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Psicopedagogia Institucional

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Psicopedagogia Institucional

Introdução

Quando a Psicopedagogia surgiu, seu foco estava nos sintomas de dificuldades


de aprendizagem. Ela procurava resolvê-los através de uma síntese simplificada
de saberes da Psicologia e Pedagogia.

Com o tempo, ficou evidente que o tratamento dos sintomas era insuficiente para
alcançar o êxito escolar. A Psicopedagogia estabeleceu então como objeto o
processo de aprendizagem e, como objetivo, remediar ou refazer esse processo
em todos os seus aspectos. Foi dessa forma que a Psicopedagogia passou a ser
percebida como saber independente, com seus próprios instrumentos corretivos
e profiláticos. Mas se a Psicopedagogia tem como objeto de estudo o processo
de aprendizagem – processo de construção do conhecimento –, esse processo
está ancorado, de alguma forma, no sujeito.

E podemos dizer então que esse é o objeto de estudo da Psicopedagogia, o ser


cognoscente, o homem como ser em processo de construção do conhecimento.
E esse ser cognoscente está em todos os lugares, não somente na escola. Assim
sendo, reconhecemos duas grandes áreas no campo de atuação da
Psicopedagogia. À medida que a Psicopedagogia clínica atua com o indivíduo que
apresenta dificuldades em seu processo de aprendizagem, a Psicopedagogia
Institucional tem caráter preventivo, estudando a instituição enquanto espaço
físico e psíquico da aprendizagem. Presente em diversos tipos de instituições
como escolas, hospitais, empresas e famílias, a Psicopedagogia avalia os
processos didáticos e metodológicos, além da dinâmica institucional, que
interferem no processo de aprendizagem.

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Psicopedagogia e Instituição

A Psicopedagogia surge no cenário ocidental como um fazer empírico, apoiado


na prática, nas experiências vividas e, principalmente, na observação de fatos.
Sua demanda era a de atender crianças com dificuldades de aprendizagem cujas
causas fossem estudadas pela medicina e pela psicologia. Seu objeto de estudo
eram os sintomas das dificuldades de aprendizagem, como a desatenção, o
desinteresse, a lentidão e a astenia, que seria a perda ou diminuição da força
física (também podendo ser a perda ou diminuição das forças ou da resistência
do sistema nervoso). E o seu objetivo era remediar esses sintomas. A dificuldade
de aprendizagem seria apenas um mau desempenho, um produto a ser tratado.

Nesse momento, Psicologia e Pedagogia são vistas como elementos justapostos.


Psicologia é apenas estimuladora, normativa e reguladora da vida intelectual. E
a Psicopedagogia é vista como uma síntese simplificada dos múltiplos
conhecimentos psicológicos e pedagógicos existentes. Com o tempo, entretanto,
verifica-se que tratar os sintomas é insuficiente para o êxito escolar. Começa-se
a entender o sintoma como um sinal, um produto: o sintoma é a emergência de
desarticulação dos diferentes aspectos da aprendizagem – aspectos afetivos,
sociais, cognitivos. Entramos em uma nova fase: o objeto passa a ser o processo
de aprendizagem e o objetivo, remediar ou refazer esse processo em todos os
seus aspectos.

A Psicopedagogia passa a ser percebida como saber independente com


instrumentos corretivos e profiláticos próprios. Mas isso ainda há de mudar. Pois,
se o processo está ancorado no sujeito, o trabalho acontece entre o
psicopedagogo e o ser em processo de construção do conhecimento, ou seja, o
ser cognoscente. E esse ser é social, contextualizado, determinado pelas
condições materiais de existência em que vive na sociedade. Transforma as
informações obtidas segundo o código das determinações sociais que penetram
no seu psiquismo pela mediação de suas motivações conscientes e inconscientes
– e, sobretudo, pela mediação de sua ação sobre o objeto. Ele é determinado

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pelas relações que estabelece com outros sujeitos. O ser cognoscente é
determinado pelas relações que estabelece com outros sujeitos.
Ele é o objeto de estudo da Psicopedagogia.

E o que faz a Psicopedagogia?

Identificamos duas grandes áreas de atuação: a Psicopedagogia clínica, que


recebe o sujeito que já apresenta dificuldades em seu processo de aprendizagem;
e a Psicopedagogia Institucional, que tem um trabalho preventivo.

Aqui nos interessa a Psicopedagogia Institucional. Em seu trabalho preventivo, a


instituição, enquanto espaço físico e psíquico da aprendizagem, é objeto de
estudo da Psicopedagogia, uma vez que são avaliados os processos didáticos
metodológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de
aprendizagem e na vida do sujeito, pois, como sabemos, o ser é determinado
pelas relações que estabelece com outros sujeitos.

A Psicopedagogia Institucional se faz presente em uma instituição, que pode ser


uma escola, hospital, família, empresa. Ela parte do sintoma do grupo em seu
contexto histórico-social. Realiza a investigação e o diagnóstico psicopedagógico
institucional, identifica sintomas bloqueadores do processo ensino-aprendizagem
e os redimensiona por meio de estratégias que possibilitem a aquisição do
conhecimento. Administra ansiedade e conflitos que possam se refletir na
dinâmica intergrupal.

Entendemos que a Instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano


com estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de
padrão ético para as pessoas em geral. A instituição é o que mais se reproduz e
o que menos se percebe nas relações sociais. É o campo dos valores e das regras
(campo abstrato).

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A Organização é a base concreta da sociedade, representando o aparato que
reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. Ela é o polo prático
das instituições.

Já o Grupo é o lugar onde a instituição se realiza. O grupo é o sujeito que


reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras.

Diferentes Visões da Psicopedagogia Institucional

Entendemos como instituição diversos lugares como:


 Clínicas médicas, psicológicas e multidisciplinares;
 Centros de referência para tratamento de diversas enfermidades como
DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) e HIV (Vírus da
Imunodeficiência Humana);
 CAPS (Centros de Atenção Psicossocial);
 Instituições escolares como berçários, creches, educação básica, centros
técnicos e universidades/faculdades;
 Empresas públicas e privadas;
 Indústrias e fábricas;
 ONGs (Organizações Não Governamentais) assistenciais;
 Instituições assistenciais do governo (ex.: penitenciárias, casas de
repouso, albergues, orfanatos e casas de menores infratores).

