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GRUPO EDUCACIONAL FAVENI

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA E NEUROPSICOPEDAGOGIA

IVONE FRANSCISCA DA CRUZ COSTA

NEUROPSICOPEDAGOGIA E AUTISMO: UMA JUNAÇÃO NECESSÁRIA NA


FORMAÇÃO DO DOCENTE

MIRANDÓPOLIS
2020
NEUROPSICOPEDAGOGIA E AUTISMO: UMA JUNÇÃO NECESSARIA NA
FORMAÇÃO DO DOCENTE

Ivone Francisca da Cruz Costa1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi
por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por mim
realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO- A neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar fundamentada nos conhecimentos da


neurociência, da psicologia e da pedagogia que tem contribuído no entendimento do cérebro e do processo
de aprendizagem, o que a faz ser extremamente importante durante a formação de professores.
Proporcionando orientações teóricas e práticas para auxiliar o docente a compreender como o cérebro
processa a aprendizagem e consequentemente melhorando a transposição da didática. Essa ciência
também traz grande contribuição no processo da inclusão principalmente para o indivíduo que é
diagnosticado com o transtorno do espectro autista que é definido por uma desordem complexa do
desenvolvimento, habilidades sociais, comunicação e da cognição do sujeito. Diante disto, objetiva-se refletir
sobre a importância da junção da Neuropsicopedagogia e o TEA na formação do docente. Utilizando como
base informações disponíveis em artigos científicos, livros e sites públicos, compreende-se a relevância da
união entres os dois assuntos como um meio de auxiliar e alavancar o ensino-aprendizagem dos alunos
autistas no processo de inclusão escolar e formação do professor.

PALAVRAS-CHAVE: Neuropsicopedagogia. Autismo. Formação de Professores.

1
ivone.francisca.cruz@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

A Neuropsicopedagogia é uma área que vem se destacando muito quando se trata


da dificuldade de aprendizado, é uma ciência transdisciplinar, fundamentada nos
conhecimentos das neurociências aplicada à educação, que integra avaliação e
intervenção em situações que envolvam esses processos no plano individual ou coletivo.
Que estuda as relações entre o cérebro, o comportamento humano e as diferentes formas
de aprendizados. Dentro desse contexto, o Neuropsicopedagogo contribui com o
processo de inclusão, identificando aspectos da aprendizagem humana envolvidas no
desempenho acadêmico que necessita de atenção específica.
O Transtorno do Espectro autista (TEA) segundo o DSM-5 apresenta duas
características principais: prejuízos na comunicação social e na interação social em
múltiplos contextos (critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades (critério B) os sintomas estão presentes desde início da infância e
limitam ou prejudicam o funcionamento diário do sujeito. O prejuízo funcional fica mais
evidente de acordo com a característica do indivíduo e o meio em que esse vive. A
qualidade do suporte pedagógico, atenção e estímulo, que esse sujeito recebe pode
ajudar diretamente nas dificuldades deste transtorno, que pode variar do nível leve ao
grave. As manifestações desse transtorno variam muito dependendo da gravidade da
condição autista, do desenvolvimento e da idade cronológica por isso se dá o termo
espectro.
A formação continuada dos docentes da educação básica é uma forma de se
aprimorar ao exercício da profissão, que deve ser permanente e não apenas pontual. Não
é correção de um curso porventura precário, mas se faz necessário promovendo uma
reflexão constante por parte do professor com a finalidade de contribuir com a qualidade
do ensino e com a melhoria do aprendizado dos alunos com ampla compreensão da
realidade. O docente deve ser portador de uma postura crítica e positiva que permita ser
um agente transformador das condições escolares, da educação e da sociedade. Além
disso, é necessário se pensar no atendimento dos alunos com necessidades especiais,
que cada vez mais cresce nas escolas.
Diante das necessidades vistas no âmbito escolar e a inexistência de profissionais
preparados para ações inclusivas que não possuem conhecimento complementar ou
formação adequada na área da educação especial, nota-se a necessidade de se ter uma
formação continuada que os preparem para uma abordagem adequada como está
previsto na lei Brasileira de Inclusão em seu art.28.
O trabalho tem como objetivo geral expor sobre a relevância da formação do
docente conter estudos sobre a Neuropsicopedagogia e o TEA como um meio de auxiliar
e alavancar o ensino-aprendizagem dos alunos autistas no processo de inclusão escolar e
formação do professor. Visto que tanto os conteúdos quanto a metodologia dos cursos de
formação dos professores são geralmente falhos, a neuropsicopedagogia oferece novos
conhecimentos na área da aprendizagem, inclusive com portadores de necessidades
especiais apresentando recursos de comunicação alternativa ou acessória para que
estejam aptos a lidar com o desenvolvimento, comportamento e a aprendizagem dos
diferentes indivíduos.
O número de alunos atípicos, conforme dados do Censo Escolar de 2015 a 2019
em pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio
Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da educação (MEC), que estão em salas
normais ou sem Atendimento Educacional Especializado mostra que a formação de
professores, que envolva conhecimentos neuropsicopedagógicos, se torna cada vez mais
indispensável. Alertar sobre a importância da continuidade dos estudos é uma forma de
garantir a aprendizagem e o cumprimento das leis de inclusão social dos alunos
singulares.
Portanto, a metodologia realizada para este artigo foi a qualitativa e bibliográfica,
respaldada em leitura de livros e artigos que descrevem a importância da formação do
docente, o conhecimento da neurociência aplicada à educação para cooperar no processo
de ensino aprendizagem de crianças com transtorno do espectro autista se aplicado na
formação do docente, dando um novo sentido na vida dessas crianças.
2 NEUROPSICOPEDAGOGIA

