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Pesquisa Estendida

ONDE BUSCAR
NEUROCIÊNCIAS ENOAARTIGO
TERAPIA
ATUAL COGNITIVO-
NO CICLO ATUAL

COMPORTAMENTAL NO VOLUME ATUAL EM OUTROS PROGRAMAS

BUSCAR
MARCELE REGINE DE CARVALHO
ANGÉLICA GURJÃO BORBA

■ INTRODUÇÃO
A psicologia é uma das disciplinas que tem grande potencial para contribuições no campo das neurociências. Especificamente em relação às
psicoterapias, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem um vínculo próximo com as neurociências, já que tem sido considerada um
sistema de psicoterapia baseado em evidências e que dialoga com diversas áreas de interesse para a saúde mental.
Os métodos interdisciplinares de pesquisa que envolvem o estudo do cérebro a partir de novas tecnologias permitem novos insights sobre
aspectos psicopatológicos e seu tratamento. Os estudos com neuroimagem, por exemplo, começam a apontar que as intervenções em TCC
possibilitam alterar o funcionamento do cérebro por meio da resolução de problemas, do processamento autorreferencial e relacional e da
regulação emocional. São observadas alterações em estruturas corticais e subcorticais relacionadas a um mecanismo de regulação top-
down, e este conhecimento possibilita informações que auxiliam na elaboração de outras formas de intervenção terapêutica associadas à
TCC, como o uso de psicofármacos, o biofeedback (mais especificamente, o neurofeedback) e a estimulação magnética transcraniana
(EMT).
É importante que os achados a partir dos novos conhecimentos e possibilidades sejam utilizados para o aprimoramento dos métodos
psicoterapêuticos da TCC e para a elaboração de novas estratégias baseadas nas características do funcionamento cerebral.

■ OBJETIVOS
Ao final do artigo, o leitor poderá:

■ compreender as importantes contribuições da neurociência para o entendimento do funcionamento cerebral e para o tratamento cognitivo-
comportamental;
■ entender a contribuição do conceito de redes neurais para a psicoterapia;
■ ressaltar a importância da neuroimagem e do mapeamento cerebral para o desenvolvimento de conhecimento que possa embasar novas
estratégias psicoterapêuticas;
■ verificar as possibilidades de modulação de neurocircuitos por meio da TCC e de sua associação com outras estratégias terapêuticas.

■ ESQUEMA CONCEITUAL
■ TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A TCC é um sistema de psicoterapia baseado em evidências, já que se dedica continuamente ao teste empírico de seu modelo e da
eficácia das intervenções propostas. Exige uma análise detalhada do comportamento, da cognição e das emoções do cliente, além de uma
determinação precisa dos objetivos do tratamento, o que permite suposições sobre alterações neuroanatômicas e processos funcionais que
ocorrem durante uma atividade em particular do cérebro.
As características da TCC aproximam-na do campo das neurociências, podendo orientar as pesquisas para a busca de evidências de
correlatos neurobiológicos das mudanças observadas após o tratamento cognitivo-comportamental. Assim, o número de estudos empíricos
sobre a eficácia da TCC, mensurada por meio de alterações neurobiológicas, está aumentando constantemente.1-3

As contribuições da neurologia, neuropsicologia, neurofarmacologia e neuropsiquiatria são fundamentais para a compreensão do


desenvolvimento e da manutenção de problemas emocionais. Há autores que acreditam que a utilização deste foco neurocientífico
no tratamento cognitivo-comportamental poderá ser considerada a “quarta onda” em TCC.4

A neurociência constitui um dos componentes mais importantes do desenvolvimento científico contemporâneo ao introduzir
tecnologias e técnicas cada vez mais sofisticadas, além de progressivamente mais fáceis de aprender e aplicar, bem como mais econômicas
para adquirir e utilizar.4

A neurociência, com uma abordagem integrativa e multidisciplinar, surgiu no final dos anos 1970 pela necessidade de convergir
contribuições de diversas áreas da pesquisa científica e clínicas para compreensão do funcionamento do sistema nervoso de forma
complexa.5

De acordo com Scrimali, o termo neurociência indica um conjunto de disciplinas cujo objetivo de estudos varia de um foco estrutural,
tanto macroscópico quanto microscópico, com aspectos funcionais, examinados a partir do ponto de vista bioquímico, biofísico e
fisiológico.4 A neurociência também inclui o estudo do desenvolvimento filogenético e ontogenético do cérebro.

Sendo assim, os métodos de investigação mais comuns na neurociência contemporânea são constituídos a partir de técnicas que
possibilitam o estudo morfológico, funcional, preciso, objetivo e replicável do sistema nervoso central (SNC ), periférico (SNP ) e autônomo
(SNA). Alguns ramos da neurociência parecem estar mais relacionados à TCC, como a neurociência comportamental, a neurociência
cognitiva, a neurociência do desenvolvimento e a neurociência social.4
Em relação a aplicações dentro do ambiente clínico, a neurociência visa a identificação dos mecanismos patogênicos etiológicos de
doenças neurológicas e transtornos mentais e o desenvolvimento de novas metodologias para o diagnóstico e tratamento do sofrimento
psíquico.4
Na neurociência, a disciplina que liga o laboratório e o setting terapêutico é conhecida como psicofisiologia clínica. Esta disciplina envolve
métodos e procedimentos que constituem um sistema de interface entre o cérebro, o processamento mental e seu contexto relacional. Lida
com a implementação de metodologias de análise objetiva do funcionamento do SNC e do funcionamento neurovegetativo e autonômico.

Uma das tecnologias que hoje está mais facilmente disponível é o eletroencefalograma (EEG).4

A pesquisa interdisciplinar no campo da neurociência tem se expandido ao conhecimento sobre correlatos neurobiológicos dos
processos mentais e sobre as mudanças que ocorrem no cérebro devido a intervenções terapêuticas. Os estudos baseiam-se principalmente
em técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (RMF).
De acordo com Jokić-Begić, as investigações neurocientíficas de hipóteses básicas da TCC têm demonstrado que:2

■ a contínua neuroplasticidade do cérebro possibilita a aprendizagem de comportamentos funcionais e disfuncionais nas diferentes etapas do
desenvolvimento;
■ a atividade cognitiva contribui para o comportamento disfuncional, experiências emocionais desconfortáveis (por meio de concentração,
percepção seletiva, memória e recordação) e distorções cognitivas; já no nível neurobiológico, há uma relação entre a regulação top-down
e bottom-up dos estados emocionais desagradáveis;
■ a atividade cognitiva pode ser modificada, como demonstrado pelo sucesso terapêutico alcançado por técnicas metacognitivas, que têm
seus correlatos neurobiológicos em mudanças nas estruturas corticais e subcorticais e nos sistemas endócrino e imunológico.
Os três principais aspectos relacionados às hipóteses da TCC e às estratégias de tratamento serão melhor elucidados a seguir.

APRENDIZADO AO LONGO DA VIDA


Uma ideia contida nas formulações da TCC é de que as pessoas aprendem continuamente ao longo de suas vidas. Tanto o comportamento
funcional quanto o disfuncional é aprendido. Desta forma, todo comportamento disfuncional que é aprendido pode ser extinto e substituído
por outro mais funcional. A TCC ajuda os clientes a aprender e adotar novos conhecimentos e habilidades, o que lhes permitirá observar
e mudar os seus próprios pensamentos, comportamentos e estados emocionais.
O cérebro é caracterizado por neuroplasticidade – uma propriedade fundamental, complexa e multifacetada – que lhe permite adaptar-se às
mudanças nas condições ambientais e internas. É um recurso que possibilita modificar, compensar, gerar e ajustar as funções neurais
fundamentais à vida, como o aprendizado e a memória. As conexões individuais dentro do cérebro estão constantemente sendo removidas
ou recriadas, dependendo, em grande parte, da forma como elas são usadas.
Uma das maneiras de o cérebro humano modificar-se por meio da neuroplasticidade é pela criação de interconexões entre os neurônios
com base em seu disparo simultâneo durante um período de tempo. A neurociência tem demonstrado que um comportamento pode ser
aprendido e aperfeiçoado pela experiência, promovendo a formação de novos circuitos neurais e novas memórias, que podem ser acessadas
em ocasiões posteriores.2,6,7

Experiências objetivas e também subjetivas alteram o fluxo de informações neurais, e é provável que o cérebro trace mapas de
comportamentos baseados nessas experiências que servem de referência à capacidade de gerar comportamentos adaptativos. O
impacto da experiência sobre o desenvolvimento neural e comportamental depende do tempo, da duração e da intensidade de
estímulos, da vulnerabilidade biológica, da resiliência, dos fatores de risco e dos efeitos protetores.2

A maneira pela qual percebemos e interpretamos o mundo é legitimada pelo SNC , e conforme a modificamos, novos circuitos neurais são
desenvolvidos.7 Acredita-se que a plasticidade sináptica de longo prazo é a base molecular da aprendizagem e da memória.2,8 Também já
se verificou que a aprendizagem acompanhada pelo desenvolvimento de novas ligações neuronais pode levar ao desenvolvimento de novos
neurônios.2
Alguns princípios de plasticidade neural experiência-dependentes estão relacionados:9

■ ao uso (use it or lose it): ausência de utilização de funções específicas do cérebro pode levar à degradação funcional;
■ ao aprimoramento (use it and improve it): o treinamento de uma função específica do cérebro pode levar a uma melhoria da função;
■ à especificidade: a natureza do treino na experiência determina a natureza da plasticidade;
■ à repetição: a indução de plasticidade requer repetição suficiente;
■ à intensidade: a indução de plasticidade requer intensidade de treinamento suficiente;
■ ao tempo: diferentes formas de plasticidade ocorrem em diferentes momentos durante o treinamento;
■ à significância: a experiência de formação deve ser suficientemente significante para induzir plasticidade;
■ à idade: a plasticidade induzida por treinamento ocorre mais facilmente em cérebros jovens;
■ à transferência: a plasticidade em resposta a uma experiência em treinamento pode aumentar a aquisição de comportamentos
semelhantes;
■ à interferência: a plasticidade em resposta a uma experiência pode interferir com a aquisição de outros comportamentos.

