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FORMAS FUNDAMENTAIS DE PSICOTERAPIA

DR. RUDOLF ALLERS

Tradução Robert Barbosa Batista


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1.Considerações preliminares

A psicoterapia visa influenciar por via anímica fenômenos de origem psicogênica, ou seja, a
elaboração psicogênica secundária de sintomas somáticos já existentes. De uma forma ou de
outra, a psicoterapia sempre foi praticada, e é praticada por todos os médicos. Esta
psicoterapia, por assim dizer, espontânea, não sistemática ou baseada em pressupostos
teóricos, é contraposta a outra sistematicamente elaborada. Por sua vez, dentro das duas
últimas direções podem ser diferenciadas: uma delas é puramente terapia empírica; a outra é,
ao mesmo tempo, a teoria do sofrimento psicogênico. O primeiro renuncia à investigação de
mecanismos patogênicos e se contenta com a verificação empírica de que esta ou aquela
forma de influência anímica pode alcançar certos sucessos terapêuticos. O outro, por outro
lado, é formado a partir de certas idéias da essência da psicogênese e baseia nelas seu
procedimento terapêutico. Contudo; O fato de certas tendências psicoterapêuticas poderem
ser designadas como assistemáticas e outras como carentes de amplo embasamento teórico,
não significa, de forma alguma, que sua existência não se justifique e que não ofereçam
possibilidades de sucesso. No entanto, na medida em que eles podem alcançá-lo, deve ser
possível descobrir suas raízes no fato de que eles são parcialmente baseados - sabendo ou não
- em postulados que são explicitamente formulados em psicoterapia sistematicamente
desenvolvida. Essa afirmação concorda com a feita em geral, de que apenas dois sistemas de
construção de laços psicossomáticos são possíveis. Em certo sentido, este capítulo final pode
fornecer novos argumentos para as teses desenvolvidas na parte geral. Além disso, talvez essa
tendência de voltar ao ponto de partida e desenvolvê-lo seja mais importante do que seu
propósito de delinear os procedimentos psicoterapêuticos. É impossível realizar, mesmo de
forma grosseira, esta última tarefa em poucas páginas; não espere, então, encontrar um
tratado de psicoterapia. Sua aspiração é classificar sistematicamente as tendências
psicoterapêuticas existentes e expor seus princípios viventes, que servem como uma
introdução ao desempenho psicoterapêutico; perguntas especiais só podem ser tratadas
incidentalmente.

2. Talvez seja oportuno, antes de expor os métodos psicoterapêuticos, nos perguntarmos o


que, propriamente, pode ser o objeto da Psicoterapia. Não podemos nos contentar com a
resposta geral: tudo que tem uma origem psicogênica ou tem sido utilizado de forma
psicogênica, colocando-o a serviço de certos fins neuróticos, pois muitas vezes só o
percebemos ao abordar um fenômeno com um procedimento psicoterápico. o perigo de uma
tentativa terapêutica por influência anímica(ou psíquica) é certamente menor do que com os
outros procedimentos. Se forem dispensados erros grosseiros de diagnóstico, por exemplo,
atrasando o momento oportuno para realizar uma operação de melhoria ou para interromper
a evolução de uma doença grave, pode-se dizer que a aplicação da psicoterapia, desde que
possua conhecimento suficiente, "não constitui nenhum risco." É notável, e até reconfortante
para o psicoterapeuta, que na maioria das vezes os erros terapêuticos e diagnósticos são
cometidos na direção oposta. Acontece mais frequentemente que um paciente seja operado
por seus distúrbios psicogênicos, ou tratado pelos mais diversos métodos químicos e físicos, do
que o inverso de considerar outra doença puramente orgânica como uma doença psicogênica.
No entanto, isso também é possível; Por isso, o médico que exerce a Psicoterapia deve ter uma
preparação profunda em patologia somática.

Diante de um sintoma somático, deve-se fazer um juízo sobre a possível importância dos
fatores somáticos, verificando um exame cuidadoso ou solicitando a ajuda de um especialista.
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Por isso, deve-se considerar um acerto que a Associação Psicanalítica de Berlim requeira uma
preparação médica geral antes de passar ao estudo da Psicoterapia. Nos casos em que não
seja realizada por médicos, deve-se buscar a orientação de um deles, pelo menos inicialmente,
ainda que o mais adequado seja que esta consulta se repita várias vezes durante o tratamento.

Enquanto a origem puramente psicogênica de um fenômeno corporal não parecer plausível, é


aconselhável considerá-la como se ela também tivesse uma base somatogênica. Existem certos
sintomas e quadros patológicos dos quais sabemos que só podem ter origem psicogênica.
Lembre-se, por exemplo, da impotência. Quanto a outros, podemos suspeitar, com maiores ou
menores chances de acertar, que sejam de origem psicogênica; por exemplo, quando as
lamentações do paciente e os fenômenos objetivos não concordam, ou quando características
particulares são contraditórias entre si, como costuma ser o caso em muitos distúrbios
sensoriais histéricos. Porém, também aqui há casos extremos que nos aconselham a prosseguir
com a cantela. Isso é ainda mais necessário quando nos deixamos guiar pelo grau de síntese
que um fenômeno somático alcançado com a personalidade integra, uma vez que os
transtornos dependentes de modificações objetivas dos órgãos também podem ser explorados
para fins neuróticos.

Por outro lado, é em todos os casos acessível à influência psicoterapêutica, de forma alguma
perigosa e justificável, seja no caso das lesões somáticas ou, no caso contrário, a atitude do
paciente em relação à sua doença. Esse fator frequentemente desempenha um papel decisivo
na formação de todo o quadro patológico.

II. Psicoterapia não sistemática

Essa atitude é, de fato, a que mais frequentemente é objeto desse tipo de psicoterapia, já
que a forma mais primitiva dela é o consumo. É possível gastá-lo de muitas maneiras
diferentes. Em primeiro lugar, existe o conforto que pode ser chamado de "amenizante".
Quando um médico assegura ao paciente que "sua doença não é tão importante", "isso
não é nada", etc., ele subtrai dos fenômenos perturbadores seu caráter ameaçador.
Semelhante a esta forma é o consolo, esclarecendo o estado patológico. Outra variante do
mesmo consiste em reconhecer a importância e o significado da doença e seus fenômenos,
mas garantir ao paciente que "logo vai melhorar", etc. Da mesma forma, a forma e a
maneira como o médico esbanja conforto são muito diversas. Em parte, depende da
atitude do médico para com o paciente em geral e para com os problemas da vida; em
parte, também de sua atitude específica para com esse indivíduo. Há médicos que se
acostumaram a uma maneira habitual de lidar com seus pacientes. Outros, por outro lado,
que procuram se adaptar ao jeito particular de ser de cada um. Ao primeiro grupo
pertence o médico "brusco" "que não gasta elogios"; outros têm fama de sinceridade
absoluta: eles dizem "se este médico disser que você não tem nada, você pode acreditar
na sua palavra". (Por outro lado, uma caracterologia médica não deve tratar apenas das
características dos médicos, mas também dos pacientes.) É um fato importante, do ponto
de vista psicológico, a confiança que muitos pacientes sentem por um destes. tipos
mencionados. Muitos pacientes não confiam no consolo do médico; Eles acreditam que
isso tenta encobrir a gravidade de seu mal estar. Obviamente, é preciso alguma técnica e
habilidade pessoal para os pacientes aceitarem o consolo como tal, e não como uma
tentativa bem-intencionada de enganá-los. Acontece, de fato, que em muitos casos o
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médico não se sente capaz de pronunciar palavras de consolo com a sinceridade suficiente,
porque está atento da gravidade e até do desespero da situação. Em alguns casos, é
possível que o sentimento de insuficiência face à situação e, simultaneamente, uma
espécie de protesto contra o destino inexorável, prive as palavras de consolo da sua
intensidade e força persuasiva. Mas mesmo nos casos em que o paciente não acredita em
palavras confortantes e perde, por assim dizer, todo o sentido, ainda temos um caminho a
percorrer. Pois com esse consolo muito pode ser alcançado: libertar o paciente de sua
ansiedade e distraí-lo da concentração incessante em seus próprios sintomas. Muitas vezes
o desconforto subjetivo e até mesmo alguns sintomas objetivos irão desaparecer,
principalmente quando, graças à atitude "amenizadora" do médico, perde sua importância
e sua finalidade, que geralmente é atrair a atenção e a compaixão do meio e também do
médico. Por outro lado, onde há doença objetiva e preocupação bem motivada, o consolo
deve cessar, pois talvez exista nos homens uma espécie de consciência de vitalidade cujas
oscilações revelam mais ou menos exatamente quando a vida está em declínio e sua
integridade está seriamente ameaçada.

