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Ministrante: Nathalia Belmonte

Psicopedagoga e Terapeuta ABA

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Módulo I – O que é ABA? Quem pode aplicar?

Você já deve ter ouvido falar em “método ABA”, método para tratamento do
Autismo, mas talvez você ainda não saiba que ABA é uma ciência. Como
podemos explicar melhor sobre isso? Antes de iniciarmos nosso estudo sobre
ABA especificamente, vamos entender primeiro porque ABA é uma ciência e não
um método.

O comportamento humano é interesse de estudo como uma ciência. Cada


sujeito possui comportamentos que são responsáveis pela sua filogênese, e
também pela interação com o ambiente e sua cultura, como a ontogênese e
sociogênese. Rastrear variáveis desses três níveis de determinação do
comportamento é o empreendimento científico do Behaviorismo.

Behaviorismo é uma palavra de origem inglesa que se refere ao estudo do


comportamento. Surgiu em 1913, por John Watson, como uma proposta da
Psicologia para entender como pensamos, sentimos e agimos. A partir do
Manifesto Behaviorista, Watson, influenciado pelas descobertas de Pavlov, se
ateve às metodologias científicas interessando-se pelo funcionamento humano,
pela função adaptativa dos comportamentos, cujos resultados estão
fundamentados na base do Behaviorismo metodológico.

Podemos identificar o comportamento humano de dois tipos:


comportamento incondicionado ou reflexo, cujo foi fonte de estudos de Watson,
com base nos experimentos de Pavlov, sobre a relação estímulo-resposta, um
comportamento inato, de ordem filogenética, ou seja, um estímulo no ambiente
elicia uma resposta no sujeito.

Outro tipo de comportamento, é o comportamento operante, um


comportamento 100% aprendido.

Em 1930, Burrhus Frederic Skinner, constatou que muitos comportamentos


não podiam ser explicados pelo paradigma S-R, diferentemente do observado

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no comportamento reflexo, não havia uma relação direta de um estímulo
eliciando uma resposta. A probabilidade de ocorrência da resposta variava ao
longo de múltiplas exposições aos estímulos. Nesse caso o comportamento
estava sobre o controle de um estímulo antecedente e de uma consequência.

Skinner (2003) define Contingência como um instrumento conceitual na


análise de interações organismo-ambiente. O conceito de contingência é
corretamente aplicado quando o estímulo discriminativo, resposta, e
consequência estão inter-relacionados, sendo representados pelo paradigma
Sd – R- Sc.
Logo, ABA é uma ciência porque sua base filosófica é a Ciência do
Comportamento. A Análise do Comportamento tem três dimensões: 1ª
Behaviorismo Radical, 2ª Análise Experimental, e a 3ª Análise Aplicada, essa
última dimensão que debruçaremos nossos estudos.

Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência de origem inglesa,


Applied behavior analysis, que estuda as variáveis que operam sobre o
comportamento, diminuindo a probabilidade de ocorrência dos comportamentos
menos adaptativos e aumentando a probabilidade de ocorrência dos
comportamentos funcionais.

Apesar de ter ficado conhecida como tratamento para crianças com autismo,
sua eficácia é comprovada para intervenção no comportamento atípico e/ou
neurotípico, para crianças ou para adultos. Tem evidências científicas, que
comprovam a sua eficácia no tratamento quando se deseja operar sobre um
comportamento indesejável, substituindo por outro mais socialmente relevante.
Ficou conhecida como tratamento para autismo, porque em 1987, foi Lovaas que
utilizou pela primeira vez a ABA em um experimento. O objeto foi verificar a
efetividade de um ambiente de intervenções comportamentais intensas e
comparar com a efetividade de tratamento alternativo. Participaram deste
experimento 38 crianças com autismo, 19 delas receberam por dois anos
intensivas horas de intervenção ABA, e as outras 19 crianças foram submetidas
por dois anos em um tratamento alternativo, os resultados comprovaram que
ABA teve eficácia no tratamento das 19 crianças, pois grande parte das crianças

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tiveram ganhos expressivos, e foram consideradas aptas a acompanhar seus
colegas em turmas regulares de ensino, logo, ganhou essa popularidade no
tratamento do autismo.

Três motivos para aplicar ABA no seu filho ou aluno

Além de ser uma ciência e não um método, outros três motivos reforçam
que uma intervenção baseada em ABA é eficaz e traz resultados benéficos para
a criança a curto prazo.

