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CFCH | Escola de Serviço Social

Carina dos Santos Magalhães


Estado, Classes e Movimentos Sociais
Professor Carlos Montaño.
1) Contraste as concepções de Marx e Gramsci sobre Estado e Sociedade Civil

Antônio Gramsci, filósofo marxista de origem italiana, compreende a sociedade civil não
como todo o conjunto das relações matérias, mas todo o conjunto das relações ideológicas-
culturais, ou seja, todo o conjunto da vida espiritual e intelectual. Sendo assim, são fixados
dois grandes planos superestruturais, o que pode ser chamado de sociedade civil, isto é, o
conjunto de organismos habitualmente ditos privados e o da sociedade política, ou Estado,
que corresponde à função de hegemonia.
Tanto na teoria de Karl Marx, filósofo revolucionário socialista, como no pensamento de
Gramsci, a sociedade civil – não mais o Estado, como em Hegel – representa o momento
ativo e positivo do desenvolvimento histórico. De modo que, para Marx, este momento ativo
e positivo é estrutural, porquanto, para Gramsci, é superestrutural. Ambos invertem o
pensamento de Hegel, assim dizendo, colocam a sociedade civil em foco, ao invés do Estado.
Em contrapartida, eles têm suas divergências, visto que Marx subentende a passagem do
momento superestrutural vinculado ao momento estrutural, enquanto Gramsci inverte esta
ordem, ou seja, o momento estrutural dependente ao momento superestrutural.
Para Gramsci,
“Por enquanto, podem-se fixar dois grandes ‘planos’ superestruturais: o que
pode ser chamado de ‘sociedade civil’ (isto é, o conjunto dos organismos
designados vulgarmente como ‘privados’) e o da ‘sociedade política ou
Estado’, planos que correspondem, respectivamente, à função de ‘hegemonia’
que o grupo dominante exerce em toda a sociedade e àquela de ‘domínio
direto’ ou de comando, que se expressa no Estado e no governo ‘jurídico’.
Estas funções são precisamente organizativas e conectivas. Os intelectuais são
os ‘prepostos’ do grupo dominante para o exercício das funções subalternas
da hegemonia social e do governo político.”

Isto é, a sociedade política seria formada pelos órgãos das superestruturas encarregados de
implementar a função de repressão e domínio, ao passo que a sociedade civil seria constituída
enquanto o conjunto dos organismos que possibilitariam a direção intelectual e moral da
sociedade, mediante ao consenso em torno dos projetos de determinada classe. Neste
pensamento, a sociedade civil seria composta pelo conjunto de aparelhos privados da
hegemonia, sendo assim, tanto entidades de cunho empresarial, organizadas pela classe
dominante, a burguesia, e em proveito de seus projetos, quanto iniciativas organizativas de
cunho popular, próprias da classe trabalhadora.
Entretanto, ainda analisando o conceito gramsciano de sociedade civil, é importante ressaltar
que a autora Sonia Regina Mendonça, doutora em História Econômica pela Universidade de
São Paulo (USP), pontuou sobre o esquecimento, por parte de Gramsci, da ideia de totalidade
em nome de uma série de situações de dominação, por parte de uma classe dentro da
sociedade civil, e de lutas, sendo assim, não menciona a capacidade de organizar projetos
emancipatórios, posto que é desprovido de seu significado de forma social específica do
Estado capitalista, de um ponto de vista totalizante. Em consequência, a sociedade civil perde
seu caráter transformador, ou contra hegemônico, composta por classes sociais com ausência
de suas próprias identidades sociais, nas quais as diversidades e diferenças atuam como
detergentes das universalidades. Neste propósito, se nega as diferenças de classe, que são tão
inerentes ao capitalismo, através de um conjunto amplo de identidades plurais,
desagregadoras do universal e de concepções redundante das compreensões de sociedade
civil.
