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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

PSICOLOGIA – GRADUAÇÃO

Bárbara Fernandes Pontel


Bruna de Paula Santos Maia

A CLÍNICA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL COM


CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.

THE BEHAVIORAL AND COGNITIVE CLINIC WITH CHILDREN WITH AUTISM


SPECTRUM DISORDER.

Contagem
2022
Bárbara Fernandes Pontel
Bruna de Paula Santos Maia

A Clínica Cognitivo e Comportamental com crianças com


Transtorno do Espectro Autista.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a Universidade UNA
Contagem, como parte dos requisitos
para obtenção de título de Bacharel de
Psicologia. Orientado por DR. Alexandre
Ferreira Campos

Contagem – MG
2022
A CLÍNICA COGNITIVA E COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS
COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA.

BÁRBARA FERNANDES PONTEL 1


BRUNA DE PAULA SANTOS MAIA1

RESUMO

O autismo é um transtorno do desenvolvimento humano considerado complexo


caracterizado por comprometimento nas áreas de interação social e comunicação,
padrões de interesses restritos comportamentos estereotipados. Este trabalho busca
modelos de intervenção na abordagem cognitivo e comportamental para pacientes
autistas a fim de desenvolver suas habilidades e capacidades para uma vida mais
funcional e com mais qualidade. O estudo teve como objetivo caracterizar o TEA e
identificar na literatura como as técnicas Cognitivas e Comportamentais podem
contribuir para o tratamento de crianças diagnosticadas com TEA. Para o
desenvolvimento deste trabalho foi utilizada pesquisa bibliográfica, as buscas de
materiais foram obtidas através dos livros da área e pela consulta de artigos e teses
nos seguintes sites de busca: Google Acadêmico (que é um servidor que localiza
produções científicas em distintas bases de dados), Scielo (Scientific Electronic
Library Online) e Pepsico (Periódicos Eletrônicos em Psicologia). Os resultados
mostraram que a abordagem cognitivo e comportamental tem se mostrado bastante
eficaz em casos de TEA pois trabalha aspectos da cognição e mudanças
comportamentais, o que possibilita resultados mais satisfatórios.

¹GRADUANDA EM PSICOLOGIA PELO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DE CONTAGEM


ABSTRACT

Autism is a complex human development disorder characterized by impairment in the


areas of social interaction and communication, restricted interest patterns and
stereotyped behaviors. This work seeks intervention models in the cognitive and
behavioral approach for autistic patients in order to develop their skills and abilities for
a more functional and quality life. The study aimed to characterize ASD and identify in
the literature how Cognitive and Behavioral techniques can contribute to the treatment
of children diagnosed with ASD. 🇧🇷 For the development of this work, bibliographical
research was used, material searches were obtained through books in the area and
by consulting articles and theses on the following search engines: Google Scholar
(which is a server that locates scientific productions in different databases ), Scielo
(Scientific Electronic Library Online) and Pepsico (Electronic Journals in Psychology).
The results showed that the cognitive and behavioral approach has been shown to be
quite effective in cases of ASD as it works on aspects of cognition and behavioral
changes, which enables more satisfactory results.

Keywords: CBT, Autistic Spectrum Disorder, ASD and childhood autism.