Decorrente das dificuldades diversas que a escola apresenta no âmbito da


aprendizagem com crianças atípicas, estudiosos e pesquisadores, preocupados com a
formação deficitária dos docentes, buscaram em pesquisas no campo da Neurociência
Aplicada à Educação algo que alavancasse e preenchesse a lacuna que se encontra entre
alunos e profissionais da educação nos entendimentos das questões cognitivas, ainda
distintas e limitadas, para lidar com as diversas barreiras que a escola enfrenta
(HENNEMANN, 2012; FULLE).
No ano de 2008, na cidade de Joinville, no estado de Santa Catarina, um grupo de
docentes da Faculdade Censupeg de ensino e pesquisa, comovidos com o contexto
escolar que vivenciavam na época, se dispuseram a buscar novos conhecimentos que
fossem aproveitados em uma perspectiva educacional, indo além de estudos já existentes
que evidenciam apenas o comportamento e as emoções (HENNEMANN, 2012; FULLE).
Nessa época, os direcionamentos da escola eram pautados nas questões
baseadas em orientações, emoções e contextos familiares, dando apenas a
responsabilidade para a compreensão da Psicopedagogia e da Psicologia escolar, o que,
muitas vezes, limitava as orientações educacionais e os atendimentos especializados.
Dessa perspectiva nasce, então, o primeiro projeto que envolvia as Neurociências
aplicadas à educação, denominado de Neuropsicopedagogia, conectando Neurociências,
Psicologia e Pedagogia (HENNEMANN, 2012; FULLE).
Como citado acima, foi fundamental a união de um quadro multiprofissional que
englobasse Educadores Pedagogos, Educadores Psicopedagogos, Psicólogos,
Neuropsicólogos, Médicos Pediatras, Médicos Psiquiatras (infantojuvenis),
Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Fisioterapeutas e Neurocientistas
(HENNEMANN, 2012; FULLE).
Como resultado desses esforços, ocorreu o lançamento do primeiro curso de
especialização em Neuropsicopedagogia, no dia 06 de dezembro de 2008 na cidade de
Jaraguá do Sul, Santa Catarina (HENNEMANN, 2012; FULLE).
2.1 O que é a Neuropsicopedagogia

