Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Terapia Cognitivo-
Comportamental
TÉCNICAS: CONTROLE
DA ANSIEDADE
Edivana Aguiar
As crianças e os adolescentes são confrontadas diariamente com situações difíceis
e complicadas e é normal sentir ansiedade nestes momentos. Pode ocorrer duran-
te uma ocasião de mudança de vida, perda de uma pessoa querida, de um bichinho
de estimação, mudanças de escola ou de cidade, entre muitas outras. E pode acon-
tecer durante circunstâncias mais comuns, como simplesmente quando o nome é
chamado para participar da aula ou mesmo em uma roda de conversa com colegas
da escola.
O que é ansiedade?
A ansiedade é uma resposta natural do cérebro e do corpo ao perigo, como um alar-
me silencioso que dispara quando o paciente sente uma ameaça potencial ao seu
bem-estar, seja físico ou emocional. Mas isso não é ruim. Na verdade, a ansiedade
é uma importante função básica de sobrevivência que nos ajuda a ficar alertas e
focados, preparando-nos para eventos críticos e servindo como um aviso para sair-
mos do caminho do perigo ou estimular a ação para resolver problemas.
2
Mas se o paciente estiver em um estado de ansiedade constante ou desproporcio-
nal e o efeito mudar de protetor para opressor, a ansiedade deixará de ser funcio-
nal. Quando o paciente experimenta um pavor irracional e excessivo, um mal-estar
persistente ou um medo incontrolável, ele se torna mal adaptado e esta questão
pode interferir de modo significativo na sua vida diária.
Nesta condição, é quando o indivíduo precisa prestar atenção aos seus pensamen-
tos e sentimentos, pois pode ter cruzado a linha da ansiedade funcional para o que
é considerada ansiedade disfuncional.
Em geral, a ansiedade funcional está ligada a uma situação específica que, de fato,
representa um perigo à integridade física e psicológica do indivíduo. Por exemplo,
o indivíduo está sozinho em casa e ouve barulhos estranhos, é perfeitamente co-
mum que ele sinta ansiedade e busque meios de se proteger, fugindo e/ou pedin-
do ajuda. Passada a situação, seu estado emocional volta ao normal. Ou, ainda, o
paciente pode ficar ansioso para fazer uma apresentação na escola, mas quando
acaba, a ansiedade se dissipa.
Com a ansiedade disfuncional, o paciente pode não ser capaz de identificar o que
desencadeou a ansiedade, e a emoção pode não ser limitada no tempo. Em outras
palavras, o paciente pode ter uma sensação geral de ansiedade que não parece es-
tar ligada a uma situação específica, ou a ansiedade não se dissipa mesmo quando
a situação chega ao fim.
Um segundo indicador de ansiedade disfuncional é que ela pode ser muito mais
intensa do que uma resposta típica de ansiedade. Por exemplo, quando o paciente
está pensando em fazer uma apresentação oral na escola, pode sentir o coração
acelerado, tremores e até náuseas e pode até desencadear um ataque de pânico,
antes da apresentação acontecer. Finalmente, a ansiedade é disfuncional se estiver
interferindo na vida cotidiana de alguma forma, por exemplo, no baixo rendimen-
to escolar, na dificuldade de começar e manter relacionamentos interpessoais ou
de participar de eventos sociais.
3
Causas da ansiedade disfuncional
zz Genética – há um histórico de ansiedade em sua família.
zz Bioquímicos – baixos níveis de GABA, um neurotransmissor que reduz a atividade
do sistema nervoso central, contribuem para a ansiedade.
zz Biológico – a amígdala é fundamental para o processamento do medo e da
ansiedade, e sua função pode ser alterada nos casos de ansiedade disfuncional.
zz Estresse/contextual – A causa mais comum de ansiedade é um evento estressante,
como uma doença física, conflitos familiares, preocupações financeiras, problemas
escolares e problemas de relacionamento.
zz Traços de personalidade – certos tipos de personalidade são mais propensos à
ansiedade do que outros.
zz Estilo de vida – dieta alimentar inadequada, falta de exercícios físicos regulares
ou os tipos de atividades físicas que o paciente pratica diariamente podem criar
um estilo de vida pouco saudável e aumentar os níveis de ansiedade.