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INTRODUÇÃO

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento


neurológico e possui como características principais, dificuldades na comunicação e
na interação social e a presença de comportamentos ou interesses repetitivos ou
restritivos. Na maioria dos casos, os sintomas do TEA são identificados entre os 12 e
14 meses de vida e o diagnostico ocorre entre 4 ou 5 anos de idade. A intensidade
dos sintomas é definida em três níveis, sendo eles, leve, moderado e severo (DSM-5;
APA, 2013).
O termo autismo foi utilizado pela primeira vez por Eugene Bleur, em 1908, para
designar a perda de contato com a realidade, com dificuldade ou impossibilidade de
comunicação, comportamentos que foram observados em pacientes diagnosticados
com quadro de esquizofrenia (AJURIAGUERRA, 1977).
Segundo a ONU (2015), há cerca de 70 milhões de pessoas autistas no mundo, o que
equivale a 1% da população mundial. É importante ressaltar que esse aumento se dá
porque mais autistas estão sendo identificados atualmente (KLIN, 2006) e isso é
decorrente do maior acesso às informações sobre o transtorno, às ferramentas de
identificação precoce, à expansão dos critérios de diagnósticos, pelo aumento dos
serviços de saúde relacionados ao transtorno, dentre outros fatores (FOMBONNE,
2009 apud ZANON; BACKES; BOSA, 2014). Outro dado relevante, é a predominância
do autismo no sexo masculino, numa proporção de 4:1 (SILVA; GAITO; REVELES,
2012).
As causas do transtorno ainda são desconhecidas, apesar de algumas afirmações
considerarem questões multifatoriais, que podem estar associadas à fatores genéticos
e neurobiológicos ou mesmo fatores epigenéticos, imunológicos e ambientais (SILVA;
CARRIJO; FIRMO; FREIRE; PINA; MACEDO, 2018). Há uma diversidade da
sintomatologia no autismo que provoca prejuízos significativos em sua vida, como
dificuldades no desenvolvimento da linguagem, prejuízos qualitativos na interação
social, prejuízo qualitativo na comunicação verbal e não-verbal e nas brincadeiras,
repertório notavelmente restrito de atividades e interesses e pode apresentar
características associadas, como deficiência intelectual, hiper ou hipossensibilidade
aos estímulos sensoriais, distúrbios do sono e alimentares entre outros (e.g., Bailey,
Philips, & Rutter, 1996; Barbaresi, Katusic, Colligan, Weaver, & Jacobsen, 2005).
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O diagnóstico da pessoa com TEA é essencial para ter mais qualidade de vida,
ajudando a buscar e oferecer soluções para situações problemas do dia a dia. É
importante ressaltar que não existe exames laboratoriais, características físicas que
permitem suspeitar o diagnóstico do autismo, pois o mesmo é feito pela comparação
do desenvolvimento humano com os comportamentos específicos do TEA
estabelecidos no DSM (APA, 2003).
Nesse contexto, faz-se necessário um suporte profissional de um fonoaudiólogo,
médico, terapeuta ocupacional, um acompanhamento especial na escola e a atuação
de um psicólogo, que serão pessoas qualificadas, para contribuir e auxiliar no
desenvolvimento neurocoginitivo e comportamental dessas crianças com autismo. Em
relação ao acompanhamento psicológico, a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC)
tem apresentado bons resultados junto aos pacientes com o diagnóstico de TEA. A
abordagem da TCC, desenvolvida por Aaron Beck, no início da década de 1960, é
considerada uma psicoterapia estruturada, voltada para o presente, de curta duração,
direcionada para a solução de problemas atuais e modificação de pensamento e
comportamento disfuncionais (inadequados e/ou inúteis) (Beck 1964). Outra técnica
muito utilizada para trabalhar o TEA, é a Análise do Comportamento Aplicada ou ABA,
sigla em inglês para Applied Behavior Analysis, que pode ser definida como um
sistema teórico para a explicação e modificação do comportamento humano baseado
em evidência empírica (HEFLIN; ALAIMO, 2007).

O presente trabalho teve como finalidade caracterizar o TEA e investigar como a


Terapia Cognitiva Comportamental e a Terapia Comportamental, podem contribuir,
por meio de suas técnicas, para o tratamento de crianças diagnosticadas com o
Transtorno do Espectro Autista, visando melhorar a qualidade de vida delas.

MÉTODO

Trata-se de uma revisão bibliográfica, que teve como objetivo caracterizar o TEA e
identificar na literatura como as técnicas Cognitivas e Comportamentais podem
contribuir para o tratamento de crianças diagnosticadas com TEA. A revisão
bibliográfica tem o intuito de substanciar os resultados obtidos através da pesquisa,
com objetivo de trazer informações e esclarecer o tema apontado. Esse método
permite emparelhar os resultados alcançados aliados a prática da abordagem TCC a
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fim de contribuir para o conhecimento e elucidar acerca do tema pesquisado. As


buscas de materiais foram obtidas através dos livros da área e pela consulta de artigos
e teses nos seguintes sites de busca: Google Acadêmico (que é um servidor que
localiza produções científicas em distintas bases de dados), Scielo (Scientific
Electronic Library Online) e Pepsico (Periódicos Eletrônicos em Psicologia). Foram
utilizados os respectivos descritores: TCC, Transtorno do Espectro Autista, TEA e
autismo infantil. O critério de seleção dos materiais foi baseado na relevância acerca
do tema principal e considerados os estudos produzidos em língua portuguesa
nos últimos 10 anos.

DISCUSSÃO

O TEA é caracterizado por alterações qualitativas nas habilidades de interação social,


dificuldades de comunicação e o engajamento em comportamentos repetitivos e
estereotipados (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2000).
O aparecimento dos sinais surge antes dos três anos de idade, quando os pais já
percebem algumas alterações comportamentais e sociais. As causas do transtorno
ainda são desconhecidas, apesar de algumas afirmações considerarem questões
multifatoriais, que podem estar associadas a fatores genéticos e neurobiológicos ou
mesmo fatores epigenéticos, imunológicos e ambientais (SILVA; CARRIJO; FIRMO;
FREIRE; PINA; MACEDO, 2018).
A seguir, serão aprofundadas algumas questões importantes sobre o TEA, para, na
sequência, serem apresentados algumas formas de tratamento que podem ser
usadas a partir das clínicas cognitiva e comportamental.

HISTÓRIA DO AUTISMO

Os estudos sobre o TEA, se iniciam em 1943 com Leo Kanner nos E.U.A, o qual
descreveu em seu artigo, comportamentos atípicos de 11 crianças, caracterizando-os
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como um isolamento extremo, tendência à mesmice, estereotipias e ecolalia, dando o


