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Lucia Maria Salvia Coelho

RORSCHACH CLÍNICO – MANUAL BÁSICO

EDITORA DIDÁTICA LTDA.

Copyright © Lúcia Maria Sálvia Coelho


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sem a autorização prévia da editora, do autor e colaboradores.
Direção editorial: Liana Maria Salvia Trindade
Projeto gráfico, editora ção: Raimundo Lopes Pereira
Desenho da Capa: Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo
Tiragem: 1.000 exemplares
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Rorschach clínico : manual básico / Lúcia Maria Sálvia
Coelho organização. São Paulo : Terceira Margem
2.002.
Vários colaboradores.
1. Teste de Rorschach 2. Teste de Rorschach - Prática
3. Testes psicológicos 1. Título.
00-0796 CDD-I 55.2842
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
1. Método de Rorschach : Técnicas projetivas: Psicologia 155.2842
2. Rorschach : Método : Técnicas projetivas Psicologia 155.2842
A. Ira, 79 40 Arod. Conj. 43B
CEP 04082-000 — Moema - SP
Teefone/Fax (Cxxii) 5042-4594
E-mau: terceiramargem@uol.com.br
COLABORADORES
• Cana Anauate- Psicóloga formada pela Universidade Paulista, Especialista em
Rorschach e Monitora do 2’ ano na Sociedade Rorschach de São Paulo.
• Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo- Psicóloga, Artista Plástica,
Especialista em Rorschach e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo,
Mestranda em Arte-Educação.
• Giseile B. Petri M. Costa — Psicóloga, Especialista em Rorschach e
Coordenadora de Cursos da Sociedade Rorschach de São Paulo.
• Lilian Pasqualini Casado — Psicóloga, Especialista em Rorschach. Membro da
InternationalAcadeniy ofLaw and Mental Health — Brazilian Branch.
• Lúcia Maria Sálvia Coelho — Psicóloga, Profa. Universitária Especialista em
Rorschach, Profa. da Sociedade Rorschach de São
Paulo, Mestre em Filosofia das Ciências e Doutora em Ciências Médicas.
• Manoel Carlos Pinheiro Sálvia — Engenheiro, Diretor Técnico Internacional da
Indústria da Borracha (Goodrich), Responsável pela Análise Estatística das
Pesquisas da Sociedade Rorschach de São Paulo, autor do livro: Controle
Estatístico de Qualidade (Publ. interna Filipinas e México).
• Maria Cristina Barros Maciel Pellini — Psicóloga, Mestre em Psicologia,
Especialista em Rorschach, Presidente e Profa. da Sociedade Rorschach de São
Paulo e Profa. da Universidade São Marcos e Faculdade Paulistana.
• Maria Inês Falcão — Psicóloga, formada pela UNISA- Universidade de Santo
Amaro, Especialista em Rorschach, Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo
e Psicóloga encarregada do Serviço de Psicologia do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
• Simone Brunhani — Psicóloga, Especialista em Rorschach e em Psicoterapia
Psicanalítica e Profa. da Sociedade Rorschach de São Paulo.
• Vanda Cianga Ramiro — Psicóloga, Especialista em Rorschach, Mestre em
Psicologia, 1° Secretária, Tesoureira e Profa. da Sociedade Rorschach de São
Paulo e Profa. da Universidade São Marcos.
INTRODUÇÃO
PROCURAMOS aqui expor de modo claro e sucinto os critérios adotados no
Sistema de Silveira para a análise e codificação dos processos psicológicos
mobilizados durante a prova de Rorschach. O propósito deste manual é o de
estabelecer os critérios e procedimentos técnicos indispensáveis à aplicação da
prova e à classificação das respostas, que deverão compor o psicograma.
Iniciamos o leitor na utilização de procedimento coerente e sistemático desde a
colheita dos dados, durante a prova, até a análise e exposição dos resultados.
Todo relatório de um protocolo individual, assim como toda pesquisa no campo
clínico, deverá basear-se em um referencial teórico sobre a dinâmica psíquica
normal, o qual será utilizado como critério para a construção da população normal
de confronto.

As condições para a utilização da prova de Rorschach em outras áreas


profissionais — como a Antropologia, a Psicologia Genética, Orientação
Pedagógica ou Seleção Profissional — e que implicam em metodologia e
pressupostos teóricos específicos, serão examinadas em outras publicações.
Exporemos em outro volume as questões fundamentais de ordem teórica e
experimental sobre as concepções decorrentes do modelo sistêmico evolutivo do
psiquismo humano que norteiam a sistematização e interpretação dos dados
fornecidos pela prova de Rorschach.

Portanto, o presente volume contém apenas os critérios básicos adotados para a


aplicação do Rorschach e a classificação das respostas, os valores estatísticos
encontrados para os diferentes fatores e índices da prova e a sistematização dos
resultados para a elaboração de relatórios clínicos tal como são feitos no Sistema
de Silveira.

O Manual de Rorschach Clínico foi organizado em três partes, precedidas por um


capítulo sobre as condições de aplicação da prova.

O capítulo inicial de Maria Cristina B. M. Pellini apresenta as condições técnicas


de aplicação da prova de Rorschach e o material para o registro dos dados da
prova (folhas de distribuição e súmula do psicograma). Além dos esclarecimentos
sobre o modo de transcrever as respostas fornecidas na fase associativa de
realização do Rorschach, a autora informa sobre o modo de encaminhar o
inquérito, procedimento fundamental para a classificação correta das respostas.

A PRiMEIRA PARTE

Símbolos e Critérios de Classificação — é composta por cinco capítulos que


abrangem os diferentes componentes a serem codificados nas respostas aos
estímulos do Rorschach: as modalidades de organização do campo
perceptual, as categorias de fatores determinantes das respostas, o
conteúdo verbal correspondente à diferentes tipos de categorização
semântica das imagens e, quando for o caso, o registro da freqüência da
resposta (Vulgar ou Popular).

O capítulo 1— Localização das Respostas: Modalidades de Observação —


refere-se ao modo com que os examinandos percorrem o olhar, distribuindo sua
atenção nas diferentes áreas que compõem os estímulos nas diferentes pranchas
do Rorschach, durante a organização do campo perceptual. A autora, Vanda
Cianga Ramiro, após esclarecer a distinção entre as categorias principais e
secundárias de localização, expõe em seu texto os critérios para a classificação
das diferentes modalidades de respostas, apresentando exemplos que facilitam a
compreensão do leitor.

Os capítulos II, III e IV abrangem as diferentes categorias de fatores


determinantes, cada uma delas representando os processos psíquicos
subjacentes ao modo com que o examinando mobiliza seus recursos subjetivos
para a construção de diferentes imagens.

Cabe aqui uma breve referência às concepções de Silveira na identificação de


categorias de determinantes como expressões paradigmáticas do processamento
psicológico de experiências individuais, pela ativação dinâmica de diferentes
sistemas e funções definidos por um modelo teórico de personalidade.
No modelo de Silveira, as funções psíquicas organizam-se em sistemas dinâmicos
e evolutivos que permitem a distinção teórica de três setores da personalidade:
afetividade, conação e inteligência. No Rorschach, cada série de fatores
determinantes irá traduzir a expressão predominante de sistemas de uma ou mais
esferas da personalidade (sistemas intrínsecos ou extrínsecos). Os fatores de
cada série de categorias determinantes referem-se aos diferentes níveis de
amadurecimento das funções psíquicas mobilizadas durante a prova (critério
diacrônico) enquanto que cada categoria representa um setor específico da
personalidade, na expressão da dinâmica atual do psiquismo (critério sincrônico).

Assim, a série de respostas de forma indica o modo e a extensão com que o


examinando mobiliza os recursos conativos ao examinar as condições do
ambiente externo e a ele subordinar as próprias condições subjetivas e
necessidades afetivas. Pelo fato de refletir a aplicação da inteligência ao exame
da realidade, as respostas de forma exprimem dinâmismos de ordem conativa e
extrinsecamente intelectuais.

As séries de respostas de movimento e de perspectiva traduzem processos


cognitivos de diferentes ordens: aqueles que correspondem à elaboração de
concepções autônomas e criativas do indivíduo, desenvolvidas nas diferentes
fases de amadurecimento psicológico (RM) e aquelas que dependem da
experiência concreta relacionada à concepção subjetiva da posição espacial,
tendo o corpo como parâmetro referencial (RPs). Enquanto as RM correspondem
à processos de ordem basicamente cognitivos, as RPs implicam necessariamente
a integração das funções cognitivas e conativas.

Os determinantes das séries cromática e de luminosidade representam


experiências de ordem afetiva. Enquanto as RC traduzem a expressão de
impulsos afetivos primários ligados à sobrevivência e de sentimentos complexos
decorrentes das experiências interpessoais, as RL decorrem de imagens
suscitadas pelo interesse afetivo, mas que resultam de noções ou de concepções
cognitivas que provocam intensa repercussão emocional: processo de ordem
afetivo-cognitivo.
A distribuição dos diferentes fatores, em cada série de categorias
de determinantes do Rorschach, acha-se sintetizada na figura do
tetraedro desenhado por Silveira.

O capítulo II — Determinante Formal (RF) - examina a atuação das funções


conativas que presidem a estabilização da atenção para o julgamento das
condições do ambiente externo e o controle coordenado dos impulsos subjetivos
mobilizados durante o trabalho mental. Neste capítulo as autoras Carla Anauate e
Maria Inês Falcão expõem os critérios adotados para a classificação das
respostas determinadas pela forma dos estímulos selecionados nas manchas de
Rorschach. Estabelecem ainda a distinção necessária entre diferentes
propriedades no processo de estruturação formal das imagens:
qualidade formal (F+,F-,F), nitidez e precisão da forma percebida (precisa,
esquemática, vaga) e tipos de atuação dos processos cognitivos e emocionais na
expressão dominante do processo conativo responsável pelo reconhecimento dos
padrões formais da resposta (concreta, especial e dinâmica). Os exemplos de RF
elucidam a distinção entre estes diferentes tipos de RF.
O capítulo III — Determinantes Cognitivos - abrange duas categorias distintas
de fatores que correspondem à expressões diversas
do processamento cognitivo das experiências.
Assim, o ilem III.] — Determinantes da Série Movimento (RM) - refere-se ao
processo cognitivo em que são evocadas imagens em movimento e que resultam
da elaboração intrínseca de experiências fundamentais ao examinando durante o
processo de desenvolvimento da auto-afirmação nas relações interpessoais. Esse
tipo de trabalho mental implica em maior grau de abstração e raciocínio dedutivo
intimamente associado à concepção temporal das experiências.
Neste texto, Flavia Aparecida Chammas expõe os critérios utilizados para a
classificação das diferentes categorias de RM (M, m, m’) propondo exemplos que
elucidam a expressão do processo cognitivo representado em cada tipo de
imagem. A autora indica ainda a distinção entre dois tipos principais de movimento
(extensor e flexor) e assinala a exigência da avaliação da qualidade formal das
RM, como informação valiosa para a análise do processo mental examinado. Na
parte final deste texto acha-se reproduzida a “Escala de Graus de energia de
movimento”, adaptada por Silveira à partir da concepção de Piotrowiski. A
avaliação do grau de energia mobilizado para a realização do movimento
correspondente à imagem mental evocada pelo examinando apenas deverá ser
interpretada quando, em um protocolo, houver um número superior à três RM,
abrangendo pelo menos duas categorias diferentes

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 17


O item III. 2 — Determinante Perspectiva- examina uma outra ordem de
processos cognitivos: aqueles que expressam a concepção espacial das
construções elaboradas pelo examinando. Nesse caso a coordenação dos
elementos, distribuídos segundo uma vertente espacial, depende da intervenção
conjugada das funções conativas, ou motoras, diretamente associadas na noção
subjetiva de orientação espacial, e a elaboração cognitiva da imagem
correspondente. Trata- se portanto de um processo cognitivo-motor, abrangendo
sistemas de diferentes setores da personalidade.
Neste texto, Giseile B. Petri M. Costa examina os diferentes níveis de construção
da noção espacial (Ps, ps, ps’) indicando o critério para a classificação das
respostas correspondentes à cada nível. De modo a distinguir a importância do
fator espacial na elaboração de diferentes tipos de RPs, a autora se detém na
análise dos exemplos por ela mencionados.
O capítulo IV — Determinantes Afetivo-emocionais - abrange as duas séries de
fatores determinantes que correspondem à expressão
da afetividade: RC e RL.
O item IV] — Determinantes Cromáticos - expõe os critérios adotados para a
classificação de uma resposta como determinada pela qualidade cromática da
área examinada. O fato das RC corresponderem à reações afetivas imediatas,
coordenadas em maior ou menor grau pelo controle motor (FC, CF, C) faz com
que as associações verbais do examinando sejam freqüentemente acompanhadas
por comentários ou qualificações de valor sobre aquilo que foi percebido, o que
facilita a distinção entre as RF e RC.
Além de orientar o leitor sobre o critério distintivo dessas respostas, Simone
Brunhani elucida, e fornece exemplos, sobre a natureza da estruturação das
imagens que deverão ser codificadas como FC, CF ou C. A autora assinala ainda
a possível ocorrência de mecanismos de reação desencadeados pela presença
dos estímulos coloridos mas que não constituem respostas classificáveis. Examina
particularmente o fenômeno da cor forçada ou condensação de cor, onde há uma
interferência no processo de integração da qualidade cromática à forma percebida
[(F(C) )]. A utilização do significado semântico das diferentes RC e não da
qualidade formal desta categoria de determinantes é explicada no final de seu
texto.
Ainda no interior do item IV 1 — mas em um texto à parte,
Lilian Pasqualini Casado analisa o confronto entre as RC e as RM para o exame
do Equilíbrio das Forças Subjetivas, designado por Rorschach como
Erlibnislypus.
Neste texto a autora explica o modo com que Silveira concebe os índices EQ e
EQ’, fornecendo indicações para o cálculo e interpretação dos resultados do
confronto. Distingue assim os diferentes tipos de equilíbrio das forças subjetivas.
Considerando o fato de não se tratar de tipos opostos, mas diferentes, a autora
distingue como “tendências” os valores obtidos no cálculo desses índices.
O índice EQ’ de Silveira constitui uma variante do índice original de Rorschach,
em que o confronto se faz entre a somatória ponderal das RM (M, m e m’) e a
somatória ponderal das RC (FC, CF e C). A avaliação dos dois índices permite a
informação sobre o modo do examinando se comportar, em relação à disposição
afetiva, quando se considera o plano mais amadurecido e autônomo dos
processos cognitivos (EQ) e quando são examinadas concepções imaturas
habitualmente não exteriorizadas no comportamento explícito (EQ’).
O item IV 2 — Determinante Luminosidade - refere-se à vertente emotiva da
personalidade, cujos processos envolvem a integração das noções e concepções
cognitivas e a repercussão afetiva que produzem. Por se tratar de uma categoria
de respostas que oferece maior divergência entre os diferentes Sistemas de
Rorschach quanto à codificação e interpretação dos processos subjacentes à sua
produção, a autora deste texto, Giselle B. Petri M. Costa, tece algumas
considerações iniciais de ordem teórica. Em seguida passa a examinar os tipos de
elaboração das imagens codificadas como L, C’, 1 e 1’, detendo-se na análise dos
exemplos por ela fornecidos.
O capítulo V — Categorização Semântica das Imagens:
Conteúdos das Respostas - redigido por Giselle B. Petri M.Costa,
encerra a primeira parte do manual.
SEqUNdA PARTE
Elaboração do Psicograma — Apresentamos neste capítulo os índices,
proporções e correlações dinâmicas que compõem a súmula dos resultados — do
protocolo total e de cada conjunto principal de estímulos: monocromático e
colorido. Indicando a seqüência a ser seguida para a organização dos dados do
psicograma, distinguimos

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 19


os itens que abrangem o exame do Trabalho Mental e aqueles
relativos à análise do Feitio de Personalidade.
No exame do Trabalho Mental distinguimos os três níveis dos processos
cognitivos mobilizados durante a prova de Rorschach:
observação (distribuição da atenção na definição do campo perceptual),
elaboração (construção das imagens à partir dos fatores determinantes) e
comunicação (categorização verbal das imagens). Além disso, definimos os
Mecanismos Inusuais de Reação em função do modo que intervêm no
processamento da resposta.
No Feitio de Personalidade, os processos afetivo-emocionais, as disposições
conativas e a dinâmica psíquica atual são analisadas de modo mais detido. Na
parte final destacamos os critérios para a atribuição dos choques psicológicos
— afetivo (ChC) e emocional (ChL) — e aqueles utilizados na construção das
escalas dos sinais psicodiagnósticos de distúrbios psicógenos (escala de Molly
Harrower) e de alterações psíquicas associadas à lesões cerebrais (escala de
Piotrowiski).
TERCEiRA PARTE
Análise Estatística e Dados Normativos — Nesta terceira parte do livro
encontram-se todos os dados referentes ao estudo estatístico dos fatores e
índices dos protocolos que compõem o grupo de examinandos normais ,utilizado
como população de referência.
Este capítulo inicia-se com a exposição do critério de normalidade adotado para a
seleção dos examinandos da população normal. Em seguida, Manuel Carlos
Salvia comenta a questão da distribuição estatística das variáveis do Rorschach,
referindo-se a estudos atuais e justificando a sua utilização de técnicas específicas
de avaliação dos resultados.
No final do capítulo, encontram-se as tabelas e gráficos dos fatores do Rorschach
no grupo de examinandos normais. Os resultados do estudo estatístico de cada
fator e índice da prova permitiram o estabelecimento dos intervalos de variação,
utilizados na elaboração do psicograma, tal como exposto na segunda parte do
livro.
Lúcia Coelho
PREFÁCIO
A elaboração de novos modelos científicos do psiquismo humano, nos quais os
processos psicológicos articulam-se com fenômenos relacionados à atividade
cerebral e à determinantes de ordem sócio-cultural, vem estimulando o
desenvolvimento de estudos e investigações sobre atenção, memória,
pensamento, consciência e mais recentemente, emoção. A partir desses modelos
teóricos, o aperfeiçoamento de procedimentos experimentais para o exame de
processos psíquicos evidencia a exigência de maior rigor metodológico e
conceptual no campo da psicologia.
Paralelamente a esse movimento da psicologia teórica e experimental, observa-se
a influência crescente do pragmatismo norte- americano na psiquiatria e na
psicologia clínica. O procedimento empírico, de comparação indutiva de sintomas
comportamentais, passa a ser adotado como norma dominante na categorização
dos fenômenos psicopatológicos. Em decorrência, conceitos da psicologia
tradicional
- caráter, temperamento, traços de personalidade - são reformulados, de modo
preciso, à partir de definições operacionais, passíveis de verificação empírica mas
não integrados em modelos teóricos mais amplos. Multiplicam-se as escalas e
questionários como instrumentos de avaliação de expressões sintomáticas
comportamentais: a quantificação dos fenômenos tem primazia sobre o exame
direto das condições mentais do paciente. Na área clínica apenas afastam-se
desse procedimento os exames neuropsicológicos, nos quais são valorizadas as
modalidades qualitativas do processamento das experiências, de acordo com
modelos neurológicos da atividade cerebral.
Levando em conta o fato da psicologia clínica focalizar sua atividade no estudo de
caso, ou seja, no exame do modo com que um distúrbio psicopatológico ou um
conflito emocional afeta a dinâmica de personalidade e interfere na modalidade
particular de integração do paciente ao ambiente fisico e social, consideramos
indispensável a sistematização crítica dos conhecimentos que deverão ser
utilizados
10 RORSCHACH CúNIco — MANUAL BÁSICO
pelos profissionais dessa área. O exame de um caso clínico não exclui a utilização
do procedimento rigoroso, que segue as diretrizes fornecidas por conhecimentos
baseados na atividade prática, com a proposição de quadros nosológicos, mas
que necessariamente implica a utilização de um modelo científico do psiquismo
humano. Ao mesmo tempo que a construção de um conhecimento clínico supõe a
síngularidade da existência de um ser humano, ele também deve possibilitar a
realização de pesquisas que forneçam informações sobre a natureza dos desvios
psicopatológicos e dos diferentes modos de enfrentamento dos conflitos
individuais. Se os resultados dessas pesquisas possuem um menor poder
explicativo que o das pesquisas experimentais, nem por isso elas são menos úteis
e indispensáveis para levantar questões e fornecer sugestões aos modelos
científicos.
O projeto em que se baseia o presente trabalho situa-se nesse contexto atual da
atividade clínica. Procuramos iniciar os psicólogos na utilização coerente e
racional de um instrumento de exame psicológico de ordem mais complexa e
sensível que a maioria das avaliações comportamentais que vêm sendo adotadas.
A prova de Rorschach exige ao mesmo tempo a utilização racional de
conhecimentos teóricos sobre o psiquismo humano e o procedimento sistemático
e objetivo de identificação e codificação das variáveis envolvidas durante a
realização da prova. Os dados fornecidos pela prova de Rorschach fornecem
informações válidas sobre a estrutura da personalidade e os processos
psicológicos por ela mobilizados. O uso do Rorschach na clínica amplia o
conhecimento sobre a personalidade e a natureza dos distúrbios mentais do
paciente examinado, fornecendo indicações sobre a natureza e a gravidade dos
sintomas que apresenta, assim como sobre os recursos psicológicos que ele
dispõe e as modalidades de tratamento ao qual ele deve ser submetido.
Entretanto, o uso desta prova psicológica oferece inúmeras dificuldades devido à
complexidade dos processos nela envolvidos. Assim, já é problemática a distinção
dos fatores da prova e a construção de índices, uma vez que esse procedimento
exige o conhecimento dos processos psíquicos por ela mobilizados, assim como o
exame dos resultados, pois as variáveis estudadas nem sempre se distribuem
segundo uma curva normal, o que dificulta a avaliação estatística e o próprio
confronto com uma população normal de referência. Além disso, a utilização do
Rorschach por um clínico supõe competência teórica e experiência profissional
consistente para a análise e interpretação do psicograma.

RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL CLINIc0 11


Apesar dessas dificuldades, o estudo da prova de Rorschach pode ser uma
descoberta fascinante para o psicólogo. Na medida em que ele for aprendendo a
utilizar os recursos que ela oferece, mais profundo e sensível será seu
conhecimento sobre o ser humano, e é com o intuito de iniciá-lo nessa aventura
que escrevemos o Manual de Rorschach Clínico.
Lúcia Coelho
SUMÁRIO
COLABORADORES . 8
PREFÁCIO
Lúcia Maria Só/via Coelho 9
INTRODUÇÃO 13
TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA
Maria Cristina Barros Maciel l’e/lini 21
PARTE 1- SIMBOLOS E CRITÉRIOS DE CLASIFICAÇÃO
1 — LOCALIZAÇÃO DAS RESPOSTAS: Modalidades de Observação
Landa Cianga Ramiro 37
Critérios dc Classificação 37
Modalidades Principais: G, P, p 37
Modalidades Secundárias: GE, F 42
Modalidades Secundárias Menos Frequentes: p’, PG, GP 45
2 - FATORES DETERMINANTES: SISTEMA CONATIVO
DETERMINANTE FORMAL (RF)
Maria Inês Falcão e Carla Anauate 49
Critérios de Classificação 49
Freqüência e Qualidade Formal (F+, F-, F) 50
Precisão das Imagens 55
Tipos de RF quanto ao modo de processamento das imagens 57
SISTEMA COGNITIVO
DETERMINANTE DE MOVIMENTO (RM)
Flávia Aparecida Chamnias Campos de ArazUo 61
Critérios de Classificação 61
Movimento Humano (M) 62
Movimento Animal (m) 68
Movimento Inanimado (m’) 71
Graus de energia segundo Piotrowski 76
DETERMINANTE DE PERSPECTIVA (RPS)
Giseile B. Petri AI. Cosia 79
Critérios de Classificação 79
Perspectiva Tridimensional (Ps) 80
Perspectiva à partir da noção espacial (ps) 86
SISTEMA AFETIVO-EMOCIONAL
DETERMINANTE CROMÁTICO (RC)
Simone Brunhani 93
Critérios de Classificação 93
Integração Formal: FC 95
Predomínio Cromático: CF 96
Reação Imediata: C 97
AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DAS FORÇAS SUBJETIVAS (EQ e EQ’)
Lilian Pasqualini Casado 103
Erlibnistypus (EQ) 103
Variante de EQ:EQ’de Silveira 106

6 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


DETERMINANTE LUMINOSIDADE (RL)
Giselie B. Pelri M. Costa 111
Critérios de Classificação III
Integração emocional (L e C’) 112
Expressão inter-sensorial: relevo e tacto: (1) 125
Sensação Subjetiva: (1’) 131
3. CATEGORIZAÇÃO DAS IMAGENS
CONTEÚDO DAS RESPOSTAS
Giselie B. Petri M. Costa 135
Critérios de Classificação 135
Categorias de Conteúdo 136
Figura animal (A) Humana (H) 139
Areas de interesses 153
PARTE II- ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA
Lúcia Maria Sálvia Coelho 159
Tipo de Trabalho Mental 159
1. Capacidade Associativa (R) e Tempo de Resposta (T) 159
2. Observação da Realidade 161
2.1. Tipo de Percepção — Indice Perc 161
MODALIDADES PRINCIPAIS 161
Tabela 1—Resposta Globais (G) 161
Tabela 2— Pormenor Primário (P) 162
Tabela 3 — Pormenor Secundário (p) 162
MODALIDADES SEC(JNDÁRIAS 163
Protocolo Total 163
1. Espaço Primário: E 163
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, PG, p’) 163
Conjunto Monocromático 164
1. Espaço Primário E 164
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 165
Conjunto Cromático 165
1. Espaço Primário 165
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 166
2.2. Qualidade Formal das Modalidades Principais 166
3. Qualidade de Elaboração das Experiências 167
3.1. Exame das Condições Externas (%F) 167
Mobilização dos Recursos Subjetivos (Lambda) 167
3.2. Flexiblidade do Pensamento 168
3.3. Elaboração Intelectual lntrínseca(Z) 169
4. Nível da Comunicação Verbal 170
Faixa de Interesses. Categorias de Conteúdo 170
5. Processo de Adaptação à Realidade (R.M.1.) 171
a) Esfera Conativa — Julgamento da Realidade (%F+) 172
b) Esfera Afetiva — Ligação Emocional ao ambiente (%A) 172
c) Esfera Cognitiva — Assimilação Lógica (%V) 172
Construção do Índice e Intervalos de Variação 172
a) Setor Conativo: Julgamento de Realidade 172
b) Setor Afetivo: Ligação Emocional 173
c) Setor Cognitivo: Padrões Culturais 173
6. Mecanismos Inusuais de Reação 173

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL CLÍNIco 7


1. Nível de Expressão dos Ivíecanismos 173
1. Nível de Observação 173
11. Nível de Elaboração 177
III. Nível de Comunicação 182
II. Feitio de Personalidade 184
1. Condições Afetivo-Emocionais: AF 184
Equilíbrio das Forças Subjetivas Eq e Eq’ 185
Nível de Adaptação Emocional (L+C’): (1+1’) 186
Níveis de Expressão dos Afetos FC:CF:C (Conteúdos e Mecanismos) 186
2. Estudo do Self 187
3. Dinâmica Psíquica Atual 187
3.1. Direção em que Aplica a Ativação Psiquica (ou Energia Mental) 187
3.2. Confronto entre os Processos Cognitivos e as Condições
Afetivo-Emocionais 188
a) No Plano Manifesto 189
b) No Plano Latente 190
e) Tipos de Confrontos: Exame da Dinâmica da Personalidade 190
4. Disposições Conativas 191
III. Sinais Psicodiagnósticos 194
1. Choques Psicológicos: Expressões Diversas da Ansiedade 194
Choques Afetivos (chC) 194
Choque Emocional 197
2. Sinais Psicodiagnósticos 200
1. Série de Molly I-Iarrower 201
2. Série de Piotrowski 203
PARTE III - ANÁLISE ESTATÍSTICA E DADOS NORMATIVOS
Manoel Carlos Pinheiro Sálvia e Lúcia Maria Sálvia Coelho 211
1. Conceitos Elementares 211
2. População Normal 213
3. Tabelas 219
Tabela Geral 221
Tabela 1 — Modalidades 225
Tabela II — Modalidades Mono 228
Tabela III — Modalidades Color 231
Tabela IV — Adaptação â Realidade 234
Tabela V — Feitio de Personalidade 237
Tabela VI — Condições Afetivo-Emocionais em Disposição Conativa 240
Tabela VIl—Elaboração 244
Frequência Acumulada 245
Curvas de Frequëncia Acumulada 245
Distribuição dos Resultados: Grupo de Examinandos Normais 251
ANEXOS
Diagramas: Modalidades Secundários 253
Diagramas: Conjunto Monocromático 253
Diagramas: Conjunto Cromático 254
TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH
MARiA CRiSTINA BARROS MAciEI PEI[ir.i
APROVA de Rorschach envolve um processo de construção!
elaboração interna e não meramente de identificação de imagens. A principal
virtude do método de Rorschach é geralmente seu
poder de fornecer um padrão integrado de personalidade global e, em seguida,
articular este padrão de maneira quantitativa específica, em numerosas
dimensões da personalidade. Este efeito, ainda único entre os processos de
avaliação, tornou-se possível, até certo ponto, pela maneira que Rorschach definiu
sua tarefa a partir de um ponto de vista sistemático. Seu interesse inicial era
chegar à natureza das modalidades básicas de funcionamento subjacentes a toda
atividade psíquica de um indivíduo. Ele foi bastante explícito enfatizando que seu
alvo era descobrir “como”, antes de “o que” a pessoa experimenta. Isso significa
procurar não só pelos conteúdos específicos das preocupações, esperanças e
temores mas pela maneira através da qual estes eventos psíquicos vêm à tona, se
expandem, com ressonâncias vivas da atmosfera ao redor, ou como reações
racionalmente controladas. A preocupação é mais com o formal ou funcional do
que os aspectos do conteúdo, substantivos da personalidade.
Segundo Coelho (1980) “A capacidade do indivíduo de reproduzit associar,
modficar combinar e expressar as imagens obtidas a partir de dez cartões que
constituem o psicodiagnóstico de Rorschach está diretamente relacionada à sua
imaginação e ao seu comportamento criador. A imaginação não resulta de uma
faculdade única, mas da ação conjunta das funções afetivas, conativas e
intelectuais” (p. 111).
Na sucessão da apresentação dos dez cartões, verifica-se que
os borrões de tinta são bastante diferentes entre si quanto ao nível de

22 RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO


homogeneidade, presença do vermelho, presença de tons pastéis, equilíbrio na
disposição espacial da mancha no cartão, simetria, dispersão, participando todas
estas características de maneira mais ou menos expressiva na elaboração das
respostas.
A apresentação de uma prancha na Prova estimula diretamente a visão que
integra as experiências através dos outros sentidos e que, conjuntamente com a
audição, nos oferece uma noção de como percebemos a realidade. Tudo o que
acontecer a partir deste momento terá que ver com as disposições próprias,
internas e externas, do examinando: condições psicológicas, ambiente, interesse e
motivação.
Inicialmente, devemos observar que a aplicação do RORSCHACH deve respeitar
as condições básicas para a aplicação de uma prova psicológica, quanto ao
ambiente físico (sala com pouca estimulação, tranqüila e bem iluminada),
estabelecimento de um bom “rapporC’, privacidade, etc.
Recomenda-se que as aplicações sejam feitas durante o dia, sob luz natural, mas
caso não seja possível, que se disponha de boa iluminação, que não cause
sombras ou altere a percepção de cores das manchas.
Quanto à posição do examinador-examinando, recomenda-se que seja adequada
às condições do ambiente de aplicação, desde que possibilite ao examinador
visão do examinando e de suas reações corporais, bem como visão das pranchas
e ainda, que o aplicador evite uma posição que cause maior constrangimento ao
do examinando.
Segundo Coelho (1980) “A sucessão das respostas à série de pranchas constitui a
fase de associação espontônea. Durante esta fase o examinador deverá registrar
exatamente as expressões verbais e mímicas do probando, o tempo que ele levou
para enunciar a primeira resposta de cada prancha (Tempo de reação inicial - Tr
i.) e o tempo total (T T) despendidoporprancha. Após afase associativa passamos
para a fase de inquérito durante a qual devemos apurar os dinamismos
determinantes do conteúdo verbal comunicado pelo examinando” (p. 111).

MATERiAl NECESSÁRiO
Além das pranchas de RORSCHACH (organizadas em ordem
de 1 a X), viradas sobre a mesa: 1 cronômetro; 2 folhas de localização;
2 canetas de cores diferentes; várias folhas de resposta em branco
RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 23
(em média 10 folhas). Este material deve ser organizado previamente
pelo examinador.
PROCEdiMENTO RARA ApLicAçÃo
1. Contato inicial - “RAPPORT”
Antes da aplicação propriamente dita, faz-se necessário o contato
inicial, também denominado “rapport” entre o aplicador e o
examinando.
Do “bom rapport” depende o sucesso da aplicação. O aplicador
deve propiciar um ambiente e contato acolhedor, com o objetivo de
diminuir a tensão inevitável frente à situação de prova.
Deve-se deixar claro para o examinando:
— a natureza da prova — que trata-se de uma avaliação de traços de
personalidade e não mede, exclusivamente, inteligência
ou qualquer outra habilidade específica;
— que pode ser aplicado em qualquer pessoa, de qualquer idade, grau de
escolaridade, nível cultural ou sócio-econômico;
— o caráter sigiloso da prova;
— a finalidade pela qual o examinando está se submetendo à prova: para
aprendizado do aplicador, pesquisa, diagnóstico psicológico, seleção profissional,
solicitação de outro profissional, etc.
— no caso de situação de aprendizagem, explicar a função do observador e a
função do espelho.
1.1. Coleta de Dados:
Deve-se ser feita de modo descontraído pelo aplicador, pois faz
parte do “rapport”, que só termina quando encerramos a aplicação. E
importante pesquisar:
— dados do examinando: idade, data de nascimento, naturalidade, grau de
escolaridade, curso, profissão;
— saúde: se o examinando faz uso de algum medicamento e, em caso afirmativo,
verificar se, dependendo do motivo da aplicação, é importante pesquisar se o
examinando faz uso de substâncias químicas, a freqüência e efeitos deste uso;

24 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO


— disposição do examinando: indagar se está disposto, tem bom hábito de sono,
se está bem alimentado. Caso o examinando esteja com muito sono ou fome, ou
ainda indisposto ou muito tenso, apesar do rapport, deve-se adiar a aplicação.
ApLicAçÃo PROpRiAMENTE DiTA:
A aplicação do RORSCHACH divide-se em duas fases:
ASSOCIAÇÃO e INQUERITO.
AssociAçÃo:
É a fase de associação e construção livre do examinando, frente
aos estímulos (pranchas) que lhe são apresentados.
Quando estiver claro para o aplicador, que coletou e forneceu
todas as informações necessárias, estabelecendo assim um “rapport”
satisfatório, dará as seguintes INSTRUÇOES:
“Vou lhe mostrar algumas manchas de tinta e gostaria que você me dissesse o
que você vê nelas, o que essas manchas parecem para você. Não se preocupe
em acertar ou errar, porque não existem respostas certas ou erradas, as pessoas
vêem coisas completamente dferenies umas das outras e, portanto, não há certo
nem errado; o importante é que você se sinta à vontade para falar tudo aquilo que
você vê nas manchas que vou lhe mostrar As manchas podem ser vistas em
qualquer posição e vou anotar tudo o que você disser Anotarei também o tempo,
mas não se preocupe com o tempo pois é um controle meu, você tem o tempo que
achar necessário. Quando você terminar de ver, você me devolve a prancha”.
É importante discutir alguns pontos destas instruções:
1. Manchas —preferimos o termo “manchas” porjulgá-lo mais ambíguo e de fácil
compreensão para qualquer pessoa. Alguns autores usam termos como “cartões”,
“manchas de tinta”, “lâminas”, “pranchas”;
2. Não existem respostas certas ou erradas — normalmente as pessoas
associam a Prova de Rorschach a testes de
inteligência, que apresentam respostas certas ou erradas,
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 25
por isso, é importante ressaltar que não existem estes tipos
de respostas.
Dadas essas instruções, entrega-se a Pr. 1 na mão do examinando
ou na mesa (caso ele(a) não a pegue), acionando o cronômetro.
O aplicador deverá então:
— anotar a movimentação da prancha que o examinando fizer, usando o seguinte
código:
A posição “normal”- em que se entrega a prancha.
v posição “invertida”- virada de “cabeça para baixo”
> virada para a direita do examinando
< virada para a esquerda do examinando
quando o examinando dá um giro total na figura,de forma rápida
— anotar expressões fisionômicas, expressão corporal, comentários;
— anotar o T.R.I. (tempo de reação inicial) quando for dada a primeira resposta da
prancha (não parar o cronômetro, apenas
anotar, deixando o cronômetro ligado);
— anotar a verbalização do examinando de forma literal, embora por vezes tal
procedimento seja difícil, mas não há qualquer
problema em pedir ao examinando para repetir;
— em hipótese alguma devemos usar gravador, pois este recurso não foi
padronizado para aplicação desta prova.
— caso após a primeira resposta para a Pr. 1 o examinando a devolva, o aplicador
deve estimular mais respostas:
“Você gostaria de tentar ver mais alguma coisa nessa mancha”?
Tal procedimento pode ser repetido até a Pr. III, denominado Estimulação, tem o
objetivo de descartar a hipótese de que o examinando “imagine” que era para
“achar” um único significado em cada mancha.
— anotar o T.T. (tempo total da prancha) quando o examinando devolve a prancha
após as associações feitas (espontaneamente ou após a estimulação - Pr. 1, II e
III), mesmo que não acrescentando nenhuma outra resposta;
— colocar a prancha devolvida pelo examinando sobre a mesa, com a figura
virada para baixo ou ainda sob a mesa se desejar (o examinando deve ficar com
apenas um estímulo de cada vez) e entregar a Pr. II, do mesmo modo. O
procedimento será o mesmo da Pr. 1 à Pr. X.

ObsERvAção:
— Caso o examinando dê muitas respostas por prancha, ou fique um tempo
demasiadamente longo de posse da mesma, podemos interrompê-lo, gentilmente,
solicitando que passe para a prancha seguinte. Isso pode ser feito quando o
sujeito der pelo menos dez respostas na prancha ou fique de posse dela por volta
de dez minutos.

— Caso o examinando não consiga “ver nada”em qualquer uma das pranchas ou
em mais de uma delas, passa-se para a prancha seguinte, sem insistir, pois houve
uma INIBIÇAO frente ao estímulo (anotar na folha de respostas).
Nestes casos, após a apresentação da Pr. X., será feita a
REPASSAGEM, parcial ou total do teste, antes de iniciar a Segunda fase.

Quando será feita a REPASSAGEM:


l’ quando ocorreu Inibição em 1 ou até 3 pranchas:
— caso a Inibição tenha ocorrido frente às Prs. 1 a VII - reapresentar apenas a(s)
prancha(s) inibida(s), dando a
seguinte instrução:
“Vou lhe mostrar novamente essa(s) mancha(s) em que você
não viu nada, quem sabe agora você vê algo nela(s) “.
— caso a Inibição tenha ocorrido frente as Prs. VIII, IX ou X, repassar o teste todo,
conforme justifica Coelho (1990):
com o propósito de se restabelecer o ritmo associativo da série, o que irá facilitar a
atenuação do bloqueio e a elaboração de respostas nos estímulos às pranchas
finais” (p. 22).
2° quando ocorreu a Inibição em mais de três pranchas,
independente de quais sejam elas, devemos repassar o teste todo:

PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 27


“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez, e
quem sabe agora veja algo naquelas que você não viu nada anteriormente, e
outras coisas naquelas que já viu antes, caso queira”.
3° quando o número total de respostas (nas 10 pranchas) for
inferior a 15, também devemos repassar o teste todo:
“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as
observe outra vez e agora veja outras coisas além daquelas que já
viu antes “.
(caso não aumente a produção, iremos trabalhar apenas com as
respostas obtidas);
4° quando ocorreu perseveração acentuada de determinado conteúdo ou resposta
(ex.: mais da metade das respostas dadas forem de anatomia, ou consistirem em
um mesmo conceito, por exemplo “Borboleta”), devemos repassar todas as
pranchas.
“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as
observe outra vez, e veja outras coisas além de...
Em todos os casos, as instruções da REPASSAGEM, quando necessária, devem
ser dadas com tranqüilidade pelo aplicador, como se tratasse de um procedimento
de rotina da prova; será anotado o
T.R.I. e o T.T. da mesma maneira que na primeira associação (posteriormente, na
avaliação quantitativa, serão somados apenas os tempos totais de cada pr. e será
considerado como T.R.I. o tempo da la. associação).
Quando apesar da REPASSAGEM, o examinando continuar não fazendo
nenhuma associação à prancha(s) inibida(s), anotar na folha de respostas que
houve REJEIÇÃO nas referidas pranchas, para posterior avaliação.
INQUERiTO

Terminada a fase de associação (com a repassagem, caso necessário, ou não),


inicia-se a fase denominada INQUERITO, quando serão reapresentadas todas as
pranchas ao examinando (exceto alguma rejeitada) e lhe serão feitas algumas
perguntas, sobre as associações feitas, com o objetivo de compreender o
processo de percepção desenvolvido e a elaboração de cada resposta.
Assim, após reorganizar as pranchas em ordem (de 1 a X), mudar a cor de caneta,
para discriminar melhor esses dois momentos da prova, dar as seguintes
instruções:
“ Vamos passar para uma nova etapa da prova. Agora eu vou mostrar-lhe
novamente as manchas e vou pedir que você me explique cada uma das imagens
que você viu. Vou fazer algumas perguntas para que eu possa entender como
você foi construindo essas imagens em sua mente. Como que, através das
manchas, você foi tendo essas idéias que você disse“. Mostrar para o examinando
a folha de localização, dizendo que irá utilizá-la, mas deixá-la sob a mesa (ou no
colo). Mostrar então para o examinando a Pr. 1: ‘Aqui você disse que
viu um.. .mostre-me, contornando com o dedo em volta da mancha
onde você viu um...

Anotar no mapa de localização o contorno feito pelo examinando, obtendo-se


assim a localização da resposta, ONDE o examinando concentrou a sua
percepção (MODALIDADE DA RESPOSTA), que poderá ser na figura toda, ou
em apenas parte dela. Passar então à pesquisa de “QUAIS” características da
mancha determinaram a construção da imagem para o examinando
(DETERMINANTE DA RESPOSTA). E a parte mais delicada e dificil,
principalmente para o iniciante em RORSCHACH e é preciso muito cuidado ao
fazer as perguntas para não induzir o examinando tendo como exemplo de
resposta: “uma borboleta”, na Pr. 1, perguntar: “O que na mancha te fez pensar
em uma borboleta? “; ou “O que te fez lembrar uma borboleta nessa mancha? “;
ou “Quais características da mancha que te ajudaram a pensar nela como sendo
uma borboleta? “; ou “Como você construiu, na sua cabeça, essa imagem de uma
borboleta à partir dessa mancha? “. Podem ainda persistirem dúvidas quanto à
construção da imagem por parte do examinando ou ter-se ainda a hipótese de que
outras características da mancha também ajudaram na percepção da
imagem citada. Nesse caso, pode-se inquerir: “Descreva-me melhor essa
borboleta”. “Além do(a) . . .o que mais te fez pensar em borboleta nessa
mancha?” “Há alguma característica da mancha que te ajudou a pensar
como sendo uma borboleta?”