Talvez certos homens não vejam a sombra da morte se aproximando deles, porque eles
olham para longe dela. Muito poucos são dados a ter consciência de seu fim e esperá-lo
com calma. É algo muito diferente contar com a possibilidade de morte em meio aos
perigos da guerra, da vida aventureira e até prevê-la com segurança, do que ser
condenado a apoiar o desenvolvimento da doença, sem poder praticar qualquer ato contra
ela. Certamente, o número daqueles que podem suportar doenças graves e dores sem um
protesto interno, sem se perguntarem desesperadamente: por que isso aconteceu
comigo? Que sentido pode ter? No entanto, todos nós conhecemos homens a quem a
morte não infligia medo, mesmo quando não estavam cansados da vida e podiam até
esperar muito dela. Também vimos outros que sabem resistir às doenças e cuja alma não
se deixa dominar por ela. Talvez fosse possível incutir em alguns homens essa atitude
espiritual. Seria uma tarefa tão árdua quanto bela. Ninguém sabe com que frequência o
médico faz ou pode fazer isso. De vez em quando ouve-se que um médico não só
conseguiu aliviar o sofrimento do paciente com remédios, por exemplo, morfina, mas
também o ensinou a se comportar de forma diferente diante da vida e da morte. Contudo;
esta não é mais uma tarefa puramente médica. Essa condução e conversão da alma - não
podemos chamá-la de outro modo - baseia-se apenas na humanidade do médico;
consequentemente, sua prerrogativa exclusiva não é como o conforto médico; o padre, o
amigo, o cônjuge podem fazer o mesmo se o amor ao próximo for suficiente. Porém,
muitas vezes, essa missão é responsabilidade do médico, visto que o paciente muitas vezes
experimenta uma aversão a todas as crenças religiosas e se sente solitário e isolado,
mesmo dentro de sua família. Em vez disso, ele é atraído para o médico por algo, talvez o
vago conhecimento de que "o corpo não pode ser curado sem tratar a alma" e que o
médico pode aliviar ambos. Aqui não podemos explicar como é possível e necessário
conduzir-se para cumprir esta missão. Talvez seja impossível dizer. Quem tem condições
internas para isso ele sempre saberá como encontrar o caminho. Mesmo desconsiderando
esses casos mais difíceis, não é incomum que o médico seja forçado a influenciar a atitude
do paciente em relação à sua enfermidade, não apenas pelo alívio subjetivo que ela pode
proporcionar, mas também por razões terapêuticas objetivas. Cada vez que o médico
decide que um paciente recalcitrante aceita uma operação ou determinada cura, ele
realiza um trabalho psicoterapêutico. Também aqui somos apresentados a todas as
modificações do comportamento médico a que aludimos anteriormente. Existem todos os
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tipos de nuances entre a invocação da autoridade médica, a demonstração lógica, o apelo


às obrigações morais do paciente, a compreensão da situação inevitável por parte do
paciente, a obediência quase arrancada sugestivamente, a confiança no conhecimento do
médico etc.

Não é possível concluir este breve panorama sobre a influência psíquica dos pacientes pelo
médico, que pode ser realizado com maior ou menor consciência, sem levar em conta o
fato de que alguns fatores utilizados para fins psicoterapêuticos podem também acarretar
um fim oposto àquela que é aspirada. Recentemente, O. BUMKE lançou uma nova palavra
"doença iatrogênica" infelizmente, é preciso reconhecer que o motivo ajuda.

Aquele que uma vez percebeu as graves consequências que um diagnóstico médico pode
determinar e como alguns pacientes dão uma impressão pessimista do médico até que
construam todo um sistema neurótico, aprenderá a ser prudente com suas palavras. Uma
das palavras mais nocivas é, seguramente, a de "constituição". Na maioria das vezes, tanto
esta palavra quanto a de herança, servem apenas para mascarar manifestações de
ignorância e incapacidade. Eles são verdadeiros asila ignorantiae 1, mesmo quando
empregados optima fide 2.

Os pacientes são rápidos em interpretar mal estas palavras, predisposição, herança,


constituição, etc., considerando-as como uma sentença condenatória; acreditam, mais ou
menos conscientemente, ter alcançado a explicação de sua baixa capacidade perante a
vida, seu desânimo aumenta e aceleram sua fuga da realidade, ou aproveitam as palavras
do médico como arma legítima para deixar de cumprir todas as suas funções. Não é
necessário explicar em detalhes que qualquer dúvida ou preocupação expressa pelo
médico pode ser interpretada de forma hipocondríaca e colocada a serviço da tendência
neurótica de fugir da realidade.

3. Uma segunda forma de psicoterapia não sistemática é representada por todos aqueles
procedimentos cujo objetivo é distrair o paciente. É fato comprovado que há uma série de
circunstâncias que podem fazer com que o paciente esqueça sua enfermidade, mesmo
quando esta tem existência objetiva. Não estamos nos referindo apenas aos casos
extremos que foram observados durante a guerra, de indivíduos cuja intensa excitação os
impedia de perceber seus ferimentos, nem nos referimos a pacientes que, diante da
ameaça de perigo de morte ou por salvar um terceiro, não apenas venceram sua doença,
mas eles pararam de senti-la; Por observação própria ou alheia, todos temos visto casos
em que a apresentação de algum afeto nos fazia esquecer a doença, ou em que uma visita
agradável a fazia ficar em segundo plano. Devem ser considerados fenômenos da mesma
ordem o frequente desaparecimento das dores dentais na sala de espera do dentista e
também a superação de vários distúrbios subjetivos quando surge um afeto como a raiva.
Pode-se argumentar se todos esses eventos são baseados no mesmo mecanismo, a saber,
a repressão do sofrimento para a escuridão da consciência pela ação do afeto, um
fenômeno que em última análise equivale a uma "estreiteza da consciência".

Levando em consideração que quem sofre de afasia motora tem, durante as emoções,
palavras e relações verbais que não seriam capazes de formular em um estado de ánimo
tranquilo, talvez se pudesse admitir que a vontade de se expressar passa pelas inibições

1 Termo em latim que significa “asilo de ignorantes”.


2 Termo em latim que significa “boa ou ótima fé”.
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somáticas. Ainda que não seja legal falar do desejo de curar, ou pelo menos de estar livre
da dor, como um fato psíquico que se insere na experiência interna, os casos citados
parecem requerer uma interpretação análoga.

Seja como for, o fato é que existe a possibilidade de superar ou diminuir o sofrimento,
direcionando a atenção para outros objetos. Na obra "Von der Macht des Gemütes"3 de
Kant, extremamente interessante e instrutiva para o psicoterapeuta, há um parágrafo
famoso no qual ele descreve como conseguiu superar um ataque de gota concentrando
seu pensamento em outros objetos. Acredito que, em menor grau, todos somos capazes
de feitos semelhantes, conquistando certo distanciamento da doença ou evitando
considerá-la uma injustiça irritante.

A ideia básica da terapia de distração ou desvio de atenção, praticada tanto por leigos
quanto por médicos, é, provavelmente, a seguinte: se subtrair momentaneamente o
paciente de sua dor é possível convencê-lo de que sua importância não é tão grande
quanto parece, É provável que você mude de atitude a respeito. Essa reflexão quase nunca
é explicitada. Na maioria das vezes, essas experiências psicoterapêuticas são motivadas
pela intenção de aliviar momentaneamente a dor do doente. Não há dúvida de que desta
forma você pode alcançar o sucesso e até mesmo uma transformação interna. Porém, em
algumas ocasiões, principalmente quando há um componente psiconeurótico intenso
associado a uma doença orgânica, é aconselhável prevenir-se da possibilidade de um
efeito oposto ao desejado. Há pacientes cuja convicção da seriedade e importância de suas
doenças é intensificada por todas as tentativas de distração. Isso leva ao efeito oposto. O
paciente concentra cada vez mais atenção em seus sintomas; Parece que ele está dizendo:
"quão grave deve ser minha doença, já que eles se interessam tanto por não lhe darem
atenção.” De resto, é importante destacar que, quando a aplicação desses métodos é feita
sem o devido discernimento, é possível causar mais danos do que benefícios. No entanto,
deve-se notar que, nos últimos casos, geralmente é pronunciada psiconeurose. Lembre-se
que a psiquiatria clínica sempre resistiu, com razão, a todas as tentativas de distrair os
melancólicos(os enfermos, não o temperamento), recomendar uma viagem, etc., que
parecem tão naturais ao leigo. Não podemos deixar de expor a terapia para o trabalho,
pois embora às vezes possa ser útil em doenças puramente neuróticas - embora eu
acredite que em casos graves só possa atuar em conjunto com a psicoterapia sistemática -,
para o tratamento de sintomas corporais costuma ser geralmente reduzido à esfera da
motilidade.

Os benefícios que em outras doenças somáticas, por exemplo, na "dispepsia nervosa",


costuma proporcionar tal terapia não podem ser atribuídos à mera ação do trabalho. Em
parte, o sucesso terapêutico é favorecido pelo fato de o paciente ser considerado doente a
partir do momento em que uma terapia específica é prescrita.

Ele leva sua doença a sério. Por outro lado, essa terapia para o trabalho, na maioria das
vezes, tende a ser verificada em diversas condições de vida, provavelmente aquelas que
apresentam maior eficácia terapêutica, principalmente pelo seu significado psicológico e
não pelo fisiológico. Este é um lugar apropriado para dizer algumas palavras sobre o
tratamento dos fenômenos nervosos - usamos essa palavra no seu sentido mais amplo,
aplicando-a também aos sintomas orgânicos com superestruturação neurótica - em
sanatórios ou por meio de mudanças de ambiente. Muitas vezes é possível constatar que

3 Livro intitulado de “Do poder da mente”.


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os mais diversos fenômenos perturbadores desaparecem quando os enfermos são


alojados em um sanatório, ou depois de uma passagem por uma estância termal, ou
finalmente durante qualquer período de férias no país. Às vezes, esse sucesso é
duradouro, mas na maioria dos casos os sintomas reaparecem após o retorno às condições
normais. Foi assim que tive a oportunidade de tratar uma jovem de 21 anos cujo cansaço
anormal desapareceu completamente durante a internação por apicite, apenas para
reaparecer com igual intensidade na mesma tarde em que voltou para casa.

O efeito de cura de longa duração ou transitório que observamos nessas ocasiões é


explicado de maneiras diferentes. Por um lado, o interesse que todas essas medidas
implicam para a saúde do paciente já atua como fator terapêutico. Por outro lado, durante
esse tempo os conflitos atuais podem ter sido resolvidos ou perderam importância diante
dos quais é possível que o paciente, graças ao De longe, adote uma atitude bem diversa,
além disso, não se esqueça que muitas queixas neuróticas são reações a uma determinada
situação e que, quando ela desaparece, naturalmente perdem toda a razão de ser.