Cada uma destas Instituições vai requerer do psicopedagogo institucional uma


atuação tão intensa quanto diferente. É preciso conhecer as características e
particularidades de cada Instituição, além dos objetivos e da metodologia de
trabalho traçados para cada uma. Um trabalho eficiente parte de uma análise da
instituição, levando em conta o meio social no qual se encontra e o tipo de
clientela que atende, bem como os vários grupos que a compõem, sua
hierarquização e suas relações de poder, passando pela análise da filosofia
específica que a norteia.
Assim, o trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial, que atende a usuários
com transtornos mentais e comportamentais (incluindo usuários de drogas) e

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seus familiares, demanda conhecimento sobre a história da loucura e sobre as
políticas e legislação em saúde mental. De forma semelhante, a atuação junto a
centros de referência no tratamento do HIV ou da tuberculose, por exemplo,
requer compreensão não só das políticas públicas relacionadas a essas questões
mas também do sofrimento psicológico, social e físico de cada uma delas.

Muitas pessoas apresentam dificuldades de aprendizagem caracterizadas pela


"desistência": após repetidas tentativas frustradas em diversos campos (ex.:
esportes, relacionamentos, etc.), a pessoa aprendeu que "nem adianta tentar".
O psicopedagogo que atua em centros psicossociais de governos municipais e
estaduais atende jovens encaminhados para reabilitação cognitiva por escolas
que não conseguem mais resultados positivos. Esses sujeitos, loucos, deficientes
ou doentes lidam com estigmas, um atributo profundamente depreciativo,
indigno, desonroso ou com má reputação. As pessoas estigmatizadas tendem a
ter experiências de aprendizagem semelhantes e características de sua condição.
Tendem a sofrer mudanças semelhantes na concepção de si próprias, ou seja,
uma carreira moral semelhante. E essa carreira moral é, ao mesmo tempo, causa
e efeito do comprometimento com a sequência semelhante de ajustamentos
pessoais.

Trabalhando em instituições de atendimento a idosos, o psicopedagogo precisa


conhecer instrumentos de avaliação e técnicas de intervenção adequados para
pessoas com possíveis dificuldades ou perdas cognitivas e sensoriais. Com idosos,
restabelecer o desejo de aprender é uma estratégia que pode ser aliada a seu
bem-estar físico e emocional.

É preciso, portanto, iniciar o trabalho por um levantamento da Instituição.


Procurar caracterizá-la em seus aspectos organizacionais, tentando observar a
ideologia subjacente aos objetivos expressos ou implícitos que ela contém.
Começamos, assim, por um diagnóstico da realidade da Instituição e, a partir
daí, planejaremos nossa ação.

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O Diagnóstico Institucional

Quando somos apresentados a uma Instituição, podemos dizer que estamos


diante de um problema. Não no sentido negativo do termo, mas no sentido de
algo a ser trabalhado. Precisamos lidar com essa questão, esse fenômeno, esse
problema que a instituição apresenta em seus processos de aprendizagem. São
três os aspectos gerais do processo de solução de problemas: interpretação,
estratégia e avaliação. É tentador buscar solucionar um problema de forma
direta, ou seja, sem analisar suas causas. É, por exemplo, tentador pensar em
eliminar os corruptos que roubam o dinheiro da população. O problema,
entretanto, não será necessariamente resolvido dessa forma (ainda que prender
alguns deles seja uma excelente medida). A questão da corrupção é estrutural,
social e precisa ser analisada a partir desse viés para que possamos solucioná-
la. Assim, é preciso analisar a questão, interpretá-la, conhecer suas diferentes
faces. Esse é o papel do Diagnóstico Psicopedagógico.

Depois de realizado esse processo, é estabelecida uma estratégia de intervenção


junto ao plano de avaliação daquilo que será realizado. Quando essa etapa é
realizada, há menos dificuldades e um menor índice de erros. Avaliar é
aperfeiçoar suas decisões. É pensar, depois do problema solucionado, se aquela
estratégia foi bem-sucedida. A avaliação é elemento-chave do processo.

A prática psicopedagógica institucional é uma etapa de grande importância, pois


traduz a intencionalidade do profissional que elaborou uma avaliação e que vai
programar ações corretivas ou preventivas dos possíveis problemas de
aprendizagem encontrados. A intervenção é a etapa posterior do processo
psicopedagógico e, ao mesmo tempo, seu “re-início”. Os resultados, após análise,
podem levar o psicopedagogo e a instituição a um novo ponto de partida e de
reflexão sobre o fazer psicopedagógico no contexto institucional. Assim como o
diagnóstico, a intervenção não representa um fim em si mesma, mas um
conjunto de medidas que vão gerar novas práticas de prevenção, correção e
enriquecimento da aprendizagem, mesmo que de modo não intencional.

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Um diagnóstico psicopedagógico bem elaborado reúne dados que sustentam uma
intervenção de qualidade, situando a aprendizagem em seu contexto,
considerando:

1) O lócus onde ocorre a aprendizagem e seus possíveis problemas;


2) Os sujeitos diretamente envolvidos;
3) Os sujeitos indiretamente envolvidos;
4) A identificação do(s) problema(s) e sua caracterização;
5) A identificação dos diferentes contextos (sala de aula, salas de
atendimento, setores de trabalho, no caso de empresas, relação professor
e aluno, currículo, estratégias didáticas, características do professor e do
aluno, dos líderes e dos colaboradores envolvidos, dos profissionais de
saúde, no caso de instituições de saúde, contexto familiar do aluno, do
paciente, do usuário, do idoso, etc.);
6) As principais áreas de interferência da dificuldade de aprendizagem
(conteúdos específicos, dimensões afetiva, cognitiva, relacional, etc.).

