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DIREITOS AUTORAIS
CBI of Miami
Introdução à Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness
Vitor Friary
Cleyton Brust
Resumo
O propósito deste capítulo é apresentar uma visão geral do protocolo de Terapia
Cognitiva Baseada em Mindfulness (MBCT), pontuando os mecanismos que
vulnerabilizam pacientes à recaída no transtorno de depressão maior unipolar,
compreender as influências, diferenças e similaridades com a Terapia Cognitivo
Comportamental e apresentar o funcionamento do protocolo de MBCT e as
principais intervenções utilizadas neste processo terapêutico.
Introdução
O protocolo de Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness (também
conhecido como MBCT-Mindfulness Based Cognitive Therapy) é um programa
terapêutico dentro da abordagem cognitiva e comportamental validado e
estruturado desenvolvido pelos psicólogos Mark Williams (Universidade de
Oxford), John Teasdale (Universidade de Cambridge) e Zindel Segal
(Universidade de Toronto) no final da década de 90.1 Foi desenvolvido
inicialmente para o tratamento de pacientes com depressão maior, com o intuito
de prevenir recaídas ou recorrência de tal transtorno e depois expandido para o
tratamento da ansiedade e vários outras queixas e sofrimentos psíquicos.2
O MBCT foi idealizado à partir de princípios de dois modelos terapêuticos:
a Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e o MBSR (Mindfulness Based
Stress Reduction). O programa integra essas duas áreas de intervenção, tendo
como base práticas de mindfulness, assim como a integração destas no dia a
dia, e princípios e práticas da terapia cognitiva, tendo como resultado um
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programa estruturado. É composto por oito sessões semanais, presenciais e em
grupos (geralmente com um número de 8 a 15 participantes), tendo duração de
mais ou menos 2 horas cada sessão.1
O propósito deste capítulo é apresentar uma visão geral do MBCT,
pontuando os mecanismos que vulnerabilizam pacientes à recaída no transtorno
de depressão maior unipolar, compreender as influências, diferenças e
similaridades com a TCC no modelo de Aaron Beck, assim como apresentar o
funcionamento do protocolo de MBCT e as principais intervenções utilizadas
neste processo terapêutico.
Visão Geral
A depressão vem crescendo de forma exponencial em todo o mundo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão aumentou por
volta de 18,4% nos últimos 10 anos, atingindo por volta de 4,4% da população
mundial (322 milhões), sendo que em 2020 pode se tornar o segundo maior
problema de saúde global. No Brasil, estima-se que 5,8% da população
apresenta depressão, ou seja, um número de 11,5 milhões de brasileiros
segundo última pesquisa, sendo o quinto lugar no ranking mundial e segundo
nas Américas, ficando somente atrás dos Estados Unidos (5,9%). Outro
problema que se tem observado, é que a idade que inicialmente tem aparecido
é cada vez mais cedo e que a incidência em crianças e adolescentes tem
aumentado drasticamente e quanto mais precoce aparece maior a chance de se
cronificar e recorrer, ou seja, pior é o prognóstico em relação a recaídas. Nos
Estados Unidos, já estão se falando em tratar na infância os primeiros sinais de
depressão.
O programa MBCT foi elaborado, inicialmente, para tratar este tipo de
paciente, principalmente a população recorrente, que é estudada como a
população mais vulnerável, já que o risco de recaídas aumenta frente ao número
de episódios, gerando assim um efeito autônomo, aumentando o número de
casos de depressão.
As pesquisas têm demonstrado que o MBCT vem se tornando altamente
eficaz e eficiente, reduzindo pela metade o risco de futura depressão clínica em
pessoas que já tiveram episódios recorrentes e tal efeito tem se mostrado tão
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bom quando comparados aos resultados medicamentosos. Além disso, este
programa tem apresentado também, extrema eficácia para a ansiedade
persistente e outras emoções e quadros psicológicos.
Os desenvolvedores do MBCT basearam seu trabalho na observação e
no conceito que a infelicidade faz parte da condição humana e que a forma que
nos relacionamos e reagimos a ela pode manter e/ou agravar o sofrimento
emocional. Não são os pensamentos disfuncionais que causam a recaída na
depressão, mas a forma em que a pessoa os processa. Partindo dessas
conclusões, podemos pontuar alguns mecanismos de vulnerabilidade de recaída
da depressão como a reatividade cognitiva, ruminação, supressão de
experiências e monitoramento de discrepância.3
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pensamentos que perpetuam o humor deprimido, o desespero e a
desesperança.5
Estudos mostram que, clientes que reagem ao retorno de sintomas
depressivos através da supressão do pensamento ou algum tipo de rejeição de
sentimentos (supressão de experiências), têm mais chance de ter recaídas, pois
a medida que tentam se livrar de tais experiências desconfortáveis elas se
tornam mais presentes, gerando assim, uma cascata de pensamentos
negativos.6 Desta forma, ambas as tentativas de explicar (ruminação) e expulsar
(supressão) a depressão geram mais sofrimento e exaustão, dificultando ao
cliente a flexibilidade de mover para o que seja mais importante em sua vida.
Por sua vez, o monitoramento de discrepância influenciada pela Self-
Discrepancy Theory1,7 é um outro mecanismo de vulnerabilidade à recaída da
depressão. O paciente ao tentar resolver o “problema” da infelicidade fica preso
na lacuna entre o estado emocional atual (infelicidade) e o estado ideal
(felicidade). Esta constante e repetitiva comparação leva o paciente a um estado
de maior sofrimento emocional e mental.
Autores
Vitor Friary
Formado em Psicologia pela Universidade de Middlesex na Inglaterra, Mestre
em Terapia Cognitiva e Mindfulness pela University of London Goldsmiths e pela
London Metropolitan University. Graduado pela Escola de Medicina da University
of California San Diego como Especialista em Terapia Cognitiva baseada em
Mindfulness (MBCT).
E-mail: vitorfriary@gmail.com
Cleyton Brust
Formado em Psicologia pela Universidade Estácio e Pós-graduado em Terapia
Cognitivo-Comportamental e Terapeuta Certificado em Mindfulness-based
Cognitive Therapy pelo Centro de Mindfulness no Brasil. Professor do Curso de
Pós Graduação em Terapia Cognitivo Comportamental da Universidade Estácio
de Sá.
E-mail: cleytonbrust@gmail.com
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