ObsEnvAço
— todos os adjetivos utilizados pelo examinando, devem ser inquiridos:
Como por exemplo: “uma borboleta muito bonita”.
“O que, na mancha, te deu a idéia de ser uma borboleta muito
bonita?”
— para “nortear” o INQUÉRITO, é necessário que o aplicador construa hipóteses
sobre os determinantes utilizados pelo examinando, considerando:
FORMA: quando ele utiliza o contorno das manchas;

COR: quando considera as cores na construção de suas respostas;

LUMINOSIDADE: as diferenças de tons no interior das manchas;


MOVIMENTO: quando o examinando projeta cinestesia na mancha, ele “sente”
movimento da mancha;

PERSPECTIVA: quando há a sensação de profundidade, planos diferentes de


construção da resposta.

Evidentemente nenhuma pergunta deve ser feita de modo a induzir o examinando,


por exemplo: ‘A cor da mancha também te ajudou a ver...?” Tais perguntas não
devem ser feitas, pois elas irão intervir no modo pelo qual o examinando constrói a
imagem.
— quando acontecer urna resposta vaga, ambígua ou não definida, como por
exemplo: “monstro”, é preciso saber se é um monstro com características
humanas ou de animal, pedindo-se para o examinando “explicar melhor”; o
mesmo procedimento será feito quando na associação o examinando fala “uma
pessoa” e no inquérito, faz referência apenas ao rosto, é preciso pedir-lhe que
“explique melhor”;

— quando no inquérito o examinando acrescenta outras características que não


havia dito na associação, exemplo: “uma borboleta” (na associação).. .está voando
(no inquérito); perguntar se elejá havia percebido que estava “voando” antes, ou
só no segundo momento (inquérito);

— caso o examinando veja outras coisas no Inquérito, anota-se da mesma forma


e procede-se o inquérito na sequência;

— se, ao final do inquérito, o examinando não tiver dado nenhuma resposta de


cor, ou seja, não tenha levado em conta nenhuma das cores (azul, verde,
vermelho, amarelo, laranja, rosa e marrom) em nenhum momento, podemos ter
uma hipótese de daltonismo ou cegueira às cores; nesse caso, ao final da
aplicação, apresentamos a prancha X e solicitamos que ele nomeie as cores;
— o ideal é que a aplicação do RORSCHACH seja feita em uma única sessão,
mas caso o tempo se prolongue demasiadamente, podemos interromper, após
finda a associação e dar início ao inquérito pelo menos na prancha 1, e continuar
em um outro dia (preferencialmente no dia seguinte).

1.2. Encerramento:

Ao final do inquérito da Pr. X, proceder o encerramento com o examinando, de


modo tranquilo, dando espaço para que o mesmo coloque suas impressões sobre
a experiência vivida.

Agradecer sua participação e acompanhar o examinando ao sair da sala.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de Rorschach,


entrevistas e anamnese heredológica em 102
examinandos. São Paulo, Atica, 1980.
_______________ Questões e procedimentos na construção do
Psico grama de Rorschach. In: Boletim da Sociedade Rorschach
de S. Paulo. Edição Especial, São Paulo, 1990.
LocALizAçÃo DAS RESPOSTAS: MODALIDADES DE OBSERVAÇÃO
VANdA CiANqA RAMiRO
COMPREENDE-SE por MODALIDADE, a área da mancha onde o
examinando percebeu um significado específico, a partir da
observação intelectual, que lhe permitiu focalizar a atenção,
influenciada pelas reações emocionais e pela capacidade de ação. Portanto, é
“onde o examinando viu” a resposta, ou seja, o “campo perceptual”.
No sistema de notações por nós utilizado, encontramos oito diferentes tipos de
MODALIDADES, divididas em duas categorias:
MODALIDADES PRINCIPAIS e MODALIDADES SECUNDÁRIAS, sendo que as
principais caracterizam-se como as mais freqüentemente encontradas na
população média, enquanto as secundárias apresentam freqüência menor ou até
rara, pois segundo Silveira, 1985: “...as categorias de modalidades compõem dois
grupos: umas, a que denominamos principais, porque na concepção de todos os
autores, desde Rorschach, definem o modo de atender à realidade exterior, e
outras menos encontradiças, cuja presença revela dinamismos peculiares do
trabalho mental “(p. 35).

1. Modalidades Principais - G P p
São as mais freqüentes na população média, que correspondem a um dinamismo
normal de percepção, demonstrando que o examinando é capaz de perceber a
mancha de modo amplo (Resposta Global - G), os aspectos mais evidentes
(Respostas de partes - pormenores primários - P) e os detalhes (Respostas de
partes - pormenores secundários - p).

1.1. Resposta Global - G


Serão classificadas como G, as respostas que compreenderem a
mancha toda ou que exclui apenas porções (decorrente de “crítica à
mancha”), mas sempre respeitando a Gestalt global da mancha.
Exemplos:
Portanto, a associação do examinando deve abranger a figura toda, porém, há
dois casos que consideramos como exceções a essa
regra:
— na prancha II — menos a parte inferior em vermelho, denominada P3
— na prancha IV — menos a parte denominada P1 continuará sendo G (global),
desde que o examinado reconheça que as partes citadas fazem parte de sua
resposta, ainda que não saiba o que é:
Exemplos:

Deixará de ser G (Global), quando o examinando as excluir de sua resposta,


quando então será classificada como um Pormenor
Atípico (P atípico).
Distinguimos dois tipos de Resposta Global, considerando-se o
tempo que o examinando observa a figura e verbaliza sua resposta:

Pranchas

1 Borboleta, no desenho inteiro.

IV Um gorila.

V Um morcego, na figura toda.

VII Nuvens.

X O desenho todo me parece um jardim.

Pranchas

Borboleta, na figura int parte da eira, ora (P3) o sei


borboleta seria. emb aqui nã qual

Homem das neves, no seria isso sei o


desenho todo, mas não
(P1). que
ROSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 39
GLOBAL SIMPLES E GLOBAL COMBINADA. Neste último tipo distinguimos dois
modos diversos de estruturação de imagem:
imediata e sucessiva.
a) Global Simples. reconhecimento imediato de uma única gestalt familiar, a partir
da: - observação concreta (processo indutivo do
pensamento), produzindo respostas bem delineares, objetivas;
Exemplos:

— da observação subjetiva, produzindo respostas vagas, pouco delimitadas.

b) Global Combinada: reconhecimento imediato de duas ou mais gestalts


familiares, compondo o global.
1) GLOBAL COMBINADA IMEDIATA - o examinando constrói sua resposta a
partir da observação imediata da mancha, “olha
e constrói”, uma resposta.
Exemplos:

Pranchas

1 Borboleta

IV Um gigante

VI Uma flor

Pranchas

IV O desenho todo parece algo macio.

VI Essa figura lembra tristeza.

X Uma festa, muito alegre e colorida.


Pranchas

IV Um gigante sentado em um tronco de árvore.

X O findo do mar com seus vários elementos.

III Ritual indígena, com as índias cozinhando e os enfeites da festa.

40 RORSCHACH CLJNIc0 — MANUAL BÁSICO

2) GLOBAL SUCESSIVA - construída de modo dedutivo pelo reconhecimento


sucessivo de vários elementos que compõem uma cena percebida inicialmente, ou
sei a, o examinando constrói sua resposta sucessivamente até compor o global.
Exemplos

Não incluímos na modalidade G:


1. A resposta que incluía os espaços em branco (GE);
2. Quando apenas por coincidência, todas as áreas por serem interpretadas, mas
sem que o examinando atribuía um conceito geral
para o conjunto das interpretações.
Exemplos:
Prancha
VIII Dois felinos (P1), uma árvore (P8), uma flor
colorida (P2)

Pranchas

Um ritual indígena onde duas africanas estão batendo em um tambor


III (P1), aqui tem dois animaizinhos pendurados para o sacrificio (P2), e
aqui um símbolo da tribo (P3),

São dois felinos (P1), estão atravessando de um penhasco para o


VIII
outro (P2 e P8) para chegarem até o cume da montanha (P4).
Pranchas

Dois ursos (P1), uma montanha em uma floresta (P4+P5), aqui (P2)
VIII
um campo florido. Os ursos saem do campo para subirem a montanha.

Vejo siri (P1), caranguejos (P7), coral (P9), cavalos marinhos (P4),
X algas (P15), um casco de navio (P1 1), peixinhos (P12), plânctons,
plantas marinhas, formando o fundo do mar.

RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 41


1.2. Resposta de Pormenor Primário - P
Serão classificadas como P (letra “P” maiúsculo), todas as respostas localizadas
em partes da mancha, freqüentemente selecionadas pela população média,
independente do tamanho da área selecionada.
Para sabermos se a região selecionada pelo examinando trata-
se de uma região freqüente ou não, consultamos os Mapas de
Localização, de cada prancha (ver tabela de Qualidade Formal).
Observa-se que nos Mapas de Localização (Beck) os pormenores Primários (P),
estão numerados de 1 a 15 (inclusive), o que significa que aparecem com
freqüência de pelo menos 1:22(4,5%) na população estudada para a
padronização.
Convém ressaltar que o tamanho da parte selecionada ou sua posição na
prancha, não são levados em consideração na avaliação dele como um Pormenor
Primário (P). O critério é unicamente a freqüência.
Portanto, todas as respostas, que não abrangem a mancha toda,
e localizam-se nas áreas mais freqüentemente escolhidas e mapeadas,
terão como Modalidade - P (Pormenor Primário).
Exemplos:

Nota: teremos ainda, algumas respostas, localizadas em áreas menos freqüentes,


não localizadas nos Mapas, que no entanto, ainda serão classificadas como
Pormenor Primário Atípico. Estas serão encontradas na Tabela de Qualidade
Formal de cada uma das pranchas.
1.3. Resposta de Pormenor Secundário - p
Serão classificados como Pormenor Secundário (letra “p” em
minúsculo), as respostas localizadas em partes cuja freqüência de

Pranchas

1 Mulher (parte central da mancha) P1

II Rosto (parte vermelha superior)

VIII Felino (parte lateral em rosa)

IX Magos (parte superior em laranja)

X Torre (parte superior em cinza)

42 ROPSCHACH CLíNico — MANUAL BÃsIco


escolha pela população média foi inferior que 1:22. Consultando os Mapas de
Localização de Beck, observamos que são consideradas as áreas numeradas
apartir do número 16.
As respostas obtidas, localizadas em região que não constar no Mapa de
Localização da prancha correspondente, também serão classificadas como
Pormenor Secundário, considerando-se a reduzida frequencia dessa área
selecionada.
Observamos ainda, que o tamanho da área selecionada (reduzido), não determina
que a resposta seja classificada como Pormenor Secundário, o critério adotado
continua sendo o de frequencia.
Exemplos:
- Pranchas

2. Modalidades Secundárias

São denominadas “secundárias”, as áreas selecionadas para construção das


respostas, que apresentarem dois sentidos: raridade de ocorrência e por
revelarem variações subjetivas menos acessíveis ao total estatístico.
Atendendo este critério, encontramos: Resposta Global com Espaço, Resposta de
Espaço, Resposta de Pormenor Inibitório, Resposta Global a partir de um
Pormenor e Resposta Global com valor de Pormenor.

2.1. Modalidades Secundárias mais Freqüentes - GE E


2.1.1. Resposta Global com Espaço - GE
Serão classificadas como GE, as respostas que o examinando abranger toda a
mancha e ainda incluir alguma região de espaço em branco (independente do
tamanho ou da quantidade de espaços incluídos).

1 Cabeça de cachorro (parte inferior da região

central da mancha) - p31.

Avião (considerando a parte central vertical Mancha e a metade superior da


1
horizontal conjunto ) - p sem localização. em

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO

Exemplos.

2.1.2. Resposta de Espaço - E


Classifica-se como Resposta de Espaço, quanto a modalidade, as respostas
localizadas apenas nas partes em branco, não considerando-se as manchas de
tinta, das pranchas, denominadas espaço ou fundo das figuras, resultado da
inversão da “gestalt”perceptiva do examinando.
Exemplos:

Observamos que em nossa acepção teórica, não há divisão de respostas de


Espaço primário e secundário, como é feito em relação
às respostas de partes das manchas (pormenor primário e secundário).
Nos mapas de localização de Beck, encontramos as regiões das
pranchas classificadas como Espaço, mais frequentes, numeradas, no
entanto, caso obtenhamos uma resposta de área em branco que não

43

Pranchas

‘‘Cabeça de raposa (em G), sendo que (E30) são os olhos e (E29) é a
1
boca.

A4a.i espacial subindo (E5) com fumaça em volta


II
(P6) e fogo (P2 e P3).

‘‘Borboleta (em G) voando no céu (toda porção em branco, constitui o


V
fundo da mancha)

VII v Abajur (sendo G a cúpula e (E7) a lâmpada)

VIII t’Mapa (sendo G, a terra e vegetação e no fundo em branco, a água).

Pranchas

ANoivinhas (espaços em forma de ‘triâgulos no centro da mancha -


1
E30)

II ANave espacial (espaço central da mancha - E5)

VII AUm vaso (espaço central da mancha - E7)

‘‘Asa deita (espaço entre parte inferior laranja e parte central verde -
VIII
E32)

IX ACálice (região central da mancha - E8)

44 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO


seja mapeada, esta continuará sendo classificada como Resposta de
espaço.
Nota: Encontramos respostas, onde o examinando combina espaço em branco
com partes da mancha (pormenor primário ou secundário), não constituindo uma
GE. Nestes casos, não temos uma notação de modalidade específica, mas
consideramos, na classificação, a “combinação”feita.
Exemplo:
Prancha
II AJj caverna (onde P6 é a parede da caverna e E5 é a entrada)
Neste exemplo, o examinando combinou um pormenor primário (P6) com um
espaço em branco (E5); como neste caso a caverna é o elemento mais importante
na construção da imagem, consideramos como modalidade principal o P e a
modalidade E, será secundária, registrando-se: P(E).
De forma inversa, poderíamos ter o espaço como elemento
principal da resposta e um pormenor como secundário:
Exemplo:

Neste caso, o espaço foi o elemento do percepto, enquanto o pormenor foi o


elemento secundário, logo, será classificado: E(P).
Podemos ainda, ter respostas combinando espaço com pormenor
secundário, onde o procedimento é o mesmo: E(p) ou p(E).
Exemplo:

Prancha

E8 é o corpo olmo
‘‘Um violino (onde braço, enquanto do vi o
IX é e
P5 cordas). como as
denominado sendo

Pranchas

AFansma (onde o corpo é no ES e os


11 em
p27) - Classificação: E(p) olhos
“Tartaruga (onde o corpo e pés em E26) - cabeça é no p24 e os
1
Classificação: p(E)

RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 45


2.2. Modalidades Secundárias menos Freqüentes - p’ PG GP
2.2.1. Resposta de Pormenor Inibitório - p’
Serão consideradas p’- Pormenor Inibitório - as respostas decorrentes de certa
inibição do trabalho mental, levando o examinando a destacar apenas uma parte
de uma resposta considerada como frequente - como figura humana ou animal -
porém, não conseguindo perceber toda a imagem correspondente.
Embora estas partes sejam pormenores primários ou secundários,
devido a peculiariedade do dinamismo psicológico ocorrido, são
classificados como p’:
Esta modalidade reflete um modo não habitual de trabalho
mental, portanto, ocorre com pouca frequencia na população média.
Segundo Silveira, são exemplos de p’:
Exemplos.
Pranchas
P2 ou P5 vistos como asa ou então só a metade
superior do P4 atípico, como seios.
- p31 como pés, sem ver o corpo
II p22 como pata de animal
III P5, como pr. na posição normal, como perna humana, pontinhos claros em P6,
vistos com
olhos ou nariz (sem integrar a cabeça).
IV P4 como braços, isoladamente.
V P2 e P3 como antenas.
VI Não há nenhum exemplo de p
VII Pequenos pormenores em P1, percebidos como partes da face sem integrar o
rosto.
VIII Parte de P1 relativa à cabeça do animal
IX Ápice P3 (parte superior) visto como cabeça do animal. p26 visto como nariz.
X Não há nenhum exemplo de p’

46 RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO


Há algumas exceções na classificação de partes não integradas
ao todo, que não serão considerados p’, devido a freqüência,
relativamente alta encontrada:
Exemplos.

2.2.2. Resposta Global, a partir de um pormenor - PG


Serão classificadas como PG, as respostas resultantes de uma “generalização
apressada” feita pelo examinando, levando-o a deduzir urna associação para a
figura corno um todo, a partir da observação de uma parte da mesma, um
pormenor.
Neste caso, quando inquerido, o examinando mostra a figura toda como sendo
sua resposta, mas justifica apenas a parte que reconheceu e desencadeou a
“supergeneralização”, não conseguindo ver todo.
Exemplo:
Pranchas

Pranchas

II P4 como mãos.

III P4 e P6 como cabeça humana

IV P1 como cabeça humana ou animal

V P1 como perna

VIII P1 como corno cabeça humana

IX P4 como cabeça humana

X P5 como cabeça de coelho


1 Caranguejo. lnq. No todo (G); (o que te fez ver o

caranguejo?) As garras, só isso; (o que mais você vê do

caranguejo?)Não vejo mais nada, só as garras, como eu

vi as garras, só podia ser um caranguejo.

Gigante. Inq. É inteiro (G); (o que te fez ver um gigante?). Os pés, enormes,
igual pé de gigante, então o resto só pode ser um gigante, senão não teria
IV sentido:
(descreva as partes do gigante que você vê) só os pés, o resto não vejo, mas
só pode ser por causa dos pés.

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO

(Continuação)

Este tipo de modalidade foi denominada por Hermann Rorschach


e outros autores como “Global Confabulatória”, dado a
frequência de ocorrência em examinandos com tendência a
“fabulações” (delirantes ou não).
2.2.3. Respostas Global com Valor de Pormenor - GP
São respostas, resultantes da seleção de toda mancha(G),
justificada como sendo uma parte de figura humana ou animal, desde
que tal associação não seja frequente na população média.
Para sabermos se a associação é frequente ou não na população média, é
necessário consultar a tabela de Qualidade Formal. Caso a resposta não seja
encontrada entre as respostas alistadas (em G), mesmo quanto uma gestalt
semelhante, será classificada como GP.
Segundo Silveira, 1985... “Este tipo de resposta aponta
seguramente para dinamismo anormal epor isso raramente aparecerá
em protocolos normais”(p. 139).
Exemplos:
Prancha
‘‘Uma pata de elefante. lnq. No todo (G), parece a pata de um elefante, o formato
é igual da pata de um elefante.
— se procurarmos na Tabela de Qualidade Formal, não encontraremos “pata de
elefante”em G, ou outra associação próxima, mesmo pela gestalt sugerida, então,
a modalidade desta resposta será, GP.

47

Pranchas

Índios, dois. lnq. (G) Tem pena de índio, então é índio. (descreva-me
VII os índios?) Não sei, só estou vendo as penas uma de cada lado
(mostraP5), então só podem ser índios.

Vejo bigodes de gato aqui do lado, é um gato com certeza. Inq.


(mostra bigodes em p26) é idêntico os bigodinhos do gato; (além dos
VI
bigodes o que te fez ver um gato nesta figura?) nada, só os bigodes,
não poderia ser outra coisa com esses bigodes, é gato mesmo.

48 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO

BIBLIOGRAFIA
COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de
Rorschach, entrevistas e anamnese heredológica em 102
examinandos. São Paulo, Atica, 1975.
SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama. São
Paulo, EdBras, 1985.

Pranchas

AJ sorriso. Inq. É tudo (G), aqui é a boca sorrindo (P1), com o enrrugado que
III
fica em cima do lábio (P3) e dos lados da boca (p2).
‘‘Tórax de um orangotango,. Inq. (mostra em G)
IV
Só vejo o tórax e tem a textura do peito do macaco.

V ‘‘Um bigode. Inq. No geral parece um bigode, bem imponente.

Chifre de touro. lnq. Parece inteiro com um chifre, igual das touradas, tem
VII
esse modelo.
DETERMINANTE FORMAL
CíilA AN/\UATE E MARIA INS FALCÃO
I

NTROdUÇÃO
TOMANDO-SE a própria publicação de Hermann Rorschach podemos observar
que, no Psicodiagnóstico, o autor denominava a prova de “Interpretação de
Formas Fortuitas” .
Nesse sentido, sua preocupação consistia em pesquisar os aspectos formais das
respostas a fim de obter um “apanhado geral das funções
de percepção e de concepção” (grifo do autor) (1)•
Dito de outra forma, buscava-se (como ainda o fazemos)
distinguir quais as características das manchas que se impõem à
percepção do examinando: se relacionadas à forma apenas e/ou à
outros fatores como cinestesia, cor, luminosidade ou perspectiva,
uma vez que estas últimas também podem ter, em seu bojo, a
participação da forma na construção da imagem assocjada.

O QUE E FORMA?
A forma é o aspecto mais importante do mundo visível, é o princípio ordenador do
unjverso. E construtiva quando dá ordem e estrutura os borrões e destrutiva
quando se torna estereotipada, não permitindo a flexibilidade. A visão reconhece
as características peculiares de um objeto. A forma demanda um olhar ativo e
seletivo, exige focalizacão, estruturação e atenção ativa. A percepção da forma é
uma função da consciência relacionada a adaptação à realidade. A forma é o mais
freqüente e o mais importante dos determinantes (2)•

50 RORSCHACH CLÍNIcO — MANUAL BÁSICO


FREQUÊNCiA dAS RESpOSTAS dE FORMA (RF)
Após a investigação iniciada com o criador do método, outros estudiosos da Prova
de Rorschach também preocuparam-se em estabelecer critérios para a freqüência
das respostas de forma, destacando-se os trabalhos de Beck (7) e Small (8)•
Sabemos que as RF são as mais freqüentemente encontradas nos protocolos
de Rorschach. “mesmo nos casos particulares” (1) e, como bem situa Coelho (4),
“ela é inerente a toda e qualquer porção das manchas e comum a toda a série”.
Este tipo de percepção representa, em média, mais da metade das associações
frente às manchas (1,2, 3,4, 5,6, 7, 8) A Sociedade Rorschach de São Paulo,
baseada na elaboração do psicograma tal como definido pelo seu fundador, o
Prof. Aníbal Silveira (5), utiliza-se de critérios estatísticos para verificação da
freqüência do determinante forma, obtendo-se dados atualizados no último estudo
realizado pela Prof Lúcia Coelho (6) Devemos aqui assinalar uma distinção que
nos parece fundamental para a classificação das RF. Trata-se da distinção entre
qualidade formal, avaliada segundo a freqüência estatística com que
determinadas áreas evocam conteúdos específicos, em função da pregnância
formal neles encontrada, e a precisão formal, que correspondem ao grau de
nitidez e da estruturação da imagem nas diferentes respostas produzidas pelo
examinando. Qualidade e precisão formal correspondem a mecanismos
perceptuais diversos, daí a necessidade de distingui-las.
OuANdo CLASSiFiCAR LiMA RESpOSTA COMO RF?
Apenas o contorno da figura é levado em conta pelo sujeito e nenhuma outra
característica é considerada. E o mais comum em um protocolo. Aparece em
média em 64,8% das respostas do protocolo, com faixa normal de variação entre
59% e 71%. O inquérito é fundamental para constatar não haver outra
característica presente. A resposta é classificada em F, F- ou F° conforme a
freqüênc.: da resposta dada. Segundo pesquisas estatísticas constatamos o sinal
+ ou — das respostas. Se a resposta não é encontrada na tabela, consideraremos
F°. Usamos o termo forma estendida para falar a respeito de respostas que
contêm uma resposta de forma porém há outro determinante junto, priorizando a
resposta. Respostas M, m, Ps, FC, CF, C’, L necessariamente contém uma
resposta de forma

RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 51


implícita, mas não classificamos como RF, uma vez que não se trata
do mesmo processo psíquico.
DisTiNçÃo ENTRE AS RF
A Prova de Rorschach é constituída de estímulos ambíguos e “as respostas dadas
podem ser mais ou menos congruentes com a forma do estímulo” (4)• Desde
Hermann Rorschach há um empenho no estabelecimento de critérios para
distinguir respostas de forma bem vistas (F) das respostas de forma mal vistas (F)
— e das menos freqüentemente encontradas (F°), segundo nossos estudos (4, 5)•
Tal como procedia Hermann Rorschach, outros autores procuraram estabelecer
medidas objetivas, portanto, segundo critério estatístico (5,7) Isto eqüivale dizer
que respostas mais freqüentemente associadas a uma determinada área serão
consideradas F, ao passo que as menos freqüentes serão consideradas F; as
respostas que têm freqüência tão rara que sequer puderam ser tratadas
estatisticamente serão F°.
Alguns autores consideram como forma bem vista aquela que se enquadra no
critério subjetivo do aplicador, ou seja, um julgamento particular (10 1 porém,
acreditamos que tal procedimento acaba por prejudicar a análise, urna vez que
confundem precisão com qualidade formal.
Para definição das respostas consideradas como F, F- ou F°, utilizamos,
atualmente, a Tradução Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de
Beck e Small para Classificação da Prova de Rorschach (9)•
OuANdo CLASSiFiCAR COMÕ F F OU F°?
— l Passo: Para objetivar, portanto, a classificação, procedemos a consulta da
resposta na Tabela Atualizada de Qualidade Formal, citada anteriormente (9) Para
cada prancha há uma folha de localização demarcando as áreas associadas e
uma lista de respostas frente à elas, com indicação da qualidade formal da
resposta de acordo com o ângulo de posição da prancha na qual a resposta foi
associada (uma vez que a mesma pode variar, mudando, assim, a qualidade
formal da resposta). Se nada consta na tabela sobre a

52 ROPSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO


posição, esta foi vista em posição normal.
Localizando a resposta em si dada pelo sujeito na referida tabela, podemos
classificá-la conforme a indicação encontrada: F ou F.
— 2° Passo: Quando não encontramos a resposta específica do sujeito para a
área associada, devemos procurá-la, quando indicado, na(s) área(s) citada(s) à
frente da localização original do sujeito e, encontrando a resposta em uma área
alternativa, podemos classificá-la conforme a orientação da tabela, portanto,
como F ou
F-.
— 3° Passo: Se, ainda assim, não conseguimos encontrar a resposta dada,
devemos procurar uma resposta que tenha uma gesta!t
semelhante para classificarmos como F ou F.
— 4° Passo: Ao final, se não encontrarmos a resposta do sujeito nos passos
anteriores, classificamos como F°. Ressaltamos que fica reservada a classificação
F° somente para aquelas respostas que não constam da Tabela de Localização,
nem por aproximação.
EXEMPLOS DE F, F e F° (sendo todas F Ordinárias)
Pranchas
1 (p22)” parecem os seios de uma mulher” =
(p24) “tem tipo uma saia” = P4 ampulheta (mesma gestalt de
saia): F
II (P 2) “Bota” = F
II (p31) “A boca de um camelo” = F
III (P 8) “Os pulmões”
III (E24) “Um vaso” = F (taça grande / tigela)
IV (p 21) “Duas cabecinhas aqui de perfil” F
IV (G) “cabeça de buldogue” =
V (P3) “Seta indicando direção a seguir” = P3 palito de fósforo (mesma gestalt de
seta) = F+
V (PiO) “Duas cabeças de jacaré” = F
VI (p21) “As garras de uma aranha” = F
VII (G) “Parece um colar” = F
VII (E7: metade inferior) “Um Rato” = F°

(Continuação)
ROPSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO

ANÁLiSE QUALiTATiVA dAs RF


Uma vez que as respostas de forma ocupam lugar central no psicograma, as
mesmas foram extensamente estudadas, notadamente por Schachtel (2) Além da
distinção da freqüência na qual a resposta de forma é encontrada na população,
ele também procedeu a uma análise qualitativa desse tipo de resposta, que
podiam variar entre:
1) uma resposta imparcial, 2) uma resposta criativa e 3) uma resposta permeada
de fatores dinâmicos.
RESpOSTAS dE FoRI1A ORdiNÁRiA
Schachtel (2) verificou que algumas pessoas fazem associações que envolvem
apenas análise crítica entre a resposta dada e a configuração da mancha, com um
caráter de “familiaridade fechada e, muitas vezes, estereotipada ou mesmo
rígida”, resultantes da “rígida necessidade e da preocupação com a realização de
uma meta estreitamente definida”, a qual denominava como F Ordinário.
São respostas que carregam em si íntima semelhança com a forma
das manchas, e o examinando apenas as reconhece como tal.
EXEMPLOS DE F ORDINÁRIO:
Pranchas
A “Uma borboleta. Inq.: Em tudo (G). A borboleta é assim: tem as asas, as
anteninhas e o corpo no meio. Aqui está igualzinho:
uma borboleta.” G F+AV

53

Pranchas

VIII (p26) “No meio, o corpo de uma borboleta” F°

VIII (p2’4) “Parece a boca de um jacaré” F°

IX (E23: Invertida) “Parecem embriões” = F°


X (P14) “Uma taça” P14 vaso (mesma gestalt de taça) = F+

X (P3) “Parece uma boca” = F

(PIO) “As trompas de um ovário” = P4 esôfago (mesma de


X gestalt
trompas) = F

54 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


(Continuação)
Pranchas
II A “Um avião. lnq.: Vejo ele nesse espaço (E5). Vejo o contorno dele, que é mais
fino em cima e vai alargando para dar o formato
da asa do avião. Bati o olho e logo vi.” E F+ obj
III A “Um peixe. Inq.: Aqui nesse pedaço (P5). Dá para ver direitinho o corpo, a
barbatana, o rabo.” P F+ A
V A “Um morcego. lnq.: No todo (G). Porque tem as asas, o corpo e as patinhas
dele bem desenhadas aqui, ó.” G F+ AV
VII v “Um abajur. Inq.: No meio, nesse espaço em branco (E7).
Olha: aqui é a cúpula do abajur e aqui em baixo é a base dele.
Olhei e logo vi o contorno dele; igualzinho a um abajur, né.”
E F+ obj
VIII A “Uma árvore. lnq.: Aqui em cima (P5). Pelo jeito que tem essa parte, só
pode ser uma árvore, com a copa dela que vai abrindo
por causa dos galhos.” P F+ bt
X A “Duas pessoas. lnq.: (P9) Elas estão aqui, nesse pedaço: vejo bem a cara
delas: contorno do olho, do nariz e da boca.” P F+ H
RESpOSTAS dE FORMA EspEciAL
Em contraponto com as respostas de F+ Ordinário, existem respostas mais
criativas, oriundas de uma oscilação entre a observação atenta da forma e a
possibilidade de experimentar a sensação que a forma oferece. Schachtel (2)
comenta sobre o processo empático do examinando com a forma, envolvido nesse
tipo de resposta: “o observador reage ao ritmo e à melodia da forma”.
Salienta-se nas respostas de forma especial a qualidade mais dinâmica e mais
pessoal que o F+ Ordinário, porque o examinando experimenta relações outras
com a forma, que podem vir combinadas com cinestesia, com cor ou qualquer
outro determinante do psicograma.
O que melhor caracteriza o F+ Especial é a riqueza e complexidade da resposta
que, quando comunicada, “revela diretamente o interesse e o caráter vívido”
(grifo nosso) na apreensão do percepto. Vale ressaltar que são as características
da imagem associada ao borrão que prevalecem na comunicação da resposta, e

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 55


não aspectos relacionados ao próprio examinando; este consegue manter uma
distância ótima entre si e a mancha. A riqueza da resposta é verificada através
do conhecimento que o sujeito demonstra em relação à imagem associada àquele
borrão, indicando maior criatividade.
EXEMPLOS DE FORMA ESPECIAL

RESpOSTAS dE FORMA DNMiCA


Nas respostas dinâmicas, o que prevalece não é a freqüência com que tal
associação ocorre. Nesse sentido, encontramos respostas dinâmicas relacionadas
a F, F ou F° além de, como dito anteriormente, relacionadas à outros
determinantes que não a forma das manchas.
O que marca a diferenciação da resposta dinâmica com as demais respostas é
que, como bem disse Schachtel (2), “os objetos não são contemplados
isoladamente, mas sim em uma relação dinâmica com o sujeito (...) o objeto é
imaginado e percebido como algo com um significado real ou potencial vivo
para o sujeito observador” (grifos nossos).
Assim sendo, as respostas dinâmicas refletem uma ligação emocional do
examinando com a forma percebida; dito de outra maneira, a carga emocional
permeia o trabalho mental e a percepção é, portanto, parcial e diretamente
relacionada ao sujeito, diminuindo a distância entre o que é observado (imagem
associada à mancha) e o observador (examinando).
Pranchas

v “Uma tocha alta com uma pira olímpica. Ela está no centro (P5)
e ao redor dela tem uma fila de cavalos de cabeça abaixada (E24 e
IV espaços externos), prestando reverência à pira, como se fosse um
totem ou símbolo. E como uma cena mística: cavalos abaixados
ao redor dela e a pira é um elemento artificial aí’. P (E) F+ art

“Um monstro que está de costas segurando as folhas de uma palmeira


IV
e olhando a paisagem” . G F+ H

56 PORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO


EXEMPLOS DE FORMA DINÂMICA
Pranchas
IV Detalhe superior lateral: (P4) “Pequenos débeis braços, minúsculos e muito
magros, fazem-me pensar em meus próprios
braços...” P F+ pH
VI Invertida, (PiO): “Dois homenzinhos carecas em um
esconderijo, que os protege do perigo”. P FH
1 (P9): “Sentindo como se eu pudesse encontrar muitos portos,
abrigos, no desenho que poderiam fornecer certa espécie de
segurança, esconderijo talvez”. P F + pz
IX Porção cor de rosa: (P “Uma das minhas fantasias na relação sexual: pênis
entre os dois seios”. P F sx
VII (O): “Uma espécie de pagode, mas o teto está faltando e um vale; se fosse
inundado por uma carga d’água, seria impossível sair”.
GF±arq
VII (O): “Um porto, não muito protegido”. O F + ggr
III “Um porto bem protegido, além dos quebra-mar em ambos os lados, a mancha
vermelha central oferecia boa proteção”.
P F + (C) ggr
IX (P5) parte superior da prancha: “Esta é a coisa fálica, pouca obstrução à sua”.
P F-sx
VII “Parece uma passagem nessa figura, para escapar do centro”. PF + arq
VIII (p21): “Uma espada penetrando no corpo de um animal”. PF-ml
1 (p22) “Seios de mulher, ânsia de rasgar a coisa entre eles, talvez
eu não deseje mais olhar para isso, gostaria de cortar a linha
central e dobrar essas partes.” p’ F+sx
IV (O): “Impressão assim de uma pele de um animal, pele de urso estendida no
chão. É meio impressionante, está morto, sem vida. É horrível este.
Impressionante este, sabe que eu não consigo ter tapete de bicho no chão, dá
uma sensação assim (faz cara feia).”
OF+AV
VI (P9): “Pênis em estado de recolhimento. “P F-sx

RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 57


CLASSiFiCAR COMO FORMA ApESAR dE PARECER
SER OUTRO DETERMiNANTE:
— Quando o movimento só aparece no inquérito perguntar ao sujeito se ele já
havia visto antes; caso contrário, se a pessoa só viu no
inquérito, classificar como F e colocar o M como resposta adicional.
Prancha
Associação: “Uma mulher”. Inq.: “Uma mulher. Tem os braços para o alto, ela está
dançando, parece balé”. Classificação:
F+(M)
— Quando se vê apenas partes de seres humanos ou animais, mesmo que
estas partes estejam em movimento, classifica-se como F. Para ser resposta de
movimento tem que se ver o ser humano ou animal inteiro.
Prancha
VIII “O braço de uma pessoa dando adeus”. Classificação: F+
— Negação de cor - o sujeito constrói a imagem pela forma mas não consegue
ignorar a cor: esta se interpõe quase atrapalhando a
percepção.
Prancha
VIII Associação: “Um rato”. lnq.: “Tem o formato de um rato. Embora aqui esteja
cor de rosa e não existem ratos cor de rosa.”
Classificação: F+ (C)
— Condensação de cor ou cor forçada- o sujeito força a participação da cor de
forma arbitrária.
Prancha
X “Um caranguejo azul”. Classificação: F+ (C)

58 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO


— Projeção de cor - o sujeito coloca cor em uma figura monocromática
Prancha
1 “Uma borboleta amarela”. Classificação: F+ (C)
— Determinante adicional - que não se refere a figura como um todo.
Prancha
II “Dois macacos de smoking”. Classificação: F+ (C’)
Nota: A resposta é macaco, sendo o smoking apenas acessório e, portanto, não
podemos juntar as duas respostas; não é o macaco
que é preto, e sim o smoking.
— Qualidade acessória do tom monocromático - quando as cores preto,
branco ou cinza são descritas apenas como uma qualidade específica que
complementa o percepto, deixando como determinante principal da percepção a
forma.
Prancha
V “Morcego, porque tem asas, perninhas, cabeça,... e é preto”.
Classificação: F+ (C’)
CONCLUSÃO
Pudemos ver que as Respostas de Forma, por tratarem-se do tipo de
associação mais freqüentemente encontrado nos protocolos da Prova de
Rorschach (seja em indivíduos normais, em deficientes ou doentes mentais)
mereceu grande atenção dos que se dedicaram ao método.
Fica patente, pois, a importância de um inquérito realizado adequadamente para
a correta classificação desse tipo de resposta evitando-se, assim, índices mais
altos do que os que deveríamos encontrar. Isso ocorre em virtude de existirem
outras classificações — e, consequentemente, outros dinamismos psicológicos
— que têm a forma implícita em seus próprios determinantes.

RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 59


A importância da classificação correta dos diferentes tipos de Respostas de Forma
reside no fato de estarmos tratando de dinamismos psicológicos que, embora
relacionados ao grau de contato com a realidade, terão variações de significado
de acordo com a freqüência da resposta (F, F ou F°) e com a análise qualitativa
procedida nestas respostas (F Ordinário, F Especial ou F Dinâmico).
Este capítulo visa minimizar erros de classificação destas
respostas, a fim de traduzir o real dinamismo psicológico envolvido
nas respostas de forma.
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
1. RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico. Método e Resultados de uma Experiência
Diagnóstica de Percepção (Interpretação de
Formas Fortuitas). São Paulo, Ed.Mestre Jou, 2 ed., 1974.
2. SCHACHTEL, E.G. Experimental Foundation ofRorschach Test. New York,
Basic Books, 1966.
3. KORSCHIN, S.J. Form Perception and Ego Function, in: Rickers, Ovsiankina,
M.A. Rorschach Psychology, New York, Wiewysons,
1960.
4. COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade. Psicodiagnóstico de Rorschach,
entrevistas e anamnese heredológica em 102
examinandos. São Paulo, Atica, 1975.
5. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma. São Paulo,
EdBras, 1985.
6. COELHO, L.M.S.; SALVIA, M. C. P. - Estudo Estatístico dos Fatores do
Rorschach em População Normal - São Paulo
(publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo), 1997.
7. BECK, S.J. The Rorschach Experiment. Ventures em Blind Diagnosis. New
York, Grune & Statton, 1960.
8. SMALL, L. Manual para la Local izacion y Classficacion del Test de Rorschach.
Buenos Aires, Editorial Paidós, 1979.
9. SOCIEDADE RORSCHACH DE SAO PAULO. Tradução
Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de Beck e
Small para Classificação da Prova de Rorschach. Can-Editoração
- Produção Gráfica, 1998.
10. KLOPFER, B. Developments in the Rorschach Technique. New York, World
Book Co., 1942.

60 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO


11. RAPAPORT, D. Manual ofDiagnostic Psychological Testting. New York, Josiah
Macy, Jr. Foundation, 1946. Testes de Diagnóstico Psicológico. Trad. de LOEDEL,
E. Buenos Aires, Editorial Paidós, 1964.
DETERMINANTE DE MOVIMENTO — RM
FIÁviA APARECIdA C[IAMMAS CAMpos dE ARAÚjO
As respostas de movimento são aquelas em que o sujeito atribui cinestesia às
formas e cores que constituem os cartões de Rorschach.
Referem-se a um fenômeno perceptual diferente e por vezes, dificil de descrever
ou mesmo de identificar, pois contém tensões dirigidas sem o deslocamento fisico
no espaço. Ou seja, o examinando experimenta diante de um estímulo estático
uma sensação de movimento, e inclui em seu percepto o deslocamento.
As respostas de movimento são de fundamental importância para a compreensão
da personalidade e portanto, merecem especial atenção em sua classificação
devendo ser apuradas com rigor. Assim sendo, ao classificarmos uma resposta
como movimento devemos estar atentos, pois não é necessário a ocorrência de
uma movimentação visível para que a resposta seja considerada cinestésica, e
sim a sensação de movimento.
Algumas vezes o examinando se utiliza do próprio corpo para explicar tais
respostas, seja gesticulando ou assumindo uma postura corporal. E neste sentido
que ressaltamos a importância da realização de um inquérito cuidadoso, pois é
normalmente nesta etapa que esclarecemos se houve realmente cinestesia ou
não na construção da resposta, já que a mera utilização de um verbo não indica
necessariamente a sensação de movimento.
Estas sensações cinestésicas podem ser atribuídas à figuras
humanas, animais, ou à objetos inanimados ou abstratos, admitindo
assim três classificações diferentes:
— M para o movimento humano
— m para o movimento animal

62 PORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO


— m’ para o movimento subjetivo
Passemos então, a tratar da classificação e apuração de cada
uma destas respostas.
MOViMENTO HUMANO — M
As respostas de movimento humano referem-se a figuras
humanas ou humanóides, realizando uma atividade explícita, como
no exemplo citado por Silveira :
Protocolo 694
Prancha
III “...Parece duas figuras meios macabras que estão tramando alguma coisa,
mexendo nesse caldeirão [P1,
P7] (1: ‘Abaixadas e conluiando...’) P M H V”
Portanto, classificamos como M sempre que a resposta
produzida pelo sujeito obedecer a condição fundamental de empatia
cinestésica, e envolver:
1 - Figuras humanas reais, percebidas de corpo inteiro,
realizando alguma atividade espontânea.
N° Pranchas
1. 1 “Uma mulher dançando.” Inq. (P4) “É uma mulher direitinho,
tem as pernas, a cinturinha, o corpinho dela, igual de bailarina.
Parece que tá girando assim (gestos), com as mãozinhas aqui
para cima, igual uma bailarina, rodopiando, rodopiando
(gestos).” P M H V
2. II “Dois anões brincando de pirulito que bate-bate.” Inq.: (G) É
tudo isso aqui, a impressão que eu tenho é que eles estão
batendo as mãos assim (gestos), e cantando ‘pirulito que bate bate pirulito que já
bateu...’ São anões por que tem umas
perninhas curtinhas, uns bracinhos, até meio tortinho, igual de
anão.” G M H V 4,5
3. III ‘Duas pessoas servindo uma mesa.” lnq.: (P1) “Olha aqui, a
cabeça o corpo, tal, e estão se curvando aqui, (gestos) servindo
a mesa que é essa parte aqui (P7).” P M H V 3,0

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁsico

63

N° Pranchas
4.

5.

Nos exemplos 4 e 5, apesar de sugerir queda livre, existe uma intenção no


movimento, por esse motivo é atribuído M.