nome de distúrbio autístico do contato afetivo, empregando essas características aos
sintomas de esquizofrenia, ainda que os sinais indicassem uma doença específica
sem relação com a esquizofrenia. Em 1944, Hans Asperger, um pediatra austríaco em
Viena (Austria), descreveu em seu doutorado características semelhantes às
identificadas por Kanner em quatro crianças e foi dado a elas o nome de síndrome de
Asperger. Tanto Kanner, quanto Asperger, retrataram competências cognitivas
irregulares, habilidades extraordinárias, particularmente no campo da memória e das
habilidades visuais, que coexistiam com profundos déficits de senso comum e de
julgamento (TUCHMAN; RAPIN, 2009).
Durante a década de 50 e 60, novos estudos foram feitos baseados nas descobertas
de Kanner, trazendo algumas dúvidas e questionamentos, como por exemplo, que o
autismo tinha sua origem na ausência de responsabilidade afetiva dos pais em relação
aos filhos. Faziam-se a metáfora de que os filhos eram mantidos desde cedo em uma
“geladeira que não degela” (ibid, p. 425) e afirmações como a do psicanalista Bruno
Bettelheim: “mantenho minha convicção de que, em autismo infantil, o agente
precipitador é o desejo de um dos pais de que o filho não existisse” (BETTELHEIM,
1987 [1967], p. 137).
Entretanto, na virada dos anos 1960 para os 1970, uma importante inflexão apareceu
nas posições de Kanner sobre as origens do autismo, onde ele declarou: “Fazer os
pais se sentirem culpados ou responsáveis pelo autismo de
seu filho não é apenas errado, mas adiciona de modo cruel um insulto a um dano.
(KANNER, 1968, p. 25).”

A CONSOLIDAÇÃO DO AUTISMO COGNITIVO-CEREBRAL

Na metade dá década 70, os estudos dedicaram-se a estabelecer qual seria a base


cognitiva, necessária e suficiente, para que o autismo se instalasse. Foi essa lacuna
que Damásio e Maurer (1978) tentaram preencher, utilizando experimentos em
animais e fazendo correlações com lesões cerebrais em humanos para identificar os

circuitos neurais que estariam comprometidos nos autistas. Para os autores, as “

falhas no estabelecimento de relações interpessoais” estariam relacionadas à


problemas na dimensão da motricidade (como distonias e discinesias), da atenção,
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da comunicação e dos comportamentos repetitivos. Para Damcomo diMaurer, esses


“defeitos” apontavam para disfunções bilaterais no sistema que incluía o anel do
córtex mesolímbico, situado no lobo frontal mesial e no lobo temporal, o neoestriatum
e os núcleos mediais e anteriores do tálamo.

INSERÇÃO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA NO MANUAL DE


DIAGNÓSTICO E TRANSTORNOS MENTAIS.

Em 1952, foi criado o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais


(DSM) que empregou a palavra autismo, mas relacionando-a aos sintomas da
esquizofrenia. Somente, por volta de 1994, no DSM-4, que o autismo foi reconhecido
oficialmente e a partir do DSM-5 passou a ser conhecido como TEA. A qual determina
que, para o indivíduo ser assim identificado precisará estar de acordo com os
seguintes critérios:
1. Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e nas
interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes;
2. Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação
social: falta de reciprocidade social e incapacidade para desenvolver e manter
relacionamentos de amizade apropriados para o estágio de desenvolvimento;
3. Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades,
manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo: Comportamentos motores
ou verbais estereotipados, ou comportamentos sensoriais incomuns; excessiva
adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento; Interesses
restritos, fixos e intensos;
4.Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se
manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas
capacidades. (APA, 2013)

O TEA apresenta em sua origem a palavra autismo derivada do grego “autos”, que
significa “voltar para si mesmo”. Isto é, os indivíduos que têm autismo passam por um
estágio em que se fecham em si mesmos, perdendo o interesse pelo mundo exterior
e por tudo o que a ele é inerente, já a palavra “espectro” é usada devido existir três
níveis deste transtorno, sendo o severo, moderado e leve. (MORAIS, 2012),
Apresentam-se como características os respectivos níveis:
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Nível 3
Requer suporte: intenso
Comunicação Social: Graves déficits em comunicação verbal e não verbal
ocasionando graves prejuízos no funcionamento social; interações sociais muito
limitadas e mínima resposta social ao contato com outras pessoas
Comportamentos repetitivos e interesses restritos: Preocupações, rituais imutáveis e
comportamentos repetitivos que interferem muito com o funcionamento em todas as
esferas. Intenso desconforto quando rituais ou rotinas são interrompidas, com grande
dificuldade no redirecionamento dos interesses ou de se dirigir para outros
rapidamente.

Nível 2
Requer suporte: grande
Comunicação Social: Graves déficits em comunicação social verbal e não verbal que
aparecem sempre, mesmo com suportes, em locais limitados. Observam-se respostas
reduzidas ou anormais ao contato social com outras pessoas.
Comportamentos repetitivos e interesses restritos: Preocupações ou interesses fixos
frequentes, óbvios a um observador casual, e que interferem em vários contextos.
Desconforto e frustração visíveis quando rotinas são interrompidas, o que dificulta o
redirecionamento dos interesses restritos.