A TCC considera a influência da aprendizagem para a construção de padrões disfuncionais de comportamento. Também postula que
as mudanças a partir das intervenções terapêuticas ocorrem a partir de aprendizagem. Dessa forma, os princípios supracitados se
encaixam para o entendimento desses processos de aprendizagem.
De forma simplificada, quanto mais algum tipo de comportamento é utilizado, mais alterações na anatomia e funções do cérebro podem
ocorrer, aumentando, assim, a probabilidade de o mesmo comportamento ser utilizado novamente. Se uma estrutura anatômica é cada vez
mais recrutada em algum tipo de comportamento, não haverá competição para o espaço cortical disponível, que será ocupado pela função
mais frequentemente utilizada.2

REGULAÇÃO COGNITIVA DE EMOÇÕES E COMPORTAMENTOS


Para a TCC, as reações emocionais e comportamentais dependem do processamento cognitivo em uma situação específica. Cada
indivíduo recebe e processa informações de forma particular e única. Em consonância com a informação percebida, a interpretação de
sua importância, a compreensão das relações causais e o significado pessoal atribuído a um evento, uma reação emocional surge e
influencia o comportamento. Dessa forma, um evento em si não tem sentido “objetivo”, mas é percebido, interpretado, lembrado e avaliado
de forma singular, de acordo com a própria atividade cognitiva individual.
No entanto, não se pode responder a todas as informações recebidas; elas devem ser filtradas. O filtro ocorre de acordo com o que é
pessoalmente importante, e a importância é baseada em experiências anteriores, ou seja, na memória.2

A percepção tem sido definida como a capacidade de associar informações sensoriais à memória e à cognição de forma a constituir
conceitos sobre o mundo e sobre nós mesmos e orientar o comportamento.5

A percepção, a memória e o sistema de crenças dos indivíduos são articulados no processo terapêutico em TCC.

A TCC não assume que cognições causam os transtornos mentais, mas que elas desempenham um papel importante no desenvolvimento e
também na recuperação de psicopatologias. Mudando a forma de pensar, altera-se a resposta emocional e o comportamento: o cliente
aprende a se autorregular.
Diferentes regiões cerebrais estão envolvidas no processo de regulação emocional, que envolve a interação entre dois modos de
processamento de informação:

■processamento bottom-up – é primitivo, automático, sem esforço, implícito, dominado pelas principais características de um estímulo ou
pistas situacionais e suas associações esquemáticas e tem sido associado com o recrutamento da amígdala;
■ processamento top-down – ocorre de forma mais lenta e deliberada, explícita, por meio de processamento racional que usa o
conhecimento baseado em regras para guiar o processamento de informação; é associado frequentemente à atividade do córtex
orbitofrontal, do córtex pré-frontal (CPF) ventromedial e do córtex cingulado anterior.

A interação complexa entre estruturas subcorticais, que geram emoções, e estruturas corticais, que regulam emoções, resulta em
comportamentos indicativos de regulação emocional.2

Estudos sobre alterações neurobiológicas têm mostrado que a TCC está associada com diminuição da atividade na região subcortical
amígdalo-hipocampal (processamento bottom-up) e aumento da ativação nas regiões corticais frontais (processamento top-down). Esse
aumento é relacionado à utilização de reestruturação cognitiva, na qual o pensamento racional ajuda na regulação dos estados
emocionais desconfortáveis.2

METACOGNIÇÃO
Indivíduos com transtornos mentais têm crenças disfuncionais e, geralmente, apresentam desconhecimento sobre seus próprios
pensamentos e processos de pensamento. Eles demonstram uma preocupação excessiva com os pensamentos e, muitas vezes,
experimentam pensamentos e emoções como se houvesse uma realidade objetiva que tivesse causado as reações emocionais indesejáveis.

Para a TCC, a atividade cognitiva pode ser observada e alterada; assim, mais atenção tem sido dada à metacognição, ou seja, às
noções sobre processos cognitivos e formas de controlar os próprios processos cognitivos.

A regulação metacognitiva envolve atenção, resolução de conflitos, correção de erros, controle inibitório e regulação emocional. Presume-
se que esses aspectos da metacognição sejam mediados por um circuito neural que envolve regiões cerebrais frontomediais.2
Diante disso, parte-se do pressuposto de que considerações neuropsicológicas sobre o processamento/fluxo de informações através do
cérebro podem oferecer conceitos básicos que orientem a compreensão de como diferentes clientes funcionam singularmente no processo
de psicoterapia, incluindo a forma como inicialmente percebem as informações, como as combinam e as analisam, e como variam em suas
habilidades e inclinações para emitir diferentes tipos de respostas.
A identificação das influências recíprocas de centros inferiores e superiores de processamento do cérebro pode levar a uma melhor
compreensão de como os clientes podem experimentar a si mesmos e, consequentemente, como eles podem influenciar a si próprios.10
O conceito de rede neural fornece embasamento no qual as experiências dos clientes antes e durante a psicoterapia podem ser entendidas
e no qual as mudanças durante intervenções psicológicas podem ser observadas.

O conceito de redes neurais une os vários sistemas que manejam o processamento de informação e o seu comportamento em todo o
O conceito de redes neurais une os vários sistemas que manejam o processamento de informação e o seu comportamento em todo o
cérebro, sugerindo como as experiências passadas e presentes estão conectadas e como novas conexões mais adaptativas podem
ser desenvolvidas. Sistemas de memória implícita e explícita dão suporte aos diferentes tipos de aprendizagem, experiência e
mudança que os indivíduos experimentam enquanto passam pelo processo de psicoterapia.10

Para Knudsen, o desenvolvimento do cérebro funciona como um prisma, por meio do qual diferentes elementos da atividade neural
podem ser vistos como disponíveis e acessíveis em diferentes fases da vida de um cliente, o que teria implicações sobre quando iniciar qual
tipo de intervenção psicológica no curso da psicoterapia.11

Segundo Knudsen, sistemas cerebrais diferentes entram em operação em diferentes estágios de desenvolvimento e, como resultado,
a eficácia de intervenções psicoterapêuticas pode variar ao longo do desenvolvimento. Alguns sistemas cerebrais falharão em se
desenvolver caso as experiências não ocorram no tempo adequado de sua “janela de desenvolvimento”. Informações sobre essa
temporalidade forneceriam orientações sobre quando e como intervir.

A descrição do processo de enfrentamento (como observado na terapia de exposição) é um bom exemplo das possíveis contribuições de
entendimento do processo psicoterapêutico pelo olhar da neurociência. Em situações de enfrentamento do medo e da ansiedade, por
exemplo, os sistemas executivos frontais são estimulados a promover o estabelecimento de conexões entre padrões neurais subjacentes ao
coping (enfrentamento) e padrões neurais associados aos estímulos que desencadeiam processos mal adaptativos (associados a emoções
desconfortáveis e comportamentos defensivos).
Supõe-se que com essa repetição as conexões relacionadas ao enfrentamento (que pressupõe a habituação e reestruturação cognitiva pelo
teste de realidade) se tornariam mais estabelecidas e mais propensas a disparar quando os mesmos estímulos estivessem presentes. Para
que esse processo ocorra, o terapeuta pode ter que ajudar o cliente a aprender um novo conjunto de habilidades, ou seja, pode ter que
colaborar para o desenvolvimento intencional de novas redes neurais. Durante todo o ensino dessas novas habilidades, o terapeuta deve
estar atento para oportunidades de interligar habilidades aprendidas anteriormente com as novas. Pressupõe-se que as redes neurais com
uma história mais longa de disparos serão mais facilmente ativadas no futuro e serão mais resistentes à ruptura do que as redes
recentemente formadas e que têm sido recrutadas com menor frequência.10
Entretanto, o fortalecimento de novas conexões neurais que suportam comportamentos adaptativos não parece eliminar as antigas
conexões. Acredita-se que as antigas conexões são enfraquecidas por habituação e que as novas conexões são reforçadas de maneira a
competir com o enfraquecimento das conexões disfuncionais do passado.

Várias repetições de enfrentamento fortalecem conexões nas redes neurais relacionadas e, como resultado, essas conexões serão
mais propensas a serem recrutadas na presença dos estímulos que anteriormente eram considerados negativos.

Entretanto, como os efeitos residuais de experiências negativas anteriores parecem não ser eliminados, foi proposto que os processos de
sensitization e kindling a partir de experiências estressantes resultam em maior suscetibilidade a futuras dificuldades psicológicas diante de
estresse.10
Conceitualizações sobre as conexões entre a função cerebral e o comportamento podem ser diretamente aplicadas à psicoterapia. A
neurociência tem o potencial de permear todo o processo psicoterapêutico, podendo fornecer bases que enriqueçam desde as
avaliações no início do tratamento até a sugestão de ferramentas específicas a serem utilizadas durante o estágio das intervenções e o
término do tratamento.

1. A TCC tem um vínculo próximo com as neurociências. Partindo dessa premissa, identifique quais afirmações revelam pontos de
ligação entre a TCC e as neurociências.
I ― Ambas se baseiam em evidências.
II ― Ambas dialogam com diversas áreas de interesse para a saúde mental.
III ― Ambas são métodos interdisciplinares de pesquisa que permitem novos insights sobre aspectos psicopatológicos e métodos de
tratamento adequados.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I.
B) Apenas a III.
C) Apenas a I e a II.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo

2. Contribuições de que áreas são fundamentais para a compreensão do desenvolvimento e manutenção de problemas emocionais?
3. A respeito das alterações sinápticas provocadas pelas intervenções da TCC no cérebro, marque a alternativa INCORRETA.

