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PROTOCOLOS DE
TRATAMENTO
PSIQUIÁTRICO: DEPRESSÃO
parte 1
Este tema foi pedido pelos alunos e tem a ver com protocolos de atendimento
psiquiátrico. E, na verdade, achei muito importante este pedido, de fato, aqui
na Nova Psique estamos sempre defendendo a ideia de que profissionais de
saúde mental como um todo precisam trabalhar juntos e, para trabalharem
juntos, precisam do conhecimento um do outro. Então, defendemos que o
psiquiatra precisa também adquirir conhecimento de psicologia e, da mesma
forma, o psicólogo precisa adquirir conhecimento dentro da área da
psiquiatria. Através desse compartilhamento de informações é possível ter um
olhar mais global para o tratamento dos pacientes que estamos
acompanhando, já que, idealmente, todo paciente que tem um transtorno
mental, terá um psicólogo e um psiquiatra.
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DEPRESSÃO
[00:04:30] Não vou me deter muito aqui, mas sabemos que a depressão é o
resultado de uma combinação de múltiplos fatores. Já falamos aqui que a
etiologia da depressão é multifatorial: elementos biológicos, psicológicos,
socioculturais e ambientais. Todos eles estão misturados numa mesma pessoa e
cada um deles terá um “termômetro”, um espectro de possibilidades. Então,
quando falamos, por exemplo, de elementos biológicos que influenciam no
surgimento da depressão, cada indivíduo terá uma força desses elementos
biológicos diferentes; então, se pudéssemos colocar uma escala para “tendência
genética para depressão de 1 a 10”, o indivíduo A terá 1, o B terá 2, o C terá 5, e
assim sucessivamente. Cada indivíduo está posicionado em um ponto dessa
escala, e isso é verdade para todas essas categorias de fatores que vão
influenciar o surgimento de um episódio depressivo numa determinada pessoa.
Então, com relação aos fatores de risco psicológico que aumentam as chances de
um indivíduo ter um episódio depressivo, cada um terá um conjunto desses fatores
de risco que faz com que ele se posicione em algum ponto dessa linha, sabe?
Deste espectro de possibilidades, sendo que numa ponta temos um risco mais
baixo para depressão e na outra temos um risco mais alto. Isso vale para cada um
desses elementos.
O somatório do lugar em que cada indivíduo estará nesses espectros todos vai
resultar em uma determinada representação. Não é à toa que teremos pacientes
com depressão muito diferentes entre si. Então, como temos uma variedade muito
grande de elementos influenciando o surgimento da depressão, o resultado terá
variações. Isso vai fazer com que cada indivíduo que recebe o diagnóstico de
depressão tenha uma apresentação diferente. Da mesma forma, com o mesmo
diagnóstico, temos aquele indivíduo que teve um episódio depressivo ao longo da
vida, fez o seu tratamento, tirou a medicação, recebeu alta e nunca mais teve um
episódio depressivo. Mas também temos aquele indivíduo que tem múltiplos
episódios ao longo da vida; ou ainda temos o indivíduo com episódios depressivos
de difícil controle, de longa duração. Então, percebe que as depressões são muito
diferentes? Muito variadas.
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TRATAMENTO DA DEPRESSÃO
[00:09:05] É exatamente por isso que precisamos ter em mente dois pontos
muito fundamentais, que é o seguinte: se estamos entendendo que todos têm a
mesma entidade nosológica, todos compartilham do mesmo diagnóstico;
estamos entendendo que todos eles têm algo em comum. Existe, apesar de
todas as variações entre aqueles indivíduos, alguma estrutura central, alguma
alteração central ou algo semelhante no cérebro de todos, apesar de terem
variações nas suas apresentações, algo igual acontece no cérebro de todos. E
é isso que faz com que eles tenham um mesmo centro de alteração
psicopatológica e que faz com que tenham o mesmo diagnóstico.
É exatamente por isso que, quando tratarmos esses indivíduos, por mais que
eles tenham variações nas suas apresentações, o tratamento deles deve seguir
uma diretriz geral, uma lógica geral, porque ela está relacionada com o
elemento em comum que todos eles têm. Entretanto, além deste núcleo que
existe em comum, também temos alguns elementos variáveis, é como se
tivéssemos um núcleo central igual para todos e, por cima dele, outras camadas
que vão diferenciando o indivíduo do outro, que vão fazendo que um
determinado indivíduo tenha um número de episódios específicos, uma
tendência maior ou menor a um novo episódio, uma facilidade maior ou menor
de responder às intervenções terapêuticas, enfim.
