3. O MÉTODO BEHAVIORISTA
O behaviorismo tem como ponto de partida o fato observável de que os organismos,
tanto humanos quanto animais, ajustam-se ao meio ambiente a partir do equipamento
hereditário e do hábito. Em segundo lugar, alguns estímulos levam os organismos a apresentar
as respostas. Conhecendo-se a resposta, portanto, é possível predizer o estímulo; dado o
estímulo, é possível predizer a resposta.
Uma vez reduzido ao nível de estímulo e resposta, o comportamento poderia, então, ser
compreendido, antevisto e, principalmente, controlado objetivamente, em detrimento de
variáveis mentais que não podem ser demonstradas.
5. TESES FUNDAMENTAIS
Todas as áreas do comportamento são tratadas em nível objetivo, numa visão
mecanicista de estímulo-resposta. Convém registrar, a título ilustrativo, alguns destes conceitos.
Schultz anota que Watson baseou o seu estudo em três emoções fundamentais; medo,
cólera e amor:
“Watson acreditava que o medo, cólera e amor são as únicas respostas emocionais não
aprendidas. Todas as respostas emocionais humanas restantes são construídas a partir dessas
três, através do processo de condicionamento. Achava ele que as respostas emocionais básicas
podem ligar-se, através do condicionamento, a vários estímulos ambientais que originalmente
não eram capazes de suscitá-las.”
Ao atingir o apogeu, grafando o seu nome como uma Escola, e antes que enfrentasse o
declínio de sua aceitação, o movimento foi de fecunda produção científica. Assim, alguns
psicólogos, desenvolvendo abordagens próprias e sendo menos radicais com relação a enfoques
divergentes, mas mantendo-se fiéis ao método experimental de uma psicologia vista como a
ciência do comportamento, passaram a ser chamados neobehavioristas : como Edwin Holt
(1837-1946), Albert Weiss (1879-1931) e Karl Lashley (1890-1958).
Todo esse ideário behaviorista, aqui agrupado como sistema, demonstra a importância
dos trabalhos de Watson ao propor o behaviorismo metodológico. Esse quadro ilustra a
transição para o behaviorismo radical, desenvolvido por Skinner, a partir de um programa para
o controle comportamental da sociedade e da introdução de técnicas de modificação de
comportamento. Nos dias atuais, a obra de Skinner representa o referencial teórico do
behaviorismo para os trabalhos em Psicologia.
Skinner, no que foi seguido por outros estudiosos, realizou muitas pesquisas sobre
problemas de aprendizagem. Seus estudos incluíram, entre outros temas, o papel da punição na
aquisição de respostas, o efeito de diferentes esquemas de reforçamento, a extinção da resposta
operante, o reforçamento secundário e a generalização. Trabalhou com animais e também com
seres humanos, seguindo a mesma abordagem básica da caixa de Skinner.
Porém, como no mundo dos comportamentos reais nem sempre o reforçamento é tão
consistente e contínuo como no “mundo da caixa”, Skinner concentrou seus esforços na
influência comportamental exercida pelo reforçamento intermitente. Suas pesquisas
demonstraram que quanto mais curto for o intervalo entre reforçamentos, mais rápida é a
resposta. Além disso, a freqüência de comportamentos também afeta a extinção da resposta.
Além do esquema de reforçamento de intervalo fixado, existe também o reforçamento de razão
fixa, em que o reforçamento é aplicado depois de um número determinado de respostas.
“Se quisermos desfrutar das vantagens da ciência no campo dos assuntos humanos,
devemos estar preparados para adotar o modelo de comportamento (...) devemos pressupor que
o comportamento é ordenado e determinado. Devemos esperar descobrir que aquilo que o
homem faz é o resultado de condições que podem ser especificadas e que, uma vez
determinadas, poderemos prever e até certo ponto determinar suas ações”.
