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19/06/2023, 16:33 Compreenda a relação das Neurociências com a Terapia Cognitivo-Comportamental

Gislaine Soares 8 de set. de 2020 4 min para ler

Compreenda a relação das Neurociências com a


Terapia Cognitivo-Comportamental
No texto da semana passada apresentei a vocês o que é a de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
Então você deve se lembrar de que essa abordagem é baseada em evidências e que parte do
pressuposto de que não são os acontecimentos que definem as formas de agir, de pensar e de
sentir do ser humano, e sim como ele os interpreta.

Apresentei também que o tratamento está fundamentado em uma conceituação, ou compreensão, de


cada paciente (suas crenças específicas e padrões de comportamento) e que a função do terapeuta é
procurar produzir, de várias formas, uma mudança/flexibilização cognitiva.

Além disso, a TCC exige uma análise detalhada do comportamento, da cognição e das emoções do
paciente, além de considerar ser fundamental uma determinação precisa dos objetivos do tratamento,
permitindo suposições sobre alterações neuroanatômicas e processos funcionais que ocorrem durante
uma atividade em particular do cérebro. Ou seja, a TCC tem tudo a ver com o entendimento do
funcionamento do nosso cérebro. Por isso, hoje, vamos falar sobre as contribuições das Neurociências
para a Terapia Cognitivo-Comportamental.

As características da TCC a aproxima tanto do campo das Neurociências que pode orientar as pesquisas
para a busca de evidências de correlatos neurobiológicos das mudanças observadas após o tratamento
Cognitivo-Comportamental. Não à toa, o número de estudos empíricos sobre a eficácia da TCC,
mensurada por meio de alterações neurobiológicas, está aumentando constantemente.

Mas, então, o que é Neurociência?


Podemos conceituar Neurociência como a área que busca estudar o sistema nervoso, visando desvendar
seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que sofra. Já podemos
compreender que o objeto de estudo dessa ciência é complexo, sendo constituído por três elementos: o
cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos.

A Neurociência, com uma abordagem integrativa e multidisciplinar, surgiu no final dos anos de 1970 pela
necessidade de convergir contribuições de diversas áreas da pesquisa científica e clínicas para
compreensão do funcionamento do sistema nervoso de forma completa.

Os métodos de investigação mais comuns na Neurociência contemporânea são constituídos por meio de
técnicas que possibilitam o estudo morfológico, funcional, preciso, objetivo e replicável do sistema
nervoso central (SNC), periférico (SNP) e autônomo (SNA). Alguns ramos da Neurociência estão mais
relacionados à TCC, como a Neurociência comportamental, a Neurociência cognitiva, a Neurociência do
desenvolvimento e a Neurociência social.

Como aplicar a Neurociência na clínica?


Em relação às aplicações dentro do ambiente clínico, a Neurociência visa a identificação dos mecanismos
patogênicos etiológicos de doenças neurológicas e transtornos mentais e o desenvolvimento de novas
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metodologias para o diagnóstico e o tratamento do sofrimento psíquico.

Na Neurociência, a disciplina que liga o laboratório e o setting terapêutico é conhecida como


psicofisiologia clínica. Essa disciplina envolve métodos e procedimentos que constituem um sistema de
interface entre o cérebro, o processamento mental e seu contexto relacional. Lida com a implementação
de metodologias de análise objetiva do funcionamento do sistema nervoso central e do funcionamento
neurovegetativo e autônomo. Uma das tecnologias que hoje está mais facilmente disponível é o
eletroencefalograma (EEG).

A Neurociência e o comportamento aprendido


Um ponto importante abordado na TCC é o fato de que todos nós aprendemos continuamente ao longo
de nossas vidas. Tanto o comportamento funcional quanto o disfuncional é aprendido. Sendo assim,
podemos concluir que todo comportamento disfuncional que é aprendido pode ser extinto e substituído
por outro mais funcional. A TCC ajuda os pacientes a aprender e adotar novos conhecimentos e
habilidades, o que lhes permitirá observar e mudar os seus próprios pensamentos, comportamentos e
estados emocionais.

E onde entra o nosso cérebro nessa história? O nosso cérebro é caracterizado por neuroplasticidade –
uma propriedade fundamental, complexa e multifacetada – que o faz ser adaptável às mudanças nas
condições ambientais e internas. É um recurso que possibilita modificar, compensar, gerar e ajustar as
funções neurais fundamentais à vida, como o aprendizado e a memória. As conexões individuais dentro
do cérebro estão constantemente sendo removidas ou recriadas, dependendo, em grande parte, da
forma como são usadas.

Uma das maneiras de o cérebro modificar-se por meio da neuroplasticidade é pela criação de
interconexões entre os neurônios com base em seu disparo simultâneo durante um período de tempo. A
Neurociência tem demonstrado que um comportamento pode ser aprendido e aperfeiçoado pela
experiência, promovendo a formação de novos circuitos neurais e novas memórias, que podem ser
acessadas em ocasiões futuras. Bingo! Estamos diante da grande relação da TCC com a
Neurociência, já que nessa abordagem o terapeuta procura, junto ao paciente, produzir, de várias
formas, uma mudança/flexibilização cognitiva no paciente, de modo que possa viver de uma forma mais
“saudável”, não repetindo padrões indesejáveis.

A pesquisa interdisciplinar no campo da Neurociência tem se expandido ao conhecimento sobre


correlatos neurobiológicos dos processos mentais e sobre as mudanças que ocorrem no cérebro devido
a intervenções terapêuticas. Os estudos baseiam-se principalmente em técnicas de neuroimagem, como
a ressonância magnética funcional (RMF).

A TCC considera a influência da aprendizagem para a construção de padrões disfuncionais de


comportamento. Também propõe que as mudanças a partir das intervenções terapêuticas ocorrem a
partir de aprendizagem.

Vamos simplificar: quanto mais algum tipo de comportamento é utilizado, mais alterações na anatomia e
funções do cérebro podem ocorrer, aumentando, assim, a probabilidade de o mesmo comportamento
ser utilizado novamente. Ou seja, se uma estrutura anatômica cerebral é cada vez mais recrutada em

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algum tipo de comportamento, não haverá competição para o espaço cortical disponível, que será
ocupado pela função mais frequentemente utilizada.

O conhecimento estrutural e funcional do cérebro


Os últimos anos foram marcados por estudos neurocientíficos revolucionários sobre o funcionamento
cerebral, que permitiram uma melhor compreensão dos processos e funções do cérebro, da
psicopatologia, de mecanismos e estratégias de tratamento. As técnicas de neuroimagem estruturais e
funcionais permitem o conhecimento mais minucioso, embora ainda inicial, de como a TCC tem o
potencial de modificar circuitos neurais disfuncionais associados aos transtornos psiquiátricos e
sofrimentos emocionais.

O intercâmbio da TCC com a Neurociência é o diálogo entre mente e cérebro. Podemos considerar
que mente e cérebro são integrados e interdependentes. As pesquisas em Neurociências colaboraram,
então, para potencializar nosso conhecimento sobre as bases neurobiológicas das psicopatologias e da
TCC, assim como em auxiliar no refinamento de intervenções, revelar os circuitos neurais associados à
melhora dos sintomas em decorrência do tratamento bem sucedido com a Terapia Cognitivo-
Comportamental a fim de aumentar a eficácia do tratamento.

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