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CBI of Miami 2
Diagnóstico Contextual-Funcional dos Transtornos da
Aprendizagem
Pedro Rodrigues

Os transtornos da aprendizagem são tratáveis a partir da interface entre

áreas distintas, como psicopedagogia, fonoaudiologia e psicologia. Abordando
especificamente a psicologia, área de foco do presente manual, vamos
sistematizar como as habilidades psicológicas podem favorecer, ou são até pré-
requisitos, a superação dos déficits relacionados à dislexia, disgrafia e
discalculia.
Você encontra aqui uma abordagem analítico-comportamental desses
quadros – isso significa sem mentalismos, que são explicações
comportamentais de caráter fictício, especulativo, sem base em dados ou
evidências. Também sem neuromentalismo ou organicismo, que focalizam
maturações cerebrais ou “cognitivas”, entregam o protagonismo a um “cérebro
que decide e comanda” (cerebralismo), desviando o foco das contingências
primárias que determinam o funcionamento neurológico. E sem mentalismos
internalistas, que tentam resumir a explicação dos transtornos com ideias como
“a criança não sabe pensar”, “ela não é inteligente”, “tem um problema dentro
dela”.
Em vez disso, apresentamos análises de contingências e de
subdesenvolvimento do comportamento verbal. Considerando, claro, que
deficiências físicas, como na acuidade visual ou auditiva, podem interferir na
capacidade responsiva.
Os modelos teóricos da Análise do Comportamento que evidenciam os
processos formativos das relações linguísticas ou simbólicas são a equivalência
de estímulos e, mais abrangentemente, a teoria das molduras relacionais.
Esses campos de pesquisa estudam o responder relacional – um
comportamento especial dos seres humanos. Nesse sentido, leitura, escrita e
cálculo incluem complexas e amplas redes de relações entre estímulos e
respostas.

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 Nesse sentido, o primeiro avanço experimental foi sobre o estudo das
equivalências de estímulos - relações entre estímulos produzida por
discriminação condicional, que partilham entre si todas as propriedades das
relações emergentes de reflexividade, simetria e transitividade.
Posteriormente a pesquisa experimental avançou para o paradigma das
molduras relacionais, que abrange diversas relações arbitrárias entre
estímulos, sendo as relações de equivalência uma delas. De modo geral, esse
campo estuda o responder relacionar arbitrariamente aplicável – é um
operante de ordem superior, como o seguir regras e o imitar. Uma classe de
ordem superior inclui outras “subclasses”, que podem funcionar como operantes
em si. “Moldura” é uma metáfora para representar um conjunto de estímulos
“emoldurados” por estarem relacionados sob um critério arbitrário (não-físico).

Suponhamos que os estímulos (S1, S2 e S3) da moldura 1 foram

arbitrariamente relacionados por hierarquia (“um estímulo que está sobre o outro,
e assim por diante”). Enquanto as molduras 2 e 3 contemplam outras relações
arbitrariamente aplicadas.
Aprender algumas relações não significa dominar automaticamente as
demais. Contudo, em algum momento leitores experientes podem ganhar com a
integração funcional dos repertórios – através de crescentes processos de
generalização, transferência e transformação de estímulos, emergindo
comportamentos não-diretamente treinados (sem ensino explícito).
A seguir, vamos conhecer os critérios contextuais-funcionais dos
seguintes transtornos da aprendizagem: dislexia, disgrafia e discalculia.