“não se deve deixar a questão da liberdade pessoal interferir com a análise científica do
comportamento humano (...) Não podemos esperar vantagens aplicando os métodos da ciência
ao comportamento humano se, por alguma estranha razão, nos recusamos a admitir que o nosso
objeto de pesquisa possa ser controlado”.
8. BEHAVIORISMO E CRIMINOLOGIA
Historicamente, o principal meio empregado pelo homem para controlar o
comportamento dos outros homens, a exemplo do que sucedeu com Adão e Eva ao provarem o
fruto da árvore proibida, cedendo à tentação da serpente, é o castigo . Essa tendência permanece
uníssona até meados do séc. XX, quando Skinner, publicando Waden Two, esboça, a partir da
ficção, uma sociedade modelada pelo apoio positivo. Já em 1971, publica uma proposta para a
utilização da tecnologia do comportamento para modelar uma sociedade culturalmente livre de
punições: O mito da liberdade (Beyond Freedon and Dignity).
Para Skinner, o mentalismo não somente interfere com a busca de explicações
científicas do comportamento como também não é prático, no sentido de que nos impede de
solucionar problemas sociais como o crime.
“(...) podemos combinar privação sensorial com drogas, hipnose e a hábil manipulação
de recompensas e punições para obter o controle quase absoluto sobre o comportamento do
indivíduo (...) Prevejo o dia em que conseguiremos converter o pior dos criminosos num
cidadão decente, respeitável em questão de meses – ou talvez menos que isso. O perigo é que
poderemos também fazer o oposto, naturalmente: transformar qualquer cidadão decente,
respeitável, num criminoso.”
No filme, o tratamento consiste em uma lavagem cerebral empreendida por uma espécie
de condicionamento aversivo (punitivo?), ao fim do qual o delinqüente não consegue cometer
os atos a que foi condicionado a não fazer: sente ânsias, vômito, dores e vertigens. Alex não
pode mais praticar atos anti-sociais, ainda que tenha o desejo de cometê-los.
9. NOTA CONCLUSIVA
O sonho de uma sociedade sem violência, guerras e miséria, inspirado no Walden Two
skinneriano, a partir de uma vida programada socialmente, fez dos behavioristas verdadeiros
modificadores de comportamento, notadamente através do planejamento e administração de
programas para controle do comportamento em determinados ambientes fechados, como a
prisão. Aplicando os princípios de aprendizagem baseados nas teorias de condicionamento
operante, pretenderam interferir nos problemas sociais, manipulando e programando as pessoas
“para o bem”.
Sob certas condições, em contextos sociais fechados, como a prisão, poderíamos admitir
que a modificação do comportamento criminoso, a partir das teorias de Skinner, traga resultados
satisfatórios – mas raramente em contextos sociais abertos, naturais. A modificação do
comportamento encontraria sua limitação na própria estreiteza do método behaviorista, não se
tratando, pois, de um problema circunstancial, mas estrutural. A visão mecanicista do homem,
como uma máquina que interage em termos de estímulo-resposta, a ignorância da reciprocidade
entre o homem e o sistema social em que se insere; sua limitação, enfim, para controlar a
multiplicidade de fatores externos que atuam sobre o indivíduo numa sociedade aberta, além da
desconsideração de fatores introspectivos, sem questionar o aspecto ético da modificação do
comportamento pelas técnicas empregadas, revelam a limitação do Behaviorismo como
referência ao estudo da criminologia.
Talvez, como anota Robert Geiser, fôssemos mais capazes de resolver alguns dos
nossos problemas sociais se considerássemos mais o ambiente do que as pessoas que nele
vivem. É bem possível que a revolta e violência, na sociedade e nas prisões, seja menos o
resultado da ação de criminosos violentos do que reações a um sistema violento. Punição gera
frustração, a qual, por sua vez, leva a ataque aos punidores. No ambiente da prisão, em especial,
a punição desmedida gera comportamento anti-social e reação violenta por parte dos presos.