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MANUAL PRÁTICO

Terapia Cognitivo-
Comportamental
ORIENTAÇÃO ESCOLAR: COMO
A ESCOLA PODE CONTRIBUIR
PARA O TRATAMENTO?
Edivana Almeida

Por que é necessário envolver a escola no tratamento?


A TCC com crianças e adolescente também inclui uma compreensão de como in-
tegrar serviços em instituições educacionais, desenvolvimento infantil e modelos
de aprendizagem, bem como projetos de intervenção eficazes, essencialmente
por que a equipe escolar deve saber como ajudar os alunos, que podem se bene-
ficiar do recebimento de serviços psicológicos. A convergência de experiências no
conhecimento de cada uma dessas áreas fornece aos profissionais da educação o
potencial de sinergia de serviços de TCC altamente eficazes dentro da estrutura de
intervenção nas escolas. Em outras palavras, os provedores de serviços de apoio es-
colar estão bem-posicionados para adaptar a TCC aos alunos, bem como para colo-
cá-los dentro das estruturas existentes de prestação de serviços na escola.1

Os planos de integração entre a escola e a TCC também podem ser combinados


com estratégias de comportamento em sala de aula para promover a consolidação
das habilidades trabalhadas no processo terapêutico, e existem inúmeras oportu-
nidades para os professores reforçarem o comportamento da criança e/ou adoles-
cente em suas salas de aula.1,2

Além disso, as contribuições da escola nas habilidades e demais recursos desen-


volvidos pela criança e/ou adolescente na terapia oferecem muitas oportunidades
para observar e monitorar estratégias recém-aprendidas em um ambiente real,
o que pode ajudar a garantir que mudanças comportamentais duradouras sejam
alcançadas.2

2
As contribuições entre a escola e o trabalho do psicólogo clínico podem ter um im-
pacto significativo ao abordar as necessidades emocionais, comportamentais e de
saúde mental dos adolescentes e crianças. Alguns estudos3,4 indicam que a maioria
das crianças e adolescentes (ou seja, 70% a 80%) que estão em serviços de saúde
mental os acessam por meio do encaminhamento dos professores ou coordena-
dores escolares, ou estes orientam que os pais busquem um serviço de psicologia
para seu filho.

Com base nesses dados, verifica-se a importância de se considerar as contribuições


da escola no tratamento psicológico da criança e/ou adolescente. No entanto, a
associação entre escola e serviço de psicologia ou profissional psicólogo deve ser
feita com muitos critérios, como o registro da percepção dos professores acerca do
comportamento do paciente na escola (verificar os instrumentos que podem ser
aplicados nos professores para identificação do comportamento disfuncional ou
problemas de aprendizagem).

O psicólogo deve acolher as queixas dos professores e demais membros da equi-


pe escolar em relação ao paciente, sem julgamentos ou conclusões precipitadas.
O acolhimento perpassa pela compreensão de que, muitas vezes, os profissionais
da educação detêm conhecimentos gerais acerca dos sintomas e características do
possível transtorno psicológico que afeta o aluno. Por isso, é muito importante o
planejamento junto com a equipe escolar da oferta da psicoeducação do transtor-
no em questão.3

Participação da escola no tratamento


A TCC afirma que existem cinco elementos inter-relacionados que devem ser le-
vados em consideração na conceituação dos transtornos psicológicos. Esses ele-
mentos incluem o contexto interpessoal e a fisiologia, emoções, comportamento
e cognição do indivíduo. Dessa forma, o modelo cognitivo-comportamental irá
incorporar e enfatizar a importância das variáveis contextuais, sistêmicas, inter-
pessoais e culturais no quadro geral e em particular com a população infantil e
adolescente.1, 3

