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GRAMSCI E O ESTADO
Marx não desenvolveu uma teoria compreensível de política abrangente comparável à sua
análise da economia política.
SITUAÇÃO HISTÓRICA
A ênfase que Gramsci atribuiu à política surgiu da situação histórica na qual ele viveu e
participou como um líder intelectual envolvido com um movimento proletário de massa
(o de Turim) durante a Primeira Guerra Mundial e nos anos imediatamente posteriores.
A Itália, no final da guerra, foi o palco de um importante luta entre os partidos políticos
de esquerda e direita, uma luta que rapidamente transformou-se na vitória do fascismo
em 1922 e na supressão dos direitos políticos. Como uma figura central do partido
socialista italiano e em seguida do Partido Comunista (PCI).
Foi em sua concepção da sociedade civil e sua elevação da hegemonia burguesa que
Gramsci deu um lugar de destaque na ciência política indo além de Marx.
Ele emprestou ao Estado um papel mais extenso (ampliado) na perpetuação das classes.
Gramsci conferiu à massa dos trabalhadores muito mais crédito do que Lênin ao
considerar que eles próprios eram capazes de desenvolver a consciência de classe.
O Estado era muito mais do que o aparelho repressivo da burguesia; o Estado incluía a
hegemonia da burguesia na superestrutura.
A HEGEMONIA E O ESTADO
No ponto de vista histórico, sob as condições de relativa liberdade política após a Primeira
Guerra Mundial, os partidos das classes trabalhadoras comprometidos explicitamente
com a defesa e liberação das classes subalternas saíram-se de maneira geral, muito pior
do que os seus rivais conservadores, cuja proposta era preservar e promover os avanços
do capitalismo.
No conceito de hegemonia. Ele mostrou que nem a força nem a lógica da produção
capitalista podia explicar o consentimento de que goza essa produção entre as classes
subordinadas. Ao contrário, a explicação para esse consentimento reside no poder da
consciência e da ideologia.
O Estado com direção burguesa cria uma estratégia para obter o consentimento ativo das
massas através de sua auto-organização, começando pela sociedade civil e em todos os
aparelhos hegemônicos - da fábrica à escola e à família.
Gramsci não parece ter estabelecido uma única e absolutamente satisfatória teoria do
Estado, porém ele claramente o viu de maneira diferente de Marx ou Lenin. Para Gramsci
o Estado, como superestrutura, torna-se uma variável essencial, em vez de secundária, na
compreensão da sociedade capitalista.
Ele incorporou também o aparelho de hegemonia no Estado, bem como a sociedade civil,
ampliando-o além do conceito marxista-leninista do Estado como um instrumento
coercitivo da burguesia.
O autor retrata que existem várias definições de hegemonia, e do lugar que nela
ocupa o Estado nos Cadernos do Cárcere.
Ele vai dizer que a classe dominante conquista o consentimento para sua dominação social
através da hegemonia na sociedade como um todo, porém exerce a dominação através do
controle dos aparelhos coercitivos do Estado.
Na segunda definição- o Estado inclui a sociedade civil (no sentido de que se deve
considerar o Estado = a sociedade política + a sociedade civil, em outras palavras, a
hegemonia armada de coerção). Nesse caso, a hegemonia não é um polo de consentimento
em contraste com outro polo de coerção, mas é a síntese de consentimento e repressão.
O Estado continua a impor suas leis burguesas como se houvesse apenas uma classe e
uma sociedade. no caso de hegemonia bem sucedida, uma classe tenta desenvolver a
sociedade toda (função nacional). Assim, sua 'atração' pelas classes aliadas (e também
pelos seus inimigos) não é passiva, mas ativa. Reforma trabalhista
A burguesia utiliza todos estes elementos e sua expansão ilusória para incorporar a classe
operária, como classe operária sem consciência de sua posição de classe no
desenvolvimento global da burguesia. Nisso, ao tomar parte do poder e do controle
burgueses, os trabalhadores permanecem uma classe explorada.
Para Gramsci, o controle da consciência é uma área de luta política da mesma forma, ou
até mais, que o controle das forças de produção.
Gramsci usa o termo "revolução passiva" para indicar a constante reorganização do poder
do Estado, e sua relação com as classes dominadas para preservar a hegemonia da classe
dominante e excluir as massas de exercerem influência sobre as instituições econômicas
e políticas.
A presença das massas na política é a precondição para a sua autonomia, mas também
resulta num Estado ampliado que pode responder à ameaça do movimento de massa.
Ele retrata que, defrontado com massas potencialmente ativas, o Estado institui a
revolução passiva como uma técnica que a. burguesia tenta adotar quando sua hegemonia
está de alguma maneira enfraquecida.
O aspecto “passivo” consiste em "impedir o desenvolvimento de um adversário
revolucionário, 'decapitando' seu potencial revolucionário.
Gramsci desenvolveu esse conceito para explicar como a burguesia sobrevive apesar de
crises políticas e econômicas.
A burguesia - através do Estado - tenta uma estratégia de revolução passiva sempre que
sua hegemonia é ameaçada ou sempre que sua superestrutura política (força mais
hegemonia) não consegue lidar com a necessidade de expandir as forças de produção.
Para Gramsci, a lição da revolução passiva foi tornar explícita a diferença entre a política
reformista e revolucionária, sendo o reformismo uma versão da revolução passiva.
Assim ele vai dizer que a necessidade de se contrapor à revolução passiva se baseia na
assimetria fundamental entre a revolução feita pela classe operária e a revolução da
burguesia.