Com essas informações, o psicopedagogo pensa a aprendizagem ou a queixa de


aprendizagem, reflete sobre seus condicionantes e elementos constituintes,
conversa com os sujeitos envolvidos e começa a decidir sobre os caminhos que
irá propor para intervir e buscar alternativas de solução e/ou prevenção para a
situação em questão.

É muito importante ter clareza com relação:


 À apropriação teórica, que é o principal aspecto norteador da prática
psicopedagógica. Sem uma boa teoria, não existe uma prática de
qualidade. O maior engano que se comete na prática da psicopedagogia
institucional é considerá-la ação realizada por meio do improviso. O
trabalho psicopedagógico exige planejamento, estrutura, estratégias de
ação e avaliação para que ele se autorregule, se renove e alcance seus
objetivos. Para planejar e agir adequadamente, temos de assumir

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posturas teóricas e ideológicas que vão definir nossa visão de mundo, de
homem, de educação e de aprendizagem. Somente com concepções
teóricas bem sustentadas é possível pensar em intervir no contexto
institucional, buscando modificações nesse sistema;

 O psicopedagogo necessita conhecer, com profundidade, o espaço


institucional onde vai atuar. Precisa conhecer o sistema educacional do
país, o sistema de saúde, o sistema de assistência social, sua legislação,
o modus operandi da máquina pública e privada, sua eficácia, as
avaliações que são realizadas, as intencionalidades que permeiam as
decisões políticas vinculadas à educação, saúde, assistência social,
segurança – enfim, ter ciência da realidade do país, com complexidade e
postura crítica. Após construir uma visão adequada do sistema geral, esse
especialista deve aprofundar-se na investigação da instituição onde irá
intervir. Para isso, é indispensável compreender a história da instituição,
os sujeitos envolvidos nessa história, as crenças e valores que foram
surgindo ao longo da existência da instituição, as mudanças mais
significativas, suas estratégias de gestão, coordenação e orientação dos
profissionais, além de usuários, as estratégias de avaliação, as práticas
diárias, a forma como a instituição lida com o sucesso, o fracasso e as
dificuldades de aprendizagem, dentre tantos outros fatores. O
psicopedagogo que pretende atuar de modo competente deve passar um
pente fino na instituição no sentido de compreendê-la com relação aos
aspectos físicos, legais e institucionais, assim como os aspectos subjetivos
orientados por crenças, valores e práticas.

O psicopedagogo é o especialista que realizará o trabalho de avaliação,


intervenção e regulação das situações relacionadas à aprendizagem e às suas
dificuldades no contexto da instituição. Seu trabalho é, por natureza,
interdisciplinar. Ele não atua sozinho. Não pode nem deve realizar ações
psicopedagógicas sem a participação da comunidade envolvida no processo. É
sua responsabilidade chamar todos os envolvidos para participar de sua solução.

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É de extrema relevância que ele tenha clareza do seu papel na instituição, das
suas atribuições e responsabilidades, além das fragilidades que cercam qualquer
atividade interventiva junto a pessoas e sistemas. As possibilidades de insucesso
são reais. O psicopedagogo, ciente disto, é capaz de recomeçar, renovar
caminhos, mudar estratégias e retomar seu trabalho após tentativas infrutíferas.
Além de saber lidar com possíveis situações de fracasso de suas ações, esse
profissional não pode esquecer que ele é parte do sistema e, muitas vezes,
também é parte do problema de aprendizagem enfrentado pelos sujeitos. Essa
postura crítica e avaliativa da própria prática por parte do psicopedagogo é
indispensável para que haja chances de êxito em suas intervenções.

Tomemos como exemplo uma empresa. Um dos desafios das novas empresas
globalizadas é compreender o processo de desenvolvimento intelectual e
profissional dos colaboradores, pois utilizam-se dos conhecimentos dos
empregados para criar um ambiente completo que garanta o sucesso da
organização. As organizações estabelecem o vínculo entre o processo de ensino
e aprendizagem de seus colaboradores, formando sujeitos que constroem
conhecimentos a partir da realidade das empresas nas quais estão inseridos,
utilizando-se dessa realidade prática para a resolução de problemas do cotidiano
das instituições. Após um diagnóstico psicopedagógico institucional, que verifica
qual o problema nodal no estabelecimento de vínculos positivos entre os
colaboradores, o psicopedagogo poderá intervir nos fatores que prejudicam o
bom andamento ou funcionamento na dinâmica grupal dessa organização,
adequando o conteúdo do planejamento da ação pedagógica bem como o
planejamento de ações que melhorem as relações humanas que se estabelecem
nesse ambiente.

Não há fórmulas prontas para intervir do ponto de vista psicopedagógico. Há


indicativos, orientações, premissas e sugestões de modelos de intervenção. Uma
coisa é certa: a qualidade do diagnóstico vai permitir uma intervenção
psicopedagógica de qualidade que poderá solucionar problemas de
aprendizagem ou mesmo preveni-los.

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Métodos, Instrumentos e Técnicas da Psicopedagogia na Instituição

Diagnóstico diferencial é um método sistemático desenvolvido pela medicina. Ele


tem o objetivo de analisar, discriminar e identificar características de doenças
que apresentem semelhanças na sintomatologia que dificultam sua
compreensão. A Psicopedagogia (clínica ou institucional) utiliza esse método para
obter melhores resultados na compreensão dos casos clínicos e institucionais. Há
muitos casos em que os transtornos de aprendizagem são semelhantes, assim
como as queixas da instituição ou de seus membros podem ser muito
semelhantes – apesar de suas origens diversas. É necessário fazer uma análise
do caso clínico ou da instituição acompanhada, sempre que necessário, de
instrumentos de avaliação e coleta de dados a fim de programarmos a melhor
intervenção, seja ela clínica ou institucional.

