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RESENHA CRÍTICA DO CAPÍTULO III – O MARXISMO OU O DESAFIO DO

“PRINCIPIO DA CARRUAGEM” DO LIVRO AS AVENTURAS DE KARL MARX


CONTRA O BARÃO DE MÜNCHHAUSEN, DE MICHEL LÖWY.

Kaique Sampaio Santos


Prof. Dr. Antônio Sousa Alves

Michael Löwy (1938-) é um sociólogo franco-brasileiro preocupado com temas


relacionados às grandes utopias transformadoras. Trata-se de um intelectual orgânico, na
acepção grasmciana, comprometido com as lutas da classe trabalhadora. É um relevante
estudioso do marxismo, com pesquisas sobre as obras de Karl Marx, Leon Trótski, Rosa
Luxemburgo, Georg Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin.
Em sua obra “As aventuras de Karl Marx contra o barão de Münchhausen” –
Capítulo III, compreendemos que enquanto visão de mundo, o marxismo se traduz em uma
utopia revolucionaria, mas, nos Estados pós-capitalistas, ele assume um caráter ideológico.
Em suas obras, Karl Marx buscou definições concretas das ideologias e das visões de mundo
enquanto expressão de uma classe social determinada, vejamos algumas delas: a) é a classe
cria e forma as visões de mundo, mas estas são sistematizadas e desenvolvidas por seus
representantes políticos e literários, b) os intelectuais são relativamente autônomos em
relação à sua classe, e c) o que define a ideologia não é esta ou aquela ideia isolada, mas
uma certa “forma de pensar”, uma certa “problemática” e um certo “horizonte” intelectual.
Löwy destaca que Karl Marx passa a apropriar em suas obras, a relação entre ideologia
e ciência na economia política, para ele “a obra de um economista pode ser fundamentada
sobre certas pressuposições ideológicas burguesas e ter, contudo, uma grande importância
cientifica”, isso quer dizer que, a problemática da autonomia relativa da ciência é, um
complemento essencial à sua crítica das limitações ideológicas da economia política. Partindo
de tais pressupostos, Michel Löwy passa a abordar a distinção cientifica entre o conhecimento
produzido pelos “clássicos” - burguesa, e “vulgares”, sendo os clássicos, um polo
autenticamente cientifico, e os vulgares, um polo superficial e apologético, desprovido de
valor do ponto de vista do conhecimento.
Neste mesmo ponto de distinções entre o conhecimento produzido pelos “clássicos e
“vulgares”, Löwy nos remete a uma explicação que reabilita o materialismo histórico,
tratando-se de uma análise que pauta o desenvolvimento da economia politica e o
desenvolvimento da luta de classes, na qual a burguesia, em um primeiro momento
demonstrou-se revolucionária em busca de poder, e ao conquista-lo, torna-se conservadora
contraria aos movimentos operários e sociais, explicitando assim a importância da relação
entre o desenvolvimento da economia politica à marcha da historia social. Essas questões nos
permitem localizar o papel da ideologia na constituição de um saber cientifico: os seus
próprios limites.
Os economistas clássicos eram inteiramente prisioneiros de um ponto de vista
ideológico que correspondem aos interesses de uma classe, sua teoria está ligada à forma de
conceber as praticas travadas no interior e que dizem respeito à produção capitalista. Löwy
destaca que não se coloca em questão a “verdade” dos clássicos, mas a possibilidade de
conhece-la, a partir de sua problemática e no quadro de seu horizonte de classe. A ideologia
burguesa não implica na negação de toda ciência, mas na existência de barreiras que
restringem o campo de visibilidade cognitiva.
A importância da análise sócio-histórica nos escritos de Marx é preconizada como
forma de se compreender a evolução da ciência social, do ponto de vista científico. Segundo
Marx, as lutas de classes não podem ser compreendidas senão em relação com a história
social e econômica, tudo se passa no movimento histórico do concreto. Assim, o marxismo
historicista é uma corrente metodológica no seio do pensamento marxista que se distingue
pela importância central atribuída à historicidade dos fatos sociais e pela disposição em
aplicar o materialismo histórico em sí mesmo.
Löwy destaca o pensamento de Lukács em Historia e Consciência de Classe na qual
