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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de História
Programa de Pós-Graduação em História Comparada

Profª: Leila Rodrigues da Silva


2019/2 - Tópico de História das Religiões e Religiosidades (IHC804)
Texto: LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social. Elementos para uma análise
marxista. 20ª ed. São Paulo: Cortez, 2015
Sobre o autor: Filho de imigrantes judeus de Viena (Áustria), Michael Löwy nasceu
em São Paulo, cidade em que passou sua infância e adolescência. Em 1960, formou-se
em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. No ano seguinte, partiu para a
França, onde estudou sob a orientação de Lucien Goldmann, concluindo o Doutorado
em 1964. Após alguns anos vivendo em Israel, Löwy retornou à França em 1968,
passando a trabalhar na Université de Paris VIII como assistente de Nicos Poulantzas.
Em 1976, obteve o doctorat d’État com uma tese sobre a evolução política do
jovem Lukács. Em 1978, tornou-se professor de Sociologia no Centre National de la
Recherche Scientifique (Paris) e depois diretor de pesquisas da mesma instituição. Nos
anos 1950-1960, fez parte da Liga Socialista Independente. Em 1968, associou-se
à Quarta Internacional, tornando-se membro da Primeira seção, a Ligue Communiste.
Em sua militância revolucionária, Löwy esteve constantemente atento às lutas sociais e
organizações políticas de esquerda. A partir de 2013, passou a coordenar a coleção
"Marxismo e literatura" da Editora Boitempo em conjunto com Leandro Konder. No
final de 2014, com a morte de Leandro, assumiu a coordenação integral da coleção.

Tópicos para discussão:

- Para a questão da ideologia em Marx o autor dá preferência pela referência presente na


obra 18 de Brumário de Luis Bonaparte, apesar de tradicionalmente outros estudiosos
buscarem essa discussão n’A ideologia alemã. A razão disso, segundo o Löwy, é porque
na segunda obra a ideologia é apresentada como “especulação metafísica idealista”
sendo impossível relacioná-la com a ciência. Enquanto que, em 18 de Brumário ele
assume a superestrutura ideológica da pequena burguesia sob um aspecto de “visão de
mundo”.

- “O processo de produção da ideologia não se faz no nível dos indivíduos, mas das
classes sociais (...), mas quem as sistematiza, desenvolve, dá-lhes forma de teoria, de
doutrina, de pensamento elaborado, são os representantes políticos ou literários da
classe.” (p. 119)

- A ideologia representa uma maneira de enxergar a realidade de forma sistemática


(“uma maneira de pensar”), extrapolando idéias ou concepções singulares e individuais.
- Löwy acrescenta aos representantes políticos e literários, os representantes científicos.
Para tal, o autor se ancora em textos escritos por Marx, que apesar de nunca
sistematizarem sua teoria, permitem observações que exprimem um elemento teórico
implícito.

- A posição de um estudioso como representante da classe dominante, não invalida seu


pensamento como não-científico. Diferenciam-se aqui economistas “clássicos” e
“vulgares” por exemplo.

- A luta de classes como divisor de águas para a mudança da natureza da economia


política. O que não significa que não houvessem economistas “vulgares” anteriormente.

- A “visão de mundo” burguesa como uma limitação, um horizonte intelectual, ao


pensamento científico.

- A concepção de Marx sobre a ciência possui um caráter dialético, não progressista.


Para exemplificar isto, Löwy retoma o pensamento de Marx acerca de dois economistas:
Ricardo e Sismondi. Ricardo representava o ápice da ciência dentro da visão de mundo
burguesa, enquanto Sismondi (apesar de retrógrado) é um dos poucos economistas que
critica os fundamentos do capitalismo. “O que um viu, o outro ignorou, o que o outro
enxerga, o primeiro não vê.”

- Marx compara também Sismondi com Malthus, o qual afirma ser igualmente anti-
progresso, mas aliado ao discurso retrógrado da classe dominante, diferentemente de
Sismondi que é apresentado como crítico-utópico.

- “Da mesma maneira que os economistas são os representantes científicos da classe


burguesa, os socialistas e os comunistas são os teóricos da classe proletária.” (Marx em
A miséria da filosofia). – Marx se coloca como um representante científico do
proletariado, negando qualquer especulação de neutralidade ou imparcialidade na sua
teoria.

- Segundo Althusser, Marx representaria um corte epistemológico com relação aos


teóricos anteriores, sendo um representante de uma ciência enquanto os outros seriam
ideólogos. Löwy defende que o próprio Marx não veria desta forma, não haveria de um
lado uma ciência e do outro uma ideologia. Haveria, entretanto, uma expansão dos
limites do ‘horizonte intelectual’, atingindo uma “cientificidade superior”.

- Essa concepção, que abandona a dualidade ciência (proletária) versus ideologia


(burguesa) no campo da teoria, tem a vantagem de evitar dois erros metodológicos
muito frequentes no marxismo: o “reducionismo sociológico”, que considera as idéias
de diferentes autores primariamente a partir da classe social da qual se origina; e uma
visão positivista, que considera que a ciência nada tem de ideologia.

- A partir deste ponto do texto inicia-se um tópico intitulado “debate”, no qual


provavelmente vemos a intervenção de pessoas que participaram das conferências do
professor.
- Definição de proletariado: Löwy nega uma concepção tradicional que
considera que proletário são os trabalhadores produtivos, que produzem
diretamente mais-valia, apoiando-se mais na visão de que o proletário é todo
aquele que vende sua força de trabalho por um salário.

- Associação entre o intelectual e o poder: O autor defende uma posição de que


os intelectuais não são uma classe, mas uma categoria social, podendo inclusive
pertencerem (ou serem integrados) a diferentes classes sociais. Porém, a
definição acerca da classe dominante permanece sendo os aspectos econômicos.

- O proletariado não poderia ele mesmo ser dividido, como Ricardo e Sismondi,
em frações progressistas (mais associados a indústrias modernas) e mais
retrógradas (indústrias tradicionais): O aspecto dialético da concepção marxista
frente a esses teóricos pode, talvez, ser também aplicada ao proletariado. A
tarefa de um teórico marxista seria buscar a integração desses dois elementos.

- Qual é o ponto de vista do proletariado? Löwy indica quatro elementos que


podem explicar as divergências dentro desse pensamento: 1) o peso da ideologia
dominante. 2) fenômeno da burocracia, que possui particularidades enquanto
categoria. 3) a opressão de gênero. 4) divergências internas ao próprio processo
do conhecimento.

- O que caracteriza a questão do conhecimento científico e do conhecimento


verdadeiro? Para o autor, o que define a ciência é a busca pelo conhecimento da
verdade, reconhecendo-se que nunca se conhecerá uma verdade absoluta, pode-
se apenas se estar mais ou menos próximo a ela.

- Relação entre ‘ponto de vista’ (como utilizado pelo autor) e consciência de


classe: “Por que eu digo ponto de vista e não consciência de classe? Porque eu
acho possível que sujeitos de outra classe se situem no ponto de vista do
proletariado, portanto, o seu processo de posicionamento não se faz em termos
de uma tomada de consciência de classe (porque a classe dele não é o
proletariado) mas de sua situação no ponto de vista dessa classe, no ponto de
vista que corresponde à consciência de classe do proletariado.” (p. 140)

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