A proposta de intervenção da Psicopedagogia Institucional reside na elaboração


de um diagnóstico da realidade institucional. A partir desse diagnóstico, é iniciada
a elaboração dos planos de intervenção. O psicopedagogo atua inicialmente
realizando o diagnóstico da situação-problema para, em seguida, definir as
formas mais adequadas de intervenção. O diagnóstico pretende, principalmente,
investigar os "quês" e os "porquês" de determinadas situações.
Assim, é importante diferenciar o psicopedagogo funcionário de uma instituição
daquele que fará apenas uma consultoria ou avaliação. Seus instrumentos e
técnicas podem ser muito distintos. Em termos de planejamento, por exemplo, o
psicopedagogo que não tem vínculo com a instituição poderá ter de lidar com um
prazo determinado para a realização da análise e intervenção. Para esse
profissional, haverá sempre uma questão específica a ser desenvolvida, sanada,
resolvida ou analisada.

Já o psicopedagogo institucional que tem vínculo empregatício com a instituição


precisa de um espaço de trabalho que lhe garanta autonomia para projetar sua
tarefa em função do diagnóstico ser efetuado a partir de suas investigações

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iniciais. O psicopedagogo se coloca diante da questão fundamental de ter de lidar
com ambos os objetivos da instituição e os seus próprios. Seu trabalho é
essencialmente preventivo: como ele é uma presença no dia a dia daquele local,
o psicopedagogo vai lidar com as relações humanas nesse cotidiano. O prazo não
está, a princípio, definido.

Em ambos os casos, antes de qualquer coisa, é necessário um levantamento dos


objetivos específicos da instituição e os meios pelos quais ela busca alcançar tais
objetivos. Dados objetivos devem ser conhecidos, como o número de pessoas
que são colaboradores, gestores, auxiliares, etc. Qual o produto produzido pela
instituição, qual serviço é oferecido à comunidade. Além disso, claro, sobre a
história da instituição. Pois toda produção humana, seja uma cadeira ou uma
instituição, tem a contribuição de muitos sujeitos que, em um tempo anterior,
fizeram indagações, realizaram descobertas, inventaram técnicas e
desenvolveram ideias.

O estudo dos objetivos institucionais, de suas dinâmicas e consequências inclui


também aqueles que levaram a instituição a solicitar a intervenção ou avaliação
profissional de um psicopedagogo institucional.

É necessário investigar, além dos aspectos objetivos da instituição, a concepção


que a mesma constrói acerca daquilo o psicopedagogo faz ou poderá fazer dentro
dela. A atuação desse profissional pode promover ansiedades de tipos e graus
variados que implicarão em um manejo específico no sentido de ultrapassar as
resistências que tentarão impedir sua ação. O levantamento desses objetivos
proporcionará ao profissional a possibilidade de criar um planejamento de
trabalho. Diferentes instituições vão necessitar de diferentes abordagens em
função de sua natureza. Aqui apresentaremos alguns instrumentos e técnicas
que, de forma geral, serão utilizados em qualquer instituição.

Para atuar em uma instituição, o psicopedagogo, seja ou não funcionário, deve


estar ciente que seu principal método de estudo será a observação, pois é a partir

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dela que ele conhecerá a dinâmica institucional, como ela interage com seus
membros e como seus membros a influenciam.

Ele pode iniciar seus trabalhos de investigação com vistas ao conhecimento das
questões objetivas e subjetivas relacionadas ao seu papel, utilizando-se de
técnicas de entrevistas. São utilizadas entrevistas individuais com gestores e
colaboradores, além de entrevistas coletivas com membros de um setor, por
exemplo. O planejamento das entrevistas dependerá de cada instituição e de
seus membros.

A entrevista deve ser planejada e sistematizada para ser eficaz e eficiente. É uma
conversação dirigida a um propósito definido de avaliação. Pode-se dizer que é
um tipo de comunicação entre um pesquisador que pretende colher informações
sobre fenômenos e os indivíduos que detêm essas informações e podem emiti-
las. As informações colhidas são indicadores de variáveis que se pretende
estudar, analisar. Possuem objetivos bem definidos e estratégia de trabalho.
Sugerimos uma entrevista mista, semiestruturada. Ou seja, o profissional
perguntará sobre uma série de informações pré-estabelecidas, objetivas
(entrevista estruturada), e então seguirá à entrevista não estruturada, em que o
entrevistado escolhe por onde vai começar a falar. Aqui as perguntas são de
caráter geral, com o objetivo de melhorar a qualidade e a quantidade das
informações colhidas. É importante utilizarmos local adequado, sem intervenções
de terceiros, e também que o objetivo da entrevista seja explicado aos que estão
sendo entrevistados.

A partir daqui, cabe ao psicopedagogo detectar os pontos de urgência a serem


trabalhados utilizando-se de técnicas grupais. Propõe-se um trabalho com grupos
operativos, que possuem objetivos, problemas e conflitos que devem ser
estudados e considerados pelo próprio grupo na medida em que vão aparecendo.
O método do grupo operativo, chamado também por Pichon-Rivière (2014) de
grupos centrados na tarefa, tem nessa tarefa grupal a proposta de superar e
resolver situações fixas e estereotipadas, possibilitando sua transformação em

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situações flexíveis que permitam questionamentos, favorecendo o debate, o
diálogo, numa lógica dialética. O grupo, através da realização de uma tarefa, irá
passar do ponto "dilemático" para o ponto "dialético".

No grupo operativo – e através da tarefa –, o múltiplo, o heterogêneo, o


divergente podem integrar-se numa síntese multiforme que enriquece a todos e
a cada um dos integrantes, que se esclarecem, nessa prática, acerca da
complexidade do real.

Nesse processo de trabalho e integração, o objeto de conhecimento se mostra


na complexidade de seus aspectos e determinações, tornando-se
progressivamente mais concreto.

Além dos grupos operativos formados a partir da identificação das necessidades,


são viáveis outras possibilidades de intervenção, levando-se em consideração a
singularidade da instituição em questão. Reuniões de caráter informativo com
equipes, pais, jovens, mulheres grávidas, grupos de enfermos, são muito bem-
vindas. Muitas vezes o problema institucional se resume à falta de informação de
seus usuários quanto aos objetivos da própria instituição. No hospital, por
exemplo, saber sobre o tratamento prolongado e as restrições que algumas
doenças possuem é fundamental. A ansiedade se instala em alguns doentes e
suas famílias em função da falta de informação. No trabalho com crianças, é
também importante estabelecermos grupos onde seja possível a brincadeira. No
ambiente hospitalar, é fundamental que a criança tenha espaço para ser criança,
além de ser doente. Grupos com crianças e brincadeiras com materiais de sucata,
pintura e massinha são importantes para o desenvolvimento das mesmas e para
a elaboração de suas possíveis dores.

