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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO
ESTADO, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO
PROF. CARLOS AUGUSTO DE MEDEIROS
ALUNO: MARCOS NAAADISON GABRIEL
ALUNA: DELIANE ANDRADE DE ARRUDA

TEXTO DO ROTEIRO DIDÁTICO

1 Texto de Referência

CARNOY, Martin. Gramsci e o Estado. In: Estado e Teoria Política, 4. ed, São Paulo, Papirus,
1988. p. 81-109.

2 Apresentação Temática

A obra, escrita pelo economista Polonês Martin Carnoy, traz um apanhado acerca de
diversas concepções que em conjunto, sugerem uma compreensão acerca do Estado e da Teoria
Política. O estudo empreendido por Carnoy, estrutura-se no pensamento de diversos autores, desde
os mais clássicos, até os considerados pensadores da modernidade. Sua obra é marcada por uma
multiplicidade de ideias, conceitos, categorias de vários e importantes pensadores, com muita
propriedade explicativa. Nisso, o autor utiliza-se dos pensamentos de Locke, Hobbes, Marx,
Engels, Lenin, Luxemburgo, Gramsci, Adam Smith, Norberto Bobbio, dentre inúmeros outros,
para explicar questões pertinentes que tem influência ate os nossos dias atuais como: à democracia,
luta de classes, comunismo, capitalismo, socialismo, conceitos fundamentais para uma
compreensão sistemática do Estado e da Teoria Política.

3 Visão de conjunto

O capítulo 3, que tem como título: Gramsci e o Estado, nele Martin Carnoy explora a
respeito da teoria política do estado em Gramsci, se debruçando sobre as diferenciações que
Gramsci trouxe com seu enfoque na teoria marxista. Assim, no primeiro tópico é sobre a
conceituação da sociedade civil, nele Carnoy explica que a maior contribuição de Gramsci foi em
dar um lugar de maior destaque e importância ao papel das relações de superestrutura, contidas na
hegemonia burguesa, que tem em moldar a consciência dos proletariados.
Desta maneira, destaca que Gramsci não ira negar que, as condições estruturais são
determinantes na análise da coerção legitimada ou violência que coage os trabalhadores a
permanecerem no status quo, porque na sua concepção é preciso considerar a alienação da
consciência dos proletários, que ocorre através da propagação dos valores e ideias burguesas.
Nisso, destaca-se que em Gramsci a sociedade civil não é componente estrutural, como é em Marx,
para ele, a sociedade civil e sociedade política são para si mesmas superestruturas, pois não
correspondem somente as “relações de produção”, correspondem a um todo complexo e
emaranhado das relações “ideológicas e culturais”, sendo o foco central na análise gramsciana.

4 Esquema Geral
 Crise de hegemonia
 Guerra de posição
Hegemonia
 O papel dos intelectuais

Estado X
Aparelhos  Jornais
privados de  Igrejas
hegemonia  Meios de comunicação

5 Situação do texto

Antonio Gramsci nasceu em 23 de janeiro de 1891 em Ales, província de


Cagliari, na Ilha de Sardenha. Foi filho de uma família humilde e numerosa. na
infância Gramsci foi diagnosticado com uma Bourgeois doença que o deixou
corcunda e prejudicou seu crescimento .

