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PSICOFARMACOLOGIA

PARA INICIANTES – PARTE


2
Felipe Viegas Tameirão
Agosto 2023
◦ A prática de psicofarmacologia clínica
exige habilitação e capacitação de
diagnosticador e psicoterapeuta, além
de conhecimento da farmacodinâmica,
farmacocinética, posologia (Indicação
da(s) dose(s) em que deve(m) ser
aplicado(s) medicamento), tempo de
uso, efeitos colaterais, interações
medicamentosas e contra-indicações da
droga selecionada, embasados na
história de vida do paciente, seu estado
geral e planejamento do tratamento.
Classificações dos medicamentos
▪ Os remédios podem ser nomeados segundo a sua função (ex. antidepressivo), a sua ação
(ex. inibidor seletivo da recaptação de serotonina) ou a sua estrutura química (ex.
benzodiazepínicos).

▪ Os psicofármacos, quando considerados seus efeitos terapêuticos, podem ser classificados


em antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores do humor, ansiolíticos e
anticonvulsivantes.
A utilização dos medicamentos vai além
de sua classificação.
◦ Porém, esses nomes relacionados à função, à ação dos medicamentos, podem
provocar certa confusão, pois nem sempre são assim tão específicos.

◦ Podemos, por exemplo, usar um antidepressivo para controlar sinais de ansiedade (é


o caso dos antidepressivos usados para tratar o transtorno de pânico) ou mesmo
para tirar a dor (é o caso dos antidepressivos para tratar fibromialgia).
Definições de termos da Psicofarmacologia
▪ A farmacocinética refere-se aos processos que envolvem o movimento da droga dentro do organismo,
compreendendo os fenômenos da absorção, distribuição, biotransformação e excreção.
▪ A farmacodinâmica, por sua vez, estuda os processos relacionados com o mecanismo de ação dos diversos
psicofármacos, principalmente no que se refere aos fenômenos que ocorrem no local de ação final da droga.
▪ Absorver significa o processo de entrada de uma substância no organismo. Existem algumas vias de acesso e é
importante notar que não existe uma via mais “forte”. A diferença está na velocidade de “absorção”, o tempo que a
substância vai demorar para estar correndo na circulação.
o Via oral: a substância engolida via para o estômago e depois para o intestino, onde entra para a circulação
sanguínea. Na via oral, toda medicação que passa pelo intestino é metabolizada (quebrada) no fígado, antes que
possa ir para a corrente sanguínea, e daí atingir o cérebro. Isto significa, por exemplo, que 25mg de um remédio
injetado no músculo atingem a mesma quantidade no sangue que 100mg desse mesmo remédio tomado por boca,
pois mais ou menos 75% serão metabolizados na primeira passagem pelo fígado.
o Via muscular: injeta-se a substância no músculo, de onde ela vai para a circulação.
o Via endovenosa: ou dentro das veias, vai direto para a circulação.
o Via retal: introduz-se a substância no ânus, local em que ela passa pela parede do reto, que é rica em vasos
sanguíneos, entrando na circulação sanguínea.
Definições de termos da Psicofarmacologia
◦ Período de latência: período necessário para que o fármaco apresente ação terapêutica, pode durar
dias ou semanas. Entre o encontro da droga com seu receptor e o efeito farmacológico muitas vezes
existe um período de latência. Isso ocorre devido às alterações de sensibilidade dos receptores.
Para que uma droga exerça seu efeito é necessário um equilíbrio nesse processo de múltiplas
colisões droga-neurotransmissor-receptor. Os antidepressivos tricíclicos levam de duas a três
semanas para apresentar ação terapêutica, embora os efeitos colaterais como boca seca e
constipação possam aparecer rapidamente após a introdução do medicamento.
◦ Meia vida da droga: meia-vida é o tempo que o organismo leva para eliminar a metade da
quantidade daquela droga. Existem remédios que têm a meia-vida longa, porque demoram a ser
eliminados; outros têm a meia-vida curta, porque são rapidamente eliminados. Ex. ansiolíticos tem
meia vida curta (o lexotan tem meia via mais longa do que os demais e por isso pode ser tomada
uma única vez ao dia) e os antidepressivos meia via longa (em torno de 36h ou mais – fluoxetina
meia vida de 07 dias).
Indicações de Psicofarmacoterapia

◦ Quem é, exatamente, o paciente candidato a fazer uso de psicofármacos?