Resumidamente, a sociedade civil constitui-se de modalidades de organização que podem
estar relacionadas à produção econômica - infraestrutura - e política - Estado -, além de estar
materializada em aparelhos privados de hegemonia ou instâncias voluntárias, empresas e
instituições estatais de diversos formatos, espelhando os interesses tanto de grupos
dominantes como grupo dominados. Em outras palavras, sociedade civil é, de fato, um duplo
espaço da luta de classes sociais, visto que é através das organizações nas quais se moldam as
vontades coletivas e é mediante das formas de dominação que, partindo delas, disseminam
formas de convencimento, ou seja, ou seja, o consenso.
Já para Marx, a sociedade civil, enquanto sociedade burguesa, é entendida como a esfera da
produção e da reprodução da vida material, isso quer dizer que sociedade civil é estrutura
econômica podem ser entendidas como a mesma coisa.
Além disso, Marx acreditava que o Estado é produto da sociedade civil, em outras palavras, o
Estado é moldado pela sociedade, assim como a sociedade é moldada pelo modo de produção
dominante e pelas relações de produção que são inerentes a ele.
Em suma, a partir do momento que a burguesia passou a ter o controle dos meios de
produção, esta classe, na lógica capitalista, passou a ser entendida como a dominante. Desse
modo, a burguesia expandiu o seu poder ao Estado, que passou a manifestar os interesses
desta classe através de normas e leis.
Ademais, mesmo tendo em mente que as concepções de Gramsci são semelhantes às ideias
de Marx, o filósofo italiano busca um suporte para demonstrá-las de uma forma mais ampla.
Enquanto Marx condena a ideia do Estado coordenado pelos capitalistas, Gramsci apresenta
uma visão mais abrangente dessa ideia, atribuindo o domínio do Estado a grupos ou fração de
classes, que, em meio ao capitalismo, se hegemoniza no poder por meio de Ideologias
reproduzidas e perpetradas através dos seus intelectuais orgânicos. Sua visão de Estado é
distinta da compreensão de Marx, que define o Estado como o aparato político de uma classe
social, neste caso, os capitalistas, e considera-o a própria superestrutura.
Sinteticamente, Gramsci afirma que, para conseguir o consentimento dos dominados, a classe
dominante criou símbolos, valores e normas, que foram incorporados pelos controlados. Esse
predomínio ideológico da burguesia teve no Estado uma função primordial, a tarefa de criar,
no imaginário conceitual coletivo, uma realidade única e incontestável. Gramsci também se
utiliza do conceito de hegemonia no Estado, visto que o Estado é uma teia de significantes
que exigem, com o objetivo de se auto justificarem, através, principalmente, do
consentimento ativo dos governados.
Gramsci define o Estado não como soberano possuidor da superestrutura, mas como o
detentor do monopólio do uso da força, não sendo ele a própria superestrutura, mas como
parte dela. A respeito desta superestrutura, entende-se a própria sociedade civil. Em sua
visão, vale ressaltar também que, na luta pela hegemonia, os grupos dominantes sempre
buscarão meios para garantir que suas políticas sejam aceitas por todos, com o propósito de
se perpetuarem no poder.
Em síntese, sua proposta é um Estado no modelo Socialismo – não o imposto, como o
comunismo – adequado às condições e demandas do seu tempo, na Itália, buscando uma
revolução proletária.
Quanto ao pensamento de Marx, o Estado é entendido como um instrumento de dominação
de uma classe, neste contexto, a classe proletária Dessa forma, ao garantir a propriedade da
classe dominante o Estado legítima a dominação e a exploração da burguesia sobre o
proletariado e, com isso, demonstra a sua real face, àquela de representante de uma classe
particular, mesmo que, na teoria, o Estado deveria ter suas bases apoiadas na emancipação
política, ou seja, na igualdade de todos os cidadãos perante a lei.
Noberto Nobbio, historiador italiano do pensamento político, acreditava que, em Marx, o
Estado é o momento secundário ou subordinado à sociedade civil. Em Ideologia Alemã,
como por exemplo, Marx afirma que a sociedade civil é o verdadeiro lar, o teatro de toda a
história. Sendo assim, Nobbio tinha razão quando
Em conclusão, o Estado é a expressão das relações de produção e das relações sociais que
estão presentes na atual sociedade capitalista.
2) Contraste as reflexões de Marx e Weber sobre Classe Social.