Contudo; a lógica imanente da construção neurótica exige que ela não possa ser
abandonada sem razões justificáveis. Intervenções terapêuticas, como permanência em
sanatório, hidroterapia, cura na montanha, banho de sol, etc., representam, tanto para o
paciente como para o seu entorno, motivo que justifica suficientemente a interrupção do
comportamento neurótico, pelo menos sob sua forma atual. Isso também significa que,
dessa forma, os sintomas neuróticos podem desaparecer, mas não a neurose, ou seja, a
atitude específica do paciente para com os deveres da vida. O mesmo pode ser dito dos
outros procedimentos psicoterapêuticos que não penetram até as últimas raízes do
comportamento neurótico.

As considerações anteriores de forma alguma afirmam ter abrangido de forma exaustiva


todas as possibilidades da psicoterapia não sistemática. No entanto, não foi esse o nosso
finalidade, uma vez que não pretendemos apresentar um catálogo de todos os
procedimentos, mas apenas expor a sua essência através de alguns exemplos ilustrativos.
Não há dúvida de que também existe uma terapia sugestiva não sistemática e que, além
disso, não é praticada intencionalmente. Quando e como isso deve ser diferenciado das
formas de influência psíquica mencionadas anteriormente, depende apenas da definição
do conceito de sugestão.

Considero injustificado adotar, como fazem alguns autores, um conceito de sugestão tão
amplo que engloba qualquer ato de aceitação da opinião de outrem, incluindo, portanto,
todas as possíveis influências educacionais. Para este critério, o método de sugestão
absorve todos procedimentos psicoterapêuticos. Isso apresentaria a necessidade de
estabelecer outras subdivisões e diferenciar, por exemplo, um método de sugestão em si
de outros.

Parece-me mais justo adotar um conceito limitado de sugestão, de modo que apenas as
medidas psicoterapêuticas realizadas pelo médico com intenção sugestiva recebam esse
nome, estando plenamente ciente do que está fazendo. A mera crença nas palavras de
outro não é o mesmo que ser liderado por ele; Tampouco é certo a convicção lógica e a fé
na autoridade são baseadas na sugestão. Vamos tratar a terapia sugestiva não sistemática
junto com a terapia sistemática, com cujas características essenciais ela coincide
naturalmente.
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III. Psicoterapias sistemáticas sem base teórica

1. Já indicamos que, entre os procedimentos desenvolvidos de forma sistemática, é


necessário diferenciar aqueles que representam apenas uma técnica terapêutica, ou
seja, um sistema de meios, e aqueles que, além disso, se baseiam a escolha e a
aplicação desses meios em uma concepção teórica das relações psicossomáticas.
Como explicamos no capítulo IV da parte geral, dentro do segundo grupo existem
apenas duas formas, que são, por outro lado, as únicas possíveis: a psicanálise e a
psicologia individual comparada. Por outro lado, das psicoterapias sistemáticas,
exclusivamente do ponto de vista técnico, podem ser várias. Em primeiro lugar, a
psicoterapia "de surpresa" ou "choque" merece ser mencionada, não pela sua
importância, mas por ser menos sistematizada do que as seguintes. Todos nós nos
lembramos do papel que esses métodos desempenharam no tratamento de todos os
tipos de fenômenos neuróticos durante a guerra. Eles recorreram ao procedimento de
Kaufmann de corrente de alta tensão, ou à brutalização sob qualquer forma. A
interrupção de estados de excitação ou acessos psiconeuróticos que produzem
estados de náusea com injeções de apomorfina, ou com o comprovado procedimento
de borrifar o paciente com água fria, também devem fazer parte desse grupo. Esses
métodos dificilmente podem ser levados em consideração para a terapia dos
distúrbios descritos nesta obra.
O mesmo objetivo que este procedimento propõe, a saber, o de alcançar uma
transformação abrupta, ou melhor, convencer o paciente da integridade objetiva das
funções subjetivamente alteradas, também pode ser alcançado, por um lado, pelo
exercício e, de outro, por todos aqueles procedimentos que merecem o nome de
persuasão no sentido mais amplo da palavra.
A terapia por exercício tem dois aspectos: primeiro, é possível exercer certas funções
ou mecanismos; em segundo lugar, certas atitudes anímicas. Essas orientações
teoricamente diferentes podem coincidir consideravelmente na prática. Assim, por
exemplo, para um paciente que pensa sofrer de um distúrbio gástrico grave e que
sofre de dores e sensações anormais naquela região, posso "acostumá-lo" a ingerir
quantidades cada vez maiores de comida ou então ensiná-lo a suportar esses
fenômenos subjetivos desagradáveis. Às vezes, esses testes podem ser usados para a
psicoterapia de sintomas orgânicos. Em certo sentido, a terapia do trabalho,
mencionada acima, também faz parte desse grupo.

Todas aquelas prescrições que geralmente fazem parte dos chamados exercícios de
concentração, apenas acentuam o segundo aspecto da terapia por exercícios. seu
propósito é tornar habitual, progressivamente e por meio do treinamento, uma certa
atitude ativa de atenção. De minha parte, não considero justo considerar este ponto
como o ponto essencial desta técnica. Esta questão merece algumas palavras de
esclarecimento, por se tratar de um ponto de vista de importância geral. É difundida a
opinião de que esses exercícios, e em última instância todas as formas de terapia a
partir deles, atuam sobre a vontade, conseguindo treiná-la e fortalecê-la. Sem entrar
em detalhes, devo insistir, de acordo com os resultados da moderna psicologia
experimental da vontade (ver LINDWORSKY) e os da psicologia individual comparativa
de ALFRED ADLER, em que não há diferenças na intensidade do ato de vontade.
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A terapia por exercícios não tem a ver com vontade, mas com motivação. A vontade é
governada pela inteligência. Toda a educação da mesma não pode ter mais que um fim
razoável, o de atingir a síntese da personalidade, para que seja consagrada
integralmente à realização dos fins objetivos que teoricamente reconheceu como
válidos. Quando alguém diz que não pode fazer algo que obviamente deveria aspirar,
está na verdade dizendo que não decidiu realmente querer o que parece ser seu
desejo.

Querem exatamente algo diferente, que, no que diz respeito ao fim aparentemente
perseguido, é de não obrar ou agir. Contudo; um dos motivos mais frequentes de um
homem não querer é o de não poder acreditar na possibilidade de sucesso. Em muitos
aspectos, o valor da terapia por exercícios consiste na medida em que instila no
paciente a crença na possibilidade de alcançar o sucesso. Esse tratamento traz a
vantagem para ele, justamente por ser uma terapia, ele ser considerado como
paciente, e, portanto, de forma alguma obrigado a render grandes retornos; pode, sem
diminuir sua autoestima, renunciar ao sucesso, pois quando um trabalho é iniciado não
é possível fazê-lo com perfeição. Desta forma, um motivo poderoso é retirado da
"segunda vontade". Muitas vezes acontece então que o paciente, de certa forma, por
assim dizer, repentinamente e contra suas próprias expectativas, vê sua capacidade de
trabalhar demonstrada. Certamente, essa demonstração não precisa garantir a cura. O
paciente está naquele momento naquele estado em que deseja e não deseja ao
mesmo tempo, "porque a alma é atraída pela verdade, mas detida pelo hábito". O grau
de sucesso que pode ser alcançado com a prática exclusiva dos exercícios depende
inteiramente da estrutura individual do caso. Uma terapia de exercício racional, isto é,
baseada na compreensão psicológica, deve tender a fortalecer gradualmente a
convicção no valor de certas decisões voluntárias por meio da repetição constante de
certas conexões motivacionais apoiadas por reflexões apropriadas.

Já dissemos que não há exercício imediato da vontade e que os numerosos escritos


que a defendem podem às vezes causar mais danos do que benefícios. Nos casos em
que o sucesso pode ser alcançado seguindo essas prescrições, é improvável que elas
tenham sido obtidas pelo mecanismo descrito nestes livretos. De resto, os médicos
deveriam se opor à divulgação desses populares cadernos de leitura, infelizmente, os
neuróticos gostam tanto que acreditam poder encontrar neles a essência e os meios
de curar suas doenças nervosas, pois a experiência de que na maioria das vezes vão
perceber que com esses meios não é possível se livrar de uma doença nervosa,
desestimula o paciente em maior grau e o fortalece na convicção da raridade,
seriedade e incurabilidade de sua doença. Na realidade, os meios de treinar
sistematicamente a vontade não devem pretender agir sobre ela, mas sobre seus
motivos. Deve consistir em proporcionar fins objetivos ao paciente, seja educando-o
em uma concepção de valores adaptada à vida, seja despertando sua fé em suas
habilidades. A aplicação do método inaugurado por Santo INÁCIO DE LOYOLA em seus
"Exercícios Espirituais" baseia-se nessas reflexões. L. STEIN aplicou com sucesso este
procedimento ao tratamento de vários distúrbios de linguagem. Outros autores
também realizaram testes semelhantes, inspirando-se mais ou menos no texto
original.
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Uma discussão mais aprofundada dos problemas e métodos da educação da vontade