1° - Funciona : É o tratamento que mais tem evidências científicas que


comprovam sua eficácia, tanto para crianças autistas ou para crianças
neurotípicas, ou com outros transtornos do neurodesenvolvimento, como TDAH
e TOD.

2º - Aprendizagem sem erro: Parte do princípio de que toda criança é capaz de


aprender. Se a criança não está aprendendo, é preciso rever a prática do
aplicador. E sempre se perguntar: O que eu estou fazendo de errado que meu
filho ou aluno não aprende? Existem programas específicos para desenvolver as
habilidades da criança, levando em consideração a hierarquia de ajudas.

3º- Respeita o direito de aprendizagem: Respeita a inclusão, os limites da


criança. Sempre devemos nos perguntar: O que a criança já sabe fazer? Quais
comportamentos são relevantes para essa criança?

Logo a frase de Lovaas, faz todo sentido:

“ Se eles não aprendem como nós ensinamos, nós ensinaremos da maneira


como eles aprendem. ”

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Ética e ABA

Mas quem pode aplicar ABA? O aplicador em ABA pode ser qualquer
pessoa que deseja fazer diferença na vida de uma criança, logo precisa levar em
consideração que a intervenção deve ter como objetivo priorizar a qualidade de
vida do sujeito, operando sobre os comportamentos que estão em déficit, para
que aumentem sua frequência e na diminuição dos comportamentos pouco
adaptativos.

O aplicador em ABA pode ser o professor, os pais, um acompanhante


terapêutico, o estagiário, porém é de suma importância que o aplicador tenha
perfil para trabalhar com crianças, seja lúdico e proativo. O aplicador precisa ser
reforçador para a criança, pois uma intervenção baseada em ABA precisa ser
alegre, ativa, lúdica e dinâmica.

O primeiro passo é o aplicador ser reforçador, afinal é preciso criar vínculo


com a criança, essa relação socioafetiva é muito importante, é preciso ser
acolhedor e respeitoso, pois ABA não pode ser aversivo para a criança.
Devemos priorizar uma prática voltada para os esquemas de reforçamento e não
com punição.

O aplicar deve ter sua prática supervisionada por um Especialista em


Análise do Comportamento. Pois os programas de intervenção devem ser
analisados e elaborados pelo supervisor em ABA. Explicaremos mais a frente
quanto isso é complexo e precisa ser muito bem planejado para não trazer
comportamentos indesejáveis para a criança. Por isso é preciso muito estudo
sobre a área da Análise do Comportamento que irá embasar a sua prática como
aplicador ABA. Além disso, é preciso que o aplicador esteja sempre em sintonia
e entrosado com a terapia da criança no contexto terapêutico, para que ambos
estejam estimulando as mesmas habilidades.

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Para que uma intervenção seja considerada ABA é preciso que respeite
essas 8 dimensões:

1ª – Aplicada: Operar diretamente no comportamento do sujeito, melhorando a


sua qualidade de vida. Observar o comportamento que é mais relevante no
momento.

2ª – Comportamental: diretamente relacionado a observação e mensuração do


comportamento. É preciso estar pautado no que a criança já sabe fazer para
partir do mais fácil para o mais complexo.

3ª – Conceitual sistemática: Fundamenta nos princípios e conceitos do modelo


Teórico da Análise do Comportamento.
4ª – Analítica: Acompanhar as evoluções do comportamento, através dos
registros próprios, analisando sobre quais variáveis estão controlando o
comportamento.

5ª – Eficácia : Toda criança tem capacidade para aprender. A intervenção


precisa partir de uma aprendizagem sem erro, respeitando os níveis de
habilidade do sujeito. Caso a criança esteja errando, a prática precisa ser
reavaliada.

6ª – Tecnológica: Procedimento precisa ser claro e reaplicável por outra


pessoa. Precisa ter um procedimento explicativo.

7ª - Generalização- O comportamento da criança precisa ser generalizado para


outros ambientes, com outras pessoas, resistir ao tempo e estender para outros
novos comportamentos.

8ª- Humana- A intervenção só deve ocorrer com consentimento da família e


participação efetiva das pessoas envolvidas com a criança.