Segundo a Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia - SBNPp - essa é uma


ciência transdisciplinar, fundamentada nos conhecimentos da Neurociências aplicada à
educação, com interconexões da Pedagogia e Psicologia Cognitiva. Integra saberes da
Neurologia, Neurociência cognitiva, Fonoaudiologia e terapia Ocupacional, sendo,
portanto, uma área, que busca compreender os processos relacionados à cognição, ao
comportamento e à linguagem. Tem como objeto formal de estudo a relação entre o
funcionamento do sistema nervoso e a aprendizagem humana numa expectativa de
reintegração pessoal, social e educacional (SCHNEIDER, 2019).
A Neuropsicopedagogia é voltada para os processos de ensino - aprendizagem,
que integra avaliação e a intervenção em situações que envolvam esses processos no
plano individual ou coletivo, além de trabalhar os aspectos acima mencionados.
Compreende o funcionamento do sistema nervoso, integrando suas diversas funções
(movimento, sensação, emoção, pensamento, etc), intervindo no melhoramento das
dificuldades de aprendizagem (SCHNEIDER, 2019).
O Neuropsicopedagogo Institucional – trabalha em Instituições Escolares; centros
de Associações Educacionais são os profissionais que vão integrar à sua formação
psicopedagógica o conhecimento adequado do funcionamento do cérebro, para melhor
entender a forma como esse cérebro recebe, seleciona, transforma, memoriza, arquiva,
processa e elabora todas as sensações captadas pelos diversos elementos sensores. A
partir desse entendimento, ele adapta as metodologias e técnicas educacionais a todas as
pessoas e, principalmente, aquelas com características cognitivas e emocionais
diferenciadas (OLIVEIRA, 2018).
O exercício profissional do neuropsicopedagogo em âmbito institucional deve estar
voltado especificamente à educação especial inclusiva como consta no Art.29, da
resolução do código de ética deste profissional, no sentido de compreender o
funcionamento do cérebro, a plasticidade cerebral, os transtornos do
neurodesenvolvimento, as síndromes, as metodologias de ensino e aprendizagem,
voltadas para o espaço do aprender e suas dificuldades (BRASIL, 2013).
Ainda de acordo com o art.29 cabe a esses profissionais a criação de estratégias
que viabilizem o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem dos que são
atendidos nos espaços coletivos; observação, identificação e análise do ambiente escolar
nas questões relacionadas ao desenvolvimento humano do aluno nas áreas motoras,
cognitivas e comportamentais e encaminhar as pessoas atendidas a outros profissionais
quando o caso for de outra área de atuação (BRASIL, 2013; SILVEIRA, 2019).

2.2 Transtorno do Espectro Autista – TEA

O TEA foi primeiramente descrito em 1943 pelo psiquiatra infantil austríaco Leo
Kanner, médico, pesquisador e professor da Universidade Johns Hopkins, após uma
pesquisa com 11 crianças que tinham comportamentos diferentes do usual para jovens da
mesma idade (TEIXEIRA, 2016).
O transtorno do espectro autista (TEA) engloba transtornos antes chamados de
autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de auto
funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra
especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger (DSM-5,
2013).
O autismo é definido como um conjunto de condições comportamentais
caracterizadas por prejuízos no desenvolvimento de habilidades sociais, da comunicação
e da cognição da criança. O aparecimento dos sintomas se dá nos primeiros anos de vida,
principalmente durante o segundo ano (12 a 24 meses), podendo ser percebido até
mesmo antes dos doze meses se o atraso do desenvolvimento for bem evidente. Tem por
base três pilares principais de prejuízos conhecidos como “tríade de Wing”, estando estes
relacionados com prejuízos da socialização, linguagem verbal e não verbal e
comportamentos repetitivos ou estereotipados (TEIXEIRA, 2016; DSM-5, 2013).
A título de exemplificação, os sujeitos acometidos com esse espectro tem o cérebro
diferente em três áreas principais: a amígdala, ligada à emoção e ao comportamento
social, o giro fusiforme e o sulco temporal superior, essas são ligadas à visão e à audição,
e são ativadas quando se olha para face ou ao escutar a voz de alguém. Nos autistas, ao
verem ou ouvirem alguém, ativam outra área, responsável pela identificação de objetos,
como pode ser visto na imagem abaixo (HENNEMANN, 2013).
Figura 1- Olhares Divergentes

Fonte: (HENNEMANN, 2013).

