Você está na página 1de 8

PLATÃO

Iniciou-se na filosofia como preparação política, mas logo desgostou-


se por esta, por causa dos métodos violentos e principalmente por causa da
morte de Sócrates. No entanto, em uma viagem para Itália, tentou inculcar no
Dionísio I, tirano de Siracusa, a ideia do rei-filósofo. Dionísio, adepto dos ideais
niilistas de Górgias, o detestou e o excomungou, que o levou a quase tornar-se
escravo. Outras empreitadas Platão tentou, mas também falhou.

Platão legou-nos 36 obras, mas cumpre observar que, para compreende-lo,


necessita-se apurada atenção para as "doutrinas não escritas" ministradas aos
discípulos da academia sobre o bem, do qual ele afirmou ser impossível transmiti-
la por escrito. E no que se refere a seus escritos, criou um novo gênero literário
específico, o "diálogo socrático", constituído, basicamente, de diálogos
geralmente apresentando sócrates como protagonista, e fazendo-nos chegar,
através de diálogos, à maiêutica.

Platão reavaliou o mito, outrora expurgado pela "filosofia", utilizando-o


como fé racionalizada: o mito procura clarificação no logos, e o logos procura
clarificação no mito. Em sintese, ao chegar a razão aos limites extremos de
suas possibilidades, Platão confia à força do mito a tarefa de superar
intuitivamente esse limites, elevando o espirito a uma visão ou, pelo menos,
a uma tensão transcendente.

DESCOBERTA DA METAFÍSICA

Platão afirma existir uma realidade supra-sensível de uma dimensão


suprafísica do ser, coisa completamente ignorada pelos naturalistas. Ele pergunta:
será que a causa daquilo que é físico e mecânico não provém de algo que não é
físico nem mecânico?

Para se explicar, Platão utilizou simbolicamente a "segunda navegação"


que os marinheiros denominavam como o uso do remo quando já não podiam
mais contar com o vento e o uso da velas. A "primeira nevegação" simboliza a
filosofia naturalista, e a "segunda navegação", a sua contribuição pessoal para
a descoberta do supra-sensível. Platão afirma que a "primeira navegação"
mostrou-se fundamentalmente fora de rota, uma vez que não conseguiram
explicar o sensível pelo sensível. Já a segunda, tomou nova rota, conduzindo ao
supra-sensível e ao ser inteligível. A primeira era prisioneira dos sentidos e a
segunda livre destes, alçada ao plano do raciocínio puro e àquilo que é
captável apenas pelo puro intelecto.

Desta forma, Platão opõe explicações naturalista-macanicistas às de valor


espiritual e moral, donde uma limitaria-se apenas a descrição dos fenômenos
enquanto a outra realmente explicaria, como neste exemplo: na prisão de
Sócrates os naturalistas limitariam-se a descrever que ele está em cárcere, e o
supra-sensível explicaria os motivos do cárcere. Ou a explicação do belo, em que
uma invocaria a cor e a figura, enquanto a outra invocaria algo não sensível, mas
inteligível: ideia ou "forma" pura do belo em si.

Assim, a "segunda navegação" separa dois planos do ser: um, fenomênico


e sensível, e outro, invisível e metafenomênico, puramente inteligível, captado
apenas pela mente.

A "segunda navegação" constitui a fundamentação e etapa mais


importante da história da metafísica. De fato, todo pensamento ocidental
esta condicionado por esta "distinção", pela metafísica, seja para aceita-la
ou nega-la. Depois da "segunda navegação", e somente após ela, é que se
pode falar de "material" e "imaterial", "sensível" e "supra-sensível", etc.
Desta forma, a natureza não aparece mais como totalidade, mas como aparência -
o "verdadeiro ser" é constituído pela "realidade inteligível".

TEORIA DAS IDEIAS - HIPERURÂNIO

Platão denominou as realidades inteligíveis, não-físicas, como idéa ou


éidos, que significam "forma". Idéa não é uma representação puramente mental,
mas é "entidade", "substância". Não são simples pensamentos, mas aquilo que
o pensamento pensa quando está liberto do sensível: constituem o "verdadeiro
ser".