Respeito: Respeitar os limites da criança. Os programas partem de uma


hierarquia de ajudas, para depois ir esvanecendo essas ajudas.

Participação: Envolver os pais e outras pessoas, levando em consideração a


constância, coerência e persistência para não reforçar comportamentos
inadequados.

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Motivação: A criança precisa estar engajada e motivada a querer realizar as
atividades, sempre trabalhando com esquemas de reforçamento e não utilizar
punição. A criança se sente feliz na presença no aplicador? Ela gosta quando
o aplicador se aproxima dela? O aplicador também precisa ser reforçador, muitas
vezes é preciso utilizar a estratégia de equivalência de estímulos, pareando o
objeto que é reforçador para a criança com a presença do aplicador.

Comportamento Operante

Nos dedicaremos ao estudo do comportamento operante, uma ação


voluntária e 100% aprendida. No comportamento operante a resposta sempre
produz uma consequência. O repertório comportamental da criança está entre
as coisas que ela faz, então podemos dizer, que a consequência é reforçadora.

Quando o comportamento da criança é mantido por suas consequências,


dizemos que ela está sendo reforçada e a consequência é reforçadora, porque
aumenta a probabilidade do comportamento ocorrer novamente. Porém, quando
o comportamento diminui em frequência, ou deixar de ocorrer, dizemos que as
consequências são punitivas. Os termos reforçadores e punitivos não se referem
às características intrínsecas do estímulo, mas sim à função que exerceram
sobre uma classe de resposta.

Quando dizemos que uma consequência é reforçadora, não estamos


dizendo no sentido valorativo, não devemos se ater na topografia, mas sim a
função da resposta.

Exemplo:

A criança bate no braço da mãe:

• Bater no braço poderia ser um modo inadequado de chamar atenção da


mãe.

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• Para outra situação, bater no braço ´pode ser usado para dizer “não
quero”.

No primeiro exemplo: a criança bate para ter a atenção da mãe, e a mãe dá


atenção a ela. Logo reforça o comportamento de bater, adicionando o estímulo
de ter a atenção da mãe.

No segundo caso, a criança bate para tentar sair de uma demanda, algo
que não quer fazer, e a mãe deixa a criança sair. Logo, temos aí uma
consequência reforçadora, na próxima vez que a criança quiser fugir ou se
esquivar de uma demanda ela irá bater, pois eliminou um estímulo que estava
sendo aversivo para ela.

Temos nos dois exemplos uma Tríplice contingência, onde o comportamento da


criança está sobre controle do estímulo antecedente e da consequência
reforçadora:

Exemplo 1:

Antecedente - Sd Resposta - R Consequência Sc


Presença da mãe Bater no braço Ter atenção da mãe

Exemplo 2:

Antecedente - Sd Resposta - R Consequência - Sc


Atividade solicitada pela Bater no braço Não realizou a atividade
mãe

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Consequências

A consequência pode aumentar a frequência de ocorrência futura da


classe de resposta que a antecedeu ou pode diminuir a frequência.
Aumenta a frequência: Reforçamento
Diminui a frequência: Punição

Assim, discorreremos sobre os tipos de Consequências:

O reforço positivo é um estímulo adicionado no ambiente que aumenta a


frequência da resposta. Não tem caráter valorativo, mas sim matemático.
Suponhamos que uma criança está na sala de aula e começa a chorar para
ganhar um brinquedo, a professora olha para a criança e entrega um brinquedo
para que ela pare de chorar. Digamos que a criança continua a repetir esse
comportamento outras vezes. Neste caso, muito claramente ocorreu um
reforço positivo, pois entregar o brinquedo quando a criança estava chorando
foi uma consequência reforçadora para o aluno, que tentava obter o objeto.
Logo, aumenta a probabilidade de chorar outras vezes quando quiser ganhar
um brinquedo.
O reforço negativo é a retirada de um estímulo aversivo do ambiente,
aumentando a probabilidade de frequência da resposta. No exemplo acima,
entregar o brinquedo para a criança foi um reforço negativo para a professora,
pois retirou um estímulo aversivo para ela, que era a criança chorando na aula.
Com isso todas as vezes que a criança chorava, a professora lhe entregava
um brinquedo na tentativa de acalmá-la, assim observamos claramente que o
reforço negativo, aumenta a probabilidade de resposta ocorrer novamente.
Skinner (2003), cita mais dois tipos de reforçadores: Naturais e
arbitrários. Os reforçadores naturais são produtos diretos da consequência
reforçadora, ou seja, se a criança adorar pintar, a pintura é produto direto de
reforçamento. Os reforçamentos arbitrários são produtos indiretos de

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reforçamento, ou seja, para a criança se sentir motivada em uma atividade de
pintura, a professora utiliza uma consequência reforçadora indireta, após a
pintura a criança recebe o brinquedo preferido, sendo assim, arbitrária.