4
Trabalhar a ansiedade pode exigir tempo e dedicação e o apoio das pessoas vin-
culadas ao paciente. No entanto, com uma atitude franca, bom foco e tratamento
especializado, a ansiedade disfuncional é um desafio que o paciente pode superar.
5
Focando nas respostas somáticas
Ressalta-se que estas intervenções são algumas das inúmeras que podem auxiliar
o paciente a desfocar dos pensamentos que estão lhe causando emoções negati-
vas. Cabe ao terapeuta buscar as intervenções que mais se adequam à personalida-
de e ao contexto de cada paciente.
A ansiedade que afeta muitas pessoas pode ter sido desenvolvida por meio da con-
vicção disfuncional ou irracional de que algo terrível vai acontecer em uma situa-
ção social. Usando as estratégias da TCC, o paciente tem o poder de se livrar dessas
crenças disfuncionais.
6
que seu pensamento se torne realidade? Na maioria dos casos, o paciente poderá
invalidar suas ansiedades pessoais, pode então desenvolver pensamentos novos e
mais realistas, através de técnicas de reestruturação cognitiva, tornando as situa-
ções sociais menos intimidantes. Com o uso repetido, isso ajudará o paciente a se
livrar do medo/ansiedade ou pânico.
Por exemplo, perguntar “Por que isso é tão importante?” pode ser usado para eli-
minar medos ou fobias sociais. Vamos considerar a fobia social que muitos experi-
mentam até certo ponto em algum momento da vida, principalmente na infância
e adolescência. Muitos pacientes com ansiedade disfuncional apresentam algum
tipo de medo de falar com figuras de autoridade ou pessoas estranhas. O paciente
pode estar se perguntando o que exatamente está acontecendo em seus pensa-
mentos no momento, o que pode acontecer se eles não gostarem ou pensarem mal
dele/a. Infelizmente, a ansiedade sobre isso é exatamente o que o leva a cometer
erros ou ter dúvidas sobre si mesmo.
Por que o quê um estranho pensa faz alguma diferença? O paciente os verá nova-
mente em um futuro? Se não, o tipo de impressão que eles tiveram do paciente é
irrelevante. Eles são amigos? Se sim, o que os tornam amigos? Provavelmente não
7
é por suas habilidades profissionais. É alguém com quem o paciente deseja se rela-
cionar amorosamente? Se sim, ele/ela pode estar tão nervoso/a quanto o paciente.
Se não, então não tem motivos plausíveis para ficar nervoso.
Testando hipóteses
O teste de hipóteses é uma prática da TCC que envolve comprovar se uma “hipóte-
se” pode ser refutada ou não. Geralmente são refutadas, porque possivelmente a
ansiedade disfuncional do paciente é baseado em medos infundados. Desta for-
ma, a superação do medo irracional pode ser baseada em técnicas de exposição, a
ideia central é controlar a ansiedade disfuncional para ajudar o paciente a superar
completamente seus medos, fobias e ansiedade generalizada.
Como funciona? Sempre que o paciente tem medo de algo ou fica ansioso em de-
terminadas situações, geralmente isso está conectado a algum tipo de crença so-
bre a ação que acompanhará o objeto temido. Por exemplo, “Não tenho fobia de
altura, tenho medo de cair”. Do mesmo modo, um paciente adolescente pode afir-
mar: “Fico muito tenso em eventos sociais porque acredito que posso fazer algo er-
rado e ser humilhado ou envergonhado perante a todos”. Todos estes exemplos são
passíveis de testagem de “hipóteses”. Portanto, o teste de hipóteses envolve provar
o quão pode ser impossível que esta situação ocorra com o paciente. Em relação à
fobia social, o paciente pode realizar esta técnica apenas confrontando a pior situ-
ação para ver o que realmente acontece.
8
o ponto em que o teste de hipóteses se torna importante. Gerenciar a ansiedade
enfrentando a situação que dispara o gatilho desta ansiedade o ajudará a reduzir
gradativamente a intensidade da resposta ansiosa à medida que for se colocando
cada vez mais nessas situações.