Nível 1
Requer suporte: Sem suporte local
Comunicação Social: o déficit social ocasiona prejuízos. Dificuldades em iniciar
relações sociais e claros exemplos de respostas atípicas e sem sucesso no
relacionamento social. Observa-se interesse diminuído pelas relações sociais.
Comportamentos repetitivos e interesses restritos: Rituais e comportamentos
repetitivos interferem, significativamente, no funcionamento em vários contextos.
Resiste às tentativas de interrupção dos rituais e ao redirecionamento de seus
interesses fixos.
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COMORBIDADES ASSOCIADAS:

As pessoas diagnosticadas com TEA, podem apresentar outras comorbidades


associadas, como problemas comportamentais que incluem hiperatividade,
dificuldade de prestar e/ou manter atenção, atenção hiperseletiva (tendência a prestar
mais atenção nas partes/ detalhes do que no todo) e impulsividade, bem como
comportamentos agressivos, autodestrutivos, perturbadores e destrutivos.
Especialmente em crianças mais novas, comumente se observa uma baixa tolerância
à frustração, acompanhada por “acessos de raiva” e “escândalos jogar-se no chão,
gritar, chorar, bater com a cabeça, se morder, bater nos outros etc. (e.g., Barbaresi et
al., 2005; Lindsay & Aman, 2003; Newsom & Hovanitz, 2006).
Problemas sensoriais como hiper ou hiposensibilidade a estímulos sonoros, visuais,
táteis, olfativos e gustativos, além de alto limiar para a dor física e um medo excessivo
a estímulos considerados inofensivos. Assim, é comum observar nessas crianças, o
medo do barulho produzido dentro dos transportes públicos ou o barulho de um
aspirador de pó, luzes brilhantes podem causar estresse, extrema sensibilidade ao
toque, além dos distúrbios do sono e alimentares, a qual a criança seleciona apenas
alguns alimentos para a sua dieta devido à aversão à textura, cor ou odor e também
pode apresentar resistência para experimentar novos sabores (e.g., Charman & Baird,
2002; Filipek et al., 1999; Newsom & Hovanitz, 2006).
Problemas médicos sendo eles gastrointestinais, episódios recorrentes de diarreia
e/ou constipação, além de refluxo, alergias ou intolerâncias alimentares podem estar
presentes (Newsom & Hovanitz, 2006). Em alguns casos, indivíduos podem
desenvolver transtornos convulsivos ou epilepsia durante a infância ou adolescência
(Barbaresi et al., 2006; Filipek et al., 1999; Nash & Coury, 2003; Newsom & Hovanitz,
2006). Há também a prevalência dos transtornos de ansiedade, incluindo a
generalizada, fobias, TOC, tiques motores, episódios depressivos e comportamentos
autolesivos em torno de 84% dos casos; transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH) em 74% dos casos; deficiência intelectual; doenças
genéticas como a síndrome do x frágil, esclerose tuberosa, síndrome de Williams;
transtornos gastrointestinais e distúrbios neurológicos como epilepsia. Sendo o que
comumente mais coexiste no autismo é deficiência intelectual, presente em níveis de
severidade variados em aproximadamente 60 a 75% das crianças com autismo
11

(Bailey, Philips, & Rutter, 1996; Barbaresi, Katusic, Colligan, Weaver, & Jacobsen,
2005).

INCIDENCIA / PREVALÊNCIA:

A incidência de casos de autismo tem crescido de forma significativa em todo o


mundo. Os primeiros estudos epidemiológicos indicavam uma prevalência de 4 a 5
casos diagnosticados de autismo infantil para cada 10.000 nascimentos (Lotter, 1966;
Wing & Gould, 1979). Investigações mais recentes, porém, estimam um aumento
drástico de casos, atingindo uma média de 40 a 60 casos a cada 10.000 nascimentos
(e.g., Baird et al., 2000; Barbaresi et al.,2006; Bertrand et al., 2001; Chakrabarti &
Fombonne, 2001; Fombonne et al., 2006; Gernsbacher, Dawson, & Goldsmith, 2005;
Schechter & Grether, 2008). Quanto à proporção de incidência entre indivíduos do
sexo masculino e feminino, estudos indicam que o autismo é quatro vezes mais
prevalecente em meninos do que em meninas (Newsom & Hovanitz, 2006).
Certamente pode-se afirmar que esse aumento se deve, à recente ampliação dos
critérios diagnósticos, permitindo, assim, que maior gama de casos seja incluída
dentro do espectro. Existe também uma melhora na capacitação dos profissionais, o
que leva a melhor detecção de casos que antes não eram diagnosticados, ou eram
diagnosticados erroneamente (Barbaresiet al., 2006; Coury & Nash, 2003; Fombonne
et al., 2006).

IMPACTOS NA VIDA:

Em se tratando dos impactos causados pelo TEA, na vida das crianças, as alterações
nas interações sociais, na linguagem e a presença de comportamentos
estereotipados, podem ter a participação na vida social e cultural prejudicada,
acentuando suas dificuldades. Para Vigotski, a linguagem é considerada o centro do
humano, onde todas as suas formas de manifestações se tornam alavancas para o
desenvolvimento dos sujeitos, pois o sujeito, ao fazer uso da linguagem para
comunicação, passa a se inserir cada vez mais na rede de relações sociais e, assim,
mantendo-se no movimento dialético da constituição humana (VIGOTSKI, 2000;
PINO, 2005). Observa-se, que os sujeitos autistas podem vivenciar experiências
sociais restritas e pouco intensas, relacionando-se apenas com o núcleo familiar
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próximo, pessoas de escolas especial e terapeutas (SPROVIERI; ASSUMPÇÃO,


2001). Podem apresentar dificuldades no desempenho acadêmico, na reciprocidade
socioafetiva, nem sempre conseguindo brincar com outras crianças e desenvolver
laços de amizade, ou compartilhar ideias e interesses (SILVA; GAIATO; REVELES,
2012), o que pode impactar negativamente o desenvolvimento e acentuar suas
dificuldades no futuro, como se ingressar no mercado de trabalho, constituir família, o
lazer pode ser comprometido devido as restrições que o autismo trás para a pessoa,
entre outros (GÓES, 2002).