O conceito sociológico mais conhecido de classes sociais se dá pela ideia que são grupos
dentro de uma sociedade que se diferenciam de outros por suas características econômicas,
políticas ou culturais.
Em contrapartida, Karl Marx e Max Weber tem suas concepções do mesmo objeto, que, neste
caso, são as classes sociais, que convergem entre si.
Em primeiro plano, Karl Marx, afirma que, após a Revolução Industrial, tornou-se impossível
de se adquirir os meios de produção, sendo assim, surgiu a classe burguesa industrial.
Ademais, os modos de produção fundam as classes sociais. Desse modo, entende-se que os
indivíduos que têm terras como propriedade, fazem parte da classe social que recebe a renda
fundiária, assim como quem tem os meios de produção como propriedade, que tem a sua a
renda baseada no lucro, por fim, quem tem a força de trabalho como sua única propriedade,
tem o salário como a sua fonte de renda.
Sendo assim, Marx, assim como Engels, teórico revolucionário prussiano que, por diversas
vezes, foi coautor de obras junto com Karl Marx, entende que as classes sociais se baseiam
nas relações de produção. Nesse sentido, em toda sociedade, seja pré-capitalista ou
capitalista, sempre irá haver uma classe dominante, que direta ou indiretamente, controla ou
influencia o controle do Estado. Por outro lado, classe dominada irá reproduzir a estrutura
social imposta pela classe dominante, e desse modo, perpetuará a exploração.
Dessa forma, os valores, o modo de pensar e de agir presentes em uma sociedade são
consequências das relações entre os homens, com o propósito de conseguir meios para sua
própria sobrevivência.
Posto isso, as relações de produção entre os homens são diretamente dependentes de suas
relações com os meios de produção e que, de acordo com essas relações, podem ser de
proprietário ou não proprietário, capitalista ou operário, patrão ou empregado. Em outros
termos, os indivíduos são diferenciados de acordo com suas classes sociais, ou seja, aqueles
homens que detêm a posse dos meios de produção apropriam-se do trabalho daqueles homens
que não possuem esses meios, sendo assim, eles têm que vender sua força de trabalho em
troca de salário para conseguir sobreviver. A luta de classes, que se dá pelas questões entre a
classe dos proletários e a burguesia dentro da sociedade capitalista, nada mais é do que o
confronto dessas classes antagônicas. Em conclusão, é justamente com base nas classes
sociais que se iniciam os conflitos, dado que a cultura, a educação, o status, a exclusão e
desigualdade social correspondem a fatores que estão intrinsecamente ligados à condição
material dos homens. Ademais, essas mesmas condições são as que impulsionam o desejo de
transformações e, ao mesmo tempo, aumentam a possibilidade de competição entre os
proletariados e os capitalistas.
Entretanto, no processo de produção, que é o processo fundamento no atual modo de
produção global, apresenta apenas duas classes sociais, conhecidas como classe burguesa, a
classe que detém os meios de produção, e a classe dos proletariados, também nomeada como
classe trabalhadora, que é a classe que detém a força de trabalho. Em outros termos, a classe
trabalhadora vende a sua força de trabalho, ou seja, aliena a sua força de trabalho, para os
burgueses, que vão comprar a força de trabalho dos proletariados e lhe pagam salário. Ao
alienar a sua força de trabalho, o trabalhador passa a não ser mais o proprietário da sua
própria força de trabalho, portanto, tudo o que foi produzido pelo mesmo não o pertence.
Sinteticamente, na análise marxista, não há outra forma de superar a exploração, que, neste
caso, é entendida como a contradição que existe entre os burgueses e os proletariados, a não
ser superar a ordem burguesa. De maneira oposta, na concepção weberiana, a superação da
desigualdade se daria através do acumulo de riquezas por parte das pessoas mais
empobrecidas, assim sendo, esses indivíduos iriam subir na estratificação das classes, fazendo
com que o conceito de classes sociais se dê como inexistente, dado que não existiria mais a
diferença entre pessoas ricas e pessoas pobres.
