O Uso de Análises de Filmes No Ensino de Habilidades Sociais Na Perspectiva Da Terapia Comportamental

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O uso de análises de filmes no ensino de habilidades sociais na perspectiva da

terapia comportamental.

“A nova onda do imperador”: Aprendizagem de habilidades sociais e o


estabelecimento de relações de amizade - Yvanna Aires Gadelha-Sarmet,
Patrícia Serejo de Jesus e Penélope Ximenes

Sarmet, de Jesus e Ximenes (2014) discutem a aquisição de habilidades sociais


através da análise das contingências do filme “A nova onda do imperador”. Ao
analisarem as contingências apresentadas no filme, as autoras distinguem no
curso história do personagem principal Kuzco, retratado como orgulhoso, tirano
e socialmente inábil, uma progressão em direção a um uso mais assertivo de
suas habilidades sociais (segundo caballo citado por del prette e del prette) ao
longo de sua convivência com o personagem Pacha, retratado como um
personagem socialmente hábil e que serve tanto de modelo de comportamentos
socialmente hábeis como fonte reforçamento contingente as mudanças
comportamentais positivas de Kuzco.

Para as autoras, na psicoterapia analítico comportamental infantil, através de


estratégias lúdicas como o brincar, ler livros, assistir a filmes e jogar, a criança
tem maior capacidade para se expressar, emitindo comportamentos que podem
ser diretamente modelados pelo terapeuta e oferecendo um contexto onde a
criança pode ser levada a observar comportamentos de maneira a compreender
seus antecedentes e suas consequências.

Usados em um contexto psicoterapêutico, filmes podem intermediar a aquisição


de novos comportamentos por parte da criança. Através do filme e possível
apresentar crenças, regras e valores; padrões de comportamentos retratados no
filme que tenham semelhança com padrões de comportamento da criança ou
comuns em seu meio podem levar a criança a estabelecer relações entre as
duas instancias onde os comportamentos ocorrem, o que pode facilitar a
identificação por parte da criança de seus próprios comportamentos e das
contingencias que os governam.

Realizar a análise das contingências do filme com a criança pode permitir que
ela entenda o comportamento dos personagens retratados em sua relação com
o contexto em que eles ocorrem e suas consequências, a criança pode ser
reforçada a pensar comportamentos alternativos aos apresentados pelos
personagens no filme e a integrar respostas mais adequadas em seu próprio
repertorio.

Para as autoras “a utilização de histórias, sejam elas lidas ou assistidas, permite


um intercâmbio entre fantasia e realidade que contribui para a formação de
conceitos sobre as relações sociais e posterior mudança de comportamento”
(p.161)

as autoras citam caballo (1986, citado por Delpratte e Del Pratte, 2001) para
definir habilidade social:

Habilidade social é o conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo no contexto


interpessoal, que expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos desse
indivíduo de modo adequado à situação, respeitando esses comportamentos nos
demais, e que geralmente resolve uma situação ao mesmo tempo em que minimiza a
probabilidade de problemas futuros (p. 238).

Não há um limite definido a oportunidade da aprendizagem de habilidades


sociais, as autoras ressaltam, porém, que o período da infância é crítico na
aquisição de um repertorio socialmente hábil, na medida em que a ocorrência de
comportamentos socialmente desajustados na infância altera o curso do
desenvolvimento do repertorio comportamental do indivíduo, dificultando a
aquisição de respostas socialmente hábeis no futuro. O reforço aplicado pelos
pais contingente aos comportamentos da criança, a enunciação de regras e a
função de modelo de comportamento que os pais exercem tem grande influência
na formação do repertorio comportamental socialmente hábil da criança. “As
habilidades sociais também podem ser aprendidas por ensino direto ou
instrução”. (p.167)

Dentre as técnicas que podem ser utilizadas pelo terapeuta comportamental para
ensinar habilidades sociais elencadas pelas autoras, a modelação fornece bases
para que a criança aprenda novas habilidades sociais a partir da observação e
imitação de um modelo de comportamento, que apresente comportamentos
alternativos mais funcionais em contextos semelhantes a situações relevantes.
Através do filme “a nova onda do imperador” e possível observar diversas
qualidades de desempenho social. Segundo as autoras, os personagens Kuzco,
yzma e Kronk demonstram, em várias instancias, desempenho social inábil que
acarreta consequências punitivas ao longo do filme. O personagem Pacha que
se comunica de maneira empática, com assertividade e expressando seus
sentimentos e caracterizado pelas autoras como um personagem socialmente
hábil.