A) São observadas alterações em estruturas corticais e subcorticais relacionadas a um mecanismo de regulação top-down.
B) A aprendizagem de comportamentos funcionais e disfuncionais nas diferentes etapas do desenvolvimento possibilita uma
contínua neuroplasticidade do cérebro, assim como essa neuroplasticidade possibilita novas aprendizagens. Inclusive, já se
verificou que a aprendizagem acompanhada pelo desenvolvimento de novas ligações neuronais pode levar ao
desenvolvimento de novos neurônios.
C) As mudanças cognitivas não produzem novos caminhos sinápticos e nem geram alterações nas estruturas corticais e
subcorticais; apenas as mudanças comportamentais são capazes de promover a formação de novos circuitos neurais, novas
memórias e mudanças anatômicas.
D) A neuroplasticidade é uma propriedade fundamental, complexa e multifacetada do cérebro, que permite uma adaptação do
organismo às mudanças nas condições ambientais e internas. Nesse sentido, as mudanças cognitivas e comportamentais
ocasionadas pelas intervenções da TCC possibilitam que as conexões individuais dentro do cérebro sejam constantemente
removidas ou recriadas.
Resposta no final do artigo

4. Em grande parte, a neuroplasticidade depende das experiências de um indivíduo. Ao se pensar especificamente sobre os
princípios da neuroplasticidade contidos na primeira coluna, procure relacioná-los corretamente com a sua correspondente
descrição na segunda coluna, numerando-a.

( ) A experiência de formação deve ser suficientemente significante para induzir


plasticidade.
( ) Ausência de utilização de funções específicas do cérebro pode levar à
degradação funcional.
(1) Uso (use it or lose it)
( ) A indução de plasticidade requer intensidade de treinamento suficiente.
(2) Intensidade
( ) A plasticidade em resposta a uma experiência em treinamento pode aumentar
(3) Repetição
a aquisição de comportamentos semelhantes.
(4) Aprimoramento (use it and improve it)
( ) A indução de plasticidade requer repetição suficiente.
(5) Tempo
( ) A natureza do treino na experiência determina a natureza da plasticidade.
(6) Especificidade
( ) O treinamento de uma função específica do cérebro pode levar a uma melhoria
(7) Significância
da função.
(8) Idade
( ) A plasticidade em resposta a uma experiência pode interferir com a aquisição
(9) Transferência
de outros comportamentos.
(10) Interferência
( ) A plasticidade induzida por treinamento ocorre mais facilmente em cérebros
jovens.
( ) Diferentes formas de plasticidade ocorrem em diferentes momentos durante o
treinamento.
Marque a alternativa que contempla a sequência correta:

A) 3 - 2 - 6 - 9 - 5 - 4 - 10 - 1 - 7 - 8
B) 7 - 9 - 1 - 8 - 4 - 3 - 6 - 2 - 5 - 10
C) 2 - 3 - 5 - 4 - 8 - 1 - 7 - 9 - 10 - 6
D) 7 - 1 - 2 - 9 - 3 - 6 - 4 - 10 - 8 - 5
Resposta no final do artigo

5. O que é percepção?

6. Com base nas informações sobre as contribuições da TCC, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
( ) Para a TCC, no que diz respeito ao processamento cognitivo, cada indivíduo recebe e processa informações de forma particular e
única. Isso inclui percepção do evento, avaliação da sua importância, compreensão das relações causais e atribuição de
significado pessoal. Essa atividade cognitiva pode ser observada e alterada, e sua mudança influencia as emoções e os
comportamentos.
( ) A TCC articula a percepção, a memória e o sistema de crenças de um indivíduo durante o processo terapêutico, favorecendo uma
maior compreensão de seu estado atual. Isso pode auxiliar na construção da conceituação cognitiva, da formulação de caso e
da relação terapêutica.
( ) A TCC assume que as cognições causam os transtornos mentais e desempenham um papel importante no desenvolvimento e na
recuperação de psicopatologias.
( ) Mudanças provocadas na forma de pensar por meio da reestruturação cognitiva contribuem para a habilitação do potencial de
autorregulação que além de modificar o cérebro altera positivamente a resposta emocional e comportamental Essa capacidade
autorregulação, que além de modificar o cérebro, altera positivamente a resposta emocional e comportamental. Essa capacidade
de autorregulação pode ser estimulada e desenvolvida por meio da TCC e pode ser utilizada pelo indivíduo para se virar sozinho
perante situações impactantes do seu dia a dia, reequilibrando-o dinamicamente.
Assinale a alternativa com a sequência correta.

A) V – V – F – V
B) V – F – F – V
C) F – V – V – F
D) F – F – V – V
Resposta no final do artigo

7. Explique aos processos de sensitization e kindling.

■ NEUROBIOLOGIA E TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL


De forma a exemplificar a importância do conhecimento da neurobiologia dos transtornos mentais, elucidado a partir de tecnologias utilizadas
pela neurociência (métodos de neuroimagem e mapeamento cerebral, por exemplo), será apresentado o neurocircuito envolvido no
transtorno de pânico (TP) e sua hipótese de modulação funcional decorrente de intervenções em TCC.
Uma das hipóteses neuroanatômicas aceitas atualmente para o TP é baseada nos estudos de Gorman e colaboradores.12 De acordo com o
modelo, déficits no processamento de estímulos pelo córtex e pelo tronco cerebral podem levar a uma ativação aumentada da amígdala.
Sabe-se que estimulações elétricas na amígdala disparam um padrão complexo de respostas autonômicas e comportamentais de defesa,
semelhantes ao padrão eliciado em contextos naturais.

A amígdala é um centro para onde convergem muitos inputs sensoriais, mas também, a partir de seu núcleo central, transmite
outputs para o hipotálamo, áreas do mesencéfalo e tronco cerebral que podem selecionar e ativar respostas autonômicas,
comportamentais e endócrinas de medo, envolvidas no ataque de pânico (AP).13

Um AP pode ser precipitado por um estímulo visoespacial e/ou auditivo e também por cognições catastróficas. A informação pode ser
processada por dois circuitos diferenciados. No chamado “short loop”, os estímulos que chegam ao tálamo sensorial são transmitidos para o
núcleo lateral da amígdala e, posteriormente, para o seu núcleo central. No chamado “long loop”, as informações processadas pelo tálamo
são enviadas para o córtex sensorial, para a ínsula e para o córtex pré-frontal (CPF) para uma análise mais refinada. A partir daí, a
informação segue para a amígdala.14

Cabe ressaltar a importância do CPF nas funções executivas, como memória de trabalho e flexibilidade cognitiva. A regulação de
processos atencionais, interpretativos e associativos relacionados a pistas de ameaça está relacionada a essa estrutura. Na
ansiedade, essas funções parecem estar comprometidas. Assim, a atividade inibitória do CPF em relação à amígdala parece, então,
estar prejudicada.15,16

A amígdala (núcleo central) ativa, a partir de suas projeções eferentes, principalmente, o núcleo parabraquial, o núcleo lateral do hipotálamo,
o locus coeruleus, o núcleo paraventricular do hipotálamo e a substância cinzenta periaquedutal. As consequências são:

■ aumento do ritmo respiratório;


■ ativação autonômica e descarga simpática;
■ maior liberação de noradrenalina, aumentando a pressão arterial, a frequência cardíaca e a resposta comportamental ao medo;
■ aumento da liberação de adrenocorticoides;
■ acionamento de respostas comportamentais de defesa e paralisia postural.

O hipocampo comunica-se diretamente com a amígdala e está relacionado com a aquisição de conhecimento explícito ou declarativo
de propriedades emocionais dos estímulos.12,17

Sabe-se que as distorções cognitivas, como antecipações negativas ou catastróficas, que retroalimentam a ansiedade e predispõem o
cliente aos APs,18 contribuem de forma significativa para o sofrimento emocional do cliente. Quando há disfunção na modulação do
processamento top-down, respostas ansiogênicas estão mais propensas a acontecer, assim como a antecipação de consequências
negativas.
Modelos teóricos sobre os mecanismos neurobiológicos de ação da TCC sugerem a regulação desse mecanismo top-down, que exerceria
efeitos inibitórios em uma variedade de respostas aprendidas.12 Dois padrões de mudança de atividade cerebral são propostos: um
aponta para o papel da psicoterapia na normalização da ativação disfuncional anterior e o outro aponta para o recrutamento de áreas
adicionais que atenuam os sintomas.19

A amígdala, o CPF e o hipocampo são regiões que recebem atenção nos estudos com TCC.14 Antes do tratamento a partir de TCC, a
ativação da amígdala pode ser a consequência da interpretação disfuncional de informações sensoriais.12 A atividade reduzida no CPF
parece refletir o comprometimento do controle top-down das respostas de medo, permitindo que a cascata de sintomas autonômicos de
um AP seja disparada.20 A disfunção nas atividades do hipocampo pode estar associada com a hipergeneralização de ameaças
potenciais, revelada pelo comprometimento da avaliação da especificidade contextual destas ameaças.20

É aceito que a partir da contínua apresentação do estímulo condicionado, o CPF inibe os disparos da amígdala, sob a modulação do
hipocampo.13

Durante a terapia de exposição, o foco de atenção é direcionado à situação temida para facilitar o controle pré-frontal acerca dos disparos da
amígdala. Projeções inibitórias do hipocampo são criadas na interação com a nova informação emocional de contexto, que agora é
associada à segurança. Ou seja, os estímulos que provocavam medo não mais sinalizam perigo, inibindo as memórias desadaptativas
originais.21
Como consequência, respostas cognitivas, emocionais e comportamentais são modificadas frente ao mesmo estímulo. Por meio da
reestruturação cognitiva na TCC, o recrutamento do CPF, ou seja, o recrutamento das funções executivas, permite a atividade inibitória de
projeções corticais sobre as respostas automáticas de ansiedade, exercendo controle sobre a ativação da amígdala e propiciando mudanças
no processamento de informação e nos estados afetivos.12

■ NEUROCIÊNCIA E PSICOTERAPIA: MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

NEUROIMAGEM
Nos últimos 30 anos, com o avanço tecnológico, métodos de neuroimagem foram desenvolvidos e refinados, o que proporcionou uma
série de importantes contribuições para a compreensão de alterações estruturais e dos processos disfuncionais no sistema nervoso durante
o curso de transtornos psiquiátricos.

Uma verdadeira revolução ocorreu a partir da possibilidade da visualização direta, em tempo real, das modificações bioquímicas que
ocorrem em várias partes do cérebro à medida que são estimuladas para a ação.4

Principais técnicas de neuroimagem22

Estruturais:

■ ressonância nuclear magnética (RNM);


■ diffusion tensor imaging (DTI).

Bioquímicos:

■ tomografia por emissão de fóton único (SPECT);


■ tomografia por emissão de pósitrons (PET);
■ espectroscopia por RNM (ERM ou RMs).