Na idade adulta, sua altura não chegava mais do que 1,50 metro, sem Antonio Gramsci
(1891-1937)
contar em sua saúde frágil. Aos 21 anos, foi estudar letras em Turim, onde atuou
como jornalista, profissão essa que o ajudou a disseminar seus pensamentos de
esquerda.
O mesmo, participou de comissões de fábrica e fez parte da fundação do Partido Comunista
Italiano em 1921. Em 1926 foi preso pelo regime fascista de Benito Mussolini. Na prisão, escreveu
os textos reunidos em Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere, na qual foi inspiração para o
eurocomunismo – a linha democrática seguida pelos partidos comunistas europeus na segunda
metade do século 20. Além disso, na sua trajetória o intelectual italiano refletiu sobre hegemonia
cultural, conferindo-lhe novo status. Gramsci, observava a história italiana e seu desenvolvimento
influenciava as relações de classe e os grupos intelectuais na produção da cultura do país. Gramsci
cumpriu dez anos, morrendo numa clínica de Roma em 1937.
No seu pensamento, as teorias que Gramsci desenvolveu surgiram da situação histórica a
qual ele viveu. Como figura central do partido socialista italiano e posteriormente do Partido
Comunista, o pensador viu o fracasso de um movimento revolucionário das massas trabalhadoras
e o início de um fascismo reacionário apoiado por grande parte da classe trabalhadora. É, diante
desses acontecimentos que ele faz uma releitura da teoria marxista como forma de achar respostas
para o paradoxo que ele via acontecendo na sociedade.
E para entender suas reflexões de teorização é preciso ter noção de alguns conceitos usados
por ele. Nisso, no capítulo que tem como título: Gramsci e o Estado, o autor faz alguns
apontamentos acerca das ideias de Gramsci e os principais pontos de convergência e divergência
com as concepções trazidas inerentes ao pensamento de Marx, Engels e Lenin. Assim, Carnoy
inicia o capítulo retratando o momento histórico vivido pelo pensador italiano. Desta maneira,
Carnoy evidencia que as teorias Gramscianas decorreram do papel por ele exercido enquanto
figura central do partido socialista italiano e posteriormente do Partido Comunista. Isto porque,
Gramsci presenciou o fracasso de um movimento revolucionário das massas trabalhadoras e o
início de um fascismo reacionário apoiado por grande parte da classe trabalhadora. Nessa
perspetiva, foi a partir disso que Gramsci se propôs a repensar a teoria marxista como meio de
buscar respostas acerca do fenômeno que estava sendo observado na sociedade.
Desta forma, no decorrer do capítulo, Carnoy traz uma série de conceitos chave necessários
à compreensão do pensamento de Gramsci. Assim, ele começa explicando que que a hegemonia,
conforme cunhada na teoria gramsciana tem a ver com o predomínio ideológico dos valores e
normas burguesas sobre as classes subalternas através de um conjunto de instituições, ideologias,
práticas e agentes. Retrata ainda, em uma outra concepção que a hegemonia compreende as
tentativas bem-sucedidas da classe dominante em usar sua liderança política, moral e intelectual
para impor sua visão de mundo como inteiramente abrangente e universal, e para moldar os
interesses e as necessidades dos grupos subordinados.
E nessa perspetiva, Gramsci concebe também a ideia de uma sociedade civil como sendo
o conjunto dos organismos vulgarmente chamados “privados”, como os meios de comunicação,
religiosas, entre outros. E nisso, para Gramsci, Estado pode ser compreendido não só como o
aparelho repressivo da burguesia, mas também como aquele que inclui a hegemonia da burguesia
na superestrutura.
Desta maneira, o conceito de superestrutura em Gramsci, divide-se em dois níveis: o
primeiro é a sociedade civil e o segundo é a sociedade política ou Estado. Sendo Carnoy, Gramsci
não estabeleceu uma única e absolutamente satisfatória teoria do Estado, porém ele claramente o
viu de maneira diferente de Marx ou Lenin. Com isso, Para Gramsci, o Estado como
superestrutura, torna-se uma variável essencial, em vez de secundária, na compreensão da
sociedade capitalista. Gramsci, incorporou também o aparelho de hegemonia no Estado, bem como
a sociedade civil, e, por essa razão, ampliando-o além do conceito marxista-leninista do Estado
como um instrumento coercitivo da burguesia. Portanto, o Estado é, para o italiano,
simultaneamente um instrumento essencial para a expansão do poder da classe dominante e uma
força repressiva (sociedade política) que mantém os grupos subordinados fracos e desorganizados.
Para Carnoy, tudo isto sugere que a visão de Gramsci sobre o Estado era principalmente
ideológica, que este era um aparelho hegemônico que surgiu da concepção da classe burguesa
como: um grupo em potencial totalmente inclusivo, daí um sistema de leis e normas que tratavam
os indivíduos como se eles estivessem para ser incorporados à burguesia.
Sendo assim, para Gramsci a força verdadeira do sistema não reside na violência da classe
dominante ou no poder coercitivo do seu aparelho de Estado, mas na aceitação por parte dos
dominados de uma concepção de mundo que pertence aos seus dominadores. Para Gramsci,
conforme cita o autor, quando acontece de um Estado não mais conseguir controlar as
consciências, ele tende a recorrer à força, à coerção.
A partir disso, a obra trabalha o conceito de revolução passiva, que para Gramsci, significa
uma readaptação do poder estatal em relação ao proletariado como meio de se preservar sua
hegemonia e evitar que as massas exerçam influência sobre as instituições econômicas e políticas.
Assim também, o pensamento Gramsciano se desdobrou em alguns outros conceitos, pelos quais,
dar-se-ia o processo de transformação da sociedade. Gramsci elucida uma crise de hegemonia
concebida como resultado “de atos impopulares das classes dirigentes (através do Estado) ou do
intensificado ativismo político de massas anteriormente passivas (CARNOY, 1988, p.97). Carnoy,
destaca que, para Gramsci, essa crise de hegemonia não era resultado imediato de uma crise
econômica, muito embora não se pudesse negligenciar que uma poderia ter influência na outra,
mas para Gramsci, seria o desenvolvimento da consciência das classes menos favorecidas que
resultaria na transformação revolucionária, e não a taxa decrescente de lucro.
O autor também aponta ainda, que as ideias de Gramsci são melhor entendidas a parir da
compreensão da guerra de posição. E seria esta, um mecanismo para desenvolvimento da
superestrutura ideológica. Nisso, essa guerra de posição estaria ligada à ideia de uma nova
consciência, uma hegemonia da classe proletária que serviria de alicerce para a construção de uma
nova sociedade.
Por fim, o autor destaca no capítulo, o papel dos intelectuais posto que, “ele (Gramsci)
acreditava nas qualidades intelectuais das massas e em sua capacidade para criar, elas mesmas, a
hegemonia de sua classe, ao invés de verem isso ser feito em nome delas por um partido de
vanguarda, de elite ou por uma elite burocrática responsável pelas teorias e táticas revolucionárias”
(p.117). Deste modo, entendia Gramsci que os intelectuais tinham um importante papel para o
processo de transformação e tomada de poder da classe trabalhador, sendo elas qualquer pessoa
representando esse ser intelectual.