Através de modelação, enunciação de regras, e reforçando comportamentos


alternativos de kuzco, de maneira indireta e não planejada, Pacha possibilita que
as habilidades sociais de Kuzco se expandam e se tornem mais funcionais.

As autoras comentam que o uso de filmes na clínica comportamental infantil não


é uma pratica muito difundida, entretanto, acreditam que, por ser uma fonte de
estimulação semelhante ao que as crianças encontram em seu ambiente natural,
como televisões e computadores, o filme se beneficia da generalização do
reforçamento obtido através desses dispositivos, possivelmente aumentando a
engajamento ao processo terapêutico.

A escolha dos filmes a serem utilizados no contexto terapêutico deve levar em


consideração a sua relevância diante dos déficits comportamentais
apresentados pela criança, o terapeuta também deve atentar para o contexto em
que a criança e sua família se inserem ao optar pela utilização ou não de filmes,
considerando os valores apresentados no filme e sua compatibilidade com os
valores culturais da cultura em que a criança e sua família se inserem.
Análise comportamental de um caso de bulimia: A paz a qualquer preço? -
Michela Rodrigues Ribeiro e Maria Virgínia de Carvalho

Através da análise dos comportamentos no filme “Em Busca da Perfeição: A


História de Ellen Hart Peña”, Carvalho e Ribeiro (2014) discutem a bulimia
nervosa (citando Abreu, & Cangelli Filho, 2004; Cordás, 2004; Silva, 2005; APA
2003), demonstrando na história retratada da personagem Ellen Peña, atleta
profissional e estudante de direito, diversas contingências associadas a
instalação e a manutenção do padrão de comportamento bulimico.

As autoras caracterizam a Bulimia Nervosa de acordo com Abreu, & Cangelli


Filho, (2004); Cordás, (2004); Silva, (2005), como:

“episódios de compulsão alimentar seguidos por formas compensatórias para evitar o


aumento de peso, como o vômito induzido, o abuso de laxantes ou enemas e a prática
excessiva de atividade física.

As autoras apresentam outros padrões comportamentais associados a Bulimia


Nervosa que são encontrados na literatura (citando Abreu, & Cangelli Filho,
2004; Cordás, 2004), tais como, baixa autoestima, ansiedade, perfeccionismo,
pensar em termos de “tudo ou nada”, crenças infundadas sobre peso,
alimentação e nutrição, Que também foram observados pelas autoras na história
de Ellen Peña retratada no filme.

O ambiente familiar de Ellen e retratado como um espaço carente de


reformadores positivos. O reforçamento está atrelado a respostas de obediência
e resignação, associados a fuga ou a esquiva de estimulação aversiva. As regras
rígidas e o controle aversivo providos pelo pai limitam a emergência e aquisição
comportamentos novos, mesmo que socialmente hábeis. Sob essas
contingências, muitos dos comportamentos de Ellen não estavam sob controle
de reforçadores naturais intrínsecos ao comportamento ou internos, mas sob
controle generalizado da provação que recebia das pessoas a sua volta, isso a
fez muito suscetível a ao controle social.

Ellen não foi capaz de adquirir um repertorio de habilidades sociais


suficientemente forte e variado para lidar com situações futuras e os padrões de
resposta e regras não assertivas que Ellen adquire em seu meio familiar foram
generalizados para outros contextos.

Como exemplo as autoras destacam que Ellen segue as ordens dadas por seus
treinadores à revelia de seus próprios desejos e de seu conforto físico. Ellen
também demonstra pouca capacidade de pedir ajuda ou demonstrar sentimentos
mesmo em situações extremamente aversivas por estar sob o controle das
regras disfuncionais aprendidas no passado, que predicam ao comportamento
de pedir ajuda a possibilidade de punição.

As autoras ressaltam que o esporte praticado por Ellen (corrida de longa


distância) exige do participante uma atenção especial com o controle de seu
peso e ressaltam, também, que nesses esportes onde uma melhor performance
e associada a estritos padrões físicos ou estéticos tornam seus participantes
mais suscetíveis a transtornos alimentares.