Funcionais diretos:

■ eletroencefalografia (EEG);
■ magnetoencefalografia (MEG).

Funcionais indiretos:

■ SPECT;
■ PET;
■ Ressonância nuclear magnética funcional (RMF)
São concebidos dois conceitos primários que foram demonstrados e são passíveis de estudo por meio da neuroimagem e ajudam no
entendimento da interface entre o cérebro e as psicoterapias:

■ o primeiro conceito enfatiza que elementos específicos do processamento cerebral são realizados em ordem consecutiva e que são
realizados em locais específicos em todo o cérebro;
■ o segundo conceito demonstra que cada experiência é baseada em uma combinação única de atividades neurais que acontecem em todo
o cérebro e que as estruturas específicas que participam de uma experiência devem ser identificadas para que se conheçam as conexões
entre o cérebro, a experiência pessoal e a psicoterapia.10
Há um número cada vez maior de estudos que utilizam métodos de imagem cerebral para investigar o funcionamento cognitivo, a
experiência emocional e a autorregulação, a psicopatologia, os efeitos psicofarmacológicos e psicoterapêuticos, o efeito placebo e outros
fenômenos tradicionalmente estudados dentro da psicologia e psiquiatria. Uma série de desenhos experimentais são possíveis.

O cérebro é explorado enquanto se encontra em repouso e, em seguida, novamente, após estimulação: a atividade percebida a partir
do estímulo, que difere do estado de repouso, é considerada reflexo do processamento neural.

Ao comparar a atividade metabólica cerebral em indivíduos com e sem transtornos psiquiátricos, pode-se identificar diferenças funcionais
no processamento de informação entre eles. Medidas na atividade metabólica pré e pós-tratamento psicoterapêutico eficaz podem ser
usadas para estudar os correlatos neurais de tal tratamento.2
Por meio da RMF, conhecimentos acerca de circuitos cerebrais envolvidos no medo e na ansiedade, por exemplo, têm sido apresentados.23
A técnica é baseada na oxigenação sanguínea: áreas com maior atividade neuronal apresentam oferta de oxigênio maior que o consumo
local, o que aumenta a concentração da hemoglobina oxigenada (oxi-hemoglobina).
As diferenças de concentração entre oxi-hemoglobina e desoxi-hemoglobina falam de diferenças na atividade neuronal. Essa técnica é
conhecida como contraste BOLD (blood-oxygen-level dependent). A técnica BOLD emprega hemoglobina como agente de contraste
endógeno, contando com a diferença de magnetização entre oxi e desoxi-hemoglobina para criar o sinal de RMF.

Em áreas de maior ativação, presume-se que haja diminuição da desoxi-hemoglobina, devido ao aumento do fluxo sanguíneo em
relação à extração de oxigênio.24

Estudos funcionais permitem avaliação em tempo real do funcionamento cerebral, de forma não invasiva, sob a influência de estímulos
visuais, auditivos, táteis, gustativos ou olfativos, bem como durante a execução de tarefas cognitivas e afetivas. Além disso, fornecem uma
resolução anatômica que distingue entre estruturas pequenas e profundas.24 Estudos de RMF têm utilizado paradigmas de estímulos faciais
aversivos encobertos, fotografias com valência emocional e paradigmas de condicionamento do medo para estudar a amígdala e outras
estruturas límbicas nos transtornos de ansiedade, entre eles o TP.

Investigações a partir de estímulos auditivos e palavras ansiogênicas também são encontradas nos estudos de TP.23 Como já citado,
a base neurobiológica do TP tem sido estudada principalmente em relação à hipótese de Gorman e colaboradores, que descreve o
funcionamento de um neurocircuito do medo, o qual sugere principalmente que mecanismos top-down de controle inibitório estariam
prejudicados, e a ativação da amígdala e, consequentemente, de suas projeções para núcleos subcorticais, seria um dos principais
fatores relacionados aos sintomas neuroendócrinos, autonômicos e comportamentais associados ao transtorno.12

Estudos de neuroimagem e mapeamento cerebral têm apontado evidências para a hipótese mencionada, assim como alguns estudos com
TCC já demonstram que sua eficácia psicoterapêutica está acompanhada de mudanças cerebrais funcionais de modulação deste
neurocircuito proposto.14,23

É importante compreender os fundamentos das técnicas de neuroimagem, já que elas são utilizadas como fontes primárias de
informação para formulação de hipóteses sobre as relações cérebro-comportamento na atualidade. Essa compreensão pode ajudar
no reconhecimento do que se sabe sobre o funcionamento do cérebro, mas, principalmente, permite que não se descartem as
limitações significativas inerentes a cada tecnologia em que o conhecimento do cérebro é baseado, que delimitam o campo das
conclusões que podem ser apreendidas e/ou generalizadas.10

ELETROENCEFALOGRAFIA

A EEG é uma técnica que mede a atividade eletrocortical. Ela registra a atividade elétrica de neurônios piramidais a partir de
eletrodos localizados sobre o escalpo.

O registro é feito a partir do somatório das diferenças de energia elétrica entre essas células, que se distribui através do crânio e determina
diferenças de potencial elétrico entre pontos distintos do escalpo ou entre eles e um ponto neutro de referência. Dessa forma, os sinais
elétricos registrados representam os potenciais de membrana pós-sinápticos inibitórios e excitatórios das células piramidais verticalmente
orientadas do córtex cerebral. As pulsações rítmicas dessas células distribuídas ao longo do córtex dependem do tecido nervoso, das
características dos estímulos sensoriais e das alterações químicas do organismo.25
Existem duas formas principais de análise de sinal de EEG:
Existem duas formas principais de análise de sinal de EEG:

■ análise no domínio da frequência, representada pela descrição da distribuição de energia no sinal em função da frequência analisada;
■ análise no domínio do tempo, representado pelos potenciais eventos relacionados (PER).
A primeira análise envolve a decomposição do sinal em cinco principais bandas de frequência: delta (até 4Hz), teta (4-7Hz), alfa (8-13Hz),
beta (13-30Hz) e gama (30-100Hz).
Além disso, a EEG quantitativa gera algumas medidas específicas dessas bandas de frequência. São elas:

■ potência absoluta;
■ assimetria;
■ coerência.

A potência absoluta é definida como a energia total de um eletrodo localizado em uma área cortical em uma frequência específica. A
assimetria é definida pela diferença entre dois eletrodos homólogos. Ela detecta o equilíbrio da atividade entre os dois hemisférios. Já
a coerência é uma medida de correlação entre dois eletrodos localizados em diferentes áreas corticais. Essa medida contribui para a
compreensão da conectividade funcional entre as diferentes regiões do cérebro.26,27

O PER é uma resposta elétrica que está relacionada no tempo a um evento específico. Componentes iniciais, tais como o P100 (isto é,
uma onda positiva que ocorre em cerca de 100ms), estão associados com a identificação do estímulo, e os componentes tardios, tais como o
P300 (uma onda positiva que ocorre em cerca de 300ms), podem refletir o processamento cognitivo ou afetivo do estímulo.28,29
As principais áreas de pesquisa que foram abertas com o advento do EEG quantitativo são:4

■ objetificação de uma vulnerabilidade biológica: avaliar a extensão da existência de bases funcionais para um transtorno específico;
■ planejamento terapêutico: identificar os pontos fracos e fortes da organização e o estado eletrofisiológico do cérebro de um sujeito, de
forma a selecionar e planejar o melhor tipo de terapia;
■ avaliação terapêutica: documentar objetivamente um tratamento eficaz, comparando os dados de EEG antes e após o tratamento.

8. Com relação à neurobiologia e à TCC, explique os circuitos “short loop” e “long loop”.

9. A amígdala, o CPF e o hipocampo são regiões que recebem atenção nos estudos com TCC.14 Antes do tratamento a partir de
TCC, a ativação da amígdala pode ser a consequência da interpretação disfuncional de informações sensoriais.12 A atividade
reduzida no CPF parece refletir o comprometimento do controle top-down das respostas de medo, permitindo que a cascata de
sintomas autonômicos de um AP seja disparada.20 A disfunção nas atividades do hipocampo pode estar associada com a
hipergeneralização de ameaças potenciais, revelada pelo comprometimento da avaliação da especificidade contextual dessas
ameaças.20 Antes do tratamento a partir de TCC, a ativação da amígdala pode ser a consequência da interpretação disfuncional
de informações sensoriais. A atividade reduzida no córtex pré-frontal parece refletir o comprometimento do controle top-down das
respostas de medo, permitindo que a cascata de sintomas autonômicos de um ataque de pânico seja disparada.20 A disfunção nas
atividades do hipocampo pode estar associada com a hipergeneralização de ameaças potenciais, revelada pelo comprometimento
da avaliação da especificidade contextual destas ameaças.20
Com base no texto, assinale o que é INCORRETO afirmar sobre o papel da TCC na modulação de circuitos disfuncionais e no
recrutamento de áreas adicionais capazes de atenuar os sintomas de um AP.

A) É aceito que a partir da contínua apresentação do estímulo condicionado, o CPF inibe os disparos da amígdala, sob a
modulação do hipocampo.
B) Durante a terapia de exposição, o foco de atenção é direcionado à situação temida para facilitar o controle pré-frontal acerca
dos disparos da amígdala. Projeções inibitórias do hipocampo são criadas na interação com a nova informação emocional de
contexto, que agora é associada à segurança. Ou seja, os estímulos que provocavam medo não mais sinalizam perigo,
inibindo as memórias desadaptativas originais. Como consequência, respostas cognitivas, emocionais e comportamentais são
modificadas frente ao mesmo estímulo.
C) Através da reestruturação cognitiva na TCC, o recrutamento do CPF, ou seja, o recrutamento das funções executivas, permite
a atividade inibitória de projeções corticais sobre as respostas automáticas de ansiedade, exercendo controle sobre a ativação
da amígdala e propiciando mudanças no processamento de informação e nos estados afetivos.
D) Os mecanismos neurobiológicos de ação da TCC sugerem a regulação do mecanismo top-down, que exerceria efeitos
excitatórios em uma variedade de respostas aprendidas.
Resposta no final do artigo
10. De forma geral, as neurociências apresentam um conjunto de ferramentas que têm colaborado para a elucidação do
funcionamento cerebral. Mais especificamente, cada ferramenta possibilita métodos de investigação particulares e colabora de
uma forma bastante singular. Nesse sentido, observe duas das ferramentas utilizadas pelas neurociências que se encontram a
seguir e relacione-as com as alternativas sobre suas contribuições e/ou funcionalidades, numerando-as de forma correspondente.