N° Prancha

Atenção: Partes do corpo vistas isoladamente, em movimento, não são


consideradas como RM; pois segundo Aníbal Silveira5, referem-se apenas a uma
interpretação ideativa, ou um modo de descrever o segmento interpretado. Assim
sendo, quando este tipo de resposta aparecer classificamos como Forma.

N° Prancha

7. V

Compare a diferença deste exemplo para com o exemplo 6, no

qual apesar de o examinando referir-se apenas ao movimento da mão,

o corpo da pessoa foi percebido em sua totalidade.

“Um homem caindo de pára-quedas.” Inq.: “(PIO) Bem aqui,

no meio é o homem, olha só o corpinho dele, aqui (P4) é o

pára-quedas...ele está caindo assim, quase que

flutuando...(gestos).”

PMH

“Uma pessoa que se atirou do precipício, ela está se

suicidando.” lnq.: (P3) ‘ ‘Aqui com o os bracinhos para cima,


ela pulou e agora está caindo, não sei dizer...ela está se

suicidando.” P M H______________________________________

6. 1 “Uma pessoa dando adeus.” lnq.: (P4) “É uma pessoa

aqui, as pernas, o corpo e aqui a mãozinha pra cima,

acenando. É como aquelas pessoas que ficam paradas

no porto acenando para o navio (gestos).” P M H

Uma pessoa com um chapéu estranho, Na realidade,

eu vejo só a cabeça . . . engraçado, parece que ela

vira para um lado e para o outro, como se procurasse

alguma coisa.” Inq.: (P6) “Olha aqui, a cabeça

redondinha, com um chapéu tipo daqueles de ‘bobo

da corte’, com duas pontas. E ela vira pra lá e pra cá,

procurando alguma coisa. Só isso.” P F+ pH

64 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO


No entanto, algumas vezes o sujeito mesmo vendo apenas uma parte do corpo,
acaba por incluir a gestalt de um corpo completo em sua percepção. Assim, se no
exemplo 7o examinando dissesse : “vejo a cabeça de um bobo da corte, olhando
para um lado e para o outro. E como se ele estivesse atrás de um muro,
procurando alguma coisa.”, classificaríamos como: P M H. Aqui, o muro aparece
como um recurso para completar a gestalt.
Esta condição de figura percebida por inteiro é válida também
para os itens que serão discutidos a seguir.
2 - Seres humanos religiosos, fantásticos ou míticos,
realizando uma atividade, mesmo que esta seja superior às
capacidades do homem.
N° Pranchas
8. 1 “Fantasminhas.” lnq.: (E26) “Aqui, eles estão com os braços
assim esticados, como se estivessem indo assustar as pessoas
juntos, (gestos).” E M H
9. II “Uma bruxa voando.” lnq.: (P2) “Olha ela aqui, é igualzinho,
ela está na vassoura voando no céu, bem rapidinho. Aqui
seria o cabo da vassoura e aqui ela, com chapéu e tudo, ela
deve estar com muita pressa, por que ela voa muito rápido!”
PM H
10. 111 “Dois gnomos saltitantes.” lnq.: (P2) “Aqui, um de cada lado.
Aqui o chapéu comprido que eles usam. o corpinho e os
bracinhos. São saltitantes por que eu tenho a impressão de
que eles estão pulando e mexendo os bracinhos assim
(gestos).”
PMH
11. IV “Um monstrão correndo.” lnq.: (G) “ É isso tudo. Tem uma
cabecinha, os bracinhos aqui, e as pernas enormes. E como se
ele tivesse correndo com o pernão aberto, assim (gestos)
meio desajeitado.”
G M H V 2,0
Atenção: Para ser classificada como M, sempre que a resposta se referir a seres
fantásticos ou mitológicos, a característica humana
deve ser prevalente.

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 65


3 - Seres humanos em alguma postura que exija tensão
muscular para mantê-la.

Nestes exemplos, mesmo em se tratando de posturas praticamente imóveis, estas


só são conseguidas através de tensão muscular; por este motivo é que
classificamos como M e não como Forma.
Atenção: os exemplos 14 e 15, normalmente seriam classificados como F, sendo
classificados como M somente quando o sujeito menciona espontaneamente a
expressão de relaxamento, assim, computamos o movimento por que
consideramos que existe uma expressão de relaxamento, envolvendo uma reação
muscular e pela atitude de expectativa.

N° Pranchas

(v) — “Duas bailarinas nas pontas dos pés, assim curvadas para
frente.” lnq.: (P2) “ E aqui. Elas tão com as perninhas juntinhas
12. III (p25) e tão na pontinha dos pés. O corpo é essa parte, curvado
para frente, assim, como quando elas agradecem ao público.” P
MH

“Duas pessoas agarradas numa rocha.” lnq.: (P6) “São estes


azuis aqui. O corpo deles, as pernas e os braços. Eles estão
13. X
agarrados na rocha para não cair, desse jeito assim (gestos).” P
MH

N° Pranchas

“Uma pessoa relaxada numa encosta.” lnq.: (P4) “A pessoa é


14. V aqui, tem a cabeça, o corpo, e ela está assim bem relaxada,
como se tivesse largadona assim.” P M H

VI — “Um homem deitado numa cama de hospital.” Inq.:


(P9) “Aqui seria a cama e aqui o cara, assim recostado, como se
15. VI
ele estivesse esperando a sua recuperação, ele está esperando
sua alta.” P M H
66 RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO
4—Movimentos externos, porém controlados pelo indivíduo.

No exemplo 16, o movimento da capa é conseqüência do movimento realizado


pelo homem, sendo diferente deuma capa que balança ao vento, como veremos
mais adiante, na classificação de movimento subjetivo, O mesmo vale para o
movimento das fitas, no exemplo 17.
5 — Animais realizando movimentos próprios de seres
humanos.

Note que nestes casos, para considerarmos M, o movimento realizado tem que
ser necessariamente específico de seres humanos, e
quejamais poderiam ser executados por animais. Nos exemplos citados,

N° Pranchas

“Um homem correndo, com uma espécie de fantasia, uma capa.”


Inq.: (G) “O homem é aqui no centro. A impressão que eu tenho é
16. V
que ele tá correndo na minha direção, e a capa se abre, assim.”
G M H - 1,0

“Duas moças daquelas que animam torcida, não sei se tem um


nome certo para isso.” lnq.: (P9+P1) “As moças são aqui (P9),
17. X elas tem o corpo bem alongado, parece que elas tão pulando e
mexendo isso aqui (P1). Não sei o nome disso... seria um monte
de fitas juntas que elas estão balançando, pra lá e pra cá.” P M H

N° Pranchas

“ Dois cachorros se beijando.” Inq.: (P1) “Os cachorros são aqui, o


corpo, as patas , a orelha e a carinha deles. Tão se beijando, por
18. II
que eles tão assim, como se tivessem esfregando a boca um no
outro. E uma cena bem amorosa essa, como num beijo de
despedida.” P M A V 3,0

- “Dois ursos apostando uma corrida.”Inq.: “Os ursos são aqui


(P1), estão com as patas assim (gestos) como se estivessem
correndo para ver quem chega primeiro no topo desta montanha
19. VIII
aqui (P4). A montanha é pelo formato... O que chegar primeiro lá
em cima vai ser o vencedor.”
P M A V 3,0

RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁsico

os movimentos assumem uma conotação nitidamente humana pois

cachorros não se beijam, assim como ursos não apostam corrida, ou pelo menos
não têm essa intenção.
Personagens tais como Tio Patinhas, Mickey, etc, quando em
atividade, também são classificados como M, pois apesar de ser
tratarem de animais, são totalmente humanizados.

N° Prancha

20. 111

6 — Expressões faciais, desde que não representem algo simbólico, e que


sejam percebidas em figuras vistas como um todo.

Neste caso, para manter a expressão facial percebida pelo examinando, é


necessário tensão muscular, semelhante ao que já foi discutido no item 3. Porém,
se a expressão facial representar uma força abstrata, classificamos como Forma.

N° Prancha

Outra possibilidade, é o sujeito descrever uma expressão facial, sem o


envolvimento de ação ou emoção por parte da figura percebida,
ou seja, as figuras são descritas como ‘engraçadas’, ‘grotescas’,

67
“O pato Donald arrumando a mala dos sobrinhos dele.” lnq.:

(P1) “Ele seria aqui nessa parte, a cabeça com o bico de pato,

o corpo.. .e ele está mexendo aqui (P7), não sei parece um tipo

de uma bolsa, por isso eu disse que era uma mala. Do outro

lado seria um dos sobrinhos, o Huguinho, sei lá, eles estão

arrumando uma mala para viagem.” P M A 3,0

N° Prancha

“Duas pessoas brigando.” Inq.: (G) “Aqui uma pessoa e do outro


lado a outra. Tem a cabeça, o corpo e as pernas aqui dobradas.
Elas estão brigando por que parece que elas estão olhando bravas
21. II
uma para a outra, parece que elas estão franzindo a testa assim
(examinando franze a testa). Então devem estar brigando.” G M H
V 4,5

22. II “Duas pessoas com raiva uma da outra.” lnq.: (G) “É na

figura toda, uma de cada 1 ado. Aqui os bra ços, o co rpo e a

cabeça. ..não sei....o jeito do rosto me lembra raiva.”

G F+ HV4,5

68 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


‘desagradáveis’, devido aum detalhe. Neste caso também classificamos
como Forma e não como M.

MOViMENTO ANiMAl — M
Para classificarmos uma resposta como m, devemos obedecer
às mesmas considerações de tensão muscular e cinestesia, porém
atribuidas à animais em atividade.
As condições de classificação são semelhantes àquelas exigidas pela categoria M,
portanto, não nos estenderemos na discussão dos exemplos aqui apresentados.
Os movimentos percebidos devem ser necessariamente típicos de animais, como
ilustra o exemplo de Silveira5:
Protocolo 674:
Prancha
V “Aqui parece um morcego, visto de assim, de cima, voando (1: Este me parece
que está mesmo voando...)
G m A V .“
Podemos dizer então, que serão classificadas como m, todas as
respostas referentes a:
1 — Animais, reais ou fictícios, vistos de corpo inteiro, como
agentes de uma ação.
N° Prancha

N° Prancha

“Duas pessoas brincando.” lnq.: (G) “Elas estão aqui, a cabeça, o


corpo, os braços...não sei explicar por que estão brincando, acho
23. II que é por eu vejo elas com uma cara engraçada, me lembra cara
de palhaço. E isso.”
G F+ H V 4,5

24. VIII “Dois ursos subindo em uma árvore.” lnq.: (PI+P4) “Os

ursos são estes (P1), áa impressão que eles estão subindo

aqui (P4); parece que vão devagar, colocando uma pata de

cada vez (gestos).” PmAV


PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 69
Vale ressaltar aqui, a diferença para com o exemplo 19, pois
subir em árvores é um movimento próprios de ursos.

Note também aqui, a diferença para com o exemplo 11. São repostas muito
parecidas. No primeiro as características humanas foram ressaltadas, enquanto
que aqui, prevalecem as características de uma forma animal.
N° Prancha

Neste último exemplo, atribuímos m, devido ao fato de que gatos possuem um


controle do corpo enquanto caem, na medida em que eles são capazes de
movimentarem durante a queda livre para caírem em pé.
2 — Animais treinados em ação.

Neste exemplo, temos um animal realizando uma atividade tipicamente humana,


no entanto, esta pode ser aprendida pelo animal
(geralmente macacos, animais circenses, etc.) através de treinamento;

N° Prancha

“Um monstro horrível, é assustador, parece que ele está correndo


para matar alguém.” Inq.: (G) “E um monstro horroroso, aqui é a
cabeça, as garras abertas assim (P4), prontas pra atacar alguém,
25. IV
as patas, e aqui em baixo, o rabo cheio de espinhos venenosos,
olha aqui os espinhos. A minha idéia é que tá correndo, a procura
de alguém, o primeiro que ele encontrar ele vai matar.” G m A 2,0

26. III “Um gato caindo.” Inq.: (P2) “Nessa parte aqui, dá a
impressão de que ele está em plena queda, com o rabo

para cima, e se torcendo todo, como fazem os gatos.”


Pm A

N° Prancha

“Um macaco andando de bicicleta.” lnq.: (G) “Aqui seria o corpo, a


cabeça, as patas da fernte aqui no quido, os pés e aqui (P1) seria
27. IV
bicicleta. Me parece que que ele está pedalando assim (gestos)”
GmA 2,0

70 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


passando então a tratar-se de um movimento espontâneo daquele
animal, porém o examinando precisa ressaltar a idéia de treinamento.
Atenção: A atividade deve ser plausível ao animal percebido, ou seja, deve ser
habitualmete observada no aminal.
Partes animais vistas isoladamente, em movimento, não são classificadas como
m, equivalentemente ao que já foi abordado com relação à M. Acreditamos que
apresentar exemplos aqui, seria alongar demasiadamente nossa exposição.
3 — Animais em alguma postura que necessite de tensão
muscular para mantê-la.

4 — Movimentos externos, porém como consequencia do movimento animal.

5 — Expressão facial animal, desde que não se refira a uma força abstrata.

N° Prancha

“Dois cachorrinhos assim de pé.” Inq.: (P6) “Sabe quando ele ficam
sentadinhos assim nas patinhas de trás, esperando alguma coisa
28. II
do dono? Então, é isso aqui seria o focinho, a orelha pequena, o
corpo todo durinho, sentadinho aqui, assim (gestos).” P m A V
N° Prancha

abelha voando.” lnq.: (G) “É tudo, aqui o corpo as


“Uma dela
asas. Parece que ela voa bem rápido e aqui é o
29. 1 e pólen
(p23) que ficou grudado em suas patinhas, e vai
caindo
enquanto ela voa.” G m A 6,0.

N° Prancha

“Um cachorro muito bravo.” Inq.: (P3+PI0) “Aqui seria o corpo dele
(Pio), bem peludo, por que no dá para ver as patas, o pelo cobre
30. VII elas, por causa desse contorno aqui. E aqui seria a cabeça com a
orelha levantada para cima. Ele está bravo por que está rosnando,
mostrando os dentes assim (gestos).” P m A

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 71


MOViMENTO SubjETivo —
Para classificarmos o m’, como nos casos anteriores a empatia
cinestésica deve estar presente e ser espontânea, sendo que o movimento
projetado deve necessariamente, decorrer de um modo subjetivo de interpretar a
prancha.
O movimento subjetivo pode referir-se tanto ao movimento de seres inanimados,
forças da natureza ou abstratas, como também pode ser atribuído à figuras
humanas ou animais, que neste caso, deixam de ser os agentes ativos da ação e
passam a agentes passivos, como ilustram os exemplos de Silveira4’5:
Protocolo 1166

Temos portanto dois momentos distintos para classificar o m’, quando o


movimento referir-se a objetos inanimados ou forças abstratas, e quando o
movimento subjetivo for atribuído à humanos ou animais. De acordo com Lúcia
Coelho2, classificamos o primeiro como m’ e o segundo como m’2. Apesar de
possuírem basicamente o mesmo significado, o m’ corresponde a uma atividade
cognitiva, enquanto que o m’2 refere-se predominantemente a uma atitude
emocional, com teor ansioso.
Assim sendo, classificamos como m’ sempre que houver:

Prancha

VIII “...Alguma coisa se abrindo (P5), mas presa por ligamentos (P3); no sei o que.
(Inq: E uma coisa que eu senti, como se estivesse acontecendo
(espontaneamente). P m’ ab .“

Protocolo 964

Prancha

IX “...<...Não sei...Aqui é um fantasminha (P1), como preso por


este elemento vermelho, que esta impedindo de sair...(Inq: Vi
todo esse conjunto de uma vez. A pessoa aqui é bem nítida (P1)
e está fazendo força para escapar. Mas esta cena no é só
angustiante. Tem essa coisa de impedir que o outro saia...)
P m’ H .“

72 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO


1 — Objetos inanimados em movimento.

Note diferença do exemplo 32 em que o movimento é decorrente de uma força da


natureza, para com o exemplo 16, no qual o movimento
ocorre em função da ação do homem.
2 — Objetos, seres humanos ou animais caindo.

Nestes casos o movimento ocorre em função da ação da gravidade, não podendo


ser interrompido espontaneamente.
Note a diferença dos exemplos 33 e 34, em os sujeitos são passivos, para os
exemplos 4, 5 e 26, nos quais, apesar de também estarem sob a ação da
gravidade, há um controle e uma intenção na realização do movimento, portanto
nestes últimos, o s sujeitos são ativos.

N° Pranchas

“Uma nave espacial, em pleno vôo.” Inq.: (E5) “Aqui no meio, tem
bem o jeito de nave espacial, igual aquelas da Nasa. Ela está
31. II voando, subindo, como aquele ônibus espacial que eles tem o
Discovery, é isso, é o lançamento do Discovery, subindo para o
espaço (gestos).” E m’1 ml

“Uma bandeira, tremulando ao vento.” lnq.: (P5) “Ah! É o formato


32. VIII de uma bandeira assim meio retangular. Parece que ela está
balançado com o vento assim (gestos).” P m’1 art

N° Pranchas

“Um meteoro caindo.” lnq.: “(P2) Aqui, tem o formato irregular da


33. II
pedra, e eu vejo ele caindo numa queda terrível.” P m’1 nat

“Um homem caindo.” Inq.: “(P3) Bem aqui, no meio é o


34. X homem, é como se alguém empurrou ele, e agora ele está
caindo.” P m’2 H

“Um cachorro...engraçado a sensação que eu tenho é de que ele


está caindo, e vai se esborrachar no chão, probezinho.” Inq.: (P2)
35. II
“Aqui, o corpinho dele, não sei, parece que está mesmo caindo, e
vai se esborrachar todo no chão, assim (gestos).” P m’2 A

PORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 73


3 — Seres humanos ou animais em ações contidas ou
bloqueadas.
N° Pranchas
36. 1 “Uma pessoa aqui no meio, ... engraçado, parece que ela
tá presa no meio dessas coisas aqui, não sei bem o que é
isso.” lnq.: (P4) “A pessoa é aqui, olha só, o corpo, os
pés, a aqui em cima tem as mãos para cima, é como se
essa coisa que tem do lado prendesse ela...ela se estica,
tenta sair, mas não pode, esse negócio não deixa...coitadinha, está mesmo
enroscada!” P m’2 H V
37. V “Dois búfalos, se empurrando.” lnq.: (G) “É a figura
toda. Eles estão numa situação dificil, os chifres se
cruzaram e eles não conseguem mais se soltar, eles vão
se empurrando assim (gestos) e como são igualmente
fortes não conseguem sair do lugar.” G m’2 A 1,0
Nestes exemplos, apesar de haver uma intenção de movimento
por parte da pessoa e dos animais, esta é jneficaz, pois uma força
externa maior os impede de completar o movimento pretendido.
4 — Movimento atribuído à conceitos abstratos.

Como ilustram esses exemplos, o m’ pode ou não conter forma, sendo que
apenas a sensação de movimento está presente.
OuTRos FATORES QUE DEVEM SER CoNsidERAdos NA
CkssiFicAçÃo DE UMA RM
Algumas vezes o movimento é mencionado apenas no inquérito,
ou seja, o examinando durante a associação não menciona o movimento

N° Pranchas

- “Uma magia.” lnq.: (G) “Eu vejo tudo isso aqui como
se fosse algo mágico, uma magia que vem assim
38. IX (gestos) e vai influenciando tudo por onde ela passa, é
alguma coisa cósmica, etérea que vem assim (gestos).”
O m’1 ab
“Ácidos ribonucleicos em transformação.” lnq.: (O)
“Me dá idéia de uma movimentação, sei lá, parece líquidos se
39. X
misturando, por isso eu disse que são ácidos ribonucleicos,
daqueles que tem dentro da célula, é isso aí.” O m’1 ab

74 RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO


e posteriormente o faz durante a fase de inquérito. Neste caso precisamos
esclarecer se o movimento foi percebido durante a associação ou não.

Esta pergunta deve ser feita pelo aplicador todas as vezes que o movimento surgir
somente no inquérito, e tem a finalidade de precisar se a sensação cinestésica foi
percebida na associação, porém não mencionada, ou se foi acrescentada pelo
examinando na fase de inquérito.
Assim, se resposta à pergunta do examinador no exemplo supra
citado for que ‘o movimento já tinha sido percebido antes’,
classificamos: G m A V 1,0
Caso o sujeito diga que só percebeu a cinestesia durante o
inquérito, o movimento é classificado como determinante adicional:
GF+(m) A V 1,0
O mesmo vale para M e m’.
Pode ocorrer ainda, de o examinando ‘retirar’ o movimento
mencionado na associação, como demonstram os exemplos a seguir:

N° Prancha

“Um morcego.” Inq.: (G) “É igualzinho a um morcego, e está


voando, heim, batendo as asas.” (você já tinha percebido que o
40. 1
morcego está voando na primeira vez que viu afigura, ou só
agora?)
N° Pranchas

“Uma explosão atômica, subindo assim.” Inq.: (G) “É uma


41. IX explosão atômica. A foto foi tirada bem na hora que o cogumelo
se formou.” G F+ fg - 5,5

“Um cachorro andando.” lnq.: (P1) “É bem parecido, aqui a


cabeça, as patas. E a posição que ele está, com uma pata na
42. VIII
frente da outra, é uma posição de quem está andando. E isso.” P
F+ A V

“Uma estátua de duas bailarinas em um passo de dança.” Inq.:


(G) “São duas e elas tão fazendo um paço de dança bem
43. VII complicado, meio torcido. E uma estátua por que tem esta base
aqui em base em baixo.”
G F+ H V 2,5

RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 75


Nestes exemplos as respostas foram desvitalizadas por se tratarem de fotos,
estátuas, ou deduzidas em virtude do formato da figura. A classificação nestes
casos, é pela forma, ou qualquer outro determinante que estiver emjogo. Esse
dinamismo é considerado como tendência à resposta de movimento. Anotamos
abaixo da classificação efetuada -)M, )m, ou .+m’, conforme o caso.
Além destes, há outros três fatores importantes que devem ser
considerados na classificação de uma RM, e que possibilitam uma
análise mais aprofundada destas respostas.
a) Qualidade Formal
Assim como nas respostas de forma, também para os
determinantes M e m, atribuímos os sinais +, - , ou ° , obedecendo
aos mesmos critérios para a classificação de F+, F- e F°.
b) Tipo de movimento
Consideramos dois tipos principais de movimento: extensor, que exprime a
expansão do corpo no espaço; e o flexor, que exprime o retraimento ou contração
do corpo no espaço. Como envolve extensão ou contração muscular, o tipo de
movimento presente nas respostas, é apurado apenas para os determinantes M e
m.
De acordo com Piotrowisk3, os movimentos que partem do centro da figura para
as bordas, e aqueles que partem de baixo para cima, são considerados
extensores. Os movimentos que partem da borda para o centro da figura, e os que
partem de cima para baixo, são considerados flexores.
c) Grau de energia mental
Devemos apurar também, o grau de energia implícito para o
movimento interpretado. Para tal apuração utilizamos a escala proposta
por Piotrowisk (1965).
De acordo com Aníbal Silveira5, “tanto em relação à figura humana como em
referência a animais não antropóides o ‘movimento’ que determina a associação
pode oferecer qualquer um dos graus de energia” transcritos na tabela a seguir:

76 ROPSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO


TABELA 1 — Graus de energia de movimento segundo
Piotrowisk (in Silveira5)
Pr 1, (G): “Dois policiais espaldeirando uma vítima” — M
Pr II (P6): “Dois cães em luta.” — m
Grau 2 — Movimento global do corpo
Pr VII (O): “Duas moças dançando.” — M
Pr VIII (P1+P4): “Animal subindo numa árvore.” — m
Grau 3 —Movimento parcial do corpo
Pr IX (P1): “Mulher segurando um menino pela orelha — M
(segundo o inquérito pode ser apenas F)*
Pr VIII (P6): “Boi levantando a cabeça” — m
(para nós, m ou F, segundo inquérito; porém não
consideramos M nem m para segmento isolado)
Grau 4 — Movimento contido ou retido
Pr IX (P6): “Homem amarrado e imobilizado no chão” —M
(para nós, m’ ou simplesmente F, conforme o inquérito)
Pr III (P2): “Animal pendurado pela cauda” — m
(para nós, m’ ou F como acima)
Grau 5 — Movimento ativo, porém em obediência àforça ct ravidade
Pr III (P1): “Dois homens curvados” — M
(para nós, M ou F, conforme o inquérito)
PrX —posição invertida- (Pio): “Ave caindo em vôo planando
-m
(para nós, m’ ou F, como acima)
Grau 6 - Movimento de completa submissdo, passivo
Pr V —perfil- : “Pessoas dormindo, numa encosta” — M
(para nós, simplesmente F)
Pr X -ápice para o lado- (P13): “Cão dormindo” — m
(para nós, simplesmente F)
* Mesmo que classifiquemos como F apuramos o grau de energia de M e m
implícitos
Finalmente, com a adição destes três fatores completamos a classificação das
respostas de movimento. Os exemplos apresentados anteriormente, foram por
motivos didáticos, classificados de maneira incompleta. A fim de ilustrar as
notações da qualidade, grau e tipo de movimento em uma resposta, retomemos a
classificação de alguns exemplos citados neste capítulo:

RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 77


N° Prancha
1. 1 (P4): “Uma mulher dançando.” P M+ H V
gr 2 ext
3. III (P1): “Duas pessoas servindo uma mesa.” P M+ H V 3,0
gr2 flex
6. 1 (P4): “Uma pessoa dando adeus.” P M+ H V
gr3 ext
4. X (PIO): “Um homem caindo de pára-quedas.” P M + H
gr5 flex
14. “Uma pessoa relaxada numa encosta.”
P F+ H ou P M+ H (conforme o caso)
gr6 gr6flex
25. IV (G): “Um monstro horrível, é assustador, parece que ele
está correndo para matar alguém.” G m+ A 2,0
grl ext
29. 1 (G): “Uma abelha voando” G m- A 1,0
gr2 ext
35. 1 (P4): “Uma pessoa aqui no meio, ... engraçado, parece
que ela tá presa no meio dessas coisas aqui, no sei bem o
que é isso.”
P m’2 H V
gr4
42. VII (G) “Uma estátua de duas bailarinas em um passo de
dança.”
G F+ H V 2,5
gr2 —*M

78 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. COELHO, L. — “Série Movimento — Vertente Intelectual”, apostila de
publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo, 1970.
2. ___________. — “L ‘Anxieté et la Construction des Imagens dans
1 ‘epreuve de Rorschach. “— Psychologie Medicale — Paris — 1989.
3. PIOTROWSKI, Z. A. “Perceptanalysis “, Philadelphia. ExLibris,
1965.
4. SILVEIRA, A. — “Emprego Subjetivo de Movimento, como Ampliação e como
Restrição da Categoria Movimento de Objeto Inanimado “, apostila de publicação
interna da Sociedade Rorschach de São Paulo.
5. — “Prova de Rorschach: Elaboração do
Psicograma”, São Paulo, ed. Brasileira, 1985.
DETERMINANTE PERSPECTIVA (RPS)
GiSEL[E B. PETRI M. COSTA E LÚCiA MARiA SALViA CoElho
HERMANN Rorschach ao longo do desenvolvimento de seu método
de investigação da personalidade fez notar que muitas vezes as interpretações de
claro e escuro serviam para representar a noção
de espacialidade dentro da construção da imagem mental (H. Rorschach pág.
224). Neste caso, o significado psicológico implícito neste tipo de resposta
retrataria uma dinâmica psíquica distinta daquela onde a diferença de tons traz
apenas o efeito de luminosidade na superfície da imagem. Vários autores, entre
eles Binder, Klopfer, Beck e Piotrowski, registram estas diferenças através de
notação específica para as respostas de claro e escuro e para aquelas que se
utilizam da projeção do espaço. Klopfer foi o primeiro a sistematizar a classificação
destas respostas, mostrando que existem ocasiões onde a terceira dimensão é
percebida sem que a diferença de tons seja notada. Mas, foi a partir das
contribuições de Silveira que esta dinâmica pode revelar sua especificidade:
enquanto as respostas que se utilizam das diferenças de tons marcam uma
reação afetiva íntima, tais modalidades de respostas, que implicam o uso do
espaço na formação da imagem, representam uma construção
predominantemente iii electual. No momento gostaríamos apenas de relembrar a
importância de uma classificação que permita uma adequada elucidação das
dinâmicas psíquicas, assim como esclarecer os vários níveis destas respostas
dentro da série perspectiva. Por hora, restringimo-nos ao modo de classificá-las,
reservando para uma outra ocasião a discussão de sua interpretação.
As forças afetivo-emocionais que determinam a aplicação da
inteligência no exame do mundo exterior só é possível de ser aferida
através da análise global do psicograma. A série perspectiva nos traz

80 RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO


particularmente o grau de objetividade ou de subjetividade refletida na construção
de distância no percepto. Assim sendo, o critério para as diferentes ordens de
respostas na série perspectiva, Ps, ps, ps’, é, como nos demais determinantes, o
nível de objetividade.
Determinante Ps
Classificamos, portanto, como Ps toda resposta de perspectiva
onde a forma é bem delineada, predominando sobre a percepção de
distância.
Exemplo
N° Prancha

Entretanto, este tipo de construção da imagem, onde a forma se impõe à


distância, pode ser elaborado através da conjunção de
diferentes propriedades do estímulo:
a — organização de perspectiva linear em tomo da percepção de
estruturas diferentes, distribuídas na linha do horizonte, com
consideração da posição e proporção das diferentes áreas. Nestes
casos, há um esforço intelectual maior de construção por indução
— exemplos 2 a 6.
b — disposição simétrica das manchas em tomo de um eixo
vertical com apreensão da noção de afastamento ou proximidade
através dos contrastes de luminosidade — exemplos 7 a 22
e — apreensão da simetria da mancha, originando respostas de
reflexo — exemplos 23 a 29
a - Exemplos 2 a 6:
As respostas Ps que apresentam maior grau de elaboração e organização da
imagem são aquelas que abrangem duas ou mais áreas distintas, interpretadas
como conteúdos diferentes que compõem uma cena complexa. Grande parte
destas respostas devem ser desdobradas em duas ou mais classificações de
modo a permitir a representação adequada dos processos psíquicos envolvidos.

1. 1 “...Uma brincadeira de roda entre 3 crianças

(G)...” (Inq: “Uma criança à frente — P4 —e

duas atrás — em P2 — estão de mãos dadas”): Ps


RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁsico 81
N° Pranchas
2. II “...Castelo no alto de uma colina (P4) com um lago em
frente (E5) e cercado por uma floresta (Pó). Na frente do
lago há um grande arbusto (P3). Acima da colina, atrás do
castelo, tochas de fogo que o iluminam (P2)..”: GE Ps
arq
P CF fg
3. III “...Duas mulheres (P1) em um palco todo enfeitado. Mais
à frente a ribalta (P7), entre eles e por trás a decoração do
palco (P2 e P3). Enfeites de papel crepon vermelho com
diferentes formas artísticas...”:
GPsH
P CF art
4. IV (j)osição invertida) — “. ..Uma fonte de mármore com
figuras mitológicas que se projetam para a frente (Pó). Em
baixo dos arcos (os 2 P4) dá até para perceber o ralo (P3)
aqui no centro onde a água pode escorrer. Agora ela está
saindo em jatos para o alto (P1) e respingando nas figuras
(p extemos à P1). Mármore por causa da cor ou da pedra
escura...”:G Ps (C’) arq
P m’ nat
5. X “...Uma longa avenida (E30) com leões decorativos (os 2
P2) mais à frente, ao lado do portal (PiO). Uma ponte tipo
japonesa (Pó) ligando os dois canteiros de flores que
contomam a estrada (2 P9). Mais longe, já no alto, uma
torre ou castelo (P11). Os leões estão de perfil, patas para
frente do tipo que enfeitam os jardins (P2). Canteiros
compridos com rosas ou flores vermelhas. ..só percebo à
distância, não dá para ver bem as flores...”:
P(E) Ps arq
P F+ A
P CF bt
6 “...O encontro entre duas paredes. Aqui (P11) a quina da
parede e aqui (E laterais) a parede. À frente, uma piscina
(E abaixo de P1 1)...”: P (E:, Ps arg
b - Exemplos de 7 a 22:
Nesta categoria encontram-se respostas onde as variações de luminosidade e a
proporção das áreas contribuem para a associação de uma imagem percebida à
distância ou com diferentes níveis de profundidade.

82 PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


Estas respostas, em geral, correspondem a um esforço de evocação de uma
experiência. São elaborações mais concretas e a luminosidade ajuda na
percepção de distância. Quando a percepção de luminosidade participa apenas no
sentido de facilitar a construção de espaço, não a classificamos, estando integrada
à percepção de Ps.

— A classificação C’ refere-se a cor das pedras.

N° Prancha

7. 1 “...Parece um morro no mato...pedras por ali, algumas

meio soltas. O morro (perfil de P2), pedras mais à frente

(P8) meio soltas. Do jeito como se vê em pedreiras, meio

de longe. O morro ao longe e as pedras na frente, devem

ter rolado. Pedra ou mato por causa da cor escura...”: P

Ps(C’) ggr

— A classificação de C’ corresponde à cor da pedra ou do mato.

N° Pranchas
8. X “...Um despenhadeiro, este vazio lá em baixo (E30) e

aqui na encosta (P9) algumas saliências da rocha que

servem de apoio (P6)...”: E (P) Ps ggr

9. IV (posição invertida) “...Um castelo ao longe (P1) e um

cavaleiro sobre o cavalo indo na direção do castelo (P7).

Dá para ver o cavalo pela diferença de tons aqui

(divisão entre P2 e P7) que faz o contorno das costas do

cavaleiro e a traseira do cavalo...”:

P Ps arq

PMH

10. 1 “...Estas duas elevações (p22) lembram montanhas

vistas ao longe...lembram montanhas que vi quando

criança em um passeio com os meus pais...”: P Ps ggr

II. VII “...Uma cidade cheia de prédios (pormenores em P8).

Eles são pequenos e mal definidos porque estão sendo

vistos de longe...”:

p Ps arq

12. VII “...A entrada de uma caverna (G). Uma caverna que se

forma dentro daquelas pedras pesadas, grandes e cinzas.

Tem uma abertura nelas, uma entrada (E)...”:

GE Ps(C’) ggr

RORSCHACH CLtNIco — MANUAL BÁsico 83


N° Pranchas
13. VI “...Umas pedreiras (P4). Pedreiras altas com precipícios.
Tenho visto isto no Rio de Janeiro e em
Caraguatatuba...”: P Ps ggr
14. III “...Terreno montanhoso (P1 1) com diferentes
elevações...”: P Ps ggr
15. IX —“...Uma cachoeira (E8), a água cai de muito alto. Acho
que o que dá a impressão de altura é o fato destas partes
aqui serem de cores diferentes. Podem ser pedras
diferentes (?) não que as pedras sejam coloridas. E mais
o fato de serem diferentes...”: GE Ps ggr
16. IV — “...Um gigante (G — P4) na frente de duas pessoas de
braços abertos (P4). O gigante é tudo isso aqui e os
braços não fazem parte do gigante porque são de
tonalidade mais escura, parece que estão atrás dele...”:
G Ps H V
17. IX posição < lateral superior “...Dá a impressão de que eu
estou dentro de uma caverna olhando para fora. Aqui a
caverna (P1) onde eu estou, olhando lá fora (E8 + P3).
Na caverna fica mais escuro e lá fora é mais claro...”:P
(E) Ps nat
18 VI “...Duas montanhas, uma de cada lado (P1) e lá no meio
(P5), no vale, lá em baixo, uma estrada. Como a estrada
está num tom mais escuro, parece que ela está em um
nível mais baixo. Ela foi construída entre duas
montanhas...”: P Ps arq
Obs. 1: Nos casos acima, é desnecessária a introdução de 1 como
fator adicional pois a noção de relevo está integrada na percepção de
altura.
Obs. 2: Embora raras, a percepção de vistas aéreas ou de mapas topográficos
podem acompanhar-se de noção tridimensional. Esse tipo de associação é pouco
frequente pois na maioria das vezes os mapas são concebidos a partir do
contorno formal, conjugado ou não aos tons de claro e escuro que dão a
impressão de relevo mas não provocam, via de regra, construções tridimensionais.

84 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO

— A classificação 1’ refere-se à noite escura, tendo um valor independente da


percepção de distância.

Obs. 3: Enfim, o diferencial para se notar Ps é o uso do espaço. Por exemplo, a


resposta “cadeia de montanhas porque esta diferença de tons me faz pensar na
sucessão das várias montanhas como se fosse uma cadeia” tem como
determinante F (1). Por outro lado, uma resposta “cadeia de montanhas porque
vejo uma montanha mais próxima e atrás outra e depois mais outra” recebe a
classificação Ps. E possível ainda a combinação dos dois determinantes, por
exemplo:
“uma cadeia de montanhas tipo uma vista aérea. Vejo nos mais escuros, áreas
mais profundas e nos mais claros o cume das montanhas. E como se eu estivesse
sobrevoando a área e vejo assim lá embaixo” A classificação desta resposta é Ps
(1) (ver capítulo sobre luminosidade, o exemplo 10 no subtítulo 1).

N° Pranchas

“...mapa em relevo, visto do alto (G). Com áreas mais elevadas e


19. V E27 e E29 como mais profundas...”:
GE Ps mp

“...Montanhas e colinas vistas do alto...em uma noite escura (P1).


20. II Noite por causa dos tons sombrios...”:
P Ps(1’) pz

N° Prancha

“...Cadeia de montanhas...elas se distinguem por ser mais escuras


21. X
em certas partes. As partes mais escuras so mais profundas e
delimitam as montanhas (P9)...”:
P Ps(L)ggr

“...Baía e montanhas...como umas ilhas com água no


22. VII
meio e ao redor. Os sombreados do a idéia de alto e

baixo. A parte branca (E7)poderia ser água da baía Agua porque é


branca, como vista de um avião...”:
GE Ps(C’) ggr

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 85


c — Exemplos de 23 a 29
N° Pranchas
23. VIII < “...Um animal (P1) andando sobre pedras (metade
lateral de P8 + P2). Aqui (na outra metade lateral) o
reflexo dele na paisagem...”:
PmAV
G Ps pz
24. VI <“...Um patinho na lagoa (metade lateral de P11). Aqui
vejo a linha da superficie da água e aqui o reflexo dele
na perpendicular (na outra metade)...”:p Ps A
25. VII «
.Uma mulher (P9) se arrumando na frente do espelho.
A imagem dela no espelho à sua frente refletida. ..Vejo
ela se olhando no espelho na sua frente, observando sua
imagem...”: O M (Ps) H V
26. 1 < “...Um burrinho (P2) sobre umas pedras, deve estar
batendo sol porque sua sombra (P2 na outra metade da
mancha) está refletindo em uma parede branca (E)._”:
GE Ps (C’) A
27. VII posição invertida “...Aqui parece uma estrada um pouco
no alto, como se fosse uma subida e um lago abaixo
com seu reflexo na água (P9)..”: G Ps arq
Obs. 4: Nas respostas de reflexo é importante que exista a percepção e a
utilização do espaço fisico. E fundamental que a percepção de uma outra
dimensão espacial esteja presente na resposta, não bastando simplesmente a
referência à simetria ou ao reflexo. O inquérito deve se certificar que a distância foi
percebida.
N° Prancha
28. VII “...Uma mulher (P9) e aqui seu reflexo (no P9 do
lado)...(?) porque um lado é igual ao outro o que me fez
deduzir que é o seu reflexo...”: P F+ H V
Obs. 5: As respostas de cogumelo de bomba atômica, via de
regra, incluem a forma, além da distância, e, portanto, são incluídas
dentro da categoria de Ps (exemplo 29).

86 ROISCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO

Determinante ps
Classificamos como ps toda vez que a forma, ainda que delimitada, perde-se na
percepção da distância, tornando-se vaga e difundindo-se no espaço. Este tipo de
resposta concentra-se em duas ou três categorias de conteúdo como fumaça,
nuvem ou correlatos. Os exemplos ilustrativos da classificação ps estão entre os
números 30 e 35.
N° Prancha
30. VII “...Nuvens...é bem o desenho delas no céu...”: G ps nv
31. VIII “...Arco-iris (G) pelas cores mas principalmente pelo
aspecto difuso delas. Está pintado de um jeito que dá a
mesma sensação de quando a gente vê um arco-iris no
céu: não consegue pegá-lo mas vê que ele ocupa todo
aquele pedaço no céu...”: G p5 (CF) nat
32. 1 posição invertida “...Um incêndio (contorno da metade
inferior de P2). Parece quando ficam aquelas labaredas
envolvidas numa fumaça que até faz lacrimejar os
olhos...”: P ps fg
33. IX < “...Um cometa (P3). Aqui o corpo dele e aqui a
cauda. Parece que está todo envolvido em fumaça
porque parece nebuloso...”: P ps fg
34. IX “...Parece que uma vela (P5) foi apagada e deixou aqui
esta fumaça. No centro ela se adensa porque está perto
do pavio e à medida que se distancia, a fumaça vai se
esparsando...”: P p5 fg
35. III “...Duas bruxas (P1) fazendo feitiçaria em volta de um
caldeirão. Da magia sai uma espécie de vapor branco
(E) que vai ganhando todo o ambiente onde elas estão...”: P M H V
E øs(C’)fg

N° Prancha

“...Parece o cogumelo (E8) da bomba atômica. Me faz lembrar do


29. IX filme O Império do Sol, quando o menino vê o cogumelo à
distância...”: E Ps fg

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 87


Determinante ps’
Classificamos como ps’ sempre que na construção da imagem não houver
participação da configuração formal, impondo-se apenas a noção de espaço. São
respostas onde se destaca a difusão pura sem limites. Os exemplos ilustrativos da
categoria ps’ estão nos exemplos entre os números 36 e 40:
N° Pranchas
36. IV “...Uma bruma (G)...dá a sensação de estar perdido na
bruma. Sabe como é? A gente não vê nada, vai andando
mas não sabe onde pisa...não sabe onde vai parar...”:
G ps’ ab
37. II “...Parece um buraco muito fundo, tão fundo que se eu
jogar uma moeda, não vou ouvir ela tocar no chão...”:
E ps’ ab
38. VIII “...Um terremoto que acabou de acontecer. A terra aqui
(P8 + P2) onde abriram estas fendas (E entre P4, P5 e
P2). As fendas são enormes e se você olhar dentro delas,
corre o risco de cair no centro da terra, dá até
vertigem...”: E (P) ps’ ab
39. V “...Não sei te explicar...é como se este meio (refere-se
ao eixo central) estivesse muito longe atraindo todo este
resto (G) para ele mesmo. Digamos que é o buraco
negro que atrai tudo para si mesmo...”: G ps’ ab
40. IX “...Dizem que quando a gente morre, tem uma luz muito
forte que parece que nos chama, tipo um chamado de
Deus. E isso que eu vejo aqui (E8)...é como se fosse um
túnel que nos leva embora, lá para outra vida, O túnel
tem uma luz ofuscante...”: E ps’(I’) ab
A importância do inquérito para a classificação
das respostas de perspectiva
Muitas vezes, a associação é feita de tal modo que não nos fica clara a posição da
forma na percepção do espaço. Para tanto, o inquérito deve ser feito no sentido de
esclarecer qual a classificação mais apropriada: Ps, ps ou ps’. Em alguns casos, a
resposta deve ser desdobrada para não perdermos o dinamismo implícito.
Vejamos os exemplos a seguir (exemplos situados entre os números 41 e 45):

88 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁsico

— Neste caso, a percepção ocorreu em dois momentos: primeiro houve a


percepção de espaço em contraposição à percepção formal das rochas e dos
homens (Ps), em um segundo instante, houve a percepção da distância sem
qualquer segurança formal, vendo-se sob perigo de vida (ps’). A classificação
deve registrar estes dois momentos.

