedade.

As intervenções comportamentais oferecem aos jovens novas habilidades de enfrentamento e


formas de tolerar o estresse, ao passo que as intervenções cognitivas ajudam as crianças a
aprenderem a localizar erros de pensamento e gerar mais pensamentos funcionais (Seligman &
Ollendick, 2011; Weersing, Rozenman, Maher-Bridge, & Campo, 2012).

As exposições são o componente vital no tratamento de transtornos de ansiedade na infância,


uma vez que consolidam a aprendizagem e oferecem aos jovens a oportunidade de manejar seus
medos (Tiwari, Kendall, Hoff, Harrison, & Fizur, 2013).

Considerações como idade, gênero, raça, etnia e severidade da apresentação dos sintomas não
moderam os resultados (Kendall & Peterman, 2015; Walkup et al., 2008).

O uso da TCC para tratar sintomas de ansiedade promove reduções na severidade dos sintomas,
melhoras no funcionamento global, aprimoramento no funcionamento social e reduções nos
distúrbios do sono (Higa-McMillan, Francis, Rith-Najarian, & Chorpita, 2016; Pereira et al.,
2016; Peterman et al., 2016; Walkup et al., 2008).
66

Uma revisão abrangente recente de estudos da ansiedade notou que as crianças que participaram
em condições de TCC tinham três a sete vezes mais chances de apresentar melhoras
significativas nos sintomas de ansiedade (Bennett et al., 2016).

Os transtornos e sintomas de ansiedade são altamente tratáveis, mas os sintomas de muitas


crianças passam despercebidos e, portanto, não são tratados.

Para mostrar rapidamente os benefícios da TCC, os terapeutas devem avaliar de modo eficiente
o nível de ansiedade, a compreensão que a criança tem dos seus sintomas e sua disposição e
habilidade para inicialmente se engajar nas intervenções.

No entanto, a falta de habilidade da criança para se engajar nas intervenções durante a interação
não significa que a oportunidade está perdida. Ela pode aprender observando você demonstrar
as técnicas, e os pais podem desenvolver habilidades e adquirir conhecimento sobre
intervenções que poderão aplicar posteriormente em casa.

Tenha em mente que os sintomas de ansiedade podem se manifestar de várias maneiras,


incluindo afeto ansioso ou preocupado, verbalização de medos, dificuldade com transições,
sintomas somáticos, distúrbios do sono, birras/problemas comportamentais e comportamentos
compulsivos.

Além do mais, devido à sobreposição dos sintomas de ansiedade entre os diagnósticos de


ansiedade, cada intervenção pode ser modificada e aplicada aos problemas ou diagnósticos
presentes mais relacionados à ansiedade.

Se não houver a desfusão, não poderá haver a interlocução socrática. A desfusão é a condição
para a reestruturação começar. Um pensamento é sé um pensamento.
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18 de Abril de 2023 – Aula 8


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

Estudo de caso – ansiedade


Baralho de estilos parentais
Desenvolvimento na infância

Estudo de caso
L.C., 9 anos, sexo masculino, foi trazido para atendimento por sua mãe, a qual relatou
dificuldade do filho em ficar na sala de aula e apresentação de sintomas de ansiedade, com
queixas físicas como náuseas e dores de cabeça, causando-lhe prejuízo significativo no
funcionamento social e acadêmico.
L.C. relata que tem medo de dormir sozinho no quarto, medo de escuro, medo de ladrão e medo
que aconteça alguma coisa de ruim com sua mãe e que ele nunca mais possa vê-la. Diz que,
quando chega a hora de ir para a escola, sente-se mal; tem dor de barriga, dor de cabeça e
vontade de vomitar e que não está conseguindo ficar na escola. Não gosta mais de brincar na
rua com seus amigos (só se a mãe estiver por perto vendo ele brincar). Relata que a sua “cabeça”
fica pensando:
“e se um bandido entrar na minha casa e me sequestrar?”;
“e se eu ficar no meu quarto sozinho e um ladrão entrar e ninguém ver?”;
“e se acontecer alguma coisa com a minha mãe e eu nunca mais vê-la?”;
“e se um bandido me sequestrar e eu nunca mais poder ver minha mãe?”.
Ele diz que sua “cabeça” não para de pensar essas coisas e que quando a mãe está por perto
parece que ela ajuda a mandar esses pensamentos embora. Relata que gostaria muito que a mãe
pudesse ficar com ele na escola; já pensou até em pedir isso para a diretora.
O menino contou que está muito preocupado por não conseguir mais estudar por causa desse
monte de coisas que fica passando na sua cabeça e demonstrou preocupações excessivas e medo
de que algum mal acontecesse com sua mãe, além do medo de se perder e de que alguém o
sequestrasse.
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Além dos problemas envolvendo a criança, podemos falar também da parentalidade. Em certas
formas de parentalidade, é preciso identificar/avaliar e regular as emoções, e isso é muito mais
difícil. Observamos que, essa mãe, em um primeiro momento, parece adequada, já que ele se
sente melhor na frente da minha mãe. Mas, não quer dizer que essa mãe seja adequada em
parentalidade, pois a segurança causada pela presença da mãe pode ser simplesmente por ver
que ela está bem, e não por ela trazer segurança.