Por fim, é importante ressaltar que, com o desenvolvimento do capitalismo industrial na
modernidade, a linguagem comum acaba fazendo com que haja uma confusão frequente entre
o uso do termo classe social com estrato social. Estrato social é um conceito utilizado na
Sociologia para analisar e interpretar a classificação dos indivíduos e grupos sociais, tendo
como base dados e condições socioeconômicas em comum. Sendo assim, entendemos que a
ideia de classe social não é a mesma que é reproduzida e ensinada para a sociedade desde o
ensino médio, nas aulas de Sociologia, visto que temos a ideia que classe social e estrato
social são a mesma coisa.
Em antítese, Max Weber, intelectual alemão, afirma assim como Marx, percebia as classes
como categorias econômicas. Entretanto, ele não acreditava que um critério único
determinasse a posição de um indivíduo em uma classe social.
Ao contrário de Marx, Weber acreditava que a ideia de classes sociais não se restringe ao
critério econômico. Para ele, a posição social de um indivíduo é resultado da combinação de
três fatores: o status, ou seja, sua honra, prestígio, a riqueza, assim dizendo, sua renda, posses
e, por fim, o poder, isto é, a capacidade de influência sobre outros segmentos da sociedade.
Sendo assim, Weber definiu quatro classes principais: grandes proprietários, pequenos
proprietários, empregados sem propriedade, mas altamente educados e bem pagos e, por
último, trabalhadores manuais não proprietários.
Weber não minimiza a influência do aspecto econômico, visto que este é o fator que gera
uma situação de classe, isto significa que, as condições econômicas de um determinado grupo
possuem condições similares quanto à possibilidade de possuir ou não bens materiais ou
simbólicos.
Nada obstante, esse autor avalia que existem outros aspectos importantes que não se explicam
exclusivamente pela renda, visto que o status, por exemplo, remete a uma dimensão
subjetiva, simbólica, cultural, sendo uma característica de posição que, dentro da
estratificação social, confere privilégios e cortesias.
Em síntese, para Weber, as sociedades são divididas em estratos, e a posição das classes é
condicionada pela renda, poder e status. O status é um fenômeno típico da estratificação
social, segundo o qual ocupar determinada posição na estrutura da sociedade implica
tratamento de honra, privilégios.
Resumidamente, Weber acredita que o sistema capitalismo não é culpado pela divisão das
classes, visto que pessoas ricas e pobres sempre existiram. Dessa forma, não haveria uma
relação direta entre modo de produção e desigualdade social.
Concluindo, de forma sintética, para Karl Marx, na divisão social do trabalho, a sociedade se
divide em dois extremos, de um lado, entre possuidores dos meios de produção, do outro
lado, os não detentores dos meios de produção, os que tem que vender sua força de trabalho
para os detentores dos meios de produção. Surgindo, então, a luta de classes entre a classe
dominante, os burgueses, e a classe dominada, os proletariados. Já para Weber, ao falar de
classe social em sua obra, o autor coloca o conceito de classe social como um conjunto de
pessoas que tem a mesma posição diante do mercado. Em sua perspectiva, existem dois tipos
básicos de classes, as que têm e as que não têm algum tipo de bem. E por fim, será feito uma
análise da realidade a partir dos conceitos apresentados aqui.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MONTAÑO, Carlos. Estado, Classes e Movimento Social / Carlos Montaño, Maria Lúcia
Duriguetto - 3ª edição - São Paulo: Cortez, 2011 - (Biblioteca Básica do Serviço Social; v. 5)
LEMOS, Marcelo Rodrigues. Estratificação Social na teoria de Max Weber: considerações
em torno do tema.
VASCONCELOS, Kathleen. (Re)visitando Gramsci: considerações sobre o Estado e o poder.
/ Kathleen Elane Leal Vasconcelos, Mauricelia Cordeira da Silva, Valdilene Pereira Viana
Schmaller - R. Katál., Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 82-90, jan./jun. 2013.
CHAGAS, Thiago. Conceito Gramsciano de sociedade civil: usos e abusos na educação.
MENDONÇA, Sônia. Sociedade Civil em Gramsci - Ventura e Desventura de um Conceito.
QUINTANEIRO, Tania. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber.

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