Portanto, as Ideias Platônicas, denominadas Hiperurânio, são as


essências das coisas, o modelo permanente de cada coisa, são "em si" e "por
si", como o belo-em-si e o bem-em-si, isto é, de caráter não relativizante, mas
absoluto. Desta forma, o belo e o verdadeiro não são relativo às pessoas, mas se
impõem ao sujeito de modo absoluto.

Contudo, platão pretendeu sustentar que o sensível só se explica


mediante o recurso ao supra-sensível, o relativo ao absoluto, o móvel com o
imóvel e o corruptivo com o eterno.
HIERARQUIA DAS IDEIAS

Supondo que existem uma multiplicidade de ideias (de valores geométricos,


morais, estéticos, etc), Platão afirma que existe uma superior a todas as outras, de
princípio incondicionado e absoluto, situado além do ser e do qual derivam todas
as ideias: é o bem.

UNO E DÍADE

O bem, da República, nas doutrinas não escritas chama-se Uno. A este


princípio do Uno contrapõe-se um segundo, também originário, mas de ordem
inferior, chamado Díade (ou dualidade de grande-e-pequeno, enquanto que tende
para a infinita grandeza ou pequenez). A Díade é o princípio indeterminado e
ilimitado, de multiplicidade, e é um substrato. E o Uno é o sintetizador do bem, ou
seja, o Uno    age sobre a Díade, sobre a multiplicidade, como princípio
limitante ou determinante, que dá forma enquanto determina e de-limita.
Deste dois, de sua "mistura" (delimitação do ilimitado), nascem todas as ideias
(formas). Eis que a própria delimitação realizada pelo Uno é visto como o bem,
pois forma unidade na multiplicidade, ou seja, "ordem", "essência", perfeição e
valor. Por conseguinte, o Uno é princípio de ser, de verdade e cognoscibilidade, e
de valor.

Esta teoria Platonica traduz, metafisicamente, a característica mais peculiar


do espírito grego, que busca limitar o ilimitado, encontrar a ordem e a justa
medida.

COSMO SENSÍVEL

Também o mundo físico deriva das Ideias, e de um princípio material,


sensível, ou seja, de uma ilimitação de caráter físico. Todavia, na esfera do
inteligível em que o Uno age sobre a Díade, não necessitam-se mediadores. Mas
o mundo sensível é físico e não inteligível, portanto a matéria ("chora"),
"participa de modo obscuro do inteligível", estando mais à merce do caos e da
não-forma. Como é possível então a ação da Ideia inteligível sobre o sensível?

Segundo Platão, existe um Demiurgo, isto é, um Deus-artífice que pensa e


quer (deus pessoal), que criou a matéria (mundo sensível) imitando às formas
ideias (mundo ideal). Mas porque este Demiurgo quis gerar o mundo? Por amor
ao bem, uma vez que a matéria existia e estava disposta caóticamente, era
preferível lhe dar ordem. Resumidamente, o mundo é uma imitação imperfeita
do mundo das ideias, criado pelo Demiurgo, da melhor forma possível, por
amor ao bem.
Este mundo, portanto, possui corpo e alma perfeitas, é um "Deus visível"
e é dotado de vida e inteligência, porque estes são superiores à morte e ao caos.
O tempo nasceu com a geração do mundo, partindo do "é", do eterno, donde não
existe tempo, para uma "imagem móvel do eterno", gerando o movimento - o "era"
e o "será". Resumidamente, o mundo sensível de Platão é vivente e inteligente
dotado de corpo e alma.

REMINISCÊNCIA OU ANAMNESE

De que forma pode o homem aceder cognoscitivamente ao inteligivel? O


conhecimento se dá através da reminiscência, ou seja, uma "recordação" do que
já existe desde sempre em nossa alma. Desta forma, como no exemplo de Platão
do ensinamento ao escravo, o escravo pode por si mesmo encontrar dentro de si
(recordar) soluções para um problema geométrico ou matemático. E da mesma
forma ocorre com outras pre-disposições naturais que facilmente aprendemos
(porque é recordação), como nadar.

