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O QUE É MEDITAÇÃO

Encontrada em diversas tradições culturais, religiosas e filosóficas, como, no


budismo, a meditação, praticada de forma secular, tem sido cada vez mais
integrada na prática clínica contemporânea, principalmente na psicologia e na
medicina.
Embora a meditação seja praticada pelos budistas há, pelo menos, 3 mil anos
e seja parte integrante do arsenal terapêutico de alguns sistemas tradicionais
de medicina do Oriente, apenas recentemente esforços sistemáticos têm
ocorrido para sua integração nas intervenções clínicas dentro da medicina
ocidental.
Tendo origem nas filosofias contemplativas orientais, a meditação foi
introduzida no Brasil especialmente a partir da década de 60.

A meditação tem sido associada a um maior bem-estar físico, mental e


emocional (WALLACE, 2012; HIGUCHI e KOZASA, 2011); sendo incluída, em
2017, como prática integrante na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2017), cujo
objetivo é valorizar saberes populares e o uso de tecnologias leves nas ações
e serviços de saúde (MERHY, 2002).

A prática meditativa pode ser classificada em diferentes formas; entre elas: a)


concentrativa -quando há um treino da atenção em um único foco, como a
respiração; b) mindfulness, caracterizada pela consciência do momento
presente, com uma atitude de acolhimento dos estímulos que surgirem, sem
julgamentos nem reflexões sobre os mesmos, uma espécie de
"monitoramento aberto" (MENEZES e DELL'AGLIO, 2009), e um terceiro
tipo, c) meditação de compaixão ou bondade amorosa, com o objetivo de
cultivar qualidades altruístas, como a alegria empática, equanimidade, entre
outras (JINPA, 2016).

O professor e cientista político Willard Johnson (Universidade de San


Diego, Califórnia, EUA) em seu livro Do Xamanismo à Ciência: A História da
Meditação especula que a pré-história desta prática seria correlata à
época da “domesticação” do fogo: por volta de 800.000 anos atrás (Johnson,
1982, p.34). Segundo o autor, os homens primitivos, ao abrigarem-se na
caverna em volta do fogo, sentiam-se atraídos pelas chamas que bailavam
diante de seus olhos. Assim, foram os primeiros a colocar em prática o
exercício de manter a atenção em um determinado objeto. Para os povos
primitivos, a fogueira representava a segurança, a proteção contra os
animais selvagens e o calor diante do frio intenso. Segundo Johnson,
observar por longas horas as chamas da fogueira enquanto abrigavam-se do
frio e dos perigos noturnos, poderia ter produzido nos homens primitivos
estados extáticos, inibindo temporariamente os demais estímulos
sensoriais. Esta observação permitia afastar da consciência o padrão de
luta-fuga para um estado mais calmo, de repouso, em vez de
ansiedade (JOHNSON, 1982, p.34).
Outro evento da história primitiva que também estaria diretamente
relacionado ao surgimento da meditação seria a caça. Os caçadores
primitivos não possuíam arcos possantes com os quais pudessem abater
a presa, sendo obrigados a se aproximarem o máximo possível da
mesma, mantendo uma distância de segurança. Assim, para se aproximar
de animais selvagens no momento da caça seria necessário silenciar a
mente de todos os pensamentos, principalmente os ansiosos, mantendo a
atenção e esperando o momento exato de confrontá-la. Da mesma forma,
os guerreiros primitivos precisavam praticar estas habilidades para que
pudessem enfrentar seus inimigos. Assim, segundo o autor, as artes
marciais, procedentes do extremo Oriente, seriam as descendentes
contemporâneas destas práticas ‘meditativas’, pois todas dependem de
um êxtase meditativo, do esvaziamento da mente e das ansiedades
autoconscientes e bloqueadoras de ações (JOHNSON, 1982, p.36).

Mas como a prática da meditação chegou até nós? Existem registros


escritos contendo várias práticas para objetivos diversificados que
remontam às primeiras civilizações da Ásia, inclusive a Índia (JOHNSON,
1982, p.53).Com base nesta pergunta, antropólogos descobriram uma tribo
no deserto de Kalahari, na África (os !Kung San) que sobrevive até hoje
com tradições que remontama Idade da Pedra.