3
Como terapeutas cognitivo-comportamentais, vamos trabalhar com padrões de
pensamento (cognições), comportamentos e emoções levando em consideração o
contexto e as relações interpessoais que impactam nessas mesmas variáveis. Uma
questão a ter em mente é que geralmente as crianças não vão à terapia por vontade
própria. Na maioria das vezes, são levados por adultos (pais, parentes, cuidadores)
ou são encaminhados pela rede de ensino. Consequentemente, o enfoque da TCC
para essa população deve levar em consideração a característica de trabalhar com
a família, com a escola e, claro, com o grupo de seus pares.1,3

Os terapeutas promovem a participação independente e bem-sucedida da escola


no tratamento psicológico do seu paciente a partir das rotinas e ambientes escola-
res. Por meio de colaborações contínuas da equipe, incluindo aquelas com alunos,
os terapeutas viabilizam o acesso e incentivam o progresso do aluno por meio de
atividades curriculares e extracurriculares; oferecem intervenções baseadas em
evidências que diminuem ou eliminam as barreiras à participação nas aulas; e de-
senvolvem as competências necessárias para a aprendizagem, o comportamento
positivo e a participação social.2,3

Os métodos de coleta de dados podem ser utilizados para monitorar a eficácia


das intervenções e apoio. As crianças e adolescentes podem apresentar diferentes
áreas e níveis de necessidades, por isso é de fundamental o acompanhamento da
evolução do paciente a partir, também, das observações e tarefas escolares desen-
volvidas pelos professores.4

Os terapeutas podem realizar a avaliação psicológica em crianças e adolescentes


com base em referências de professores e demais membros escolares. Isso pode
ser feito para alunos com dificuldades em uma determinada área, bem como para
aqueles que apresentam excelente desempenho escolar (alunos com altas habi-
lidades e superdotação). Eles obtêm um histórico educacional, social e médico
completo do aluno, além de testá-los em várias áreas de funcionamento. Para dar
corpo às suas avaliações, os psicólogos podem entrevistar os alunos e observá-los
no ambiente escolar comum. O psicólogo compila esses dados em um relatório,
que é incluído na avaliação psicológica.3,4

4
A escola pode realizar um levantamento dos problemas emocionais, cognitivos
e comportamentais mais frequentes para ajudar na realização da avaliação psi-
cológica e, assim, concluir um diagnóstico precoce, estabelecendo intervenções
intensivas a fim de evitar a evolução desfavorável de determinados transtornos
psicológicos.4

Da mesma forma, a equipe escolar pode oferecer as devidas contribuições junto


aos alunos que estão em tratamento psicológico, viabilizando a participação do
terapeuta em reuniões com os professores do paciente, permitindo acesso aos am-
bientes escolares paras devidas observações comportamentais, elaborar estraté-
gias pedagógicas que possam promover o aprendizado das crianças e/ou adoles-
centes em tratamento e que manifestam dificuldades de aprendizagem.3,4

Para além de buscar a escola através de seus profissionais, a escola deve acolher
empaticamente o aluno em tratamento, considerando que a equipe, especialmen-
te os professores, precisa passar pelo processo de psicoeducação para, assim, co-
nhecer e saber como lidar com as crianças e adolescentes que apresentam com-
portamentos inadequados. Devem ser realizados processos psicoeducacionais que
garantam conhecimento e habilidades ao professor em um programa educacional
de qualidade, dinâmico e coerente com as características das crianças e adolescen-
tes em tratamento, com foco na relação professor-aluno.2,4

Portanto, a participação da escola no tratamento psicológico é fundamental para


o sucesso deste, esclarecendo-se que é responsabilidade da equipe escolar criar
métodos pedagógicos eficazes que atendam a demanda do aluno em tratamento
psicológico e, assim, promover o desenvolvimento da aprendizagem desse aluno.

