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Neurociência x Aprendizagem

Marta Maria dos Santos Dantas


“O que tem se tornado tão  A Neurociência é uma disciplina que ainda não encontramos
importante quanto aprender, nos currículos dos professores, para a grande maioria das
é aprender como melhor se pessoas, o conhecimento sobre o funcionamento do cérebro é
aprende” (Marilee Sprenger quase nulo.
1999, p.100).
 O Congresso Americano e o Presidente George Bush,
designaram os anos 1990, como a década do cérebro, através da
Proclamação nº 6158, de 17 de julho de 1990. Direcionando,
assim um enorme investimento em pesquisas, para que o
O estudo do conhecimento a respeito do cérebro fosse otimizado.
Consequentemente, a produção científica na área de
cérebro Neurociências teve um salto quantitativo. Porém, os resultados
ainda não se fazem presentes nos métodos de ensino, aplicados
tanto nos Estados Unidos, como na Comunidade Europeia e,
também na América Latina.
 Marilee Spreenger afirma de que é através do conhecimento de
como o cérebro funciona, que poderemos nos tornar melhores
O conhecimento educadores. Ela enfatiza dizendo que os educadores precisam
do cérebro e a entender duas coisas: “primeiro, que o cérebro tem tudo a ver
com a aprendizagem, e segundo, o quanto mais soubermos
melhor atuação sobre neurociência, o quanto mais fácil será tomarmos as
dos professores decisões que afetam nossos estudantes diariamente”(Marilee
Spreenger, 1999, p.6).
 Breve histórico da Neurociência
 De acordo com Laurie Ekman “A pesquisa científica rigorosa sobre
o funcionamento neural tem história relativamente curta,
começando no fim do século XIX”(2000, p.02). O médico Luiz
Samuel Tabacow, idealizador do site:
“www.projetocerebro.com.br”, ressalta que “a partir de 1950, o
interesse pelo cérebro aumentou devido ao aparecimento do
Como surgiu a computador, cujo funcionamento foi idealizado com base no

Neurociência? funcionamento do cérebro, mais especificamente em suas células,


os neurônios” (2006, p.69). Somado, a isso os estudos sobre o
cérebro foram otimizados com o advento das neuroimagens:
Imagem por ressonância magnética (IRM), Imagem por ressonância
funcional (IRMF) e Tomografia por emissão de Posítrons (PET, em
Inglês). Segundo Tabacow, “Este tipo de imagem subsidiou a
visualização de alguns processos cerebrais e, assim, o entendimento
de certas dificuldades de aprendizagem” (ibidem, p.78).
 Ekman declara que “Os enfoques atuais para a
compreensão do sistema nervoso incluem múltiplos
níveis de análise”(2000, p.02). São eles: a neurociência
molecular, a neurociência celular, a neurociência do sistema, a
neurociência comportamental e a neurociência cognitiva, a
qual, iremos tratar no presente estudo. A neurociência cognitiva
“cobre os campos do pensamento, aprendizado e
memória”(ibidem, p.02).
O que é a  Segundo a Neurocientista Brasileira Suzana Herculano-Houzel