Bebês são capazes de perceber estados emocionais diferentes nas mães. Os pais participam do
desenvolvimento emocional de uma criança a partir de 2 formas: a primeira, conta para a
criança, através de suas reações, como é uma emoção, qual o nome dela, se é possível regular
ou não. Suas vivências emocionais regulam a criança. Pais ansiosos ensinam uma forma de
reagir ansiogenicamente ao ambiente. É preciso ver se os pais conseguem ou não regular suas
próprias emoções. Segundo, os pais irem conversando, mostrando, dando segurança para a
criança de suas experiências emocionais. Como você constrói o seu léxico, seu dicionário
interno. Terceiro, os pais falando sobre/reagindo sobre experiências emocionais de outras
pessoas. O seu conhecimento sobre emoções provavelmente está ainda bastante restrito a essa
aprendizagem inicial. Muitos de nós têm uma capacidade muito restrita de avaliar emoções,
identificar emoções e dos recursos para lidar com ela.
Background: atmosfera emocional da casa, e esse é o pano de fundo

Estilos de parentalidade: subdivididos em 4 categorias.

Autoritativo-participativo (tem limite e tem afeto). Regras e limites são bem estabelecidos, e
cumpridos de forma adequada, mas o afeto e a participação estão presentes: no baralho, pais
ficam felizes com suas conquistas? Pais estão juntos na doença? Pais estão juntos em vários
momentos? Na terapia do esquema, são necessidades emocionais básicas. Limite com afeto é
uma das necessidades básicas do ser humano. Saber o que pode e o que não pode, mas de uma
maneira cuidadosa, afetuosa e explicativa.

Indulgente-permissivo: tem muito afeto, mas não tem limite. É um estilo marcado por uma
posição permissiva e muito afetuosa. No primeiro estilo, a criança aprende a ser capaz de
identificar regras e se adequar ou transformar com consciência. A criança faz o que quer e o pai
arruma por ela, cata por ela etc.
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Estilo autoritário: muito limite e pouco afeto. Esse estilo envolve a imposição de muitas regras,
com praticamente nenhuma flexibilização, bem como o desejo de que as crianças sejam
controladas e obedientes. A opinião e os desejos das crianças são pouco observados e
valorizados.

Estilo negligente: pouco afeto e pouco limite. Nesse estilo, os cuidadores permitem quase tudo
e não participam ou não se preocupam com a educação das crianças.

Estilos podem revezar, com diferenças de predomínios entre uns e outros. O nosso caso L.C
pode ter uma das mães aqui. Por que o L.C é tão ansioso? Será que não tem com quem contar?
Será que não tem alguém que o ajude a regular a ansiedade? Aqui temos as duas possibilidades:
transtornos externalizantes e os internalizantes (depressão e ansiedade). Pais negligentes pouco
ensinam como regular emoções. Talvez ela não seja autoritária. Se ela fosse, é provável que a
criança não quisesse ficar muito com ela.

A prática da educação envolve: limite e afeto. Tem limite e tem afeto? Tem limite e não tem
afeto? Tem afeto e não tem limite? Não tem afeto nem limite?

Se estou superdimensionando a situação e subvalorizando a minha capacidade ou os dois ao


mesmo tempo
Emoção: identificada, avaliada e regulada

Raízes: crenças centrais. Não ficam visíveis. Como eu me vejo etc.


Tronco: regras. Crenças intermediárias
Folhas: pensamentos automáticos.
70

25 de Abril de 2023 – Aula 9


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes
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Desregulação emocional: tem a ver com nossas primeiras experiências com a emoção. O
principal agente cuidador
Medo, tristeza, alegria, amor, nojo e surpresa. Mas há uma discussão se a surpresa é ou não
uma emoção básica. A consciência nasce do contraste? Em caso afirmativo, parece ser um
argumento para a defesa da surpresa como emoção básica. As teorias que colocam a surpresa
como emoção básica funcionam bem.
Sem o contraste, você não percebe algo de diferente para o qual você quer se mover. O mito da
caverna (na sombra não tem contraste). Mito é diferente de conto de fada. No conto de fada, há
adereço. Mas todo o conto nasce de um mito. Como falar numa superfície tão pequena de forma
tão profunda a ponto de tocar em elementos tão importantes. A criança constrói, a partir do
contraste de experiências, seu universo emocional. Como a criança perceber que está amarrada?
No mito da caverna, você não percebe as amarras. Você não tem como querer se libertar delas?
Essa é uma escravidão inconsciente.
As emoções podem ser as nossas amarras. As amarras no fundo da caverna são as emoções? Se
pudermos percebe-las, conseguiremos romper os grilhões e subir no morro escarpado.
Quem é essa pessoa que pode fazer o processo de identificação da emoção, como regulá-las?
Os pais (cuidadores). Mas, e se os cuidadores possuírem poucos recursos.
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Inconsciente: memória implícita.