( ) Permite a visualização direta das variações bioquímicas que ocorrem em


várias partes do cérebro.
( ) Mede a atividade elétrica do cérebro.
( ) Possibilita medidas específicas de bandas de frequência no cérebro:
(1) EEG potência absoluta (mede energia total em uma área cortical sob uma
(2) Neuroimagem frequência específica), assimetria (detecta o equilíbrio da atividade entre
os dois hemisférios) e coerência (contribui para a compreensão da
conectividade funcional entre as diferentes regiões do cérebro).
( ) Fornece uma resolução anatômica que distingue entre estruturas
pequenas e profundas.
Assinale a alternativa com a sequência correta.

A) 2 - 2 - 1 - 1
B) 1 - 2 - 1 - 2
C) 2 - 1 - 1 - 2
D) 2 - 1 - 2 - 1
Resposta no final do artigo

11. Quais são as principais técnicas de neuroimagem?

12. Explique o que significa o contraste BOLD.

13. Com relação ao EEG, assinale a alternativa INCORRETA.

A) A potência absoluta é definida como a energia total de um eletrodo localizado em uma área cortical em uma frequência
específica.
B) A assimetria é definida pela diferença entre dois eletrodos homólogos.
C) O PER é uma resposta elétrica que está relacionada no tempo a um evento específico.
D) A principal área de pesquisa aberta com o advento da EEG quantitativo diz respeito ao planejamento terapêutico.
Resposta no final do artigo

■ NEUROCIÊNCIA E PSICOTERAPIA:
ESTRATÉGIAS TERAPÊUTICAS COMPLEMENTARES

PSICOFÁRMACOS
Atualmente, a combinação da TCC com a prescrição de psicofármacos tem sido recomendada e se mostrado eficaz.30 Sendo assim, o
avanço relacionado ao entendimento dos mecanismos de ação e efeitos de ambas as formas terapêuticas é de fundamental importância.
Estudos comparativos de psicofarmacoterapia versus TCC mostraram que o sucesso terapêutico depende:

■ do tipo de doença;
■ dos critérios de eficácia;
■ da duração de follow-up;
■ da metodologia de pesquisa.

Os achados sugerem que a psicofarmacoterapia atuaria na regulação bottom-up, influenciando a atividade subcortical e, assim,
provocando uma mudança no humor e cognição. Por outro lado, a TCC influenciaria a regulação top-down.
O tratamento medicamentoso afeta regiões límbicas subcorticais (tronco cerebral, ínsula, cingulado subgenual), enquanto a TCC
influencia o funcionamento do córtex frontal medial e do córtex cingulado. Esses achados explicariam a menor taxa de recaída
comumente observada em clientes submetidos à TCC, mesmo quando o tratamento é combinado com medicamentos.2

Outro recurso promissor é a potencialização dos resultados de estratégias de TCC por meio do uso concomitante de agentes farmacológicos
que afetam substratos biológicos de resposta terapêutica. Um exemplo é o uso de D-Cyclosterine (DCS), que pode aumentar a taxa de
aprendizagem ao ser administrado em dosagem específica antes da terapia de exposição. A aprendizagem da extinção de resposta do medo
parece ser mediada pelos receptores de N-Methyl-D-Aspartate (NMDA) na amígdala.
O DCS, um agonista do NMDA, atua como uma potencializador de memória, facilitando a consolidação (ou reconsolidação) do aprendizado
que ocorre na extinção do medo durante as exposições, permitindo atingir ganhos terapêuticos em menos tempo. O uso de DCS durante
a TCC está sendo testado em diferentes transtornos de ansiedade.31

BIOFEEDBACK
O biofeedback é uma ferramenta terapêutica não invasiva que pode ser utilizada como um recurso complementar à TCC. O objetivo é
auxiliar os clientes a desenvolverem consciência e aumentarem o controle voluntário dos processos fisiológicos, que estão geralmente fora
da consciência ou com baixo controle voluntário, sendo primeiramente controlados por sinais externos e, então, por meio de cognições,
sensações ou outros meios para prevenir, cessar ou reduzir sintomas.32
A consciência e a autorregulação psicofisiológicas proporcionadas pelo uso do biofeedback são objeto de estudo da neurociência
cognitiva, em função do processo de neuroplasticidade, e por tratar-se de um método educacional e baseado nas teorias da aprendizagem
(exemplo: “condicionamento operante visceral”, ou seja, respostas do SNA podem ser aprendidas mediante reforçamento) e dos processos
cognitivos.

Os mecanismos neurofisiológicos envolvidos são atribuídos ao eixo córtico-límbico-hipotalâmico-pituitário-adrenérgico. O circuito que


deflagra as reações fisiológicas dirigidas às respostas de luta e fuga seriam os mesmos que permitem ao organismo responder às
cognições, às emoções e aos comportamentos, a fim de reduzir o estresse, permitindo a autorregulação fisiológica.33

Os equipamentos de biofeedback são dispositivos eletrônicos que possuem sensores capazes de coletar sinais elétricos da superfície da
pele, processá-los e transformá-los em informações compreensíveis e psicoeducativas, como valores numéricos, gráficos, imagens e sons.33
Os principais sensores utilizados e exemplos de suas aplicações são:33

■ eletromiografia (EMG) de superfície: aplicação no treino de relaxamento muscular e da consciência corporal;


■ temperatura: aplicação no treino de relaxamento autógeno;
■ atividade eletrodérmica: aplicação no treinamento em dessensibilização sistemática e na exposição gradual e/ou interoceptiva;
■ respiração: aplicação no monitoramento do treino de respiração diafragmática;
■ eletrocardiograma (ECG): aplicação no treino de relaxamento, de respiração diafragmática e exposição interoceptiva;
■ EEG: aplicação no treinamento de performances cognitivas específicas, como a meditação.

A utilização do biofeedback em psicoterapia é possível como:


“(a) recurso psicoeducacional sobre os sinais psicofisiológicos relevantes às queixas apresentadas pelos
pacientes, (b) potencialização do treinamento de habilidades de relaxamento e de respiração diafragmática
personalizados aos pacientes, (c) gerenciamento objetivo dos sinais psicofisiológicos do estresse, (d)
reestruturação cognitiva guiada por sinais psicofisiológicos, (e) TCC associada ao biofeedback para
modificação de padrões de pensamentos associados à manutenção de queixas físicas (ex.: somatizações), (f)
monitoramento psicofisiológico durante a sessão de psicoterapia verbal, utilizando as reações do sistema
nervoso autônomo para identificação de emoções implícitas (não expressas ou subliminares), (g) tratamento
dos transtornos somatoformes e/ou disfunções psicofisiológicas (psicossomáticas), entre outros”.33

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA


A EMT tem sido usada como uma ferramenta para a modulação não invasiva de regiões corticais. É colocada sobre o crânio uma
bobina que recebe uma corrente elétrica alternada potente. A mudança constante da orientação da corrente elétrica dentro da bobina é
capaz de gerar um campo magnético que atravessa alguns materiais isolantes, como a pele e os ossos, gerando a corrente elétrica dentro
do crânio, onde é capaz de ser focalizada e ficar restrita a pequenas áreas, dependendo da geometria e da forma da bobina.

Efeitos motores, cognitivos e emocionais são possíveis a partir de sua aplicação: quando aplicados no córtex motor, podem produzir
uma resposta muscular no membro contralateral; quando aplicada sobre outras regiões do córtex cerebral, os resultados dependem
da função da área escolhida.34

A EMT de alta frequência é capaz de induzir um aumento duradouro da excitabilidade neuronal da região tratada, ao passo que a EMT de
baixa frequência induz uma redução de excitabilidade cortical que perdura por horas ou dias após a aplicação. No tratamento da depressão
maior, por exemplo, o efeito terapêutico parece depender de um aumento da atividade pré-frontal esquerda ou uma redução da atividade pré-
frontal direita.34
A capacidade de regular a excitabilidade cortical junto com sua alta resolução temporal sugerem que a EMT pode ser uma
ferramenta útil para modular redes corticais de maneira a alterar a performance cognitiva.

O aprimoramento cognitivo pode ser definido como qualquer aumento nos sistemas centrais de processamento de informação no
cérebro, incluindo os mecanismos subjacentes à percepção, à atenção, à memória, ao raciocínio e ao desempenho motor.

A EMT é uma ferramenta promissora nesse campo, além de contribuir para a elucidação de mecanismos neurofisiológicos relacionados
aos transtornos mentais.35 Estudos recentes investigam a possibilidade dos benefícios do uso de EMT concomitante à TCC.36,37
Além dos métodos citados, outros que combinam estratégias variadas também são observados nos estudos de neurociência e
psicoterapia:7

■ marcadores biológicos indicadores de respostas neuroautonômicas podem ser associados a instrumentos de aferição dos resultados de
intervenções psicoterapêuticas (como escalas e inventários);
■ monitoramento cardíaco e a condutância galvânica podem ser associados às aquisições de neuroimagem (visando investigar as relações
entre as mudanças na atividade neural e a reatividade autonômica);
■ cortisol salivar pode ser utilizado para mensuração de respostas ao estresse antes e depois da psicoterapia.

Para considerações a respeito do desenho experimental dos estudos de neurociência e psicoterapia e sobre as suas limitações, temáticas
que escapam aos objetivos do presente capítulo, sugere-se consulta ao trabalho de Peres e Nasello.7

14. O que se pode afirmar sobre a combinação da TCC com a prescrição de psicofármacos?

15. Segundo estudos comparativos de psicofarmacoterapia versus TCC, do que depende o sucesso terapêutico?
I ― Do tipo de doença.
II ― Dos critérios de eficácia.
III ― Da duração de follow-up.
Quais alternativas estão corretas?