Este conhecimento só é adquirido por meio da neurociência aplicada à educação


que traça as melhores estratégias para a aprendizagem desses alunos. Isto traz maior
compreensão para os professores sobre funcionamento do cérebro do autista,
proporcionando sensibilidade para o entendimento da perspectiva do aluno. Como
resultado disso gerando autonomia, autoconfiança e um novo olhar de mundo para esse
sujeito.

2.3 Formação continuada de professores no Brasil

Decorrente de toda problemática que as instituições escolares enfrentam no seu


cotidiano, investir no aprimoramento da formação continuada dos docentes é o caminho
mais viável. A formação continuada é aquela que é feita após uma ação formativa inicial
(nível superior, graduação e licenciatura) (GALINDO, 2016).
É um tema que vem demonstrando preocupação ao longo dos anos. No Brasil
desde o início dos anos 60, vem se buscando melhorar essa temática, foi neste período
que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP elaborou em
conjunto com a direção dos Cursos de Aperfeiçoamento do Instituto de Educação do Rio
de Janeiro, propondo o assunto do aperfeiçoamento docente (ANDALÓ,1995).
Nos anos 70, a formação docente teve um avanço significativo devido ao começo
da modernização social, exigindo recursos mais qualificativos e humanos para se adequar
às demandas. Em 1980, foi instituída a Rede Nacional de Formação Continuada de
docentes da educação Básica com a finalidade de contribuir, visando, sobretudo, o
desenvolvimento profissional do professor e a melhoria na qualidade de ensino
(PEDROSO, 1998).
O educador, como agente do ensino, tem por responsabilidade contribuir com a
elaboração das propostas pedagógicas da escola, ser participativo assíduo do
planejamento, das avaliações escolares da articulação com a comunidade, devendo
também buscar sua própria ampliação profissional, e se tornar um investigador capaz de
rever sua prática, adquirindo novos significados e enfrentar os desafios com quais é
confrontado no dia a dia da escola. (MINISTERIO DA EDUCAÇÃO; GALINDO, 2016).