CRITÉRIOS DIAGNOSTICOS

Segundo os critérios do DSM-IV-TR, para que a criança seja diagnosticada com


transtorno autista, ela deve apresentar pelo menos seis da lista de doze sintomas
apresentados, sendo que pelo menos dois dos sintomas devem ser na área de
interação social, pelo menos um na área de comunicação, e pelo menos um na área
de comportamentos restritos, repetitivos e estereotipados. Lista de sintomas do
transtorno autista, por área, de acordo com os critérios oferecidos pelo DSM-IV-TR
(APA, 2003)

COMPROMETIMENTO QUALITATIVO DA INTERAÇÃO SOCIAL:

(a) Comprometimento acentuado no uso de múltiplos comportamentos não-verbais,


tais como contato visual direto, expressão facial, posturas corporais e gestos para
regular a interação social;
(b) Fracasso em desenvolver relacionamentos com seus pares apropriados ao nível
de desenvolvimento (i.e., à sua faixa etária);
(c) Ausência de tentativas espontâneas de compartilhar prazer, interesses ou
realizações com outras pessoas (ex., não mostrar, trazer ou apontar objetos de
interesse);

(d)Ausência de reciprocidade social ou emocional.


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COMPROMETIMENTO QUALITATIVO DA COMUNICAÇÃO:

(a) Atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem falada (não


acompanhado por uma tentativa de compensar por meio de modos alternativos de
comunicação, tais como gestos ou mímica);
(b) Em indivíduos com fala adequada, acentuado comprometimento da capacidade de
iniciar ou manter uma conversa;
(c) Uso estereotipado e repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática;

(d) Ausência de jogos ou brincadeiras de imitação social variados e espontâneos


próprios do nível de desenvolvimento (i.e., da sua faixa etária).

PADRÕES RESTRITOS E REPETITIVOS DO COMPORTAMENTO, INTERESSSE


E ATIVIDADES:

(a) Preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de


interesse, anormais em intensidade ou foco;
(b) Adesão aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos e não-funcionais;

(c) Maneirismos motores estereotipados e repetitivos (ex., agitar ou torcer mãos


e dedos ou movimentos complexos de todo o corpo);
(d) Preocupação persistente com partes de objetos.
A seguir serão discutidas algumas propostas de tratamento que podem ajudar
no manejo dos sintomas centrais do TEA.

TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL E TERAPIA COMPORTAMENTAL

A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), foi fundada no início dos anos 60 por
Aaron Beck, Neurologista e Psiquiatra norte-americano. De acordo com esta
abordagem os indivíduos atribuem diferentes significados a acontecimentos, pessoas,
sentimentos e demais aspectos de sua vida, com base nisso comportam-se de
determinada maneira e constroem diferentes hipóteses sobre o futuro e sobre sua
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própria identidade. Sendo assim as pessoas reagem de formas variadas a uma


situação específica podendo chegar a conclusões também variadas (Beck, 1963;
1964). Dessa forma, a TCC envolve um grupo de atividades terapêuticas que auxiliam
no tratamento de psicopatologias dos seres humanos (BAHLS; NAVOLAR, 2010). Em
relação à cognitiva, pode-se compreender que sua ocorrência se deve à interação de
cognições, condutas; sentimentos; relações familiares; relações sociais; extensões
culturais; e até mesmo o desenvolvimento humano dos indivíduos. Então, ao se falar
em Terapia Cognitiva (TC), certamente, está-se a se reportar aos processos
cognitivos (SILVA; SERRA, 2010). Já a Terapia Comportamental (TC) tem a finalidade
de analisar os comportamentos. Dessa forma, pode-se dizer que ela está baseada
nos princípios da aprendizagem e instrumentos que podem produzir mudanças no
comportamento humano no sentido de torná-lo mais eficaz (WILLHELM, FORTES,
PERGHER, 2015), podendo diminuir a irritabilidade, agressividade, medos e os rituais,
assim como fomentar um desenvolvimento mais apropriado. (PIRES; SOUZA, 2013).
Por isso, a Terapia Comportamental (TC) é efetiva na redução de sintomas e taxas de
recorrência, com ou sem medicação, em uma ampla variedade de transtornos
psiquiátricos (KNAPP; BECK, 2011)
As crianças autistas apresentam dificuldades para organizar os pensamentos para se
comunicarem com coesão e coerência, apresentam dificuldades em iniciar um
diálogo, interpretar atitudes e suas expressões comunicativas e as dos outros. Com o
enfoque cognitivo comportamental, é possível ter um resultado de melhora do quadro
geral autístico, utilizando os princípios da TCC, como aprendizagem, reforço e
modelação comportamental. Para efeito de intervenção, considera-se a tríade de
dificuldades nos pacientes autistas: dificuldade de comunicação; dificuldade de
sociabilização; e dificuldade de usar a imaginação (pensamento e comportamento)
(BAHLS, NAVOLAR, 2010).
O tratamento do TEA deve ser planejado e estruturado de acordo com a idade e
desenvolvimento do paciente, sendo em crianças, focado no desenvolvimento da
linguagem e interação social, e em jovens e adultos, focado no desenvolvimento das
habilidades sociais e sexualidade (GOMES; COELHO; MICCIONE, 2016).
Segundo Gonçalves, Raiol e Justino (2018), o ato de brincar é de grande relevância
para o tratamento de uma criança, pois por meio deste que ela permite atualizar seu
repertório de atividades e permite acessar suas dificuldades, possibilitando superá-
las. O ato de brincar é um meio socializador, quando brincam de faz de contas
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aprendem a atribuir valores aos objetos, pessoas e sentimentos alheios, sendo o