Não se impede emoções.
Como eu aprendo a identificar nos outros e em mim as emoções e entender que são similares?
Os cuidadores entram aqui como elementos importantes. São eles os atores para os quais as
crianças olham e aprendem que a emoção está lá. São os cuidadores que ensinam a criança a
identificar, nomear e avaliar as emoções.

O transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) é um transtorno sindrômico


caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Tais sintomas causam dificuldades para a própria pessoa e para os outros em pelo menos dois
contextos diferentes (geralmente, no caso das crianças, em casa e na escola).
Na CID, o TDAH é classificado como um transtorno hipercinético.
Com relação à inteligência, o TDAH pode ser diagnosticado em indivíduos com diferentes
níveis intelectuais.
Em crianças com TDAH e inteligência superior à média, têm sido verificados prejuízos
significativos relacionados à repetência escolar, às dificuldades sociais e ao maior número de
co-morbidades (Antshel et al., 2007).
Tdah: déficit computacional, de processamento de informação recente
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Foco ou inibição?
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02 de Maio de 2023 – Aula 10


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

TDAH e TOD são transtornos relacionados. Em 2010, chegam as primeiras teorias sobre um
continuum, que passa pelo TDAH, TOD, Transtorno de conduta e Transtorno de antissocial.
Alguns ficam apenas no TDAH. Outros chegam à primeira comorbidade (TOD). Outros
chegam à terceira (TC) e/ou quarta comorbidade (transtorno antissocial).

No DSM-V e CID-10, os especificadores de TOD vêm para separar os elementos que indicam
uma possível evolução para as terceiras e/ou quartas comorbidades.

Daí a evolução de pais. É importante o treinamento de pais. O elemento central do tratamento


no caso de crianças com TOD é os pais.

Crianças/adolescentes com transtorno de TOD e adultos com transtorno de conduta antissocial


possuem um histórico no TDAH. Se a sua atenção não permite enfatizar o outro, temos
dificuldades na construção do comportamento empático.

É especialmente difícil estabelecer o diagnóstico em crianças com menos de quatro ou cinco


anos pelo fato de seu comportamento característico ser muito mais variável do que o de crianças
mais velhas e incluir, possivelmente, comportamentos similares aos sintomas do transtorno.
Crianças têm muita energia e costumam explorar muito o ambiente durante o desenvolvimento
sensoriomotor. Por isso ser difícil identificar o TDAH na primeira infância. Criança com
comportamento agitado e sono agitada costuma nos fazer pensar que pode ter algo relacionado
com o neurodesenvolvimento. É aquela criança que, ao acompanhar, você vê um bebê com
atividade psicomotora muito intensificada, mas que o esperado para sua idade e atrapalhando
os outros desenvolvimentos. Essa observação não serve para fechar diagnóstico, mas é um
aspecto a se considerar. Diferentemente de crianças mais velhas, casos em que se torna mais
fácil observar a ausência de atenção.
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✓Além disso, em geral é difícil observar sintomas de desatenção em bebês e crianças pré-
escolares, porque as crianças jovens tipicamente sofrem poucas exigências de atenção
prolongada. Até para calçar um sapato é requerido uma atenção mais prolongada. Resolução de
problemas, por mais simples que sejam, ficam prejudicadas nesse caso.

✓Mesmo a atenção de criança pequenas, entretanto, pode ser mantida em uma variedade de
situações (por exemplo, a criança padrão de dois ou três anos de idade em geral consegue ficar
sentada com um adulto olhando livros de figuras).

Em psicologia comparada, vemos que, nas espécies em que há formação de grupos, quando um
animal faz algo que prejudica o grupo, o grupo reage não na proporção da ofensa, mas reage à
ofensa de forma desproporcional.

Teoria do perdão e revanche: quando alguém, em qualquer idade, vai se engajar em um


comportamento de revanche, ele sempre tentará fazer de forma desproporcional. Por isso as leis
na nossa espécie. Lei do olho por olho: você só pode revanchear na medida da injúria. A
desproporção desequilibra a balança dos grupos. Tarefas de revanche nos primatas (estudos em
primatologia): todos são mortos. Sobra só o bebê que surgiu durante o processo de
revancheamento. Os membros mais velhos se destroem uns aos outros

Índole vingativa no TOD: temperamento difícil associado a uma prática de educação que
reforça os comportamentos de revanche, e sempre de forma desproporcional. Quando estamos
sendo punidos por alguém ou por um grupo, tem-se a impressão subjetiva de estar sofrendo
uma punição muito maior do que o comportamento gerador da revanche.

