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POLÍTICAS EDUCACIONAIS: REFLETINDO SOBRE SEUS SIGNIFICADOS

O Estado incide sobre o cotidiano das instituições educativas e consequentemente dos sujeitos que nelas se inserem.
Conhecer como as políticas públicas interferem no funcionamento da instituição educacional é importante para um
posicionamento crítico do professor frente a elas. Além disso, compreender como se constituem tais políticas pode levar o
profissional a uma participação efetiva nessa construção.

1. Conceituando Política como Atividade Constituidora da Condição Humana

Política é um termo que evoca uma multiplicidade de sentidos, que se modificam, complementam e mantêm no
decorrer da história. A raiz da palavra, politikós, faz referência àquilo relacionado à cidade. Aristóteles é o primeiro autor a se
referir a política, trazendo a ideia da retórica como a essência do ser político. Nas sociedades modernas e contemporâneas a
política passou por um processo de ressignificação em que se delega a arte da política às coisas atribuídas ao Estado ou que
dele emanam.
O Estado, por sua vez, pode ser pensado a partir de dois grupos teóricos: as teorias com enfoque liberal, de caráter
burgo capitalista considerando o Estado neutro e negando o confronto de classes e a contradição nos interesses; e as teorias
com enfoque marxista, que diferentemente do anterior considera o Estado como reprodutor dos interesses da classe social
dominante, considerando a suposta universalidade de interesses como simples aparência.
No que concerne ao posicionamento liberal, um dos sistemas teóricos correspondentes a tal agrupamento foi
elaborado por Hobbes. Para o autor, o homem seria naturalmente cruel e somente um pacto entre si poderia assegurar o bem
comum. Assim, o Estado como sendo necessário, assumiria papel de poder e controle absoluto, não correspondendo a
individualidades. Já Locke considerava o Estado como uma delegação de poderes que o homem atribui na medida em que este
assegura seus direitos e mantém sua liberdade. O homem, por natureza livre, depende de um contrato social para que outrem,
gozando de sua liberdade, não o domine. A legitimidade desse Estado é altamente correlacionada às correspondências entre as
ações do mesmo e o que ficaria estabelecido no contrato social firmado. Acerca desse contrato, Rosseau avalia que os homens,
naturalmente bons e corrompidos pela socialização, se associam para que a liberdade e igualdade permaneçam dentro de um
Estado democrático.
Em contraposição ao liberalismo, Marx propõe a concepção de Estado como um agente social representante do ideário
burguês que domina a classe operária a partir de um falso universal. Esse Estado, reprodutor das relações político-econômicas,
esconde e efetiva sua exploração com base no pensamento dominante da condição histórica na qual se insere. Com o
encrudescimento do capitalismo, para Marx o Estado nada mais seria do que “um comitê para administrar os negócios comuns
de toda a classe burguesa”. Gramsci aponta que esse controle não precisa estar necessariamente vinculado a uma coerção
direta, mas a partir da manipulação que torne a classe dominante articulada entre si e a classe dominada alienada e passiva.
Nesse sentido, a burguesia sacrificaria parcela de seus interesses para a garantia de uma hegemonia política de dominação. O
autor aponta que o Estado apresenta dois segmentos, a sociedade civil que se institui na elaboração/difusão das ideologias
dominantes no âmbito social, como as escolas e mídia, e a sociedade política que se traduziria em mecanismos diretos de
garantia da dominação da burguesia, como a burocracia e a polícia militar.
Hannah Arendt contribui a tal discussão sobre política na medida em que faz crítica aos Estados totalitários e delimita
a fragilidade dos modelos opressivos. Define política como a “convivência entre os diferentes” que surge da necessidade
humana de se organizar para a conquistar coisas comuns, o agir “entre-os-homens”. O autoritarismo seria correspondente a
uma crise na capacidade de persuasão do governo e nesse agir.

2. Políticas Educacionais no contexto das políticas públicas

Gramsci defende que nas sociedades ocidentais as classes dominadas devem conduzir uma contra-hegemonia para
com as instituições que constroem e legitimam o discurso dominante. Para ele, nesse movimento se delineiam as políticas
educacionais. Na sociedade capitalista, como a economia é vinculada ao Estado, este é apropriado pela classe que detém os
meios de produção que busca a expansão do capital. Nesse sentido, os interesses privados se sobrepõem aos públicos. Para a
manutenção do Estado “acordado” como sistema dominante, é preciso configurar a promoção de políticas sociais nas áreas de
carência. Azevedo aponta que tal criação das políticas públicas não surgem de iniciativa abstrata, mas só advém da luta e
pressão social, dos conflitos e barganhas existentes entre grupos e classes que possuem interesses antagônicos na sociedade e
se articulam para defendê-lo. Ainda assim, a dimensão econômica também permeia a elaboração das políticas, onde se
identifica o destaque a determinadas áreas sociais de acordo com o projeto de sociedade dominante.
Com relação à educação no Brasil, compreende-se que ela é tanto reprodutora quanto produtora da organização social
que se coloca a cada período histórico. Sendo a escola o principal ‘sujeito’ dessa ação, o Estado tomou para si a instituição de
bases para educação escolar nacional, para que o modelo dominante seja conservado. Todavia, a escola não se constitui apenas
reflexo da dominação, mas também enquanto um espaço de contradições e lutas pela hegemonia da vida política.