A) Apenas a I.
B) Apenas a III.
C) Apenas a I e a II.
D) A I, a II e a III.
Resposta no final do artigo

16. Qual é o objetivo do biofeedback?

17. Os equipamentos de biofeedback são dispositivos eletrônicos que possuem sensores capazes de coletar sinais elétricos da
superfície da pele, processá-los e transformá-los em informações compreensíveis e psicoeducativas, como valores numéricos,
gráficos, imagens e sons. Nesse sentido, correlacione as colunas com os principais sensores utilizados e exemplos de suas
aplicações.

( ) Aplicação no monitoramento do treino de respiração diafragmática.


( ) Aplicação no treinamento em dessensibilização sistemática, na
(1) EMG de superfície
exposição gradual e/ou interoceptiva.
(2) Temperatura
( ) Aplicação no treinamento de performances cognitivas específicas, como
(3) Atividade eletrodérmica
a meditação.
(4) Respiração
( ) Aplicação no treino de relaxamento muscular e da consciência corporal.
(5) ECG
( ) Aplicação no treino de relaxamento autógeno.
(6) EEG
( ) Aplicação no treino de relaxamento, de respiração diafragmática,
exposição interoceptiva.
Resposta no final do artigo
18. Sabendo que a EMT tem sido usada como uma ferramenta para a modulação não invasiva de regiões corticais, explique de que
forma ela funciona.

19. O que é aprimoramento cognitivo?

■ EXEMPLO CLÍNICO
Estudos indicam que a melhora dos sintomas da depressão após tratamento cognitivo-comportamental está associada com diminuição da
atividade na região subcortical amígdalo-hipocampal, que envolve processamento emocional bottom-up, e aumento de atividade dos
processos top-down no córtex orbitofrontal, CPF medial e no córtex cingulado anterior ventral e dorsal. Este último e o CPF medial são
responsáveis por funções cognitivas executivas de ordem superior que são alvo fundamental durante a TCC.2
A referida modulação geral alcançada ao término do processo de psicoterapia é possível pela aplicação de estratégias específicas que
podem ser compreendidas a partir de características específicas do funcionamento cerebral. Algumas das possíveis estratégias utilizadas no
tratamento da depressão maior serão ilustradas no exemplo clínico, seguidas da fundamentação atual da neurociência sobre suas possíveis
modulações nas redes neurais.

SITUAÇÃO PROBLEMA
V. W. é uma mulher de 48 anos, viúva, com duas filhas mulheres (uma mora na Inglaterra e a outra nos EUA) e um filho homem que mora no
Brasil. Atualmente, ela mora em um apartamento próprio na cidade do Rio de Janeiro e recebe pensão do falecido marido, encontrando-se
em situação financeira confortável e estável, porém, contida, sem muitos gastos. Namora um homem de 52 anos, advogado, que não mora
com ela.
Ao longo de sua vida, sempre foi a responsável por resolver situações familiares, tanto em sua família natal (primogênita entre cinco filhos de
pais muito humildes e trabalhadores, que a designavam para cuidar dos irmãos menores) quanto em sua família atual (filhos e namorado).
Ela relata que sempre precisou contar com ela mesma, pois além dos pais e do falecido marido não terem um perfil amparador, eles também
esperavam que ela se virasse sozinha na resolução de todos os problemas, inclusive os deles, “sem fraquejar”.
O seu senso de responsabilidade, a sua independência e a sua capacidade de solucionar problemas, sempre operaram auxiliando-a em
momentos difíceis de sua vida, garantindo sua sobrevivência. Essas características de V. W. se mantiveram presentes enquanto ela precisou
enfrentar perdas sucessivas de pessoas queridas por morte (irmão, há 27 anos, mãe, há 10 anos, pai, há 8 anos, marido, há 5 anos, sogra,
há 3 anos, irmã, há 3 anos) e por distanciamento geográfico (filhas que se mudaram para o exterior há 7 anos e 5 anos, sem intenção de
voltar ao Brasil, já que constituíram suas famílias onde residem).
Apesar de todas essas perdas e de morar sozinha, V. W. preservou-se uma mulher muito ativa, autônoma e capaz de resolver tudo dentro e
fora de sua casa, viajando inúmeras vezes para o exterior, dirigindo por todos os cantos do Rio de Janeiro, auxiliando seus filhos com os
netos etc. Contudo, há sete meses, houve um evento de perda que a abalou mais fortemente do que todas as outras situações mencionadas,
que foi o rompimento da comunicação de seu filho com ela.
Especificamente, no momento em que seu filho se separou litigiosamente de sua mulher, ele colocou para V. W. a condição de que ela não
mais poderia ver os netos na casa da nora, pois caso isso ocorresse, ele não falaria mais com ela. Tendo em vista o fato de que V. W.
sempre amou muito os netos e até hoje sente necessidade de vê-los e ampará-los, ela manteve suas idas à casa da nora para estar com os
netos e auxiliá-los em suas atividades diárias. Sendo assim, seu filho deixou de falar com ela, não atendeu mais os seus telefonemas e
nunca mais ligou.
Quando V. W. começou a terapia, trouxe esse conflito como sendo o mais perturbador, gerador de um profundo sofrimento, deixando-a sem
saber como agir. Segundo suas palavras, ela se sentia “entre a cruz e a espada”, pois não queria ver o filho amado chateado, sem se
comunicar com ela, e também não queria perder o contato com os netos, já que seu filho não tinha a disponibilidade de leva-los até ela.
Apesar de achar seu filho injusto e de considerar que não seria certo abandonar os netos, ficou muito magoada e impressionada com o
distanciamento dele e passou a se questionar profundamente sobre se estaria agindo certo ou não ao ‘causar’ essa situação em suas vidas.
Ainda assim, continuou a ligar para o filho, inclusive em datas festivas, mas nunca obteve retorno. Esse acontecimento deixou-a
desnorteada, sem saber o que fazer, e com a sensação de que perdera o controle sobre sua vida, como se “o trem tivesse descarrilhado” e
“nunca mais fosse voltar aos trilhos”.
Gradativamente, focalizou sua atenção nas ideias de que era incompetente, errática e sozinha. Foi se entristecendo e reduzindo todas as
suas atividades, até quase parar de ver os netos, tendendo fortemente a se isolar em casa, só saindo devido à insistência de algumas
amigas, do namorado e das filhas, por meio de ligações telefônicas internacionais.
DIAGNÓSTICO
Partindo-se de uma primeira avaliação clínica, V. W. apresentava um quadro de depressão maior moderada, que se iniciou há
aproximadamente seis meses (fundamentalmente após o ocorrido com seu filho), sem pensamento ou tentativa de suicídio, sem história
regressa de outras desordens psiquiátricas e sem problemas físicos de saúde (respaldados por acompanhamento médico regular).
Em seu quadro clínico, estiveram presentes os seguintes sintomas:

■ insônia constante (dificuldade para dormir, com muitos acordares e poucas horas de sono);
■ falta de apetite;
■ inquietação;
■ agitação psicomotora;
■ tensão corporal alternada com falta de tônus;
■ letargia;
■ desânimo para fazer as atividades do dia a dia;
■ baixa vitalidade;
■ choro constante.

Além dos apresentados anteriormente, observaram-se os seguintes sintomas:

■ cognitivos (pensamentos automáticos):


• “Perdi o controle sobre minha vida”;
• “Eu estou errando com o meu filho”;
• “Ele não me ama mais”;
• “Estou sendo uma mãe má”;
• “Eu abandonei meu filho”;
• “Estou sozinha”;
• “Ele nunca mais vai me perdoar”;
• “O mundo vai me condenar por eu ter escolhido ver meus netos, ao invés de preservar a relação com meu filho”;
• “Estou condenada a morrer sozinha, sem ninguém”;
• “A vida não tem mais graça, para que sair de casa se não posso ser mais útil”;
• “Estou condenada a própria sorte” etc;

■ emocionais:
• tristeza profunda;
• muita angústia;
• ansiedade constante;
• insegurança;
• desânimo.

■ comportamentais:
• diminuição dos autocuidados de higiene pessoal e estética;
• redução dos comportamentos de forma geral, com procrastinação de tarefas domésticas e realização delas com muito esforço;
• abandono de sua atividade regular de ioga;
• frequente evitação de sair de casa para qualquer atividade, inclusive para viajar, dirigir, fazer compras sozinha, ir a médicos, pagar
contas, ligar para as filhas e até visitar os netos;
• ficar na cama chorando durante o dia.

FUNCIONAMENTO COGNITIVO

■ Crenças centrais:
• “Eu não sou naturalmente digna de ser amada”;
• “Eu sou responsável pelo outro”;
• “Eu sou desamparada”;
• “Eu dependo de outras pessoas para ser feliz”;
• “Eu tenho que ser perfeita”.

■ Crenças Intermediárias:
• “Se eu pedir ajuda, vou incomodar/sou fraca”;
• “Se eu não pedir ajuda, vão gostar de mim/vão me valorizar”;
• “Se eu fizer o que o outro espera de mim, vou ser amada”;
• “Se eu não fizer o que o outro me pede, sou má/vou ser abandonada/estou cometendo um erro”;
• ‘Se eu contar com o outro (por exemplo, ligar para as filhas), elas vão me achar chata e enjoar de mim’;
• “Se eu for útil para o outro, tenho valor”;
• “Se eu não souber o que fazer sou incompetente”;
• Se eu não souber o que fazer, sou incompetente ;
• “Se o outro não gosta de mim, o problema é meu”.

■ Pensamentos automáticos:
• “Sou uma velha chata/dependente/sozinha”;
• “Nada mais vale a pena se estou sozinha”;
• “Eu não vou sair disso”;
• “Estou condenada a ficar sozinha”;
• “Sou inútil”;
• “Eu sou má”;
• “Meu filho me odeia”;
• “Minhas filhas vão enjoar de mim”;
• “Eu deveria saber o que fazer”;
• “Perdi o controle sobre minha vida”;
• “Ninguém mais vai me amar”;
• “Vou morrer só”;
• “Não tenho ninguém por mim”.