No trabalho institucional com empresas, o psicopedagogo trabalhará também


junto ao setor de Recursos Humanos, realizando os processos de recrutamento,
seleção e treinamento.

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O trabalho individualizado não é esperado na instituição. Isso não quer dizer que
não seja possível a avaliação de algum problema específico de aprendizagem de
um indivíduo ou grupo. Se houver, porém, a necessidade de um atendimento
clínico, ele será encaminhado para um profissional fora da instituição.

O Psicopedagogo na Escola

A escola é, dentre todas, a instituição cujo objetivo primário é o


ensino/aprendizagem. Nela, o profissional de psicopedagogia tem papel
fundamentalmente institucional, abordando uma amplitude única de questões
envolvendo o conhecimento. Algumas delas são:
 Currículo e Plano pedagógico;
 Avaliação da aprendizagem;
 Fracasso escolar;
 Conselho de classe;
 Reuniões de pais;
 Inclusão;
 Formação continuada de profissionais de educação.

E continuaremos nesta aula abordando esses temas que, apesar de serem


centrais, não esgotam o papel do psicopedagogo na instituição.

1) Currículo e Plano pedagógico

Há uma diversidade de definições para o entendimento do termo currículo.


Nenhuma, entretanto, deixará de ser a proposta pedagógica que espelha
conceitos de educação, sociedade, política e cultura que a escola pretende
entregar como o produto final de seus serviços à sociedade. Mas isso não significa
apenas conteúdos teóricos. O currículo envolve toda e qualquer experiência que
o corpo docente irá proporcionar com a prática pedagógica. Isso inclui as trocas
reais entre as diversas áreas de conhecimento de forma a proporcionar aos
alunos uma visão abrangente e conectada dos conteúdos apresentados.

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Quando discutimos o currículo, estamos definindo quais disciplinas serão
contempladas e quais não serão, além de qual peso será dado a cada área de
conhecimento. Isso sempre irá refletir a interpretação que damos daquilo que a
sociedade realmente valoriza. O diálogo sociedade-escola tem início na
composição do currículo. É através da importância relativa que o currículo dá a
algumas disciplinas que a sociedade "encomenda" mais ou menos profissionais
de cada área.

Muitas manifestações de baixo rendimento escolar têm como origem a


desconexão de conteúdos que se tornam descolados da realidade, perdendo
sentido e gerando desinteresse. O psicopedagogo tem como missão buscar a
produção de competências através da construção do conhecimento de forma a
se atingir uma autonomia intelectual. Essa missão será desenvolvida através de
um currículo que equilibre aspectos cognitivos, sociais e afetivos na compreensão
dos processos de aprendizagem.

O plano pedagógico trata das estratégias de aplicação do currículo. Quais serão


as experiências a serem criadas e vivenciadas pelos alunos na apresentação dos
conteúdos de forma a facilitar não só sua assimilação mas também a busca de
relação em uma visão global. O psicopedagogo contribuirá na criação de valor
simbólico, de significado e de envolvimento dos alunos no processo de aquisição
do conhecimento e na construção da relação entre os conteúdos.

2) Avaliação da aprendizagem

Questão eternamente polêmica na educação, a avaliação da aprendizagem


estabelece, já de saída, uma relação de poder do educador para com o aluno. A
transformação dessa relação em uma visão mercantil é direta: alunos precisam
aprender como acumular pontos para serem aprovados. Assim, aprender passa
a ser apenas ganhar as notas merecidas a partir de mais ou menos tempo
dedicado ao estudo. Como decorrência, os alunos "aprendem" a estudar apenas

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o suficiente a fim de "ganhar" as notas necessárias para alcançar a aprovação –
excluindo completamente a ideia do desenvolvimento pessoal e intelectual.

A psicopedagogia propõe uma avaliação humanizada. Esse conceito busca reduzir


as distorções de aprendizagem em contextos como os de alunos que compensam
notas ruins com outras boas, abandonando ao longo do processo diversos
fragmentos de conteúdo. Com a criação de uma variedade de eventos e formas
de avaliação, o aluno tem oportunidades de progredir em seu envolvimento com
o conteúdo e, assim, alcançar melhores resultados. Esse conjunto de eventos e
formas de avaliação deverá buscar formas concretas e cotidianas de forma a
colocar o aluno como personagem da questão.

A autoavaliação é outra estratégia que busca favorecer a construção do espírito


crítico e da autoconsciência. Ela deve ser praticada desde o ensino fundamental
– ainda que com a utilização de desenhos e legendas.

A avaliação qualitativa é uma estratégia que dá ao professor meios de devolver


ao aluno sua visão do rendimento em termos de habilidades e comportamentos
que não podem ser quantificados através de questões objetivas dispostas em
uma prova.

3) Fracasso escolar

A responsabilização do aluno no fracasso escolar leva em conta como causas a


falta de interesse, baixo investimento na atividade escolar, deficiências que
eventualmente impedem que o processo de aprendizagem ocorra normalmente,
condições sociais, contextos familiares e privação cultural, entre outros aspectos.
Apesar de todos esses fatores contribuírem para o baixo rendimento e eventual
fracasso, limitar a questão a apenas esse conjunto em nada contribui para a
mudança do quadro e sua reversão. A prática pedagógica deve ser
constantemente revista e avaliada quanto à qualidade das experiências de
aprendizagem e redução de atividades repetitivas.

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Mas como é possível fazer com que o aluno aprenda apesar de todas essas
questões e dificuldades? A resposta não é simples, mas sabe-se que, para
aprender, é preciso desejo. Se a escola tiver sentido na vida do aluno, se ele
acreditar que pode aprender, se ele perceber que pode mudar sua história de
vida através do estudo, o processo de aprendizagem contará com o desejo que
é a chave não só para o interesse, mas também para a superação das dificuldades
e barreiras.