Através destas práticas desenvolvidas ao longo dos séculos e passadas


oralmente entre as gerações, como fim das culturas de caça e coleta,
foi possível que os descendentes diretos destes xamãs conseguissem
preservar sua tradição deixando registrados seus ensinamentos, a partir do
surgimento da escrita (JOHNSON, 1982, p.53).

O estudo científico da meditação, no ocidente, teve início com as pesquisas do


Dr. Herbert Benson, cardiologista e professor da Faculdade de Medicina
da universidade de Harvard (EUA), no início dos anos 70 (SANTOS, 2010).

Assim, a partir de sua pesquisa a respeito da MT, Benson e


Wallace perceberam que os meditadores conseguiam manter estáveis o
batimento cardíaco, o metabolismo corporal e a respiração. Benson denominou
Relaxation Response(Resposta ao Relaxamento) ao conjunto resultante destas
respostas fisiológicas em decorrência da prática (BENSON E WALLACE,2000,
p. 16) e foi o nome que deu origem ao livro lançado em 1975.

Aliado a isto, outro acontecimento que chamou sua atenção foi a


constatação de que os pacientes apresentavam a pressão sanguínea com
valores mais altos quando aferida no consultório. Benson percebeu que
esta alteração acontecia devido à ansiedade que os pacientes
apresentavam diante do médico. Assim, Benson concluiu que havia uma
relação entre stress, ansiedade e alterações fisiológicas (BENSON, 1985,
p.13,14).Em sua busca por uma explicação, Benson encontrou-se com o
Dr.Robert Keith Wallace, da universidade da Califórnia, que estava
desenvolvendo uma pesquisa com praticantes de meditação transcendental
(MT), que é a técnica de meditação mais conhecida no ocidente (GOLEMAN,
1997, p.86). Em uma breve explicação, esta técnica consiste basicamente,
em manter-se sentado confortavelmente, de olhos fechados, por um
período de 15 a 20 minutos, duas vezes ao dia, buscando repetir (pode
ser mentalmente), uma palavra ou um som que possua algum significado
pessoal34. Ou seja, diferentes temas para meditação são dados a pessoas
diferentes (GOLEMAN, 1997, p.87).

No comentário introdutório do trabalho publicado por Benson, o


cardiologista Sidney Alexander, pontuou que a meditação pode ser
utilizada para os mais variados objetivos: no controle da ansiedade, como
coadjuvante no tratamento da depressão, no controle de reações
emocionais intensas, como auxiliar no tratamento da hipertensão, no
equilíbrio dos batimentos cardíacos, no alívio da dor, no período de tensão
pré-menstrual, menopausa, em quadros de insônia, nas alterações de
humor e em doenças que possam surgir em decorrência do stress e da
ansiedade (BENSON E WALLACE, 2000,p.2).