Cada paciente com depressão têm uma prescrição distinta, e se você falar com
o psiquiatra que fez a prescrição, idealmente, ele vai saber explicar por que
para o paciente A ele prescreveu um inibidor seletivo de recaptação de
serotonina, por que pro paciente B ele prescreveu uma combinação de
antidepressivos, por que para o C ele prescreveu não uma combinação,
percebe?
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Entretanto, apesar das diferenças, todos esses tratamentos precisam seguir
uma lógica geral que se repete em todos. Por isso optei por dividir esta aula em
duas partes. A primeira parte, que é a de hoje, será sobre a lógica geral. Hoje
você entenderá o que se espera, de modo geral, da estrutura de um tratamento
para um episódio depressivo. Você vai entender e, inclusive, julgar se
determinado tratamento está dentro de um protocolo ou não, se parece que há
algo que não está caminhando muito bem. Já na próxima aula estudaremos
sobre os elementos específicos, olharemos para as diferenças entre os
antidepressivos, entre cada uma das substâncias para que possamos entender
o que favorece a escolha de uma substância em detrimento de outra para
aquela pessoa especificamente.
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Quantas pessoas você já ouviu, que tem um episódio depressivo, que chegam
para qualquer outra, “então, tive um episódio depressivo: desânimo, sem
prazer pra nada, muito triste, chorando muito, eu tava com dificuldade pra
pegar no sono”, “ e você está tratando? E agora?”, “sim, estou tratando, as
coisas não estão exatamente a mesma coisa, estou dormindo um pouco melhor,
me alimentando melhor, mas continuo sem perceber prazer nas coisas”. O que
o vizinho responde? “Ah, é assim mesmo, você já teve depressão, vai seguindo
e vai melhorando com o tempo”, não é um contrassenso? Pois a resposta
deveria ser a mesma: “se você não melhorou de tudo que caracteriza o
episódio depressivo, algo está errado”. Eu tenho milhões de pacientes que
estão há dois anos tratando e que falam que melhoraram de algumas coisas,
mas de outras não, e que mantêm a prescrição porque “é assim” e continuam
desse jeito “meio mais ou menos”.
Outras coisas que estão dentro dessa remissão máxima possível dos sintomas é
a recuperação do funcionamento psicossocial do paciente e a recuperação da
capacidade funcional que, em tese, vão acontecer a partir da remissão dos
sintomas. Um outro objetivo que acaba sendo um pouco negligenciado é a
melhora na qualidade de vida do paciente. Quando falamos de depressão,
estamos falando de um transtorno que é multifatorial, e sendo multifatorial, seu
tratamento também deve ser sustentado por vários elementos, pilares.
Muitos desses pilares têm a ver com uma melhora da qualidade de vida; então,
sim, uma parte do tratamento do episódio depressivo é ajudar o paciente na
melhora da sua qualidade de vida no que diz respeito à alimentação, à
atividade física, ao manejo do ciclo circadiano e bons hábitos de sono. Então,
esses outros pontos que sustentam a qualidade de vida, ou o que entendemos
como qualidade de vida, também precisam ser abordados e precisam ser
modificados ou só com a orientação do psicólogo ou psiquiatra, ou com
encaminhamento desse paciente para outros profissionais para que, de fato, a
gente tenha uma melhora global do episódio depressivo.
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RECURSOS GERAIS DO TRATAMENTO
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TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
[00:26:23] Sabemos que vamos precisar fazer uma medicação que tenha um
potencial antidepressivo, toda vez que um paciente recebe um antidepressivo,
precisamos obrigatoriamente atentar para dois elementos fundamentais: o
tempo e a dose. Esses elementos são extremamente importantes. A dose
precisa ser terapêutica, na verdade, cada medicamento, cada fármaco, tem
uma faixa terapêutica eficaz. Elas não são eficazes em qualquer dose, mas
dentro de uma determinada faixa que começa no mínimo e vai até o máximo.
Todos os remédios têm essa regra geral, e por que falo isso? Porque na teoria
isso também é muito óbvio, mas na prática não é nada óbvio, acontecem muitos
e muitos erros.
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E com relação ao tempo? Lá no Módulo de Psicofarmacologia há uma aula
bem teórica sobre os receptores e o porquê o antidepressivo depende de
tempo para começar a fazer efeito, se você ainda não assistiu, volte lá e assista
para entender essa parte. Mas, fundamentalmente, o antidepressivo não faz
efeito do dia para a noite e teremos alguns marcos importantes nesse tempo.