TDAH: situações de frustração. Quando uma pessoa emite esse comportamento, qual a
consequência que vai receber do ambiente?
Punição positiva: bater. Infringir uma dor. Sinal de +. Acrescento algo ao ambiente. Inadequado
nos caso de TOD
Punição negativa: retirar privilégios. Adequado nos casos de TOD
No caso do TOD, é recomendada a punição negativa: perder TV, celular, videogame (punição
negativa)
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Resolução de problemas: o sonho é o momento em que tentamos organizar melhor os esquemas


que temos acerca de nós mesmos, visão de si, visão do futuro. A experiência de sonhar para o
cognitivista é uma imersão esquemática tentando resolver problemas, reorganizar a experiência
esquemática a ser apresentada no caso do sonho.

O problema do TDAH é atencional. Não consigo prolongar o processo para resolver problemas.
Tenho um terreno fértil para frustração. Se eu tenho temperamento difícil, e cuidadores com
prática de educação inadequadas (autoritário), vou aprender que resolver problemas é
estabelecer relações coercitivas com as pessoas. E aí começo a evoluir de um TDAH para um
TOD. Se eu perco a noção do outro (falta de atenção para com o outro), e deixo de me engajar
em relações empáticas, posso me conduzir para um transtorno de conduta, estabelecendo
relações coercitivas e agressivas com outro.

Personalidade: conjunto de características que você usa para se adaptar às exigências do meio,
para se proteger de pessoas e situações que você considera perigosas. Estratégias agressivas que
coisificam pessoas (colegas, animais), começo a ter comportamentos coerentes, como
machucar, violar, e aí começo a desenvolver uma personalidade antissocial.

Transtorno de personalidade social: coisifica pessoas, relações, as manipula para se proteger


daquilo que se entender como lesivo ao psiquismo. É evolutivo e, portanto, tem que ter uma
função adaptativa que se quebrou.

A atenção se desenvolve. Quem vai trabalhar com crianças, precisa conhecer o


desenvolvimento da atenção. Crianças de 2 a 3 minutos consegue ficar até 5 minutos no máximo
se o livro for muito interessante. As figuras e a interação (qualidade da) segura esse tempo de
atenção prolongada.

Crianças evoluindo do TDAH para o TOD não gostam de desenvolver ideias pois ainda está
formulando vínculos.
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A maioria dos pais observa pela primeira vez o excesso de atividade motora quando as crianças
ainda estão engatinhando, frequentemente coincidindo com o desenvolvimento da locomoção
independente.

Entretanto, uma vez que muitos bebês hiperativos não desenvolvem o transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade, deve-se ter cautela ao fazer esse diagnóstico em uma idade muito
precoce.

Geralmente, o transtorno é diagnosticado pela primeira vez durante as primeiras séries, quando
o ajustamento à escola está comprometido.

Na maioria dos casos observados nos contextos clínicos, o transtorno é relativamente estável
durante o início da adolescência.

Tratamento Farmacológico

O tratamento farmacológico de crianças em fase pré-escolar e escolar d. Assim, deve ser


conduzido necessariamente por profissional especializado em TDAH e em um contexto de
abordagem interdisciplinar. Uma avaliação multiprofissional ao longo do tratamento deve ser
preconizada para a avaliação da eficácia de cada uma das intervenções adotadas.

Psicoestimulante, como Metilfenidato (Ritalina), são a primeira escolha para o tratamento;


Antidepressivos, como Imipramina, Nortriptilina, Atomoxetina, Desipramina ou Bupropiona,
por exemplo;
Antipsicóticos, como Tioridazina ou Risperidona, por exemplo, são úteis somente em casos
específicos para controle do comportamento,
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TOD: comportamento de negação

Quanto mais rotina, mais forte o sentido de corporeidade, de self.

Tratamento Cognitivo Comportamental


1. esclarecimento sobre o TDAH,
2. dificuldades inerentes ao quadro clínico,
3. persistência no treinamento e na aceitação dos limites
4. estabelecimento de agenda para as atividades escolares,
5. treinamento de habilidades sociais,
6. estabelecimentos de tarefas acessíveis
7. recompensa pelas atividades iniciadas e terminadas,
8. ajuda e suporte para enfrentar situações,
9. orientação de foco para concluir tarefas cotidianas.
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O transtorno de oposição desafiante (TOD) é caracterizado por um padrão de comportamento


negativo, hostil e desafiador

O TOD parece ser influenciado por múltiplos fatores inter-relacionados que podem funcionar
como variáveis que atuam ora como causa e ora como efeito do transtorno

Sabe-se que o TOD é moldado e mantido pela natureza das interações recíprocas entre
crianças e adultos significativos. O TOD é construído e mantido pelas interações recíprocas
entre crianças e adultos significativos.

A frustração da criança é a causa da frustração dos pais e vice-versa

O padrão negativista dos pais se manifesta como fecharem aos diálogos.