E possível rastrear origem do distúrbio alimentar de Ellen as exigências de sua


carreira atlética. As autoras destacam um evento importante em que Ellen e
solicitada a perder peso pelo seu treinador após aumentar o tempo que levava
para correr, ela sugere uma perda com a qual se sente confortável que não é
aceita, em seguida ele sugere uma que ela perca uma quantidade maior de peso,
com o que Ellen concorda, para agradar o treinador. Depois desse incidente
Ellen tem sua primeira ocorrência de comportamento bulimico, ao comer um bolo
inteiro por sentir muita fome devido as restrições a alimentação impostas pelo
seu treinador, depois disso vai ao banheiro e vomita, sob a percepção de que
isso evitaria as prováveis consequências aversivas do seu comportamento de
comer (o aumento de seu peso, a perda de performance).

Por se tratar de uma doença com poucos sinais distintivos notáveis a bulimia de
Ellen passa desapercebida por anos de sua vida, sua mãe sendo a única a notar
o comportamento da filha, mas decidindo não fazer nada para evitar a punição
advinda da possível atitude do marido.

Ellen procura ajuda para seu transtorno alimentar em dois momentos. No


primeiro momento ela procura um grupo de apoio sem supervisão profissional
onde ela confessa sua vontade de revelar ao marido sobre sua bulimia. Ela e
desencorajada por uma das participantes sob a alegação de que seu marido iria
deixá-la se soubesse de seu problema, para evitar essa consequência Ellen
desiste de revelar ao marido sua condição e se retira do grupo.

No início de sua gravidez Ellen procura atendimento psicológico, mas desiste


quando recebe a notícia de que uma amiga sua, também bulimica, havia morrido.
Com isso Ellen para de emitir comportamentos bulimicos um tempo, mas retorna
a prática. As autoras ressaltam que apesar de a gravidez e a morte da amiga
serem eventos importantes na vida de Ellen eles não possuem a força de
estimulação necessária para suprimir completamente o comportamento bulimico
de Ellen, as autoras lembram que o comportamento de Ellen e multideterminado
e que as contingencias que os mantinham continuaram em operação apesar das
novas características que esses fatos adicionam a contingencia.

Quando Ellen, ainda gravida, e submetida a exames após ter um mal súbito na
igreja ela e finalmente diagnosticada com bulimia nervosa e é internada
compulsoriamente. Durante a internação Ellen e submetida a psicoterapia, Ellen
inicialmente não se engaja ao tratamento e resiste a abordagem confrontativa da
terapeuta, sem poder se esquivar da psicoterapia, Ellen começa a entrar em
contato com sentimentos e pensamentos que ela tentava suprimir e que estavam
associados a seu comportamento bulimico. A terapeuta conduz Ellen ao
enfrentamento e compreensão gradativa das contingências que instalaram e
mantiveram seus comportamentos disfuncionais e sua bulimia, permitindo que
Ellen encontrasse novas maneiras de lidar com seus problemas e construir
relações mais assertivas com sua família e seu marido.
Sarmet, de Jesus e Ximenes apresentam sua análise do filme “a nova onda do
imperador” como uma possível ferramenta terapêutica na clínica
comportamental infantil. A análise é voltada para identificar padrões de
comportamento que possam servir de modelos para a criança ou que explicitem
contingências relevantes a demanda clínica apresentada pela criança, no
capítulo em questão as autoras utilizam as cenas do filme para discutir a
aquisição de habilidades sociais através da relação que o personagem Cuzco
mantem com o personagem Pacha. Elas selecionam momentos relevantes a
serem discutidos no filme por seu valor como modelo comportamental de
comportamento social hábil ou como representação de uma contingência
presente na vida da com desempenho social comprometido.

Carvalho e Ribeiro (2014) utilizam a análise do filme “Em Busca da Perfeição: A


História de Ellen Hart Peña” para ilustrar, através da trajetória de Ellen Peña, as
múltiplas causas envolvidas no desenvolvimento do comportamento bulimico. As
autoras apontam diversas contingências demonstradas no filme como fatores
que influem no comportamento bulimico de Ellen (o controle aversivo exercido
pelo pai e pelos treinadores, a negligencia da mãe, as regras mal adaptativas
desenvolvidas e absorvidas por Ellen)

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