— Nota-se que aqui a percepção do movimento está condicionada à percepção do


espaço. Por esta razão, é necessário que a classificação espelhe esta relação
mútua, não se devendo desmembrála. O espaço é percebido como profundo e
sem limites sendo, portanto, uma classificação ps’.

N° Pranchas

“...Dois homens (P6) tentando passar de uma rocha para outra


(P9). Estão de mãos dadas e um ajuda o outro...Nossa!...quando
estavam passando caiu algo do bolso de um deles e eles olharam
para baixo (E30) e só então perceberam o perigo que estavam
41 X
correndo: O lugar é tão alto que eles não podem enxergar o final,
se eles cairem vão morrer...”:
P M (Ps) H
E ps’ ab

N° Prancha

“...Uma parte de um satélite artificial se soltou (P3) e está caindo.


Caindo para sempre porque ele está perdido no espaço, está
sendo atraído pelo sol (?) Não vejo o sol, vejo só um vazio horrível,
42. X
sem nada...Tá certo que tem esses montes de desenhinhos em
volta mas não me dizem nada...Podem ser lixo espacial, dizem que
o espaço está cheio deles...”: P (E) m’ (ps’) ci

N° Prancha

“...A entrada de uma caverna...Quando você pegou a figura, antes


que eu acabasse de pegá-la nas mãos, já tinha visto a caverna (G)
com uma entrada no meio (E) mas, agora. ..quando olho...mais me
43. VII
chama a atenção a entrada dela em si porque é muito profunda,
parece que não tem fim, é infinita...”:
GE Psggr
E ps’ ab

RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 89


— Assim como no exemplo 41, a percepção se deu em dois momentos, fazendo-
se necessário registrá-los em duas classificações. No primeiro momento a entrada
estava delineada pela forma da caverna (Ps). Num segundo momento, a
profundidade se tornou maior e a forma se perdeu (ps’).

— Apesar desta resposta incluir o espaço e a mancha global (índice de construção


intelectual) e partir de alguma configuração formal (a rachadura), sua elaboração
se mostra muito subjetiva e centrada na percepção espacial, desconsiderando a
forma. Por esta razão, a classificação mais apropriada é ps’.

- A partir deste exemplo, pode-se notar a integração da resposta de perspectiva ps


(através da percepção de fumaça, desaparecida ao longo da elaboração da
resposta) numa noção de perspectiva mais elaborada e definida Ps (presente na
percepção de uma ilha distante). No caso, ao contrário dos exemplos 41 e 43,
houve uma integração de ps em Ps, uma elaboração da mesma resposta, não
sendo necessário desmembrá-la. A integração dos determinantes de luminosidade
neste exemplo será analisada no capítulo sobre luminosidade, no exemplo 17 do
subtítulo 1’.

N° Prancha

“...Parece que eu vivia em uma redoma. Tudo era assim sem nada,
não dava para enxergar nada (E). Um dia rasgou o teto da redoma
(G) e eu olhei para fora. Se abriu esta rachadura (G), olhei para
44. V
fora...Mas, não gostei...não tem nada, é um infinito, um nada que
vai longe e não acaba nunca, a gente vê que não é nada, só uma
existência em vão...”: GE ps’ ab
N° Prancha

“...Aqui no meio (P6) parece um fumegueiro, uma fumaça bastante


encorpada. . .Na realidade, vendo melhor, parece uma ilha, ao
longe, pegando fogo. Fica aquela imagem preta no fundo, como
45. VII
nos filmes de guerra. Isso é um incêndio nas casas simples de
pescadores, como acontece nos filmes de guerra, quando a
paisagem fica toda escura e queimada...”: P Ps (C’) pz

90 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


Mecanismo inusual de reação do ângulo de visão
Não se pode confundir a classificação de perspectiva com o mecanismo inusual
de reação do ângulo de visão. Nestes casos, não existe a busca do espaço mas
um modo diferente de contemplar a realidade. O mecanismo ângulo de visão
aponta para uma tendência a uma elaboração próxima àquela implícita no
determinante perspectiva mas, se mostra insuficiente na capacidade de
elaboração construtiva (exemplos 46, 47 e 48).

— Nesta resposta, a percepção de desproporção ou deformação é causada


exclusivamente pelo ângulo de visão, não tendo sido notada nenhuma diferença
entre planos. Observe a diferença apontada no exemplo abaixo:

Aqui, ao contrário do exemplo 47, na percepção de desproporção há uma


concepção de planos diferentes: um “acima de mim” e, outro
na “minha altura”, devendo-se considerar uma resposta de perspectiva.

N° Prancha

“...Um morcego voando (G). Parece que eu estou vendo ele


voando de cima para baixo...”:
46. 1
GmAV
Angulo de visão
“...Parece um gigante (G). Parece que eu estou pequena perto
47. IV dele e ele muito alto. Parece desproporcional, meio deformado
até...”: G F+ H V Angulo de visão

N° Prancha

“...Parece um gigante (G). Ele parece muito alto porque está


48. IV desproporcional: as pernas grandes, parecem mais próximas de
mim e a cabeça pequena, parecem distantes de mim...”: G Ps H V

RORSCHACH CIJNCO — MANUAL BÁSICO 91


BIBLIOGRAFIA
COELHO, L. M. S. — Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo,
Ed. Atica, 1975.
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre
Jou, 1978.
SILVEIRA, A. — Prova de Rorschach: elaboração do psico grama -
ia ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1985.
DETERMINANTE CROMÁTICO
SiMONE BRUNIIAMi
No Rorschach, as Respostas de Cor (RC) estão relacionadas à esfera
Afetiva. As funções da afetividade são as funções básicas, fundamentais, que
presidem os primeiros contatos do indivíduo
com a realidade externa e que são essenciais á sua sobrevivência e
mesmo à realização de qualquer trabalho mental.
No Rorschach encontramos aspectos ligados às funções afetivas básicas
(representadas pelas respostas C e CF) e aspectos ligados aos sentimentos que
pressupõe o amadurecimento individual baseado na assimilação das regras de
sociabilidade (respostas FC).
QuANdo CLASSiFiCAR UMA RESpOSTA COMO RC
A resposta de cor pode ser inteiramente ou em parte determinada pelos valores
cromáticos dos borrões. A cor (vermelho, verde, azul ou amarelo) deve influenciar
a percepção deste tipo de resposta. Não é suficiente que o estímulo seja uma
porção colorida, a resposta também deve incluir um objeto imaginado com as
mesmas cores das porções selecionadas.
E preciso que seja cor e não os tons acromáticos branco, cinza ou preto. Embora
possa ocorrer o mecanismo projeção de cor em mancha acromática. A cor pode
ser nomeada no processo de associação livre ou no inquérito, O inquérito é
importante para verificar se o sujeito sente que está percebendo um objeto
colorido e que a cor deu à sua resposta um elemento que não existiria se a área
não fosse colorida. Entretanto, é possível, ainda que rara, a ocorrência de nC
como determinante da resposta.

94 RORSCHACH CLÍNIcO — MANUAL BÁSICO


Devemos aqui diferenciar as RC genuínas dos mecanismos de reação
desencadeados pela percepção do estímulo cromático:
nomeação de cor, negação de cor, referência ao vermelho, comentários
sobre as cores.
No Inquérito: O que nessa mancha te faz pensar em...?
Descreva melhor o que você viu.
Quando a resposta vem acompanhada por comentários ou
adjetivos: flor exótica, chapéu fantasia, pedras preciosas. Deve-se questionar
sobre o motivo que levou o examinando a atribuir tais qualidades, pois geralmente
elas foram sugeridas pela cor da área interpretada.
Em casos de dúvida usar a miniatura das manchas que são acromáticas (folha de
localização) e se o sujeito tiver uma reação diversa daquela apresentada na
mancha original será uma RC, isto é, quando facilitar o processo de interpretação
para sua resposta, teremos umaRC.
NÃo CLASSiFICAR COMO RC
Quando o sujeito apenas designar a localização mencionando
cor.
Resposta cromática para uma área acromática. Classificar como
F e anotar o mecanismo como “projeção cor”.
Exemplos:

Pranchas

1. VI Tapete amarelo

Bandeira francesa com listras branca


2. IV verticais azul,
vermelha. e

RORSCHACH CLiN1c0 — MANUAL BÁSICO 95


Tipos PRiNcipAis dE RC: FC, CF, C.
A preponderância da forma na elaboração do estímulo colorido
— FC — traduz reação adequada a situações que mobilizam de modo direto a
afetividade; quando prevalece o valor cromático — CF — sendo a forma vaga e
pouco significativa, a resposta indica menor subordinação aos dados da realidade
na expressão dos afetos; e quando uma resposta baseia-se exclusivamente na cor
percebida pelo examinando — C — ela traduz liberação direta dos impulsos
afetivos sem consideração pelas condições do ambiente.
FC
Resposta determinada em primeiro lugar pela forma, sendo a cor um atributo
complementar que facilita reconhecimento, mas também determinada
apreciavelmente pela cor. São respostas designadas como resposta de forma e
cor.
N° Pranchas
1. VIII P2+P5 - “Aqui um rosto de uma pessoa. lnq.: também pelas cores,
lembra o rosto de uma pessoa. Os olhos, o rosto, a boca rosa, a
bochechinha vermelha”.
2. II P3 — “Uma fruta selvagem já muito madura. Inq.: lembra fruta, tipo
abacaxi, mas com forma diferente. Madura] porque é muito
vermelha.
3. III P3 — “Aqui no meio uma borboleta bonita. Inq.: pelo formato,
lembra uma borboleta bonita, vermelha”.
4. Iii P2 — “Uma guitarra. lnq.: o formato de uma guitarra, o braço e onde
se tocaria. Pelo formato e pela cor, guitarra elétrica é dessa cor”.
5. VIII G —“Um carrossel aqui. lnq.: mais esse telhado (P) e as cores, o teto
e o colorido do carrossel”.
6. VIII P1 — “Dois pulmões. Inq. Pelo posicionamento, bem abertos, o
formato deles. A cor também, um rosa bem clarinho”.
7. IX P6+p21 — “Umas sementes. Inq.: essas coisinhas embaixo com essas
raizinhas para cima. O formato redondinho, essas raizinhas por onde
o caule sai. E aqui tem verde, uma planta, pode ser uma planta pelo
verde”.
8. III P3 — “Gravata borboleta. Que tipo? Daquelas que parece um laço de
fita, quando se usa este tipo de gravata? Os homens usavam
antigamente nas cerimônias, podem ser de diferentes cores, aqui ela
é vermelha.”

96 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


N° Pranchas
9. X P4 — “Tipo uma baratinha. lnq.: o formato e um pouco a cor, um
pouco de tudo”.
10. X P7 — “ratos aqui. Inq. Ratos porque me parece rato e é cinzento né!”
11. X P4 — “Dois caranguejos. Inq.: o formato também e a cor, rosinha,
mais a conchinha dele”.
12. X P7 — “Um inseto aqui. Inq.: um inseto, é esse maiorzinho, pela cor e
pelo formato, parece um besouro, uma barata sei lá”.
13. X P4p — “Bigodes que se usa em festa de Carnaval. Inq.: como
fantasia, por isto são verdes”.
14. VIII G — “Um quadro de uma pintora norte americana que pinta caveira
de boi, flores e cores bem fortes, lembra por causa desse carnaval de
cores. Inq.: essa parte cinza, um chifrão para os lados, olhos, a boca
e os chifres, O cinza, a caveira com as cores pastéis e não fica
sombria, fica bonito”.
15. VIII P2 — “A pétala de uma papoula. Inq. pela coisa irregular e pela cor
meio rosada”.
CF
Resposta determinada primeiramente pela cor da mancha sem deixar de
considerar a forma, que no entanto, tem um papel secundário, uma vez que
mesmo que a forma se modifique a resposta continua sendo plausível.
N Pranchas
1. II P3 “Parece uma mancha de menstruação. Inq.: a cor vermelha,
uma mancha assim.” (a mancha pode assumir diferentes formatos
sem comprometer a idéia de menstruação).
2. II G “Uma xilogravura. lnq.: tudo, é que eu gosto dessas coisas, não
é uniforme, é uma mancha, as cores estão misturadas, um colorido
bonito.”
3. II G “Uma borboleta machucada. Inq.: as asas, a cabeça, estaria
sangrando. Sangrando porque está vermelho, além disto tem uma
mancha de sangue aqui, parece que está machucada.”
Gi F(C)+AIPCF sg
4. P3 “Coração. Inq.: o formato não tá muito não, mas a cor
vermelha, lembra coração, lembra sangue”.
5. VIII P8 “Uma árvore.Inq.: uma árvore, acho que pelo verde, aqui mais
laranja, acho que foi pelas cores que me passou a idéia de uma
árvore.”
6. IX GE “Um mapa. Inq.: aqui seria o mar (E) e esses recortes o mapa,
as cores diferentes em cada Iuar. parecem as cores de livro.”

RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁsico 97


N° Pranchas
7. IX G “Aqui tá me lembrando sorvete. Inq.: essas bolas de morango,
pistache, pelas cores, uma em cima da outra, bolas de sorvete.”
8. X G “Aqui parece o mar, com corais, peixes, tudo colorido e bonito.
Inq.: são cores vivas, tudo solto na água. As cores e os formatos.
Um colorido vivo.”
9. X P11 “Parece aquelas plantas do mar, algas. Inq.: esse azul lembra
plantinhas do mar, pelo formato e pela cor”. (Forma inadequada e
variável das algas).
10. X P2 “Dois ovos fritos. lnq.: a cor, o vermelho da gema. Não tá o
formato que você vê na foto, mas lembra ovo frito, amarelinho”.
11. III P1 “Essa coisa vermelha parece pulmão. Inq.: pulmão essa parte
vermelhinha, o formato também e a cor, porque tudo de dentro do
corpo é meio vermelho, lembra sangue.”
12. X G “Carnaval, carnaval dos insetos. Inq.: pelas cores e por estar
tudo espalhado.”
13. 11 P3 “Sangue espirrado, por ser vermelho, por estar espirrado para
fora aqui.”
14. IX G “Uma labareda, uma tocha, algo assim. Inq.: a foto é muito
bonita, um colorido muito bonito, fogo pelo formato e a cor,
parece uma labareda.”
c
Respostas determinadas exclusivamente pela cor das manchas
sem levar em conta a forma. Respostas cromáticas primárias.
Exemplos:

N° Pranchas

1. II P3 “Sangue aqui. Inq.: Sangramento, sangue, porque é vermelho.”

P3 “Aqui o sistema reprodutor feminino. Inq.: útero, algo assim,


2. II
evidenciado em vermelho, pela cor que lembra sangue.”

G “Um mapeamento do cérebro. Inq.: quando você tá fazendo


3. VIII exame e eles colocam corante e sai assim, pelas cores, rosa,
azul, pelo colorido.”

98 ROESCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

DiSTiNÇiO ENTRE F E FC
Quando o sujeito se referir à forma e à cor em sua percepção,
classificamos como FC.
Exemplo

DiSTiNÇÃO ENTRE FC E CF
Sempre que a formada mancha puder ser modificada sem perder
a plausibilidade da resposta, sem fazê-la nem mais nem menos plausível
a resposta será CF; por outro lado, se as mudanças na interpretação
da área mudarem a plausibilidade da resposta, teremos FC.

N° Pranchas

G “Uma pintura. Inq.: porque é colorido, misturando rosa com


4. IX laranja, e o azul com esse mais clarinho, essas tonalidades,
pintura sem forma, só usando tinta.”

5. X P13 “Mamão aqui. Inq.: pela cor, laranjinha, parece mamão.”


P “Luz.Inq.: relacionada a essa cor laranja que vai
6. IX
clareando. P C (1’) ab

P “Aqui nesse pedaço eu vejo sangue coagulado. Inq.:


7. X sangue porque é vermelho e está coagulado porque essa cor está
diferente do vermelho vivo, está meio azulado.”

N° Pranchas

P “Laço de fita. Inq.: o que na mancha fez você ver laço de fita?”
tem um nó no meio e o laço de cada lado. Este laço de fita que
você está vendo, onde ele pode ser usado? As crianças usam na
1. III cabeça ou serve para fazer pacotes de presente. Só pacotes de
presente, não serve para outro tipo de pacote? Lembrei de
presente porque é colorido (FC). Caso não faça esta distinção a
resposta será F+.

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO

DiSTiNÇÃO ENTRE CF E C
Nas respostas C o sujeito encontra um conceito cuja cor coincide com a do borrão.
E ocaso de SANGUE ou FOGO aplicado às regiões vermelhas,de AGUA ou CEU
nas partes azuis, de TERRA e VEGETAÇAO nas porções, pardas ou verdes.
Neste caso, a qualidade cromática é diretamente associada a aspectos abstratos.
Nesses casos, o uso da cor é evidente, a dúvida é quanto ao papel representado
pela forma: fenômenos percebidos em diferentes situações concretas e que
passam a constituir propriedades exclusiva que as define.
Se o sujeito tiver apontado indiferentemente para os diversos vermelhos do cartão
dizendo apenas: “Isto é sangue”será C. Na maioria das vezes sangue é visto
como “escorrido, espalhado, pingando” aí, será CF pois tais referências sugerem a
presença de forma.
No inquérito não perguntar: Como você vê este sangue? Pois
poderia sugerir um elemento formal não existente anteriormente. Dizer:
mais alguma coisa sobre este sangue?
As C são raras e mesmo as interpretações como “água”ou
“fogo”quase sempre têm alguma influência da forma na mancha.
COR FORÇAdA OU CoNdENSAçÃo dE COR
O examinando pode levar em conta a cor da área a qual ele identificou através do
aspecto formal, sem conseguir, no entanto, integrar uma resposta FC, uma vez
que FC corresponde ao reconhecimento de um objeto ou ser concreto, onde F e C
compõem mesmo conceito.

Exemplo

99

N° Pranchas

P2 (parte superior) “Mancha de sangue”pode igualmente ser


1. II plausível se a forma dessa área inteiramente diferente, for
manchas de sangue não têm forma típica. Será uma CF. uma

P2 “Borboleta” esta área não pode ser modificada prejudicar


2. VIII sem
a plausibilidade da resposta

100 RORSCHACH CIJNICQ — MANUAL BÁSICO


Exemplos

Entretanto, se a resposta for: Urso de desenho animado, por isto rosado, a


classificação deverá ser FC. Ou ainda:
N° Pranchas

Neste caso, a atribuição de uma emoção, ou de qualquer significado abstrato,


acompanha a percepção mais objetiva da forma
do animal, deverá também ser classificado como P F+ (C) A V.
Tipos dE CONTELJdO E QuALidAdE FoRMAL dAs RC
O fato das RC corresponderem à disposições afetivas, altamente individualizadas
inválida a verificação da frequência estatística das formas que por vezes integram
ou acompanham a construção das imagens correspondentes. Portanto, não lhes
inscrevemos a qualidade formal na classificação, ao contrário do que se fez com
as RM. Este procedimento diferente decorre do fato de se tratar de dinamismos
diversos: as RM correspondem a elaborações cognitivas baseadas em dados do
ambiente externo, portanto mais compartilhadas nas experiências interpessoais,
permitindo a comparação entre as concepções do examinando e as da
comunidade.
A natureza positiva ou negativa das RC decorrem da conotação agradável,
prazeirosa, amigável ou construtiva do conteúdo percebido, ou por outro lado, da
qualidade desagradável, repugnante, mórbida ou destrutiva do

N° Pranchas

P1 “Um urso . . .(descreve a forma) só que parece estranho


1. VIII porque não existe urso vermelho, parece que foi pintado de modo
artificial’: P F+ (C) A V

“Um felino com muita


2. VIII
raiva. Felino pela forma, dá idéia elho. ...vermelho
P1
raiva porque está muito de raiva”.
de
verm

RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 101


BIBLIOGRAFIA
COELHO, Lúcia Maria Sálvia — Epilepsia e Personalidade - r’ ed.
São Paulo, Ed. Atica, 1975.
SILVEIRA, Anibal — Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma
- P ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1.985.
AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DAS FORÇAS SUBJETIVAS: Eo E Eo
LiLAN PASQUALiNi CAsAdo
OEQUILíBRIO das forças subjetivas fornece a dinâmica psíquica fundamental do
indivíduo, a combinação específica das funções afetivas, cognitivas e conativas.
O índice Eq traduz o tipo de vivência que é estabelecido com a realidade, o modo
como o indivíduo tende a viver e reagir perante as diferentes situações,
principalmente nos relacionamentos interpessoais. Este índice expressa as
características subjacentes ao comportamento manifesto, atual e consciente.
O índice Eq’, aponta para tendências mais profundas ou latentes da
personalidade, que poderão ser desenvolvidas pelo examinando, ou, se tornarem
manifesta mediante determinadas condições e situações especiais.
A comparação entre os índices Eq e Eq’ nos revela se há harmonia ou não, entre
as reações afetivas (RC) subordinadas conscientemente às elaborações
intelectuais (M) e as reações afetivas (RC) relacionadas com as tendências mais
subjetivas e habitualmente não exteriorizadas (m e m’).
1. ÍNDICE Eq: M: RC
As respostas M e RC (FC,CF,C) representam respectivamente os dinamismos
intrínsecos da esfera intelectual e da esfera afetiva. As diferentes possibilidades
de combinações e proporções numéricas entre estes determinantes é denominada
índice Eq. O índice Eq refere-se

104 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


aos diversos tipos de contato afetivo que o indivíduo estabelece com o ambiente e
o conjunto de tendências de personalidade que normalmente se mostram no
comportamento. Portanto, caracteriza especialmente o modo de interação mantida
nas relações interpessoais, considerando ainda variações decorrentes de
circunstâncias ambientais e reações emocionais momentâneas.
E importante para a interpretação deste índice assinalar o fato que as respostas M
expressam os aspectos mais desenvolvidos da personalidade, a compreensão da
motivação do indivíduo e seus modos habituais de contato com os demais. Aferem
também as concepções lógicas, auto—afirmação, auto-imagem, utilização de
valores próprios, empatia, o amadurecimento emocional nos relacionamentos
interpessoais, a capacidade de conter as reações afetivas espontâneas e também
refrear manifestações mais impulsivas. Para Piotrowsky (1965), o significado
básico das respostas de movimento humano é:
“O M representa a concepção de vida de acordo com o qual o indivíduo ajusta-se
a realidade. O M significa a maior parte dos esforços integrados que estabilizam a
relação entre o indivíduo e seu meio ambiente como mecanismo dirigido que o
leva a desempenhar certos papéis vitais nos relacionamentos interpessoais,
determinando direta ou indiretamente a conduta externa.”
As respostas cromáticas (RC) correspondem as expressões da afetividade.
Referem-se tanto às funções afetivas básicas como às de integração ao ambiente
fisico e também aos tipos de respostas afetivas no âmbito social. As categorias de
respostas cromáticas (FC, CF, C) diferem quanto ao grau com que os impulsos da
individualidade atuam no comportamento. Quanto mais fraco o elemento formal
mais forte é a expressão do afeto e vice-versa.
CONSTRUÇÃO do íNdkE:
O índice Eq é obtido pela comparação entre o número absoluto das respostas de
movimento humano ou antropóide M e a ponderal
das respostas cromáticas RC (FC, CF e C).

No cálculo numérico os determinantes em adicional no deverão ser computados.

Eq = RC

Onde : RC FC 0,5
CF = 1,0 C
(Valores ponderais)

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 105


Para Silveira (1985), “a comparação dos valores ponderais se faz em dois modos.
“ou as tendências afetivo-intelectuais, tomadas em seus conjunto são suplantadas
pelo predomínio do esforço conativo ou elas se manifestam livremente e os termos
que as compõem podem ser confrontados entre si. Se predomina o coeficiente
ponderal M, haverá tendência para a introversão; se ao contrário, predominar a
soma ponderal cromática, a extroversão constitui o traço dominante. Definido
estas duas situações subjetivas é hábito, desde Rorschach, indicar o dispositivo
do primeiro caso como tipo M, o segundo como tipo C”. (p.lOl)
Cabe ressaltar que as concepções de Hermann Rorschach sobre introversão e
extroversão diferem das de Jung. O “introversivo” de Rorschach é denominado
“tipo M” e o “extroversivo” “tipo C”. A diferença fundamental é que para Jung
introversão e extroversão são mecanismos psicológicos incompatíveis e
excludentes. Para Hermann Rorschach estes dois mecanismos são diferentes,
pontos extremos de um continuum, e não opostos. Nas várias possibilidades de
combinações dos dinamismos (equilíbrio entre M e de RC ou ausência de ambas)
ou no predomínio de uma destas forças subjetivas (M ou RC) encontramos
informações sobre os recursos utilizados na adaptação afetiva à realidade. As
diferentes relações entre os tipos de adaptação e a proporção M: RC foi
denominado por Hermann Rorschach de Erlebnistypus (tipo de experiência).
D[siqNAçÃo AdOTAdA:
A relação M: RC ou “Eq” foi chamada por Silveira de “Equilíbrio das forças
subjetivas”, pois segundo ele “não é o equilíbrio da experiência o que o índice
traduz: é a própria experiência, esta resultante do equilíbrio de forças da
personalidade (Ibid, p. 102)”. Silveira não aceita a expressão deste índice em tipos
fixos e recomenda o estudo dinâmico destes recursos da personalidade.
2. ÍNDICE Eq’: RM : RC
CONSTRUÇÃO do íNdiclE:
Segundo a concepção de Silveira, o índice Eq’ é uma variante
do índice Eq. Os mesmos valores ponderais atribuídos às respostas

106 RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO


cromáticas do Erlebnistypus foram aplicadas de forma similar às respostas de
movimento, pois as respostas M, m, e m’ surgem nos protocolos de adultos
médios em proporções comparáveis às de FC, CF e C, conforme estudo com
população normal a proporção M: m : m’ resulta em 3,4: 1,7 : 0,6 e a FC : CF: C
em 3,0 : 2,2 : 0,1.
O índice Eq’ é obtido pela comparação entre a soma ponderal das respostas de
movimento humano ou antropóide (M), movimento animal (m) e movimento
subjetivo (m’) e a ponderal das respostas cromáticas FC, CF e C.
Eq’ = RM : RC
Onde: RM M=0,5m1,Om’1,5
RC FC =0,5CF=1,0C=1,5
As respostas de movimento animal (m) são representadas como reações imaturas
e menos integradas à realidade objetiva através dos recursos lógicos, sendo mais
pertinentes às noções afetivas da criança. Por sua vez, as respostas de
movimento subjetivo (m’) traduzem tendências ainda mais profundas, impulsos
reprimidos durante o desenvolvimento psicológico e pouco integradas a
personalidade. São estes dinamismos intelectuais menos desenvolvidos (m e m’)
que também atuarão na atividade intelectual peculiar ao adulto (M).
3. CONFRONTO ENTRE OS ÍNDICES Eq e Eq’:
A comparação entre Eq e Eq’ nos informa sobre a concordância (harmonia) entre
o comportamento manifesto (nível consciente e mais atual, M) e as tendências
mais profundas, latentes, ligadas às concepções e fantasias infantis (m) e /ou às
aspirações e repressões (m’). Para Silveira (1985), “Mediante o índice Eq,
confronto entre M e )JC, podemos avaliar a estrutura de personalidade, tal como
se manfesta nas relações pessoais na época do exame ... afórmula Eq. como
variante do cotejo clássico (Eq ‘) permitirá verficar além disso, se as tendências de
ordem intelectual mais ligadas à vida emocional interferem no plano consciente,
modificando as reações em caso de tensão.” (p. 131-132)

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 107


4. DINÂMICAS DO ÍNDICE Eq:
4.1. Tendência à introversão: M> RC
Nesta situação ocorre o predomínio das respostas de movimento
sobre a ponderada das respostas cromáticas (Tipo M de Hermann
Rorschach).
Quanto maior for o número de M frente a somatória ponderada das RC, maior é a
tendência à introversão, em viver sem influência dos outros, em organizar e
desenvolver os próprios pensamentos e de agir em função das próprias idéias. A
adaptação ao ambiente se faz por meio do pensamento, precedido pela
compreensão intelectual das situações. Maior também será a seletividade às
solicitações e a percepção determinada pela escala pessoal de valores, pois, os
interesses estão mais voltados para a vida intra-psíquica do que às solicitações
externas, O contato social é restrito mas os vínculos estabelecidos são profundos
e estáveis. Em indivíduos neuróticos, quanto mais elevado o número de M e
menor for a somatória ponderada de RC, maior será a tendência a desenvolverem
sintomas do tipo ideativo (idéias obsessivas) ao invés de sintomas motores (atos
compulsivos).
Portanto, neste tipo de adaptação as concepções intelectualizadas
prevalecem sobres as reações afetivas.
Obs.: Para compreensão mais abrangente do índice é importante considerar a
qualidade formal das respostas M (positivas ou negativas), a velocidade em que
foi produzido, grau de originalidade, tipo de movimento (extensor, flexor,
bloqueados), o grau de energia segundo Piotrowiski, o tipo de II associado à
resposta M (se figura real, com características próximas ou distantes das do
examinando ou se as figuras são estereotipadas), M solitário ou relacionado, M
em pormenor primário, M em pormenor secundário, M associado em respostas
vulgares, M em respostas de conteúdo animal.
4.2. Tendência à extroversão : M < RC
Neste tipo de adaptação ocorre o predomínio .das respostas
cromáticas sobre as respostas cinestésicas (Tipo C).

108 RORSCHACH CLiNico — MANUAL BÁSICO


Traduz um tipo de adaptação na qual as expressões da afetividade prevalecem
sobre a utilização de concepções intelectuais. Portanto, quanto maior for a
dominância das RC sobres as M, maior será a tendência à extroversão e menor a
seletividade das respostas frente às estimulações. O contato social é
caracterizado pela expansividade, necessidade de aprovação ou reconhecimento
externo, sendo maior a disponibilidade para contatos amistosos ou mesmo
conflituosos. As relações interpessoais são extensas, mas os vínculos tendem a
ser superficiais e instáveis. Os indivíduos neuróticos com elevada RC e número de
M restrito, tendem a desenvolver mais os sintomas somáticos e motores do que
ideacionais.
Obs.: é necessário considerar o tipo das RC (FC:CF:C),o significado do conteúdo
das RC (+ ou -), o índice Af e Impulsividade (indicadores de mobilização afetiva
primárias e da expressão mais direta dos impulsos).
4.3. Ambigüal: M RC, equivalência numérica dos índices entre M e RC
Este tipo de adaptação não se caracteriza pelo predomínio das respostas
cromáticas sobre as de movimento ou vice-versa, mas pela ocorrência
numericamente próxima representantes dos componentes intelectuais e afetivos,
sugerindo predisposição para contatos interpessoais como também para
observações intelectuais.
4.4. Ainbigüal dilatado: M RC, sendo ambos os índices > 2 equivalência
numérica entre o M e RC, sendo ambos
os índices > 2
A ocorrência numericamente elevada de ambos os componentes (intelectuais e
afetivos) poderia ser interpretada como indicador de uma maior predisposição
para contatos com pessoas e com o ambiente circundante, bem como, para a
observação intelectual, introspecção e elaboração criativa a partir dos estímulos
apreendidos. Porém, para interpretação mais precisa é necessário análise
qualitativa das respostas cinestésicas e cromáticas. Nesta dinâmica há
mobilização dos recursos afetivo-intelectuais ao experenciar as diferentes
situações e no contato com os demais.

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 109


4.5. Tendência à coartação : M e Z RC < 1,5
Neste modo experencial, a ocorrência dos determinantes intelectuais (M) e
afetivos (RC) da personalidade é escassa, traduzindo maior dificuldade no
estabelecimento de vínculos, como também, na utilização de recursos intelectuais
(Tipo F). O contato com o ambiente é formal e superficial. Neste tipo de
adaptação prevalece controle conativo sobre as manifestações das tendências
afetivo-intelectuais.
4.6. Coartado: Ausência de M e RC
Neste modo experiencial os determinantes intelectuais (amadurecidos) e os
afetivo-emocionais não são expressos no comportamento, ou seja, verifica-se
retração destes recursos, o que poderá implicar em desinteresse no
estabelecimento de vínculos e na utilização de concepções intelectuais. O contato
com o ambiente seria extremamente empobrecido e restrito. O controle conativo
também prevalece sobre a utilização dos outros recursos subjetivos.
5. EXEMPLOS:
5.1 Protocolo 669

Portanto: Verifica-se harmonia entre o que é expresso no comportamento e as


tendências de personalidade latentes
e menos conscientes.

R=22 M=1 m1 m’=O

FC=0 CF =2 C=0

Cálculo Eq M: = 1,0

RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) = 2,0

Eg = 1 : 2,0 - Comportamento manifesto : Tendência à extroversão.

Cálculo de Eq’ : RM = 1 (0,5) + 1 (1,0) + O (1,5) 1,5

RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) 2,0

Eg’ = 1,5 2,0 - Tendência latente da personalidade: extroversão.

1 10 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO


5.2. Protocolo 22 / 98

BIBLIOGRAFIA:
COELHO, L.M.S. - Epilepsia e Personalidade: psicodiagnóstico de
Rorschach, entrevistas e anameses heredológicas em 102
examinandos. São Paulo, Atica, 1980.
COELHO, L.M.S. e SALVIA, M.C.P. - Estudo Estatístico dos Fatores
do Rorschach em População Normal — Publicação Sociedade
Rorschach de São Paulo, São Paulo, 1997.
PIOTROWSKI, Z.A. — Fere eptanalysis — Philadelphia, Exlibris, 1965.
SILVEIRA, A. - Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama -
São Paulo, Edbras, 1985.

R=22 M1 m1 m’=O

FC=0 CF =2 C=0

CálculoEq = M:1,0

RC = 0 (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) 2,0

Eg = 1 : 2,0 - Comportamento manifesto : Tendência à extroversão.

Cálculo de Eq’ RM = 1 (0,5) + 1 (1,0) + O (1,5) = 1,5

RC = O (0,5) + 2 (1,0) + O (1,5) = 2,0

Eg’ = 1,5 : 2,0 - Tendência latente da personalidade : extroversão.

que
Portanto: Verifica-se convergência ou harmonia entre o expresso no
é
comportamento e suas tendências profundas.
mais

5.3. Protocolo 14 / 98

R59 M3 m1 m’=l(l)

FC= 1 CF=1 C= O

Cálculo Eq M = 3

RC = 1(0,5) + 1(1,0) + 1 ( 1,5 ) = 1,5

Eg = 3, O : 1,5 - Comportamento manifesto Tendência à introversão


Cálculo de Eq’ : RM = 3 (0,5 ) + 1(1,0) + 1(1,5 ) = 4,0

RC = 1 (0.5)+ l(1.0)+ 1(0)= 1.5

Eg’ = 4,0 1,5 - Tendência latente da personalidade: introversão


DETERMINANTE LUMINOSIDADE
GiSELLE B. PETRi M. COSTA
OCONJUNTO de manchas originais, elaboradas por Hermann Rorschach, eram
uniformes quanto a sua tonalidade. Por esta razão, não há em sua obra nenhuma
menção à diferença de tons
como uma variável importante na construção das imagens. No entanto, o editor,
ao reproduzí-las, borrou-as, fornecendo às manchas esta nova característica: as
diferenças entre o claro e o escuro. Em virtude deste erro de impressão e das
dificuldades na época de reproduzí-las novamente, Rorschach anexou ao seu livro
dois estudos de caso (um de Oberholzer e outro de Schneider), onde aponta
respostas “determinadas não pelos valores de cor e, sim, pelos valores de
claridade e de sombra” (pág. 212 do livro Psicodiagnóstico) às quais denominou
de F (C). Rorschach inicia a discussão às cegas do caso de Oberholzer
reconhecendo a importância deste determinante: “Hoje gostaria de descrever-lhes,
com o auxílio de um caso, primeiramente a técnica de levantamento de dados,
depois o modo de interpretar e o estabelecimento do diagnóstico. Finalmente
gostaria de pô-los em contato com uma nova faceta do teste, a qual parece vir a
ser de grande importância para a psicanálise” - (pág.205 do psicodiagnóstico).
Nesta apresentação, Rorschach fez algumas afirmações a respeito deste efeito de
claro e escuro nas manchas mas, reconhece que se fazia necessário mais
pesquisas que elucidasse melhor seu alcance na interpretação da personalidade
humana.
Tendo morrido muito prematuramente, este determinante não foi suficientemente
estudado por Rorschach, gerando muitas controvérsias entre os estudiosos que se
sucederam. Muitos destes estudiosos do método de Rorschach computam, na
classificação das respostas, um único determinante tanto para as respostas que
se

112 ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO


baseiam nos diferentes tons da mancha, quanto para aquelas que projetam no
borrão uma outra dimensão espacial. No entanto, Silveira aponta, com pertinência,
as distintas atitudes mentais do examinando na construção de uma ou outra
resposta. Na classificação das respostas no exame de Rorschach, é de vital
importância observar o dinamismo psicológico presente na construção da imagem.
As respostas que se utilizam das gradações de tons traduzem as reações
particulares da esfera afetiva, enquanto que as respostas que contém perspectiva
representam um tipo de contato com o meio externo mais intelectual. Silveira, em
seu livro “Prova de Rorschach - Elaboração do Psicograma” diz: “Nosso modo de
ver é, pois, que os vários determinantes da associação devem ser distinguidos
pelo caráter intrínseco - de identificar áreas do mundo subjetivo - não pela
expressão variável, positiva ou negativa, como aquelas se exteriorizam”.
No presente capítulo, vamos especificar apenas a classificação do determinante
luminosidade que se refere aos diferentes empregos da tonalidade das manchas
ou ao emprego das cores branca, preta e cinza. As respostas que se utilizam das
gradações de tons traduzem as reações particulares da esfera afetiva que podem
se dar em graus diversos de objetividade: L, C’, 1 ou 1’.
Determinante E ou - O modo mais comum da população média usar os tons
monocromáticos e a gradação da luminosidade é dando-lhes uma forma. O uso
dos diferentes tons na configuração de uma imagem, onde a realidade externa é
considerada em primeiro plano, pode-se dar através do reconhecimento de
experiências emocionais (resultante da adaptação cultural), como é o exemplo do
C’ ou, através de uma construção intelectual individual, a partir de um estímulo
afetivo, como é o caso do L, onde o trabalho psíquico será o de deduzir o
significado oculto das situações.
A título de ilustração, temos dois exemplos retirados da obra de
Silveira (3):
Protocolo 606

Prancha

P6: “Aqui parece uma igreja, não? (1: A capelinha com


VII torres”. “Porque está caiada de duas
velho, mei o sujo”) P C’ arq novo: outro lado já
mais

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 113


Neste exemplo, torna-se claro o reconhecimento concreto e imediato presente na
construção desta resposta: a percepção da igreja em suas experiências está aqui
representada, tal como foi apreendida. Trata-se, portanto, da repetição de uma
aprendizagem sem um complexo processo de construção pessoal.
Protocolo 690
Prancha
p em P4 - Descobri outra: seria o retrato de uma mulher, nua, vista de trás’. (1:
“Aqui dentro (do P4, metade superior, isto é, P4-p24): estes tons mais clarinhos;
as costas, uma parte do
ombro; não isto (P3): uma pintura” p L pH
Neste exemplo, é evidente o processo ativo de construção. Não houve
reconhecimento passivo como a percepção da cor da igreja mas, ao contrário, um
esforço de dedução sobre os diferentes matizes presentes na mancha.
A resposta classificada como C’, portanto, representa sempre a aplicação de um
aprendizado concreto na realidade externa. Esta classe de determinantes está
representada pelo emprego das cores branca, preta ou cinza, como os exemplos a
seguir atestam:
Exemplos:

Há, portanto, latente à construção destas respostas, um reconhecimento imediato


tanto das características formais da figura como também de seu significado
emocional. Assim, na elaboração destes perceptos, o papel da forma pode ocupar
diferente importância,

N° Pranchas

P8: “Aqui vejo uma pulga: com as pernas bem articuladas e sua
1. X
cor preta “: P C’ A. A importância da cor é fundamental para o
reconhecimento da pulga

E29: “Parece aqueles anjinhos branquinhos que se coloca nas


2. X árvores de natal, tem cabecinha e mãozinhas e aquele corpinho
cheinho e branquinho, lembro aqueles enfeites de natal” E C’ art

114 RORSCACH CUNICO — MANUAL BÁsico


a ser pesquisada durante o inquérito. Ou seja, existem respostas
preferencialmente formais e acrescidas da cor (como mais um detalhe que a torna
semelhante a sua correspondente na realidade externa) e, aquelas cuja forma fica
secundária ao valor da cor como fator de reconhecimento. Veremos alguns
exemplos:
Exemplo:

Esta resposta exemplifica a importância secundária da cor preta pois, se nao


fossem os olhos pretos, a mosca ainda poderia ser
identificada. O mesmo pode ser percebido nos exemplos a seguir:
Exemplos:
N° Prancha
4. II P6” Dois frades, um de cada lado, fazem lembrar aquelas
gravuras religiosas: os frades todos com aquelas roupas
pretas “: P F (C’) H.
5. X P11” A torre Eiffel pelo formato e pela cor, O que mais me
faz pensar em Torre Eiffel é a forma com esses vários
tracinhos (aponta o contorno da figura), lembra a
construção cheia de ferro e não maçiça da Torre Eiffel. A
cor escura também ajuda a associar com construções como
esta embora, não me lembro se a Torre Eiffel é cinza ou
avermelhada”: P F+ (C’) arq
6. VII P3” Cabeça de elefante. O que mais me fez pensar em
cabeça de elefante foi a tromba (p21). Depois vi que era
cinza como um elefante e, conclui que de fato parece
mesmo com a cabeça de um elefante”: P F+ (C’) pA.
Porém, em outras ocasiões, a cor é primordial para o
reconhecimento da imagem, como mostram os exemplos abaixo:

N° Prancha

P1 (posição invertida)” Uma mosca, pelo aspecto de seu corpo bem


3. III forte, pelas patas (P5) para frente e, pelos olhos (P4) bem grandes
e pretos”: P F (C ‘) A

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 115


Exemplos:
N° Pranchas
7. 111 P4” Uma bola de boliche porque é redonda e preta “: P C’
art. Se não fosse pelo fato dela ser preta, não seria uma bola
de boliche. Neste caso, a forma tem um valor secundário ao
reconhecimento da imagem.
8 IX E23” Um pinguim, pelo formato do corpinho com as costas
pretas e a barriguinha branca “: E (p) C’ A. Igualmente neste
exemplo, o pinguim foi reconhecido principalmente por sua
característica fundamental, suas cores embora, o
examinando possa ter checado a forma de seu corpo.
9. IX pequeno espaço lateral ao p30:” Um dente, porque lembrei,
por ser comprido e branco, é um dente direitinho sem tirar,
nem por”: E C’ pH.
10. 1 E29” Um montinho de neve. Eu já peguei neve na mão e
fica assim mesmo, bem branquinho e esse jeito de
montinho”: E C’ nat.
Enfim, para a c1assificaço de F (C’) ou C’ puro, é necessário
proceder um inquérito cuidadoso onde fique clara a participaçAo das
cores preta, branca e cinza na construção da figura. Por exemplo:
Exemplos:

N° Pranchas

G” Um morcego porque é bem parecido: aquela carinha de rato,


mais ou menos nesta altura, assim enterrada no meio das asas,
li. V asas para baixo com seus radares aqui no alto e as perninhas
aqui em baixo. Também pelo fato dele ser preto porque a maioria
dos morcegos é preto”: G F (C’) A V

G “ Um morcego porque lembra bem, com essas asonas


grandes e pretas. Lembra aquele morcego preto que o
12. V batmam projeta no céu”: G C’ A. Neste segundo exemplo, é
evidente a participação fundamental da cor preta para a
associação feita pelo examinando.