Nessa condição, observa-se, em crianças e adolescentes, um humor de base irritável ou


raivoso, assim como comportamento frequentemente desafiante ou questionado e índole
vingativa. A prevalência na vida varia de a 1 a 11%, e a média estimada fica em torno de 3,5%

Assim, são crianças que, em seu humor raivoso ou irritável perdem com frequência a calma,
são muito sensíveis ou facilmente incomodados e se apresentam também frequentemente
raivosas ou ressentidas.
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*****
Motivação (m)
Inibição (i)

Como você se sente quando precisa aceitar uma ordem? Motivada


Se alguém está mostrando um desenho e falando sobre ele ao mesmo tempo, você acha que
consegue captar as duas informações? Não (i)
Como você se sente quando o tempo para cumprir uma tarefa é insuficiente? (i)
Qual é a sua sensação quando alguém fala comv ocê, mas você acha que sua cabeça está em
outro lugar? (i)
Como você se sente quando precisa fazer tarefa que exige qualquer esforço mental contínuo?
(m)

*****
Você deve resumir sua experiência com a prática da semana indicando os seguintes aspectos:

1- Nome da técnica

2- Objetivo da técnica

3- Idade indicativa

4- Facilidade e dificuldade para executá-la na sala de aula

5- Reflexão crítica da técnica ( você faria adaptações, quais?) Justifique


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Aula 11 – 09 de maio de 2023 (faltei)


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes
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Aula 12 – 16 de maio de 2023


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

T. treine suas emoções


R. recicle seus pensamentos
I. inove seus comportamentos

Os garotos não se saem muito bem com esses baralhos após os 13 anos.
Terapia de regulação emocional
Para crianças com transtorno de neurodesenvolvimento, temos protocolos mais interessantes,
como o método ABA
Primeiro, a gente treina as emoções com as crianças. A coisa mais fácil que podemos identificar
e reconhecer são nossas emoções. Isso, no entanto, não é simples. Pode uma criança chamar de
raiva uma emoção que vai muito além. Até para que a criança consiga entender que suas
experiências emocionais têm, associados a elas, pensamentos e comportamentos, começo, pela
criança com as emoções.
Emoções, cognição e comportamento são os tópicos abordados pelo baralho, e indexical o
baralho a uma abordagem cognitiva.
Expressões faciais: elementos universais das emoções
Paul Ekman: raiva como emoção básica. A partir da experiência, da modelagem, as emoções
vão adquirindo novas feições, como a fúria e o ódio.
Há situações que geram emoções, que geram pensamentos, que geram ações.

Reestruturação cognitiva: uso de conectores


(certas palavrinhas). Não tenho valor PORÉM
Posteriormente, o PORTANTO
LOGO, POSSO ACEITAR

Baralho do comportamento. Vocês sabem o que são comportamentos?


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O que é um comportamento? Discutir com os pais. Levantar da cama é um comportamento.


Brincar é um comportamento. Praticar esportes são comportamentos. Comportamentos são
dirigidos por nossas emoções e pensamentos. Quando se está com medo, como fica o
comportamento de sono? Pesadelo? Acordo de noite? Quero que a luz fique acesa? A
preocupação e o medo podem se estabelecer na criança em função do modo como a criança é
educada. Os pensamentos e as emoções vão moldar o comportamento de dormir. Muitos desses
comportamentos podem ser entendidos como comportamentos que não ajudam. Muitos de
nossos comportamentos ajudam: estudar, brincar.
Embora os comportamentos que não ajudam possam estar em nossa vida nós temos como
modificá-los e, mesmo que nesse momento de nosso trabalho eles possam ter diminuído ou
mesmo sumido, é importante garantirmos que eles não voltem a nos incomodar ou incomodar
as pessoas que vivem conosco. Podemos inclusive, transformá-los em comportamentos que
ajudam (Exemplificar com um comportamento que não ajuda da própria criança e um exemplo
de um comportamento que ajuda. Algo revelado na conceitualização ou na própria observação
clínica).
Resumo: o que você entendeu do que conversamos sobre comportamentos até agora? Você
consegue dar um exemplo de um comportamento que você já teve ou tem que não ajuda? E
agora um exemplo de um comportamento que você teve ou tem que pode ser considerado um
comportamento que ajuda.
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Pais (certificar-se de que eles estejam entendendo)


Dicas importantes sobre comportamentos
É importante que vocês possam entender que os comportamentos são resultado de nossas
emoções e pensamentos. Vamos chamar os comportamentos problemas de “Comportamento
que não ajudam”. Ensinamos para as crianças desta maneira. Embora tais comportamentos
possam ser disfuncionais, eles se mantêm porque são reforçados por eventos que acontecem no
dia a dia. Por exemplo, se toda vez que uma criança fizer birra ela ganhar algo, a birra se torna
eficiente para que a criança atinja seu objetivo. Desse modo, trabalharemos em conjunto para
modicar a estrutura de reforços destes comportamentos que não ajudam para transformá-los em
comportamentos que ajudam. Além disso, vamos trabalhar os comportamentos que ajudam que
já existem na vida do seu (sua) filho (a). Eles são importantes vigores a serem reforçados.