2.4 Junção necessária

Nos últimos anos, vê-se cada vez mais o avanço das pesquisas em neurociências
com eficiência e rapidez, beneficiando várias áreas com seus conhecimentos científicos.
Uma delas é a educação, tornando o processo de ensino e aprendizagem mais
compreensivos quando se utiliza a neurociência, interligada com a neuropsicopedagogia,
como ferramenta, já que essa oferece uma gama de testes e recursos diferenciados que
garante intervenções e avaliações mais eficazes e precisas. O professor, como
protagonista do saber, quando agrega esse conhecimento à sua formação estará
enriquecendo seu repertório no processo de ensinar seus alunos e com isso poderá
entender melhor a forma de aprendizado de cada um (SCHIMIDT, 2013).
A Neuropsicopedagogia no século XXI tem trazido grandes contribuições pois, abre
possibilidades para o educador perceber o indivíduo em sua totalidade, a partir de
conhecimentos neurocientíficos, pedagógicos e psicológicos. Ela tem a Educação como
seu primeiro alvo, por entender a importância do cérebro no processo de aprendizagem
sendo uma forte aliada na formação continuada de professores, oferecendo um
conhecimento aprofundado a esse respeito, orientando o professor a organizar sua ação
com mais eficácia (SILVEIRA, 2019).
Para se compreender melhor o processo de aprendizagem, é muito importante que
os profissionais da educação envolvidos tenham conhecimentos que as ações
comportamentais de seus alunos provêm de atividades cerebrais dinâmicas e que os
conhecimentos da neurociência possibilita a elaboração de atividades que desenvolvam
tais funções (HENNEMANN, 2012).
Esta união entre Neuropsicopedagogia e o conhecimento sobre o TEA na
Formação do docente, pode promover auxílio ao corpo docente, na elaboração de planos
e trabalhos direcionados, visando à facilitação do aprendizado uma vez que este está
conectado ao cérebro como: distúrbios de memória; falta de atenção; bloqueios de
aprendizagem nas diversas matérias dos conteúdos escolares; dificuldades em raciocínio
lógico, matemática, leitura e escrita; baixa estima; falta de motivação, entre outras.
Fonseca relata em seu livro “Papel das funções cognitivas” (2014, p. 237): “[...] para
ensinar com eficácia, é necessário olhar para as conexões entre a ciência e a pedagogia -
ensinar sem ter consciência como funciona o cérebro é como fabricar um carro sem
motor.”
A falta de conhecimento das principais deficiências, transtornos e dificuldades de
aprendizagem é a maior adversidade que impede a atuação do professor, gerados pela
má orientação dos cursos de licenciaturas e formação continuada consequência disso,
não possuem conhecimento complementar adequado na área da educação especial. O
despreparo desses docentes para lidar com as demandas tornam maior o desafio das
escolas em desenvolver com os alunos a construção dos conhecimentos compartilhados
socialmente, sem desprezar a singularidade desse processo. Para que isso não aconteça
é necessário que, de forma específica, seja estabelecido, diante dos transtornos da
aprendizagem, fala e escrita, intervenções proporcionando orientações de tratamento junto
aos responsáveis (GOMES, 2020).
As orientações à escola e o acompanhamento do aluno em seu processo contínuo
de aprendizagem não pode se restringir a um consultório, a intervenção dos profissionais,
em nível cognitivo comportamental, considerando as aprendizagens adquiridas e os
resultados obtidos devem ter como base a promoção do desenvolvimento global da
criança autista, estas orientações são desenvolvidas pela equipe de profissionais com
formação para intervir e avaliar (ALVES, 2014).
Toda intervenção tem por caráter focar na aprendizagem da criança em
desenvolver habilidades de uso reforçador individualizado e motivadores, buscando uma
aprendizagem prazerosa e divertida. Metring Roberte (2019 - p.192 a 194) descreve em
seu livro método cognitivo-comportamental (psicológicos) que utilizam princípios de
aprendizagem e reforço para alteração de comportamentos negativos e desenvolver
comportamentos mais ajustados e técnicas de intervenção onde essas podem ser
aplicadas em diversos, contextos em que a criança está inserida: casa, escola e unidades
especializadas (METRING, 2019).
Nessa perspectiva de educação inclusiva, a escola, para recebê-las, deve se
transformar e se adaptar às necessidades dessas crianças que apresentam transtornos
globais do desenvolvimento (TGD). É indispensável refletir sobre esta realidade, pois,
atualmente, cada vez mais formamos parte de um ensino onde integração e a inclusão da
criança dita “diferente” é uma realidade nas salas de ensino regular. Isto implica que o
educador deve estar preparado para agir de forma adequada e para agir sem medo da
falta de resposta da criança autista, tentando entrar no seu mundo tão privado de maneira
a dissipar aquela parede invisível de insensibilidade, o que para muitos profissionais seria
um desafio (METRING, 2019)
Uma das características do autismo é a dificuldade de interação social. Ele é um
transtorno global do desenvolvimento, onde o indivíduo tem dificuldades de comunicação,
linguagem, aprendizagem e comportamental, sendo a comunicação a predominante e com
grande prejuízo para o indivíduo acometido desse transtorno. Desta forma, é de suma
importância, enquanto docentes, conseguir diferenciar os procedimentos pedagógicos
para dar respostas a esses alunos de acordo com suas necessidades (DSM-5, 2014).
Como mediadores, profundas mudanças devem ser promovidas e empregadas nas
salas de aula, através de uma postura. Assim sendo, é importante que o professor reforce
os conhecimentos e as competências por parte de todos os alunos com necessidades
educativas especiais de caráter permanente (SOUSA, 2017).