116 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


Esporadicamente, ainda, as cores branca, preta e cinza são utilizadas para um
reconhecimento de um significado emocional na realidade externa de uma
maneira muito básica e primitiva mas, não deixa por isso de se reportar ao C’, uma
vez que se trata da aplicação de um processo de aculturação que se repete frente
experiências novas. Neste sentido, o que importa é a relação de reconhecimento
na construção da resposta e não a precisão da forma, como veremos nos
exemplos a seguir:
Exemplos:

Por fim, cumpre ainda lembrar que muitas pessoas usam a palavra escuro ou
claro com a intenção de mencionar as cores enquanto, outras falam de preto ou
branco para esclarecer o impacto da tonalidade das manchas em seu aparelho
perceptivo, ficando mais uma vez ao encargo do inquérito esclarecer o real uso
das tonalidades das manchas. Por exemplo:
Exemplo:

O L, ao contrário, é sempre a construção de um significado na realidade objetiva a


partir da percepção dos diferentes nuances. Esta resposta pode ser de qualquer
natureza, vaga, abstrata ou definida. Veja as respostas a seguir:

N° Prancha

P6 + p22”uma pessoa, o rosto (P6) e o corpo (p22). Esta cor


13. III branca ( p não localizado dentro de p22) é o bumbum que sempre
é branco1’: P F (C’) H.

P1” Um pedaço de carvão, sei lá acho que pela cor, olhei e logo
14. II
lembrei do carvão, assim bem pretinho”: P C’ nat.

N° Prancha

em
P1” Mulheres com roupa escura, devem
estar um
15. 111 velório. São mulheres por causa dos seios,
salto e
parecem de coque”: P F (C’) H V.
nuca,

Exemplo:

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO

117

Exemplo.

N° Prancha

1. VIII p não localizado dentro de P5”Um esquema geométrico. Tipo


aqueles esquemas de vetores. Sei lá, é meio esquisito mas, parece
as flechas em diferentes direções aqui no mais escuro”: p L ab -
apesar de ser um pouco vaga em sua forma, é uma construção
pessoal elaborada na mancha.

N° Prancha

p não localizado dentro de P5”Um anjo. Está bem definido.


2 VIII
Aqui dentro, olha as asas, a cabeça, o corpo, as pernas”: p L ‘

Exemplo:

N° Prancha

p não localizado dentro de P Uma arara de lado, com a cabeça


3. VI
pequena e um rabo bem longo”: p L A

118

Exemplo.

Prancha
4.

RORSCHACH CLÍNLCO — MANUAL BÁsico

P3” O
VI no vejo localizado dentro sol, aqui no mais claro
de
p o contorno arredondado do sol’: L nat.
p

Exemplo.
N° Prancha

dentro de E8, algumas nuances muito tênues podem ser utilizadas


5. IX na construção da resposta” Castelos de contos de fada com a
torre central mais alta e as laterais menores”: p L arq.

Exemplo:

N° Prancha

de
6. IV p não localizado dentro G Um pé de alface, pelo

das L
formato sobrepostas”: p
folhas ai

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO

Estes exemplos mostram perceptos que ocorreram inteiramente em p não


localizados, demarcados exclusivamente pela diferença de tons. No entanto,
podem ocorrer casos onde há uma apreensão de uma área configurada por seu
contorno externo, sendo complementada internamente por algum detalhe
construído pelos diversos matizes. Neste caso, a classificação será em primeiro
lugar a forma, ficando

como adicional o L.

Exemplo:

Exemplo:

119
N° Prancha

parte superior de P4” Duas pessoas namorando numa rede. Estão


7. 1 com as cabeças juntas, olhando para o céu e apontando para as
estrelas. A rede está aqui, neste mais escuro’: P F+ ( L) H.

N° Prancha

P4 em posição lateral “ Um acróbata fazendo acrobacia com os


olhos vendados. O corpo todo torto naquelas posições de
8. IV
acrobacia e dá para ver aqui no mais escuro um lenço amarrado na
altura de seus olhos”: P M (L) H

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

Muitas vezes, conforme os exemplos 7 e 8, a diferença de tons é aplicada de


maneira bem definida dentro de uma área facilmente demarcada. Porém, outras
vezes, a utilização das diferentes gradações de luz incrementa da mesma forma
determinado percepto mas, com menor precisão, como atestam os exemplo 9 e
10:

Exemplo.

Exemplo:

120

N° Prancha

A bolsa
P9” Uma mulher carregando uma bolsa. aberta pois (P4 ) está
9. III posso ver o forro por causa escura aqui”: P F (L) H V. desta
9 marca
mais
N° Prancha

metade superior de P4, na posição lateral” Um tricô na agulha:


aqui (p25) a ponta da agulha cheio de lã e aqui (borda logo abaixo
10. VI
com tons cinza claro e cinza escuro) a barra da futura blusa, dá
para enxergar que são pontos maiores”:P F (L) art

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico

É muito comum a utilização do claro e escuro para a demarcação de traços


faciais:

Exemplo:

Exemplo:

121

N° Prancha

P1 “ Um japonesinho sorrindo, ele tem uma camiseta estampada


com letras japonesas. Tem uma espada em uma mão e na outra,
uma toalha. Vejo pelo formato do rosto e do corpo até a cintura, O
11. IX queixo e o sorriso, assim como a espada são bem visíveis por
estarem em outra tonalidade. A toalha é o resto desta área, pelo
formato irregulart:
PF(L)H.

N° Prancha

12. VII P3” Um rosto maligno: tem um nariz pontudo e um topete na


frente. Ele me parece maligno pelos olhos neste mais claro e,
principalmente, pela boca cerrada com alguns dentes aparecendo
nestes pontinhos mais clarostt:
PF(L)pH.

RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO

Obs. 1: Esta área mais clara correspondendo aos olhos não é considerada L dada
a frequência com que ocorre. O L atribuído à resposta está em relação à
percepção apenas da boca e dos dentes.

Exemplo:

122

N° Prancha

com os
Cristo
P3” braços abertos,
13. VI z, vejo aqui seus olhos,
nari e e barba”: P L) 1-1.
bigod
F(

Obs. 2: Os espaços muito pequenos que complementam o percepto

são considerados também como L por corresponderem mais

a uma atitude de análise e dedução intelectual do que a uma

atitude de oposição, representada pela resposta de espaço.

Os exemplos a seguir poderão ilustrar melhor estes casos:

Exemplo:

N° Prancha
14. X p28” Uma pessoa bem magrinha. Lembra uma pessoa pelo

formato do corpo com os bracinhos para o alto...parece de

vestido e as perninhas embaixo. Estes branquinos aqui so

os olhos”: p F (L) H.

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

123

Obs. 3: Embora a maioria dos determinantes L puro acompanhe a modalidade p,


é possível encontrar respostas de L em áreas correspondentes ao P.
Ocasionalmente, a construção do percepto atinge o limite de uma área facilmente
localizada mas, é preciso notar que não foi o feitio do contorno que determinou a
resposta, como os exemplos a seguir vem

testemunhar.

N° Prancha

P4: “Uma pessoa de boca aberta. Pelo formato, parece uma


mulher. As pernas juntas, a saia, os braços para cima e a boca aqui
15 1
neste branquinho, ela parece que está de boca aberta” P F ( L ) H
V

N° Prancha

p26: “Uma bota de cano alto, dá para ver os botões


16 IX
buraquinhos”: p F (L) vst. nestes

124

RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO


L

N° Prancha

P6: “Um perfil feminino: a testa, o nariz e o queixo aqui no


17 VIII contorno. Aqui dentro, nestes mais escuros, parecem as dobras do
lenço que cobre sua a cabeça”: P L pH.

N° Prancha

P15: “ Um duende, olhando a paisagem ao longe, parece


calmo...tem as mãos no bolso, o chapéu pontudo...Vejo o contorno
18 X de sua barba, o colete mais escuro, as calças guardadas dentro
das botas. O jogo de tons dentro desta figura me permite visualizar
cada detalhe”: P L H.

N° Prancha

P4: “ Duas mulheres se beijando na boca. As cabeças delas estão


aqui (PIO), não dá para definir direito, o que me está mais claro são
19 VII
os perfis delas com as bocas encostadas”:
P L pH

ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

125

Determinante 1 - Quando as tonalidades de luz são percebidas mais em função


de sensações subjetivas táteis e menos relacionadas à percepção na realidade
externa, tabulamo-las de 1, sendo muito comuns as sensações de textura e de
relevo. Desta forma, o determinante 1 refere-se a uma experiência tátil como
demonstra o exemplo a seguir, retirado da obra de Silveira (3):
Protocolo 702

Prancha

X P13: “ < Aqui um bicho polar porque é lanudo, esse pelo


denso de animal polar “: P 1 A.

Da mesma forma que em C’ e em L, cumpre-se verificar através do inquérito, se o


examinando conseguiu circunscrever sua sensação tátil dentro de uma forma
objetiva ou se o 1 se mantém como uma sensação central no percepto. Na
primeira condição computa-se F (1) e, na segunda, a notação indicada é o 1 como
determinante principal. Alguns exemplos abaixo permitem o maior esclarecimento:

N° Prancha

P4: “Nessa bola aqui embaixo, não dá para ver direito mas parece
um bichinho, ainda filhote comendo tipo uma fruta, é toda essa
parte , vejo a parte de cima de uma fruta, sei lá... tipo maçã, o
20 IX rostinho e talvez. ..uma patinha aqui. O resto faz parte dele, fica
assim o geral dele, embora não me fica claro... Sei que é um
filhotinho comendo algo.. .É isso”:
P L A.

126 RORSCHACH CUNiCO — MANUAL BÁSICO


N° Pranchas
1. VI G: “Um tapete de pele, deve ser de felino. Parece tapete por
causa de seu pelo bastante sedoso e, me lembra felino
porque aqui parecem os bigodes (p26), a barba (P6) e as
patas da frente e traseiras (p29)”: G F (1) A V.
2. VI G: “Uma raia. Para dizer a verdade não me lembro direito
de uma raia, não sei nem se ela tem rabo ou não. O que me
fez lembrar uma raia é essa pele cinza, bem lisinha e sem
escama. Parece de borracha, dá a impressão de borracha
úmida”: P 1 A. Note que apesar da examinanda referir-se a
cor cinza, o que predomina é a sua sensação tátil,
desprovida de uma percepção formal, sendo esta resposta
classificada como 1.
3. VIII P1: “Um felino, não sei qual é. Lembra felino pelas quatro
patas, pelo rosto afinalado e também pelo corpo bem
musculoso. Acho que essas manchas aqui dentro dão a idéia
de muitos músculos que cobrem seu corpo, é um corpo bem
trabalhado”: P F (1) A.
4. IV área dentro de G: Uma radiografia de dentro da gente.
Acho que estas diferenças de tons dão a idéia de vários
tecidos que a gente tem dentro do corpo”: O 1 an.

Obs. 4: Da mesma forma que pelos, músculos e tecidos como de monstra

os exemplos acima, a idéia de cheio ou sólido

também aferem à sensação de textura. Vejam os exemplos

5, 6, 7 e 8.

N° Pranchas

5 X P11: “ Alvéolos e a artéria no meio. Lembra uma artéria

porque está no meio e é mais compridinha. Dos lados,

parecem dois alvéolos porque são redondinhos e porque

parecem cheinhos. Dá a impressão de ter ar dentro

P F (1) an.

6 II P2: “Algo inflado. Dá a impressão de ser algo que

encheram de ar e ficou assim estufado. Parece que se eu

apertar faz assim (gesto), não parece nada muito


definido...Também não seria uma bexiga, é mais a sensação

de cheio de ar mesmo”: P 1 ab.

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 127

De igual maneira, a formação de uma imagem nas manchas do Rorschach pode


vir acompanhada de uma percepção de uma área mais concentrada do que a
outra. Esta observação revela também uma elaboração ligada a um contato íntimo
com o estímulo, definindo, portanto, mais uma forma de experiência tátil, sendo
classificada como 1. Observe o exemplo 9:

Muitas vezes, a percepção de relevo se confunde com a idéia de perspectiva.


Neste sentido, é importante que o inquérito confirme se houve a experiência
subjetiva de um espaço, onde foi construída uma imagem em profundidade
(determinante de perspectiva) ou a percepção dos diferentes tons permitiu uma
associação relacionada ao relevo mas cuja imagem se mantém num mesmo plano
(determinante luminosidade). Os exemplos 10, 11, 12 e 13 permitem maior
esclarecimento:

N° Pranchas

P4: “ Um navio de petróleo daqueles que ficam em alto mar.


Pensei primeiro em navio pelo formato do casco e do mastro no
7 VI meio mas, fiquei encasquetado com esse cinza, dá a impressão
daqueles navios pesados que nem conseguem andar rápido.
Então, lembrei desses navios que ficam em alto mar “:P F (1) obj.

P6: “ Estatueta de bronze. Deve ser aquelas obras de arte


que não parecem nada porque não tem forma de nada mas,
8 VII é de bronze porque está mais escuro aqui no meio e isso faz
eu ter a impressão de um material compacto, pesado
P 1 art.
N° Prancha

E8 + P5: “Uma fonte de água. Aqui no meio, é o eixo da fonte de


onde brota a água porque aqui a tonalidade é mais escura e,
9 IX portanto, a água está mais concentrada, aqui dos lados a água está
dispersando no ar porque a tonalidade está bem leve”: E (P) F (1)
arq.

10. VI P1: “ Uma cadeia de montanhas. A forma desta figura me


fez lembrar aqueles mapas fisicos que a gente estuda na
escola em geografia. O contorno irregular e estas
diferenças de tons servem para indicar as características do
relevo desta região: os dobramentos modernos, por
exemplo, do Chile”: P F (1) mp. E diferente quando o
examinando descreve uma vista aérea onde o espaço está
presente, será uma resposta de perspectiva (ver capítulo
sobre perspectiva, observação 3).

11. III P7: “ Uma caixa toráxica. Parece uma caixa toráxica pelo
formato côncavo que os ossos fazem. Estes traços
cinzinhas assim, pelo seu aspecto leve e voltado para trás
dão uma sensação de ser côncavo o suficiente para abrigar
aqui dentro, neste espaço, outro orgão, por exemplo, o
______ ptlmão”:P(E)F(l)an.

128

PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO

N° Prancha

12. VI O na posição invertida: “Uma ferramenta pendurada na parede.


Esta forma, lembra bem uma ferramenta e o resto do cartão, aqui
dos lados (referindo-se ao espaço), pode ser a parede. Essa
diferença de tons aqui, em todo o contorno da figura, dá também a
impressão da ferramenta sobressair em relação à parede, tipo
holografia”: GE F (1) obj. Embora o examinando descreva a parede
atrás da ferramenta, sugerindo uma visão em perspectiva, não
houve o uso do espaço mas, apenas, uma percepção de relevo ao
referir-se ao corpo da ferramenta.

RORSCHACH CLiNico — MANUAL BÁSICO

129

Neste exemplo, a diferença de tons não é usada como uma sensação tátil mas,
dentro de uma construção intelectual e, portanto, não se trata do determinante 1 e
sim do L. De qualquer maneira, o exemplo tem como objetivo apontar para a
necessidade de muita cautela ao analisar as respostas onde o uso da diferença de
tons pode ser confundido com a percepção de perspectiva. A idéia de tridimensão
(classificação do determinante perspectiva) deve obrigatoriamente ocupar-se do
espaço fisico, enquanto que a diferença de tons pode criar uma idéia de relevo ou
de planos sobrepostos, sem o uso do espaço (ver capítulo sobre perspectiva).
Enfim, o importante para a classificação do 1 é a experimentação
tátil de uma imagem concebida no ambiente externo. Veja, a partir
dos exemplos 14 e 15, o caráter tátil que permeia a formação da

imagem e que, portanto, reflete a natureza do contato com


determinados aspectos da realidade externa:

N° Prancha

P4: “ Um ser com as pernas abertas e o corpo debruçado para


13. VIII
frente. Os pés aqui ( p 22), os ombros aqui no contorno superior.
Na frente do corpo, vejo o topo da sua cabeça, projetada para
frente. A cabeça dá para ver por este tom mais claro “: P F (L) H.

N° Prancha

P2: “ Chapéu de espuma. Parece chapéu pelo formato comprido e


arredondado na ponta. A diferença de tons dá a impressão dele
14. II ser de espuma...olhando dentro dele até parece meio poroso como
uma espuma de verdade”:
P F (1) vst.

P4: “Protetor de orelha. Pelo formato um pouco ovalado, é bem


parecido com aqueles protetores de orelha que se vende em
15. III países frios. Ele é bem quentinho, parece que é de lã. Estes mais
clarinhos aqui dentro me lembram aqueles pelinhos que ficam um
pouco em pé nos tecidos de lã pura P F (1) vst.

130 RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO


Determinante 1’ - O determinante 1’ é aferido sempre que a associação do
examinando referir-se a uma sensação interna, predominantemente tátil mas
extremamente subjetiva e independente dos parâmetros estruturais da mancha.
Neste sentido, a ausência completa de estrutura à sensação descrita pelo
examinando é um dado diferencial na classificação do 1’, como veremos no
exemplo de Silveira
(3):
Protocolo 720
Prancha
VII G: Dá a impressão de algodão...podia ser lã...mas dá a
sensação de muito macia, talvez lã, sei lá...
(1: “O conjunto. São flocos, fofos, macios...’): G 1’ vst.
A idéia de “macio” pode ser percebida pelo examinando de diferentes formas, por
exemplo, o examinando pode referir-se à textura de macio dentro de uma resposta
mais vinculada à estrutura da mancha (determinante 1) ou, simplesmente associar
a uma sensação basicamente interna ( determinante 1’). Vejamos os exemplos:

Assim como nos casos anteriores, o determinante 1’ pode ocupar o lugar principal
na classificação - ao participar de maneira predominante na construção do
percepto (1’ ) - ou, vir em adicional a uma percepção formal (F(l’)) ou a qualquer
outro determinante mais preponderante na resposta (Det.(l’)), como os exemplos a
seguir podem ilustrar:

N° Pranchas

P1: “Dá a impressão exata de paina, sabe tipo aqueles algodões


que nascem em paineiras? E mais pelo jeitão e, aqui dentro,
1. VI nestas manchinhas, por estes pinguinhos mais escuros, lembra
bem aquelas tramas entre os fios que deixa a paina macia e
sedosa”: P 1 nat.

P1: “Me parece um casaco quente. É a forma de casaco, aqui as


mangas e dá a impressão de ser aberto no meio, por causa da
2. VI simetria. (7) Não sei porque ele me parece quente.. .parece
aconchegante, macio.. .talvez esse tom, lembra algo quente”: P F
(1’) vst.

VII

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO

ES: “Um diamante. Parece aquelas pedras preciosas bem lapidadas:


primeiro pelo formato assim triangular e depois porque este brilho é inconfundível “
: E F (1’) obj. A pedra preciosa foi percebida por seu aspecto formal e acrescida
por uma sensação que independe das características estruturais da mancha,
relacionando-se a uma sensação inteiramente subjetiva de brilho.
O: ‘Eu não vi nada além de uma coisa feia, talvez um bicho.. .É uma coisa preta,
cinza escuro. ..uns contomos que saem .umas coisinhas para fora.. algo muito
nojento “: O 1’ A

P13: “Parece um caracol. Lembra um caracol pelo volume do corpo assim gordo
com a cabecinha para fora. Também... o aspecto dessa cor.. .dá a impressão de
um corpo mole, meio gosmento : P F(l’) A.

o - “Algo molhado... caiu e molhou. Olha até respingou aqui (p23). Parece
molhado, não sei te explicar porque. Dá vontade até de passar a mão assim. ..Ai,
que esquisitol “ : O 1’ ab.

P3: ‘ Uma chama. Chama de um fogo qualquer: pode ser de fósforo, fogueira... sei
lá. ..É mais a forma comprida com esse jogo de vários tons aqui dentro. Existe
sempre um jogo de tonalidades dentro do fogo”:
P F(l’) fg.

P4: “Um rosto com expressão de tristeza. É um rosto amorfo, não vejo traços. A
sombra, esta coloração dá uma idéia de tristeza” P 1’ ab.

O: “Um palhaço de festa de criança. Parece um palhaço principalmente pelo


sapato com este bico comprido e também pelo rosto (P3) e pelos braços (P4). Eu
associei a festa de criança, além lógico pela própria figura do palhaço, por causa
da sua roupa com estas tonalidades diferentes. É uma roupa com muitos tecidos
diferentes o que dá esta tonalidade diferente, um certo brilho, ficou legal! Não dá
para ver os tecidos mas seu efeito” O F (1’) H V.

10. IV O: “Uma alga do mar. Pensei em alga do mar porque o que chama a
atenção nelas é a sua tonalidade. Quase não dá para ver seu corpo e a
sua forma porque 90% de seu corpo é água. O que faz sua presença é
simplesmente a sua tonalidade, meio transparente” O 1’ A

11. IV O (na posição invertida): “Um pulmão doente. O formato lembra


pulmão: arredondado nas pontas e simétrico dos lados.. .acho até que
aqui no meio é a coluna do coitado Parece doente pela cor assim
desbotada, parece que o pulmão está desmilinguindo.. .se
desfazendo.. ele está em fase terminal’ O F (1’) an.

12. VIU O: ‘Fluidos de um corpo. Pelo aspecto destas figuras.. .parecem viscosas
e tendem a se aglutinar pela aparência pegajosa mesmo delas, só’ O 1’

an.

13. VI O: ‘Sabe o que me parece? Quando a gente sai no meio do mato em


noite de lua cheia. Não vejo nada especificamente, apenas a claridade d’o
luar na noite’: O 1’ ab

O determinante 1’, muitas vezes, é computado para registrar alguma sensação


interna bastante intensa que o examinando não é
capaz de identificar como efeito dos diferentes matizes da mancha.

3.

Prancha
II

131

4.

IV

5.

6.

7.

IX

8.

9.

IV
132 ROPSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO
N° Prancha
14 X P8: “ Ácaros. Lembram ácaros porque so esquisitinhos:
tem corpinho arredondado e antenas. Também porque eles
me parecem asquerozos, nojentos, horriveis...ô coisinha
feia’: P F( 1’) A.
15 V G: Uma borboleta estranha, daquelas que traz azar.
Borboleta pelo formato e traz azar porque é muito feia,
desajeitada...desprovida de beleza...talvez porque seja
assim sem cor”: G F (1’) A V.
16 II P1: “Uma carne prensada (P1 + P2). Porque é assim (gesto
de amassado), algo que já morreu. Aqui (P2) ainda vai
morrer...porque ainda no está com este aspecto de
prensado” P 1’ an.
Enfim, cumpre assinalar que os diferentes determinantes de luminosidade não
podem ocupar uma mesma classificação. Ou seja, não é possível termos, por
exemplo, o C’ como determinante principal e o L como adicional - C’ (L) ou, ainda
o L com o 1’ em adicional - L(l’) - Nestes casos devemos avaliar com cuidado a
elaboração da resposta a fim de decidir a melhor opção: desmembrar a resposta
ou classificar apenas o determinante que alude a um maior desenvolvimento na
elaboração da imagem.

Houve nesta resposta apenas uma classificação uma vez que o examinando
suplanta a inicial percepção do 1 a partir de sua evolução
para a percepção do C’.
Os determinantes L e C’ indicam uma maneira mais amadurecida de reagir
emocionalmente em função da maior participação do estímulo objetivo na
utilização dos tons. Em contrapartida, os determinantes 1 e 1’ correspondem à
reações emocionais mais imaturas.

N° Prancha
P6: ‘ Aqui no meio parece um fumegueiro, uma fumaça bastante
encorpada. . .Na realidade, vendo melhor, parece uma ilha, ao
longe, pegando fogo. Fica aquela imagem preta no fundo, como
17 VII
nos filmes de guerra. Isso é um incêndio nas casas simples de
pescadores, como acontece nos filmes de guerra, quando a
paisagem fica toda escura e queimada”: P Ps (C’) pz.

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁsico 133


Desta forma, quando temos a partipação de dois determinantes, um mais primitivo
e outro mais amadurecido, numa mesma elaboração, como no exemplo 17,
consideramos apenas aquele mais amadurecido, concluindo uma integração do
primeiro ao segundo. Ou seja, nesta resposta acima, o examinando descreve para
o examinador cada fase da construção de sua imagem mental, de modo que
podemos perceber claramente a passagem do 1, quando o examinador relata a
percepção de algo encorpado (pois está referindo-se a uma percepção tátil
baseada nas características da mancha), para o C’, quando o examinador faz
sobressair a cor preta, presente nas queimadas vistas em filmes de guerra
(referindo-se a um padrão emocional aprendido culturalmente).
Existem, no entanto, respostas que seguem outra dinâmica onde, por exemplo,
vários determinantes de luminosidade podem estar compondo um mesmo
percepto, mantendo uma participação distinta e não compensada como o exemplo
n°17 demonstra. Nestes casos devemos desmembrar a resposta a fim de
preservar o mecanismo presente no trabalho mental do examinando. Veja o
exemplo a seguir:
N° Prancha
18. IX P3 + E8: “Dois magos (P3) em volta de uma lâmpada mágica
(E8) assistindo ao futuro deles. Eles estão muito
compenetrados. Penso em dois magos por causa dos chapéus
pontudos e pelas mãos muito compridas segurando a lâmpada
mágica. Dá até para ver a marca do braço junto ao corpo (L).
Eles parecem compenetrados por causa da grossa sombrancelha
franzida sobre os olhos (L), estão com os olhos fixos dentro da
lâmpada. Disse lâmpada primeiro pelo formato e, depois por
causa do brilho que emite dela (1’). É um brilho misterioso
que oculta muitos detalhes da vida dos magos”:
P F (L) 1-1 V (para os magos) e E F (1’) obj (para lâmpada).
Nesta resposta, os determinantes de luminosidade ocupam lugares diferentes
embora participem de uma mesma elaboração. Por esta razão, utilizamos o
artificio do desmembramento de resposta a fim de explicitar os diferentes
dinamismos psicológicos presentes neste percepto.

134 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


Nota: Os exemplos citados neste capítulo foram adaptados para terem como
determinante adjunto apenas a forma (F) com o fim de facilitar nossa exposição.
Foi feita apenas uma excessão no exemplo 17 onde achamos didática a
incorporação do ps pelo Ps e do 1 pelo C’. Também ocultamos a qualidade formal
das respostas de forma para termos a atenção centrada somente no
esclarecimento da classificação do determinante luminosidade.
BIBLIOGRAFIA
COELHO, L. M. 5. - Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo,
Ed. Atica, 1975.
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre
Jou, 1978.
SILVEIRA, A - Prova de Rorschach: elaboração dopsicograma - ia
ed. São Paulo, Ed. Brasileira Ltda, 1985.
CONTEÚDO DAS RESPOSTAS
GISEflE B. PETÍRi M. CosiA
OEXAME de Rorschach é antes de tudo um método de investigação da
personalidade uma vez que retrata, através da percepção, o funcionamento dos
processos mentais de modo amplo e
profundo. Coelho, em Fundamentos Epistemológicos de uma Psicologia Positiva
(pág. 169), sublinha que “a percepção representa a abertura do homem para o
mundo”, lembrando exatamente que não se trata apenas do início de um processo
de observação e captação das informações externas mas, de um trabalho
psíquico dinâmico que envolve toda a personalidade. A percepção requisita desde
o funcionamento cerebral até processos mentais inconscientes, além de modelar
suas relações com o ambiente físico e social. H. Rorschach em sua obra (pág. 17)
assinala: “Na medida em que a percepção possa ser considerada como uma
integração associativa de engramas com complexos recentes de sensações, a
interpretação das manchas pode ser considerada como uma percepção na qual o
esforço de integração do complexo sensorial com o engrama é tão grande que se
efetua conscientemente como um esforço integrativo”.
Principalmente Piotrowski e Silveira desenvolveram uma análise deste método de
exame psíquico pautada na compreensão sistemática dos processos mentais que
participam da construção da imagem através da percepção. Portanto, a
classificação, segundo o modelo de Silveira, deve registrar a dinâmica particular
do psiquismo em cada percepto de modo que a construção do psicograma venha
revelar uma estrutura sistematizada e integral da personalidade. Nestes termos, o
conteúdo da resposta fornecida às manchas representa uma fase final do
processo de percepção quando o sujeito categoriza sua imagem mental dentro de
uma cadeia de significados adotada pela coletividade. Ou sej a, o conteúdo é uma
codificação de uma experiência única e particular

li

136 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO


para um sistema verbal passível de comunicação interpessoal. Enquanto a
modalidade corresponde à captação seletiva dos estímulos no ambiente e os
determinantes representam as elaborações psíquicas, os conteúdos apontam
para a utilização da linguagem na comunicação. Consequentemente, o conteúdo,
dentro de uma classificação das respostas às manchas, é a categoria mais sujeita
ao controle consciente.
Por esta razão, na classificação de uma resposta no exame de Rorschach, o
conteúdo corresponde à expressão verbal daquilo que o sujeito vê nas manchas.
Ou seja, na classificação da resposta, o conteúdo assinalado é estritamente
aquele comunicado verbalmente. Para tanto, servimo-nos de uma tabela de
conteúdos onde encontram- se listadas as diversas categorias dentro das quais as
respostas às manchas se agrupam.
TABELA 1 — Lista das categorias utilizadas na classificação das respostas de
Conteúdo

Abrev. Conteúdo Exemplos

A Figura Animal Cavalo, elefante, pulga, crustáceo

Parte de fig.
pA Crina, rabo, pata
animal

H Figura Humana Pessoa, mulher, Jesus Cristo, saci

Parte da fig.
pH Olho, cabelo, braço, cabeça
Humana

ab Abstração Emoções, números, letras, figuras geométricas

ai Alimento Frutas, carnes, pratos preparados, legumes

Ossos, músculos, órgãos internos, produtos produzidos


an Anatomia
pelo corpo como urina, fezes, saliva...

ant Antiguidade Seres ou objetos pré-históricos

Construções, casas, pontes, ninhos, formigueiros,


arq Arquitetura
viadutos
art Arte Pinturas ou esculturas, instumentos musicais ou notas

bt Botânica Árvores, plantas, folhas, madeira, pau

Lâmina de microscópio, átomos, bactérias,


ci Ciência
informações que exigem conhecimento científico

fg Fogo Fogo, fumo, fumaça, explosão

Acidente
ggr Ilha, rio,montanha
geográfico

mp Mapa Mapa do Brasil, da Europa

Referência
ml Espada, faca, revólver, foguete
militar

nat Natureza Agua, areia, pedra, sol

nv Nuvem Nuvem, bruma, neblina

obj Objeto Mesa, porta, vaso

Sempre que a resposta envolva a construção de uma


pz Paisagem
cena

ri Religião Crucifixo, hóstia, terço

sg Sangue Sangue

Orgãos genitais externos e internos desde que


sx Sexo
associados à reprodução

vst Vestimenta Saia, avental, chapéu, bota

RORSCHACH CLíNCO — MANUAL BÁsico 137


Apesar de contarmos com uma tabela como referencial, é importante, na
classificação dos conteúdos, analisar o percepto dentro de seu contexto.
Consequentemente, algumas dúvidas podem surgir pois, muitas vezes, o percepto
pode ser entendido dentro de duas ou mais categorias, O inquérito, nestes
momentos, deve pesquisar qual o sentido mais importante naquela associação
para uma classificação adequada do conteúdo. Procuramos abaixo selecionar
alguns grupos de categorias que podem trazer dúvidas, ilustrando, através dos
exemplos, o conceito mais exato destes conteúdos. Lembramos, contudo, que
sempre que as respostas às manchas trouxerem dúvidas quanto à classificação
apropriada, o inquérito é o único e o melhor instrumento de que dispomos:
— Conteúdos A e ai (exemplos 1 a 3)
— Conteúdos A e an ou H e an (exemplos 4 a 11)
— Conteúdos A e pA ou H e pH (exemplos 12 a 18)
— Conteúdos A e ci (exemplos 19 e 20)
— Conteúdos A e H (exemplos 21 a 36)
— Conteúdos an e sx/ sx e pH (exemplos 37 a 44)
— Conteúdos an e sg (exemplos 45 a 47)
— Conteúdos an e ci (exemplos 48 a 51)
— Conteúdos pz/nat/ggr (exemplos 52 a 60)
— Conteúdos obj/ ml! art (exemplos 61 a 74)
— Conteúdos ggr e arq (exemplos 75 a 77)
— Conteúdos rl e ab (exemplos 78 a 83)
— Conteúdos ant e art (exemplos 84 a 87)
— Conteúdos vst e art (exemplos 88 a 90)
Conteúdos A e ai

N° Pranchas

P2 — “Um peixe amarelinho, igual aqueles de aquário, com


1. X o rabo bipartido assim...e as branquias aqui dos lados...”: P
FC A

P1 —“ Sardinha...é bem aquelas sardinhas que se vende em


2. VI
mercado, pelo formato assim aberto...”: P F+ ai V

3. IX P3 — “Um camarão...dessa cor mesmo, quando frito, fica assim


dessa cor dourada...”: P FC ai

RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO

Conteúdos A e an/ II e an

— Neste exemplo, o aspecto anatômico na percepção de “burro” está muito mais


presente do que a percepção de animal.

— Quando, no entanto, a percepção de animal imperar, mesmo que de modo


desvitalizado, o conteúdo deverá permanecer como A
(Animal) — veja os exemplos 6 e 7.

N° Prancha

De maneira semelhante deve-se dar o raciocínio quando o impasse na


classificação incluir pA ou an e H/pH ou an. Exemplos:

N° Prancha

138

N° Pranchas

P2 — prancha na posição lateral - Um burrinho, pelas


orelhas grandes, pelo porte, parece de quatro patas e o
4. 1
formato do corpo...”:
P F+ A

P2 — prancha na posição lateral — “Parece uma vez que eu


5. 1
estava passeando no campo e vi um burro jogado no mato

morto...ele estava assim...sem os olhos, buracos no lugar, os


urubus deviam ter comido (refere-se às diferenças de tons na
.
altura dos olhos) e sangue pisado pelo corpo todo nestes tons
mais claros e mais escuros aqui dentro...”: P F+ (1) an
6. VI P3 — “...Uma borboleta...acho que ela está morta porque

está sem cor, sem vida...Tem o corpinho aqui no meio, as

asas laterais...está intacta mas...parece morta, sem vida...”:

P F+ (1’) A

P4 — posição invertida — “...Parece um cachorro de pelúcia apoiado nas


patas traseiras, é daqueles que dá corda e ele pula para trás, pelo formato
7. VI
principalmente e pela diferença de tons que faz lembrar os pelinhos...”: P
F+ (1) A

8. 1 P4 — “...Uma pessoa com as mãos (P 1) para cima...”:

P F+ H V

desenterrado,
P4 — “. ..Um cadáver que acabou de ser desfeito, só dá
está
9. 1 para ver as mãos aqui em está em estado de
cima (P 1). Ele
putrefação...”: P F+ an

ROSCHACH CLíNico MANUAL BÁSICO 139


Obs. 1: Ainda neste ítem, cabe discutirmos o conteúdo feto. A resposta de feto
deve ser classificada como an e não como H uma vez que ainda não apresenta as
característica humanas do interelacionamento que, de maneira breve,
corresponde à interpretação das respostas humanas, a ser, em outro momento
exaustivamente discutido.

— Nesta resposta, embora o conceito principal seja tapete, sendo portanto, de


utilidade doméstica (obj), o conceito de animal encontra- se intrínseco, devendo-se
manter, portanto, o conteúdo animal (A). O mesmo não se nota no exemplo 13
que, por perder as características animais, o conteúdo permanece como objeto (
obj):
N° Prancha

10. IX P4 + PIO — Uma criançinha sentadinha com a lingua de


fora...”:
P F+ H V

li. IX P4 + PIO — “...Parece direitinho um feto, cabeça grande,


chupando o dedo, corpinho ainda miúdo e pouco definido...”: P F+ an V

Conteúdos A e pAI H e Ph

N° Prancha

12 VI G — “...Um tapete de pele...Parece tapete daqueles sítios de


antigamente. ..dá para ver que é bem rústico. ..aqui seriam as
patas e aqui a cabeça...”: O F+ A V

N° Prancha

P1 — “...Um tapete...pelo formato, sabe aqueles


antiderrapantes para chuveiro? E sempre assim com esse
13. VI formato irregular, alguns até imitam pezinhos, outros sao
como estes, apenas irregular...”:
P F+ obj

PIO — “...É direitinho uma cabeça de jacaré, pelo formato...”:


14. V
P F+ pA

140 RORSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO

Nesta resposta, embora só uma parte do animal esteja sendo circunscrita na


prancha, o sujeito o está concebendo de maneira integral,
devendo ser, portanto, classificada com o conteúdo A (animal).
N° Pranchas
16. VII P1 “...Parece o rosto de um índio porque dá para ver o
perfil, a testa, o nariz e a boca com uma pena na cabeça...”:
P F+ pH V
17. Vil P9 — “...Uma mulher dançando: a cabeça (P1) com um
grande coque, a mão virada aqui (p21), a cintura (entre P2 e
PiO) e o resto do corpo dançando...”: P M+ H V
18. VIII Parte central de P4 — “...Uma dançarina se preparando para
entrar em cena atrás de uma porta tipo de bar, sabe aquelas
que não vão até o final e abre no meio? Vejo o arranjo em
seu cabelo aqui (p24) parece aqueles enfeites que espanhola
usa no cabelo, seus pés estão aqui embaixo (p não
localizado no final de P4) e aqui (lateral superior de P4)
seus braços se arrumando. Aqui ( p30 é o lugar onde a
porta vai se abrir...é só começar a música!...”: P M+ (Ps) H
— De maneira semelhante ao exemplo 15, a dançarina, no contexto da resposta,
está sendo concebida de maneira integral, não
sendo coerente notarmos pH.
Conteúdos A e ci

N° Prancha

P4 + P6 — ‘.Parece um veado escondido dentro de umas


folhagens ou talvez de uma moita. ..Imagino que ele está dentro
porque vejo a cabeça com seus chifres aqui (P6), algo encorpado
no meio que deve ser alguma planta e suas pernas aqui (Pio). Só
15. V
falei folhagens ou moita porque não sei dizer que forma é essa...o
corpo de veado não é assim.. .como imagino os veadinhos soltos
na mata, penso que aqui está desta forma por causa das plantas,
deve ter entrado dentro de alguma moita...”: P F+ A
N° Prancha

P8 — “...Uma pulga por ser preta e ter estas patinhas fininhas em


19. X
um corpinho miúdo...”: P C’ A

P15 “...Lembra bem uma ameba... é disforme, unicelular e


20. X eucariota. ..além de gelatinosa, lembra esta textura...”:
P F+ (1’) ci

Conteúdos A e H

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico

Respostas como monstros, vultos, seres ou sincréticas (por

exemplo, mistura de animal com humano) requerem um inquérito minucioso para


que seja possível identificar as características, animais ou humanas, que mais
fundamentam a resposta. Vejam os exemplos a

seguir:

— Neste exemplo, o conteúdo mais apropriado é o humano (H) uma vez que a
idéia de ameaça, da maneira descrita pelo examinando,
está mais presente na relação interpessoal.

- Apesar do sincretismo presente na resposta, houve uma identificação com o


percepto quanto à qualidade humana, prevalecendo
o conteúdo H.

N° Prancha

G — “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Ele é


21. IV grande, muito peludo e pesadão. Tem um rabo bem grande
e aquelas peles grossas e ásperas...”: G F+ (1) A V

G — “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Um pé


22. IV
grandão e os braços abertos vindo para cima de mim. Tem um
rabo enorme, é um tipo de mutação genética e acho que não deu
certo...EIe ficou muito agressivo...”: G F+ H V

P2 — “...Um vulto...não sei...É quando a gente está em um lugar e


vê uma sombra se aproximando e foge antes de ver vulto de
23. 1 quê...(?) Não sei te dar nenhuma descrição, é uma sombra bem
vaga...a cor e algum formato de ser...Humano ou animal, não
sei...”: P C’ H

N° Prancha

G — “...Um ser, meio homem, meio animal: Tem o corpo de


homem (P7), a asas (P4), orelhas de coelho (P8) e pernas de
24. V
antílope (P9). Tipo uma caricatura da decadência da
humanidade...”: G F+ H

142 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico

Nesta resposta, ao contrário da anterior, não houve um identificação com o lado


humano do monstro mas uma percepção ligada ao aspecto animalesco deste ser,
ligando-o a um “monstro medieval”, sendo mais acertada a classificação A.
Os conteúdos A e H ainda merecem alguns comentários por serem os mais
frequentes na população média e apresentarem maior importância para a
interpretação da personalidade. Por estas razões, também é o conteúdo mais
valorizado em uma classificação, sendo, sempre que possível, enfatizado na
notação da resposta. Vejam os exemplos:
N° Prancha
26. X metade de P6 — “... Um cachimbo em madeira esculpida. Tem a
forma de cachimbo com aquela parte mais gordinha na ponta e
aquela mais comprida que vai à boca na extremidade. No cachimbo
esculpiram o corpo de unia mulher. As pernas na parte coniprida
e a partir dos braços fica mais largo e côncavo de modo a se colocar
o fumo dentro, ficou bonito.., O cachimbo é a mulher inteira...”:
PF + H
27. VIII P1 —“... Parece aqueles brinquedinhos de plástico que vem dentro
de ovos de páscoa, é comum vir estes bichinhos, por causa da
forma e da cor : P FC A V
28. III P1 — “...É o simbolo da união, uni desenho de um homem e uma
mulher de mãos dadas : P F + H V
29. Vil P3 — “... Unia nuvem com formato de cabra porque o jeito lembrava
nuvem, mas depois vi que o fomiato é de cabeça de cabra...”: PF - pA
- A classificação inicial seria” P ps nv ‘ mas durante o processo associativo , a
imagem de nuvem foi transformada em uma imagem animal. Nestes casos o que
prevalece é a imagem final e, portanto, parte animal (pA).