Resumo: o que você entendeu do que conversamos sobre comportamentos até agora? Você
consegue dar um exemplo de um comportamento que não ajuda que seu filho (a) já teve ou
tem? E agora você consegue dar um exemplo de um comportamento que ajuda que ele (a) teve
ou tem, um comportamento considerado um vigor a ser intensificado e valorizado?
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Anexo 2

O que reforça o comportamento de quem direciona comportamentos raivosos? Respostas de


medo, de ansiedade etc.
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Aula 13 – Terapia Metacognitiva


Profa. Dra. Renata Ferrarez Fernandes Lopes

TERAPIA METACOGNITIVA
HEITOR PONTES HIRATA
■ INTRODUÇÃO
A terapia metacognitiva (TMC) é uma abordagem relativamente recente que faz parte do rol
das consideradas terapias cognitivo-comportamentais (TCCs). Criada a partir dos anos 1990,
por Adrian Wells, essa abordagem parte do princípio de que a interpretação sobre processos
cognitivos está na base da gênese e na manutenção de transtornos psicológicos. Fenômenos
como a preocupação, a ruminação, as obsessões, o preenchimento de lacunas, entre outros, são
interpretados pelos indivíduos de modo a produzir mais sintomas de ansiedade e de depressão.

Wells e colaboradores produziram, até o momento, trabalhos voltados para alguns transtornos
específicos, como transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e transtorno depressivo maior
(TDM). Os dois primeiros serão abordados neste artigo.

Estudos datados desde o ano de 2004 vêm apontando resultados promissores para a TMC
aplicada aos referidos problemas. Porém, a abordagem carece de mais estudos controlados que
validem, de forma mais consistente, a sua efetividade. No entanto, o uso de estratégias de TMC
na clínica pode ser muito útil em uma série de casos nos quais os clientes têm dificuldades em
lidar com preocupações e com ruminações, sobretudo.

■ OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
■ reconhecer os princípios gerais da TMC;
■ identificar as diferenças essenciais entre a TMC e a terapia cognitiva tradicional;
■ revisar o modelo metacognitivo do TAG e do TOC;
■ identificar como algumas estratégias de TMC podem ser aplicadas em clientes com TAG e
com TOC.
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Metacognição: cognição sobre cognição

A TMC é uma abordagem cognitivo-comportamental criada por Adrian Wells no início dos
anos 1990. O modelo que embasa esse paradigma surgiu a partir de uma teoria da atenção e da
emoção, que afirma que, dependendo do nível de atenção do indivíduo a seus próprios processos
cognitivos, a perturbação emocional será mais ou menos intensa.
Flavell define a metacognição como a capacidade de pensar sobre os processos cognitivos.
Para que um indivíduo esteja consciente de que está aprendendo determinado conteúdo, é
fundamental que consiga monitorar seus processos cognitivos, “entendendo que está
entendendo”. Do mesmo modo, na TMC, é crucial que o paciente identifique seus processos
cognitivos e entenda o que pensa sobre eles. Que crença eu tenho sobre minha necessidade de
ruminar, de se preocupar? Se eu não me preocupar, tudo vai desandar. Se eu não me preocupar,
tudo vai se descontrolar, e só terei consequências ruins.
“Se eu não me preocupar, eu não sou uma boa mãe”, “se eu não me preocupar, não darei certo
na vida”. Há uma crença sobre o processo cognitivo. Uma coisa é a preocupação, e outra é a
crença de fracasso.
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A distância entre os fatos e a nossa imaginação pode ser imensa, um abismo. Ficamos com o
pensamento, e não com os fatos.
Quando estamos em situação de perigo real, exige-se atenção vigilante. A atenção e a
preocupação geram ‘pensamento sirene’ para que a gente possa se pré-ocupar e cuidar. Fomos
programados para ficarmos hiper vigilantes em situação de perigo. Mas, e se o perigo não é
real? Referimo-nos à nossa capacidade de lidar. Somos mais resolutivos com perigos reais.
O modelo da função executiva autorregulatória
O modelo da função executiva autorregulatória (S-REF) consiste em entender o funcionamento
cognitivo do ser humano em três níveis:
1. Automático. refere-se aos pensamentos que, muitas vezes, sequer são percebidos pelo
indivíduo, semelhantes aos pensamentos automáticos antes do treinamento de consciência sobre
as cognições. É sempre avaliativo, o que carreia a emoção, o que captura a emoção em tempo
real. Acompanha-nos o dia todo. Aqui está repleto de condicionamentos clássicos, pavlovianos;
2. Processamento online. refere-se às cognições que recebem algum foco, ou seja, são alvos
dos recursos atencionais; são os pensamentos em que se consegue prestar a atenção;
3. Metacrenças. diz respeito às crenças que os indivíduos possuem sobre seus próprios
processos cognitivos, como, por exemplo, a preocupação e a ruminação. É o que nos permite
observar as disfunções cognitivas. A terapia tem que partir dos pensamentos automáticos e
dirigirem-se às Metacrenças.
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O Modelo da função executiva autorregulatória

A Figura 1 demonstra, de maneira resumida, como opera o modelo S-REF.