Como as classes subordinadas superam a hegemonia das classes dominantes? Ele vai
evidenciar que esse foi o interesse de Gramsci em analisar o desenvolvimento do
capitalismo nos países ocidentais, visando compreender o fracasso da atividade
"revolucionária" italiana de 1919-1920, e buscando uma estratégia mais relevante em face
da hegemonia capitalista.
Há três planos na resposta que Gramsci dá a estas questões: (1) o conceito de “crise de
hegemonia”, que é derivado em parte da análise de Marx no Dezoito Brumário; (2) o
conceito de "guerra da posição" em contraposição à "guerra de movimento"; e (3) “o
papel dos intelectuais”.
A Crise de Hegemonia- ele retrata que quando há essa crise, o meio tradicional de
combater o conflito é usar o Estado para manter a hegemonia da classe dominante. E
aqueles elementos da burocracia, Igreja, altas finanças e outras instituições – que são
independentes da opinião pública – ampliam seu poder e autonomia.
E Como ocorrem essas crises? Na resposta ele diz que: Elas são o resultado de atos
impopulares das classes dirigentes (através do Estado) ou do intensificado ativismo
político de massas anteriormente passivas.
“A crise consiste em que o velho está morrendo e o novo não pode nascer”
Gramsci não acreditava que esta crise de hegemonia fosse o resultado da crise
econômica. Em vez disso, as crises econômicas poderiam criar as condições para a crise
da hegemonia pelo fato de colocarem a burguesia (através do Estado) na posição de
cometer sérios equívocos na maneira de lidar com as respostas aos problemas econômicos
e ao executar reformas (revolução passiva).
Nesse caso, a burguesia reagiria de várias maneiras a esses problemas, tentando ao mesmo
tempo manter o controle através do aparelho de hegemonia.
Carnoy retrata que, diiferente de Marx que diz que a crise econômica por si só já conduz
para uma revolução, Gramsci retrata que elas podem simplesmente criar um terreno mais
propício para a disseminação de certas maneiras de pensar e resolver questões para uma
contra-hegemonia.
Ele vai dizer que a captura do Estado - a derrubada e o controle do Estado - por si não
significava o controle da sociedade; não significava o estabelecimento de uma hegemonia
proletária alternativa.
Ele considerava pouco provável que o proletariado pudesse obter o controle sobre o
Estado através de um ataque direto, como na Rússia. Uma vez que o Estado era muito
mais do que as forças coercitivas da burguesia, uma vez que era parte da superestrutura
ideológica (hegemônica) da sociedade civil dominada pela burguesia.
Assim, com um proletariado industrial mais extenso nos países capitalistas mais
avançados e, por outro lado, menos militante do que na Rússia e menos desejoso de
derrubar o capitalismo, Gramsci desenvolveu uma estratégia coerente com sua análise
para explicar o paradoxo - uma estratégia que confrontava a hegemonia burguesa. Ele a
denominou "guerra de posição".
A "guerra de posição" se baseia na ideia de sitiar o _aparelho do Estado com uma contra-
hegemonia, criada pela organização de massa da classe trabalhadora.
Nessa perspectiva Carnoy destaca que Gramsci, como Lenin, via o partido político como
o instrumento de elevação de consciência e de educação junto à classe trabalhadora e de
desenvolvimento das instituições de hegemonia proletária.
Gramsci também vê o partido político revolucionário como tendo suas próprias condições
“hegemônicas” para permanência (um partido que não pode ser destruído por meios
normais). Qualquer partido político tem três elementos fundamentais –
(1) o elemento massa, composto de homens “comuns, médios, cuja participação toma
mais a forma de disciplina e lealdade do que qualquer espírito criativo ou habilidade
organizacional”; (2) o principal elemento de coesão, que "centraliza nacionalmente e
torna eficaz e poderoso um complexo de forças que, se deixadas a elas mesmas, seriam
responsáveis por muito pouco ou nada"; e (3) um elemento intermediário, que "articula
o primeiro elemento com o segundo e mantém contato entre eles, mas também
moralmente e intelectualmente.
Ele vai dizer que Lenin acreditava em um partido de vanguarda, que levantaria a
consciência da massa de trabalhadores, que seria composto de antigos operários e antigos
intelectuais burgueses, fundidos numa unidade coesa.
Nesse sentido, Lenin via os trabalhadores como incapazes de gerar teorias e liderança
política consciente sem a direção dos líderes intelectuais de vanguarda.
Gramsci acreditava que cada classe produz tais intelectuais "organicamente" - isto é,
intelectuais de sua própria classe, que atuam para construir a hegemonia daquela classe.
Ele vai retratar que as classes dominantes também buscam nas classes subordinadas
intelectuais para dar homogeneidade e auto-consciência ao grupo dominante.
Ele vai destacar também que estes intelectuais "orgânicos" são diferenciados "menos por
sua profissão, que pode ser qualquer trabalho característico de sua classe.
Gramsci acreditava num partido e numa estratégia baseada na ideia de que "todos os
homens são 'filósofos' "
CONCLUSAO
Gramsci viu que a classe dominante não necessitava depender apenas do poder coercitivo
do Estado ou mesmo de seu poder econômico para exercer o seu domínio, mas sim, de
sua hegemonia, expressando-se na sociedade civil e no Estado, nesse sentido, os
dominados podiam ser persuadidos a aceitar o sistema de crenças da classe
dominante e compartilhar os seus valores sociais, culturais e morais.