Você está na página 1de 20

A ALEGORIA DA

CAVERNA
Título da apresentação 2
A Alegoria da Caverna é uma das histórias mais fascinantes
de toda a tradição filosófica ocidental. O livro VII da obra
A República (em grego: Πολιτεια; politéia) de Platão inicia
com tal alegoria.
Sócrates propõe a Gláucon que imagine homens com algemas
nas pernas e no pescoço desde a infância, vivendo numa
habitação subterrânea em forma de caverna. Eles ali vivem sem
poder mover a cabeça, nem se locomover, forçados a olhar
apenas em frente, e sem nunca terem visto o mundo exterior nem
a luz do Sol.
Apenas um fogo que está atrás deles serve-lhes de iluminação.
Entre a fogueira e os prisioneiros há uma via ascendente e, ao
longo dessa, um muro, ao lado do qual passam pessoas
transportando objetos de todos os tipos (LAZARINI, 2007, p.
42).
Com esta alegoria Platão consegue resumir de forma magistral os
mais importantes fundamentos do seu pensamento filosófico, a partir
da ideia da existência de dois mundos, e que vivemos aprisionados
pelos nossos sentidos às correntes da ignorância, e que só o esforço
intelectivo e filosófico pode nos ajudar a nos libertar de tais amarras
e contemplar uma realidade inteiramente nova e diferente daquela
que estamos habituados.
A condição dos prisioneiros que só conseguem enxergar as sombras dos objetos
projetadas na parede do fundo da caverna é semelhante à nossa, prisioneiros
que somos de nosso corpo e de nossos sentidos. Nossa alma aspira ao mundo
das ideias, mas nossos sentidos nos dificultam chegar a ele. Na verdade, os
impulsos da alma estão como que imobilizados pela certeza de que a realidade
não é outra coisa senão a que nos apresentam os sentidos, e pela ilusão de que a
felicidade e o bem se reduzem aos prazeres sensíveis (LAZARINI, 2007, p.
44).
A Alegoria da Caverna é uma história fascinante e já foi objeto de análise de inúmeros
pesquisadores e estudiosos da obra platônica. Na visão de Oliveira (2015, p. 200), Platão quer
demonstrar que “[...] As sombras são as aparências sensíveis das coisas que os indivíduos
percebem. Platão quer alertar que o indivíduo deve olhar as coisas para além das aparências”.
Lazarini (2007, p. 31) destaca o fato de que através desta alegoria, a reflexão filosófica
proposta por Platão é de “[...] fazer a alma voltar o olhar para o mundo divino das ideias” . E
Rodrigues (2005, p. 49-50) aponta para o fato de que a Alegoria da Caverna pode ser ainda
“[...] uma apologia à coragem intelectual, o ato de descobrir a si mesmo, renegando a cópia das
coisas como se fossem verdadeiras e conduzindo-se para um processo de ‘auto-
conhecimento’”.
Neste processo somos conduzidos “[...] pelas fendas do verdadeiro conhecimento,
nem que para isso corra o risco de ser repudiado pelos outros que preferem a
aparência das coisas, a comodidade do aparente saber, não importando quão distante
esteja da verdade” (id., 2005, p. 50). Trata-se, por fim, da passagem da ignorância
para o conhecimento, das trevas para a luz, da mera opinião para a sabedoria, através
de diferentes patamares e níveis de aprendizado intelectual “[...] do mais ilusório ao
mais real e do mais obscuro ao mais luminoso” (id., 2005, p. 50).
a caverna é o nosso mundo visível; a luz da fogueira em seu interior é
o sol; a subida da caverna em direção ao mundo exterior é a ascensão
da alma à esfera inteligível; o sol é a forma do Bem; os olhos, a
inteligência; a visão, o conhecimento, e os objetos visíveis fora da
caverna são as Formas platônicas, o verdadeiro objeto do
conhecimento (QUEIRÓS, 2008, p. 96-97).

/
A caverna é o mundo sensível, o mundo em que vivemos. Todo o nosso conhecimento neste
mundo são, na realidade, sombras projetadas do mundo inteligível (o mundo das Ideias). O
homem comum é prisioneiro deste conhecimento e toma este mundo como única realidade
possível. Acontece que alguns destes prisioneiros, por meio de um processo difícil e até mesmo
doloroso, consegue libertar-se de suas amarras e tem então a possibilidade de conhecer o mundo
fora da caverna, olhando primeiro as sombras e imagens, depois os próprios objetos, depois os
reflexos até finalmente conseguir olhar o próprio Sol, que simboliza o Ser em si, a Ideia Suprema
do Bem.