Outro pesquisador, Jon Kabat-Zinn, professor de medicina da


Universidade de Massachussetts também descobriu que a prática da
meditação, combinada com yoga, diminuía a dependência de analgésicos e
reduzia os sintomas em pacientes de dor crônica. Dentre os vários casos
estudados por Zinn, as queixas dos pacientes variavam entre dores nas
costas e dores de cabeça (como enxaqueca e tensão), entre outros
casos relacionados à dor crônica (KABAT-ZINN, 1985, p.163).
Pode-se definir a meditação como uma prática de integração mente-corpo
baseada na vivência do momento presente, com consciência plena e não
julgadora a cada instante.
Para a aquisição desse estado de consciência dito meditativo, existem diversas
técnicas e suas variações, nas quais a atenção da pessoa é ancorada em uma
palavra, som, imagem, oração ou simplesmente na própria respiração,
permitindo que a mente se estabeleça no momento presente.
Segundo Jon Kabat-Zinn, um dos responsáveis pela ocidentalização da
meditação com foco na saúde, a “meditação é a simplicidade em si mesma.
Trata-se de parar e estar presente. Isso é tudo”.
Cardoso e colaboradores trazem uma definição mais operacional da
meditação, buscando uma padronização para fins científicos e clínicos. Esses
autores definem a meditação segundo cinco parâmetros:
 é um estado autoinduzido, autoaplicável;
 é um estado obtido por uma técnica específica, claramente definida;
 algum tipo de foco (âncora) é utilizado para evitar o envolvimento com
as sequências de pensamento, sensações ou distrações;
 envolve “relaxamento da lógica”, ou seja, um estado de “não analisar”,
“não julgar”, “não criar expectativa”;
 em algum ponto do processo, instala-se um relaxamento psicofísico,
com relaxamento muscular mensurável.
Um Programa de Meditação Mindfulness Aplicada à Saúde
Uma das primeiras aplicações da meditação como terapia clínica no Ocidente
foi feita no fim da década de 1970, por Jon Kabat-Zinn e colaboradores, da
Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, que desenvolveram um
programa de redução do estresse em grupo, baseado na meditação
mindfulness.
As principais técnicas de meditação utilizadas são as seguintes:
 a chamada “atenção plena” (mindfulness) na respiração;
 o “escaneamento” corporal (técnica relativamente similar ao relaxamento
muscular progressivo);
 a caminhada meditativa;
 a ioga com atenção plena, que é utilizada segundo posturas corporais
consideradas leves, podendo ser realizada por indivíduos com diferentes
níveis de capacidade e com limitações físicas.
POR QUE SE DEVE PRATICAR E PRESCREVER A MEDITAÇÃO
Evidências Científicas
No campo da saúde em geral, e particularmente no campo das práticas
integrativas e complementares (PIC), como a meditação, é fundamental o
acesso às melhores evidências científicas para a tomada de decisão
terapêutica ou profilática, visando à melhoria do cuidado às pessoas e às
comunidades.
Há, porém, algumas limitações na tomada de decisão apenas com base nas
evidências científicas. Uma dessas limitações é a falta de informação sobre os
danos potenciais associados à determinada prática. Eventualmente, alguma
prática ou conduta com bom grau de evidência (boa eficácia em estudos
controlados) pode vir acompanhada de um dano potencial classificado como
alto quando aplicada na vida real, anulando os efeitos benéficos (pouca ou
nenhuma efetividade).
BENEFICIOS:
Aumenta o poder de concentração;
Acalma a mente;
Diminui o estresse;
Auxilia no alívio da dor física e mental;
Melhora a memória;
Promove bem-estar;
Melhora a autoconfiança;
Minimiza dores corporais.
REFERÊNCIAS:
1. Fortney L, Bonus K. Recommending meditation. In: Rakel D. Integrative
medicine. Philadelphia: Elsevier; 2007. p. 1051-64.
2. Campayo JG. La práctica del “estar atento” (mindfulness) en medicina.
Impacto en pacientes y profesionales. Atenc Prim. 2008;40(7):363-6.
3. Chiesa A, Serretti A. Mindfulness-based stress reduction for stress
management in healthy people: a review and meta-analysis. J Altern
Complement Med. 2009 May;15(5):1-8.
4. Salmon P, Sephton S, Weissbecker I, Hoover K, Ulmer C,Studts JL.
Mindfulness meditation in clinical practice. Cogn Behavioral Pract. 2004
Oct;11(4):434-46.
5. Kabat-Zinn J. Mindfulness-based stress reduction (MBSR). Construct Hum
Sci. 2003;8:73-107.
6. Cardoso R, Souza E, Camano L. Meditação em saúde: definição,
operacionalização e técnica. In: Rossi AM, Quick JC, Perrewé PL. Stress e
qualidade de vida no trabalho: o positivo e o negativo. São Paulo: Atlas; 2009.
p. 163-86.
7. Rakel D. Integrative medicine. 2. ed. Rio de Janeiro : Elsevier; 2007.
8. Burch V. Living well with pain & illness: the mindful way to free yourself from
suffering. London : Piatkus Books; 2008.

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