Os dados que a experiência sensível fornece, como as formas


geométricas, jamais adeguam-se perfeitamente às noções mentais que
possuímos destas. Nenhuma coisa sensível é perfeitamente "quadrada" ou
"circular" como as imaginamos. Desta forma, existe certo desnível entre os dados
da experiência sensível e as noções mentais. E tais noções mentais, mais
verdadeiras, derivam da reminiscência, enquanto os sentidos nos enganam.

OPINIÃO E CIÊNCIA

Para Platão, o conhecimento é proporcional ao ser, ou seja, apenas


aquilo que é ser em grau máximo é perfeitamente cognoscível, enquanto o não-
ser é absolutamente incognoscível. Mas como, entre ser e não-ser, existe uma
realidade intermediária (sensível), também existe um conhecimento intermediário,
que fica entre a ciência e a ignorância: é a opinião (doxa). Para fundamentar a
opinião, eleva-la, é preciso trata-la como "raciocínio causal", visto que a
"causa" advém do inteligível, da Ideia. Só desta forma é possível transformar
a opinião em ciência ou episteme.

A opinião divide-se em imaginação e crença, a ciência em ciência


intermediária (dianóia) e inteleção pura (nóesis). Imaginação são sombras e
imagens sensíveis, crença é o objeto sensível em si. Dianóia é o conhecimento
matemático-geométrico, que trabalha ainda com o que é visível e hipotético, e a
Noésis é o conhecimento dialético das ideias, a captação pura das ideias
supremas e absolutas da qual todas dependem (bem).

Os homens comuns se atém à imaginação e à crença, o matemático à


dianóia e somente o filósofo tem acesso á noésis e à ciência suprema, ou
seja, à DIALÉTICA.

DIALÉTICA

A dialética, desligando-se do sensível, é um processo pelo qual se


passa idéia por ideia (puras), sob nexos de implicação e exclusão, até
chegar à ideia suprema, isto é, incondicionada.

Da mesma forma que esta procede até a ideia suprema, sendo então uma
dialética ascendente, também existe uma dialética descendente, que pode,
mediante a distinção progressiva das ideias particulares contidas nas ideias
gerais, estabelecer uma hierarquia das ideias.

ARTE

ao determinar a essência, a função e o valor da arte, Platão se preocupa


apenas em estabelecer o seu valor de verdade. Portanto, sua resposta a respeito
da arte é negativa: a arte não revela, mas esconde o verdadeiro. Não é forma
de conhecimento e não melhora o homem, mas o corrompe, porque é
mentirosa. Não educa o homem, mas o deseduca, uma vez que se volta para o
irracional que é o inferior de nós mesmos.

Desta forma, para Platão, a poesia é inferior à filosofia, pois o poeta o é


por intuição irracional e não por ciência ou conhecimento. Ele também concebe a
arte como "mimese", como    "imitação" da realidade sensível, que por si só já é
falsa. Portanto, a arte afasta-se da verdade ainda mais, na medida em que se
distancia do "mundo original", sendo nada mais que imitação de imitação, cópia de
cópia. Portanto, para Platão, a arte se dirige a pior parte de nossa alma,
mostrando-se corruptora, devendo-se, consequentemente, ser banida e eliminada
do estado perfeito, a menos que se submeta às leis do bem e do verdadeiro.

Assim sendo, a arte não tem valor por si mesmo, pois, entregue a si
mesma, ela serve ao falso. Desta forma, podemos salva-la submentendo-a à
filosofia. O mesmo com o poeta. (VIDE! PLATÃO NÃO NEGA A POTÊNCIA DA
ARTE)

EROS

Força mediadora entre o sensível e o supra-sensível, que eleva ao bem,


revelando-se como caminho alógico que conduz ao absoluto. Assim, amor não é
nem belo nem bom, mas é sede de beleza e bondade. Não Deus nem homem,
mas um "intermediário" entre estes. O verdadeiro amor é desejo do belo, do bem,
da sabedoria, da felicidade, imortalidade e do absoluto, e a filosofia, portanto, é
apanagio daquele que não é nem ignorante nem sábio, mas que tem sede de
sapiência.