Saber da história desse paciente é necessário até pra você saber se ele é
resistente ao tratamento ou se nunca tratou direito o problema.
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Entre a quarta e a sexta semana e entre a sexta e a oitava, normalmente já
vimos alguma mudança no paciente, porém, ele ainda pode ter melhoras e
evolução positiva e favorável com aquela medicação. Mas, normalmente, essa
evolução favorável só vai acontecer na sexta e na oitava semana se ela já
começou a acontecer. Então, se o paciente teve zero respostas na quarta
semana, dificilmente ele terá uma na sexta. Por que isso é importante? Você
consegue perceber que estou falando de probabilidade? Porque com o
paciente deprimido estamos o tempo todo tentando fazer com que ele melhore
o mais rápido possível, ok. Esse mais rápido possível acaba passando por uma
série de microdecisões que você vai tomando a cada etapa de evolução.
Quando receitamos um antidepressivo pela primeira vez para uma pessoa, não
temos a menor ideia do que vai acontecer. Qual é a minha intenção? Quero
chegar à dose terapêutica o mais rápido possível, quero chegar à resposta total
o mais rápido possível. Se ele não responder a esse remédio, eu também quero
ter essa informação o mais rápido possível porque eu quero, o mais rápido
possível, trocar esse remédio ou fazer o ajuste necessário para que ele passe a
ter uma resposta. Então, precisamos ter em nossa cabeça que a nossa
velocidade precisa ser coerente com o tempo de ação do antidepressivo mas,
ao mesmo tempo, qualquer informação que a gente possa ter para tentar
prever aquela resposta pode nos ajudar, pois pode minimizar o tempo que esse
paciente sofrerá sem um ajuste adequado.
Os livros falam assim: “o paciente pode ter resposta terapêutica em até oito
semanas”, isso é verdade, mas não quer dizer que vou dizer “olha, volta daqui a
oito semanas, só vou te ver daqui a oito semanas e se você não melhorar nada
aí eu faço alguma coisa”. Você poderia ter feito antes, entende? Por isso estou
tentando separar essas oito primeiras semanas em zonas de “o que se espera” e
do que “não se espera”, para que você consiga ter noção de um
comportamento favorável ou não para que a intervenção adequada seja feita
no tempo que faz sentido, porém, no menor tempo possível do que faz sentido.
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A partir de 6 ou 12 meses em diante, se mantemos o antidepressivo para esse
paciente, falamos que ele está numa fase de manutenção do tratamento. Em
teoria, se o paciente tem remissão dos sintomas, ele passa pela fase de
recuperação e, em tese, pode chegar ao desfecho e retirada de medicação.
Na verdade, para todas essas possibilidades de tempo do tratamento
farmacológico, a gente vai ter alguns desfechos possíveis, e eu quis separá-los
para que você entenda o que fazemos com cada um deles.
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Esse conjunto de sintomas clínicos é que chamamos de síndrome de retirada,
idealmente, é bom que ele não sinta; entretanto, esses sintomas não
representam o retorno dos sintomas depressivos, porque muitas vezes é assim
que o paciente interpreta esses sintomas, ele fala assim: “Poxa, eu tirei a
medicação do dia pra noite” – ou esqueceu de tomar, “eu senti dor de cabeça,
tontura, realmente tô precisando desse remédio”. Na verdade, não é nada
disso, isso é algo transitório e “benigna”.
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É fundamental que você avise esse paciente que se ele voltar a ter alguma coisa
não será agora, mas dali a um mês, dois meses. O retorno dos sintomas se dá
dessa forma, então, ele não pode achar que está abafando, que é o “super
não-deprimido” porque uma semana depois é exatamente isso que se espera,
a recorrência de sintomas depressivos acontece, normalmente, algumas
semanas depois da interrupção do uso da medicação.
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DESFECHO 2 - AUSÊNCIA DE RESPOSTA OU
RESPOSTA PARCIAL
[00:58:21] No desfecho nº 2 o paciente começou o tratamento e não
respondeu. Não houve resposta ou ele teve uma resposta parcial. Ou seja,
respondeu alguma coisa, não está tão mal como antes, mas ainda tem
sintomas. Nesse desfecho nós temos duas respostas possíveis: ajuste da dose da
medicação ou ajuste no esquema terapêutico como um todo, ou a troca da
medicação.