nos levaria longe demais na esfera da pedagogia. Porém, não é possível prescindir das
relações íntimas entre pedagogia e psicoterapia, ainda que compartilhem apenas
alguns objetivos e, em parte, também alguns métodos; além disso, trata-se mais de
analogias técnicas do que de verdadeira identidade de método. Uma aplicação sem
crítica de procedimentos psicoterapêuticos à educação infantil, como a que hoje se faz
em alguns pontos, deve ser censurada, pois embora a Pedagogia possa aprender muito
com a Psicoterapia e até ser renovada por ela, não o deveria por isso, ser absorvido
por está. Por outro lado, estes últimos podem fazer uso de métodos pedagógicos,
embora estes geralmente carecem de uma base sólida que possa ser conciliada com os
fatos psicológicos. Por esta razão, é lícito tratar brevemente essas variedades de
psicoterapia neste local. Este grupo inclui as tentativas de modificar a atitude do
paciente em relação às suas funções e, consequentemente, aos seus distúrbios,
introduzindo-o num mundo superior de ideias. Também devem ser citadas aqui as
tentativas de elevar um indivíduo acima de seu destino individual, fornecendo-lhe uma
concepção do mundo, seja ele filosófico, religioso ou social. É discutível que, ao incutir
uma mera convicção teórica, um homem possa ser levado a abandonar sua atitude
dissociativa e hostil em relação à vida. Aqui, como na maioria das psicoterapias, a
personalidade do médico é o fator decisivo. Vários autores consideram a psicoterapia,
em geral, uma ação educativa. Isso é sem dúvida verdade, mas depende do conceito
de educação que você aceita. Seus limites são muito estreitos se, com H. MEIGE, a
psicoterapia é identificada com reeducação mental. Seus esforços psicoterapêuticos se
concentraram principalmente no campo dos tiques, para cujo tratamento ele
aconselhou exercícios sistemáticos em frente ao espelho. Mutatis mutandis também
podem ser usados exercícios análogos em outro sentido; por exemplo, os "exercícios
em repouso" de HIRSCHLAFF. Essas formas de terapia com exercícios buscam
implementar certas funções, especialmente motoras. Às vezes, resultados muito bons
podem ser obtidos, desde que certas pré-condições sejam atendidas, que discutiremos
mais tarde. Todos aqueles testes em que são realizadas diversas atividades psíquicas e
que permitem que o progresso do desempenho se expresse numericamente também
aspiram ao exercício da função. Quanto ao resto, em todos estes métodos, juntamente
com o momento do exercício, entra em jogo outro, ao qual pouca atenção é
comumente dada, mas que com toda probabilidade é responsável pelo sucesso
terapêutico quando ocorre: Refiro-me ao fator de estímulo e para encorajamento.
Certamente não escapou a nenhum dos que devotadamente lidaram com o psiquismo
dos neuróticos que esses indivíduos experimentam angústia diante da vida -
poderíamos falar de "angústia do mundo", usando a palavra que O. SPENGLER
recolocou em uso - falta-lhes coragem para enfrentar as dificuldades da vida, da
profissão e do sustento familiar. Mas, em geral, essa falta de coragem e ânimo
geralmente é considerada uma consequência da insuficiência "nervosa"; Admite-se
que se um homem é "neurastênico", isto é, por definição, se esgota facilmente, não é
de estranhar que ceda às inúmeras dificuldades da vida.

Mas, como veremos com mais cuidado ao lidar com a psicoterapia psicológica
individual, também é possível construir essa conexão ao contrário. É verdade que a
convicção de ser capaz de cuidar menos do que o necessário é causa de desânimo; mas
esta convicção é, por sua vez, uma expressão e produto do desânimo. Quando ao fazer
um trabalho você teme não conseguir fazê-lo - assim se comporta aquele que não tem
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confiança em si mesmo -, é bem possível que fracasse realmente. Assim, é claro que na
terapia por exercício, a demonstração objetiva da capacidade do indivíduo
desempenha um papel pelo menos idêntico ao exercício da função em questão; por
exemplo, de atenção nos distraídos ou de perseverança nos exaustos. O mesmo se
pode dizer dos sucessos terapêuticos através de exercícios de paralisia "funcional" e
mesmo orgânica, aos quais, como se sabe, muitas vezes se acrescenta um componente
psicogênico, também a terapia da ataxia tabética pode ser considerada do mesmo
ponto de vista. De resto, a investigação do grau de participação psíquica em muitos
sintomas de foco, mesmo na própria afasia, seria muito digna de estudo; Observações
ocasionais deram-me a impressão de que a conversão da insuficiência verbal, que de
forma alguma é organicamente condicionada e, por conseguinte, retirada da vontade,
pode constituir um fator não desprezível no quadro geral. Deve-se notar que os limites
entre os vários procedimentos psicoterapêuticos descritos até agora são, obviamente,
muito imprecisos. O "treino" para suportar certas penas, as tentativas de fortalecer a
posição diante da doença por meio do esclarecimento de suas causas ou da obtenção
de um princípio moral de firmeza formam uma unidade indivisível na atuação do
psicoterapeuta. Também é uma abstração teórica falar do exercício de uma função
anímica. Sempre influenciamos o homem em sua totalidade vivente.

2. Outra forma de psicoterapia é aquela que busca por vários meios encorajar o paciente
a mudar sua atitude. O esforço terapêutico não é dirigido como nos outros métodos
descritos contra um determinado sintoma ou função perturbada, mas visa aspirar uma
nova atitude em relação à vida, consciente ou inconscientemente. Como tipos desta
psicoterapia podem ser citados: a persuasão de DUBOIS e os procedimentos sugestivos
em todas as suas várias nuances. Possivelmente não será justo para mim referir-me
aqui ao método DUBOIS, uma vez que este autor construiu uma teoria de sua
psicoterapia e, portanto, merece ser citado no próximo capítulo. Este ponto pode ser
discutido, bem como muitos outros, mas minha impressão pessoal é que a suposta
base teórica do procedimento de persuasão, que seu autor se esforçou para derivar de
considerações gerais, até mesmo metafísicas, tem pouco a ver com a verdadeira
essência dessa forma de psicoterapia. É digno de aplauso se um médico tenta
harmonizar sua concepção terapêutica com sua concepção de mundo, mas não é
possível basear imediatamente a terapia em uma filosofia do determinismo ou ponto
de vista semelhante. Não há dúvida de que a terapia persuasiva também é conciliável
com outra concepção, por exemplo, indeterminista. Por outro lado, o fundamento
teórico de uma psicoterapia não deve ser inspirado pela metafísica ou pela concepção
de mundo; Deve começar com representações de processos anímicos e seus efeitos,
que devem, em última instância, ser baseados na metafísica.

No entanto, essas representações teóricas faltam na teoria de DUBOIS, que na verdade


se inspira em um único axioma que poderia ser chamado de primazia da razão. Assim,
vemos que DUBOIS sempre insiste que a cura é alcançada "em virtude de uma
compreensão clara", pelo "desenvolvimento da razão". Consequentemente, este
tratamento é, por um lado, uma continuação sistemática do princípio da "ilustração" e,
por outro, a tentativa de fazer com que o paciente compreenda a sua participação
ativa na produção de sintomas e doenças, e que, reciprocamente, tem a capacidade de
interromper essa produção e dominar a doença. DUBOIS diz que, com a ajuda de
reflexões lógicas, tenta demonstrar isso ao paciente. No entanto, a impressão que tive
12

ao ler os escritos deste autor, apoiada nas falas de seus ex-pacientes que pude
observar, é que neste tratamento a personalidade do médico desempenhou um papel
essencial (DUBOIS foi, com certeza, um homem tão compreensivo e claro quanto
gentil). O fato de DUBOIS não ter criado uma escola e dificilmente ter encontrado
sucessores também me parece falar neste sentido.

3. Em vez disso, a outra orientação psicoterapêutica desenvolveu um sistema e uma


técnica ensináveis. O tratamento por sugestão, em todas as suas nuances, é de grande
importância e, portanto, merece um tratamento posterior. É claro que não vamos
apresentar os princípios da técnica da hipnose ou da sugestão diurna, pois isso
corresponde, é claro, a obras especiais. Aqui vamos determinar apenas a posição que,
por seus princípios, corresponde a ela dentro da Psicoterapia.
Além disso, tentaremos formular a essência desse procedimento.
Não é nossa missão dar uma definição de hipnose e sugestão, nem expor sua
fenomenologia. O fator decisivo para o sucesso terapêutico é, com toda probabilidade,
a exclusão da crítica consciente, isto é, a suspensão da atitude de protesto contra a
influência. PAUL SCHILDER insiste, com razão, que a hipnose não é obra do
hipnotizador, mas sempre do hipnotizado. Ao aceitar antecipadamente o assunto para
hipnotizar os desenhos do hipnotizador, sem conhecê-los ainda, ele torna possível o
efeito hipnótico. Essa atitude também tem como consequência que apenas as ordens
que vêm do hipnotizador são aceitas, tudo o mais é momentaneamente excluído. O
efeito hipnótico, então, consiste em que novos elementos sejam envolvidos na
conexão psíquica da pessoa hipnotizada que são aceitos. Dependendo da natureza
desses novos elementos, da forma como são transmitidos e da riqueza de relações que
existem entre eles e aqueles que já existem, eles serão ou não organicamente
englobados na totalidade da personalidade, ou permanecerão mais ou menos isolados
como "corpos estranhos na consciência.” É fato incontestável, mesmo quando é difícil
encontrar uma explicação satisfatória, que a esfera de influência desses elementos não
se limita exclusivamente à consciência ou seus conteúdos, nem ao puramente
psíquico, mas penetra naquelas camadas da unidade psicofísica. do ser humano no
qual, aparentemente, não há mais espaço para regulações psíquicas e dominação
voluntária. Lembre-se, por exemplo, dos efeitos corporais da sugestão hipnótica, dos
quais é impossível duvidar e que foram repetidamente mencionados em vários lugares
desta obra.
No entanto, não se deve esquecer que esses efeitos não representam, de forma
alguma, uma prerrogativa da hipnose. Também outras formas de influência anímica
podem, em princípio, alcançar os mesmos resultados. A mesma terapia, pela
persuasão de DUBOIS, afirma ter alcançado muitas vezes influências e funções
corporais cuja dependência imediata da alma não poderia ter sido admitida de
antemão; por exemplo, a motilidade do tubo intestinal. Da mesma forma, a psicanálise
e a psicologia individual comparada podem se orgulhar de ter obtido considerável
sucesso com esse procedimento, mesmo quando renunciam, em princípio, à aplicação
do método sugestivo.
Portanto, devemos aceitar, por mais repugnantes que sejam nossos hábitos de
pensamento impostos pela Ciência Natural e pela Biologia, que a esfera de influência
do anímico sobre o somático é extraordinariamente maior do que normalmente se
supõe. A atitude hipnótica pode ser usada de muitas maneiras para fins
psicoterapêuticos. O método mais comum é o da sugestão pós-hipnótica. Qualquer
13

