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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

CENTRO DE EDUCAÇÃO – CED


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Disciplina: Teorias da Educação e Formação de Professores

O trabalho como categoria fundante do ser social


e a contribuição de Lukács para o entendimento
da relação trabalho-educação

Professoras
Betania Moraes
Ruth de Paula
Marias Das Dores Segundo
Nascido em 13 de abril de 1885 em Budapeste, Hungria, GYÖRGY
LUKÁCS, é um dos mais influentes filósofos marxistas do século XX.
Doutorou-se em Ciências Jurídicas e depois em Filosofia pela Universidade
de Budapeste. No final de 1918, influenciado por Béla Kun, aderiu ao
Partido Comunista e no ano seguinte foi designado Vice-Comissário do
Povo para Cultura e Educação. No ano de 1919 toma por companheira
Gertrud Bortstieber, com quem convive até seu falecimento em 1963. Em
1930 mudou-se para Moscou, onde desenvolveu intensa atividade
intelectual. O ano de 1945 foi marcado pelo retorno à Hungria, quando
assumiu a cátedra de Estética e Filosofia da Cultura na Universidade de
Budapeste. Estética, considerada sua obra mais completa, foi publicada
em 1963. Já seus estudos sobre a noção de ontologia em Marx, que
resultaria oito anos depois no Para uma ontologia do ser social,
iniciaram-se em 1960. Lukács faleceu em sua cidade natal, em 04 de
junho de 1971, aos 86 anos.
- KUN, Béla (1886-1939), político comunista. Em 1919 foi líder da República Húngara dos
Conselhos. Ficou exilado em Viena, e a seguir, na União Soviética, onde desempenhou diferentes
funções dentro do Partido. Foi executado durante os grandes expurgos stalinistas.
- “Desde que encontrei G[ertrud], ser aprovado por ela se tornou o problema central de minha
vida” – anotou Lukács no “roteiro” para Pensamento Vivido: autobiografia em diálogo (São
Paulo/Viçosa, Ad Hominem/Editora da UFV, 1999, p. 160). “[...] a sua ‘sabedoria’ não está ‘acima
da vida’, ‘não é uma superioridade teórica’; “é o simples impulso intacto de um autêntico ser
humano que quer uma vida com sentido, só realizável na comunidade e no amor” (Lukács 1964
citado por Netto, 2012, p. 09).
ORGÂNICA CONTINUIDADE NA DESCONTINUIDADE CARACTERÍSTICA DA
EVOLUÇÃO INTELECTUAL DE LUKÁCS (MÉSZÁROS, 2002)

ZÉ PAULO NETTO (1981, P.33) APRESENTADA COMO “SIMPLES HIPÓTESE DE


TRABALHO” A SEGUINTE PERIODIZAÇÃO:

a) período kantiano (1907-1914): penetrado pela influência de Simmel, Max Weber


e da “Escola do Sudoeste Alemão”, a produção lukacsiana (que não oculta a
reflexão trágica que a enforma) se concentra sobre a análise das formas culturais,
especialmente o teatro e a poesia, bem como sobre reações anímicas niilistas;

b) período pré-marxista (1914-1918): complexa etapa de transição, onde o


rompimento com o período anterior, sob o signo de Hegel, com a assunção da
dialética, opera-se pari passu com a agudização das dimensões trágicas que
subjazem ao seu pensamento;
c) PERÍODO MARXISTA, comportando a seguinte diferenciação:
1ª fase (1919-1923): adoção do marxismo sob a forma de historicismo abstrato. Embasando um
ativismo revolucionário fortemente assimilado de Rosa Luxemburgo;
2ª fase (1924-1933): do repúdio de História e consciência de classe, passando pelas Teses de Blum,
pela estada em Berlim e compreendendo o início do exílio na URSS; ‘anos de aprendizagem do
marxismo’ – entendidos como adequação ao quadro histórico de resistência do capitalismo e à
situação de insulamento do socialismo; nos últimos anos deste período, a produção intelectual de
Lukács privilegia a crítica literária;
3ª fase (1933-1945): etapa de permanência na URSS; mobilização total contra o nazifascismo,
paralela a lutas intrapartidárias; os trabalhos de Lukács centram-se sobre arte e literatura, embora
dedique grande esforço à análise filosófica;
4ª fase (1945-1956): do retorno a Budapeste à preparação de Levante de Outubro; etapa de vasta
publicação referente à literatura e a problemas filosóficos, bem como de crítica oblíqua ao
stalinismo;
5ª fase (1956-1971): última etapa da aventura intelectual de Lukács; centra-se na elaboração
sistemática da sua Estética, na produção de crítica avulsa (literária e política) e na constituição da
Ontologia do ser social.” (NETTO, 1981, p.38; grifos no original).
OBRA “PARA UMA ONTOLOGIA DO SER SOCIAL” (1976)
PRIMEIRA PARTE (parte histórica): - Crítica ao Neopositivismo e ao Existencialismo; - Contribuição de Hartmann; -
Análise e problematização de Hegel; - Principios ontologicos fundamentais de Marx: “Segmento em que realiza uma
notável interpretação ontológica que vertebra a obra marxiana” (NETTO, 2012, p. 17).

