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HISTÓRIA DA PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL

Introdução
A Teoria Comportamental tem raízes no século passado, ainda assim, não se trata de um conhecimento estático. Sua formulação é
acompanhada de discussões e divergências teóricas e/ou metodológicas. Essa divergência se encontra até mesmo nas expressões para denominação da área
profissional a que se diz respeito. A Modificação do Comportamento é encontrada nos estudos no paradigma operante e utilizada em intervenções grupais e
institucionais, enquanto a Terapia Comportamental designa estudos com base no paradigma respondente e é utilizada no contexto clínico tradicional.
Atualmente, observa-se um predomínio do termo Teoria Comportamental. Esta, que coloca como pressuposto fundamental a aprendizagem dos
comportamentos, mesmo que se trate de comportamento desajustado.

Desenvolvimento da terapia comportamental


O desenvolvimento da psicologia não ocorre desvinculado das outras ciências, sendo que a biologia, a filosofia e a física contribuem para
a irrupção da psicologia como disciplina científica. Em se tratando da Terapia Comportamental, a proposição darwiniana de que os organismos se adaptam
ao meio foi uma das contribuições significativas na sua construção. Recebeu também influências da fisiologia russa, do behaviorismo estadunidense e da
psicologia da aprendizagem. Durante essa evolução, surgem linhas específicas dentro da Terapia Comportamental: A orientação de Condicionamento
Respondente, a orientação de Condicionamento Operante, a teoria da Aprendizagem Social e a Modificação de Comportamento Cognitivo. Com relação às
duas primeiras, tem-se que iniciaram com os estudos de Pavlov (princípios de condicionamento respondente) e de Thorndike (Lei do Efeito). Esses estudos
marcam a inserção da observação e experimentação no campo psi. Watson também contribui para tal discussão trazendo os conceitos acerca do
comportamento respondente e fundando de fato, o que se compreende o que se denomina behaviorismo. Trata a psicologia como objetiva e experimental,
fazendo crítica à introspecção.

1. Década de 20
Irrompem, majoritariamente, as pesquisas relacionadas ao paradigma respondente de Watson e Rayner. Trabalha-se com reações emocionais como
o medo e a aplicação clínica destes princípios, com grande volume de pesquisas de caráter experimental laboratorial.

2. Década de 30
Até a década de 30, havia um predomínio da pesquisa experimental, mas a produção de conhecimento de cunho teórico preditivo era mínima. Para
a superação de tal dilema, propõe-se um rigor mais excessivo e o positivismo é posto no plano conceitual. O estudo de variáveis intervenientes ou
determinantes internos do comportamento foram introduzidas no plano operante, de onde partiria a psicologia cognitiva. A psicologia da aprendizagem
ganha força nesse contexto, como a teoria da aprendizagem contígua, na qual a aprendizagem poderia ser determinada a partir de um emparelhamento entre
estímulo e resposta. Thorndike desenvolve a ideia das consequências do controle no comportamento, contribuindo para a proposta futura de Skinner. Este,
por sua vez, é encarado ainda hoje como o principal representante do behaviorismo e o princípio da aprendizagem operante é considerado como essencial na
compreensão dos processos comportamentais humanos e animais.

3. Década de 40
Nessa década a postura behaviorista passa a tender a explicações também relacionadas a instinto, percepção e pensamento, na busca de alcançar o
comportamento em suas bases fisiológicas. É também nesse período que Skinner desenvolve a filosofia behaviorista radical. Entre os trabalhos mais
relevantes dessa década faz referência à publicação de Salter, que corresponde a técnicas de auto-hipnose para o autocontrole, o tratamento da gagueira, roer
unhas e insônia e que se assemelham a práticas contemporâneas de treinamento assertivo, dessensibilização sistemática, autocontrole, ensaio
comportamental e tratamento baseado na imaginação. O trabalho de Masserman questionava a posição fisiológica que se desenvolvia até então, trazendo
experimentos que ratificavam o valor da aprendizagem. Sherrington descobriu o princípio da inibição recíproca, de caráter mais fisiológico utilizado dentro
da prática clínica. As pesquisas de orientação operante tiveram como principais sujeitos organismos infra-humanos. Fuller traz um dos primeiros estudos
com seres humanos, onde se modelava movimentos do braço direito de um adulto retardado que a priori não era capaz de executar tal tarefa.