estímulo que venha do hipnotizador - comando ou sugestão - tem por si mesmo a


tendência de continuar agindo além do estado hipnótico. Pelo fato de ser aceita, pela
"atitude" mental e pela afirmação da personalidade, é comparável, de certa forma, à
aproximação voluntária de um fim. Assim, torna-se o fator determinante em ações
sucessivas. Nem a abordagem voluntária de um fim precisa sempre permanecer
"consciente", o mesmo acontecendo com as "representações superiores", ou
"tendências", ou "tarefas", etc., que determinam o curso do pensamento lógico. Não
só sabemos que, caminhando preocupados com a conversa, sem estar atentos à
direção do nosso caminhar, continuamos avançando sem nos desviarmos de nosso
caminho, mas também conhecemos o que pode ser chamado de "disposição habitual
da vontade". Uma vez reconhecido o valor de uma linha de conduta, ela continuará a
determinar minhas ações, mesmo que não me proponha explicitamente fazê-lo todas
as vezes. A experiência mostra que uma sugestão única durante a hipnose funcionará
apenas por um período limitado de tempo; depois de algumas horas ou dias, perde seu
poder. Obviamente, a atitude ou linha de conduta sugerida ainda não se encaixou
realmente, e portanto de forma eficiente, com a personalidade geral. Somente por
meio de um acúmulo de hipnose, em que a mesma sugestão é sempre repetida, pode-
se conseguir que ela penetre profundamente no âmago da personalidade e que dela
emane uma influência determinante duradoura sobre as ações. Também aqui se
descobre a analogia com as atitudes voluntárias conscientes que, como se sabe, para
engendrar um comportamento habitual de acordo com o princípio escolhido,
requerem várias repetições. A essência da sugestão diurna é análoga à da hipnose, da
qual só difere devido ao diferente estado de consciência dos sujeitos a ela submetidos.
Seu campo de aplicação é o mesmo para ambos, com a diferença de que a hipnose não
pode ser obtida com igual facilidade em todos os indivíduos. Para a técnica hipnótica,
como para todas as formas de psicoterapia, é válido o princípio de que a direção do
procedimento deve estar inteiramente nas mãos do médico. Especialmente para o
tratamento sugestivo, é da maior importância terapêutica que a orientação iniciada
seja mantida de forma consistente. Não nos é possível apresentar os detalhes da
técnica hipnótica, nem discutir a teoria da hipnose, sobre a qual obras especiais
podem informar. KRONFELD, por exemplo, pode ser consultado, cuja exposição é
interessante, mesmo do ponto de vista teórico . Em vez disso, devemos dizer algumas
palavras sobre as indicações e contra-indicações e sobre as possibilidades da terapia
hipnótica. Não é necessário insistir que a hipnose é um método terapêutico que deve
ser aplicado pelo médico e que não deve se tornar um passatempo social. Nem
acreditamos ser necessário falar sobre os danos que a hipnose pode causar quando
tratada sem o conhecimento adequado. Pode-se considerar indubitável que a hipnose
não pode influenciar a lesão fundamental nas doenças orgânicas. Em vez disso, a
possibilidade de alcançar um certo grau de influência deve ser admitida. Se tivermos
em mente que alterações obviamente orgânicas, modificações estruturais duradouras
podem, no final, ser produzidas por meios psicogênicos - lembre-se da concepção da
origem psicogênica das úlceras gástricas - devemos também contar com a
possibilidade de que influências psíquicas possam alcançar a restituição, ou pelo
menos prepará-lo.
Naturalmente, não devemos acreditar que uma única hipnose pode fazer uma
modificação orgânica desaparecer repentinamente. No entanto, não se deve duvidar
que, por meio de intervenções repetidas, sucessos podem, em alguns casos, ser
alcançados. Por outro lado, há outras observações que se mostram somáticas, mesmo
14

nos casos em que não é possível admitir uma influência imediata, isto é, consciente e
voluntária. Sabemos, graças às investigações de BAUER e SCHILDER, que, por meio da
hipnose, os sintomas indicativos de origem labiríntica e cerebelar podem ser
influenciados; sabemos também que as acinesias encefalíticas e pós-encefalíticas
também podem reagir dessa maneira.
Por fim, permito-me assinalar que, de acordo com as investigações que E. FREUND
realizou sob a minha direção, também a localização e a intensidade das pós-imagens
ópticas, que seguramente se baseiam em fenômenos fisiológicos e são subtraídas da
influência voluntária, podem apresentar variações. de acordo com a atitude psíquica.
Claro, mesmo nos casos em que a hipnose falha em suprimir a doença fundamental,
ela pode ser usada para modificar sua elaboração psicogênica ou atitude em relação a
ela, da mesma forma que outras formas de psicoterapia.
De resto, KRONFELD acredita que a hipnose também pode ser utilizada para fins de
diagnóstico diferencial, visto que as doenças que podem ser influenciadas desta forma
devem ser diagnosticadas como psicogénicas. No entanto, os fatos citados acima, por
exemplo, aqueles relativos ao parkinsonismo pós-encefalítico, falam contra essas
afirmações enfáticas. Que o fracasso da hipnoterapia não é suficiente para demonstrar
a gênese puramente orgânica de um fenômeno é, desde logo, evidente.
Não é missão destas páginas apresentar as indicações especiais da hipnose. Isso foi
suficientemente tratado nos capítulos anteriores deste livro. 4
Em vez disso, a seguinte pergunta deve ser respondida: O que pode ser alcançado por
meio da hipnose? Deve ter razão KRONFELD, que considera esta forma de psicoterapia
sintomática. “Com a hipnose só é possível conseguir a supressão dos sintomas”. Esse
fato explica as inúmeras recaídas ou novas formações sintomáticas que costumam
aparecer nesses casos, enquanto sua verdadeira psicogênese não foi descoberta.
Porém, há casos em que basta uma ação sintomática e muitos outros em que não é
possível recorrer a outra. Se se tratam de fenômenos particularmente incômodos -
seja para o paciente, seja para o seu entorno -, ou que por algum motivo exijam sua
remoção urgente, a aplicação da hipnose não só se justifica, como também se indica.
Nestes casos, deve ser considerado como o método de escolha. Por outro lado, não
importa quantas hipnose sejam realizadas, uma transformação da personalidade
integral não será alcançada, nem uma mudança na direção da vida, nem uma nova
concepção das relações entre o Eu e o mundo, nem uma nova atitude em relação à
existência. O psicoterapeuta que considera que deve, antes de tudo, atingir esses fins,
passará sempre sem hipnose, pois os casos de exceção mencionados são
extremamente raros. Por outro lado, no tratamento dos fenômenos funcionais do
corpo, ou nos casos de elaboração psicogênica de sintomas orgânicos, a hipnose pode
fornecer bons resultados. Os casos excepcionais mencionados também fazem parte
deste grupo.
Entende-se que onde os componentes somatogênicos são os mais importantes, o
sucesso da terapia hipnótica pode ser apenas temporário ou parcial. Porém, pode-se
conseguir, por meio da Psicoterapia, diminuir consideravelmente a ação dos fatores
somáticos, medidas terapêuticas direcionadas à somática também podem ser tomadas
para atuar de forma mais intensa, suspendendo a superavaliação psicogênica dos

4Este artigo de Allers foi retirado do livro “Psicogénesis y psicoterapia de los síntomas corporales” de
Oswald Schwarz, no qual Allers se refere aos artigos anteriores.[N.T.]
15

sintomas e seu uso para fins neuróticos. Já dissemos que as recaídas nunca podem ser
excluídas.

IV. Métodos psicoterapêuticos com base teórica

1. O método psicanalítico passou por muitas transformações desde o seu início, que
remonta aos "Estudos sobre a Histeria" de BREUER e FREUD, publicados há 30
anos. O método psicanalítico, atualmente reconhecido por FREUD e sua escola, em
nenhum lugar é sistematicamente exposto. Apenas em vários tratados e manuais,
no capítulo sobre Psicoterapia, também há considerações sobre a técnica
psicanalítica.
Essas obras não vêm, de forma alguma, de autores que não sejam partidários
incondicionais da orientação psicanalítica e que, conseqüentemente, defendam
um método mais ou menos modificado, moderado ou eclético. Por outro lado,
muitas observações técnicas dispersas são encontradas na literatura psicanalítica,
sem qualquer tentativa de reuni-las em um todo conectado sistematicamente
desenvolvido. Por tudo isso, é extremamente difícil apontar as linhas essenciais da
técnica que prevalece atualmente para quem, como o autor, não faz parte do
movimento psicanalítico, mas se limita a observar com interesse seu
desenvolvimento. Se apesar de tudo eu me atrever a fazer tal ensaio, faço tendo
em mente que aqui basta expor as linhas fundamentais.