No ápice da escala do amor, encontra-se o amor pelo belo em si, pelo


absoluto. Isto se deve á vida pré-terrena junto aos deuses, na qual tivemos
contato e amamos o hiperurânio e as ideias. Amor (Eros) então é reminiscência. O
amor (platônico) é nostalgia do absoluto, força que impulsiona para o retorno a
nossa existência originiria junto aos deuses.

CONCEPÇÃO DO HOMEM

Para Platão, existe uma concepção extremamente dualista de corpo e


alma. Para ele, o corpo não é visto apenas como receptáculo da alma, mas como
"cárcere" da alma. "O corpo é raiz de todo mal", é morte, enquanto a morte, como
libertação da alma, é vida. Daí que provém certas virtude, como "fuga do corpo"
e "fuga do mundo". Esta concepção pressupõe a doutrina da imortalidade da
alma, A qual ligam-se estreitamente as doutrinas da metempsicose, ou
transmigração das almas em diferentes corpos ("reencarnação"), e dos destinos
escatológicos das almas depois da morte. Dois mitos platônicos são emblemáticos
para entender o Homem Platônico: o mito de Er e o mito do carro alado.

FUGA DO CORPO: A alma deve fugir do corpo, sendo este o objetivo do


verdadeiro filósofo, que busca a morte do corpo para encontrar a autêntica vida no
reencontro com o espírito.

FUGA DO MUNDO: A mal não pode perecer porque sempre existirá algo contrário
ao bem. Portanto, mal não pode residir senão na terra, no mundo. Eis porque
devemos fugir do mundo, não só literalmente, morrendo, mas também do que ele
representa, tornando-nos assim virtuosos e sapientes.

CARRO ALADO: A alma encontrava-se junto aos deuses, e por causa de uma
culpa, viu-se projetada em um corpo. A alma assemelha-se a um carro alado
puxado por DOIS CAVALOS E UM AURIGA. Um cavalo é bom(tem nostalgia do
absoluto) e outro ruim. O Auriga representa a razão, e os cavalos as partes
alógicas do homem. Para nossa alma, é difícil contemplar o ser por causa do
CAVALO MAU, QUE PUXA PARA BAIXO. Algumas almas conseguem contemplar
o ser e por isso continuam a viver ao lado do Deus, enquanto outras caem na
terra, puxadas pelo cavalo mal.

MITO DE ER: Após mil anos, as almas reúnem-se em uma planície, a partir da
qual voltarão à vida terrena, e escolhem viver ou não de acordo com as normas da
MORAL, ou seja, segundo as virtudes ou arrastados pelo vício. "A virtude não tem
padrão: conforme cada um a honre ou despreze, dela terá mais ou menos. A culpa
cabe a quem escolhe. Deus não tem culpa disso".

Assim, Platão revoluciona a crença grega, que entregava às almas o destino


escolhido pelos Deuses, pois introduz o conceito de LIBERDADE e CULPA, visto
que a alma, agora, tem escolha MORAL,    de seguir ou não a virtude, e tem culpa
diante desta escolha.

CÁRMIDES

Para tratarmos dos olhos, precisamos tratar da cabeça. E para tratar da cabeça,
precisamos tratar do corpo. Assim, precisamos tratar do todo mesmo quando
estamos a tratar de coisas específicas.

"Mas Zalmoxis (...) diz que assim como não se pode tratar de curar os olhos
independentemente da cabeça, nem a cabeça independentemente do corpo,
também o não pode ser o corpo sem a alma, e que essa é a razão pela qual
escapa aos médicos gregos a maior parte das doenças, porque desconhecem o
todo a que têm de dar cuidados, e que, não estando bem, não pode ter bem cada
uma das partes. Dizia ele que tudo vem da alma, tanto o mau quanto o bom, e
para todo o cargo e para todo o homem, e que dali corre, como da cabeça para os
olhos. Tem, então, de se tratar dela primeiro"

Você também pode gostar