2.5 Análise do preparo de professores no Brasil

Considerando o autismo uma desordem complexo do desenvolvimento, apenas


uma área do conhecimento, isoladamente, parece insuficiente para conhecê-lo e lidar
adequadamente com suas particularidades. Ao pesquisar sobre o autismo e seu
aprendizado verificou se a necessidade de elaborar um conhecimento integrado que
ultrapasse o domínio das disciplinas academicamente estabelecidas. Tanto o autismo,
como outros transtornos podem ser melhor entendido por meio da neurociência aplicada a
educação (SCHIMIDT, 2013).
De acordo com as estatísticas do Censo Escolar de 2015 a 2019 em pesquisa
realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira
(Inep), órgão ligado ao Ministério da educação (MEC), houve aumento no número de
matrículas de estudantes enquadrados na educação especial. Neste setor o registro
chegou a 1,3 milhão em 2019, um aumento de 34,5% em relação a 2015 (BRASIL, 2020).
Neste mesmo Censo Escolar fica claro o crescente número de estudantes da
educação especial que são inseridos em classes comuns, juntamente com alunos típicos.
Em 2019, 91,8% de alunos atípicos da Educação Infantil e 89,4% do Ensino Fundamental
estavam em classes comuns. Isto exige que os professores estejam preparados para
atenderem tais estudantes sanando suas dificuldades (BRASIL, 2020).
No entanto, do total de matrículas de alunos de 4 a 17 anos de idade com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento (TEA) ou altas
habilidades/superdotação, realizadas em 2019, 52% estavam incluídos em classes
comuns sem AEE (Atendimento Educacional Especializado) e 40,8% com AEE. Mais da
metade dos estudantes atípicos não tinham acesso ao atendimento especializado,
resultando em mais desafios para os docentes das escolas do país (BRASIL, 2020).
Portanto, evidencia-se a importância desta união entre neuropsicopedagogia e
conhecimentos sobre o TEA na formação do docente, uma vez que o artigo 59 inciso 3 da
Lei nº 12.796 de 4 de abril de 2013 “Diretrizes e bases da educação nacional”, assegura
aos educandos com deficiência professores com especialização adequada em nível médio
ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (BRASIL, 2013).

3 CONCLUSÃO

Neuropsicopedagogia é um estudo mais avançado sobre pedagogia e


psicopedagogia. A pedagogia trabalha como ensinar, a psico estuda os déficits e a neuro
tudo sobre cérebro e quais soluções cabíveis a situação. Com base em pesquisas
científicas fica claro a importância de se ter um profissional neuropsicopedagogo no
contexto escolar, pois este é um agente que oferece grande potencial para orientar a
pesquisa educacional e aplicar em sala de aula como um grande aliado do professor,
diante dos diversos desafios com que se encontram as instituições de educação hoje.
O ideal seria que cada professor se prontificasse a investir na sua formação se
tornando um neuroeducador. O ensino, com as novas descobertas, trilhará novos
caminhos e desfrutará de novas perspectivas que não deixarão a aprendizagem ficar
presa às deficiências e dificuldades da criança com transtornos globais.
Nesse momento, muitas crianças estão nascendo com algum tipo de limitação
motora, afetiva, emocional e social, podendo ser uma cegueira, uma síndrome de Down,
um espectro autista ou uma dislexia. A criança pode ser de qualquer classe econômica, o
confronto com a realidade inesperada demandará ajustamentos de adaptações orgânicas,
mentais e sociais para lidar com uma nova realidade. Diante das diversas vivências em
todo contexto educacional brasileiro referente à inclusão e o despreparo do educador para
lidar com alunos acometidos de transtornos globais, observa-se que uma luz vem surgindo
no final do túnel que é a Neuropsicopedagogia, trazendo grandes contribuições para o
educador no quesito da Aprendizagem.
O professor que passa a adquirir conhecimento da Neuropsicopedagogia tem um
olhar mais consciente em relação às limitações e potencialidades dos alunos. Ele busca
estratégias de modo que seja prazeroso o aprendizado para esse indivíduo, passa
também a ser capaz de correlacionar os objetos de formação educacional com
mecanismos neurobiológicos envolvidos na aquisição de conhecimento, de forma a
facilitar o entendimento da informação transmitida, pois este começa a entender que é
preciso ensinar o indivíduo a aprender a aprender, a aprender a pensar, a aprender a se
comunicar, e não apenas produzir e memorizar informações, mas, sim desenvolver
competências de resolução de problemas.
Receber as matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na
escola não quer dizer muito, é preciso oferecer possibilidade de formação pedagógico-
inclusivo.

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