N° Prancha

G — “...Bicho com um pé desproporcional, com o corpo em tripé. A


cabeça é de naja (P3), o corpo (G) é de geléia, bem desfigurado e
parece embolorado, meio pegajoso, os braços (P4) são cobras e
25. IV
os pés (P6) são humanos. Não sei explicar que ser é esse, um
bicho tripé, um monstro medieval...”:
G F+ (1’) A V

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 43

Enfim, as figuras humanas ou animais podem ser percebidas de forma real ou


distorcida, podem ser fantásticas, idealizadas ou desfiguradas, podem ser
desvitalizadas ou dinâmicas tendo sempre preservado seu conteúdo H ou A.
Vejam alguns exemplos:
N° Pranchas
31 III P1 — “...Duas mulheres cozinhando em um tacho...”:
P M+ H V (H realista)
32 III P3 — “...Uma borboleta voando...”: P m+ A V (A realista)
33 1 G — “...Tipo de um anjo com asas e mãos erguidas.. também
pode ser uma fada fazendo magia com as mãos...”: G M+ H
V (H fantástico)
34 X PIO — posição invertida — “...Um cavalo voador, vejo a
frente do cavalo aqui (P5) correndo em minha direção...só
que ele tem asas (P4) e, portanto, está voando em minha
direção...”: P m- A (A fantástico)
35 1 P4 — “...Uma boneca, pelo contorno do corpo, com aquelas
saias bem redondas e os braços esticados assim para frente,
parece aquelas bonecas que eu tinha quando criança...”: P
F+ H V (H desvitalizado)
36 X P1 — “...Parece o signo de câncer porque o símbolo dele é
um caranguejo...Olhando ele assim...parece feito de estrelas
no céu, distante...formando várias patinhas, é um
caranguejo feito de estrelas...gosto muito de horóscopo...”:
P ps A
Conteúdos an e sxl sx e p11
Para o conteúdo anatomia ( an), notamos os órgãos internos do
corpo, os produtos do corpo (tais como urina, fezes, saliva etc) e
perceptos que incluem a percepção de doença ou ferimento.
Para o conteúdo parte humana (pH), consideramos partes
externas do corpo humano.

N° Prancha

P14 — “...Aqueles troféus que é uma estátua de figura


humana...E bem comprido e tem uma forma definida de
30. X
corpo humano, parece os troféus do óscar, não perco um...”:
P F+ H
144 ROPSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO
Para o conteúdo sexo ( sx), referimos aos órgãos sexuais ou qualquer percepção
que envolva a idéia de procriação ou interesse sexual. Assim sendo, os órgãos
internos ligados a um destes interesses deve ter seu conteúdo mais ligado a sx do
que a an, assim como os órgãos ligados à sexualidade tem seus conteúdos
ligados a sx e não a pH.
N° Pranchas
37. X P11 — “...Um pênis ereto (P14) e os testículos (P8) dos
lados, pelo formato...”: P F- sx
38. IX P3 — “...Olhando assim, lembra bem os pulmões, pelo
formato e um de cada lado...”: P F- an
39. IV G — “...Um útero (G) com as trompas aqui (P6)...Lembra
bem a parte interna da mulher...”: G F- sx
40. IV p30 — “...Aqui parece o ánus, só pela aparência...”: p F+ sx
41. VIII P2 — “...Parece o tórax de uma mulher, os peitos aqui (P6),
bem opulentos...”: P F- sx
42. VI P1 — “...0 peito de uma pessoa muito magra, aqui (eixo
central) o osso esterno e aqui (refere-se às diferenças de
tons) as peles sobrando, por isso eu disse que é uma pessoa
muito magra...”:
P F- (1) pH
43. X P3 — “...Parece a campainha na garganta e as amígdalas dos
lados...E igualzinho quando a gente abre a boca e enxerga
lá no fundo...Aqui também parece fundo, não sei porque...Acho que é porque é
pequenininho...Parece amígdala e a campainha por causa do formato e da cor
também...”: P FC pH
44. X P3 — “...Me faz lembrar quando minha filha tirou as
amígdalas.. .0 médico pôs um negócio parecido com esse
num vidrinho e mostrou para a gente...Não lembro do
formato direito, lembro que era vermelho e me deu calafrios
na espinha...”: P CF (1’) an
Conteúdos an e sg
Embora o sangue seja um produto interno corporal, seu significado raras vezes
aponta para uma preocupação ou interesse proprioceptivo, estando mais ligado
aos impulsos mais básicos da personalidade. Nestes termos é importante,
discriminarmos o contexto onde o conteúdo sangue aparece. Os exemplos a
seguir ilustrarão esta diferença:

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 145


N° Pranchas
45. 11 P2 — “...Parece uma mancha de sangue, parece que caiu no
chão e ficou esta marca espirrada...”: P CF sg
46. X P9 - “...Sangue coagulado, parece alguma doença grave,
tipo o Ebola que estoura tudo por dentro, deve ficar assim
esse sangue coagulado, por ser vermelho e ter umas áreas
mais escuras mostrando onde está coagulado...”: P CF(l) an
47. II P1 + P2 - Uma pessoa caída ao chão, deve estar ferido,
deve ter sido um acidente de moto (?) pela posição dele no
chão com o corpo largado e os braços esticados (P4) Aqui
(P2) é o sangue saindo da cabeça dele por ser vermelho e
quando eu olho tenho até a sensação da poça estar
crescendo, aumentando de volume...”: P F+ H
P CF ( m’) sg

Obs. 2: Independentemente de anatomia, a resposta ciência é assinalada sempre


que, para sua elaboração, o sujeito se valer de um
conhecimento específico. Veja o exemplo a seguir:
N° Pranchas

Conteúdo an
ci
e

N° Pranchas
P3 — “...É certinho uma coluna vertebral com as costelas aqui
48. VIII
dos lados...”: P F+ an V

metade superior de P5 P6 — “...Um mesencéfalo. (?) Porque tem


quatro colículos aqui. Se você fizer um corte na altura da
emergência do nervo óculo-motor e olhar o mesencéfalo no
49. V sentido rostral-caudal, a gente vê assim. ..os quatro colículos. O
local exato do mesencéfalo é mais ou menos aqui, é impreciso.
Mas a semelhança com esta figura é incrível, o formato, a
disposição e a distância entre eles...”: P Fo ci

50. VII P4 — “...Uma roda hidráulica. As turbinas são movidas a

água ou a vapor e estão conectadas a um gerador para

produzir a energia elétrica. Nesta composição de máquinas

tem uma roda hidráulica parecida com esta...”: P F- ci

P14 — “...Um tubo de ensaio, pelo formato comprido e pela


51. X largura, é direitinho...”:
P F+ ci

146 ROSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico


Conteúdo pzlnatlggr
Consideramos o conteúdo paisagem (pz) sempre que houver
uma construção de uma cena. Esta cena pode incluir aspectos da
natureza ou não. Veja os exemplos:
N° Prancha

— Nesta resposta a fumaça (ps) está integrada na construção de uma perspectiva


maior e com forma definida (Ps), não sendo necessário
computá-la.
O conteúdo natureza implica a percepção de fenômenos ou propriedades comuns
ao habitat natural como areia, terra, água, enchente, eclipse e assim por diante.
Destes, isolamos como uma categoria à parte os conteúdos bt, fg, nv em função
da peculiaridade dos interesses a eles correspondentes.
N° Pranchas
53. VII G — “...Parecem pedras, umas sobre outras. Pelo formato
principalmente do modo como estão sobrepostas...”: G F+
nat
54. VI G — “...Eu me lembro de quando morava no Canadá...às
vezes vazava na garagem um pouco de gelo, derretia e
depois endurecia de novo e ficava assim, com essa
tonalidade. A gente pegava uma pá e descolava ela do chão,
era muito legal...”: G 1 nat
55. IX P5 — “...Parece água, tipo torneira aberta, fica escorrendo
água assim direto, um desperdício...por ser assim comprido
e sugere o movimento da água, não vejo a torneira, só a
água...”: Pm’nat - -

52 G — prancha na posição lateral - Aqui parece um gordão de


moto (P1), andando numa estrada de terra (P3) porque é

comprida e laranja, cor de terra mesmo, à beira de um rio de

forma que aqui (na parte debaixo) reflete a imagem toda.

Aqui é a fumaça que sai da moto dele. Deve estar frio e a

fumaça (P4) aparece mais...”:

G Ps pz

P M+ H

P CF nat

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 47


O conteúdo geográfico (ggr) aponta para uma percepção mais ligada aos
acidentes físicos da natureza. Neste sentido, enquanto água é categorizado como
nat, rio é compreendido entre os conteúdos ggr, diferenciando ambos de pz.
Compare os exemplos de nat acima com os de ggr abaixo:

— Apesar desta resposta referir-se a uma visão geográfica, houve uma


construção de elementos diferentes compondo uma cena e,
portanto, predomina o conteúdo paisagem (pz).

Obs. 3: Quanto à percepção dos acidentes geográficos, os mapas ocupam uma


categoria à parte, como demonstra o exemplo.

N° Prancha

P3 — “...Geysers, sabe aqueles furos que se formam no chão e sai


aqueles vapores fervendo do subsolo? Então, eu vi muitos desses
no noroeste dos Estados Unidos, no estado de Wyoning em um
parque chamado Yellow Stone, é muito legal. Este aqui está
56. VI
espirrando água fervendo por causa destas pontas e todo o
movimento que ele sugere. Quando espirra também sai muito
vapor (P3) por causa do tom desta figura que envolve o jato de
água aqui no meio (eixo central)...”: P m’(ps) nat

N° Pranchas

GE — posição invertida — “...A entrada de uma caverna. Um


57 VII buraco (E) cavado em pedras fortes e antigas como estas...”:
GE F+ ggr

P1 — “...O Grand canyon. O vale muito profundo lá embaixo (P12)


58 VI e as rochas altíssimas aqui em cima. A diferença de tons aqui no
meio (P12) me ajudou a ter a idéia de que era um vale...”: P Ps pz
N° Prancha

lago
E8 — “...Um por ser arredondado e ter essa
59. IX ase
azuizinha e qu ansp aren água te...”: p CF (1’) ggr
tr

N° Prancha

— “...Parece o mapa da América do Sul, pelo formato...”:


60. VII P1 P F
- mp

148 POPSCHACH CiJNIc0 — MANUAL BÁSICO


Conteúdos obj/ mil art
Embora estes três conteúdos possam trazer dúvidas no momento
da classificação, seus significados são bastante distintos:
— O conteúdo obj (objeto) diz respeito a uma categoria de utilitários práticos e
rotineiros como lápis, panela, travesseiro.
— O conteúdo ml (referência militar) demarca instrumentos de agressão ou de
ordem militar
— O conteúdo art (arte) reporta-se a objetos que não tem um valor prático mas
que são adornados pelo Homem. Podem ser percebidos como feios ou bonitos
pelo sujeito. Os exemplos a seguir esclarecerão estas diferenças:
N° Pranchas
61. IX P4 — “...Uma âncora. Pelo formato e pelas marcas de
ferrugem que dá essa diferença de tons...”: P F+ (1) obj
62. IX
P4 — .. .Uma ancora. Pelo formato, me faz lembrar aqueles
enfeites náuticos. Acho bonito tudo que se refere ao mar,
aqueles nós de marinheiro, navios super detalhados e
âncoras deste tipo. ..Tenho vontade de decorar minha casa
inteira assim...”: P F+ art
63. ‘ P5 — “...Uma fac a...parece um punhal e uma lâmina
acima...só pelo formato...”: P F- ml
64. VII P5 — “...Urna faca, meu pai fazia sempre churrasco nos fins
de semana e tinha uma faca que gostava mais do que outras,
era mais adequada para cortar carne, era parecida com
esta...”: P F- obj
65. II ES — “...Um foguete da NASA, está subindo alcançando o
espaço...”: E m’ ml
66. II ES + P6 — “...Um avião de passageiros (E) voando no meio
das nuvens (P...”: E (P) m’ (ps) obj
67. II ES — “...Um abajour aceso. Pelo formato da cúpula e pela
luz que irradia...”: E F+ (1’ ) obj
68. II ES — “...Um leque aberto, é a forma direitinho, daqueles
espanhóis que se pendura na parede, decorativa..”: P F+ art
69. VIII P5 —“...Uma bandeira verde balançando ao vento...”: P m’
(FC)art
70. IX E8 — “...Aqueles vasos rústicos que os índios fazem, assim
circular e bem artesanal, pela forma...”: P F+ art

PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 149

Obs. 4: Na categoria art muitas vezes encontramos a resposta “máscara”. No


entanto, é necessário que o inquérito revele realmente a percepção de um adorno
e não uma forma de se referir a uma expressão mais marcante. Veja os exemplos:

Conteúdos ggr e arq


O conteúdo arq (arquitetura) diz respeito a toda construção que requeira
habilidades especiais por parte do construtor, ou seja, não é encontrada pronta na
natureza. Desta forma, enquanto baía é conteúdo ggr, um canal para navios
passarem é conteúdo arq. Igualmente, é considerado conteúdo arq construções
feitas por animais como ninho, teia ou similares.
N° Pranchas
N° Pranchas

G — “...Um escudo, pelo formato e pelas cores. Não estou


pensando naquelas armas defensivas de antigamente. Estou
pensando naquelas figuras em forma de escudo mas que servem
71. VIII de brasão, representando uma família ou um clube sabe?
Geralmente estes escudos são bastante coloridos e tem letras
simbolizando algo. Tenho a impressão de letras aqui (p sem
localização dentro de P5) por serem mais escuras..,”: G FC (L) art

G — “...Um escudo. Aquelas armas de antigamente. Tinha a


72. VIII lança e o escudo. Hoje a gente só vê em museu e é bastante
decorativa...”: G F+ art

N° Pranchas

GE — “...Uma máscara. É uma máscara de carnaval. Aqui (P7)


as cordinhas para amarrar atrás e na frente ela tem quatro olhos
73. 1
para assustar os outros. ..Acho que está mais para Halloween do
que para carnaval...”: GE F+ art

GE — “...Uma máscara. Tem cara de malvado...Acho que


74. 1 por causa destes olhos assim para cima e uma boca com um
sorriso malévolo. Deve ser uma pessoa ruim...”: GE F-F pl-I

75. IV G — prancha na posição invertida - “... Uma fonte. Aqui (P1) é a

água espirrando para cima, aqui (P6) são os adornos em volta da

fonte e o resto é a fonte de pedra escura por isso disse granito...”:

G Ps (m’) arq

150 RORSCHACH CLENICO — MANUAL BÁSICO


Conteúdos ab e ri
O conteúdo ab (abstração) refere-se a conceitos construídos como forma de
representação genérica, quer envolvam sinais, como conceitos matemáticos,
números ou figuras geométricas, quer sentimentos e emoções.
No conteúdo ri (religião) inclui-se objetos utilizados na prática religiosa qualquer
que seja. Por esta razão, figuras religiosas como Cristo, por exemplo, são
consideradas como conteúdo humano (H). A idéia de Deus, por outro lado, é
entendida dentro da idéia de conteúdo abstrato (ab). Vejamos os exemplos:
N° Pranchas
78. 1 E30 — “...Nossa Senhora caminhando meio de costas com
seu manto branco, vejo os seus pés aqui na frente...”: E M (C’)H 79. VI G “...Um
andor, aqueles suportes de transportar imagens de
santas nas procissões, pelo formato. Aqui nas pontas as
pessoas pegam e colocam sobre os ombros...”: G Fo ri
80. IX E8 — “...Uma benção divina...Não sei por que...acho que
essa tonalidade azul brilhante parece um banho de
tranquilidade sobre nossas cabeças, parece a presença de
Deus...”: E C (1’) ab
81. II P3 — “...Uma mancha de tinta caída no chão, pelo vermelho
e pelo formato assim espirrado...”: P CF ab
82. X P3 — “...Parece a letra “V” pelo formato...”: P F- ab
83. VIII G — “...A paz pelas cores... eu acho que o que faz falta na
vida das pessoas é um pouco de cor. Se todos pudessem ver
o colorido das próprias vidas, teria mais paz e as pessoas
não precisariam perturbar a vida dos outros...”: G C ab

N° Pranchas

G — “...Uma montanha e aqui (P5) uma queda d’água. A


76. IV água cai com fúria apesar de estreito, cai de alto porque é
fino na ponta e largo embaixo dando uma impressão de
altura...”: G m’ ggr
(ângulo de visão)

G — prancha na posição invertida “...Uma casinha de João de


77 IV barro porque fica assim tipo uma montanhinha e é escuro
sugerindo terra...”: G C’ arq

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 151


Conteúdo ant e art
O significado fundamental da categoria “antiguidade” (ant) é o interesse por
realidades pré-históricas, correspondendo assim a conteúdos tais como
dinossauros, fósseis, utensílios comuns na pré- história, como por exemplo na
época da idade da pedra lascada e assim por diante.
Secundariamente, podemos incluir nesta categoria alguns
conteúdos que expressam interesse pela cultura da Antiguidade como
é o exemplo do pergaminho.
Deve-se tomar cuidado com protocolos de crianças onde a resposta dinossauro
tem uma outra conotação dada a frequência destes animais em desenhos ou
histórias infantis. Neste caso, seu significado aproxima-se mais do conteúdo
animal (A) do que antiguidade (ant).
N° Pranchas
84. 1 P4 — “...Nossa! Lembra tanto uma Trilobita. As Trilobitas
foram um dos primeiros seres vivos a habitar a Terra, lá
pelo período cambriano. Parece pelo formato e também
pela cor porque a gente só tem notícia dela pelos fósseis né?
E, fóssil é, em geral, dessa cor...”: P C’ ant
85. VIII metade de P5 — “...Um papiro, pelo formato de papel só que
com as bordas irregulares e... estas diferenças de tons me
fazem lembrar aquelas tramas que ficam impressas na
superfície do papiro, daqueles originais, é claro porque hoje
em dia tem muita falsificação...”: P F+ (1) ant
86. VII PIO — “...Aqueles achados pré-históricos...pontinhas de
lança, pedras para corte...sabe o que eu quero dizer? Esta
parte aqui (PIO) parece aquelas pedras dos homens pré-
históricos que a gente vê em museu, pelo formato...”:
P F+ ant
No entanto, objetos antigos que guardam atualmente um valor
decorativo tem seu conteúdo ligado a arte.

N° Prancha

P4 + E — “...Aqui me faz lembrar uma harpa, sabe aquele


instrumento de cordas triangular super usado na idade média?
87 IV
Então aqui (P4) é a moldura e dentro (E) imagino as
cordas...”: P (E) Fo art

152 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO


Conteúdos vst e art
— O conteúdo vestimenta (vst) implica a designação genérica de peças do
vestuário. No entanto, não raras vezes, o examinando faz menção a uma
representação artística das roupas, merecendo, nestes casos, o conteúdo arte
(art).
N° Pranchas
88 III P3 — “...Um laço de fita vermelho, pelo fomato com o
nózinho no meio e as laterais uniformes...”: P FC vst
89 II P2 — “...Um turbante daqueles que os árabes usam na
cabeça. Estes traços aqui no meio mais escuros e mais
claros dá a impressão que é onde os tecidos se
encontram...”: P F+ (1) vst
90 X P9 + P6 — “...Parecem aquelas roupas majestosas dos
reis...Um manto vermelho todo bordado. Como gostavam
de roupas trabalhadas! O cinturão azul no meio. E daquelas
roupas que a gente vê em filmes de reis e rainhas ou em
museus, cheios de... talvez de pedrarias no cinturão. Tenho
a impressão de bordado pela diferença de tons aqui no
vermelho e, pensei em pedrarias no cinturão porque é mais
carregado de azul de um lado do que do outro, penso que na
parte que dobra para fechar atrás não pode ter tantas pedras,
devem ser safiras azuis, lindíssimas...”: P FC (1) art
Em função da riqueza do método de Rorschach é impossível agruparmos todas as
possíveis discussões que possam surgir na escolha do conteúdo mais adequado
na resposta. Agrupamos aqui aquelas mais comuns, procurando conceitualizar de
maneira mais rigorosa o seu significado. Contudo, gostaríamos, mais uma vez de
lembrar a importância do inquérito para tirar as dúvidas de classificação no
momento da aplicação.
Gostaríamos ainda de sublinhar que na notação do conteúdo é importante
atentarmos para os dois valores que se cruzam em dinâmicas muito peculiares, o
valor da linguagem na comunicação interpessoal
— fundamental na classificação e análise quantitativa (tabela 1) — e o valor do
estímulo afetivo delimitando as áreas de interesse — importante na análise
qualitativa (tabela 2):
• O valor da linguagem na comunicação interpessoal está implícito em cada
categoria de conteúdo. Os conteúdos listados na tabela 1

RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO

resumem os interesses expressos na linguagem comum, específico da codificação


grupal. A função primordial da linguagem é a comunicação e, para tanto, o
conteúdo deve destacar a idéia ou o conceito a que determinada resposta refere-
se.
O valor do estímulo afetivo delimitando as áreas de interesse.
Para tanto, devemos nos reportar à construção da imagem em cada associação,
abstraindo um campo de interesses mais particular. Coelho (2) assinala que” o
estabelecimento da noção, a partir da captação dos dados externos, sofre a
necessária interferência de um determinado tipo de expectativa que nos leva a
formular uma ou mais hipóteses sobre o significado ou a categoria daquilo que
percebemos”. Deve-se, para tanto, verificar a especificidade de cada resposta no
tocante à qualidade do interesse afetivo inscrito na motivação do trabalho mental:
mais ligados às necessidades afetivas primárias, socialmente mais diferenciados,
de caráter intelectual culturalmente diferenciados ou concernentes às
preocupações cotidianas ou vagas (tabela 2).
Muito embora, a utilização, na categorização da resposta, de um rótulo
socialmente estipulado diminua a ênfase da expressão pessoal, a adequada
classificação nos permite caracterizar os tipos de interesses conscientes que o
sujeito dispõe. A classificação dos conteúdos na Escola de Silveira atém-se, assim
como já propunha Hermann Rorschach, à verbalização manifesta do examinando.
Como, no entanto, a verbalização do sujeito alude à adaptação de um interesse
pessoal a um sistema de codificação social, é fundamental que se tenha, no
momento da atribuição de um conteúdo a uma resposta ao Rorschach, uma tabela
de categorias cujas definições sejam bem claras e definidas. Ou seja, cada
categoria deve em si representar um grupo de interesses delimitado ao qual a
resposta pode ou não se enquadrar. Não basta termos uma estatística simples
dos conteúdos mais fornecidos se várias destas respostas encerram o mesmo o
grupo de interesses. Neste sentido, a multiplicidade de conteúdos ao nosso ver
torna-se redundante. Por exemplo, a resposta de raio X tantb pode se enquadrar
no conteúdo de anatomia (an) — representando uma preocupação somática —
quanto referir-se a um interesse científico, devendo ser notado como ciência (ci).
Da mesma maneira, não fazemos, no momento da classificação, diferença entre o
H ( figura humana) ou o A (figura animal) real ou fantasioso, como muitos autores
defendem,

153

154 PORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO


pois todos os conteúdos, depois do cálculo e no momento da interpretação,
merecem uma análise mais cuidadosa e em relação ao resto do psicograma e na
sua peculiaridade. Esta análise deve ser cuidadosa e atenta ao contexto do
psicograma de um modo geral pois embora cada conteúdo represente um grupo
específico de interesses, as suas relações com a estrutura e a dinâmica da
personalidade em questão guarda importante singularidade. Conteúdos de igual
valor no sistema de codificação grupal, por exemplo religião (ri), pode representar
diferentes níveis de interesse afetivo. Assim sendo, apesar de apresentarmos por
hora uma tabela para fins didáticos (tabela 2), a interpretação dos interesses de
cada um deve seguir outros cuidados e critérios que serão melhor discutidos em
um outro trabalho dirigido à interpretação dos resultados. Nosso objetivo no
presente momento encontra-se centrado no trabalho de classificação e este tipo
de análise deve ser feita qualitativamente.
Tabela 2 — Distribuição dos conteúdos em grupos específicos de
interesse

A compreensão mais profunda e singular de cada conteúdo só pode ser alcançada


correlacionando-o com as modalidades e determinantes que participaram do
processo de percepção. O significado latente do conteúdo explícito deve ser
revelado através do estudo de suas relações com os dados gerais do psicograma.
Entretanto, é digno de nota assinalar que na Escola de Silveira não se estuda
isoladamente o conteúdo verbal que ignora o processo de percepção e elaboração
da imagem. Silveira concorda com os preceitos de Piotrowski e Mucchielli entre
outros, entendendo a interpretação simbólica dos conteúdos das respostas
arbitrária e muito perigosa, apesar de não negar o seu valor projetivo. Assim como
não tem sentido interpretar os sonhos baseado em um dicionário de sonhos, é
descabida a atribuição abusiva de significados simbólicos a cada categoria de
conteúdos ou a cada prancha.

Grupos de interesse Conteúdos Expectativa

1-1 + pH + A + pA
Interesses centrais 75%
+ an

Necessidades afetivas .
an, fg, sg, mi, sx
primárias 25% distribuídas em pelo menos
três categorias

Socialmente mais
ri, ant, art
diferenciados

Preocupações cotidianas
vst, obj, pz, nat, bt
e vagas

PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 155


BIBLIOGRAFIA
COELHO, L.M. S. — Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo,
Ed. Atica, 1975.
COELHO, L. M. S. — Fundamentos Epistemológicos de uma
Psicologia Positiva - ia ed. São Paulo, Ed. Atica, 1982.
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre
Jou, 1978.
SILVEIRA, A. — Prova de Rorschach: elaboração do psico grama -
ia ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1985.
ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA
LuciA MARiA SÁLviA COELhO
DE modo a sistematizar os resultados da prova, distinguimos, para o
protocolo total e, separadamente, para os conjuntos de pranchas monocromáticas
e cromáticas, três áreas principais: TIPO DE
TRABALHO MENTAL, FEITIO DE PERSONALIDADE E
CATEGORIZAÇÃO VERBAL DAS EXPERIÊNCIAS no caso, o
CONTEUDO deverá ser examinado em função dos dados das áreas
anteriores.
1 - TIPO DE TRABALHO MENTAL
A análise do tipo de trabalho mental abrange os dinâmismos presididos pelas
funções cognitivas, nos diferentes níveis de processamento das experiências, tal
como se apresentam na construção das imagens durante a prova de Rorschach.
1 — Capacidade Associativa e Tempo de Produção das Respostas
A capacidade associativa corresponde ao número total de respostas classificadas:
no protocolo total (R), no conjunto monocromático (Riu) e no conjunto cromático
(Rc). Portanto, R indica a quantidade dos processos mentais mobilizados durante
a prova para a elaboração de cada uma das respostas. Nesse caso devemos
distinguir entre o número de imagens suscitadas pela percepção das pranchas do
Rorschach, (1) baseadas na evocação subjetiva de experiências em função de
diferentes propriedades estruturais dos estímulos (memória, percepção e atenção)
e a quantidade dos processos psíquicos codificáveis para a classificação da

160 RORSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO


resposta ( R). Uma mesma imagem poderá envolver mais de um processo
psíquico, exigindo o uso da técnica de desdobramento, de modo a se obter mais
de uma classificação, ou resposta, ou então, diferentes imagens poderão ser
fundidas em uma única classificação. Portanto, o número de imagens evocadas
(1) não coincide necessariamente com o número de respostas (R)
No presente manual, apenas será considerado o número total de respostas, uma
vez que análise específica das imagens, exige um nível de conhecimento mais
avançado sobre os processos psíquicos superiores, sendo apenas útil no quadro
de pesquisas experimentais sobre memória e imagem mental (Coelho, 1980).
VALORES ESPERADOS:
R total do protocolo: Faixa de variação:28 —62
Rmonocromáticas: Faixa de variação: 12—26
Rcromáticas: Faixa de variação: 16-36
O tempo de produção das respostas, para cada prancha,indica a rapidez do
processo mental. Neste caso, distinguimos o tempo de reação inicial, para a
expressão da primeira associação (TRI) e o tempo decorrido para a produção do
total das respostas, em cada prancha (T). Deste modo avaliamos dois aspectos
temporais do trabalho mental. No caso, apenas é relevante a alteração do ritmo
associativo no exame de cada prancha — quando TRI e/ou TT sofrem acentuada
variação nas diferentes pranchas: reação imediata (TRI demasiadamente curto,
isto é inferior à 18 segundos) ou demasiadamente lento (TRI 1 minuto). Na prova
de Rorschach, a avaliação do tempo de produção fornece informações sobre o
ritmo associativo espontâneo do examinando ao efetuar um trabalho mental, e não
propriamente a habilidade em produzir com maior ou menor rapidez as respostas,
aspecto apenas estudado nos psicotestes para avaliação do nível de inteligência
(QI). Assim, o que deverá ser avaliado é: a) a estabilidade no ritmo temporal do
trabalho mental no protocolo total, e em separado, nos conj untos monocromático
e colorido; b) o tempo médio transcorrido para a elaboração das respostas do
protocolo (T/R), incluindo o exame diferencial entre os T/R do conjunto
monocromático e colorido. Neste aspecto não há qualquer interesse em se
estabelecer intervalos normais de variação.

2 — Nível da Observação da Realidade

2.1 — Tipo de Percepção: Índice Perc

61

Este índice indica o estilo perceptual do examinando, ou seja, o modo com que
habitualmente ele distribui sua atenção na observação dos
diferentes eventos do ambiente.
Cada uma das modalidades principais e secundárias registradas no psicograma
em estudo deverá ser reduzida ao valor percentual correspondente ao total das
respostas. Portanto, G x 1 OO/R; P x 1 OO/R; p x 100/R; etc., o mesmo
procedimento deverá ser adotado para os conjuntos monocromáticos e coloridos,
em função do número de respostas de cada um deles (Rm e Rc).
Em seguida é suficiente consultar as tabelas construídas para cada
modalidade para o registro no índice de Perc.
Nota: As modalidades G e P se distribuem segundo uma curva

estatística normal (ver tabela pág. 225) enquanto que para as demais utilizaremos
avaliação não paramétrica (freqüência acumulada ver tabela pág. 251). Cabe
notar que essas tabelas apenas devem ser utilizadas psrs protocolos com número
de respostas pelo menos igual ao valor mínimo da faixa de valor normal: R total =
28 (ou +); R mono = 12 (ou +) e R cromático = 16 (ou +). Quando os valores de R
forem inferiores, a análise deve ser aproximada e qualitativa.

MODALIDADES PRINCIPAIS
TABELA 1- RESPOSTAS GLOBAIS (G)

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

Protocolo Total Monocromáticas Co1oridIs

Valores (%) Símbolo Valores Símbolo Valores Símbolo

<7,5 <21 <2

7,5 12 (G) 21 29 (G) 2 5,5 (G)

12 30 G 29 45 G 5,5 16 G

30 39 Gi 45 61 Gi 16 25 Gi
39 48 G2 61 77 G2 25 34 G2

48 57 G3 77 93 G3 34 41 G3

57 75 G4 93 100 G4 41 55 G4
75 93 G5 55 62 G5

93 100 G6 62 69 G6

69 76 G7
L
76 83 G8

83 100 G9

162 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO


TABELA 2 - PORMENOR PRIMÁRIO

Estes intervalos foram estabelecidos à partir da distribuição dos valores observada


na tabela de freqüência acumulada. Na população normal (n=94) o valor máximo
de p para os 3 conjuntos de pranchas encontra-se no intervalo 30 a 36 (p4). Os
intervalos seguintes foram construídos segundo uma projeção de valores.

Protocolo Total Monocromáticas Coloridas

Valores (‘%,) Símbolo Valores Símbolo Valores Símbolo

<56 <39 <65,5

56 62 (P) 39 45,5 (P) 65,5 70 (P)

62 74 P 45,5 65 P 70 83,5 P

74 80 P1 65 71,5 P1 83,5 88 P1

80 86 P2 71,5 78 P2 88 92,5 P2

86 92 P3 78 84,5 P3 92,5 100 P3

92 100 P4 84,5 91 P4

91 100 P5

TABELA 3- PORMENOR SECUNDÁRIO


Protocolo Total Monocromáticas Coloridas

Valores (%) Sim bolo Valores Símbolo Valores Símbolo

— <2 <2 <2

24 (p) 24 (p) 24 (p)

4 12 p 4 12 p 4 121

12 18 p1 12 18 p1 12 18 p1

18 24 p2 18 24 p2 18 24 p2

24 30 p3 24 30 p3 24 30 p3

30 36 p4 30 36 p4 30 36 p’Í

36 48 p5 36 48 p5 36 48 p5

48 60 p6 48 60 p6 48 60 p6

60 72 p7 60 72 p’7 60 72 p’7

72 84 p8 72 84 p8 72 84 p8

84 100 p9 84 100 p9 84 100 p9

PORSCI-IACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 163


MODALIDADES SECUNDÁRIAS
1 — Protocolo Total
1 — Espaço Primário: E
Na tabela estatística, verifica-se para a modalidade E: Valor médio
e a mediana corresponde ao valor 3,0. Portanto, usamos 3,0 como valor
referencial. Para o registro no índice Perc, o desvio de E deverá ser superior a
100% do valor referencial, ou sej a, superior a 6% das respostas. As classes
seguintes ocorrem após 100% do valor ljmite da classe anterior.
Portanto, segundo Silveira:
Expectativa = 3 desvio / expectativa: 3/3 = 1, isto é, 100% ou E no índice Perc
Valor obtido = 6
Desvio = +3
Quando:
Valor obtido = 9
Expectativa = 3 desvio / expectativa: 6 / 3 2, isto é, 200% ou EI no índice Perc
Desvio = +6
Portanto, segundo Silveira:
Expectativa = 3 desvio / expectativa: 9/3 = 3, isto é, 300% ou E2 no índice Perc
Valor obtido = 12
Desvio = +9
Os valores entre 6 e 9 pertencerão à classe E, pois não atingem à
200% além do esperado. Do mesmo modo, os valores entre 9 e 12
deverão ser registrados como El e assim por diante. Uma maneira mais
simples em consultar diretamente os valores nos diagramas das págs. 253
e 254.
2 — Global com Espaço (GE) e outras
Modalidades Inusuais (GP, PG, p’)
Os valores aproximados das médias das modalidades G, P, p e E
respectivamente, 20%, 68%, 6% e 4% atingem a 98% do total. Restam 2% de
probabilidade de ocorrência das modalidades mais raras. Distinguimos entre elas
as GE das demais, uma vez que esta ocorre mais facilmente em protocolos
normais. Deste modo, atribuímos a GE a expectativa de 1% e o conjunto das
demais (GP, PG, p’) também 1% totalizando os2% esperados.

164 ROPSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO


Portanto, segundo Silveira:
Expectativa = 1 desvio / expectativa 1/1 = 1, isto é, 100% ou GE no índice Perc
Valor obtido = 2
Desvio = +1
Quando:
Expectativa = 1 desvio / expectativa: 2/ 1 = 2, isto é, 200% ou GEI no índice
Perc
Valor obtido = 3
Desvio = +2
Expectativa 1 desvio / expectativa: 3/1 3, isto é, 300% ou GE2 no índice Perc
Valor obtido = 4
Desvio +3
Do mesmo modo, quando a ocorrência das três modalidades inusuais (GP, PG,
p’), ou de pelo menos uma delas, superar de 100% ao valor esperado, que éo de
1%, elas (ou ela) deverão ser registradas no índice Perc. Assim, por exemplo:
GP = 1
PG = O
p’ = 1,asomaGP+PG+p’2,sendo:
expectativa = 1 desvio/expectativa 11 = 1 ou 100%.
Desvio = +1
Neste caso, no índice Perc deverá constar GP e p’, e assim por
diante. Os valores entre 6 e 9 pertencerão à classe E, pois não atingem à
200% além do esperado. Do mesmo modo, os valores entre 9 e 12
deverão ser registrados como El e assim por diante. Uma maneira mais
simples em consultar diretamente os valores nos diagramas das págs. 253
e 254.
Conjunto Monocromático:
1. Espaço Primário:
No caso, o valor médio de E é igual a 2,2 , mas a mediana e a moda são iguais
a zero, uma vez que corresponde a uma resposta rara. Considerando a freqüência
relativamente alta de E nas pranchas 1 e VII, optamos por adotar 2 como valor
referencial.
Portanto, segundo Silveira:
Expectativa = 2
Valor obtido = 4
Desvio = +2 desvio / expectativa = 2,2 = 1 ou 100% ou E no índice Perc.

RORSCI-IACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 165


Quando:
Valor obtido 6
Expectativa 2
Desvio +4 desvio / expectativa 42 = 2 ou 200% ou El no índice Perc.
Valor obtido 8
Expectativa 2
Desvio +6 desvio / expectativa 6»2 3 ou 300% ou E2 no índice Perc.
Nota: Como no protocolo total, os valores intermediários deverão ser registrados
na classe inferior correspondente. Uma maneira mais simples
em consultar diretamente os valores nos diagramas das págs. 253 e 254.
2. Global com Espaço (GE) e outras Modalidades inusuais (GP, PG, p’)
Os valores aproximados das médias das modalidades G, P, p e E
respectivamente, 37%, 52%, 6% e 2% atingem à 97% do total. Restam 3% de
probabilidade de ocorrência das modalidades mais raras. No conjunto
monocromático, a incidência de GE é tão freqüente quanto à de E, portanto, a
expectativa de GE corresponde ao valor 2.
Para o registro de GE no índice Perc o procedimento adotado será
portanto, o mesmo que aquele que utilizamos para E.
Para registro no índice Perc das modalidades inusuais, (GP, PG e p’), ou de pelo
menos uma delas, a sua ocorrência deverá superar a 100% do esperado que é o
de 1% das respostas totais. Portanto, o procedimento será semelhante ao utilizado
para o protocolo total.
Conjunto Cromático:
1. Espaço Primário:
Na tabela estatística verifica-se que para a modalidade Eo valor
médio é ode 4,9 e a mediana 4,4 enquanto a moda é zero. Assim, usaremos
4 como valor referencial.
Portanto, segundo Silveira:
Expectativa 4
Valor obtido 8
Desvio = +4 desvio! expectativa = 4,4 = 1, isto é, 100% ou E no índice Perc.
Quando:
Valor obtido = 12
Expectativa 4

166 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO


Desvio = +8 desvio / expectativa 84 2, isto é, 200% ou EI no índice Perc.
Valor obtido = 16
Expectativa = 4
Desvio = +12 desvio / expectativa 124 = 3, isto é, 300% ou E2 no índice Perc.
Nota: Como no protocolo total, os valores intermediários deverão ser registrados
na classe inferior correspondente. Uma maneira mais simples
em consultar os valores nos diagramas das págs. 253 e 254.
2. Global com espaço (GE) e outras Modalidades Inusuais (GP,PG,p’)
Os valores aproximados das médias das modalidades G, P, p e E
respectivamente, 9%, 79%, 6% e 4% atingem à 98% do total. Restam 2% de
probabilidade de ocorrência das modalidades mais raras. No conjunto cromático, a
incidência de GE corresponde a 1%, restando o valor 1% para as demais
modalidades não usuais.
Deste modo, o procedimento a ser adotado tanto para GE como
para as demais modalidades não usuais, será semelhante aquele que
adotamos para o protocolo total em relação a GP, PG e p’.
Portanto, segundo Silveira:
=2
Expectativa =
Desvio = +1 desvio / expectativa 1,1 = 1, isto é, 100% ou seja, GEI no
índice Perc.
E assim por diante.
O mesmo deverá ser feito em relação às modalidades GP, PG, p’. Uma maneira
mais simples em consultar os valores nos diagramas das
págs. 253 e 254.
2.2 Qualidade Formal das Modalidades Principais
Uma vez avaliado o índice de Percepção e o tipo de respostas globais que
prevalece no protocolo, devemos verificar a qualidade formal das modalidades
principais. Desse modo, no exame do trabalho mental de um examinando,
poderemos constatar em que medida a apreensão das implicações genéricas das
situações (G), dos dados concretos e imediatos que se impõem por si mesmos (P)
e de pormenores pouco evidentes, que para serem percebidos exigem esforço
analítico (p), se aproximam do modo objetivo com que o indivíduo normal adulto
examina os eventos externos.

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 167


Uma modalidade terá qualidade positiva quando a imagem correspondente tiver
uma forma bem vista (F+) como determinante, ou quando tiver freqüência vulgar
mesmo que elaborada a partir de outros fatores determinantes. Quando o fator
determinante for uma forma negativa, (F-), a modalidade que a acompanha será
considerada como de má qualidade formal. No protocolo geral, o total de cada
modalidade principal (G, P, p) deverá ter sua qualidade formal positiva ter pelo
menos três vezes maior em relação à negativa (3:1).
3. — Nível de Elaboração das Experiências
3.1 — Exame das Condições Ambientajs e Mobilização dos
Recursos Subjetivos
A extensão com que o examinando volta sua atenção para o exame
dos eventos externos pode ser avaliada pela proporção das construções
formais em relação ao total das respostas do protocolo: %F.

VALORES ESPERADOS:
Protocolo Total: Faixa de variação 57 - 72
Uma informação importante pode ser obtida sobre o modo com que o impacto
afetivo direto (estímulo colorido) intervém na extensão com que o indivíduo se
volta para as circunstâncias do ambiente externo. Por isso avaliamos o índice %F
para os conjuntos de estímulos monocromáticos e cromáticos. Na população
normal pudemos verificar:
Conjunto Monocromático: Faixa de variação 65 —85
Conjunto Cromático: Faixa de variação 46—68
No processamento das informações captadas do ambiente externo intervém a
mobilização dos recursos e necessidades subjetivas do examinando. A extensão
com que os fatores subjetivos são mobilizados pode ser avaliada pelo índice
lambda, onde os fatores determinantes não formais (R - F) são comparados com
o total das respostas formais:

%F= R (F+ + F- + F°) x 100


R total

168 RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO


Lambda (R-F) sendo F= (F+ + F- + F°)
F
Protocolo Total: Faixa de variação 0,36—0,78
A mobilização das condições subjetivas, avaliada por lambda, é afetada pela
presença de estímulos que atuam diretamente na afetividade do examinando
(estímulos coloridos). Nesse caso, o índice lambda deve ser calculado
separadamente para os conjuntos monocromático e colorido. Esta avaliação com
os protocolos da população normal evidenciou uma distribuição dos valores de
lambda, em cada conjunto de estímulos, que, ao contrário do que ocorre com o
protocolo total, não resulta em uma curva estatística normal. Por isso não
pudemos usar as medidas paramétricas para a determinação dos intervalos de
variação, recorremos então aos resultados dos quartís (ver Parte III do Manual).
Conjunto Monocromático: Faixa de variação: 0,20 —0,45
Conjunto Cromático: Faixa de variação : 0,56— 1,00
3.2 — Flexibilidade do Pensamento
A elaboração das experiências será tanto mais rica e flexível quanto maior for a
variedade dos fatores determinantes. Os tipos de determinantes das respostas de
um protocolo de Rorschach variam de um examinando a outro, entretanto as
categorias de nível superior, que representam concepções amadurecidas e
sentimentos socialmente mais convergentes, deverão superar as categorias de
ordem mais subjetiva e egocêntrica. Assim, para cada série: M>m+m’; Ps>ps+ps’;
L+C’>l+l’ e FC> CF+C. Em trabalho anterior, com 100 adultos normais, obtivemos
as seguintes proporções médias:

M : m : m’ = 3,4: 1,7 : 0,6 (M = 0 apenas em 7% dos protocolos)

Ps : p5 : ps’ = 1,7 : 0,7 : O (Ps O em 23% dos protocolos)

FC : CF: C 3,0 : 2,2 : 0,1 (FC O apenas em 7% dos protocolos

L : 1 : 1’ 0,6 : 0,4 : 0,2 (L = O em 64% dos protocolos)

C’ 1,2 (C’ O em 39% dos protocolos)

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 169


Estes valores servem apenas como referência teórica, pois a integração
harmônica do psiquismo humano decorre de fatores diversos e variáveis entre
diferentes indivíduos e em diferentes fases do desenvolvimento
3.3 — Elaboração Intelectual Intrínseca: ElablR ou Z
A capacidade do indivíduo combinar, abstrair e generalizar o sjgnificado de suas
experiências manifesta-se de modo evidente na construção de imagens globais, e
sobretudo nas globais combinadas. As respostas globais simples resultam da
observação concreta das características da gestalt da mancha, que evocam
diretamente padrões formais fixados na memória (protótipos), envolvendo o
raciocínio indutivo, por comparação. Por outro lado, as globais combinadas
decorrem de um processo mental mais complexo, no qual o indivíduo abstrai
(isola) determinadas propriedades do estímulo, para em seguida combiná-los
através do raciocínio dedutivo, atribuindo-lhes um significado. Este tipo de
raciocínio será ainda mais complexo quando não apenas se aplicar às condições
estruturais do estímulo, percebido como figura, mas também no empenho em
integrar as condições secundárias, habitualmente consideradas como pano de
fundo (E).
A elaboração de uma experiência pode ainda decorrer da focalização da atenção
em aspectos concretos, de ordem prática (P), ou ainda em pormenores menos
evidentes, cuja percepção depende de esforço analítico (p). A integração de dois
ou mais desses aspectos em um significado mais complexo decorre da
capacidade de elaboração intelectuaL
O índice de organização (Z) de Beck permite a avaliação objetiva desta
capacidade intelectual.
Beck atribui o valor Z apenas: “As respostas em que duas ou mais porções da
figura são vistas relacionadas entre si, e quando o signficado percebido na
combinação, ou em qualquer porção componente, depender unicamente da
própria organização do percepto” (Beck, 1960, pg59).
O valor organizacional é apenas atribuído às respostas que forem determinadas,
pelo menos em parte, pela forma; nenhuma resposta originada inteiramente nos
valores cromáticos ou na luminosidade sem forma, possui elaboração. As
respostas vagas, mal articuladas ou baseadas em articulações arbitrárias ou
delirantes também não recebem valor Z. Portanto, o índice Z de Beck, aqui
designado como Elab, avalia o grau de

170 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO


e1aborção racional das experiências. De modo a verificar os processos de
elaboração das experiências pautados em concepções irracionais ou
demasiadamente subjetivas (como ocorre, por exemplo nos protocolos de
psicóticos) fazemos computação à parte e indicamos o resultado como Z2.
Entretanto, este índice não será utilizado aqui, uma vez que exige maior
aprofundamento teórico.
Em nosso estudo estatístico avaliamos os resultados do índice
Elab/R:
Protocolo total: Faixa de variação 0,90 —1,70
Conjunto Monocromático: Faixa de variação 0,71 — 1,49
Conjunto Colorido: Faixa de variação 0,90 — 1,90
TABELA DE BECK- VALORES DEZ

4. Nível de Comunicação Verbal

Faixa de Interesses:
Categorias de Conteúdos

De modo indireto, o campo de interesses desenvolvidos pelo


examinando em sua existência atual pode ser avaliado pela diversidade

dos conteúdos verbalizados nas respostas.