O espírito da conseqüência não pode ser negado aos psicanalistas, que apenas
admitem a técnica ensinada e reconhecida por FREUD. É evidente que, para
aqueles que estão convencidos de que encontraram as leis da sucessão anímica, o
método baseado nelas deve parecer-lhes a forma mais perfeita de psicoterapia.
Compreendendo, portanto, perfeitamente que os partidários da psicanálise não
podem se contentar com reconhecimentos parciais, eles exigem que a teoria seja
aceita em sua totalidade. Não acreditam na certeza de certo ponto da teoria e,
consequentemente, das consequências práticas que dela decorrem, mas
pretendem ter encontrado a teoria definitiva, ou pelo menos seguem o caminho
certo para alcançá-la. Além disso, mesmo que apenas esta última convicção seja
sustentada, o estado de conhecimento assim alcançado deve ser considerado o
mais perfeito momentaneamente e como a única linha de conduta na qual a
psicoterapia deve se inspirar. Como explicado na parte geral, para a concepção
psicanalítica o modo de ser atual de um indivíduo resulta de duas causas, sendo
indiferente se o homem é "normal" ou neurótico. Uma dessas raízes é
representada pela constituição; o outro, por experiência. Este último começa com
a vida. Uma transformação de algumas das atitudes desse homem, como
predeterminadas por toda a sua experiência global, só pode ser alcançada
elucidando a história individual em suas menores ramificações.
A psicanálise, como terapia, se quer ser fiel aos seus princípios, não pode
contentar-se em suprimir um certo sintoma ou em resolver um conflito mais ou
menos atual, mas deve aspirar ao esclarecimento completo de toda a
personalidade em seu modo de ser atual e em seu desenvolvimento. O propósito
16

da psicanálise não é descobrir a partir de quais conflitos momentâneos um


sintoma se desenvolveu, mas sim responder à seguinte pergunta: por que esse
homem, ao se deparar com um determinado conflito, reagirá produzindo
sintomas? De onde vem essa habilidade?
É verdade que, por meio da psicanálise, os sintomas isolados também são
suprimidos; Mas esse não é, de forma alguma, o propósito desse método, nem da
psicologia individual. Naturalmente, muitas vezes acontece que o psicoterapeuta,
de uma orientação ou de outra, se depara com casos em que, compelido por
circunstâncias externas, deve contentar-se com um resultado que, do seu ponto de
vista, representa apenas um sucesso parcial. Em todos esses casos, será vítima de
um sentimento de insatisfação e inadequação em relação ao seu trabalho. Dessa
tendência fundamental de ambas as orientações depende o fato de que o sintoma,
clinicamente em primeiro plano, constitui o ponto de partida do esforço
terapêutico, mas sem que nele se concentre. Para caracterizar a técnica
psicanalítica, vamos nos referir apenas à forma como ela é praticada atualmente. A
seguir, mencionaremos brevemente os métodos derivados dos diferentes períodos
evolutivos da psicanálise. Conforme explicado na parte geral (págs. 23-24),5 o
método psicanalítico se baseia em dois princípios metodológicos: o das
associações livres e o da interpretação. Na verdade, são dois princípios diferentes
que não podem ser derivados um do outro. Alguns autores afirmam que as
experiências adquiridas com o método das associações livres desenvolvidas com o
auxílio da indução e dos julgamentos de analogia conduziram aos princípios da
interpretação, e que esta última não é, em princípio, mais do que uma abreviatura
baseada em repetidas observações empíricas do primeiro procedimento. Porém, a
meu ver, a interpretação representa um ponto de vista totalmente novo, uma vez
que, em primeiro lugar, renunciando à verificação em cada caso particular - que
pode consistir no consentimento do paciente aos resultados fornecidos pelas
associações -, a validade geral para todos os homens das relações simbólicas
encontradas é afirmada e, em segundo lugar, a compreensibilidade para o analítico
torna-se assim essencial.
As associações livres são verificadas seguindo a chamada "regra psicanalítica
fundamental", que exige que o paciente se entregue às suas ocorrências sem
criticá-las, manifestando-se à medida que vão surgindo, sem se deixar influenciar
por considerações de qualquer espécie, nem mesmo por o desejo de uma
exposição ordeira. As interrupções inevitavelmente aparecem, a cadeia de
associações cessa e o paciente afirma que e "não consigo pensar em nada" ou que
"não posso dizer.“ Já se sabe que a psicanálise interpreta esses fenômenos como
resistências, ou seja, como sinais da interceptação exercida sobre o material
reprimido que tenta emergir, superando as forças repressivas que tendem a
mantê-lo no inconsciente. A resistência é, portanto, um sinal importante para o
analítico, a quem revela a presença de elementos importantes na série associativa.
A introdução do conceito de resistência e sua interpretação, como princípio
metódico, já está fora da esfera puramente técnica. Embora o uso da resistência

5 O número das páginas referidas foram adaptadas para a tradução do artigo, ademais Allers indica as
páginas de seu outro artigo intitulado “Conceito e método de interpretação”, onde também se encontra
no livro “Psicogénesis y psicoterapia de los síntomas corporales”, este artigo se encontra traduzido:
https://drive.google.com/file/d/18Ny5OjzF1daynd1jERIaJXnsHj-HfDnC/view?usp=drivesdk (N.T.)
17

para atingir os objetivos da psicanálise ainda seja um momento técnico, seu


conceito faz parte da teoria ou explicação dinâmica do processo analítico.

Para esse processo, FERENCZI e RANK encontraram fórmulas precisas, que


podemos adotar porque, com efeito, expressam com fidelidade as concepções
teóricas da psicanálise (nas páginas seguintes é utilizada a exposição desses
autores, que é parcialmente reproduzida literalmente). Para ambos os
pesquisadores, a psicanálise representa "um processo determinado
individualmente e limitado temporalmente no curso da evolução da libido do
paciente". Este processo evolui automaticamente. O analista só deve intervir para
promover seu desenvolvimento nos pontos onde começa uma perturbadora
marcha neurótica na forma de "resistência". Mas esse processo ou fase do
desenvolvimento da libido é "artificial" e "inaugurado e mantido pela
transferência"

Antes de esclarecer cuidadosamente este último conceito, devemos fazer uma


pausa para considerar as duas características mais essenciais do processo de cura
de acordo com a concepção psicanalítica. Em primeiro lugar, a transição que se
desenvolve durante a análise de uma atitude neurótica para uma normal é um
processo por meio de várias situações instintivas, portanto vinculadas a
determinados pressupostos e leis. Em segundo lugar, o analítico não está em
posição de promover ativamente a marcha do progresso. A sua atividade limita-se
a esperar, e tudo o mais a promover, o processo nos momentos que ameaçam
parar. Por fim, o analítico, graças à sua pessoa, à sua atitude para com o paciente e
ao estabelecimento da situação analítica, cria o ambiente favorável ao
desenvolvimento desse processo.
Segundo a teoria psicanalítica, a neurose, ou melhor - levando-se em conta que
sua configuração especial também está sujeita a outras determinações - o
neurótico no indivíduo tem sua origem em um distúrbio na evolução da libido, que
é estabelecido quando certas quantidades de libido são privadas de satisfação e
quando as representações do instinto são simultaneamente reprimidas. O instinto
privado de seus fins próprios, e sem ter podido buscar novos, atua em
profundidade e acaba surgindo de forma neurótica. Esses impulsos instintivos
devem, portanto, estar sempre "em tensão".
De acordo com a estrutura instintiva original, que sob o primado do princípio do
prazer tende à sua satisfação imediata, esses instintos têm uma tendência
expansiva. Contudo; esse material reprimido existe em cada indivíduo. As
tendências libidinais associadas às representações censuradas engendram uma
"tendência geral à transferência" (FERENCZI), em que se revela um fundo humano
comum, de forma análoga ao que acontece nos sonhos de forma simbólica.
Quanto mais abundante for o material liquidado ou sublimado que se acumula nas
profundezas acrônicas do inconsciente, mais intensa será a tendência à
transferência, pois esta nada mais é do que a aceitação de qualquer indivíduo
como objeto dos instintos coordenados a as performances censuradas. A
persistência inalterada da censura, colocada a serviço do "ideal do ego", impede o
paciente de perceber a essência e a origem dessa transferência. Como no sonho, a
representação instintiva aparece aqui mascarada e falsificada
18

O analítico é uma "imagem” do objeto original da libido. A característica


fundamental da situação analítica deve ser vista na circunstância de que uma
expansão da libido, geralmente restrita na vida real e em maior grau mesmo na
vida neurótica pelas razões acima mencionadas, não só não é inibida, mas
ocasionalmente favorecido. Contudo; O material que pode ser descoberto
superando a resistência, e que também nela se manifesta, deve ser distinguido,
segundo FERENCZI e RANK, das tendências libidinais que se revelam na
transferência. Os dois grupos diferem um do outro, não apenas pela diversidade
de história e origem, mas também pela forma como se apresentam na experiência
do paciente. No primeiro caso - na resistência - é material mnêmico pré-consciente
ou ideais e qualidades de caráter manifesto e pertencentes ao Self. Desse modo,
"os fragmentos mais essenciais do desenvolvimento perturbado do indivíduo são
reproduzidos", segundo a referida concepção de neurose, como inibição do
desenvolvimento. Por outro lado, as tendências libidinais que atuam na
transferência reproduzem situações que na maioria das vezes não foram
conscientes e que, depois de vivenciadas parcialmente durante a evolução infantil,
foram imediatamente vítimas do recalque, e somente na transferência são
vivenciadas. pela primeira vez intensamente.
Sobre este ponto é conveniente indicar o seguinte: FREUD, no início de suas obras,
havia atribuído papel principal à função de "recordar", considerando-a menos
essencial, para fins de psicanálise, reprodução ou "repetição". De acordo com a
terminologia psicanalítica, a reprodução não significa apenas lembrar um evento
vivido no passado, mas uma espécie de revivescência real de uma situação. Desse
modo, aparece dotado de uma espécie de realidade própria, enquanto na
memória a experiência não aparece como tal, mas com um caráter passado (de
acordo com uma feliz expressão de LINCKE, "experiências de gaveta".