6 Principais conceitos, ideias e doutrinas

Hegemonia, o seu significado tem a ver com o predomínio ideológico dos valores e normas
burguesas sobre as classes subalternas através de um conjunto de instituições, ideologias, práticas
e agentes. “A hegemonia compreende as tentativas bem-sucedidas da classe dominante em usar
sua liderança política, moral e intelectual para impor sua visão de mundo como inteiramente
abrangente e universal, e para moldar os interesses e as necessidades dos grupos
subordinados” (CARNOY, 1988, p.87).

Sociedade civil - conjunto dos organismos vulgarmente chamados “privados”, como os meios de
comunicação, entidades.

Estado - não só como o aparelho repressivo da burguesia, mas também como aquele que inclui a
hegemonia da burguesia na superestrutura. “O Estado é o complexo das atividades práticas e
teóricas com o qual a classe dominante não somente justifica e mantém a dominação como
procura conquistar o consentimento ativo daqueles sobre os quais ela governa” (CARNOY apud
GRAMSCI, 1988, p. 91).

Superestrutura - é formada por dois níveis: o primeiro é a sociedade civil e o segundo é a


sociedade política ou Estado.

Bloco histórico – relação dialética entre a infra e a superestrutura; superestrutura como reflexo
das relações sociais de produção. Essa relação não se dá abstratamente, mas sim de forma concreta
e histórica. Ex: “Hegemonia e função hegemônica do Estado emanam ao mesmo tempo da
natureza da burguesia como uma classe ideologicamente abrangente e de sua posição específica
de poder econômico na sociedade capitalista” (CARNOY, 1988, p.94).

A crise de hegemonia – a teoria de Gramsci era bipolar; um elemento positivo sempre faz gerar
um negativo, isto é, não há teoria sobre a hegemonia sem uma teoria sobre a crise da hegemonia,
por exemplo. Essa crise seria resultado “de atos impopulares das classes dirigentes (através do
Estado) ou do intensificado ativismo político de massas anteriormente passivas” (CARNOY,
1988, p.97). Valer notar que Gramsci não acreditava que esta crise fosse resultado de uma crise
econômica; esta poderia criar condições para que aquela ocorresse, no entanto, seria o
desenvolvimento da consciência das massas que produziria a transformação revolucionária, e não
a taxa decrescente de lucro – “o empobrecimento cada vez maior é apenas um elemento dentro
das possibilidades de elevar essa consciência” (CARNOY, 1988, p.99).