Tríade cognitiva
No caso de V. W. é possível observar a tríade cognitiva (visão negativa de si mesma, do outro/mundo e do futuro) expressa por meio de
algumas combinações de pensamentos, tais como:

■ “Eu sou uma velha chata” + “Minhas filhas vão enjoar de mim” + “Eu vou ficar sozinha”;
■ “Eu sou uma mãe má” + “Meu filho nunca mais vai me perdoar”/”O mundo vai me condenar por eu ter escolhido ver meus netos, ao invés
de preservar a relação com meu filho” + “Estou condenada à própria sorte”;
■ “Eu sou incompetente” + “Todos me acham fraca e inútil” + “Minha vida nunca mais será a mesma/Eu estraguei tudo para sempre/Não vou
mais ser necessária para ninguém”.

Distorções cognitivas
No discurso de V. W. podem ser identificadas algumas distorções cognitivas, dentre elas:

■ catastrofização;
■ generalização;
■ abstração seletiva;
■ rotulação;
■ leitura mental;
■ tirania dos ‘deveria’;
■ polarização (tudo ou nada).

Crenças irracionais de Ellis


Mais fortemente, também se apresentam as crenças irracionais 1 e 2 de Ellis, “Eu preciso ser amado pelas pessoas que são importantes
para mim” e “Eu preciso ser competente em todos os aspectos da minha vida para ter valor”, respectivamente.

ABORDAGEM TERAPÊUTICA
Após ter sido realizada uma avaliação inicial do caso, seguida de uma formulação preliminar, partiu-se para uma discussão dessa formulação
de caso com a cliente, aproveitando-se dados de sua conceituação cognitiva para sua educação sobre o modelo cognitivo e para sua
compreensão do processo terapêutico da TCC.
Visou-se, com isso, o estabelecimento de uma sólida relação terapêutica baseada nos princípios de respeito, confiança e colaboração.
Então, estabeleceu-se com a cliente, uma lista de problemas que contemplou suas expectativas com o tratamento e priorizou uma ordem
de ações para o alcance de suas metas durante a terapia. Identificou-se a seguinte lista de problemas:

■ depressão maior (tríade cognitiva, humor rebaixado e redução dos comportamentos);


■ isolamento social (vê-se como ‘inútil’, ‘sem valor’, ‘desnecessária’, ‘impotente’, ‘fraca’);
■ baixa assertividade (não fala sobre si com o outro para não incomodar, acredita que tem que fazer o que o outro quer para poder ser
amada, tem dificuldade de negociar seu ponto de vista e desejos com o outro).
O plano de tratamento de V. W. foi composto de quatro grandes metas a serem alcançadas, cada qual com suas respectivas estratégias
terapêuticas.

■ Tratamento cognitivo e comportamental da depressão para elevação de sua autoestima, senso de autoeficácia, qualidade de vida e bem-
estar:
estar:
• psicoeducação da cliente sobre TCC, depressão maior e modelo cognitivo da depressão;
• estratégias comportamentais: monitoração de atividades; identificação de atividades necessárias e prazerosas; programação de
atividades semanal, gradativamente introduzindo atividades durante o dia, como iniciar respostas comportamentais mínimas (por
exemplo, inicialmente, lavar a louça pelo menos uma vez por dia, cuidar das roupas duas vezes por semana, cozinhar mais o que gosta,
arrumar o cabelo ao acordar etc.), reiniciar atividades prazerosas conhecidas (por exemplo, ioga uma vez por semana com uma amiga,
visita aos netos duas vezes por semana na parte da tarde), iniciar novas atividades que sempre teve vontade de fazer (caminhada na
praia, aulas de culinária japonesa, aulas de francês etc.);
• estratégias cognitivas: trabalhar sobre sua conceituação cognitiva, ampliando sua compreensão acerca dos elementos e das relações
funcionais entre eles, que contribuíram para a formação de crenças, esquemas e padrões comportamentais; questionamento socrático;
preenchimento de registros diários de pensamentos disfuncionais (RDPD) para reestruturação dos pensamentos automáticos negativos;
identificação de crenças centrais negativas e positivas, questionando-as e atualizando-as de modo a contemplarem uma visão mais
ampla da realidade e, a partir daí, visualizar ações que se revelem mais compatíveis com as novas crenças que se deseja fortalecer;
identificação e contestação às distorções cognitivas e às crenças irracionais 1 e 2 de Ellis; triagem de preocupações, avaliando aquilo
que pode ou não ser mudado por ela e qual o grau de prioridade para executar o que depende dela; estabelecimento de foco em
memórias positivas, favorecendo a percepção de sua influência sobre a mudança emocional e comportamental.

■ Ampliação de sua rede social de apoio, principalmente por meio de atividades prazerosas que favoreçam a criação de laços com outras
pessoas:
• identificar e testar ajustes possíveis em suas relações atuais (por exemplo, dar menos atenção ao afastamento do filho, já que isso
independe de sua vontade, voltando seu olhar para aquelas relações capazes de produzir maior bem-estar; aumentar contato telefônico
com as filhas que moram no exterior, principalmente com a mais velha, com a qual tem muita afinidade, trocando novidades, por meio
de um pacote econômico de ligações internacionais; marcar de caminhar na praia com uma amiga muito querida; sair com o namorado
para programas culturais que tanto gosta e viajar para sua casa na região dos lagos no Rio de Janeiro);
• avaliar prós e contras de focar atenção no comportamento do filho e/ou dela se manter em uma atitude de isolamento por conta desse
evento;
• contrastar com prós e contras do comportamento de nutrir suas boas relações atuais e abrir-se para novas relações;
• inserir-se em algum grupo para trabalho voluntário de sua preferência.

■ Treino em assertividade para aumentar sua capacidade de comunicação:


• trabalhar o reconhecimento de seus direitos legítimos;
• aumentar a assertividade positiva;
• aumentar a capacidade de afirmação pessoal.

■ Prevenção de recaídas:
• revisão geral do progresso da cliente: repassar as intervenções que tiveram sucesso e também tentar prever situações futuras nas quais
possa haver algum novo desafio, mesmo que de ocorrência incerta, exercitando as soluções que poderiam ser aplicadas;
• tratar de questões relacionadas ao encerramento;
• recomendação sobre a prática contínua das estratégias aprendidas, possibilitando manter os ganhos do tratamento e prosseguir com a
melhora, além de facilitar a generalização.

De acordo com pesquisas recentes, redes neurais em múltiplas áreas do cérebro estão envolvidas na depressão e seus respectivos
processos estão relacionados à velocidade de processamento da informação, da velocidade psicomotora, da atenção, da memória,
das conexões entre memória e humor, inibição e dos processos cognitivos automáticos e intencionais. Sendo assim, uma ampla
gama de intervenções pode ser aplicada de forma flexível para lidar com os sintomas particulares de cada cliente.10

Como se observou no caso clínico, a ativação comportamental é um dos elementos-chave e, geralmente, um dos passos iniciais para o
tratamento do cliente que se encontra deprimido. Assim, uma forma eficaz de iniciar uma mudança no humor pode ser por meio de
estimulação do início de tarefas simples, que ativam os núcleos subcorticais de processamento cerebral, enquanto requerem uma ativação
mínima de áreas frontais e executivas do cérebro afetado pela depressão.
Quando as mudanças de humor são iniciadas, alterações funcionais globais podem ocorrer por meio de alterações nas redes neurais que
são ativadas.10 Assim, recomenda-se que o cliente se engaje em pequenas atividades, tais como as requeridas à cliente. Para iniciar tais
atividades, demanda-se baixo nível de esforço e motivação, contudo, a ativação de redes neurais funcionais é uma consequência.

As intervenções destinadas a reduzir sintomas da depressão estimulam mudanças não relacionadas ao conteúdo das mesmas.
Qualquer passo para a ativação comportamental durante um episódio depressivo pode ativar caminhos de processamento de
informação no cérebro que colaboram para o enfrentamento ativo e enfraquecem as redes neurais relacionadas à passividade e
evitação.10 É também apropriado que as tarefas ativem os sistemas de recompensa, sendo para isso vistas como prazerosas pelo
cliente. Dessa forma, podem também ser utilizadas para estimular o engajamento do cliente em atividades subsequentes.10

Outro aspecto fundamental do tratamento é a reestruturação cognitiva, que acontece por meio do questionamento socrático, que consiste
na formulação de perguntas para que o cliente reflita sobre seus pensamentos, reavalie-os e consiga por ele mesmo perceber as distorções.
As perguntas visam uma busca de evidências para os pensamentos e/ou explicações alternativas.

Q d t di f i l é id tifi d l d à li t i l b i ifi d i li t
Quando o pensamento disfuncional é identificado e colocado à prova, o cliente consegue vislumbrar significados mais realistas para a
situação que lhe traz ansiedade e, consequentemente, sua crença no pensamento disfuncional diminui, assim como o sentimento de
desconforto correspondente.38

A mudança de processamento, que abarca a substituição de pensamentos automáticos negativos pela ativação de conteúdos mais
realistas de forma intencional, envolve ativação frontal do cérebro recrutando funções executivas e sistemas de memória explícita de forma a
interromper processos implícitos relacionados com ideias mal adaptativas e humor rebaixado. Ou seja, ocorre ativação do controle de
regulação top-down. Sendo assim, as redes neurais que possuem atividade em várias partes do cérebro são modificadas de forma a
ativarem um funcionamento não depressivo. Essas alterações podem modificar a qualidade do processo de processamento de informações
através do cérebro, contribuindo para a regulação emocional e inibição da atividade de núcleos subcorticais, e aumentando as chances de
recrutamento do mesmo “caminho de informação” em experiências futuras.10

O plano de tratamento também incluiu o recrutamento de memória positiva. Uma estratégia pode ser pedir ao cliente que relembre
uma experiência positiva anterior e a descreva buscando experimentar as emoções associadas, com detalhes de elementos
sensoriais. Isto pode ser suficiente para iniciar uma mudança no processamento cerebral, ativando memórias e reforçando a ativação
de redes neurais associadas a experiências positivas e a um estado não depressivo de funcionamento cerebral.10

Durante o tratamento e na prevenção de recaídas, o cliente é alertado de que variações de humor e sintomas depressivos pontuais
fazem parte da vida e podem ocorrer no futuro como parte de um funcionamento natural. Assim, ele deve ser orientado a se engajar
nas estratégias de enfrentamento dos sintomas depressivos diante de eventos normais do dia a dia ou do início de sintomas leves
que possam sugerir o início de um episódio clínico.