Vamos optar pelo ajuste quando esse paciente começou a ter alguma
evidência de resposta, com duas ou três semanas de uso da medicação quando
percebemos que alguma resposta aconteceu, temos uma grande chance de
acerto se ajustarmos a dose deste paciente. É aqui que optamos por um
aumento de dose ou por algo que chamamos de tratamento adjuvante, que é
uma associação com mais uma medicação; se estamos usando antidepressivo e
o juntamos com outra medicação – que pode ser tanto mais um antidepressivo
(combinação) ou outra que tem potencial de aumentar o efeito de um
antidepressivo (acréscimo), normalmente antipsicóticos atípicos, lítio, e menos
comumente o hormônio T3.
Temos duas linhas para essa troca de remédio, alguns autores falam que, de
modo geral, devemos tentar outro antidepressivo da mesma família, e
progredir para outro de maior potência somente se ele não responder. E
existem os que dizem que antes de uma primeira evidência de ausência de
resposta, a gente já vai para um antidepressivo de maior potência. Depende de
cada caso, depende da decisão do psiquiatra, mas as duas condutas são
possíveis. Eu, normalmente, escolho manter na mesma família pelo menos em
uma tentativa.
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DESFECHO 3 - NECESSIDADE DE
MANUTENÇÃO
Entretanto, a gente não tem certeza de quem são essas pessoas, sabemos que
a tendência genética para depressão é poligênica e que cada pessoa tem uma
força dessa tendência, então, teremos pessoas que por mais que façam
absolutamente tudo certo em termos de recursos não-medicamentosos e
seguindo o tratamento direitinho, mas parece que por alguma razão, ela volta a
ter sintoma depressivo toda vez que tiramos o remédio dele. Por que isso
acontece? A força genética deste cara é muito grande, acontece que essa
combinação de quem vai ter mais ou menos necessidade de remédio por mais
ou menos tempo, mais ou menos chance de ter recorrência, essa equação é
complexa demais e ainda não temos resposta e ainda jogamos um jogo às
cegas, ainda tentamos adivinhar qual é o paciente que tem uma alta chance de
um desfecho favorável e qual tem uma menor chance de desfecho favorável.
Então, tentamos adivinhar a verdade, ok, mas tentamos adivinhá-la com algum
nível de evidência. Qual? Pegamos os pacientes que, de modo geral, tendem a
apresentar uma chance maior de recorrência depressiva em caso de retirada
da medicação ou de não manter a medicação por um tempo mais prolongado.
Mas ainda assim estamos num campo de probabilidade e não num de certeza,
sabe?
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Então, sabemos aquilo que aumenta o risco e o que aumenta a necessidade de
manutenção desse paciente, e sabemos aquilo que não aumenta. A partir
dessas informações que temos, teremos uma pessoa na nossa frente e
precisamos tomar uma decisão que podemos acertar ou errar. O que
precisamos é ter os elementos que fazem com que aquela decisão seja
consciente: “Olha, estou mantendo a sua medicação por um tempo maior por
causa disso, acho que você tem mais chance de ter uma recorrência depressiva
por x, y e z e, portanto, vou manter a medicação”. Uma outra coisa que
ponderamos, que não só esses riscos do paciente, é a gravidade do episódio
do paciente. Então, vamos dizer que ele seja um paciente que, a princípio, tem
muitos elementos que favorecem o prognóstico dele, mas teve uma depressão
muito severa com sintomas psicóticos, o que eu boto na balança? Apesar de ele
ter um risco baixo de ter um novo episódio, pois ele tem vários elementos de
bom prognóstico, se ele tiver um novo episódio e ele for também com sintomas
psicóticos, ele pode ter um prejuízo muito sério, então, isso entra na minha
avaliação de manter ou não a medicação por um tempo mais prolongado.
Quais são os fatores de pior prognóstico que fazem com que a gente acabe
estendendo um pouco mais o tratamento de manutenção desses pacientes?
- Idades atípicas de início, tanto antes dos 30 quanto depois dos 65 anos, já
que a idade de maior frequência é entre 30 e 40 anos;
- Distimia concomitante;
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No livro temos que a manutenção pode durar de 3 a 5 anos ou se manter
indefinidamente, então, pra quê falar de 3 a 5? Precisamos avaliar caso a caso
em que momento a gente vai estender esse tratamento porque achamos que há
mais chance de dar errado do que de dar certo e em que momento vamos tirar
porque achamos que tem mais chance de dar certo do que de dar errado.