4) Conselho de classe

Valiosa oportunidade para discussão de estratégias de criação de


relacionamentos entre conteúdos, o conselho de classe é um momento em que
o psicopedagogo poderá contribuir ativamente na detecção dessas relações e na
mediação com os professores sobre como estabelecer novas experiências de
aprendizado. É a ação coletiva dos profissionais que atuam em uma escola que
deve ir muito além das questões de indisciplina ou dos problemas administrativos
e operacionais da escola.

5) Reuniões de pais

As famílias são as cuidadoras dos alunos e, portanto, participam ativamente do


processo de aprendizagem. É comum ouvirmos reclamações sobre a pouca
participação dos pais na vida escolar dos alunos. Mas as famílias, por sua vez,
também apresentam com frequência queixas de inadequação de aspectos
escolares. Ouvir os pais e dar informações sobre o processo pedagógico é
fundamental para incentivar e manter o interesse da família na aprendizagem.
Algumas providências simples podem resultar em maior comparecimento a
reuniões como a marcação de horários alternativos, além do retorno de
informações de interesse que coloquem os pais como personagens do processo
de aprendizagem.

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Reuniões devem incluir momentos informativos, mas também formativos, ou
seja, de construção de saberes. É desejável também que os pais possam ver o
resultado de algumas atividades desenvolvidas por seus filhos.

6) Inclusão

O tema inclusão não é restrito aos portadores de deficiência, incluindo aí


questões raciais e étnicas, desemprego e o fracasso escolar, que pode ser
entendido como um caso especial de inclusão. Historicamente, os portadores de
deficiência eram isolados do ambiente escolar comum através de programas de
educação especializada. A inclusão, hoje, entretanto, é uma realidade que coloca
na sala de qualquer professor – esteja ele ou não preparado – alunos especiais.

Mas incluir é mais do que apenas integrar. Enquanto integração trata de apenas
abrir vagas para alunos portadores de deficiência, a inclusão requer, por conceito,
a adaptação. Essa adaptação poderá ser em pequena ou grande escala, porém
sua ideia é criar meios para receber o aluno e facilitar sua aprendizagem. Um
aluno só estará realmente incluído quando estiver experimentando situações de
aprendizagem para além da socialização. Socialização pura e simples não é
inclusão de fato. Assim, o processo de inclusão envolve a família, que terá
participação como coautora da inclusão, e a formação continuada dos
professores para que possam compreender novos caminhos de aprendizagem de
seus alunos especiais.

7) Formação continuada de profissionais de educação

O psicopedagogo atua na formação continuada dos professores como


incentivador e facilitador, buscando oportunidades para estabelecer vínculos e
relacionamentos entre as diversas áreas de conhecimento. A dinâmica atual de
produção de conhecimento estabelece novos desafios para os profissionais de
educação, que precisam mais do que nunca promover sua própria formação.

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A criação de oportunidades de aprendizado para os docentes é uma ação objetiva
que não deve se limitar ao local de trabalho. Leituras de livros ou periódicos são
recursos que podem se unir à participação em cursos ou pesquisas promovidas
por instituições externas. O psicopedagogo mediará esse processo tanto através
do incentivo à participação quanto pela avaliação dos temas trazidos, além de
eventual divulgação interna dos mesmos.

O Psicopedagogo na Organização de Trabalho

Educação é essencial dentro de qualquer empresa. Ela é a condição para o


exercício de quase todas as atividades das organizações de trabalho. Da
realização de uma atividade operacional à divulgação e ao entendimento dos
objetivos estratégicos de uma organização, o cotidiano das empresas existe em
torno da informação: de sua discussão e entendimento e da capacidade de
ensino/aprendizado.
A atuação do psicopedagogo em uma organização profissional terá diversas
abordagens e contextos possíveis. Alguns deles são:
- Visão estratégica;
- Treinamento e capacitação;
- Pesquisa e desenvolvimento;
- Recrutamento e seleção.

Continuaremos nesta aula abordando esses temas que, apesar de serem centrais,
não esgotam o papel do psicopedagogo na organização de trabalho.

1) Visão estratégica

A visão e a missão de uma empresa sintetizam seu posicionamento no contexto


do mercado em que ela pretende atuar. Elas condensam toda uma estratégia de
ocupação dessa posição normalmente explicitada nos planos estratégicos. Os
planos estratégicos de organizações de trabalho são a orientação primária para
todo o corpo de colaboradores. Eles possuem objetivos-macro bem definidos que

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a organização elegeu como estratégicos, além das ações a serem desenvolvidas
e os condicionantes para que sejam alcançados.

Os planejamentos estratégicos são desenvolvidos pela alta direção. Eles ensejam


o desenvolvimento de outros planos: os planos táticos, que serão elaborados nos
níveis gerenciais com objetivos mais pontuais. Planos táticos serão, por sua vez,
utilizados nos níveis operacionais para o planejamento operacional, que é aquele
que regula as atividades da empresa.

Assim, o correto entendimento e a transmissão das informações envolvidas na


missão, na visão, nos planejamentos estratégico, tático e operacional são
essenciais para que a organização atinja seus objetivos.

Esse é, por essência, um processo de educação/aprendizagem. E é um processo


normalmente considerado de missão crítica, ou seja, tem o maior nível de
importância para a organização.

O psicopedagogo atuará na elaboração desse processo, na adequação dos


conteúdos e estratégias de apresentação dos mesmos aos níveis adequados, na
avaliação do aprendizado e na resolução dos eventuais problemas a ele
relacionados.

Estão, nesse contexto, deve-se promover o encaminhamento de problemas


relativos à aprendizagem, mediação de conflitos, barreiras organizacionais ou de
caráter individual dentro do ambiente empresarial.

Ao psicopedagogo, cabe ainda promover e avaliar ações de aprendizagem do


colaborador na equipe, compartilhar a construção do saber em grupo, incentivar
formas de se relacionar, criar harmonia entre funcionários e líderes.