O nível 1, automático, atua como um processo cognitivo de um motorista experiente. Ele sequer
precisa pensar sobre o que irá fazer ao conduzir o veículo.
O nível 2, caracterizado pelo foco atencional aos processos cognitivos, pode ser exemplificado
pelo motorista inexperiente, que precisa monitorar sua atividade cognitiva que envolve todo o
passo a passo sobre como dirigir.
O nível 3 envolve todo o conhecimento armazenado sobre o quão adaptativo pode ser o “ato de
se preocupar e ruminar”. No exemplo aqui utilizado, o motorista pode ter aprendido (por meio
de sua cultura e/ou criação) que é de algum valor se preocupar e/ou ruminar com novos
procedimentos com os quais ainda não está acostumado.
O descrito no modelo S-REF tem relação com a teoria de Kahneman, que aponta que a mente
humana funciona de duas formas: uma intuitiva e involuntária e outra que exige concentração
e autocontrole, ou seja, uma forma rápida e outra devagar. A primeira requer pouco ou nenhum
esforço, já a segunda, exige concentração.
Quando o indivíduo entra no modo devagar, tende a passar mais tempo pensando sobre um
problema para a posterior tomada de decisão, ao passo que, quando compreende algo de forma
automática, isso demanda pouco esforço. Na teoria que embasa a TMC, algo semelhante pode
ser entendido.
Diante de pensamentos relacionados às preocupações, muitos indivíduos não respondem a esses
pensamentos. Um exemplo disso é quando o paciente que acabou de iniciar a terapia cognitiva
sequer consegue identificar um pensamento automático. Sua reação perante as situações é
rápida, sem análise de qualquer conteúdo cognitivo que tenha surgido. Por outro lado, muitos
pacientes, sobretudo aqueles com transtornos de ansiedade, tendem a analisar o conteúdo
mental frequentemente, entrando em um ciclo desadaptativo que, geralmente, contém a
expressão “e, se”.
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Tanto a preocupação quanto a ruminação podem ser adaptativas ou desadaptativas. Tudo irá
depender do contexto e do grau de atenção direcionado às preocupações improdutivas.
Leahy aponta que uma das maneiras eficazes de lidar com as preocupações consiste em
diferenciá-las entre preocupações produtivas e improdutivas.
Geralmente, as primeiras estão relacionadas à solução de um problema — elas “geram um
produto”. Por exemplo, uma criança que se preocupa em estudar para uma prova pode, a partir
desse processo, emitir o comportamento de estudar, o que irá ser produtivo para ela.
No entanto, pode-se supor que essa mesma criança, após a realização da prova, fique
preocupada sobre o resultado. Nesse caso, nada mais se pode fazer. Caso ocorra o foco em tal
processo cognitivo, trata-se de direcionamento de recursos atencionais a uma preocupação
improdutiva.

Minha atenção fica na ruminação. Nunca é dirigida para a resolução de problemas. Rumina-se
ao invés de promover ativação comportamental.
Os conceitos de modelo S-REF, SCA e até mesmo metacognição, embora sejam importantes
para o entendimento teórico da TMC, são, na maior parte das vezes, pouco compreensíveis para
o paciente de consultório.
A TMC, assim como a terapia cognitiva tradicional, requer psicoeducação para que o paciente
entenda o modelo metacognitivo e as estratégias dessa forma de terapia, caso ela seja escolhida
para ser aplicada a um caso específico.
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Preocupanda: é um urso panda que tem esse nome porque se preocupa