Basicamente, esse é o nosso desafio e a nossa conduta na prática clínica mas,
pelo menos, estamos munidos do conhecimento de que precisamos para tomar
a melhor decisão possível.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
(Mabel) Para ter uma ideia, Mariana, que vem do próprio psiquiatra até,
“quanto menos medicação, melhor, né?”.
(Mariana) Exatamente, se eu vou dar alguma coisa, vou dar algo que funcione.
Pra quê vou tomar uma gota de tylenol todos os dias? É melhor não tomar, né.
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A meia-vida é padrão duas semanas ou depende da medicação?
Alguns pacientes também podem mentir sobre a ingestão correta dos remédios.
Sem contar que alguns começam a melhorar, não falam nada, param de tomar
o remédio e só falam depois quando nós notamos uma recaída.
De fato!
Sim, se essa foi a pergunta, é importante medicar para depressão. Mas acho
que você está falando de quando o paciente está deprimido, na verdade isso
vale para qualquer comorbidade, de modo geral os sintomas de qualquer
comorbidade ficam meio nebulosos; então, é difícil diagnosticar qualquer coisa.
E existe, inclusive, uma hierarquia de manejo terapêutico, e o humor é o
primeiro dessa hierarquia. O que quer que você perceba no seu paciente, ou
qualquer dúvida que você tenha a respeito de comorbidade, se existe uma
alteração de humor, ela deve ser tratada primeiro porque, de fato, ela dá uma
mascarada em todas as outras.
Sim, isso acontece com a gente também, o paciente chega, desaparece, volta
e fala “melhorei muito, parei de tomar e desapareci porque achei que não
precisava”.
(Mabel) Mas aí entra um ponto né, Mariana, por mais que você faça sua
explicação na hora em que está prescrevendo o remédio, a gente também tem
o papel importante dessa psicoeducação preventiva. Toda vez que eu
encaminho um paciente para o psiquiatra e ele volta com uma prescrição, eu
faço toda uma fala sobre não alterar essa medicação sem falar com o seu
psiquiatra, sem combinar com ele.
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(Mabel) Eu tento fazer de uma forma bem enfática, “olha se você não tiver
satisfeito com a medicação, pode até querer mudá-la, mas não faça isso
sozinho, nem pra mais, nem pra menos, nem pra tentar tirar”, justamente para
tentar prevenir essa mudança lá na frente. Porque eu acho que, talvez para o
psicólogo seja mais fácil essa fala porque o paciente não fará essa reflexão
com o psiquiatra, mas com a gente, pois geralmente está toda a semana ali
conosco. Então, se ele está pensando em tirar o remédio e abro esse assunto
com ele, caso ele queira diminuir, ele virá falar comigo. Claro, ainda assim ele
pode parar por conta própria, mas acho que o nosso papel é importante e acho
que temos até mais alcance do que o psiquiatra para fazer essa
psicoeducação.
Sei que a aula é específica para depressão, mas se o paciente está fazendo uso
de antidepressivos por sintomas ansiosos e interrompe o remédio, tipo, tomou
duas caixas, não deu continuidade à medicação, não retornou ao psiquiatra, os
sintomas diminuíram, Será que eles, os sintomas, vão voltar?
Não terei um número, o que a gente tem é que é mais um fator que, por
exemplo, vai se somar a todos os outros daquele paciente. É um fator que nos
diz assim: olha, ele pode ter uma tendência mais forte para episódios mais
graves, para uma dificuldade maior de tirar a medicação. Mas isso também
não é algo absoluto, pois às vezes o paciente não tem nenhuma história e tem
um quadro super difícil de manejo e o inverso também, mas é algo a se colocar
ali dentro daquele conjunto de fatores.
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Mas ele não nos dá todas as respostas, então, não é indicado pra todo mundo,
só para aquele paciente que aparentemente tem muitos efeitos colaterais ou
efeitos inesperados porque “parece” que tem alguma metabolização pouco
comum daquela medicação, ou o paciente tenta medicações diferentes e não
responde.
Sim, é essencial.
(Mabel) Vão voltar os sintomas, você é terapeuta dele e achou que ele
precisava de psiquiatra. Ele toma duas caixas de remédio e para. Os sintomas
vão voltar. Ele continua tendo indicação de medicação. Não é porque ele
tomou duas caixas que ele pode se tratar só com terapia. Ele não concluiu o
tratamento dele.
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