A intenção é estabelecer uma ligação entre as estratégias de intervenção e possíveis sintomas, ao mesmo tempo em que as redes
neurais funcionais estão ativadas. Espera-se que diante de uma experiência futura de sintomas leves, o enfrentamento possa logo ativar as
redes neurais não associadas à depressão, que estão relacionadas a um maior senso de autoeficácia e à redução dos efeitos negativos dos
sintomas.10

Se o cliente tem uma história longa de funcionamento adaptativo prejudicado, é provável que sinta angústia ou ansiedade durante a
emissão de comportamentos mais adaptativos. A ansiedade associada com o ‘desconhecido’ funcionamento adaptativo pode ser
devido à novidade da experiência, bem como à falta de conexões ou de fortalecimento das redes neurais associadas a este
funcionamento positivo.

Será, então, importante ajudar o cliente a desenvolver habilidades para lidar com uma diversidade de situações futuras, dentre elas,
desenvolver habilidades sociais, tal como visto no caso apresentado. Espera-se que o desenvolvimento de redes neurais associadas a cada
um destes tipos de funcionamento possa reduzir a probabilidade de ocorrência de novos episódios depressivos.10

20. De acordo com pesquisas recentes, as redes neurais em múltiplas áreas do cérebro estão envolvidas na depressão e seus
respectivos processos estão relacionados à velocidade de processamento da informação, velocidade psicomotora, atenção,
memória, conexões entre memória e humor, inibição e processos cognitivos automáticos e intencionais. Sendo assim, uma ampla
gama de intervenções pode ser aplicada de forma flexível para lidar com os sintomas particulares de cada cliente.10 Considerando-
se o trecho de texto mencionado e o caso clínico de V. W., assinale a alternativa INCORRETA sobre os achados das
neurociências.

A) A prevenção de recaídas servirá para alertar V. W. de que sentir sintomas depressivos pós-tratamento não faz parte de um
funcionamento normal e que, se isso acontecer, está aí um sinal de que sua depressão irá voltar e de que o tratamento não
funcionou.
B) É apropriado que as tarefas comportamentais prazerosas ativem os sistemas de recompensa e que isso contribua para
estimular o engajamento do cliente em atividades subsequentes.
C) Mudanças no processamento cognitivo relacionadas à substituição de pensamentos automáticos negativos pela ativação de
conteúdos mais realistas de forma intencional (estratégia de reestruturação cognitiva) geram ativação do controle de regulação
top-down, que envolve ativação frontal do cérebro, tanto recrutando funções executivas e sistemas de memória explícita (por
exemplo, funcionamento não depressivo) quanto interrompendo processos implícitos (por exemplo, humor rebaixado).
D) A ativação comportamental é um dos elementos-chave para o tratamento da depressão de V. W., ocasionando, em um
primeiro momento, o acionamento dos núcleos subcorticais e a ativação mínima de áreas frontais e executivas do cérebro, e,
após o início das mudanças de humor, alterações funcionais globais que colaboram para o enfrentamento ativo e para o
enfraquecimento das redes neurais relacionadas à passividade e a evitação.
Resposta no final do artigo

21. Considerando o caso clínico de V. W., relacione a primeira coluna de estratégias com a segunda coluna de sinais e sintomas,
assinalando qual ferramenta específica dentre todas as outras mencionadas melhor se encaixa para o tratamento de determinado
sintoma, visando habilitar recursos para promover uma autorregulação.

(1) A li ó ( )I l t i d àtí d iti (“E i t t ” “T d h f i útil” Nã


(1) Avaliar prós e ( ) Isolamento associado à tríade cognitiva (“Eu sou incompetente”+ “Todos me acham fraca e inútil”+ Não vou
contras de mais ser necessária para ninguém’), conduzindo V. W. a se apresentar no voluntariado de sua Igreja para
tomar uma prestar serviço para a sua comunidade, podendo ela trabalhar o reconhecimento de que tem em si muitos
decisão recursos para ser útil ao próximo.
(2) Teste de ( ) Dúvida sobre se deixa de ir à casa da nora para ver os netos ou se abre mão disso para estar de bem com
realidade com o filho.
reestruturação ( ) Expressar aos filhos, amigos e namorado os seus pensamentos, sentimentos e vontades legítimos,
cognitiva procurando respeitar-se e pedir ajuda quando necessário.
(3) Exposição ( ) Listar todos aqueles pensamentos que ficam vindo a sua mente sobre o que fazer ou não fazer, separando
situacional aquilo que é solucionável daquilo que não é resolvível, estabelecendo uma hierarquia de relevância para
(4) Combate à aquilo que é emergencial, importante ou supérfluo, programando-se para agir quanto ao que pode resolver
irracionalidade e desapegando daquilo que não depende dela para ser modificado.
(5) Treino em ( ) Enfrentar seu receio de dirigir, viajar, sair de casa e visitar os netos por conta de seu humor rebaixado,
assertividade expondo-se de uma forma mais sistemática e programada a essas situações, de modo que suas sensações
(6) Programação de desconforto diminuam e sensações de prazer sejam vivenciadas a partir da distração com outras
semanal de situações e/ou o foco no presente.
atividades ( ) Levantar, organizar e planejar atividades necessárias e prazerosas ao longo de uma semana (por exemplo,
(7) Triagem de ioga, caminhadas, ida ao teatro, estar com os netos, fazer compras, arrumar a casa etc).
preocupações ( ) Crença de que “eu preciso ser amada e aprovada pelo meu filho incondicionalmente”.
Marque a alternativa que contempla a sequência correta.

A) 2 - 5 - 3 - 6 - 1 - 4 - 7
B) 7 - 3 - 5 - 2 - 4 - 1 - 6
C) 2 - 1 - 5 - 7 - 3 - 6 - 4
D) 4 - 2 - 1 - 7 - 3 - 5 - 6
Resposta no final do artigo

■ CONCLUSÃO
Os últimos anos foram marcados por estudos neurocientíficos revolucionários sobre o funcionamento cerebral, que permitiram uma melhor
compreensão dos processos e funções do cérebro, da psicopatologia e de mecanismos e estratégias de tratamento. As técnicas de
neuroimagem estruturais e funcionais permitem o conhecimento mais minucioso, embora ainda inicial, de como a TCC tem o potencial de
modificar circuitos neurais disfuncionais associados aos transtornos psiquiátricos.
Os achados atuais sinalizam que as estratégias de aprendizagem utilizadas na TCC podem ocasionar mudanças nas sinapses cerebrais e
nas expressões neurofisiológicas que são passíveis de manutenção em longo prazo.
O conhecimento estrutural e funcional do cérebro permite esclarecer as formas como os clientes processam suas experiências e ajuda
na investigação da identificação dos melhores meios para orientá-los em relação à mudança favorável.

Para um conhecimento aprofundado deve-se levar em consideração os diferentes níveis de processamento: desde o nível mais
‘inferior’ que denota os sistemas de arousal, o processamento afetivo relacionado ao recrutamento de estruturas mesencefálicas, até
os níveis corticais ‘superiores’, além das várias formas como esses níveis se interinfluenciam.

É possível aumentar o conhecimento de como padrões de comportamento mal adaptativos anteriormente desenvolvidos são mantidos e de
como a mudança pode ocorrer.10 A mudança e a dificuldade em mudar podem tornar-se mais palpáveis ao serem descritas por seus
substratos neurobiológicos, assim, recursos terapêuticos que visem sua modulação poderão ser propostos. Encontrar marcadores biológicos
preditores de resposta às intervenções cognitivo-comportamentais também é possibilidade promissora nesse cenário da neurociência.
Esses conhecimentos favorecem o entendimento sobre os mecanismos de ação da TCC e geram possibilidades para investigar a
associação de outras intervenções terapêuticas à TCC, o que pode potencializar os ganhos terapêuticos.
A partir do conhecimento das mudanças neurobiológicas necessárias para o tratamento cognitivo-comportamental de diferentes condições
psicopatológicas, espera-se que estudos futuros orientem as intervenções psicoterapêuticas em relação ao que deve ser estimulado no
funcionamento cerebral dos indivíduos em tratamento para normalização de suas atividades neurais disfuncionais. Tais estudos requerem
uma abordagem interdisciplinar para garantir a qualidade de vida e bem-estar daqueles que procuram ajuda psicológica, e apontam para
um campo promissor de avanço da psicoterapia.

■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS


Atividade 1
Resposta: D
Comentário: Tanto a TCC quanto as neurociências surgiram a partir da contribuição de diferentes disciplinas científicas e clínicas,
constituindo-se abordagens integrativas e interdisciplinares. Elas atuam como métodos científicos de investigação, que se propõem
continuamente a validar seus achados por meio do teste empírico do seu modelo e das suas intervenções. Ambas fazem uso de técnicas e
p p ç
tecnologias cada vez mais sofisticadas que gradativamente podem ser aprendidas e aplicadas pelos cientistas, pelos terapeutas e até pelos
pacientes, inclusive tornando-se cada vez mais acessíveis e econômicas para se adquirir e utilizar.
Atividade 3
Resposta: C
Comentário: A alternativa C está incorreta, pois tanto mudanças nos pensamentos quanto nos comportamentos são capazes de provocar
alterações na anatomia e na funcionalidade do cérebro. Todavia, é certo que se algum tipo de comportamento é mais utilizado, maior é a sua
capacidade de gerar novas conexões cerebrais e de contribuir para o fortalecimento desses caminhos sinápticos. Ou seja, se uma estrutura
anatômica é cada vez mais recrutada em algum tipo de comportamento, não haverá competição para o espaço cortical disponível, que será
ocupado pela função mais frequentemente utilizada.2
Atividade 4
Resposta: D
Comentário: De acordo com a neurociência, uma das maneiras do cérebro humano se modificar é por meio da criação de interconexões
entre os neurônios com base em seu disparo simultâneo durante um período de tempo, que pode ser gerado a partir de experiências.
Pensando nisso, a neuroplasticidade contém um conjunto de princípios, que dizem respeito à sua capacidade de modificar, compensar, gerar
e ajustar as funções neurais fundamentais à existência, ao longo de toda uma vida, em todas as fases do desenvolvimento de um indivíduo,
mais favoravelmente quando o organismo está jovem. Todavia, independentemente da idade, quanto mais uma interconexão é

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