Sd R Sc
A ABA não estuda aspectos isolados do ambiente, como se o ambiente
fosse a causa do que os organismos fazem. E ela também não estuda
isoladamente o que os organismos fazem, como se o organismo fosse o agente
causador de suas ações.

Reforçadores Positivos
Elogios, sorrisos, aplausos, polegar
Sociais para cima, uma piscadinha, mandar
beijo, demonstrar muito entusiasmo
Tangíveis Brinquedos, livros, objetos de
interesse, figurinhas
Atividade Um jogo, um vídeo, um filme, uma
brincadeira
Físicos Cócegas, abraço, beijos, etc
Doces, frutas, lanche, guloseimas,
Comestíveis etc.

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Entendemos que reforço aumenta a probabilidade do comportamento
ocorrer novamente, mas quando estamos diante de um comportamento
inadequado, ou indesejável e pretendemos diminuir a sua ocorrência,
utilizamos a punição. O termo punição foi escolhido por Skinner, como
consequência que reduz a frequência de determinado comportamento, no
entanto a punição tem uma relação idiossincrática, pois não existe um estímulo
que seja punidor por natureza, só será punidor, caso diminua a frequência do
determinado comportamento. (SKINNER, 2003).
Baum, (2006) relata dois tipos de punição, a saber: Punição positiva e
Punição negativa, sendo que as duas diminuem a frequência do
comportamento. Na punição positiva é adicionado um estímulo aversivo para
o indivíduo que está sendo punido. E na punição negativa é retirado um
estímulo prazeroso ou reforçador para esse indivíduo. Em ambas, podemos
observar a eliciação de efeitos colaterais, como as respostas emocionais.
Seguindo essa ideia, resumimos que um comportamento é mantido por suas
consequências reforçadoras e enfraquecido quando as consequências são
punitivas ou punidoras.
Para tanto, quando suspendemos o reforço, o comportamento tende a
diminuir de frequência até seu nível inicial, antes do reforçamento, esse é um
procedimento de extinção operante. Porém, antes do comportamento extinguir,
ele tende a aumentar abruptamente de frequência e em variabilidade, para
depois diminuir, o que chamamos de pico de extinção (MOREIRA e
MEDEIROS, 2007).
Assim utilizamos a extinção ao invés da punição quando queremos
diminuir a frequência do comportamento, sendo menos aversivo para o
indivíduo, porém ainda presenciamos respostas emocionais. Um
comportamento pode, após ter sido extinto, aumentar de frequência, sem a
presença de um reforçador, chamamos esse evento de recuperação
espontânea. (MOREIRA e MEDEIROS, 2007).
No próximo módulo estudaremos os Esquemas de reforçamento e as
Técnicas utilizadas na ABA.
Até lá

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Referências bibliográficas

ALENCAR, E. M. L. S. Psicologia: Introdução aos princípios básicos do


comportamento. Petrópolis: Vozes, 2000.

BAUM, W. Compreender o Behaviorismo: Ciência, comportamento e


Cultura. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas Sul, 2006.

CARRARA, K. Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. São Paulo: Editora


Unesp, 2005.

FAGUNDES, A. J. F. M. Descrição, definição e registro do comportamento.


São Paulo: Edicon, 2015.

HUBNER, M. M. C.; MOREIRA, M. B. (Org.) Temas clássicos da psicologia


sob a ótica da análise do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara koogan,
2012.

MARTIN G.; PEAR J. Modificação do comportamento. O que é e como fazer.


8 ed. São Paulo: Roca, 2009.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A.. Princípios básicos de Análise do


Comportamento. Porto alegre: Artmed, 2007.

RODRIGUES, J. A. R.; ROBEIRO, M. R. (Org.) Análise do comportamento,


pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2005.

SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. 11 ed. São Paulo: Martins


Fontes, 2003.

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