A guerra de posição – estratégia para contornar o paradoxo “proletariado mais extenso e menos
desejoso de derrubar o capitalismo”. Controlar o Estado não significa controlar a sociedade, já que
ele é apenas uma peça no sistema de poder. Assim, mais do que isso, é preciso desenvolver também
a superestrutura ideológica. É aí que entra a guerra de posição: a criação de uma nova consciência,
uma hegemonia da classe subalterna, gerada dentro dela mesma, para que quando tomasse o poder
do poder do Estado, não ficasse um vácuo. Essa nova cultura, concreta e consistente, com normas
e valores proletários, serviria de alicerce para a construção de uma nova sociedade. Para Gramsci
a guerra de posição tem 4 elementos fundamentais:

01) enfatiza que cada país particular exigiria um “reconhecimento acurado”. Isto é,
diferentemente de Marx, que acreditava numa revolução de todos os trabalhadores do mundo
utilizando, simultaneamente, as mesmas estratégias, Gramsci dizia que “os Partidos Comunistas
de cada país tinham de desenvolver seu próprio plano de como criar o socialismo dentro do seu
contexto político específico antes que qualquer ordem socialista mundial pudesse ser
alcançada” (CARNOY, 1988, p.101).

02) baseia-se na ideia de sitiar o aparelho do Estado com uma contra-hegemonia,


criada pela organização de massa da classe trabalhadora e pelo desenvolvimento das instituições
e da cultura da classe operária. Os burgueses tentariam manter sua consciência (hegemonia)
enquanto os proletários tentariam ascender a sua (contra-hegemonia); confronto da hegemonia
burguesa e proletária numa disputa pela posição de dominante.

03) a guerra de posição é a luta pela consciência da classe operária; consciência como
ingrediente chave no processo de transformação. O processo de consciência se dá em 3
níveis: a) identificação profissional – “membros de um grupo profissional estão conscientes de
sua unidade e homogeneidade e da necessidade de organizá-lo” (CARNOY, 1988, p.104) Classe
em si. b) solidariedade – todos de uma mesma classe social ajudam a defender os interesses
econômicos apenas inerentes a ela. “Neste nível de consciência, a classe operária exige igualdade
político-jurídica com os grupos dominantes” (CARNOY,1988, p.104). c) transcendência – “o
indivíduo se torna consciente de que seus próprios interesses corporativos transcendem os limites
corporativos de uma classe econômica e se estendem a todos os grupos subordinados, que
compartilham a cultura da subordinação e podem unir-se para formar uma contra-ideologia que
os liberte da posição subordinada” (CARNOY, 1988, p.104).

04) tradução da tipologia do desenvolvimento ideológico em ação, isto é,


transformar ideia em ação. Dessa forma, Gramsci via o “partido político como instrumento de
elevação de consciência e de educação junto à classe trabalhadora e de desenvolvimento das
instituições de hegemonia proletária” (CARNOY, 1988, p.104). Mas, diferentemente de Lenin,
Gramsci acreditava na classe trabalhadora, acreditava que sim, ela era capaz de desenvolver seus
próprios intelectuais, funcionando o partido político como canalizador da atividade desses
intelectuais. Gramsci escreve que há 3 elementos essenciais de um partido político: a) a massa;
os homens que o compõe. b) a coesão; “a união faz a força”. E c) a articulação.

O papel dos intelectuais – intelectual pode ser qualquer pessoa possuidora de uma capacidade
técnica especifica. Portanto, como dito acima, “ele [Gramsci] acreditava nas qualidades
intelectuais das massas e em sua capacidade para criar, elas mesmas, a hegemonia de sua classe,
ao invés de verem isso feito em nome delas por um partido de vanguarda, de elite ou por uma elite
burocrática responsável pelas teorias e táticas revolucionárias” (CARNOY,1988, p.109). Dessa
forma, eles tinham um importante papel para o processo de transformação, já que “tais intelectuais
orgânicos, oriundos da classe trabalhadora, mantendo seus laços com ela através da criação de
transformações políticas por meio e um partido revolucionário, forneciam a base para a
estratégia política de Gramsci – o estabelecimento da superioridade moral e cultural do
proletariado, independente de seu poder político direto” (CARNOY,1988, p.109).

7 Problematização

O pensamento de Antonio Gramsci na proposta de uma nova análise do Estado é uma de


suas maiores contribuições, que se deu com a ampliação do seu conceito de Estado ao incluir a
sociedade civil como aparelho privado de hegemonia. Nesse sentido, com essa contribuição que
transcendeu a analise marxista com novas formas de se pensar o Estado, como podemos utilizar
a conceito de aparelhos privados de hegemonia na realidade brasileira?

8 Referências

CARNOY, Martin. Gramsci e o Estado. In: Estado e Teoria Política, 4. ed, São Paulo, Papirus,
1988. p. 81-10.

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