É importante ressaltar que estes métodos devem considerar para além dos aspec-
tos cognitivos, os emocionais e sociais do aluno. Assim, também, como é muito im-
portante destacar que o papel do psicólogo clínico no contexto escolar é pontuar as
características, sintomas e comportamento do transtorno psicológico, bem como
reforçar a participação da escola nos resultados satisfatórios do tratamento. Já o
desenvolvimento, a realização e a seleção de estratégias e técnicas pedagógicas é
de responsabilidade da equipe escolar. Por exemplo, um aluno com o diagnóstico

5
de TDAH apresentará dificuldades em realizar determinadas tarefas escolares. O
psicólogo clínico deve sinalizar as características desse aluno, mas cabe a equipe
pedagógica desenvolver estratégias de ensino e aprendizagem que contemplem
as demandas dessa criança/ adolescente.

EXEMPLO PRÁTICO

Contribuições da professora4
Greg era um menino de 10 anos e estava no 5º ano do ensino fundamental. Ele foi encami-
nhado para a coordenadora psicopedagógica por sua professora, que percebeu problemas
de comportamento na sala de aula. Greg não conseguia se concentrar, não ouvia quando
chamado e apresentava dificuldade em se comunicar com os colegas. A mãe de Greg é
uma mulher de 45 anos, divorciada e tem três outros filhos. Ela relatou à professora que
também notou comportamentos inadequados em casa. Greg não conseguia brincar com
as crianças da vizinhança sem conflitos.
Encaminhado ao psiquiatra infantil, Greg teve o diagnóstico de Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH). Foi prescrito o medicamento “Concerta” e ele foi enca-
minhado para o atendimento psicológico.
A terapeuta, em conversa com a professora, solicitou que a mesma observasse como
Greg se comportava no horário do recreio. A professora passou a observá-lo no parquinho
enquanto ele brincava de pega-pega com um grupo de meninos. Quando o grupo sugeriu
mudar de brincadeira, Greg informou que desejava continuar a brincar de pega-pega e
explicou por que o jogo deveria continuar. Os meninos se afastam de Greg e não continu-
aram a brincar com ele.
Após o recreio, os alunos da classe de Greg estavam trabalhando em uma planilha de
matemática. Greg terminou a planilha bem rapidamente e a professora o instruiu a ler
um livro em silêncio. Greg se virou para o aluno atrás dele, que ainda estava trabalhando
na planilha de matemática, e começou a discutir sobre o livro que estava lendo. O aluno
pediu a Greg para que ele ficasse quieto, mas Greg continuava a envolver o aluno em uma
conversa sobre seu livro, surgindo um conflito em que a professora foi obrigada a intervir.
Essas informações foram passadas para a terapeuta de Greg, que passou a trabalhar estas
e outras questões vivenciadas por ele no ambiente escolar, inclusive pontuando que al-
gumas atividades na aula eram inadequadas para Greg, como, por exemplo, ler um livro
na sala em silêncio. Essas e outras questões foram discutidas para o alcance das metas
definidas na terapia.

6
Sistematizando: Orientação escolar: como a escola pode contribuir para o
tratamento?

Orientação escolar: como Cabe à equipe pedagógica


a escola pode contribuir desenvolver estratégias de
para o tratamento? ensino e aprendizagem

Por que é necessário


Colaborações
envolver a escola
contínuas da equipe
no tratamento?

Para promover a
consolidação das Participação da escola
habilidades trabalhadas no tratamento
no processo terapêutico

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REFERÊNCIAS

1. Beck J. Terapia Cognitiva. Conceptos básicos y profundización [E-book na


Internet]. Barcelona: Gedisa. 2000;1(2).
2. Nelsen J. Disciplina positiva: o guia clássico para pais e professores que
desejam ajudar as crianças a desenvolver autodisciplina, responsabilidade,
cooperação e habilidades para resolver problemas. 3. ed. Manole; 2016.
3. Lima A de, Cardoso AMP. Orientação e treinamento de pais: uma vivência
clínica. Doxa: Revista Brasileira de Psicologia e Educação. 2018;20(1):6–19.
Disponível em: https://doi.org/10.30715/rbpe.v20.n1.2018.10872" https://doi.
org/10.30715/rbpe.v20.n1.2018.10872
4. Barkley R, A. Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for
Diagnosis and Treatment. [E-book na Internet]. 2. ed. 1998.

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