◦ É preciso levar em consideração que tipo de problemas podem e devem ser objetos da
psicofarmacoterapia.
◦ Investigando a origem do transtorno, evolução do transtorno e sintomatologia.
Quanto a Origem do Transtorno

◦ De um modo geral, os medicamentos estão mais indicados, assim como outros tipos de terapia biológica, na
proporção em que predominam na etiologia do transtorno em pauta, elementos mais constitucionais que
ambientais.
◦ Já que, na gênese dos transtornos emocionais, nunca se pode desatrelar totalmente o genótipo do ambiente, ou
seja, emancipar as disposições pessoais das circunstâncias ocasionais, esses dois aspectos devem ser tratados
conjuntamente.
◦ A Esquizofrenia, por exemplo, se observa muito maior predomínio de elementos constitucionais do que
ambientais, ao contrário a Reação Aguda ao Estresse nota predomínio expressivo de elementos ambientais.
◦ Mas essa regra simples não garante, automaticamente e por si só, sucesso garantido da psicofarmacologia nas
situações onde simplesmente predomina a constitucionalidade. Há transtornos onde os avanços da farmacologia
ainda são insuficientes para uma eficácia absoluta.
◦ O Transtorno do Pânico, por exemplo, reconhecidamente ocasionado por uma conjunção de fatores ambientais
conflituosos (em maior proporção) com um marcante traço ansioso de personalidade, resolve-se
sintomaticamente e satisfatoriamente com antidepressivos, notadamente com antidepressivos de capacidade
ansiolítica mas, muito possivelmente, só se resolverá definitivamente se acoplarmos ao tratamento psicológico.
Quanto à Evolução do Transtorno
◦ Ao considerar o curso e a evolução da alteração emocional em apreço estamos, em suma,
verificando se a pessoa ESTÁ doente ou se ela É doente, uma distinção absolutamente
imprescindível. Para se construir a história do curso e evolução do estado emocional atual, é
desejável desenharmos a biografia da personalidade e das emoções do paciente.
◦ SER emocionalmente problemático proporciona, através dos traços de personalidade, condições
para que a pessoa tenha tendência a desenvolver quadros crônicos e recidivantes. Mas, em
relação à psicofarmacoterapia, algumas questões devem ser esclarecidas nesse aspecto:
1. Trata-se da primeira vez que o paciente apresenta esse quadro?
◦ Se for a primeira vez, primeiro surto, episódio ou transtorno, há necessidade de verificar se a
faixa etária do paciente é compatível com o início das patologias crônicas, como por exemplo a
esquizofrenia e o transtorno bipolar ou, ao contrário, se sua idade foge dessas faixas.Se for um
primeiro episódio e ainda houver um fator vivencial desencadeante proporcionalmente
importante, muito provavelmente não se trata de uma pessoa que É doente, mas de alguém que
ESTÁ passando por uma fase ruim. Portando, é maior a probabilidade de tratar-se, de fato, não
apenas de um primeiro episódio, mas de um episódio único.
Quanto à Evolução do Transtorno

❖Há fatores desencadeantes proporcionalmente importantes?