Estabelecemos como satisfatória a ocorrência de pelo menos três categorias
distintas, além daquelas relativas aos conteúdos usuais (figuras animais, figuras
humanas e respostas de anatomia), em 25% das respostas do protocolo total.
Quando houver rebaixamento no número dos conteúdos animais e
humanos e prevalência de uma ou duas outras categorias, podemos inferir
restrição de interesses ou preocupação predominante (perseveração de

IL

ELAB 1 11 111 IV PRANCHAS VIII IX X

V VI VII

G 1,0 4,5 5,5 2,0 1,0 2,5 2,5 4,5 5,5 5,5

P. Adj 4,0 3,0 3,0 4,0 2,5 2,5 1,0 0 2,5 4,0

P. Dist. 6,0 5,5 4,0 3,5 5,0 6,0 3,0 3,0 4,5 4,5

Mancha com
3,5 4,5 4,5 5,0 4,0 6,5 4,0 4,0 5,0 6,0
•Espaço

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 171


conteúdo ou temática) afetando a ligação emocional espontânea com o
ambiente ou o convívio interpessoal.
No caso de ocorrer distribuição das respostas em um número
elevado de categorias de conteúdo podemos supor dispersão de interesses.
Os conteúdos mais freqüentes em um protocolo normal são os de figuras animais
(%A médio37%) e os de figuras humanas (%H médio entre 10 e 20), que indicam
respectivamente, ligação emocional espontânea ao ambiente e interesse pelo
comportamento humano. Em cada categoria, a percepção da figura integral (A e
H) deverá ser pelo menos três vezes superior à percepção de suas partes do (pA
e pH).
De modo a caracterizar a gama específica de interesses
desenvolvidos pelo examinando, distinguimos os seguintes tipos de
motivações:
a) interesses afetivos primários (an, sx, ai, fg, sg ,ml)
b) interesses cotidianos, vagos ou superficiais (obj, bt, vst, ggr, mp, nat, nv)
c) interesses culturalmente mais diferenciados (art, ci, arq, ri, ah, pz, ant)
A análise mais profunda dos conteúdos humanos, das imagens
originais ou daquelas de ordem dinâmica, deverá ser efetuada durante o
exame do Feitio de Personalidade.
5. Processo de Adaptação à Realidade: Índice RMI
O fato do indivíduo voltar a sua atenção às condições do ambiente externo (%F) e
ter noção da realidade, à partir das informações sensoriais, não implica
necessariamente que eie se adapte às imposições do ambiente externo. O
processo de adaptação à reaiidade se faz de modo contínuo e supõe a
conjugação harmônica da atividade psíquica das diferentes esferas da
personalidade.
A integração às exigências da realidade depende do interesse afetivo em manter
uma ligação com o ambiente, do julgamento objetivo dos eventos externos e da
assimilação das normas de pensamento adotadas pela maioria e que compõem o
consensus social. A complexidade desse processo cognitivo traduz-se no
Rorschach pelo índice RMI de Silveira.
O índice RMI compõe-se de três fatores que representam a participação
específica das funções da personalidade mobilizadas no
processo de adaptação à realidade.

172 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


a) Esfera Conativa - Julgamento de Realidade: %F+
A atenção adequada aos estí mulos externos permite o controle do processo
perceptivo e ojulgamento imparcial da realidade. Graças ao controle e
coordenação conativa, os impulsos afetivos e osjulgamentos de valor subordinam-
se às condições do ambiente objetivo.
b) Esfera Afetiva — Ligação Emocional ao Ambiente: %A
A ligação afetiva ao ambiente depende do interesse em intervir sobre a realidade.
Esse interesse não se exprime diretamente através dos sentimentos ou da
sensibilidade afetiva, mas decorre do estabelecimento de uma ligação emocional,
ou sei a, do estímulo da afetividade sobre os processos cognitivos. No Rorschach,
os interesses são representados pelas categorias de conteúdo; sendo a figura
animal a categoria mais freqüente nos protocolos de indivíduos adultos e
predominante nos de crianças. O conteúdo animal decorre de nexos afetivo-
emocionais vitais, estabelecidos de modo espontâneo e diretamente influenciados
porjulgamentos de valor, traduzindo o interesse de corrente ao apego afetivo ao
ambiente.
c) Esfera Cognitiva: Assimilação Lógica dos Valores Sociais: %V
A capacidade do indivíduo assimilar as normas da realidade tal como elas são
reconhecidas pela maioria é fundamental para a existência social. A %V traduz o
grau de amadurecimento intelectual, considerado socialmente, portanto em função
da construção interpessoal da realidade.

A intensidade da participação de cada um dos fatores do índice fornece indicações


sobre a dinâmica particular do processo examinado.
Valores estatísticos da população normal:
a) Setor Conativo: Julgamento da Realidade
%F+ Protocolo Total: Faixa de variação 78% -89%
%F+ Conjunto Monocromático: Faixa de variação 80% - 94%
%F+ Conjunto Colorido: Faixa de variação 76% - 87%

RMI= %F+ + %A + %V

3
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 173
b) Setor Afetivo: Ligação Emocional

6. Mecanismos Inusuais de Reação:


A apreciação do modo específico de cada probando reagir diante dos estímulos
da prova de Rorschach permite a distinção de um grupo de mecanismos que por
não corresponderem necessariamente a distúrbios psíquicos de ordem patológica
podem ser denominados “mecanismos inusuais de reação”. Além disso, a
investigação dos dinamismos psicológicos subjacentes a tais reações torna-se
indispensável para a interpretação destes mecanismos.
Deste modo procuramos distinguir os diferentes mecanismos de reação segundo o
nível do trabalho mental em que eles se traduzem e de acordo com a participação
diversa das funções de personalidade implicada em cada um deles. Sintetizamos
a interpretação deste aspecto da prova de Rorschach nos itens que se seguem.
Nível de Expressão dos Mecanismos
1 — Nível de Observação:
1. Simetria (SIM):No mecanismo SIM, o probando sente necessidade de encontrar
ordem e estabilidade nas condições externas
para com elas poder interagir.
A “simetria” pode ocorrer, de modo atenuado, em protocolos de
indivíduos normais mas inseguros e pouco espontâneos. A “simetria”

%A Protocolo Total: Faixa de variação 33% - 42%

%A Conjunto monocromático: Faixa de variação 35% — 48%

%A Conjunto cromático : Faixa de variação 28% - 38%

c) Setor Cognitivo: Padrões Culturais:

%V Protocolo Total: Faixa de variação 17 % — 29%

%V Conjunto Monocromático: Faixa de variação 17 % — 34%

%V Conjunto Cromático: Faixa de variação 16 % — 25%


RMI Protocolo Total: Faixa de variação: 44 %—52%

RMI Conjunto monocromático: Faixa de variação: 44%— 58%

RMI Conjunto cromático: Faixa de variação: 40 % -50%

174 RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO


consiste na busca insistente de uma simetria perfeita das manchas. O examinando
observa cada detalhe de um lado da mancha e compara-o com o detalhe
correspondente, do outro lado. Muitas respostas nas quais o examinando
menciona a ocorrência da mesma imagem em ambos os lados das pranchas, sem
estabelecer relação entre eles, decorrem do mecanismo SIM.
Exemplo:
Pr. P1 direito e esquerdo - “ Dois pássaros, um igual ao outro ou
com pequenas diferenças”. (corresponde ao fator (2) de Exner)
Apenas consideramos SIM quando após o probando ter
mencionado o caráter simétrico das manchas, buscar, nas pranchas
seguintes, a confirmação desta simetria.
Não utilizamos um critério meramente quantitativo, como fazem alguns autores ao
estabelecer um número mínimo de ocorrências da referência à simetria dos
estímulos. Para nós, o mais importante é a expressão qualitativa da busca atenta
da simetria dos estímulos, antes da formulação de uma resposta.
2. Persevera ção da área (Pers. A)— tipo particular de aderência aos estímulos.
Fixação da atenção em uma determinada área onde o
probando elabora uma série de respostas.
3. Condensação Sincrética (Cond. S.) — observação de características
incompatíveis com a natureza da imagem percebida: figuras humanas com partes
animais(HIA), com partes vegetais (H/bt) ou com partes de objetos (H/obj).
Exemplos:
Pr. IV G “Homem com cara de inseto” (fIA).
Pr. IV G “Homem com braços de galhos”(H/bt).
Pr. VII P1 “Rosto de menina com cabeça de chaminé” (Hlobj).
Mais raras são as imagens que ligam de modo arbitrário partes do
corpo humano (ou A).
Exemplo:
Pr. X P5 “Cabeça com pernas”.

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 75


Este mecanismo traduz a intervenção de noções incoerentes na percepção da
realidade, quando diferentes imagens sejustapõem de modo sincrético. Tal
fenômeno pode ser observado em imagens oníricas ou em alucinações visuais,
mas também pode ser utilizado na construção artística (obras surrealístas, pintura
de H. Bosch, etc). Portanto sua ocorrência não deve ser considerada como de
ordem patológica quando o examinando indicar a natureza fantástica ou poética
da imagem percebida.
A condensação sincrética corresponde aproximadamente ao
mecanismo “combinação incongruente” (INCOM) referido por
Exner.
4. Referência ao eixo (Ref Ex.) — o probando utiliza a linha central vertical da
mancha, como referência às suas associações aos estímulos ambíguos do
Rorschach. Este mecanismo ocorre sempre que houver menção reiterada da
existência de um eixo, ou linha central, nas diferentes pranchas, podendo ou não
elaborar suas respostas em função de sua existência. Como por exemplo: “A linha
central sempre me faz pensar em coluna vertebral que sustenta o organismo”. Ou,
como ocorrência de uma expressão mais abstrata: “Do centro vem uma força que
mantém ligados todos os elementos”.
5. Fragmentação (Fragm.)— este foi estudado especialmente por Minkowska
(1956) que o considera como patognomônicos de esquizofrenia, em oposição à
mecanismos como o de ligação (lien), frequentes em epilépticos. Designou este
mecanismos como Spaltung (em inglês, splitting). A Fragm ocorre quando uma
imagem, animal ou humana, for percebida de modo fragmentado: tronco,
membros inferiores e superiores, cabeça, nariz, boca, distribuídos aleatoriamente.
Por vezes, este mecanismo aparece de modo atenuado, com a referência da
impressão de que a imagem humana (ou animal) percebida, acha-se aberta pela
metade, ou dividida ao meio.
Este mecanismo indica profunda dissociação da imagem somática,
sendo encontrado em esquizofrênico, e também assinalado, em protocolos
de pacientes com alterações básicas de identidade subjetiva.
6. Perda de limites somátjcos (Lim.) — o mecanismo que indica falta de limites
entre os órgãos internos e a aparência externa de uma imagem humana (ou
animal), é frequentemente observado em desenhos infantis, mas também em
pacientes psicóticos. Designamos este mecanismo como “falta de limites na
perceção corporal (Lilvi)”. Como no mecanismo

176 RORSCHACII CUNCO — MANUAL BÁSICO


anterior, em adultos, ele revela profundos distúrbios da percepção subjetiva
do próprio corpo.
7. Referência ao Tamanho (Ref T): este mecanismo implica na impressão
proprioceptiva de força, peso, fragilidade, tamanho, espessura, que é referida
como qualidade específica de uma estrutura formal ou de um ser vivo. Comum em
protocolos de crianças pequenas, no adulto este mecanismo traduz auto-
percepção subjetiva de insegurança, ou quando projetada em figuras ou objetos
externos, ele indica sentimento de impotência e fragilidade diante da força e poder
exercidos contra si mesmo. Passalacqua e Grovenhorst, que adotam um ponto de
vista psicanalítico, referem que este mecanismo é frequente em depressivos,
associando-se por vezes a condutas auto-destrutivas. Para estes autores, Ref. T.,
traduz sentimento de “carga densa e pesada sobre si, em um ego frágil e incapaz
de suportá-la “.
Bohm menciona o fato deste mecanismo ter sido designado pelo neurologista
Guirdham como “essential qualüy asterognostic” (EQA), mas segundo Bohm, esta
designação decorre de um equívoco linguístico, poiso “a” indica negação, e o
correto seria: “essential quality sterognostic”. Preferimos designar o mecanismo a
partir de uma de suas expressões mais correntes (observação do tamanho).
8. Ângulo de Visão: o mecanismo de ângulo de Visão (AV) ocorre quando o
probando examina as manchas sob um prisma pessoal, colocando-se
especialmente em relação à imagem percebida. Assim, como uma câmara de
cinematográfica, o probando coloca-se acima, ou abaixo da imagem percebida,
avaliando-a segundo um plano de superioridade ou de inferioridade em relação a
si próprio. Incapaz de elaborar uma imagem tridimensional, que exigiria maior
esforço construtivo (Ps) e a noção de própria posição no ambiente, o probando
percebe os estímios segundo um ângulo subjetivo, enfatizando a estrutura
distorcida da imagem, concebida como bidimensional. Assim por exemplo, na
prancha IV: “Um homem imenso, visto de baixo para cima, com pés enormes (P6),
cabeça (P3) e braços pequenos (P4). Estou olhando de baixo e ele parece muito
grande”.
Ainda que a elaboração formal do percepto seja adequada, o fato do examinado
participar da imagem percebida, adotando um ângulo de visão de baixo para cima,
sugere seu sentimento de inferioridade, nas relações interpessoais.
De modo semelhante, a visão de uma cena distante, mas não

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 177


concebida como plano tridimensional, ou de uma imagem reduzida devido ao fato
do probando colocar-se na situação, como distante, ou como acima do objeto
percebido, reflete o sentimento subjetivo de afastamento ou de superioridade em
seu relacionamento como o ambiente. No cinema, a câmara subjetiva provoca no
espectador sentimentos desta ordem.
9. Reversão (Rev.)— mancha percebida como “fundo” e espaço como “figura”
(alteração do princípio de ‘pregnância” na percepção). Pode resultar tanto da
crítica negativista ou da originalidade no modo de encarar os fatos, como da
insegurança emocional e preocupação exagerada com os obstáculos (carência de
autonomia).
10. Necessidade de ligação (lien de Minkowska) — após ter fornecido algumas
respostas, o examinando sente necessidade em ligá-las entre si, ainda que de
modo arbitrário, indicando as partes onde cada imagem se liga à outra.
II. Nível de Elaboração:
1. Posição e Número (Pos. N°) — ambos os mecanismos foram considerados por
Piotrowski (1957) como patognômicos de esquizofrenia. Entretanto, Silveira (1963)
faz a ressalva de que eles podem ocorrer, ainda que raramente, em protocolos de
indivíduos normais, uma vez que exprimem o predomínio do subjetivismo no
processo associativo.
No mecanismo POS o percepto baseia-se exclusivamente na disposição da área
selecionada em relação ao estímulo global. No caso, a observação abstrata
afasta-se dos padrões concretos da realidade, obedecendo a um critério irracional
que escapa ao raciocínio lógico.
Assim, por exemplo, uma resposta dada à área central da prancha III (P3):
“coração”- na qual o probando considera que a relação espacial do coração no
corpo é da mesma ordem que a relação entre o pormenor central e a mancha
lateral, percebida como corpo. Neste caso, a percepção do “coração”, baseia-se
apenas no fato da mancha encontrar-se na posição central do corpo.
O mecanismo POS pode ser apurado como determinante quando não houver
outro fator como primário, para a constituição
da resposta.
O mecanismo Número também decorre da alteração da observação abstrata, mas
no caso referente à noção de quantidade, independentemente
da consideração das características formais dos estímulos.

178 RORSCI-IACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO


Este mecanismo pode surgir de modo atenuado, como mera quantificação dos
elementos das áreas que compõem as diferentes pranchas. Por exemplo, na
prancha 1: “Quatro Triângulos” (Espaços centrais). Mais grave é sua ocorrência,
onde o número de elementos passa a dar significado ao percepto: Por exemplo,
na prancha III: “Uma família”- onde os cinzas laterais (P1) são percebidos como
pais e o elemento central, inferior (P7) como filho. O número três provocou a
associação “família” sem que o probando fosse capaz de identificar formas
humanas. Certamente nesta resposta também contribui a posição central da
mancha, designada como “filho”.
2. Condensação Fabulató ria (Cond. Fab.): combinação arbitrária e irracional de
diferentes imagens. Neste tipo de condensação, a elaboração se baseia em
fantasias infantis ou em nexos emocionais primários que interferem no
pensamento racional. Como ocorre no mecanismo de “condensação sincrética”,
este mecanismos pode indicar um recurso ao imaginário não constituindo
necessariamente uma indicação de distúrbio psicopatológico.
Exemplos:
Pr. X P5+P4 invertida — “Um homem levantando dois aviões”.
Pr. IX P9 + P6— “Uma cobra fumando cachimbo”.
Pr. X P8 + P14 — “Duas pulgas fazendo um brinde com uma taça muito alta”.
Portanto, o que caracteriza este mecanismo é o modo absurdo ou inadequado em
que duas ou mais imagens se associem. O significado afetivo prevalece sobre o
julgamento da realidade. A condensação fabulatória é designada por Bohm (1957)
como “combinação fabulatória”, ela é frequente em protocolos de neuróticos, onde
o valor atribuído à imagem impede o exercício do pensamento lógico para
construção da imagem. Os perceptos integrados por nexos afetivos podem
assumir significado dinâmico, indicando, no caso, conflitos emocionais do
examinando.
3. Perplexidade (Ppl) — incapacidade inicial do examinando em fornecer uma
resposta à prancha, quando, ele expressa surpresa diante da dificuldade
apresentada pelo estímulo. Sentindo-se inseguro quanto á sua capacidade
cognitiva para resolver a situação da prova, que então,

RORSCHACI-I CLíNICO — MANUAL BÁSICO 179


lhe parece problemática, muitas vezes solicita a ajuda ou esclarecimentos
ao examinador.
4. Rejeição ou Inibição (Rej. ou Inib.) — incapacidade em elaborar qualquer
resposta mesmo após a reapresentação ulterior da prancha rejeitada. Inibição
alteração quantitativa ou qualitativa das respostas a uma determinada prancha.
Elevação do tempo de reação Ambos os mecanismos resultam de graus diversos
de alteração do trabalho mental mas traduzem uma dinâmica subjetiva
semelhante.
5. Mecanismos que ocorrem nas pranchas cromáticas (CR0) — Dentre os
mecanismos que refletem alteração no processamento de estímulos cromáticos
(CR0), que mobilizam diretamente a afetividade do probando, destacamos: a cor
forçada, nomeação de cor, referência ao vermelho, negação de cor. Todos
eles decorrem da dificuldade do probando em integrar as experiências afetivas e
de expressar de modo harmônico seus sentimentos. Na “cor forçada” incapaz de
integrar a qualidade cromática da mancha à sua estrutura formal (FC ou CF), o
probando, apenas a nomeia, ou a nega, ou ainda introduz artificialmente uma
razão para sua presença.
Exemplo:
Pr. VIII - “Dois ursos (e observando o fato de serem vermelhos)
devem estar com raiva, por isto vermelhos”
No caso do probando apenas mencionar as cores: laranja, verde, rosa, não
conseguindo integrá-los em uma interpretação, ele expressa labilidade afetiva,
liberação impulsiva dos afetos, com deficiência do juízo crítico e da elaboração
refletida. A nomeação da cor (nC) é frequente, segundo Bolim, em protocolos de
oligofrênicos, epilépticos e pacientes com lesões cerebrais. Mas o autor observa
que em crianças até cinco anos de idade, a sua ocorrência é normal.
Os autores argentinos interpretam este mecanismo como resultante de defesa
mágica contra a expressão dos afetos, interferindo no processamento normal do
pensamento. Distinguem ainda, com muita pertinência, a nC de descrição técnica
das cores com um matiz intelectual e crítico. Apesar de interpretarem também este
mecanismo como resultante de uma defesa contra a expressão dos afetos,
reconhecem que ele é comum em protocolos de artistas e intelectuais.

RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁSICO


Verificamos que a descrição de cores expressa sensibilidade
estética em protocolos cujos índices revelam flexibilidade mental e
criatividade.
No mecanismo “negação de cor”, descrito por Piotrowski como “color
denial”(1957), o probando rejeita o fato de ter utilizado o estímulo cromático,
apesar da evidência de sua utilização no percepto, por exemplo: na prancha X:
(P6) “maçãs, só a forma”. Porém esta área além de apresentar a configuração
formal de uma maçã também possui a sua cor. Piotrowski interpreta este
mecanismo como traduzindo inibição intencional dos afetos por temor de
experimentar decepções no convívio interpessoal.
A interpretação de Bohm sobre este mecanismo coincide com aquele do autor
norte-americano o que nos parece evidente é a rejeição do probando em
expressar seus afetos, ainda que este tenha sido mobilizado durante o processo
associativo na produção de resposta cromática.
O mecanismo de “referência ao vermelho” ocorre nas pranchas II e III, cujos
estímulos mobilizam de preferência os impulsos afetivos primários, conforme
constatou Silveira (1968) ao construir o seu índice de impulsividade.
Para Bohm, a “atração ao vermelho”, consisti um mecanismo oposto ao “choque
cromático”(ChC). Mas este autor, considera “choque” mesmo que apenas ocorra
uma diminuição das respostas nas pranchas cromáticas.
Apesar de considerarmos este critério como insuficiente para assinalar um
fenômeno tão grave como o ChC, concordamos (com base na avaliação do índice
Imp), com a interpretação de Bohm do mecanismo Ref. V.: segundo o autor, este
mecanismo habitualmente ocorre com outros desvios do protocolo que indicam
caráter impulsivo. E, neste caso, a ansiedade diante da expressão de impulsos
afetivos básicos, expressa pelo ChC, opõe-se à liberação impulsiva dos afetos,
indicado pelo ref. V.
A interpretação deste mecanismo como indicador de impulsividade, foi confirmada
por Fazzani (1994) em sua tese de mestrado sobre Rorschach de indivíduos que
haviam cometido crimes violentos. Nesta população ele encontrou este
mecanismo, associado a outros fatores da prova, indicativos de elevada
impulsividade.
Como Fazzani, não apenas registramos a presença de Ref. V. quando ocorre
aumento de respostas aos estímulos das pranchas II e III, mas sobretudo o
fazemos quando o probando apenas menciona a presença do vermelho, sem
conseguir utilizá-lo em sua resposta.

180

RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 181


Em todas estas modalidades de CR0, a presença do estímulo colorido provoca no
probando uma reação afetiva imediata, não controlada pelos processos conativos
ou cognitivos, revelando incapacidade de integração e expressão dos sentimentos
nas relações interpessoais.
6. Fabulação (Fab.) — Ainda relacionado à expressão afetiva, o mecanismo de
fabulação (FAB) ocorre com certa frequência em protocolos de indivíduos que se
deixam levar pela imaginação, projetando emoções ao observarem o
comportamento alheio. No Rorschach, este mecanismo se expressa pela
atribuição de sentimentos ou intenções em figuras humanas, frequentemente em
rostos, ou mesmo em figuras animais.
Não ocorrem exclusivamente em respostas cinestésicas, podendo
indicar atribuição subjetiva de sentimentos ou intenções na observação
do comportamento alheio mais do que expressão da própria afetividade.
Bohm refere que este mecanismo foi constatado, pela primeira vez por Guirdham
(1935) e ulteriormente adotado por outros rorschachistas. Este autor designou
como “essential quality emotional” ou EQA, a projeção de expressões mímicas em
figuras humanas, observando que, este mecanismo é frequente em indivíduos
com talento artístico.
Merey e Niger (1947), assim como Passalacqua e Gravenhorst
(1988), interpretam a presença de FAB com conteúdos de ameaça como
indicativa de traços paranóides.
Basicamente consideramos FAB como resultante da atribuição
subjetiva e arbitrária de sentimentos e intenções ao comportamento alheio.
7. Auto-referência (A. R.) — o examinando se identifica com a figura percebida,
atribuindo-lhe características físicas que reconhece em si mesmo, por vezes
elaborando situações análogas áquelas por ele vividas.
8. Duplo (Duplo) — elaboração de imagens percebidas como duas figuras que
atuam, ou que se submetem á uma mesma situação. Estas figuras humanas ou
animais são percebidas como idênticas (gêmeos, clones) ou semelhantes (irmãos,
companheiros), ou ainda como uma imagem refletida no espelho.
9. Liberação (Lib) — incapacidade em controlar respostas inadequadas mesmo
considerando-os como incorretas. Neste caso, devemos distinguir a liberação
decorrente de patologia orgânica cerebral (ver sinais de Piotrowski)
182 ROPSCHACH ClíNICO — MANUAL BÁSICO
III. Nível de Comunicação:
1. Persevera çâo Temática (Pers. T) — respostas predominantes de uma
determinada categoria de conteúdo (geralmente sx ou an). Para a interpretação
deste mecanismo torna-se indispensável a verificação da qualidade formal destas
respostas e das categorias de determinantes a elas associadas. Caso a
perseveração ocorra de modo acentuado, deve- se utilizar a técnica de repasse
imediato das pranchas: solicita-se ao probando para que ele procure elaborar
outras respostas além daquelas cujo conteúdo foi perseverado. Neste caso o
examinador deverá interpretar cada protocolo de per si e em seguida confrontar os
resultados obtidos.
2. Persevera ção de Resposta (Pers. A) (“Aderência alternada fundamental de
Bovet”) — ocorrência do mesmo conteúdo em diferentes pranchas, sendo que em
sua maioria elas correspondem elaborações adequadas aos estímulos.
3. Repetição (Rpt) — na mesma prancha ou em pranchas consecutivas o
examinando dá exatamente a mesma resposta. Ou sej a, volta a utilizar, em
estímulos diferentes, uma resposta que lhe pareceu adequada para uma primeira
situação. Consiste em um tipo de preenchimento “como compensação á
incapacidade de interpretar outros estímulos. Em protocolos de crianças
pequenas, a repetição é designada como solução “varinha mágica”.
4. Crítica à Interpretação (Crt. 1.) — este mecanismo traduz uma atitude de
insegurança e de auto-exigência quanto à adequação de suas decisões. Pode
apresentar-se de modos diferentes: comentário sobre sua incapacidade,
respostas em forma negativa ou interrogativa, ou ainda referência á possíveis
alternativas daquilo que ele perceber.
5. Crítica às Manchas (Crt.M) — neste caso, ao contrário do mecanismo anterior,
o examinando atribui o erro ao modo com que os estímulos se apresentam, por
vezes supondo que o “desenhista” cometeu um engano que deveria ser corrigido.
6. Contaminação (Cont.) — mecanismo que envolve de modo mais complexo todo
o trabalho mental, ainda que se expresse no momento da
verbalização da resposta. Neste mecanismo uma mesma área da mancha
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 183
poderá sugerir duas associações diferentes mas que se fundem em um
conceito único.
Exemplos:
Pr. IV — “O figado de um poderoso homem político”.O examinando percebeu de
modo global, um figado, mas ao mesmo tempo, um homem grande e poderoso,
que lhe sugeriu a idéia de político. Em seu trabalho mental não lhe foi possível
isolar cada tipo de imagem, levando-a a perceber como uma só realidade.
Pr. 1 — “Um morcego escondido em um rochado”. Também como global, o
examinando percebeu a imagem de um morcego, mas ao mesmo tempo de um
rochedo. Ao mesmo tempo que olha para a prancha “vê” o morcego e a rocha, não
conseguindo isolar as imagens.
Pr. X (P12) — “Uma tourada”. O examinando percebeu ao mesmo
tempo a imagem de um toureiro com sua espada e a do touro com os
chifres fundindo ambas imagens no conceito: Tourada.
Nestes exemplos, os examinandos apenas tomaram conscjência do
resultado de fusão das imagens, sentindo dificuldade em discernir cada
uma de per si.
Este tipo de mecanismo apenas foi encontrado em protocolos de
psícóticos, traduzindo grave comprometimento no trabalho mental.
7. Frases esteriotipadas (Etp)— de modo automático, o examinando repete a
mesma frase ao olhar para as diferentes pranchas do Rorschach, como um modo
de compensar sua dificuldade, ou de preencher, de modo mecânico, o silêncio que
se estabelece durante uma prova, que para ele corresponde à uma situação
inusual.
8. Neologismo ou Paralogias (Log) — termos individuais criados pelo examinando
para expressar o que percebe nos estímulos, ou que decorrem de uma concepção
baseada em uma lógica afetiva, que se afasta do pensamento racional. Este
mecanismo ocorre com freqüência na expressão verbal de psicóticos não
constituindo necessariamente um mecanismo exclusivo daprovade Rorschach.
9. Modos Particulares de Expressão Verbal: articulação krita, ou demasiadamente
rápida das palavras, prolixidade nas respostas, expressão
confusa das idéias com frases sem nexo (“salada de palavras”).

184 RORSCHACH CUNICO MANUAL BÁSICO


lO. Comentários ou Associações Paralelas (Com): Mecanismo que indica a
necessidade do examinando de escapar da situação da prova:
falando sobre os próprios problemas, expressando livremente associações de
idéias sugeridas á partir de uma resposta ao Rorschach, ou ainda, de modo mais
grave, utilizando estímulos do ambiente externo para elaborar suas respostas.
II - FEITIO DE PERSONALIDADE
1 — Condições Afetivo-Emocionais:
O exame central das condições afetivo-emocionais abrange o estudo do índice de
Afetividade (AO, do índice de Impulsividade (Imp), dos dois níveis de avaliação do
equilíbrio das forças subjetivas (EQ e EQ’), das diferentes expressões emocionais
(RL) e afetivas (RC).
ÍNDICE DE AFETIVIDADE:
Af = R(II,IILVIII,IXX)
R( 1,1V, V, VI,VII)
Faixa de variação:1,2 — 1,8
Como todo índice do Rorschach, o resultado numérico de Af apenas dá uma
indicação geral do grau de sensibilidade afetiva, ímpondose portanto o exame das
respostas e dos mecanismos que prevalecem no conjunto de estímulos
cromáticos de modo a verificar a dinâmica emocional que acompanha a
reatividade do examinando às situações que mobilizam diretamente seus afetos e
sentimentos.
ÍNDICE DE IMPULSIVIDADE:
Imp =R( II, III )
R(VIII,IX,X)

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁsico 185


Faixa de Variação: 0,33 — 0,71
Valores obtidos por Silveira em 40 examinandos normais e que não apresentavam
qualquer dificuldade de ordem afetiva relacionada à pressão de impulsos
primários. Imp. média=: 0,34 DP = 0,05, contrastando com o valor médio de 0,57
que ele obteve em sua população de 100 examinandos normais, da qual foram
extraídos os 40 casos.
Portanto, a interpretação do resultado do índice de Imp deverá levar em conta:
que os valores situados no interior da faixa de variação (0,33 —0,71), porém
próximos do limite máximo de 0,71 deverão ser considerados como traduzindo
impulsividade elevada mas dentro dos limites de normalidade.
A análise qualitativa do processo responsável pelo resultado do índice Imp deverá
levar em conta a possibilidade de inibição de respostas diante das pranchas IX ou
X ou poderá ocorrer, por outro lado, o “choque afetivo” ante às prancha II ou III,
afetando o resultado do índice de impulsMdade.
Equilíbrio das Forças Subjetivas
EQM:RC
O termo Cromático em EQ: FC, resposta cromática mais freqüente e portanto
menos carregada de subjetividade, recebe o valor ponderal mínimo de 0,5,
enquanto que C , por corresponder à expressão mais direta e subjetiva dos afetos,
recebe o de 1,5. A resposta CF corresponde a um dinamismo intermediário, daí
ser-lhe atribuído o valor ponderal 1,0.
Variante do EQ
EQ’ -RM :RC
O termo Movimento em EQ’: dado que M, me m’ surgem no
protocolo do adulto médio em proporções comparáveis às de FC, CF e
C, Silveira utiliza os mesmos valores ponderais para M (0,5), m (1,0) e
m’(l ,5).

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁsIco


Através dos resultados de EQ e EQ’ poderemos fazer o exame das disposições
afetivas do examinando quando confrontadas com as suas concepções
intelectuais mais amadurecidas (EQ) ou quando consideradas as concepções
imaturas, habitualmente não exteriorizadas. (EQ’).
EXPRESSÕES EMOCIONAIS E AFETIVAS
Níveis de adaptação emocional
O processo emocional corresponde à repercussão da noção subjetiva de um
significado - deduzido dos diferentes tons de luminosidade (RL) ou reconhecido no
tom monocromático de uma superficie (C’) - sobre os diferentes níveis de
expressão dos afetos.
Adaptação emocional do adulto implica na proporção:
L+C’> 1+1’, sendo que C’ deverá ser maior que L para indicar um modo mais
espontâneo e produtivo de integração emocional ao ambiente. A prevalência
das emoções mais imaturas 1 e 1’ tanto poderá consistirem um sinal de ansiedade
como imaturidade ou simples retração emocional nas relações com o ambiente.
Para a avaliação destas proporções deveremos levar em conta as respostas
adicionais, com um valor de 0,5 ponto, cujo significado será influenciado pelo
determinante principal da resposta.
Níveis de expressão dos afetos - análise das respostas
cromáticas:
a) Estudo da proporção, considerando como adequada:
FC>CF+C;
b) Análise do conteúdo das RC : conotação positiva ou negativa;
c) Mecanismos de reação que interferem na expressão dos afetos:
inibição ou rejeição, condensação cor, referência ao vermelho, nomeação de cor,
comentários relativos à cor; ou mecanismo
CR0;
d) A ausência de RC (assim como a de RM) tem um significado que deve ser
interpretado, ao contrário do que ocorre com a ausência de RPs ou de RL,
freqüente em protocolos normais.

186

ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL Bisico 187


2. Concepções Centrais para a Identificação do Self
Processos Cognitivos que Intervém na Dinâmica de
Personalidade:
As concepções, papéis e valores centrais do examinando referentes a si mesmo,
assim como o grau de objetividade dos julgamentos e da intensidade com que
intervém na dinâmica de personalidade, podem ser avaliadas através da análise
das RM e das figuras humanas percebidas de modo dinâmico (atribuição de
sentimentos ou intenções mesmo que sem percepção de movimento):
a) Estudo da proporção M:m:m’, sendo a expectativa M>2 e M>m+m’;
b) Análise dos tipos de movimento humano (flexor ou extensor), da qualidade
formal (positiva ou negativa) e do grau de energia envolvido para a realização da
atividade projetada (escala de Piotrowiski)
e) Análise das figuras humanas percebidas em movimento ou de modo dinâmico
(reais, idealizadas, fantasiadas ou disfarçadas, fictícias, monstruosas ou
distorcidas), do grau de precisão da imagem percebida (vagas, distantes, nítidas,
próximas, identificadas quanto ao sexo, profissão ou contexto histórico).
3. Dinâmica Psíquica Atual:
3.1. Direção em que se Aplica a Ativação Psíquica ( ou energia mental)
G/R - O total de G (simples e combinados com diferentes qualidades formais) em
relação ao total de produção no protocolo (R). O valor desejável é o 0,25. A
condição básica para o planejamento das experiências é o investimento da
energia mental para a apreensão das implicações mais amplas das experiências.
Essa capacidade será tanto mais diferenciada quanto maior for o número de
Globais Combinadas com boa qualidade formal.
G:M - O planejamento das ações, que depende da capacidade de
abstração em extrair significados genéricos das situações — expressos

188 RORSCHACH CLÍNICO MANUAL BÁSICO


por G — deve ser comparado à elaboração criativa e pessoal das experiências,
que revela as aspirações do adulto — representada por M. Na maioria dos casos é
mais freqüente formular projetos do que exercer a autonomia no desempenho do
trabalho mental criativo e original. Donde a ocorrência predominante da proporção
equivalente a 3:1, com relação a G e M. Se a ocorrência de ambos os elementos
do protocolo pelo aspecto quantitativo,já é suficiente para indicar disposições
particulares de personalidade, a análise qualitativa de ambos os fatores (tipos de
G e de M e respectiva qualidade formal) poderá fornecer informações mais
específicas sobre a dinâmica psíquica examinada. O desequilíbrio da proporção
3:1 poderá decorrer tanto de uma ambição exagerada na formulação dos projetos
com escassa autonomia para realizá-los (exagero de G em relação a M), como da
tendência exagerada ao devaneio e à introspecção com reduzida iniciativa para a
execução dos projetos (exagero de M em relação a G).
M: C - Neste confronto consideramos dois planos distintos da atividade mental: a
capacidade de auto-afirmação no exame das condições externas — expressas em
M — e a liberação direta e irrefletida de impulsos afetivos não subordinados às
condições do ambiente. No protocolo de indivíduos adultos, é rara a ocorrência de
C e é esperada a presença de pelo menos 2M, indicando maturidade Psicológica.
Quando M<C, que não indica necessariamente anormalidade psíquica, devemos
verificar no protocolo se o examinando possui outros recursos para o controle da
impulsividade.
M: Ps - Este confronto envolve duas expressões distintas das condições
subjetivas: aquela relativa à capacidade de auto-afirmação refletida - indicada por
M - e, a preocupação em definir a própria posição nas relações interpessoais - que
se traduz por Ps. A proporção desejável seria a de 3 : 1, ou pelo menos, M>Ps.
Quando invertida, ela sugere sentimento de inadequação ou necessidade imatura
de dominar o ambiente.
3.2 — Confronto entre os Processos Cognitivos e as Condições Afetivo-
Emocionais
O índice EQ, confronto entre M e SC fornece indicações sobre a estrutura da
personalidade, tal como se manifesta nas relações interpessoais na época do
exame, segundo a concepção de Silveira. O índice EQ’ permitirá verificar, além
disso, se as fantasias e concepções irracionais (m em’) interferemna autonomia
consciente do examinando, modificando o

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO

seu modo de reagir na interaç.o com os Geniais quando sob tensão, ou quando
diminui o controle consciente.
De modo a avaliar a dinâmica psíquica mais ampla que caracteriza
a personalidade atual do examinando confrontamos, no plano manifesto e
latente do comportamento, as concepções intelectuais e os processos
a) No Plano Manifesto:

Vertentes Intelectual e Afetivo-Emocional (Ps + M):( L + C)

As respostas de movimento humano (M) correspondem às elaborações


intelectuais fundamentalmente ligadas à estrutura da personalidade e
indispensáveis ao estabelecimento consciente da auto-afirmação no
desenvolvimento do self, e da formulação individual e criadora dos dados do
ambiente. Este processo cognitivo deve ser comparado com os impulsos afetivos
(C) que se expressam de modo direto no comportamento e que podem intervir nas
ações do indivíduo psicologicamente amadurecido, embora habitualmente sejam
reprimidos pelo convívio social. Todavia, nem M exprime todo processo cognitivo
nem os impulsos traduzidos em C podem deixar de ser modulados pelas reações
emocionais.
Assim, no setor intelectual, a autonomia individual e o desenvolvimento de
papéis básicos durante a evolução do pensamento lógico no processo de
socialização,-representados por M - não são suficientes para a plena adaptação à
realidade. As solicitações do contexto situacional impõem-se sobre as concepções
pessoais. O indivíduo deve situar-se objetivamente frente às exigências da
realidade externa, comparando-se com os demais de modo a definir sua posição
no ambiente. Tal dinamismo, que antecede o pleno desenvolvimento da auto-
afirmação, acha-se representado na prova de Rorschach pelo determinante Ps.
No setor afetivo, as emoções que decorrem das noções advindas da expressão
direta dos impulsos (C) e de suas conseqüências, se exprimem no fator L. Este
processo emocional, quando em situações normais, favorece a atitude cautelosa e
sensível do examinando ao expressar seus afetos

No estudo da dinâmica psíquica consciente comparamos os processos


cognitivos com os afetivo-emocionais, incluindo em cada setor os dois pólos
opostos mas não antagônicos: as reações derivadas do estímulo ambiente e
exercidas como adaptação (Ps e L) e as propriedades intrínsecas devidas à
própria estrutura da personalidade (Me C).

189
afetivo-emocionais.