brincar uma forma de estimulação cognitiva. A brincadeira, no geral, é considerada
um dos melhores recursos para desenvolver linguagem, cognição e capacidades
motoras e sociais. (CONSOLINI; LOPES; LOPES, 2019).
A seguir, serão exemplificados dois métodos/técnicas que são muito usadas no
manejo do TEA, um de case mais comportamental e outra de base mais cognitiva.

ABA

Sabe-se que as intervenções e métodos educacionais com base na psicologia


comportamental têm demostrado reduzir os sintomas do espectro do autismo e
promover uma variedade de habilidades sociais, de comunicação e comportamentos
adaptativos. Esse método de intervenção e ensino é conhecido como a análise do
comportamento aplicada ou ABA, sigla em inglês para Applied Behavior Analysis.
(HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007; VIRUES-ORTEGA, 2010; VISMARA;
ROGERS, 2010).
A intervenção ABA apresenta como características identificação de comportamentos
e habilidades que precisam ser melhoradas, (por exemplo, comunicação com pais e
professores, interação social com pares, etc.) Além disso, ABA é caracterizada pela
coleta de dados antes, durante e depois da intervenção para analisar o progresso
individual da criança e auxiliar na tomada de decisões em relação ao programa de
intervenção e às estratégias que melhor promovem a aquisição de habilidades
especificamente necessárias para cada criança (BAER, WOLF; RISLEY, 1968, 1987;
HUNDERT, 2009). Por apresentar uma abordagem individualizada e altamente
estruturada, ABA torna-se uma intervenção bem-sucedida para crianças com TEA que
tipicamente respondem bem às rotinas e diretrizes claras e planejadas (SCHOEN,
2003).
Sua terapêutica requer envolvimento tanto dos pais como em ambiente escolar. Têm
como característica inicial não ser punitiva, gerando sempre ações que positivem o
esforço e objetivos alcançados pelos pacientes, contemplando assim atividades
sociais, motoras, educacionais, de linguagem e brincadeiras (LEAR, 2010). Logo,
pretende-se ensinar à criança, aptidões as quais não possui, através da introdução
por etapas de novas habilidades. Geralmente, cada uma é ensinada, de forma
individual, associando-a a uma indicação ou instrução. Quando oportuno, é ofertado
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algum apoio, sendo retirado, assim que possível, para não tornar a criança
dependente. A resposta apropriada da criança tem como resultado a ocorrência de
algo prazeroso para ela, ou seja, na prática é uma recompensa. Assim, quando essa
é usada constantemente, a criança passa a repetir aquela resposta, até o
comportamento se tornar parte do seu repertório. O importante é fazer do aprendizado
algo agradável para a criança e ensiná-la a identificar diferentes estímulos.
(CARAMICOLI, 2013).
Por exemplo, crianças que fazem uso de gritos e comportamentos agressivos para
chamar atenção e assim conseguem (sendo ela positiva ou negativa) tendem a repetir
tal comportamento, sendo assim o objetivo do método modificar esses
comportamentos disfuncionais por meio de comportamentos mais adaptativos
(ALVARENGA, 2017).
Deste modo, os efeitos produzidos pelas técnicas comportamentais devem ser
grandes o suficiente para produzir contribuições e mudanças importantes para a
qualidade de vida do indivíduo. A característica final da ABA descrita por Baer, Wolf,
Risley (1968) é a generalidade. Intervenções comportamentais devem, não somente
produzir mudanças socialmente importantes no comportamento, mas estas mudanças
devem persistir através do tempo, dos ambientes e pessoas diferentes daquelas
inicialmente envolvidas na intervenção. Uma intervenção que melhora a comunicação
de uma criança com autismo na clínica, por exemplo, demonstra generalidade se a
criança também consegue se comunicar com os pais, professores ou outras pessoas,
em casa, na escola ou na comunidade, durante e após o término da intervenção.
Entretanto, os autores enfatizam que a generalidade dos progressos
comportamentais, não ocorrem automaticamente, sobretudo, em crianças com
autismo que possuem dificuldades de transferir habilidades aprendidas para outros
contextos. Portanto, a ocorrência de generalidade “deve ser programada e não
esperada” (BAER, WOLF, RISLEY, 1968, p. 97).