A forma como essas experiências são reproduzidas deve ser considerada, é claro,
como a única forma possível e adequada quando se trata realmente de situações
que nunca foram vividas plenamente porque uma repressão as impediu. Por este
motivo, várias análises, entre as quais FERENCZI e RANK devem ser citadas em
primeiro lugar, aspiram a obter "memórias atuais”. Tem-se a impressão de que,
mesmo dentro da escola FREUD, ainda não existe um consenso total sobre essas
questões. Os dois autores citados certamente têm razão ao afirmar que suas
modificações na técnica psicanalítica são consistentes com o novo
desenvolvimento teórico que FREUD deu à sua doutrina nos últimos anos. Por
outro lado, é impossível deixar de ver que na mais moderna transformação da
técnica analítica revivem as concepções dominantes nos primeiros estudos de
FREUD.
Embora seja inegável que há diferenças essenciais entre o procedimento catártico
e as tendências atuais, não é menos que as analogias também são consideráveis.
Tanto num caso como no outro, espera-se que certas experiências sejam revividas
conscientemente, para poder assumir uma posição definitiva e fundamentada da
personalidade. Já se sabe que embora a análise possa partir, em princípio, de
qualquer elemento anímico, ela costuma começar, preferencialmente, em
determinados pontos. Esses são geralmente os sintomas neuróticos evidentes,
sonhos e ações fracassadas, no sentido mais amplo da palavra, cujo significado
FREUD esclareceu suficientemente em "Psicopatologia de a vida cotidiana".
19

Já que não podemos continuar a nos ocupar com os detalhes da técnica, vamos
nos voltar para o estudo do problema de como a psicanálise representa o processo
de cura. Aproveitaremos esta oportunidade para expor brevemente a posição do
analítico mais uma vez.
A nova mudança vivida pelas concepções psicanalíticas, iniciada em teoria pelo
escrito de FREUD "Além do princípio do prazer" e na prática pela obra de
FERENCZI, torna mais difícil encontrar uma forma unívoca da essência do processo.
cura analítica. De modo geral, pode-se dizer que o novo desfile de situações
infantis, seu contraste com as normas de conduta aceitas pelo "ideal do ego"
constituem o momento essencial. Esta concepção, que certamente é a que melhor
expressa o novo desenvolvimento da escola psicanalítica, contrasta com a velha
afirmação de que o essencial era a liquidação - concebida de forma
preferencialmente dinâmica ou biológica - das tensões instintivas acumuladas no
inconsciente. Qualquer que seja a teoria aceita sobre o processo de cura, sempre
se considera que o essencial é a correção de uma evolução que, devido a
influências iniciais, foi perturbada ou desviada. Essa correção não é obra do
analítico ou consequência das noções e verdades fornecidas ao paciente; por outro
lado, a primeira só pode referir-se a duas ordens de fatos, sendo o objetivo a ser
proposto pelo analítico em cada caso diferente. Já vimos que a neurose tem uma
origem dupla: por um lado, vem do passado, de fatores constitucionais pré-
formados e da experiência individual, especialmente desde a infância; por outro
lado, a predisposição neurótica requer um conflito real para se manifestar.

É, portanto, concebível uma solução que, sem perturbar as estruturas e atitudes


vinculadas ao passado, contentar-se em suprimir o conflito atual, isto é, objetivar
modificar a atitude do paciente corrigindo parcialmente sua situação instintiva. No
entanto, a solução que poderíamos chamar de correta só será alcançada quando a
análise conseguir suprimir os distúrbios originais. É apenas um problema além das
pré-condições que devem existir para que a cura ocorra. Se eu interpretar as
teorias psicanalíticas de maneira justa, o sucesso da cura depende da tendência
imanente de todos os homens à saúde mental. Essa confiança na "normalidade"
pré-formada da evolução individual, que sempre se manifestaria se as
perturbações externas não fossem acrescentadas, pode ser comparada com a
concepção que vê no "progresso da cultura" a tendência evolutiva natural da
humanidade. Não é possível negar a grandeza dessa concepção otimista. Por outro
lado, deve-se confessar que a assistência médica seria impotente se a tendência
imanente da pessoa já fosse "anormal" de antemão.

2. Como já indicamos, em todos os estágios de evolução da escola "ortodoxa"


surgiram ramificações que perseveraram em um desses estágios de evolução, ou
então amalgamaram pensamentos psicanalíticos com outros de origem diversa. .
Assim, por exemplo, L. FRANK continua praticando o método catártico, com o qual
a psicanálise começou, e que aspira a alcançar o renascimento consciente de
situações afetivas não resolvidas a fim de fornecer uma saída para o afeto
patogênico - o corpo estranho na alma -. A concepção de STEKEL, que também
vem da teoria ortodoxa, só podemos citar. C. G. JUNG harmoniza as concepções de
FREUD de natureza analítica com as tendências evolutivas peculiares e próprias de
um indivíduo. Descobri-los estudando seus comportamentos e sonhos, e tirar
20

proveito desse conhecimento para dar ao paciente orientações positivas para a


configuração posterior de sua vida. Vemos aqui surgirem, de forma atenuada,
ideias que são fundamentais para a orientação terapêutica da escola ADLER.

3. A psicologia individual comparativa considera todo comportamento humano,


tanto normal como neurótico, sob a categoria de finalidade, como já explicamos
na parte geral. Por consequência, primeiro trabalho do psicoterapeuta é
proporcionar um quadro tão perfeita quanto possível do comportamento geral.
Não importa o que o paciente nos diz, mas o que ele faz. Somente quando o
médico tiver conseguido formar uma ideia, que num primeiro momento
certamente será esquemática, que lhe permita sintetizar o comportamento geral
do paciente em uma única forma, ele será capaz de mostrar gradativamente ao
paciente o significado de suas ações e comportamentos. Em geral, observa-se que
o paciente rejeita veementemente a possibilidade de que seus sintomas estejam
adaptados a uma finalidade e, portanto, possam ser considerados voluntários. É
necessário um trabalho paciente para fazê-lo admitir que tal mecanismo existe e
que ele mesmo pode tê-lo usado. Nessa forma de psicoterapia, então, é uma
questão de fazer o paciente entender que ele mesmo gera seus sintomas para
alguma finalidade. Além disso, é conveniente mostrar-lhe que, agindo assim,
obedece aos mesmos princípios que nas demais situações da vida. Por fim, ele
deve descobrir que sua atitude perante os problemas da vida é ditada por seu
desejo de poder, e que a correção desse erro, que neste caso também é a causa de
sua doença, só é possível moderando as exigências da vontade de poder graças à
adaptação à sociedade e ao reconhecimento dos fins úteis gerais de todos os
homens.

O esquema geral da psicoterapia psicológica individual exige, portanto, do médico


que compreenda todas as ações ou omissões - a palavra ação em seu sentido mais
amplo, segundo os critérios estabelecidos na parte geral (págs.12-13)6 - a partir de
o ponto de vista do paciente, a partir de seu destino pessoal e de suas condições
individuais de vida. Sem dúvida, essa atitude exige do médico não apenas bom
julgamento clínico, mas também considerável habilidade para julgar os homens e a
sociedade. Também pode forçar o médico a aceitar maior ou menor
responsabilidade. A psicologia individual também usa a orientação fornecida por
sonhos e atos falhados. Mas o sonho, mais do que “via real” para acessar o
inconsciente, serve para descobrir as atitudes e modos de comportamento do
paciente. Em oposição à psicanálise, a psicologia individual insiste na tendência
prospectiva do sonho, em que se delineia um possível comportamento futuro. Às
vezes - esses casos certamente são raros - basta dar ao paciente o conhecimento
da autoprodução e da conformidade com o fim dos sintomas para a cura. Mas em
todos os casos mais difíceis, o trabalho de esclarecimento psicológico individual
deve penetrar mais profundamente. Entre parênteses, vale notar que a gravidade
de um quadro patológico, no sentido da psicologia da neurose, e a gravidade do
quadro, clinicamente, não se sobrepõem de forma alguma. Sintomas de aparência

6Allers se refere novamente ao seu artigo “Conceito e método de interpretação”. (N.T.)


https://drive.google.com/file/d/18Ny5OjzF1daynd1jERIaJXnsHj-HfDnC/view?usp=drivesdk
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moderada podem ser uma expressão de atitudes neuróticas muito tenazes e


considerável afastamento da vida, desde que sejam adequados para permitir que o
paciente evite os deveres da vida. A missão subsequente do psicoterapeuta, à
medida que penetra na estrutura da personalidade neurótica, não se reduz a
mostrar que o paciente produz seus sintomas, nem a revelar o que pretende
alcançar com eles, mas deve esclarecer como passou a adotar essa atitude diante
da vida. Isto significa que deve descobrir não só a vontade de poder, mas também
a situação primária de inferioridade que se esconde atrás da asa e que nunca foi
verdadeiramente superada, sendo por isso o verdadeiro ponto de partida de todo
o "arranjo". Para conseguir isso, o psicólogo individual deve examinar todos os
tipos de detalhes aparentes na história de seus pacientes e também quaisquer
anormalidades que ainda possam existir. Qualquer que seja a aparência do
neurótico, a influência decisiva pode ter vindo de qualquer inferioridade. Também
aqui se manifesta mais uma vez a necessidade de um treinamento médico
profundo e de um espírito de observação altamente treinado por parte do médico.
A psicoterapia não se reduz a conversas, nem a convencer o paciente ou a apenas
esclarecer a situação. Deve tentar abarcar o homem todo, mesmo em seu aspecto
somático.