4. Década de 50
Foi a década mais significativa para o desenvolvimento da Terapia Comportamental. O trabalho de Wolpe buscava compreender a psicologia da
aprendizagem como uma possível fonte para técnicas de tratamento clínico. Este, por sua vez, desenvolve a técnica da dessensibilização sistemática. Shapiro
concebia a psicoterapia como um processo em que se manipularia de maneira sistemática a váriavel independente (causa do comportamento) para produzir
mudanças na variável dependente (comportamento anormal). Considerava também que o paciente poderia servir como seu próprio controle, ou seja, que a
intervenção terapêutica deveria ser abordada como um estudo de caso único. Sustentava que o psicólogo clínico deveria formular suas próprias hipóteses
sobre o paciente, sem precisar recorrer a uma bateria de testes para isso. Skinner não formula técnicas específicas para a terapia comportamental. Ainda
assim, contribui para a análise experimental do comportamento e para a aplicação dos princípios básicos do comportamento em diversos contextos da vida
diária. Com a publicação da obra Comportamento Verbal, define as unidades funcionais do comportamento verbal e as variáveis das quais esse
comportamento é função. Skinner afirmou que o reforçamento do comportamento verbal é mediado pelo ouvinte, enfatizando o papel da comunidade na
modelagem e manutenção desse tipo de comportamento. Desse modo, pode-se fazer experimentos acerca da influência do experimentador sobre as
verbalizações do sujeito.

5. Década de 60
A orientação respondente, nessa década, passou a ser direcionada para situações de intervenção clínica com pacientes externos, enfocando os
comportamentos neuróticos e a utilização de técnicas que procurar reduzir a ansiedade dos pacientes. Eysenck demonstrou que reações neuróticas de
humanos e de animais não são facilmente elimináveis pela eliciação repetida das mesmas e propôs a inibição recíproca e o contracondicionamento gradativo
da ansiedade. Por outro lado, a orientação operante diversificou sua atuação, baseada no pressuposto de que o comportamento dos organismos é função
direta do ambiente e o melhor lugar para modificar o comportamento problema é o próprio ambiente em que ele ocorre. Dois estudos marcam essa nova
atuação, de Ayllon e Azrin, que implantaram um sistema de reforçamento com fichas para pacientes psiquiátricos hospitalizados. Ullmann e Krasner fizeram
uma revisão bibliográfica acerca das linhas respondente e operante em intervenção clínica e desenvolveram a ideia de que o comportamento anormal, assim
como o normal, é aprendido via consequências. Nesse período a expressão Analise do Comportamento Aplicada (ABA) é introduzida para denominar a
orientação operante caracterizada pela aplicação diversificada do paradigma operante a diversos contextos.

6. Década de 70
A Terapia Comportamental foi consagrada como um movimento mundial. O interesse se voltava à avaliação sistemática e o desenvolvimento de
métodos para melhorar diversas áreas importantes para a sociedade. A dessensibilização sistemática passa a ser encarada como uma técnica-padrão para o
tratamento de fobias. A abordagem sofreu muitas críticas por seu tecnicismo e sua deficiência para com comportamentos complexos. Surge, tentando lidar
com esses conteúdos, a teoria da Aprendizagem Social de Bandura que atribui a causa do comportamento na interação ambiente processos mediacionais do
indivíduo, como a modelagem abstrata, e a Modificação de Comportamento cognitiva, que utiliza técnicas de princípio comportamental mas atribui status
causal dos comportamentos aos processos mediacionais cognitivos. A partir de estudos experimentais com humanos, Skinner desenvolveu o conceito de
Comportamento Governado por Regras.
7. Década de 80
A força da abordagem cognitiva continua marcante, mas passa a ser criticada por diversos autores, como Sidman e Skinner, tendo em vista que
comportamentalismo não deveria considerar aspectos mediacionais como causa, apenas o ambiente. Seriam princípios fundamentais do Behaviorismo
Radical o contextualismo, o monismo e o funcionalismo. Hayes se fundamentava principalmente no controle de estímulos de natureza verbal, os quais
possuiriam propriedades eliciadoras, estabelecedoras, reforçadoras ou discriminativas devido sua participação em quadros relacionais. Para a compreensão
da clínica adulta, seria necessário compreender por que as regras têm efeitos tão marcantes e generalizados sobre a influência que o ambiente exerce no
comportamento humano.