preconiza que todo o conhecimento da sociedade está intimamente ligado a consciência de
classe de uma camada social determinada, logo, as classes sociais possuem uma visão de
mundo muito fragmentada e estreita da realidade socioeconômica, no entanto, classes que
participam de uma forma ou de outra, do processo de produção, tem uma melhor
possibilidade de compreender o movimento conjunto da vida social: a burguesia e o
proletariado.
Assim, podemos concernir que na visão de Lukács, o materialismo histórico não é
somente um instrumento de conhecimento, mas também, é um instrumento de ação. Para ele,
o pensamento burguês é essencialmente contemplativo, já o ponto de vista do proletariado,
visa a transformação revolucionaria da realidade social, sendo o proletariado, ao mesmo
tempo, sujeito e objeto do conhecimento da história.
Outra contribuição historicista-marxista que Löwy destaca, é a de Gramsci, através da
distinção entre dois tipos de ideologia. Gramsci insiste no fato de que Marx é o fundador de
uma nova visão de mundo e inaugura intelectualmente uma época histórica que
provavelmente durará séculos. Ao mesmo tempo, ele reconhece, como outros marxistas-
historicistas, o condicionamento histórico e social do próprio marxismo.
Löwy também aborda em seu livro, o marxismo racionalista da Escola de Frankfurt
(Teoria Crítica), sendo uma das características essenciais dessa teoria, a sua negação
irreconciliável da ordem estabelecida e seu antipositivismo apaixonado. Ela é particularmente
radical na recusa da doutrina positivista de uma ciência social “sem pressuposições”, livre de
julgamento de valor, ou axiologicamente neutra, que pretende se limitar à coleta e
classificação dos fatos e sua reconstrução teórica.
Para Löwy a perspectiva da Teoria Crítica está enraizada na luta de classe do
proletariado pelo socialismo. A Teoria Crítica nega uma possibilidade no domínio do
conhecimento social e defende certos valores, recusando o conhecimento neutro da sociedade.
Apõe-se a solução da síntese de Mannhein, assim, tem como pressuposto evitar a armadilha
do relativismo total. A obra de Adorno, nos anos do pós-guerra continua os dilemas da Teoria
Crítica dos anos 30, no entanto, a ligação com o combate dos proletários ou dos oprimidos
que jogava ainda um papel na Teoria Crítica de antes da guerra, está totalmente ausente e sua
obra.
Adorno não respondeu ao desafio central da sociologia do conhecimento e não propôs
nenhuma alternativa real que pudesse transcender o Idealismo. Löwy retoma a ideia de
Marcuse para reforçar onde se acha a resposta ao desafio central da sociologia do
conhecimento: a própria razão crítica é a resposta à problemática do relativismo. A
indagação levantada nessa solução, é que para compreender o mundo é necessário um suporte
material e concreto, o que não se observa na Teoria Crítica, na qual Löwy a conceitua como
“socialmente desraizada e abstrata”.
Assim, ao reconhecer a ligação entre a Teoria Crítica e o proletariado, Horkheimer e
Marcuse levantam uma outra problemática: Nem a teoria, nem os valores éticos podem ser
reduzidos a um ponto de vista de classe, eles têm sua própria esfera de existência, sua
autonomia relativa em relação as determinações sociais e seu modo especifico de
desenvolvimento. Apesar da grandeza moral, do radicalismo ético, a sensibilidade humanista
e a aspiração revolucionária da Teoria Crítica, Löwy destaca que o racionalismo desta teoria
continua abstrato, a-histórico
Löwy pondera que os escritos da Escola de Frankfurt estão entre os mais
extraordinários monumentos do pensamento crítico do século XX. As análises de Löwy ainda
consideram que a visão proletária pode e deve ser capaz de incorporar as verdades parciais
produzidas pelas ciências de nível inferior ou limitadas, sem que isso, necessariamente, leve
ao ecletismo. Suas conclusões atestam que o proletariado, na medida em que busca a
possibilidade objetiva ao acesso da verdade, é a classe revolucionariamente mais crítica, mas
isso não o induz a uma garantia suficiente do conhecimento da verdade social.

REFERÊNCIAS
LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez, 2009.

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