Neurociência? da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e


coordenadora do site: “www.cerebronosso.bio.br”, a
“Neurociência é um termo guarda-chuva que engloba
todas as áreas da ciência - biologia, fisiologia, medicina,
física, psicologia - que se interessam pelo sistema
nervoso: sua estrutura, função,
 desenvolvimento, evolução, e disfunções”.2 Podemos perceber
então que as descobertas cientificas nesta área não são tão
recentes. A área de Neurociências está em voga; poderíamos até
dizer, que está na moda relacionar certos assuntos e sua
Para além da relevância com a Neurociência. Atualmente, o estudo da área
de Neurociências está abrangendo muito além das ciências
Neurociência cognitivas, chegando até mesmo, ao Marketing e, a economia.
A Neuroeconomia e o Neuromarketing, por exemplo, estudam
como neurofisiologicamente reagimos quando tomamos as
decisões relacionadas ao consumo e finanças.
 desenvolvimento, evolução, e disfunções”.2 Podemos perceber
então que as descobertas cientificas nesta área não são tão
“A neurociência está começando a
recentes. A área de Neurociências está em voga; poderíamos até
formular evidências de vários
princípios de aprendizagem, que dizer, que está na moda relacionar certos assuntos e sua
surgiram de pesquisas laboratoriais, relevância com a Neurociência. Atualmente, o estudo da área
demonstrando como a aprendizagem de Neurociências está abrangendo muito além das ciências
muda a estrutura física do cérebro e,
com isso sua organização cognitivas, chegando até mesmo, ao Marketing e, a economia.
funcional”(John Bransford , 2000, p.4). A Neuroeconomia e o Neuromarketing, por exemplo, estudam
como neurofisiologicamente reagimos quando tomamos as
decisões relacionadas ao consumo e finanças.
O que é aprendizagem?
Bruno Chiesa assinala que
“A aprendizagem é um processo altamente complexo e definições
variam dependendo do contexto e da perspectiva. As definições
“A percepção, a movimentação usadas pelos neurocientistas e profissionais da educação podem
voluntária, o uso da linguagem e da ser bem diferentes e, isso pode acarretar um desafio ao diálogo
comunicação não-verbal, a entre estas duas comunidades”(2007, p.36).
compreensão das inter- relações
espaciais, a utilização da informação Funcionamento cerebral
visual, a tomada de decisões, a
consciência, as emoções, as interações O mais importante agora é dizer que o cérebro, muito embora
mente- corpo e a memória dependem, esteja localizado dentro do crânio e, por isso esteja no alto da
todas, de sistemas sediados no cérebro” cabeça, pode ser sentido no dedo do pé, pois cada parte de nós
(LUNDY,2000, p.254).
tem relação direta com o cérebro. O cérebro é o regente de todo
nosso sistema nervoso.
MEDULA
ESPINHAL
 Gazzaniga assinala que “O sistema nervoso é dividido em duas
unidades funcionais: o SNC(sistema nervoso central), que
consiste no cérebro e, na medula espinhal; e o SNP(sistema
nervoso periférico), que consiste de todas as células nervosas
do corpo”(2003, p.87). O cérebro é dividido em duas partes
simétricas: o hemisfério esquerdo e, o hemisfério direito.
 Os dois hemisférios se comunicam por um corpo caloso(Figura
04). De acordo com Michela Gallagher “Os dois hemisférios
do cortex cerebral, estão conectados por uma extensiva
conexão de fibras, chamada de corpo caloso”(2003,
p.596).
1. Lobo Frontal (cor azul)
Em geral, executa a função de controlar os
comportamentos: desejados e indesejados, como
também as funções cognitivas de grande ordem,
como: planejamento, julgamento, memória,
resolução de problemas.
2. Lobo Parietal (cor verde)
Está associado a aprendizagem matemática, a
cognição sensório-visual e, a linguagem- metáforas
e outras abstrações. Segundo Gazzaniga “O toque é
primeiro registrado no lobo parietal”(2003, p.145).
3. Lobo Temporal (cor abóbora)
Está associado ao processo de audição e fala.
E, também ao reconhecimento de rostos e
compreensão linguística, como: decodificação
de palavras e frases.
O lobo temporal está associado a memória,
pois nele estão localizados a amídala e o
hipocampo(PURVES, 2004, p.20).
4. Lobo Occipital (cor vermelha)
Ligado ao processamento visual, ao
reconhecimento de cor e movimento.
Na figura, podemos observar também o cerebelo. Ele está
associado à função motora: a postura e equilíbrio; e, a linguagem.
Segundo Gazzaniga “O cerebelo é extremamente importante
para o funcionamento motor”(2003, p.107). Em latim,
significa “cérebro pequeno”. Ocupa a 2ª maior área do cérebro