◦ Quanto mais significativo for o fator vivencial que desencadeou o quadro, possivelmente menos atrelada à
constituição é a doença.
◦ Grosseiramente exemplificando, a pessoa que apresenta depressão, transtorno de ajustamento, episódio
ansioso agudo, etc, mediata ou imediatamente depois de perder sua mãe, terá muito melhor prognóstico
do que aquele que manifesta o mesmo quadro sem perder a mãe.
◦ Tentando elaborar uma regra didática simples, a grosso modo, poderíamos dizer que a psicoterapia é
eficaz na proporção da influência de elementos vivenciais no curso da doença (quanto mais influentes
forem as vivências, maior eficácia da psicoterapia) e a farmacoterapia é tão mais eficaz quanto menos
importantes forem as vivências na origem do transtorno.
◦ Isso não invalida, absolutamente, a associação de ambos procedimentos nos transtornos emocionais em
geral, auferindo-se benefícios da psicoterapia também nos casos predominantemente constitucionais e da
farmacoterapia naqueles predominantemente vivenciais.
Quanto à Evolução do Transtorno

❖Como era a pessoa antes do episódio atual?


◦ Um paciente que esteja apresentando um quadro depressivo atual e, juntamente, refere em seus antecedentes
pessoais uma sensibilidade afetiva bastante aumentada será, sem dúvida, beneficiada com o uso de
antidepressivos. Uma outra pessoa que atravessa um Episódio Depressivo pós-rompimento conjugal, mas não
dispõe de nenhum antecedente emocional pessoal ou traço afetivo hipersensível de personalidade, sem dúvida
se beneficiará mais da psicoterapia. Entretanto, em ambos os casos a associação da psico com a farmacoterapia
podem ser mais proveitosas que qualquer uma das duas isoladamente.
❖Há antecedentes familiares de transtornos emocionais?
◦ Existem vários quadros psicopatológicos com inegáveis componentes hereditários e familiares. A transmissão
genética diz respeito à probabilidade e não à certeza. Assim sendo, a pessoa pode ser portadora de uma
probabilidade maior de desenvolver um transtornomental, mas não há certeza de que terá esses quadros.
❖Que intercorrências vivenciais podem ser associadas ao desenvolvimento do transtorno mental?
◦ Avaliar a cronologia das vivências traumáticas, as circunstâncias em que ocorreram e a proporcionalidade entre
estas e o estado emocional é importantíssimo para privilegiar as condutas psicoterápicas.
Quanto à Sintomatologia
◦ A psicofarmacoterapia objetiva, como fim, a melhoria da qualidade de vida, seja através do tratamento dos
transtornos psíquicos, controle dos casos crônicos ou mesmo no alívio dos sintomas incômodos.
◦ Ao médico psiquiatra clínico compete a questão: o que ou quem estou tratando? Muitas vezes, além do alívio do
sofrimento do paciente, diferente das demais especialidades médicas, a psicofarmacoterapia pode aliviar o
sofrimento do entorno sóciofamiliar do paciente. Isso costuma ocorrer quando o transtorno psíquico do paciente
interfere no bem estar dos demais. A maioria dos sintomas psicoemocionais pode, hoje em dia, ser aliviada com a
psicofarmacoterapia, entretanto, sempre que possível, o tratamento deve ser dirigido não apenas ao sintoma em
questão mas, sobretudo, à pessoa que o apresenta e à doença que o motiva.
◦ Em psiquiatria podemos dividir os transtornos segundo seu curso e natureza em 3 tipos: fase, processo e
desenvolvimento. A grosso modo, podemos dizer que os estados mórbidos decorrentes das fases são curáveis,
enquanto os casos de processos são satisfatoriamente controláveis e aqueles que surgem como
desenvolvimentos são mais precariamente resolvidos.
◦ Segundo Jaspers, entendemos por Fase um período mais ou menos agudo e bem delimitado na vida da pessoa,
onde o estado emocional atual reflete uma adaptação mórbida à alguma vivência mais traumática. Estão incluídos
nas Fases, todas as Reações Vivenciais Não-Normais, como os quadros ansiosos motivados por vivências
estressantes, as depressões reativas e até o Transtorno Delirante Agudo e Transitório.
◦ Esses quadros costumam refletir um momento psiquicamente mórbido, completamente diferente do estado
psíquico basal da pessoa, respondendo bem aos psicofármacos e com boas perspectivas de evolução.
Quanto à Sintomatologia