O papel do psicoterapeuta psicológico-individual é, portanto, consideravelmente


mais ativo do que o do psicanalítico. Ele não acompanha o desenvolvimento de
uma espécie de processo natural, que só pode acelerar ou dirigir, mas atua com
toda a energia, com todo o peso de sua personalidade no destino do paciente.
Além disso, tenta incutir no paciente objetivos e concepções específicas sobre o
ser humano e o comportamento. Isso equivale a dizer que, para muitos indivíduos,
a psicologia não pode ser considerada exclusivamente como um procedimento
puramente médico. É possível praticar a psicanálise independentemente de uma
concepção do mundo e dos juízos de valor sobre os homens, da mesma forma que
se cultiva a biologia experimental ou qualquer outra ciência natural. Em vez disso,
o psicólogo individual aceita certas normas com antecedência. Este procedimento
de tratamento de enfermos só pode ser usado com sucesso por quem acredita na
necessidade de um indivíduo se unir a seus semelhantes e à comunidade, e que
também está persuadido de que o homem, em última análise, é um ser bom. .
Além disso, o psicólogo individual talvez tenha uma ideia mais elevada da ação
humana e da capacidade do espírito de triunfar sobre a matéria.

4 Para quem está longe das tendências psicoterapêuticas modernas, o fato de


esses métodos tentarem submeter a infinita diversidade do ser humano a fórmulas
rígidas pode inspirar certa desconfiança. Com efeito, uma das censuras mais
comuns que tende a ser levantada contra a psicoterapia é que ela esquematiza
excessivamente. No entanto, isso só é verdade aparentemente. Mesmo na
psicanálise, que admite mecanismos que atuam como forças naturais e, portanto,
corre maior risco de enquadrar o caso particular em um esquema, há espaço
suficiente para a arte individualizante do médico. Isso ocorre, em maior grau, na
psicologia individual, que, neste caso, faz jus ao seu nome. Porém, ambos os
métodos terapêuticos nos fornecem indicações específicas sobre como conceber o
caso e como se orientar na complexidade do destino individual. Mas, usando uma
comparação de OSWALD SCHWARZ. Pode-se dizer que tudo isso nada mais é do
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que o primeiro jogo de xadrez jogado pelo médico e pelo paciente. Tal como no
gambito do rei ou na abertura espanhola os primeiros movimentos já estão fixos e
a capacidade combinatória do jogador se manifesta para além deste
desenvolvimento convencional, também na Psicoterapia. É verdade que em um
caso esperamos encontrar destinos de instinto e, no outro, conflitos entre a
vontade individual de poder e as normas da sociedade; Mas a forma como se
desenvolvem em cada caso, os momentos que impediram a liquidação da situação
edipiana, aqueles que fizeram a vontade de poder aumentar
desproporcionalmente, restringindo o desenvolvimento do sentimento de
comunidade, exigem sempre a arte intuitiva do psicoterapeuta. Já indicamos que,
mesmo no âmbito da patologia somática, o caso particular nunca se reduz a ser o
simples representante de seu tipo. Como é natural, isso ocorre com maior
intensidade onde a alma entra em ação, ou melhor, onde atua de forma
predominante. Mesmo que tenhamos falado sobre intuição aqui, não se deve
acreditar que a psicoterapia requer dons muito especiais, que apenas alguns
possuem. Por que também não seria possível aprender a individualizar? Estamos
convencidos de que a psicoterapia pode ser aprendida e ensinada.

V. conclusão

1 - Por mais sucinta que possa ser uma exposição de pontos de vista
psicoterapêuticos, é inevitável falar abertamente sobre os princípios diagnósticos
em que se baseiam. Embora já tenhamos afirmado que, em geral, um ensaio de
psicoterapia não constitui um risco grave, é natural exigir que o médico não se
limite a praticar um método terapêutico porque não é perigoso e pode ser útil, em
vez disso, a referida decisão é baseada em uma indicação precisa, na qual se pode
ter pelo menos tanta confiança quanto em qualquer outro julgamento médico. Por
isso, talvez seja útil dizer algumas palavras sobre esta questão, tanto mais que nos
permite fazer algumas observações essenciais que nos mostrarão mais uma vez os
pontos de vista que nos guiaram nesta obra. Anteriormente, já estabelecemos os
critérios que nos permitem suspeitar com maior ou menor probabilidade de
sucesso uma psicogênese de sintomas corporais. Por outro lado, também é
possível perguntar se em todas as ocasiões em que a psicogênese é indiscutível, a
psicoterapia está indicada e, se a resposta for afirmativa, qual método deve ser
utilizado.

A primeira pergunta deve ser respondida de um ponto de vista geral. Pode haver
casos em que uma psicoterapia, por mais superficial que seja, pode parecer
supérflua porque os sintomas não são importantes, tanto para o paciente e para o
exercício de suas atividades quanto para o meio ambiente. Porém, não se deve
esquecer que na forma como o médico rejeita uma psicoterapia pode atuar um
intenso momento terapêutico, pois olhe para si mesmo como você deseja, algo é
indiscutível: o médico pratica psicoterapia, queira ou não, e talvez em maior grau
nos casos em que não acredita em nada. Minha opinião particular é que, em geral,
se a psicogênese do transtorno ou a colaboração de um componente psicogênico
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foi descoberta, deve considerar-se indicada uma psicoterapia. Naturalmente,


existem alguns obstáculos, como a resistência do paciente ou de seus familiares,
que podem falar contra o que dizemos, uma vez que a realização de psicoterapia
contra a vontade do paciente encontrará enormes dificuldades e poucas chances
de sucesso, a menos que o médico possa rapidamente interessar o paciente. Outro
caso é constituído pelas condições de vida pessoal e social do paciente. Quando
um homem deve lutar constantemente contra a tragédia e a miséria de sua
situação, será difícil fazer com que ele tenha outro ponto de vista sobre suas
preocupações. No entanto, não estou dizendo que seja impossível. É certo que em
casos mais difíceis isso pode ser alcançado. Mas antes de o médico se
comprometer, é preciso ter em mente que o tratamento deverá ser
extraordinariamente longo e que ele deverá colocar toda a sua personalidade em
ação com maior esforço do que em outros casos. Até que ponto, diante de uma
doença certamente orgânica, pode-se indicar o recurso à psicoterapia, dependerá
sempre do caso particular.

Em muitos desses casos, a experiência pessoal ou o entusiasmo profissional


decidirão. É inegável que muitas vezes se alcançará um sucesso considerável.
Lembre-se, por exemplo, da supressão da dor por sugestão hipnótica, como muitas
vezes foi usada na obstetrícia. De resto, não é imprescindível que a sugestão seja
dirigida imediatamente contra a dor. Assim, MÜNSTERBERG realizou o
experimento de sugestões destinadas a despertar um maior bem-estar geral
suprimindo dores que o hipnotizador desconhecia completamente. Em geral, o
que o tratamento sugestivo pode alcançar também pode ser obtido por outros
meios de influência psíquica.

A decisão sobre qual forma de psicoterapia escolher é naturalmente muito fácil


para aqueles que consideram que o método que utilizam é o único justo. Mas
mesmo para os partidários ferrenhos da psicanálise e da psicologia individual,
pode surgir a questão de saber se em determinado caso é indicado recorrer a um
tratamento que pode ser duradouro. Essa questão surge com ainda mais
frequência perante os médicos que não praticam exclusivamente a psicoterapia,
mas que a utilizam em sua prática geral ou especializada. Já indicamos que, nos
casos em que se deseja um resultado rápido, a terapia sugestiva deve ser
considerada como método de escolha.

Assim, eu mesmo, embora seja um defensor da psicologia individual, tenho


usando-a ocasionalmente; por exemplo, em um caso de soluços pós-operatórios
de base psicogênica. Nos casos em que a primeira impressão revele que se trata de
sintomas profundamente enraizados na personalidade do paciente, a psicoterapia
sistemática será a mais indicada e, em muitos casos, a única que pode
proporcionar sucesso. Visto que, como já dissemos, a hipnoterapia é
essencialmente um tratamento sintomático, a escolha deve ser feita apenas entre
a psicanálise e a psicologia individual. Não é nossa missão decidir aqui qual dessas
teorias é a melhor; essa controvérsia ultrapassaria o limite de nosso estudo. Já
indiquei minha opinião pessoal, e em outro trabalho, para o qual remeto o leitor,
tentei substanciá-la adequadamente.
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2. O sentido desta exposição do significado fundamental e da essência dos vários


métodos psicoterapêuticos não é fazer propaganda a favor de um ou de outro.
Deve-se apenas mostrar que existem vários caminhos para o médico que lhe
permitem influenciar a pessoa psicofísica do lado anímico. Se você deseja
aproveitar essas vantagens, não ficará desapontado com seus resultados; Estamos
totalmente convencidos disso por nossa própria experiência. Mas mesmo que o
médico não consiga se decidir a praticar a psicoterapia de forma consciente e
sistemática, seja porque isso requer uma preparação especial que ele não
considera mais possível adquirir, seja porque ainda não pode acreditar na esfera
considerável aplicação deste método, a consideração de que este método existe, e
que muitos aprenderam a utilizá-lo com sucesso, constituirá progresso e ampliará
seu horizonte e sua atividade médica, pois nada pode nos incutir mais
profundamente a convicção de que diante de um paciente não nos deparamos
apenas com fatos e problemas biológicos pertencentes, Consequentemente, para
a esfera das ciências naturais, mas antes de um homem em sua singularidade, à
qual ele permanece fiel mesmo durante a doença, sabendo que de todos os
aspectos dessa totalidade "homem" podem originar-se influências perturbadoras e
curativas. Acreditamos que essas considerações levarão o médico e a medicina a
penetrar na verdade daquelas palavras platônicas que citamos como lema, que
afirmam que não é possível tratar as partes sem tratar o todo. Contudo; este todo
é o homem, como: alma e corpo, como indivíduo singular e como membro da
comunidade, imerso na totalidade da sua vida multiforme.

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