SEGUNDA PARTE (parte sistemática: tratamento dos complexos de problemas mais importantes. Há a necessidade,
portanto, de se demonstrar como, com que mediações, de que modo, os homens fazem a sua própria história - ou, se
quiserem, a sua própria essência - e, para realizar esta demonstração, Lukács investigou as quatros categorias
ontológicas fundamentais do mundo dos homens): - TRABALHO: (categoria fundante do ser social e protoforma da
práxis; ato-gênese e base-dinâmico estruturante de um novo tipo de ser); - REPRODUÇÃO SOCIAL (a sempre e
necessariamente produção do novo subjaz o impulso ontológico em direção a sociabilidades cada vez mais complexas,
a qual possui dois pólos distintos, ainda que rigorosamente articulados – determinação reflexiva: o desenvolvimento
das forças produtivas e o desenvolvimento das individualidades); - IDEOLOGIA (sua função social específica: mediar os
conflitos sociais (interesse individual versus interesse coletivo), quaisquer que sejam eles. Portanto, a ideologia, para
Lukács, é o conjunto das idéias que os homens lançam mão para interferirem nos conflitos sociais da vida cotidiana. Se
as idéias são ou não (falsa consciência) reflexos corretos da realidade, se e em que medida correspondem ao real, é
uma questão que em nada interfere no fato de exercerem uma função ontológica na reprodução social; -
ESTRANHAMENTO/ALIENAÇÃO: (ainda um outro resultado: como não podemos controlar de forma absoluta todas as
consequências possíveis dos atos humanos, há sempre a possibilidade de as objetivações terminarem por se
converterem em obstáculos ao pleno desenvolvimento humano. Para Lukács Entfremdung, traduzido por
estranhamento ou alienação, nada mais é que o complexo de relações sociais que, a cada momento histórico,
consubstancia os obstáculos socialmente produzidos para o pleno desenvolvimento humano-genérico.  
• A derrota revolucionária revitalizou a concepção liberal segundo a qual a permanência da ordem capitalista se
deve ao fato de ela corresponder a uma pretensa ― essência‖ humana. O homem seria, segundo esta
concepção, de modo essencial e insuperável, um proprietário privado que se relaciona com os outros pela
mediação dos seus interesses egoístas. Parafraseando Marx, a essência do homem capitalista foi elevada à
essência capitalista do homem.
• A contraposição teórica a esta falsa concepção apenas é possível, hoje, através da mais profunda investigação
acerca do que é o ser humano. Há que se demonstrar que não há nada semelhante a uma natureza humana
dada de uma vez para sempre, a-histórica; é imprescindível argumentar como o horizonte histórico de
possibilidades é limitado única e exclusivamente pela reprodução social, isto é, pela síntese dos atos humanos
singulares em formações sociais. Para se contrapor à concepção conservadora segundo a qual aos homens
corresponde uma essência a-histórica de proprietários, e que, por isso, não há como ser superada a sociedade
capitalista, deve-se comprovar que não há limites ao desenvolvimento humano, a não ser aqueles construídos
pelos próprios homens. E esta demonstração apenas pode se dar de forma cabal no terreno da ontologia: “[...] a
ontologia lukácsiana tem por objetivo demonstrar a possibilidade ontológica da emancipação humana, da
superação da barbárie da exploração do homem pelo homem” (LESSA, 1997, p. 09).
• “A contribuição de Lukács, com a Ontologia (e seus Prolegômenos), não foi ainda suficientemente analisada.
Certamente que não passa sem problemas, nem é, também certamente, a solução para o renascimento do
marxismo. Mas em relação a ela se pode afirmar, com inteira segurança, que: 1) abre um novo horizonte
teórico-filosófico para o desenvolvimento do marxismo; 2) não haverá nenhum renascimento do marxismo se
ela for ignorada” (NETTO, 2012, p. 19).
 
Fica, então, o convite!

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