2) Treinamento e capacitação de liderança

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A transmissão de informações e o aprendizado de técnicas, métodos e boas
práticas de execução de atividades operacionais são também um processo de
missão crítica para as organizações de trabalho.

O psicopedagogo atuará na elaboração desse processo, na adequação dos


conteúdos e estratégias de apresentação dos mesmos aos níveis adequados, na
avaliação do aprendizado e na resolução dos eventuais problemas a ele
relacionados.

Buscar experiências significativas de aprendizado através de técnicas como


tutoria, workshops, palestras ou projetos-piloto é fundamental para o incentivo
à criatividade e à busca de excelência pelo corpo funcional.
Cabe também ao psicopedagogo ajudar a organização a superar as
fragmentações de áreas setoriais, promovendo atuação integrada de acordo com
as estratégias da empresa.

O profissional pode desenvolver alternativas e mudanças no local de trabalho,


desenvolvendo, dessa maneira, a potencialidade de cada colaborador, assim
como treinar a relação inter e intrapessoal dos indivíduos através de dinâmicas,
aprimorando a capacidade de aprender de cada um.

Liderança
”A única definição de líder é alguém que possui seguidores. Algumas pessoas são
pensadoras. Outras, profetas. Os dois papéis são importantes e muito
necessários. Mas, sem seguidores, não podem existir líderes.”
(Peter Drucker)

Liderança é:
 Condução de uma ou mais pessoas;
 Habilidade de motivar e influenciar;
 Atuação ética e positiva;
 Formação de equipe a partir de grupo;

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 Capacidade de gerar resultados;
 O gerente é um profissional encarregado de um processo;
 Recursos de diversos tipos;
 Metas em várias dimensões;
 Caráter administrativo;
 Contexto da organização.

O líder influencia pessoas para obter resultados com suas atitudes e


comportamentos. O líder mais eficaz é o que atende às necessidades de seus
seguidores e de suas equipes. Quando as equipes são lideradas de forma
eficiente, há planejamento, causa e consequência em todo seu contexto
operacional. O trabalho de um grupo sem liderança eficiente se perde.

Tipos de liderança: AUTOCRÁTICA


 Também chamada autoritária ou diretiva;
 O líder decide sem levar em conta a opinião do grupo;
 Critérios desconhecidos pelo grupo.

Tipos de liderança: DEMOCRÁTICA


 Também chamada participativa ou consultiva;
 Foco nas pessoas;
 Participam das decisões;
 Diretrizes debatidas e decididas pelo grupo.

Tipos de liderança: LIBERAL


 Também chamada laissez-faire;
 Maior liberdade;
 Indica uma equipe madura, autodirigida;
 Sem supervisão constante;
 Pode ser indício de liderança negligente ou fraca.

Tipos de liderança: PATERNALISTA


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 O líder e a equipe têm relações interpessoais como pais e filho;
 Não é o modelo adequado ao contexto profissional;
 É preciso buscar o equilíbrio.

OUTROS TIPOS DE LIDERANÇA


 Coercitiva;
 Controladora;
 Orientadora;
 Integradora.

A liderança pode ser desenvolvida?

Liderança não é um dom e pode ser desenvolvida. Não é preciso nascer com
certas habilidades para se tornar um gestor bem-sucedido. Assim sendo,
precisamos aprender certas habilidades. E aprendizagem é um assunto que está
diretamente relacionado à psicopedagogia.

3) Pesquisa e desenvolvimento

Atividades de pesquisa e desenvolvimento demandam o aprendizado e domínio


de novas técnicas. Isso poderá ser uma barreira ou uma oportunidade para que
a empresa alcance maior competitividade. Assim, a atuação do psicopedagogo
poderá facilitar a aquisição e o desenvolvimento de novas tecnologias, além do
aprimoramento daquelas já incorporadas à operação da empresa.

4) Recrutamento e seleção

A composição do corpo de colaboradores é também essencial para que a empresa


atinja seus objetivos estratégicos. Com foco nas áreas de recrutamento e seleção
de pessoal, o psicopedagogo tem como principais atividades avaliar a qualidade
da prática especifica de área, criar um sistema de avaliação e desempenho, além
de realizar pesquisas sobre emoções dos colaboradores.

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O psicopedagogo colabora com o profissional de gestão de pessoas, assumindo
papel de avaliador e líder nos processos de aprendizagem com projetos,
melhorando a qualidade do recrutamento e seleção, organização e levantamento
do diagnóstico, listando perfis específicos e podendo estabelecer um princípio
didático aos treinamentos.

O profissional de psicopedagogia também atua na detecção e discussão dos


problemas de aprendizagem, podendo trazer soluções inovadoras para o
crescimento profissional por enxergar dificuldades que ainda não são
reconhecidas pela empresa.

Essa atuação acelera o processo de mudanças e inspira outros setores a se


engajarem em torno de uma causa comum.

O psicopedagogo que atua em organizações de trabalho é organizado e tem


planejamento, capacidade de liderança, responsabilidade, habilidade para
trabalhar em equipe, visão do futuro, facilidade de comunicação e expressão,
sabe ouvir e é persistente e criativo.

A intervenção do psicopedagogo na empresa poderá representar um diferencial


competitivo para os gestores, ajudando-os a superar complicações das relações
humanas.

O psicopedagogo no ambiente Hospitalar

A atuação do psicopedagogo em um ambiente hospitalar terá como alvos


principais:

- O ambulatório – no qual o profissional de psicopedagogia irá desenvolver


trabalho de identificação das possíveis causas de transtornos de aprendizagem
em casos de pacientes que tenham sido encaminhados por médicos como

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pediatras e neurologistas, entre outros. Esse tipo de atuação é bastante
semelhante à atuação em psicopedagogia clínica, utilizando os mesmos métodos
e técnicas.

- A internação – na qual o psicopedagogo atuará tanto junto à pediatria em


relação aos leitos de adultos, construindo um trabalho de reestabelecimento de
vínculos com a aprendizagem, facilitando a volta desses internados para suas
escolas, faculdades e trabalho. Através de trabalhos lúdicos, atividades motoras,
jogos, teatro, e dentro das possibilidades da instituição, da patologia e da
enfermidade do sujeito, o psicopedagogo irá também trabalhar a autoestima dos
pacientes.