Marrumina: é uma ursa marrom que rumina.
Vivem na nossa cabeça e podem começar a nos falar pensamentos que nos ajudam ou
atrapalham. Ambos podem ser diabinhos ou anjinhos. Às vezes estão sonolentos e não querem
falar sobre seus pensamentos. Seu processo atencional, nesse momento, não está na síndrome.
Preocupanda: quando vivemos uma situação que preocupa, o preocupanda liga seus
pensamentos-sirene e começa a falar um monte de coisas na nossa cabecinha. Aí ficamos alertas
Você já teve algum desses pensamentos? Vou tirar zero, ninguém gosta de mim, Nada vai dar
certo, não vou conseguir, agora já era. ANOTE UM PENSAMENTO. ATIVIDADE DE
SALA
Marrumina: quando vivemos uma situação que nos chateia, começa a mastigar os
pensamentos-chiclete, e fica falando sempre a mesma coisa em nossa cabecinha?
Você já teve algum desses pensamentos? A professora me chamou de burra! Deveria ter feito
de outro modo! Fiz tudo errado! Estão falando mal de mim! Devo ter tirado zero! ANOTE
UMA RUMINAÇÃO. Lembre-se que a ruminação é tipo um chiclete. ATIVIDADE DE
SALA
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Como o Preocupanda pode nos ajudar? A Marrumina pode querer falar sobre uma coisa chata,
e isso pode nos ajudar a pensar sobre aquela situação na qual, por exemplo, eu gritei com a
mamãe porque ela pediu para eu arrumar o meu quarto. E pode ajudar a decidir fazer uma coisa
legal, isto é, uma ativação comportamental. A ruminação nos lembrar nos ajuda a fazer alguma
coisa.
Quando nosso Preocupanda e Marrumina estão nos ajudando, precisamos de alguém para nos
ajudar a lidar com eles, o psicólogo ou psicóloga. Eles(as) podem nos ajudar a viver melhor
com esses dois, já que conhecem muitos truques.
Escreva situações que fazem o Preocupanda ligar os pensamentos-sirene e as situações
que fazem a Marrumina mastigar os pensamentos-chiclete.
A professora nos desafia a ver que as situações são diferentes, mas a natureza da preocupação
é diferente.
Situação: alguém dizer que quer falar comigo (preocupação). Lembre-se qual foi a primeira
recordação que tenho de me sentir preocupado? Quando tirei nota baixa. Lembre-se qual
foi a primeira vez que ruminou? Quando alguém passou por mim e não cumprimentou. O
que eu deixei ali? Que peso carreguei a partir dali? Isso é formação de esquema. Está associado
à minha baixo autoestima, à convicção de que não tenho valor.
Temperamento: quanto se tem de forma disposicional, mas isso tem a ver com certas
experiências.
Preocupanda: sei, Preocupada, que às vezes você quer me ajudar, mas você às vezes é muito
barulhento.
Marrumina, hoje você está muito reclamona.
Que tal apresentarmos a Preocupanda e a Marrumina para o papai e mamãe?
Cartinha para Preocupanda aprendi que você está sempre na minha cabeça e que você é muito
exagerado
Marrumina, aprendi que você às vezes é muito reclamanona, e fica 'mastigando' muito os
pensamentos. Mesmo você sendo chata, de vez em quando podemos resolver problemas juntos
Atividade: como isso pode ser aplicado? A partir dos 5 anos, já conseguimos fazer tudo isso.
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Contar para a criança de uma maneira lúdica, colocando os pensamentos-sirena, e que uma
preocupação faz a criança ficar alerta, liga a sirene, e ficamos com todo o SCA voltado para o
sistema sirene, o que liga nossa ansiedade. O sistema é retratado pelo grau de atenção que a
criança utiliza para suas próprias preocupações. Pergunta para criança diante de um
termômetro: o quanto de preocupação você dispensa para suas preocupações?
Memória de reconhecimento: é a última que a gente perde

Pensamentos-chiclete recebem atenção e vêm por exemplo os SCA. Marrumina costuma ser
ativada quando estamos preocupados
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Caso Clínico

P.S., 5 anos, sexo feminino, foi trazida para atendimento pela mãe, a qual relatou episódios de
choro frequente, desespero, manifestação de raiva e anseio pela presença do ente querido
(padrinho) que havia falecido, causando-lhe prejuízo significativo no funcionamento social e
acadêmico.

A mãe conta que levou P.S. a seu pediatra, o qual receitou medicação para a hora de dormir,
pois todas as noites, desde que o “dindo” morreu, a criança apresentava crises de choro intenso
e dificuldade para dormir. O pediatra orientou a mãe que procurasse ajuda psicológica para P.S.

A mãe relata que o “dindo” era uma pessoa muito presente e participativa na vida de P.S., e que
a sua morte inesperada, aos 33 anos, havia abalado toda a família. P.S. recusava-se a participar
de brincadeiras com os amigos e de atividades festivas, e também apresentava choros frequentes
na escola, sempre chamando pela presença do “dindo”. A mãe também relata que P.S., em
alguns momentos, tinha crises de raiva, gritando, desafiando e agredindo verbalmente quem
estivesse por perto, e diz: “corta o meu coração ver a minha filha com tanta tristeza”.

Ela conta, ainda, que P.S. parece só ter um pensamento na sua cabecinha, que é querer que o
“dindo” volte para casa; só fala nisso o tempo todo. P.S. diz que quer o seu “dindo”, que não
quer que ele morra, que vai pedir ao “papai do céu” para mandá-lo de volta para casa. Contou,
ainda, que eles brincavam muito, que o “dindo” fazia cosquinha no seu pé, que tomavam banho
de cachoeira e de piscina e que a menina gostava muito de dormir na casa dele.

A criança diz que, às vezes, sente um “nervoso na barriga”. Relata que só quer ficar pensando
no “dindo”, pois fica com muita saudade dele (“quero ficar chamando ele”), e não está com
vontade de brincar com mais ninguém. Contou que acha que o padrinho pode ter morrido
porque um dia ela brigou com ele e que devia ter sido “mais boazinha com ele”. P.S.
demonstrava tristeza persistente, explosões de raiva, perda de apetite e de peso.
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Hirata, H. P., & Gabriel, S. A. (2017). Utilizando a terapia metacognitiva com crianças. In
Federação Brasileira de Terapias Cognitivas, C. B. Neufeld, E. M. O. Falcone & B. P. Rangé.
(Orgs.). PROCOGNITIVA Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental:
Ciclo 4. (pp. 9–38). Porto Alegre: Artmed Panamericana. (Sistema de Educação Continuada a
Distância, v. 3).

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