◦ Os Processos são quadros onde, a partir de um momento definido na vida, a pessoa começa a desenvolver um
quadro psíquico mórbido, mais ou menos consoante aos traços pré-mórbidos da personalidade.
◦ É como se tratasse de uma evolução mórbida de uma probabilidade constitucional, evolução essa motivada ou
não por razões vivenciais. Incluem-se aqui as Esquizofrenias, refletindo traços esquizóides e paranóides da
personalidade, os Transtornos Obsessivos Compulsivos, Os Transtornos Bipolares, como morbidade de
Personalidades Ciclotímicas, as Depressões Recorrentes, vindas dos traços Distímicos e assim por diante.
◦ Os quadros que se apresentam como processos, em sua grande maioria, felizmente evoluem muito bem com a
psicofarmacoterapia.
◦ Entretanto, as possibilidades de recorrência quando da interrupção do tratamento são algo maiores que a não
recorrência.
◦ Desenvolvimento seria, por sua vez, a classificação dos quadros conseqüentes a algum déficit de
desenvolvimento ou a uma alteração patológica do desenvolvimento depois de um momento definido. Como
exemplo de um déficit de desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto teríamos as Deficiências ou Retardos
Mentais e, como exemplos de uma alteração patológica do desenvolvimento teriam as Demências. Nesses casos
os resultados dos psicofármacos têm sido pouco expressivos.
Metilfenidato
◦ O metilfenidato é um estimulante do SNC, derivado da piperidina e estruturalmente similar à anfetamina.
◦ Sua absorção por via oral é rápida e praticamente total, sendo alterada pela ingestão de alimentos na
velocidade, mas não na quantidade absorvida.
◦ O pico plasmático ocorre em torno de 2 horas após a administração.
◦ Da mesma forma, sua meia-vida é de cerca de 2 horas.
◦ Após a absorção, o metilfenidato sofre amplo metabolismo de primeira passagem. A metabolização se dá pelo
sistema microssomial hepático.
◦ Em um período de 48 a 96 horas, ao redor de 97% da droga são excretados pela urina, e 3%, pelas fezes.
◦ Os efeitos no comportamento aparecem durante a absorção do fármaco e duram de 1 a 4 horas
Mecanismo de Ação
◦ O metilfenidato inibe a recaptação da dopamina e da noradrenalina, aumentando a concentração destes dois
neurotransmissores na fenda sináptica.
◦ Também é um liberador de dopamina dos neurônios pré-sinápticos, mecanismo que a diferencia dos
antidepressivos em termos de rapidez do início dos efeitos e de potência das drogas. Exerce ainda algum
bloqueio sobre a enzima MAO.
◦ O resultado é uma estimulação de várias regiões do SNC e, em particular, do sistema reticular ativador
ascendente, provocando ativação do córtex e aumento do nível de alerta.8
Indicações
◦ Evidências consistentes de eficácia:
◦ • transtorno de déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos.

◦ Evidências incompletas:
◦ • narcolepsia;
◦ • depressões refratárias (como adjuvante do tratamento);
◦ • depressões em pacientes com doença física (AIDS, neoplasias, doença vascular cerebral, doença cardíaca,
Parkinson, etc.);
◦ • depressões em idosos nos quais há contra-indicações para outros antidepressivos.
Reações Adversas e Efeitos Colaterais
◦ Mais comuns: agitação, diminuição do apetite, euforia, insônia, nervosismo.
◦ Menos comuns: abstinência, alopecia, angina, anorexia, arritmia, artralgia, cãibras,
cefaléia, convulsões, coreoatetose, delirium, dependência, depressão (na retirada),
discinesia, dor abdominal, fadiga (na retirada), febre, hipertensão arterial,
hiperatividade, hipertermia, irritabilidade, leucopenia, náuseas, palpitações,
pesadelos, perda de peso, prurido, rash cutâneo, sonolência (na retirada), psicose,
taquicardia, tiques, tremores, tontura, trombocitopenia, vômitos.
FIM.
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