O LADO OPERANTE DA TERAPIA COMPORTAMENTAL


SKINNER

Watson definiu o objeto de estudo da psicologia como sendo o comportamento, buscando romper com paradigmas de introspecção e atribuição da
vida mental como causa do comportamento humano. Posteriormente, surgiram duas promissoras ciências do comportamento: a etologia, que nega a
suposição de sentimentos ou pensamentos em animais, e a análise experimental do comportamento, onde os animais são observados em laboratório, onde
podem ser controladas muitas das condições das quais um comportamento é função. A maior parte do comportamento é atribuída ao reforço operante, um
tipo diferente de consequência seletiva que atua sobre a vida do indivíduo. Quanto mais variáveis das quais o comportamento é função são identificadas, e
seu papel analisado, menos coisas restam para serem explicadas em termos mentalistas. A manipulação do ambiente é muito mais acessível e confiável que
quaisquer suposições mentalistas. Assim, a análise experimental do comportamento está se desenvolvendo rapidamente e a cada passo os princípios da
terapia comportamental ganham autoridade. Comportamentos perturbados são causados por contingências de reforçamento perturbadoras, não por
sentimentos ou estados da mente perturbadores, e nós podemos corrigir a perturbação corrigindo as contingências.

Terapia Comportamental Respondente


A psicoterapia em geral se preocupa com sentimentos, enquanto a terapia comportamental constitui a noção de que o que é sentido é, na verdade,
um estado do corpo. Esse estado corporal pode ser explicado a partir de um evento precedente que o evoca. Assim, a posição behaviorista é: volte aos
eventos ambientais antecedentes para explicar o que alguém faz e, ao mesmo tempo, o que essa pessoa sente enquanto faz alguma coisa, o que é rotulado
como sentimento. A terapia comportamental se interessa, exclusivamente, com as variáveis das quais o comportamento é função. Estas podem se encontram
em níveis culturais, filo ou ontogenéticos, podendo-se manipular com maior facilidade o último destes. No caso de condicionamento respondente, o
comportamento perturbado pode ser extinto ou outro comportamento pode ser condicionado para substituí-lo. Tanto a adaptação, quanto a extinção têm
poucos efeitos colaterais indesejáveis quando os estímulos são apresentados com intensidades gradualmente crescentes (dessensibilização sistemática).

Terapia Comportamental operante


O comportamento pode ser advento de dois tipos de consequências seletivas (de adaptação ao ambiente): inato à seleção natural e comportamento
aprendido ao reforçamento operante. Um operante é fortalecido quando uma resposta tem consequências reforçadoras, mas respostas subsequentes ocorrem
por causa do que aconteceu e não do que vai acontecer. A interação organismo-ambiente pode aumentar a probabilidade de um comportamento ocorrer,
portanto a análise da ação humana não tem causa no futuro, mas sim no passado. A “expectativa” de que algo aconteça é um estado corporal resultante do
condicionamento respondente.

Alguns exemplos
O comportamento positivamente reforçado é, em geral, relatado como “o que eu gosto de fazer”, “o que quero fazer”, “o que amo fazer”. O que há
de perturbador nesses comportamentos é o efeito reforçador de uma consequência particular poder ter sido desenvolvido sob condições que já não vigoram.
Tanto em nível ontogenético, quanto em nível filogenético. Pode-se ter como exemplo a maior suscetibilidade a alimentação gordurosa, à sexualidade e à
agressividade por conta da história de adaptação da espécie, mesmo hoje não havendo tamanha necessidade. Entretanto, há também reforçadores que não
tem nenhuma vantagem evolucionária, como as drogas. Estas, conduzem a poderosos reforçadores negativos, que chamamos de sintomas de abstinência.
Outro problema sobrevém quando um repertório de comportamento condicionado em um ambiente sofre extinção em outro. O estado corporal relevante
pode ser chamado de desencorajamento, senso de fracasso, desamparo, falta de confiança ou depressão.

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