TREINAMENTO DE HABILDADES SOCIAIS (THS)

O campo das Habilidades Sociais (HS) tem sido estudado frequentemente do ponto
de vista do treino de comportamentos socialmente relevantes, remetendo ao campo
teórico-prático do treinamento de Habilidades Sociais (THS). As habilidades sociais
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podem ser compreendidas enquanto competências e comportamentos que


contribuem para o início e a manutenção de relacionamentos sociais, facilitando a
aceitação do indivíduo no meio social (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017; PHILLIPS,
1978).). O termo “habilidade”, de acordo com remete à conduta interpessoal, que
consiste em um conjunto de capacidades aprendidas (BELLACK; MORRISON,1989;
KELLY, 1982). Alguns exemplos dessas habilidades são o autocontrole e
expressividade emocional, a habilidades de civilidade, empatia, assertividade,
resolução de problemas interpessoais, fazer amizades e outras habilidades sociais
relativas ao contexto acadêmico (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017). De acordo com
os autores, essas são complementares e, conforme for adequado, devem ser
contempladas em treinamentos comportamentais. O Treinamento de Habilidades
Sociais (THS) é uma combinação de procedimentos comportamentais dirigidos à
melhoria da capacidade do indivíduo nas relações interpessoais (HEIMBERG
et al., 1977 apud Caballo (2021). Enquanto campo de estudo e prática terapêutica o
THS teve suas origens históricas na Inglaterra dos anos 1960, de acordo com Del
Prette e Del Prette (1999). As aplicações desses treinamentos, desde a sua origem,
estiveram relacionadas sobretudo com as abordagens da Psicologia Comportamental
e da Psicologia Cognitiva Comportamental (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2000). De
acordo com Caballo (1955) esse tipo de treinamento está entre as técnicas mais
efetivas e mais usadas no tratamento comportamental visando a melhoria da
qualidade de vida. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de
causa multifatorial que afeta o neurodesenvolvimento, caracterizando-se
principalmente pelo atraso na linguagem, déficits na interação social e no
repertório de interesses, podendo apresentar comportamentos estereotipados
ou repetitivos (DSM-5, 2014; GADIA; ROTTA, 2016, BECKER; RIESGO, 2016).Os
aspectos comportamentais sociais como a emissão de contato visual, de sorriso social
e engajamento em interações sociais e atenção compartilhada, quando escassos,
podem ser considerados sinais de alerta, visto que sua baixa frequência pode
indicar autismo (Bosa, 2009). Ao compararem o desenvolvimento de crianças com
autismo e sem autismo, os estudos de Werner et al. (2005) e Ozonoff et al. (2010)
indicaram escassez de comportamentos sociais, como por exemplo a baixa frequência
de olhar para faces, do sorriso social, interação social e também de vocalizações em
contexto social. Estudos que abordaram a importância do treino de habilidades sociais
para indivíduos com autismo, demonstraram a eficácia tanto no contexto escolar
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quanto no doméstico (LI, 2002; YANG et al, 2003; CAMARGO; BOSA, 2009; KOEGEL
et al, 2013). A aquisição dessas habilidades é um fator importante à prevenção de
problemas comportamentais (CAMARGO; BOSA, 2012; SANINI; SIFUENTES; BOSA,
2013; CASALI-ROBALINHO et al, 2015). Dessemodo, as intervenções
comportamentais são relevantes para a melhora da qualidade de vida de pessoas com
autismo. Murta (2005) realizou uma revisão bibliográfica de publicações de artigos
científicos que abordaram THS. De acordo com a autora, as pesquisas indicaram que
os treinamentos realizados promoveram melhoras no desempenho social dos
participantes, além isso, houve um predomínio do THS no formato grupal, tanto no
contexto clínico como escolar. Spain e Blainey (2015) realizaram uma revisão
sistemática para investigar a eficácia das intervenções de habilidades sociais para
adultos com TEA. De acordo com os autores, as intervenções em grupo, voltadas às
HS podem ser eficazes para melhorar a compreensão social, o a qualidade das
interações sociais social. Gavasso, Fernandes e Andrade, (2016) realizaram uma
revisão sistemática afim de mapear os artigos publicados entre 2009 e 2013 no Brasil.
As autoras observaram que a maioria das pesquisas priorizam estudos sobre
habilidades sociais em contexto escolar e doméstico.

PSICOEDUCAÇÃO

A intervenção no tratamento do TEA, tem-se como um dos métodos a psicoeducação,


que se baseia em informar à família, educadores, à criança e os outros profissionais
envolvidos no tratamento a respeito do diagnóstico. Pode ser feito através da
explicação do psicólogo, indicações de livros, cartilhas, artigos entre outros, pois
quanto mais informações a família obter sobre o TEA, mais adesão ao tratamento o
paciente terá (TEIXEIRA, 2016). A psicoeducação pode trabalhar a relação do
psicólogo, a abordagem da terapia cognitiva-comportamental e sobre o transtorno,
respondendo as seguintes perguntas: o que faz um psicólogo? Por que ir ao
psicólogo? O que é a TCC? O que é o TEA, sendo esclarecidas as explicações de
modo simples para melhor entendimento da criança e responsáveis utilizando de
exemplos do cotidiano. Sendo assim, a psicoeducação é uma estratégia da terapia
cognitivo-comportamental que tem por objetivo informar o paciente acerca do seu
transtorno, além disso busca esclarecer possíveis dúvidas ampliando o conhecimento
do paciente e dos familiares (Oliveira e Dias, 2018). Portanto, com uma
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psicoeducação adequada, a família terá maiores chances de buscar um tratamento