Outra sugestão é pedir que o paciente, ao testar sua hipótese, atue de forma inten-
cional, por exemplo, pedir que ele/ela procure uma loja que não frequente regu-
larmente, aborde o/a vendedor/a, gaguejando intencionalmente, agindo de modo
nervoso e confuso. Existe uma grande possibilidade do paciente ficar realmente
nervoso ao fazer isso, no entanto, se conseguir, descobrirá que em 99% das situa-
ções, o/a vendedor/a não se concentra realmente em suas dificuldades e será gen-
til. É provável que o paciente passe a ter esta compreensão cada vez que realizar
alguma ação que considere errada.
Certamente, o paciente pode ter que reestruturar suas crenças à medida que se co-
locar em situações que lhe causam ansiedade. O terapeuta pode sugerir que ele/
ela comece frequentemente permitindo-se gaguejar enquanto conversa com seus
amigos e até publicamente e verá que de um modo geral as pessoas não se con-
centram nisso. Mais adiante no processo terapêutico, sugere-se que ele/ela tente
iniciar uma conversa mais com pessoas estranhas.
O paciente aprenderá lentamente por conta própria que existem condições signi-
ficativamente piores do que não soar perfeitamente eloquente todas as vezes. As
pessoas não serão tão severas com ele, portanto, certifique-se de que ele não seja
tão severo consigo mesmo. Ressalta-se que essas propostas de intervenções de-
vem ser realizadas em comum acordo e colaborativamente com o paciente a partir
de uma aliança terapêutica forte e bem estruturada.
9
prática contém duas vantagens. Em primeiro lugar, permite que o paciente se des-
ligue dos tipos de reflexos que, de outra forma, podem lhe trazer ansiedade, triste-
za, medos, entre outros. A segunda é que permite que ele/ela compreenda melhor
como sua mente funciona, o que se traduz em lidar e combater muitos problemas
associados às emoções.
Técnicas de relaxamento
10
EXEMPLO PRÁTICO[1]
A. era uma menina de 15 anos, estava no ensino médio e foi encaminhada para a clínica
universitária especializada no tratamento de jovens e adultos com transtornos de ansiedade
em razão de sua falta de comunicação. A. foi submetida aos exames físicos pertinentes e
não foram encontrados nenhum agravo que a impossibilitasse de falar.
No início do processo terapêutico, A. não falou, exceto o mínimo com sua família em
casa. Considerando-se que o MS geralmente resulta em diminuições significativas da
comunicação verbal em ambientes específicos, a comunicação verbal de A. era baixa em
todos os ambientes. Na verdade, ela era quase totalmente não verbal fora de casa e fa-
lava minimamente dentro de casa. Mesmo assim, A. expressou que ficava muito ansiosa
apenas nas interações sociais fora de casa, indicando um certo nível de conforto em se
expressar em casa.
A. relatou que quando atingia esse ponto de ansiedade paralisante, sua mente ficava “em
branco” e ela parava de tentar falar. Ela ouvia o que a outra pessoa estava dizendo enquanto
se concentrava em sua incapacidade de falar.
[1] Para ter acesso ao caso completo: Christon LM, Robinson EM, Arnold CC, Lund HG, Vrana S R, Southam-Gerow
MA. Modular Cognitive-Behavioral Treatment of an Adolescent Female With Selective Mutism and Social Phobia:
A Case Study. Clinical Case Studies 2012;11(6):474-491. https://doi.org/10.1177/1534650112463956.
11
Este caso também destaca a importância do cuidado colaborativo. A escola identificou
formalmente o MS de A. na quinta série, mas depois de uma tentativa inicial fracassada
de psicoterapia (psicodinâmica), a família de A. não reiniciou a terapia até os 15 anos, em
grande parte por não ter conhecimento de outras abordagens terapêuticas.
Resposta natural
Identificando os sintomas
do cérebro e do Desafio dos pensamentos.
de ansiedade.
corpo ao perigo.
Ansiedade disfuncional:
Técnicas de enfrentamento
constante e ou Testando hipóteses.
da ansiedade disfuncional.
desproporcional.
Causas da ansiedade
disfuncional: genética, Lidando com a ansiedade Relaxamento e resolução
bioquímica, estresse/ disfuncional. de problemas.
contextual etc.
12
REFERÊNCIAS
13