depois do córtex cerebral. Damásio assinala que “a razão
humana depende não de um único centro cerebral, mas de
vários sistemas cerebrais que funcionam de forma
concertada ao longo de muitos níveis de organização
neuronal(1996, p.13). O estudo do Funcionamento cerebral, se
dá, a partir, de várias, divisões e subdivisões, podemos entender
assim, porque seja tão complexo.
 O sistema Límbico, ou cérebro emocional, é composto pelo
hipocampo, hipotálamo, amídala e gânglio basal (CHIESA,
2007, p.256). O hipocampo, já citado anteriormente, é
responsável por nosso autocontrole e o armazenamento de
novas memórias. Um ponto importante a destacar, segundo
Ackerman é que “Partes do cérebro, incluindo o
hipocampo(Figura 08) que é crucial para o aprendizado e a
memória, podem gerar novos neurônios durante toda a nossa
vida” (1992, p.41). Sendo assim, verificamos a possibilidade da
neurogênese, que afirma, que mesmo enquanto haja a morte de
neurônios, durante o transcorrer da vida humana, novos,
neurônios estão constantemente nascendo.
 Seguindo, temos, o hipotálamo, que regula o sistema reprodutivo,
sexual e comportamental, por isso, está diretamente ligado à
motivação dos indivíduos. É responsável pela regulação de nossas
funções vitais, que levam a homeostase corporal, como por exemplo:
temperatura corporal, ritmo cardíaco, pressão sanguínea, nível de
glicose; o que conduz os indivíduos a sentirem fome, sede, raiva, etc.
Segundo Gazzaniga “É a estrutura regulatória principal do cérebro
e é indispensável a sobrevivência do organismo”(2003, p.107).
 A amídala está localizada no lobo temporal. Segundo Gallagher “a
amídala é um ponto crucial do sistema neurológico, que media
a atenção motivada, nos preparando para a ação...emoção não
é uma simples reação orgânica, mas um processo”(2003, p.431).
Para Gazzaniga “a amídala processa a recompensa advinda dos
estímulos significativos”(2003, p.288). Existem fatores que podem
dificultar, ou, anular o processo de aprendizagem, entre eles o estresse.
De acordo com Sprenger “a amidala inicia o sinal de resposta ao
estresse, causando a produção da química referente ao
estresse, que irá bloquear o aprendizado” (1999, p.39).
Segundo Philipe Lieberman “O gânglio basal é o
canal sensório que tem a função de interligar as
informações entre as várias áreas corticais”(2000,
p.82) e, está diretamente envolvido com a regulação da fala
e da linguagem, traduzindo os pensamentos em ação. E,
também está relacionado ao planejamento e, execução dos
movimentos. Portanto, qualquer dano nesta área poderá
acarretar em tremores corporais, até a rigidez de membros
do corpo, resultante da doença de Parkinson. Segundo
Gazzaniga o gânglio basal “pode estar associada a
produção não-verbal e, entendimento de
comportamentos não-verbais”(2003. p.109).
 Segundo os neurocientistas, a aprendizagem se dá, quando dois
neurônios se comunicam entre si. O cérebro possui vários tipos
de células, porém, os neurônios e as células glias, são as mais
ligadas ao processo de aprendizagem(SPRENGER, 1999,
p.01). Primeiro, falaremos sobre os neurônios. Os neurônios
são armazenados no neocortex- parte superior do cérebro.
Segundo Chiesa “os neurônios surgem em resposta as
Como o cérebro novas experiências”(2007, p.38). São formados de três

aprende? partes: corpo celular, dentritos e axônio, como podemos


observar abaixo
 As mensagens entre os neurônios são transmitidas pelo axônio e,
são recebidas pelos dendritos do neurônio receptor. Porém, não há
contato entre eles, tudo é realizado dentro de um pequeno espaço
designado de sinapse. Segundo Begley “o aprendizado e a memória
encontram sua manifestação fisiológica na formação de novas
sinapses(pontos de conexão entre neurônios) e no fortalecimento
daquelas preexistentes”(2007, p.22). De acordo com Kastrup “As
Como o cérebro sinapses, através das quais se dá um tráfico elétrico-metabólico
marcado pela reciprocidade e pela não-linearidade, encontram-se
aprende? permanentemente sujeitas à diferenciação e ao crescimento”(1999,
p.147). Fica claro, portanto, a partir desse estudo sobre como o
cérebro aprende, que todos os indivíduos possuem independente da
idade, capacidade de aprender, durante todo o transcorrer de sua
vida. Com a aprendizagem, é possível (re)modelar o cérebro,
devido as modificações funcionais que ocorrem, a partir dos
estímulos recebidos do meio.
Como o cérebro
aprende?

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