190 RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico


b) No Plano Latente
Vertentes Intelectual e Afetivo-Emocional - (m+ m’): (1+ l’+ C’)
As reações intelectuais latentes, representantes de uma fase anterior do
desenvolvimento, em que as concepções ainda se acham subordinadas aos juízos
de valor, as fantasias emocionais que caracterizam a adaptação imatura do
indivíduo no ambiente, são traduzidas no Rorschach pelos determinantes m e m’.
Tais concepções, na realidade, nunca desaparecem inteiramente da vida mental
do ser adulto. Ao contrário do que ocorre com o modo subjetivo com que a criança
pequena se situa no ambiente (traduzidas no Rorschach por ps e ps’), as
concepções decorrentes dejulgamentos de valor (m em’) intervêm indiretamente
nas concepções de ordem racional (M).
Por outro lado, como expressão latente das reações emocionais e que
permanecem como pano de fundo de toda experiência afetiva, mesmo as mais
adaptadas, estão as reações subjetivas fundamentalmente associadas ao sentido
do tato. Esse tipo de contato sensual preside as primeiras ligações da criança com
a realidade externa; e, na idade adulta, concorre, em plano inconsciente, para dar
um sentido afetivo e pessoal às experiências objetivas. E representado na prova
de Rorschach pelo determinante 1, o qual pode ser acrescido, e às vezes
substituído, pelo determinante 1’. Além disso, como representativo de uma
adaptação emocional que, embora adequada, é mais superficial e menos criadora
que L, temos as reações expressas pelo determinante C’, dependentes de
experiências concretas e indutivas com o ambiente. Tal adaptação permanece
como forma latente de ligação com a realidade externa, mesmo nos casos em que
a elaboração lógica predomina sobre os juízos de valor.
Em suma, de modo análogo ao que procedemos com o índice EQ’, comparamos
as tendências intelectuais que permanecem em plano profundo (m e m’) ,
interferindo indiretamente sobre as concepções abstratas do indivíduo adulto (M),
com as reações emocionais também subjetivas e menos criadoras, e que
igualmente estão presentes em todo contato afetivo com a realidade (1, l’e C’).
e) Tipos de Confrontos: Exame da Dínâmica da Personalidade
As comparações entre as proporções (M + Ps ) : (E + C) e
(m + m’) : (1 + C’) nos permite avaliar o grau de harmonia na dinâmica de
personalidade, entre o trabalho intelectual e as reações afetivo-emocionais,

RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO

por um lado, no plano manifesto e, por outro, em nível latente de consciência.


Quando (Ps + M) supera o valor de (L + C), em um dado protocolo, verificamos
que as concepções intelectuais prevalecem sobre as reações afetivo-emocionais.
Neste caso, a dinâmica coincide com o

tipo introversivo do índice EQ. Quando na proporção, prevalecer o segundo


membro, as expressões afetivas dominam o psiquismo, tal como ocorre no tipo
extratensivo do índice EQ. Ou ainda, quando ambos os membros tiverem igual
valor, teremos uma dinâmica ambigual- dilatada ou então coartada (no caso dos
valores de ambos os membros da proporção serem inferiores à 3).
As informações fornecidas pela análise dos fatores conscientes que compõem a
proporção são de ordem mais especifica, individualizada e variável, que aquelas
fornecidas pela análise do índice EQ. De fato, não apenas o resultado numérico
dos valores confrontados como também a intensidade com que cada um deles se
apresenta no protocolo, nos fornecerá indicações precisas e atuais sobre a
personalidade em estudo. De modo semelhante, o confronto entre as proporções
(m + m’): (1+ C’) indica a interferência predominante das fantasias (m e m’) ou das
expressões mais primárias das emoções (1 e C’) no piano da consciência. Neste
caso, é importante no apenas confrontar os resultados com o valor do índice EQ’
como também com os fatores conscientes das respectivas esferas da
personalidade: (m+ m’) com (Ps + M) e (1+ C’) com (L + C)
Trata-se aqui de um estudo particular da dinâmica de personalidade,
peculiar a cada examinando, portanto não se justificaria a avaliação
estatística dos resultados. Cabe ainda ressaltar que quando os

determinantes que compõem as proporções estudadas aparecem como fatores


adicionais das respostas, eles deverão ser computados com o valor 0,5 ponto.
4. Disposições Conativas

A subordinação das concepções e necessidades subjetivas às condições do


mundo exterior traduz-se na prova de Rorschach pela predominância percentual
do determinante F sobre quaisquer outros fatores determinantes.

A capacidade de manter estável a atenção para o julgamento objetivo das


situações é avaliada no Rorschach pelo índice %F+. Esta capacidade não decorre
de uma estrutura estática mas de um processo essencialmente dinâmico e
fundamental para a aquisição do conhecimento e para a integração no ambiente.
Pelo fato de refletir a aplicação da

191

192 RORSCHACH CliNico — MANUAL BÁSICO


inteligência ao exame da realidade objetiva consideramos que F+ exprime
dinamismos extrinsecamente intelectuais e decorrentes das funções conativas da
personalidade.
Por outro lado, os fatores afetivo-emocionais e cognitivos constituem o conjunto de
disposições individuais que absorvem a atividade explícita. De fato, o rendimento
da atividade explicita, em função das exigências externas, depende da capacidade
do indivíduo de subordinar as próprias concepções cognitivas e as necessidades
afetivas às condições concretas do ambiente.
O controle seletivo e a modulação das disposições subjetivas para o exercício e a
manutenção da atividade consciente decorre das funções da esfera conativa. O
conjunto desse processo conativo foi considerado por Binder como o componente
“formativo-ativo” ou sofropsíquico da personalidade.
Na prova de Rorschach a avaliação da eficiência desse processo
mental pode ser feita através do índice de conação , concebido e testado
por Silveira (1944-55).
Construção do Índice Conação
Para a construção do índice, Silveira utilizou as duas modalidades
de expressão da forma na prova de Rorschach:
a) como valor quantitativo ou F total, que inclui F+, F- e F°. Deste total de
respostas formais (RF) ele subtraiu o número de respostas de todo o protocolo
(R), em valor percentual. Deste modo ele obteve a percentagem de todas as
respostas do protocolo que não foram determinadas exclusivamente pela forma
das manchas e que traduzem o conjunto de expressões afetivo-emocionais e
cognitivas mobilizadas durante aprova, isolando assim os processos conativos em
ação: %(R-F).
b) como índice qualitativo %F+ do qual se subtrai o valor de % (R-F) permitindo
avaliar o grau de eficiência e objetividade da atividade
explícita.
Portanto o índice resulta em:
Con = %F+ — % (R-F) ou, para facilitar o cálculo:
Con %F+ —(100 - %F)j

RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 193


Os valores obtidos para a nossa população normal foram muito próximos daqueles
obtidos por Silveira, mas com desvio padrão relativamente maior, (ver Parte III do
Manual) o que nos levou a adotar a faixa de variação referida a seguir.
Protocolo Total: Faixa de variação: 44 à 55%
Embora Silveira tenha calculado sistematicamente o índice de conação para os
conjuntos de estímulos monocromáticos e coloridos, ele não fez avaliação
estatística nestes subgrupos. Em nossa população o cálculo estatístico evidenciou
que enquanto para conjunto monocromático a distribuição dos valores se faz
segundo uma curva normal, o mesmo não ocorre com os valores do conjunto
cromático, dada a grande variedade de reações individuais à estimulação afetiva
direta, por isto, para este último caso optamos pela utilização estatística dos
quartís, como referência (ver Parte III do Manual).
Conjunto monocromático:Faixa de Variação 56 à 68
Conjunto cromático: Faixa de Variação:39 à 45
O fato do índice de conação e a %F+ terem valores mais baixos nos conjuntos
coloridos indica que mesmo no psiquismo normal a ativação direta dos afetos
interfere na imparcialidade dojulgamento de realidade e no controle conativo para
a expressão pertinente e produtiva da atividade explícita.
Embora implicando uma reflexão teórica, que escapa ao propósito deste manual,
convém notar que os valores do índice de conação que superam o limite máximo
da faixa de variação normal não indicam elevado rendimento da atividade
explícita. Eles apenas refletem a dependência exagerada do indivíduo às
condições externas, sua deficiência de autonomia em suas iniciativas, com rigidez
(ou escassez) dos recursos pessoais que seriam desejáveis ao exercício da auto-
afirmação no ambiente.
Por outro lado, os valores do índice de conação que não atingem ao limite mínimo
esperado indicam dificuldade de manutenção dos propósitos, incapacidade em
reprimir as ações inadequadas ou desinteresse pelos eventos externos.
A interpretação clínica deste índice deverá levar em conta as
categorias de determinantes (R-F) que enriquecem, ou que desgastam, o
rendimento da atividade explícita.

194 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


III - SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS
1. Choques Psicológicos: Expressões Diversas da Ansiedade.
Os diversos autores atribuem como sinal de “choque” pequenos desvios no
comportamento, subjetivo ou explícito, ante as diferentes pranchas. Desta forma,
estes sinais são habitualmente analisados prancha por prancha, ganhando
variadas denominações, como: choque ao vermelho, choque ao movimento,
choque ao azul e assim por diante. Esta prática, no entanto, por não se mostrar
fecunda à interpretação dos protocolos, foi reavaliada por Silveira (1963),
sistematizando-a, tornando- a precisa e imprescindível na avaliação
psícodiagnóstica. “Pela singularidade e pelo valor diagnóstico que implica, o
choque psicológico — em última análise expressão da ansiedade — deverá ser
considerado com critério rigoroso para que se torne válido” (Silveira). Com esta
finalidade, o autor assinala a necessidade de agrupar as reações do examinando
frente ao conjunto de estímulos coloridos ou frente aquele monocromático, como
forma de garantir a natureza homogênea das reações: choque afetivo (ligado aos
estímulos coloridos) e choque emocional (ligado aos estímulos monocromáticos).
Os desvios psicológicos que traduzem o fenômeno de choque psicológico foram,
portanto, reunidos por Silveira em dois grupos (colorido e monocromático),
obedecendo uma escala de dez sinais decrescentes, quanto à intensidade do
dinamismo, devendo ser analisados separadamente em cada conjunto de
pranchas. Coelho (1980), dando continuidade ao seu trabalho, atribuiu valores
ponderais específicos aos desvios em função da importância do comprometimento
mental revelado por cada um deles, tornando mais criteríosa a aferição do choque
psicológico. Portanto, deve-se realçar aqui a necessidade de comparar os desvios
abaixo especificados entre os conjuntos monocromáticos e coloridos sendo
considerados choques apenas aqueles que se mantiverem diferentes e peculiares
ao conjunto de pranchas em questão. Ainda cumpre assjnalar que em protocolos
onde houver repassagem, os dados utilizados na tabulação de choque deve
referir-se somente à primeira associação.
CHOQUE AFETIVO (chC)
Ordem decrescente de alteração Psíquica
a) Sinais mais significativos de distúrbios inconscientes (somatória 11
pontos).

RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 195


1. Rej. Total ou parcial:
Incapacidade para associar ante as pranchas II, III ou VIII, especialmente. E
considerado como Rej parcial ou bloqueio quando após haver Rejeitado na fase
associativa, o sujeito consegue dar pelo menos uma resposta no repasse.
A exclusão de choque na prancha IX deve-se ao fato dela ser o estímulo da prova
que oferece maior dificuldade associativa, facilitando a ocorrência do mecanismo
de Perplexidade ou, quando provoca reação emocional isto se deve a conflitos de
ordem atual e consciente.
A rejeição da prancha X decorre de processo distinto, uma vez que ela
habitualmente favorece maior número de respostas. No caso, a sua rejeição não
deverá ser considerada como choque quando decorrer da reação negativa do
examinando (sobretudo daquele com G elevado) diante da dispersão dos
estímulos =3 pontos.
2. Degradação do nível formal:
Queda da %F+, substituição de F+ por F (do tipo arbitrário ou
vago ou dinâmico) ou aumento da %F- quando comparada com o grupo
monocromático = 2 pontos.
3. Desvio do fator M:
Ausência de M, desvio de M para F (Inibição ou tendência à M)
ou então: M<m+m’ou ainda: ocorrência de M de má qualidade formal,
projetado em p ou tendência à M em pH =2 pontos.
Um destes desvios deverá ocorrer exclusivamente no conjunto
cromático.
4. Desvios nas respostas cromáticas:
RCOou
FC = O e degradação na integração formal — ocorrência de
condensação cor (F(C)) ou em CF (imagens vagas ou deterioradas ou
ainda, ocorrência exclusiva de C ou mesmo nC =2 pontos.
5. Desvios no conteúdo explícito:
Queda da %V e exagero de conteúdos primários (an, sx, sg, fg, al,

196 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


ml) acarretando queda da %A. Caso, a redução da %A decorrer do aumento de
conteúdos socialmente diferenciados (H, ri, arq, art, ab, ci) não deverá ser
considerado como choque. Estes desvios tanto poderão ser considerado como
choque quando ocorrer no conjunto cromático, como quando apenas for
observado em uma das pranchas referidas (II, III e VIII) =2 pontos
Observações:
— Os sinais 1 e 2 indicam distúrbios afetivos que interferem nojulgamento da
realidade.
— O sinal 3 revela alteração na construção da identidade subjetiva
— O sinal 4 indica dificuldade ao nível da expressão dos afetos
— O sinal 5 decorre da prevalência de impulsos afetivos primários que compõem
interesses relacionados à individualidade, em detrimento do
interesse espontâneo e da integração aos valores sociais.
b) Sinais de ordem cognitiva, ainda que decorrentes de distúrbios afetivos
inconscientes (somatória 5 pontos)
6. Mecanismos anormais de reação
Perplexidade, perseveração de conteúdo, Reversão, Reações específicas aos
estímulos cromáticos: condensação cor, nC, referência ao vermelho, comentário
negativo de cor ou outros mecanismos inusuais decorrentes de alterações
psíquicas de ordem mais peculiar. Deve ser considerado como sinal quando
ocorrer em uma das pranchas referidas (II, III e VIII) ou apenas no conjunto
cromático 1 ponto.
7. Diminuição do índice de elaboração:
Depreciação de eiab. por substituição das construções de ordem
racional ou realista (Z 1) por concepções sincréticas ou primárias (Z2)
Redução do Elab total ou de Elab/R (Z 1 de Beck) ou ainda Z 1 O
em II, III ou VIII = 1 ponto
8. Alteração do Tempo e da Produtividade:
— Aumento do tempo total ou do T/R ou Aumento do T.r.i. para 1 minuto ou mais
apenas no conjunto cromático ou em II, III ou VIII associado à

RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 197


Redução do número de Respostas no conjunto cromático (Rc < 16
ou então
Af< 1,2) 1 ponto
9. Restrição das categorias:
Escassez de categorias na faixa de conteúdos acompanhada por
estereotipia, isto é, elevação da %A ou perseveração de uma categoria
primária de conteúdo ou então,
Redução acentuada na faixa de conteúdos quando comparada à
faixa do conjunto monocromático.
Além disso, deverá ocorrer restrição na faixa de determinantes, observada através
do rebaixamento relativo do índice lambda (Lbda< 0,50) ou pela ocorrência
exclusiva de apenas uma das séries de fatores determinantes = 1 ponto
10. Desvio nas modalidades de observação:
Queda de G ou sua degradação formal (respostas vagas ou sincréticas) e exagero
de E à custa de O. Independentemente da incidência do fator P, a queda de O
deverá acompanhar-se elevação de E ou da ocorrência de outras modalidades
menos freqüentes (P0, GP, p’) = 1 ponto.
SOMATORIA TOTAL =16 pontos . A ocorrência de 8 ou mais
pontos será considerada como “choque afetivo”
CHOQUE EMOCIONAL (chL)
Ordem decrescente de alteração psíquica.
a) Sinais mais significativos de distúrbios inconscientes (somatória 11
pontos)
1. Rejeição Total ou parcial
Incapacidade para associar ante as pranchas IV, V e VII em particular. Na prancha
1 apenas será choque quando não se tratar de uma mera reação à situação da
prova ou de falta de compreensão da tarefa solicitada ao sujeito. Por outro lado, a
rejeição ou bloqueio na prancha VI é muito freqüente e resultante de conflitos
emocionais de ordem consciente,

198 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


geralmente ligados à sexualidade (maior freqüência da percepção de órgãos
sexuais nesta prancha, assim por ex. Small assinala 17 respostas de sx em 10
áreas distintas da prancha VI). Portanto, a rejeição da prancha VI só deve ser
considerada como choque quando houver nas demais pranchas sinais indicativos
de conflitos de ordem sexual ou de respostas sx com má qualidade formal. 3
pontos
2. Interferência na qualidade formal:
Exagero da %F+ com elevação até 100% ou
Grande queda na %F+, sendo que nas cromáticas esse índice atinge
pelo menos o valor crítico de 75% =2 pontos
3. Inibição do Determinante M:
MOou
Ocorrência de um dos tipos de inversão das proporções:
M<Ps e M<m+m’ou
M < L e M <m+ m’
Valor 2 pontos
4. Desvios nas modalidades de observação:
Excesso de G ou
Ocorrência de p’, PG ou GP 2 pontos
5. Desvio no Conteúdo Explícito:
Queda da %V (quando no conjunto cromático a %V for maior ou
iguala 16) ou
Exagero da %V (%V maior ou igual à 34% nas monocromáticas). Um destes
desvios deverá ser acompanhado de: %A> ou igual á 50% nas monocromáticas)
nversão do tipo: pH>H ou RH = O apenas no conjunto monocromático. = 2 pontos
Observações:
— Os sinais 1 e 2 referem-se a distúrbios na integração com a realidade,
geralmente caracterizados como extrema rigidez.
— O sinal 3 é distinto do sinal 3 do choque cromático devido ao fato dele não
corresponder propriamente a distúrbios na identidade subjetiva,

RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 199


mas sobretudo à dificuldade de auto-afirmação no contato interpessoal, decorrente
quer da preocupação exagerada do examinando com a posição ocupa no
ambiente, ou em identificar as ameaças externas (Ps e L) quer, devido ao refúgio
em fantasias e concepções irracionais (m em’).
— Os sinais 4 e 5 traduzem fuga de envolvimento direto nas situações, tensão
emocional e conflitos no convívio interpessoal.
b) Sinais de ordem mais cognitiva, ainda que também decorrentes de distúrbios
emocionais inconscientes
(somatória 5 pontos).
6. Subjetivismo
a) Ocorrência de 1’ e um m’2 ou ps’ como determinante principal apenas no
conjunto monocromático. Q,
b) Exagero de um destes determinantes — ocorrência de um destes fatores como
principal e 0,5 ponto como adicional, cuja soma ultrapasse aquela dos fatores
mais desenvolvidos da respectiva escala: 1’> 1 +L ou C’; m’2> m’+ m +M; ps’ 1,
pela raridade deste fator a sua mera presençajá é significativa. Ou,
c) Ocorrência de ambos os desvios anteriores. Pontuação: 1 ponto
7. Mecanismos anormais: como em CHC, mas que ocorram exclusivamente no
conjunto monocromático. =1 ponto
8. Diminuição da Elab.: Como em CHC mas em relação às pranchas, IV, V e V1I=
1 ponto.
9. Alterações de Tempo e da Produtividade:
a) Tipo inibição: Aumento do Tempo total das monocromáticas ou da T/R (pelo
menos 25% maior que o das cromáticas) ou TRI > ou igual à 1 minuto em uma das
pranchas IV, V e VII. Associado à redução no número de respostas (Rm < 12).
b) Tipo excitação: Redução do tempo total de respostas das monocromáticas ou
da TRM (de pelo menos 20% menor que o das cromáticas) ou resposta imediata
em uma das pranchas — IV, V e VII associado à elevação no número de
respostas (Rm>26).

200 POPSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


10. Restrição das Categorias como em CHC
Escassez de categorias na faixa de conteúdos, quer devido ao aumento do
conteúdo A, quer à perseveração de conteúdos primários. Ou redução da faixa de
conteúdo quando comparada à do conjunto cromático. Desvios associados à de
restrição na faixa de determinantes — como em CHC.
SOMATÓRIA TOTAL: 16 pontos . A ocorrência de 8 ou mais
pontos será considerada como “Choque emocional”.
2. SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS
A configuração de conjuntos particulares de desvios dos fatores de Rorschach,
considerados como específicos a determinados tipos de alterações
psicopatológicas, tem sido objeto de inúmeras investigações desde a criação da
prova.
A maioria das pesquisas parte do estudo de protocolos de indivíduos com
diagnóstico de distúrbios mentais, como depressão, esquizofrenia, neurose,
personalidade psicopática, epilepsia, buscando encontrar no psicograma do
Rorschach carapterísticas exclusivas a cada um destes distúrbios, e ausentes em
protocolos de indivíduos normais ou de pacientes com outros quadros clínicos.
Trata-se de um procedimento indutivo, de valor explicativo e preventivo reduzido,
mas útil para a exploração dos distúrbios mentais tais como eles se expressam no
grupo de pacientes examinados, possibilitando o levantamento de questões e
hipóteses teóricas interessantes.
Não cabe aqui a exposição de outro tipo de método de investigação:
o método do hipotético- dedutivo, mais rigoroso e de maior poder explicativo, pois
ele é raramente adotado no campo clínico.
Atualmente, devido ao predomínio do procedimento empírico e da avaliação
quantitativa dos distúrbios mentais, a busca de “sinais psicodiagnósticos” no
Rorschach tomou-se ainda mais freqüente, junto com a criação de novas escalas
e questionários psicológicos.
A pesquisa dessas configurações significativas de sinais deve
prosseguir, entretanto devemos utilizar com muita prudência os resultados
numéricos dessas escalas psicodiagnósticas, eles apenas permitem levantar
a suspeita da ocorrência possível de um distúrbio psicopatológico. Apenas
a análise específica dos fatores envolvidos nessas escalas poderá trazer
maior esclarecimento sobre a natureza do distúrbio examinado.

PORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 2O


Por não considerarmos ainda como suficientemente testado o valor dos sinais de
ansiedade (Coelho, L. e Costa L., 1987-1988) e o de agressividade ( Fazzani, R e
Coelho, L., 1993) exporemos aqui apenas duas séries de sinais: os Sinais
Psicógenos de Molly Harrower e os Sinais Lesionais de Piotrowiski. Estas séries
são sistematicamente incluídas na elaboração do psicograma do Rorschach
clínico, por terem se revelado úteis para o diagnóstico diferencial e sobretudo para
expressar dinamismos psicopatogênicos peculiares.
1. SÉRIE DE MOLLY HARROWER: Distúrbios Psicógenos (Adaptação de Anibal
Silveira em 1942 e reavaliação empírica
de Coelho, em 1999.)
A Série de Harrower, com as ligeiras modificações sugeridas na época por outros
autores, consiste nos seguintes sinais, designados segundo a nomenclatura
original (MH) e na nomenclatura de Silveira (AS). Na última coluna encontram-se
os valores ponderais atribuídos por Molly Harrower e aqueles sugeridos por
Coelho, com base em sua pesquisa (Boletim da Sociedade Rorschach de São
Paulo -2000).

Total 17 16
* Valor mínimo de somatória de sinais para
consideração de distúrbios psicógenos no Critico 8 7
protocolo de Rorschach examinado.

-
SINAIS CONDIÇÕES VALOR
MODIFICAÇAO
(MII) (AS) INICIAIS PONDERAL
(Outros A utores)

M.II. COELhO

R R R<25 1 O
R<12
M M MouI 2 2

FM 2M ou
FM m FM > M 0,5 1
FM = O

%F %F F>ou50% ou%F<10% 1 O____

Fracasso, Rejeição,
Fa In 3 3
iprancha.

FC FC FC=0 3 3

ou %A + anta > ou
%A %A %A > ou = 50% 1 0,5
=65%

% % % anat > ou = 50% 1 0,5


Anat an

Choque à Cor (Rejeiçâo,


CS CHC 2 3
inibição ou aItL)

Choque de
Som breado (o
SS CHL 3 3
mesmo, em IV e
VI)

202 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO


Molly Harrower atribuiu valores ponderais aos sinais de modo a distinguir o valor
discriminativo de cada um deles: os sinais Fa, FC e SS receberam peso 3; os
sinais M e CS receberam peso 2; os sinais %F, %A, %Anat e R receberam peso
1, e foi dado o peso de 0,5 pontos para o sinal FM. Sendo a somatória total igual a
17,5.
Ainda nesse mesmo trabalho, a autora levanta a questão sobre o valor de sua
Série de Sinais para o diagnóstico diferencial entre pacientes neuróticos,
psicóticos e orgânicos. E, de fato ela verificou a possibilidade de ocorrência de
cinco sinais em pacientes com alterações lesionais ou funcionais do Sistema
Nervoso Central: R, M, %F, Fa e %A. Porém nesses protocolos, o diagnóstico
diferencial tornava-se possível devido a alterações típicas , além de apresentarem
igualmente um número elevado de sinais da Série de Piotrowiski, concebida pelo
autor em seu estudo sobre esse tipo de transtornos orgânicos. Em relação aos
protocolos de pacientes psicóticos, Harrower encontrou igualmente a possibilidade
de ocorrência de cinco ou mais sinais de sua Série, sendo que os sinais FM e CS
eram aqueles cuja ocorrência oferecia maior poder de discriminação, pois
raramente ocorriam em psicóticos. Além disso, a população psicótica se distinguia
pela ocorrência de mecanismos típicos, tais como contaminação, respostas
bizarras, discrepância entre a qualidade das formas, etc.
Feitas tais considerações, concluiu-se pela aceitação da validade desses sinais
como indicadores da intervenção, total ou parcial, de fatores psicógenos na
etiologia dos casos clínicos, com a importante ressalva de que nenhum dos sinais,
considerados isoladamente, eram patognomônicos.
Desde 1943, Anibal Silveira introduz em seu sistema de avaliação da prova de
Rorschach os sinais de Molly Harrower. Entretanto, seu critério para a
classificação das respostas e para a avaliação dos choques psicológicos, por
serem mais rigorosos, permitiram maior fidedignidade à série original dos sinais
psicógenos.
Convém ainda mencionar o comentário final de nosso artigo (Coelho 2000):
“embora útil, como elemento de pesquisa, o agrupamento dos resultados, em
conjuntos significativos de desvios em fatores espec(ficos da prova de Rorschach,
de modo a correlacioná-los aos distúrbios mentais examinados pelo clínico, não
autoriza a atribuição de um diagnóstico psiquiátrico. A dinâmica psíquica,
normal ou patológica, tal como ela é apreendida através da Prova de Rorschach, é
de ordem mais profunda e espec(flca que os desvios psicopatológicos codificados
pela nosologia psiquiátrica. Portanto, a ocorrência signfl cativa de sinais de
Harrower em um protocolo de Rorschach

RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO 203


indica a presença de distúrbios psicógenos que interferem, de modo particulai na
dinômica de personalidade de cada examinando, mas em si mesmos, esses sinais
não são patognomônicos de um quadro clínico, tal como ele é codificado na
classificação das doenças mentais “. (pg. 64)
2. SÉRIE DE PIOTROWISKI
Segundo a experiência de Piotrowiski (1937), a ocorrência de cinco ou mais sinais
desta série é indicativa de desorganização mental decorrente de lesões cerebrais.
Portanto, o que estes sinais indicam é a presença de distúrbios mentais
decorrentes de alterações orgânicas do sistema nervoso central, e não
simplesmente o diagnóstico de lesões cerebrajs, efetuado pelo neurologista.

1
NO. SÍMBOLO SIGNIFICADO

1. R Total de respostas inferior a 15.

2. T Tempo médio de reação por resposta superior a 1 minuto

3. M Uma única resposta M, ou menos

Uma resposta nC, ou mais de uma, como determinante: o


4. nC examinando considera a nomeação de cor como resposta
satisfatória, sem necessidade de explicação.

5. %F+ %F+ inferior a 70% ( ou 75%, para Silveira)

Resposta automática: frases esteriotipadas, de preenchimento.


6. Foram observadas originalmente por Oberholzer, o paciente
Aut
7. responde com uma frase habitual, não pertinente, como uma
reação mecânica diante de situações não familiares.

Liberação de respostas inadequadas, por incapacidade de reprimi-las,


apesar de reconhecê-las como tais. Os examinandos as consideram como
absolutamente incorretas pois. esses pacientes supõem que existam
respostas certas ou erradas no Rorschach. Nesse caso eles se dão conta de
que pelo menos uma de suas respostas é absurda, mas não consegue inibi-
Ia. Este mecanismo decorre do fato dos pacientes com lesões cerebrais
Lib terem a capacidade de autocrítica conservada, mas de não conseguirem
corrigir seus erros. Sentem-se impotentes no controle da expressão verbal.,
apesar de estarem firmemente convictos de cometerem um engano. A Lib
pode ocorrer em um protocolo de adulto normal, mas neste caso, isto se
deve à consciência do examinando das inúmeras possibilidades de
interpretação oferecidas pelos estímulos do Rorschach, e dele ter se
precipitado na escolha de sua resposta.

204 PORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO


Para Piotrowiski (1937) os sinais mais significativos são: nC, Ppl, Aut; e, a
ocorrência de cinco dos sinais da Série seria suficiente para se diagnosticar lesão
cerebral como causa de alterações mentais. Silveira valorizatambém
aocorrênciado sinal %F+. Pretendemos investigar essa série de sinais, tal como
fizemos com a série de Harrower, mas no caso, será necessária a utilização
conjunta de alguns testes neuropsicológicos para o exame dos pacientes
O estudo de várias das Séries de Sinais Psicodiagnósticos propostas pelo Sistema
Compreensivo de Exner nos parece igualmente interessante. Mas no caso, será
preciso identificar previamente as implicações teóricas de cada índice da série
considerada, de modo a tornar possível a transposição dos fatores envolvidos
para o nosso sistema de classificação das respostas.

NO. SÍMBOLO SIGNIFICADO

Perplexidade, falta de confiança na própria capacidade.


Corresponde à uma atitude de surpresa diante da dificuldade
apresentada pelo estímulo , quando o examinando solicita
alguma ajuda ou esclarecimento. Esses pacientes sentem-se
8. PpI inseguros quanto à capacidade cognitiva, necessitam do apoio
do examinador, e mesmo quando tentam dar alguma resposta,
ficam perguntando se ela é ou não correta. Portanto a Ppí se
revela através das expressões verbais e reações
comportamentais do examinando.

Repetição da mesma resposta em pelo menos três diferentes


pranchas, por perseveração de um tipo especial. Corresponde à
simples reutilização, em estímulos dilbrentes, de uma resposta
9. Rpt que pareceu , ao examinado, adequada para uma situação .A
primeira , desta série de respostas, pode até ser precisa e de
boa qualidade formal, mas as demais são geralmente arbitrárias
e mal definidas.
Percentagem de respostas vulgares inferior à 25%, indicando
10. %V certo grau de dificuldade de apreensão dos padrões de
pensamento, que compõem o consensus social.

RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 205


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ANÁLISE ESTATÍSTICA E
DADOS NORMATIVOS
MANUEL CARLOS PINhEiRO SÁLVIA E
LÚCiA MARiA SÁLviA COELhO
GRUPO DE REFERÊNCIA: POPULAÇÃO NORMAL
Critério de Seleção dos examinandos
EM trabalho publicado em 1997 pela Sociedade Rorschach de São
Paulo, acham-se referidos os critérios adotados para a construção de nossa
população normal de examinandos. Basta aqui lembrar que
a seleção dos 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais obedeceu a um
critério teórico do conceito de normalidade. Segundo esse conceito, a normalidade
psíquica não corresponde à uma realidade estatística, ela não se define com uma
média correlacionada a um grupo social. Não decorre de uma acomodação aos
padrões dominantes de comportamento, mas ela é concebida como uma noção
limite que define o máximo da capacidade mental do indivíduo para a adaptação
às condições do ambiente. Nesse caso, os pacientes com distúrbios psíquicos não
se diferenciam tanto da maioria quanto eles se afastam das suas condições
habituais de existência, pela alteração, ou mesmo ruptura, da harmonia da
dinâmica de personalidade.
Não cabe aqui a discussão do conceito de normalidade psíquica, reportamos o
leitor para a consulta do livro de G. Canguilham: “Le normal et lepathologique” e
do artigo de Ruy B. Mendes Filho:” O conceito de normalidade em Psiquiatria”,
onde o autor expõe as concepções de Silveira.
Portanto, a população aqui estudada não representa a população
média brasileira, mas é composta por brasileiros cujo comportamento foi
observado por Silveira ou Coelho no decorrer de pelo menos dez anos

212 PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO


— sendo que dentro desse período foram submetidos à prova de Rorschach
- e que apresentaram integração harmônica ao ambiente, sem desvios
graves de conduta ou de personalidade, quer de ordem dinâmica quer de
ordem estrutural,
Critério semelhante foi adotado por II Rorschach (1932) e por S. Beck (1950)
para a composição de seus grupos normais de referência, apesar destes autores
não terem observado o comportamento dos examinandos durante um período
mais prolongado.
Mais recentemente, Exner (1994) incluiu em sua população normal examinandos
“sem história psiquiátrica conhecida” e que se apresentaram como voluntários
para serem submetidos à prova de Rorschach. Reuniu assim urna amostra de
“setecentos (700) adultos não pacientes, estratificados por distribuição geográfica
e parcialmente pelo nível sócio- econômico”. A idade média destes examinandos é
a de 32 a 36 anos, com amplitude de 19 à 70 anos, sendo 50% de cada sexo.
(Exner, 1994, pgs 199-200).
E interessante observar que, apesar do critério rigoroso de seleção estatística
para a obtenção de protocolos de Rorschach de uma população média norte —
americana, Exncr não encontrou diferença significativa em relação às variáveis
demográficas (estado civil, educação, faixa etária, raça, local de residência e nível
sócio econômico), com exceção do nível nove da Escala de Hollingshead e
Redlich de classe social. O nível 9 corresponde à indigentes, que entretanto
puderam ser incluídos no grupo geral “sem afetar signfIcativamen1e nem as
médias, nem os desvios padrões” dos fatores do Rorschach (Ibid,pg 201). E,
mesmo desdobrando os fatores do Rorschach em inúmeras categorias, definidas
empiricamente pelo confronto indutivo de tipos de respostas e comportamentos
observáveis, Exner verificou que grande parte dos resultados estatísticos foi de
ordem “não-paramétrica”
Pudemos também constatar que parte dos fatores e índices dos protocolos de
Rorschach de nossos examinandos não se distribuíram segundo urna curva de
Gauss, sendo que alguns apresentaram elevado desvio padrão. Este fato se deve
sobretudo aos modos variáveis com que os processos psíquicos se articulam, em
diferentes indivíduos, na integração harmônica da personalidade. Este fato deverá
ser levado em conta em um trabalho futuro, com maior número de protocolos de
Rorschach, onde procuraremos distinguir os principais estilos de integração
psicológica, de modo a formar subgrupos de examinandos normais.
Desde que a distinção dos fatores do Rorschach, e a construção de
índices, se pautem em conceitos teóricos bem definidos, consideramos

RORSCHACH CUNiCO — MANUAL BÁsico 213


indispensável a utilização de um grupo de protocolos de Rorschach de
examinandos normais que sirva de referência no estudo de casos individuais, em
condições normais ou com distúrbios psicopatológicos. Entretanto, é preciso
ressaltar que os resultados estatísticos e as faixas normais de variação,
estabelecidas para cada índice do Rorschach, possuem apenas valor relativo. Os
resultados numéricos apenas fornecem indicações gerais sobre as condições
atuais do processo psíquico em exame. Como nos testes de exame
neuropsicológico, é indispensável a análise dos elementos que compõem os
índices, a intensidade com que intervém no resultado, e a interação que mantém
com os outros fatores do psicograrna.
2. Características da população
Dentre os 100 examinandos, 47 são do sexo feminino e 53 do sexo
masculino. A idade média do grupo é 28,3 com amplitude de 19 a 60
anos,
Todos os examinandos pertencem à classe média, 44% são
estudantes (medicina, psicologia, pedagogia, filosofia, curso secundário);
38% exercem profissão liberal (médicos, psicólogos, assistentes social,
engenheiros e advogados); 8% são técnicos e professores secundários,
2% são comerciantes, 1% militar e os 7% restantes exercem atividades
domésticas.
Em relação ao grau de escolaridade: 82% com curso universitário
completo ou em andamento; 12% com curso secundário e 6% completaram
cursos técnicos.
Dentre os protocolos de Rorschach, 49 foram aplicados e avaliados por Anibal
Silveira, e os 51 restantes aplicados e avaliados por Lucia Coelho (40 protocolos)
ou aplicados por psicólogos especialistas no Rorschach (11 protocolos) formados
pela Sociedade Rorschach de São Paulo. A classificação e elaboração dos 100
protocolos foram revistas por Coelho de modo a garantir a fiabilidade dos
resultados.
ESTUDO ESTATISTICO DOS FATORES DO RORSCHACH
Normalização dos Resultados
Além do critério teórico utilizado para a seleção de examinandos “normais” para
comporem um grupo de referência, devemos levar em conta as possibilidades e a
pertinência da utilização de testes estatísticos,. paramétricos ou não-pararnétricos.

214 RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁsico


As variáveis do Rorschach que permitem a utilização de testes
estatísticos paramétricos são aquelas cujos valores se distribuem segundo
uma curva de Gauss, ou curva normal.
As curvas normais são aquelas que preenchem as seguintes
características.
a. Curto sis igual a três (3).
b. Assimetria igual a zero ,ou seja é simétrica ,em relação a média.
e. O Desvio Padrão é igual a zero no ponto da curva em que fica a
média.
d. Desvio.Padrão igual a Área da Curva abrangida pelo desvio padrão
+1 ou — 1 desvio padrão 68,26%
+2 ou —2 desvio padrão 95,46%
+3 ou — 3 desvio padrão 99,73% zz
Nota: a = desvio
X média
As curvas normais, ou de Gauss, são teóricas, na prática as curvas que se
aproximam destas condições são consideradas normais. O problema para os
pesquisadores em ciências humanas consiste em determinar o grau de
aproximação considerado. Este critério é variável de um autor para outro e
também em relação ao tipo de variável considerada.
De modo a indicar os valores que serão adotados para considerar
que um conjunto de dados tende a formar uma curva normal ,vamos
rever os comentários de alguns autores sobre o assunto.
D.J.Viglione em seu artigo Basic Considerations Regarding Data Analysis (page
198) no livro Personalily and Clinical Psychology Serie (editado por Irving B.
Weiner.,1995 )Afirma: “Ifa distribution isfound to be reasonable normal,parametric
approaches to data analysis may be appropriated “.
Entretanto o autor não mencionou nenhum campo numérico de variação
considerado por ele como “reasonable”, possivelmente porque este valor depende
do grau de complexidade da variável estudada. Assim no campo da psicologia a
tolerância deve ser maior que no campo das

—3a —2a —la X +la +2a +3a

ROSCHACH CUNCO — MANUAL BÁSICO 215


Ciências Exatas. O mesmo autor (página 201) observa: “...parametric statistics are
routilely employed because the data are transformed into a normal curve.
Na tabela dos resultados dos fatores e índices do Rorschach na população nonnal
apresentada no livro “The Rorschach: A Comprehensive System” de J.E Exner
(1994), o autor assinala com parênteses, as variáveis que se afastam da
distribuição normal (variáveis não-paramétricas)
Embora Exner não explicite o critério adotado para considerar uma distribuição de
variáveis como normal., ele aceita as variáveis como tendendo para curva
normal desde que seus resultados estatísticos variem dentro do seguinte campo:
Média / D.P * de 0,24 a 5,3; Curtosis** de 2,16 a 11,87; Assimetria de -1,11 à
1,28.
Notas
* A média dividida pelo desvio padrão (D.P) indica quantos D.P de variação foram
aceitos.
* * o sistema de Curtosis adotado por Exner estabelece o valor zero
para o ponto maior da curva normal ,esta é a razão dos números negativos que
aparecem na suas tabelas .0 outro sistema usado em estatística atribui para este
ponto o valor igual a 3 (três),eliminando portanto números negativos, este segundo
sistema éo usado neste nosso trabalho.
Exner usou uma combinação dos diversos dados estatísticos para estabelecer se
a curva tendia para normal ou não . E , com razão, o autor considera que o
conjunto de oito medidas:— média, desvio padrão, mediana, moda, amplitude,
freqüência, assimetria e curtosis deve proporcionar uma medida muito mais exata
sobre as proporções e índices do Rorschach que qualquer uma delas considerada
isoladamente.
Outro aspecto a ser considerado é aquele relativo ao tamanho da amostra que se
pretende estudar. Em seu livro “Estatística”, P.L de Oliveira Costa Neto, observa:
“....se a distribuição da população não for normal, mas a amostra for
suficientemente grande, resultará, do teorema do limite central, que no caso de
população infinita ou amostragem com reposição, a distribuição da amostra de x
será aproximadamente normal sendo aproximada essa conclusão é extensível ao
caso amostragem sem reposição se populações finitas porém razoavelmente
grandes .“ pag.48

216 RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico


De um modo geral, os estatísticos consideram 40 como um número
mínimo razoável para a composição de urna amostragem., sendo 1000
valor ideal.

CRITÉRIOS ADOTADOS PARA A NORMALIZAÇÃO DOS RESULTADOS


Conforme constatamos, não existe um critério absoluto que permita determinar
quais os valores estatísticos que deveriam ser adotados para se considerar que a
distribuição de urna variável tende, ou não, para uma curva normal, o que
permitiria o uso de testes estatísticos pararnétricos. Decidimos então adotar um
critério mais conservador para estabelecer os parâmetros básicos para aceitação
de uma curva como passível de ser considerada corno normal. Dentre as medidas
estatísticas utilizadas, atribuímos maior peso as seguintes:
VARIAÇÃO

Dentre os 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais utilizados para


elaboração da obra “Estudos Estai ísticos dos Fatores do Rorschach em
população Normal” (publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo —
1997), noventa e quatro (94) protocolos obedeceram os critérios aqui
estabelecidos. Os resultados obtidos para essa população acham-se descritos nas
tabelas e gráficos anexos.
TABELAS ESTATÍSTICAS
PARAMÉTRICA — inclui índices com distribuição normal.
NÃO PARAMÉTRICA — tabelas de freqüência acumulada de todos os índices,
considerados “não - pararnétricos” colocados em ordem crescente. Para
informações adicionais e para visualizar os intervalos que se deseja estabelecer,
consulte os onze gráficos, relaciona os índjces com os valores acumulados em
porcentagens (Exceto para %p’, que apenas ocorreu em um protocolo).

de até

Curtosis 2,10 3,90

Assimetria 0,90 +0,90

MédiaJD.P. >oul,20 11,00

RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO

217

TABELAS

11
III
IV
V
VI
VII

Obs.: Modalidades — Conjunto monocromático

Obs.: Modalidades — Conjunto Cromático

Adaptação à Realidade
Adaptação à Realidade (Monocr. e Cromático)

Cond. Afetivo Emocionais e Disp. Conativas.

ZI, relação entre ELAB/R

BIBLIOGRAFIA
CANGUILHEM, G. - Le normal et lepathologique - Paris, PUF. 1972.
COELHO, L e Salvia,M.C. Estudo Estatístico dos Fatores do
Rorschach em população Normal (Pubi Interna Sociedade
Rorschach de São Paulo). 1997.
EXNER, J. Em - The Rorschach . A comprehensive system vol 1 (trad
para o espanhol: de M.E.Ramírez - El Rorschach: Un sistema
comprehensivo. Madrid, ed. Psimática. 1993
MENDES Filho, R.B. — sobre o conceito de normalidade em psiquiatria.
In.: Boletim da Sociedade Rorschach de São Paulo, Vol. 1 no 2 — Agosto-
Dezembro. 1982.
OLIVEIRA Costa Neto, P.L. - Estatística São Paulo,ed Edgard
Blücher. 1977.
VIGLIONI, D. J. - Basic Considerations regarding data analysis In
Weiner, I.B (Ed), Personality and Clinical Psychological Series (pp
195-226). Hilisdale, NJ.: Lawrence Erlbaum Associates. 1995.

Obs. Intelectual e adaptação à realidade — Modalidades

dos 9 4 casos.

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