/
Na Alegoria nada nos é dito a respeito dos “prestidigitadores”, ou seja, os ocupantes
do lado oposto da caverna e que “[...] por cima e ao longo de um muro, situado entre
os prisioneiros e a fogueira, transportam e exibem todas as espécies de objetos, cujas
sombras são refletidas no fundo da caverna, acessível à visão dos homens
manietados” (QUEIRÓS, 2008, p. 97). Nenhuma explicação sobre sua origem ou
função nos é dada e talvez sua relevância na Alegoria seja, de fato, mínima, servindo
apenas como produtores de imagens e sons, cujas falas são percebias pelos
prisioneiros como se fossem emitidas das sombras projetadas na parede e que
[...] não passam de políticos, sofistas e artistas, cuja atividade
consiste, então, em iludir os cidadãos com sombras, aparências e
simulacros da realidade, contando com o fato de tais imagens
exigirem, para serem vistas, apenas um mínimo de esforço e
acuidade dos olhos (inteligência) naquele regime de semi-
obscuridade (QUEIRÓS, 2008, p. 97).
[...] não passam de políticos, sofistas e artistas, cuja atividade
consiste, então, em iludir os cidadãos com sombras, aparências e
simulacros da realidade, contando com o fato de tais imagens
exigirem, para serem vistas, apenas um mínimo de esforço e
acuidade dos olhos (inteligência) naquele regime de semi-
obscuridade (QUEIRÓS, 2008, p. 97).
F
Platão cria tal alegoria para poder resolver os impasses criados envolvendo
a escola eleática de Parmênides e o pensamento do filósofo Heráclito, ou
seja, a discussão que envolve a imutabilidade ou mutabilidade do Ser.
Platão fragmenta a existência do real em dois mundos: o sensível e o
inteligível, procurando, assim, solucionar a questão. Por um lado, Heráclito
tem razão, ao dizer que tudo flui e nada permanece o mesmo, pois o
mundo sensível é o mundo da mutabilidade, do eterno devir, no qual todas
as coisas estão em constante fluxo. Mas para além do mundo sensível,
deve haver um mundo de essências eternas e imutáveis, inclusive a Ideia
Suprema do Bem e da Beleza Absoluta, que não é passível nem de
aumento e nem de diminuição e que não pode ser de natureza corruptível,
ou seja, é preciso que haja um outro mundo, o mundo inteligível e, nesse
caso, Parmênides está com a razão. O mundo sensível é uma cópia do
mundo inteligível, das Ideias eternas e imutáveis. Os sentidos não revelam
o mundo real, mas a mutabilidade do mundo fenomênico; o pensamento,
por outro lado, nos remete ao mundo das Ideias e é através do pensamento
que nos é revelado o mundo inteligível, eterno e imutável.

Título da apresentação 15
F
A Teoria das Ideias formulada por Platão representa o núcleo
central de sua teoria do ponto de vista metafísico e na Alegoria da
Caverna corresponde à realidade exterior da caverna.

As Ideias são realidades inteligíveis e incorpóreas. A primeira


característica que define a estatura metafísica das Ideias é a
inteligibilidade à qual está estreitamente ligada à característica da
incorporeidade [...] A inteligibilidade, portanto, exprime uma
característica essencial das Ideias, que as contrapõe ao sensível, que
lhes impõe um âmbito de realidade subsistente acima do próprio
sensível, e que, justamente, por isso, só é captável com a
inteligência que saiba destacar-se, adequadamente, dos sentidos
(Fédon 65d – 66a apud NODARI, 2004, p. 366).

Título da apresentação 16
F
Mas a Alegoria da Caverna também tem uma dimensão gnosiológica,
ou seja, também é uma forma metafórica de falar sobre os diferentes
modos de como homens e mulheres conhecem e percebem a
realidade. Como esta alegoria nos ajuda a entender o modo pelo qual
o homem pode chegar ao conhecimento? De que forma o pensamento
pode chegar à verdade? Como é possível ter acesso ao mundo
inteligível, em outras palavras, como é possível conhecê-lo? Este é o
assunto da teoria do conhecimento e da gnosiologia que podemos
desmembrar em pelo menos quatro grandes questões:
a questão da possibilidade: é possível conhecer a realidade do mundo
tal qual ele é?
a questão do método: como é possível esse conhecimento?
os instrumentos do conhecimento: os sentidos e a razão.
o objeto do conhecimento: o mundo sensível e o mundo inteligível.

Título da apresentação 17
F
Platão fala, assim, em graus de conhecimento do mundo sensível e do
mundo inteligível, a fim de poder explicar os diferentes modos de
conhecimento. E o modo pelo qual ascendemos do mundo sensível ao
mundo inteligível é através da dialética.

A alegoria da caverna apresenta a dialética como movimento


ascendente que liberta o nosso olhar da cegueira causada pelos
sentidos para vermos a luz das ideias através da razão. O caminho em
direção à luz é gradual e demorado, por isso é preciso constante
disciplina e diligência. A dialética é, segundo Platão, um método
rigoroso através do qual se chega à filosofia (LAZARINI, 2007, p. 45).

Título da apresentação 18
Resumo
O filósofo é aquele que contempla a verdade e que deve voltar à caverna (dialética
descendente), contrapondo o movimento anterior (dialética ascendente) em que o
prisioneiro sai da caverna para a região superior (para compreender melhor o que é
a dialética e como ela é necessária ao conhecimento filosófico.
Os homens comuns se detêm no nível da opinião. Os matemáticos
ascendem ao nível da dianoia. Só os filósofos (como o entende Platão) tem acesso
à noesis. Por isso o Filósofo é também o Dialético: somente através da dialética, o
intelecto supera as sensações e todos os elementos ligados ao sensível; capta as
Ideias na sua pureza, ascendendo de Ideia em Ideia até a Ideia Suprema, o
Incondicionado.

Título da apresentação 19
martadantasufc@gmai
Obrigada
l.com

Você também pode gostar