- A administração – na qual o profissional de psicopedagogia irá participar de


grupos de trabalho dentro do hospital em parceria com os serviços de RH e o
setor de serviço social, fornecendo aos trabalhadores melhoria da qualidade de
vida, autoestima, respeito ao trabalho e valorização do trabalho.

- As classes hospitalares e brinquedotecas – nas quais são promovidas oficinas,


atividades psicomotoras, pedagógicas, psicodrama, música, teatro e arteterapia
com o objetivo de tornar a internação menos estressante tanto para
acompanhantes quanto para o internado. O psicopedagogo trabalha a afetividade
entre as equipes de enfermeiros, médicos, pacientes e familiares em um
ambiente lúdico, educativo e prazeroso.

A legislação brasileira reconhece o direito de crianças e adolescentes


hospitalizados ao acompanhamento pedagógico-educacional. (Política Nacional
de Educação Especial MEC/SEESP, 1994 e 1995).

Essa legislação propõe que a educação em hospital seja realizada através da


organização de classes hospitalares, devendo-se assegurar oferta educacional
não só aos pequenos pacientes com transtornos do desenvolvimento como
também às crianças e aos adolescentes em situações de risco, como é o caso da

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internação hospitalar. A classe hospitalar é uma alternativa de atendimento
educacional especializado, sendo ministrado a alunos com necessidades
educacionais especiais temporárias ou permanentes em razão de tratamento de
saúde que implique prolongada internação hospitalar e impossibilite-os de
frequentar a escola.

Psicopedagogia e Terceira Idade

A psicopedagogia está voltada para a compreensão do ser humano no seu


processo de aprendizagem, nas diferentes etapas de sua vida, incluindo aqui
também o idoso. O processo de saber envelhecer é tão importante como o
processo de crescimento. Atualmente vemos um aumento crescente da
população idosa. Isso se deve a vários fatores; entre eles, a redução da
mortalidade infantil e os avanços da medicina.

Não há uma idade que possa definir exatamente quando o ser humano começa
a depender de cuidados especiais, pois o envelhecimento e os sintomas que
aparecem com a idade vão variar de acordo com uma série de fatores, como
estilo de vida, ambiente onde o sujeito está inserido, sua carga genética,
pressões emocionais, condições socioeconômicas, doenças crônicas, perfil de
trabalho, entre outros aspectos. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), a velhice se inicia aos 60 anos. Mas contamos que a idade cronológica é
a que tem como base a data de nascimento, enquanto a idade biológica tem a
ver com o metabolismo e é demonstrada pelo organismo, podendo, inclusive, ser
aferida quando comparada a valores normativos estipulados pela média obtida
em outras pessoas. E temos também a idade psicológica, que pode ser percebida
por outros aspectos ligados a cognição e administração emocional. Assim, esse
perfil de idade tem ligação com a maturação mental e como a pessoa internalizou
a soma de experiências já vividas. É necessário levar em conta também que,

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muitas vezes, as idades biológica e psicológica não coincidem necessariamente
com a cronológica.

Considerando-se que o objetivo do psicopedagogo é pesquisar e trabalhar nas


manifestações cognitivo-afetivas do sujeito em situação de aprendizagem, esse
profissional fará o papel de mediador entre o idoso e a construção ou
reconstrução do conhecimento, interagindo para promover a superação das
dificuldades apresentadas. E elas poderão ser de várias ordens, desde aquelas
relacionadas ao declínio das funções naturais do corpo humano e do sistema
nervoso central como aquelas decorrentes do abandono que muitas vezes sofrem
os idosos. Poderemos lidar com problemas de memória, problemas de ordem
psiquiátrica e também problemas emocionais que envolvem tanto a carência
afetiva quanto a dificuldade em reconhecer e aceitar as mudanças que
aconteceram com o tempo. O psicopedagogo deverá conhecer as transformações
que podem ocorrer na velhice, as várias morbidades psiquiátricas possíveis e as
doenças crônicas – e deverá, necessariamente, trabalhar com uma equipe
multidisciplinar que poderá, junto com ele, discutir todos os efeitos do
envelhecimento em seus múltiplos aspectos.

O trabalho psicopedagógico com o idoso busca reintegrá-lo ou integrá-lo à


sociedade, levando-o a retomar a autoria da própria história com o orgulho e
com a sabedoria que apenas os mais velhos têm.

É o regate de um conhecimento e de uma vivência que nenhum livro ou manual


consegue captar.

O psicopedagogo precisa estar atento à valorização dos significados que cada


idoso apresenta, ao sentido que assegura a continuidade da sua vida, a sua razão
de existir.

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Não basta a dedicação externa aos cuidados externos e o conhecimento das suas
necessidades básicas se seus sentimentos e significados de valores não forem
respeitados.

Deve-se estimular o cérebro da pessoa idosa, fomentar a produção de neurônios


e incentivar a memória com exercícios, seja através da leitura, da dança, dos
jogos, do canto, ao se tocar um instrumento, de atividades manuais, tarefas que
proporcionem prazer.

A intervenção psicopedagógica pode ir ao encontro de uma melhor qualidade de


vida e ser capaz de proporcionar uma maior autoestima, otimizando o tempo e a
vida da pessoa idosa.

Atividades possíveis:

o Exercício de memorização através de leitura, da dança e dos jogos, além


de atividades manuais para as quais eles tenham aptidão formada ao
longo da vida;
o Formar rodas de debates para que eles retomem aprendizagens
adquiridas ao longo da vida, exaltando experiências positivas e negativas,
ressaltando maneiras de fortalecê-las ou evitá-las;
o O estímulo do cérebro através de desafios pedagógicos diversificados;
o Introdução às novas tecnologias de fácil acesso de forma didática;
o A realização de atividades físicas de natureza leve com acompanhamento
profissional adequado para a melhoria do desempenho físico.

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