3. Algumas considerações finais

Haja vista a compreensão da escola como um espaço de luta que pressupõe a impossibilidade do professor ser
considerado neutro dentro de uma instituição de ensino, faz-se necessária uma formação crítica acerca das políticas
educacionais e não apenas conhecimentos de cunho técnico durante a graduação. Uma vez que a escola pode ser concebida
como local de práxis (ação e reflexão), rejeita-se discursos que atribuem a má qualidade do ensino a falhas morais dos
professores ou formação metodológica precária ou ainda diagnósticos psicológicos que responsabilizam os alunos por
dificuldades de escolarização. Para Arendt, a crise na educação reside nas políticas contemporâneas que não são capazes de
articular o passado, o presente e o vir-a-ser que os alunos representam na construção da educação.

MARX E ESTADO: NOTAS PARA A DISCIPLINA


POLÍTICA EDUCACIONAL

I.

O marxismo se compõe enquanto um corpo teórico de unidade dentro da diversidade. Posto isso, a contradição
permanece nas noções de política e Estado dos marxismos que buscam compreendê-las. O objetivo do texto é identificar o
cerne da crítica marxiana ao Estado e as contribuições de Marx para a compreensão do Estado e da sociedade moderna.

II.
Marx não propôs uma obra que, por si só, apresentasse uma teoria acerca do Estado. Não obstante, o tema é
apresentado de forma esparsa, fazendo com que o objetivo de compreensão total do Estado na perspectiva marxiana, atenha-se
ao conjunto de obras do autor. Ele se contrapõe aos pensadores de sua época e sugere que a sociedade não seria uma
subestrutura que seria resolvida no Estado em estado de aperfeiçoamento, mas sim uma estrutura que concentra sua força na
superestrutura do Estado que se extinguirá na medida em que as relações da vida material extinguirem as classes. Nesse
sentido, para Marx, o Estado estaria presente no quadro social e não como uma entidade fora dele, abstrata. Com efeito, o
Estado seria uma expressão das relações sociais. Essas relações teriam como premissa a ação do homem, na medida em que
produz seus meios de sobrevivência. A divisão social do trabalho para a produção da vida material corresponde as relações que
se estabelecem. O plano econômico, dentro de uma sociedade capitalista, determina as relações sociais e políticas. O Estado,
na medida em que decorre da forma de estruturação social, não deixa aparente a contradição de interesses existentes nas
classes e se denomina autônomo frente a eles, defendendo dessa forma apenas os interesses da classe dominante. Assim, para
Marx “na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua
vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças
produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base sobre a qual
se levanta uma superesturura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de
produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens
que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência.”

III.

Avaliando o sistema histórico moderno, a relação do homem é prioritariamente subjugada ao capital. A produção não
segue a lógica da necessidade real do destinatário direto, mas a lógica do mercado. Nessa condição, o homem não se reconhece
no próprio trabalho que produz, alienado, sua força de trabalho torna-se também mercadoria. O dinheiro surge nesse processo,
para que a troca entre diferentes produtos do trabalho que são convertidos em mercadoria, ou seja, é um “equivalente geral”. É
através da evolução do capital, que há um acirramento ainda maior das relações de propriedade, as quais determinam as
relações sociais. As pessoas são representantes de mercadorias e, ao mesmo tempo, os papéis econômicos que desempenham
são personificações das relações econômicas que representam. Não obstante, tais relações de cunho histórico, político e
econômico se cristalizam e são concebidas como naturais. Constrói-se a falácia de um Estado Democrático de Direito, em que
o ideário de que “todos somos iguais” impera e não se admite a contradição existente na realidade. Além disso, o Estado não se
resume em seus agentes e dessa forma, o proletariado é apresentado a uma entidade abstrata como a fonte de seus problemas,
inibindo assim sua luta na concretude das coisas. Conserva-se, portanto, o sistema tal qual é.
Fausto aponta que para a compreensão do Estado na perspectiva marxiana é preciso considerá-lo a partir da dialética
de suas formas. Pensando nas figuras de aparência/essência, distinção/identidade, o autor aponta dois momentos em Marx
acerca da relação entre Estado, sociedade e modo de produção capitalista. O primeiro deles se refere a uma circulação simples
das mercadorias em que dois indivíduos proprietários de mercadorias, direta ou indiretamente obtidas via seu trabalho, se
propõem a trocá-las a partir do princípio de equivalência. Nesse caso, supõe-se uma aparente igualdade entre os agentes. O
segundo momento faz referência a uma relação existente entre o detentor dos meios de produção e o trabalhador, em que o
capitalista enriquece através do que o proletário produz. Dessa forma, a desigualdade entre as partes e a exploração patronal se
torna evidente, desenvolvendo-se o conflito de classes. O Estado aparece em tal cenário negando o segundo momento e
pregando a igualdade universal.

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