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Indicações da Psicofarmacoterapia

Quem é, exatamente, o paciente candidato a fazer uso de psicofármacos?


É preciso levar em consideração que tipo de problemas podem e devem ser objetos
da psicofarmacoterapia. Investigando a origem do transtorno, evolução do transtorno e
sintomatologia.

a - Quanto a Origem do Transtorno

De um modo geral, os medicamentos estão mais indicados, assim como outros tipos
de terapia biológica, na proporção em que predominam na etiologia do transtorno em
pauta, elementos mais constitucionais que ambientais.

Já que, na gênese dos transtornos emocionais, nunca se pode desatrelar totalmente o


genótipo do ambiente, ou seja, emancipar as disposições pessoais das circunstâncias
ocasionais, esses dois aspectos devem ser tratados conjuntamente.

A Esquizofrenia, por exemplo, se observa muito maior predomínio de elementos


constitucionais do que ambientais, ao contrário a Reação Aguda ao Estresse nota
predomínio expressivo de elementos ambientais.

Mas essa regra simples não garante, automaticamente e por si só, sucesso garantido
da psicofarmacologia nas situações onde simplesmente predomina a
constitucionalidade. Há transtornos onde os avanços da farmacologia ainda são
insuficientes para uma eficácia absoluta.

O Transtorno do Pânico, por exemplo, reconhecidamente ocasionado por uma


conjunção de fatores ambientais conflituosos (em maior proporção) com um marcante
traço ansioso de personalidade, resolve-se sintomaticamente e satisfatoriamente com
antidepressivos, notadamente com antidepressivos de capacidade ansiolítica mas,
muito possivelmente, só se resolverá definitivamente se acoplarmos ao tratamento
psicológico.

b - Quanto à Evolução do Transtorno

Ao considerar o curso e a evolução da alteração emocional em apreço estamos, em


suma, verificando se a pessoa ESTÁ doente ou se ela É doente, uma distinção
absolutamente imprescindível. Para se construir a história do curso e evolução do
estado emocional atual, é desejável desenharmos a biografia da personalidade e das
emoções do paciente.

SER emocionalmente problemático proporciona, através dos traços de personalidade,


condições para que a pessoa tenha tendência a desenvolver quadros crônicos e
recidivantes. Mas, em relação à psicofarmacoterapia, algumas questões devem ser
esclarecidas nesse aspecto:

1. Trata-se da primeira vez que o paciente apresenta esse quadro?

Se for a primeira vez, primeiro surto, episódio ou transtorno, há necessidade de


verificar se a faixa etária do paciente é compatível com o início das patologias
crônicas, como por exemplo a esquizofrenia e o transtorno bipolar ou, ao contrário,
se sua idade foge dessas faixas.Se for um primeiro episódio e ainda houver um
fator vivencial desencadeante proporcionalmente importante, muito provavelmente
não se trata de uma pessoa que É doente, mas de alguém que ESTÁ passando
por uma fase ruim. Portando, é maior a probabilidade de tratar-se, de fato, não
apenas de um primeiro episódio, mas de um episódio único.

2. Há fatores desencadeantes proporcionalmente importantes?

Quanto mais significativo for o fator vivencial que desencadeou o quadro,


possivelmente menos atrelada à constituição é a doença. Grosseiramente
exemplificando, a pessoa que apresenta depressão, transtorno de ajustamento,
episódio ansioso agudo, etc, mediata ou imediatamente depois de perder sua mãe,
terá muito melhor prognóstico do que aquele que manifesta o mesmo quadro sem
perder a mãe. Tentando elaborar uma regra didática simples, a grosso modo,
poderíamos dizer que a psicoterapia é eficaz na proporção da influência de
elementos vivenciais no curso da doença (quanto mais influentes forem as
vivências, maior eficácia da psicoterapia) e a farmacoterapia é tão mais eficaz
quanto menos importantes forem as vivências na origem do transtorno. Isso não
invalida, absolutamente, a associação de ambos procedimentos nos transtornos
emocionais em geral, auferindo-se benefícios da psicoterapia também nos casos
predominantemente constitucionais e da farmacoterapia naqueles
predominantemente vivenciais.

3. Como era a pessoa antes do episódio atual?

Um paciente que esteja apresentando um quadro depressivo atual e, juntamente,


refere em seus antecedentes pessoais uma sensibilidade afetiva bastante
aumentada será, sem dúvida, beneficiada com o uso de antidepressivos. Uma
outra pessoa que atravessa um Episódio Depressivo pós-rompimento conjugal,
mas não dispõe de nenhum antecedente emocional pessoal ou traço afetivo
hipersensível de personalidade, sem dúvida se beneficiará mais da psicoterapia.
Entretanto, em ambos os casos a associação da psico com a farmacoterapia
podem ser mais proveitosas que qualquer uma das duas isoladamente.

4. Há antecedentes familiares de transtornos emocionais?

Existem vários quadros psicopatológicos com inegáveis componentes hereditários


e familiares. A transmissão genética diz respeito à probabilidade e não à certeza.
Assim sendo, a pessoa pode ser portadora de uma probabilidade maior de
desenvolver um transtornomental, mas não há certeza de que terá esses quadros.

5. Que intercorrências vivenciais podem ser associadas ao desenvolvimento do


transtorno mental?

Avaliar a cronologia das vivências traumáticas, as circunstâncias em que


ocorreram e a proporcionalidade entre estas e o estado emocional é
importantíssimo para privilegiar as condutas psicoterápicas.

cc

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