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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Filosofia da Ciência (FIL1002) - 14A

Rafael Moreira da Silva (2111412)

1) Compare a concepção de conhecimento apresentada na "Linha dividida" e "Alegoria


da Caverna".

A Alegoria da Caverna é a história que narra Platão, na sua obra "A República", e se
trata de um diálogo entre Sócrates, o mentor do filósofo, e seu irmão Glauco para falar acerca
do conhecimento humano. Sócrates então começa a história dizendo-lhe para imaginar a
existência de uma caverna onde dois prisioneiros ali viveram desde sempre. Nessa caverna
eles têm as mãos atadas a uma parede e só conseguem observar as sombras produzidas em
outra parede localizada à frente, como pode-se observar no seguinte trecho: ''Encontram-se
nesse lugar, desde pequenos, pernas e pescoços amarrados com cadeias, de forma que são
forçados a ali permanecer e a olhar apenas para frente, impossibilitados, como se acham, pelas
cadeias, de virar a cabeça" (PLATÃO, 1996, p.25) Esses prisioneiros seriam os homens
comuns, que vivem em um mundo limitado e presos àquilo que acreditamos por costume.
Enquanto as sombras e os ecos são distorções das imagens e dos sons, de modo a representar
o conhecimento preconceituoso e opiniões equivocadas do senso comum que sempre
julgamos ser verdadeiro. Nessa metáfora, a realidade é representada pelo narrador como a luz
que vem do lado de fora, e sair da caverna significa a busca pelo conhecimento verdadeiro e o
abandono do mundo sensível - o mundo das ideias, das aparências, que seria a caverna.
Portanto, o prisioneiro deve querer sair da caverna mesmo embora esteja com medo, e
esse que conquistar tal liberdade e assumir a visão da realidade é o filósofo que tem como
missão a libertação dos demais, ajudá-los a sair desse mundo sensível, formando bons
cidadãos e utilizando a filosofia para isso. O filósofo portanto tem a tarefa de passar adiante a
educação que ele recebeu, fazendo que os demais abandonem o senso comum representado
pelas sombras e aprofundem seus conhecimentos uma vez que ele é o único a possuir tal
conhecimento e ele precisa ser atingido por todos.
Enquanto isso, o Mito da Linha Dividida seria uma maneira mais elaborada de
explicar a Alegoria da Caverna. Platão propõe então uma linha dividida entre duas seções e as
duas primeiras representam o mundo sensível, como vimos acima, este seria o interior da
caverna, e as outras duas linhas seriam a representação do mundo inteligível. Isso nos dá uma
linha reta com quatro divisões proporcionais onde cada uma possui diferentes graus de clareza
que percorrem tanto o mundo sensível quanto o mundo inteligível. Esses quatros graus de
conhecimento, obtidos através do processo pedagógico são: a eikasia, pistis, diánoia e nóesis.
No primeiro - a eikasia - é onde é tratado o domínio da opinião (doxa) que se forma de modo
impreciso e incompleto, onde não há um conhecimento seguro acerca do assunto.
Para o autor, portanto, a opinião faz parte do mundo sensível e aquele conhecimento
que é baseado em opinião, não poderia então ser confiável, já que neste caso, não há qualquer
tipo de investigação intelectual por trás. De outro modo, o uso deste tal intelecto acontece no
mundo inteligível, e o conhecimento será provido de um movimento dialético.

2) Formule com suas palavras o argumento do cogito desenvolvido por Descartes a


partir da Primeira e da Segunda Meditação do livro Meditações Metafísicas.

Para René Descartes, as meditações metafísicas são aquelas que contêm o conhecimento
que forma o pilar de todos os outros. Em sua primeira meditação, o filósofo discorre sobre o
ato de sonhar e como ele nos engana, já que quando estamos sonhando, acreditamos que o que
estamos vivendo é real enquanto na verdade é uma ilusão, e isso fica claro ao acordar. Então
Descartes conclui que se o sono é uma ilusão, nada pode garantir que a vigília não seja uma
fantasia.
Dado que para o filósofo não é possível ter clareza suficiente para diferenciar o mundo
real do mundo onírico, ele refuta o argumento dos sentidos, embora ainda com uma limitação.
Isso pois tanto no sonho quanto na realidade nós trabalhamos com ideias lógicas, e para
colocá-la em suspensão do juízo radicalizando a dúvida, ele introduz a ideia de gênio
maligno. Esta seria uma entidade do mal, disposta a nos enganar o tempo todo, mas logo o
filósofo conclui que mesmo se existisse esse gênio tentando a todo tempo nos enganar sobre o
que é real e o que é ilusão, algo de real ainda restaria, e isso seria a descoberta fundamental de
Descartes, o cogito - a nossa capacidade de pensar. Se toda nossa realidade pode ser posta em
dúvida, isso nada mais é que o fruto de uma certeza. Isso porque quando duvidamos, nós
pensamos, portanto todo ser que duvida, necessariamente é um ser que pensa.
Isto posto, "a primeira certeza filosófica", método nomeado por Descartes, nos mostra
que o sujeito, enquanto um ser pensante, existe para si mesmo. Logo, isso explica o
significado da frase: cogito, ergo sum ( penso, logo existo), ou melhor traduzida: penso, logo
sou. O filósofo conclui também a certeza da existência do espírito, que é a nossa consciência e
portanto, tem a capacidade de pensar, ou seja, existente pela própria definição. Com isso ele
vai descobrindo e concluindo a possibilidade ou a não possibilidade de uma série de outras
verdades científicas. Ao reafirmar seu método filosófico, explicando e enumerando seus
passos, Descartes constrói a base do seu pensamento científico, e por conseguinte, a base de
todo o desenvolvimento adiante na sociedade.

Referências:

PLATÃO. A República. Tradução: Carlos Alberto Nunes. 3. ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbbenkian, 1996.

DESCARTES, René. Meditações Metafísicas: Os Pensadores. São Paulo, Editora Abril,


1980.

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