mais assertivo, ético e com fundamentação cientifica. É necessário ficar atento quanto
a necessidade de medicação para auxiliar no tratamento, tendo em vista que a
medicação não é curativa, mas sintomática, utilizada para conter um sintoma alvo,
devido ao fato do paciente com TEA poder apresentar outras comorbidades
associadas. (TEIXEIRA, 2016).
Logo, é de grande importância a dedicação dos pais ou cuidadores para auxiliar no
tratamento, pois os problemas que permeiam a criança autista não podem ser
desvinculados do restante da família. Esta é parte integrante da conduta, uma vez que
são com os pais que eles passam a maior parte do tempo, por isso a colaboração
destes é fundamental para o melhor seguimento terapêutico dos pacientes
(CARAMICOLI, 2013), tendo em vista que a participação dos pais, proporciona uma
estimulação mais intensiva no ambiente domiciliar (FERNANDES& AMATO, 2013).
Ultimamente os estudos mostraram que as intervenções aplicadas pelos pais podem
aumentar as competências de comunicação, habilidades sociais e sucesso nos
resultados esperados da criança. Quando os pais aprendem a usar as técnicas de
intervenção em casa, as crianças autistas têm mais probabilidades em recordar-se e
usar as competências que foram ensinadas pelos professores ou terapeutas. Além
disso, os pais que utilizam as estratégias de intervenção dizem sentir-se mais felizes,
menos ansiosos e mais otimistas e capacitados, entretanto os pais e as crianças não
podem ficar dependentes dos terapeutas. (ROGERS, DAWSON E VISMARA, 2015)
As intervenções destinadas a serem aplicadas pelos pais não exige equipamento
especial e horas de "ensino". Os materiais necessários para aplicar as intervenções
em casa são brinquedos e outros materiais que podem ser usados em brincadeiras
para a estimulação. As estratégias podem ser usadas durante as atividades diárias,
tais como no momento do banho, durante as refeições e nas brincadeiras realizadas
dentro e fora de casa. A maioria das intervenções destinadas aos pais realça a
importância das emoções positivas e de uma relação feliz entre os pais e os filhos
para promover a aprendizagem (ROGERS, 2015).
Por essas práticas, a reeducação através da terapia não é implicada somente ao
paciente, mas também aos pais/família, uma vez que esses necessitam estar atentos
às mudanças apresentadas pelo tratamento e observação da progressão alcançada.
O auxílio do psicólogo é fundamental para a instrução da família, tornando-os ativos
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no processo de decisão e percepção para o auxílio de seus filhos autistas (SOARES,


2012, p. 88).
Cabe citar que o ambiente sociocultural e afetivo da criança com TEA deve ser
enriquecido com situações de iniciação esportiva e atividades sociais, considerando
que essas situações desencadeiam uma variedade de estímulos, que normalmente é
supervisionado pelos pais já orientados sobre o TEA (TEIXEIRA, 2016). Do mesmo
modo, a interação com outras crianças da mesma faixa etária proporciona contextos
sociais que permitem vivenciar experiências que dão origem à troca de ideias, de
papéis e o compartilhamento de atividades
que exigem negociação interpessoal e discussão para a resolução de conflitos.
Dessa forma é possível melhorar suas habilidades sociais, já que este transtorno
compromete o desenvolvimento social de algumas crianças desde os primeiros anos
de vida. Nesse sentido, a escola possui papel fundamental nos esforços para
ultrapassar os déficits sociais dessas crianças, ao possibilitar o progresso nas
habilidades socializadoras, permitindo o desenvolvimento de novos conhecimentos e
comportamentos (CAMARGO e BOSA, 2009)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através das informações apresentadas neste artigo, espera-se ter contribuído para o
esclarecimento sobre o tema: características gerais sobre o TEA e algumas
possibilidades de tratamento pela clínica cognitiva comportamental.
No decorrer deste estudo, foi apresentado as características da TCC, como ela
intervém na clínica ou em casa com as crianças autistas, foi apresentado, também o
modelo ABA, que é considerado uma estratégia de intervenção; e discutido como a
psicoeducação é de grande relevância para a evolução do tratamento. Sobre a
etiologia do autismo, ainda não se tem estudo que comprovem os fatores e processos
específicos que estejam definitivamente envolvidos no real motivo de sua origem, mas
acreditamos que muito se sabe sobre o autismo e seus critérios para diagnostico.
Também é importante citar a evolução na qualificação dos profissionais que lidam com
autismo, o que possibilita intervenções efetivas que buscam assegurar mais qualidade
de vida a criança autista. Certamente é de grande relevância o diálogo sobre este
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tema tanto para os profissionais da psicologia, quanto para os profissionais da área


da saúde em geral e em outras áreas afins, em especial as que tem como foco a
população infantil, para que as atuações tenham caráter crítico, com profissionais
qualificados e que se preocupam em seguir os valores éticos e morais em suas
condutas diárias.

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