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 1. Dislexia

NOMENCLATURA CONTEXTUAL-FUNCIONAL: Transtorno do déficit do

controle discriminativo verbal-textual
HISTÓRICO CONTEXTUAL
o Déficit na interação com
estímulos textuais em
ambientes pré-escolares.
o Escassez, omissão,
inadequação ou atraso do
feedback ou reforçamento
durante a modelagem da
leitura.
o Estresse por excesso de
atividades diversas, gerando
exaustão e déficit atencional
pelo alto custo de resposta.
o Déficit no treino e
supervisão doméstica pós-
escolarização.
o Dependência e mediação
excessiva dos pais ou
cuidadores, que leem pela
criança.
o Expectativas hiper
elevadas dos pais ou
cuidadores.
o Autoconceito depreciado
oriundo de explicações
internalistas e rotulativas
(“não aprende porque é
burro”).
NOMENCLATURA FUNÇÕES
TOPOGRÁFICA: MANTENEDORAS
Dislexia o Reforçamento
COGNIÇÕES positivo pela
Sou burro, incapaz. Ler proteção, cuidados
é difícil demais e não é e mediações
para mim. Nunca compensatórias.
conseguirei aprender a o Reforçamento
ler. Não adianta tentar negativo pela fuga-
entender um texto. Por esquiva de
mais que eu tente, não exigências pela
entendo nada do que rotulação
leio. As palavras se internalista.
embaralham e não faz
sentido o que leio. Se
preciso de tanto treino e
atividade é porque sou
um caso difícil ou
perdido.
CARACTERÍSTICAS
COMPORTAMENTAIS
(1) Leitura de palavras
de forma imprecisa ou
lenta e com esforço (p.
ex., lê palavras isoladas
em voz alta, de forma
incorreta ou lenta e
hesitante,
frequentemente

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o Déficit no treino
discriminativo para aspectos
críticos, moleculares ou sutis
da estimulação textual e
equivalências.
o Déficit na modelagem com
esvanecimento – inserção e
remoção gradual de dicas.
o Ameaças punitivas sobre a
aprendizagem,
condicionando aversão ao
processo de modelagem,
concorrendo com o
desempenho, estabelecendo
a fuga-esquiva atencional e
impedindo o “gosto pela
leitura”.
o Constantes interrupções ou
mudanças de ambiente
modelador (troca de escola
ou professor).
o Práticas imprecisas de
correção, sem referentes
claros acerca do que
“acertou” e “errou”.
HISTÓRICO TERAPÊUTICO
adivinha palavras, tem
dificuldade de soletrá-
las); (2) dificuldade para
compreender o sentido
do que é lido (p. ex.,
pode ler o texto com
precisão, mas não
compreende a
sequência, as relações,
as inferências ou os
sentidos mais profundos
do que é lido).
HABILIDADES
PSICOLÓGICAS
- Raciocínio
NOVAS
realisticamente otimista
FUNÇÕES
- Autocontrole
- Autorregulação
emocional

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 2. Disgrafia
NOMENCLATURA CONTEXTUAL-FUNCIONAL: Transtorno do déficit das
habilidades motoras verbais-textuais
HISTÓRICO CONTEXTUAL
o Déficit na interação com
estímulos textuais em
ambientes pré-escolares.
o Escassez, omissão,
inadequação ou atraso do
feedback ou reforçamento
durante a modelagem da
escrita.
o Estresse por excesso de
atividades diversas, gerando
exaustão e déficit atencional
pelo alto custo de resposta.
o Déficit no treino e
supervisão doméstica pós-
escolarização.
o Dependência e mediação
excessiva dos pais ou
cuidadores, que escrevem
pela criança.
o Expectativas hiper elevadas
dos pais ou cuidadores.
o Autoconceito depreciado
oriundo de explicações
internalistas e rotulativas
(“não aprende porque é
burro”).
o Déficit no treino
discriminativo para aspectos
NOMENCLATURA FUNÇÕES
TOPOGRÁFICA: MANTENEDORAS
Disgrafia o Reforçamento
COGNIÇÕES positivo pela
Sou burro, incapaz. proteção, cuidados
Escrever é difícil e mediações
demais e não é para compensatórias.
mim. Nunca o Reforçamento
conseguirei aprender a negativo pela fuga-
escrever. Não adianta esquiva de
tentar escrever algo. exigências pela
Por mais que eu tente, rotulação
não consigo colocar internalista.
algo no papel. Não faz
sentido o que escrevo.
Se preciso de tanto
treino e atividade é
porque sou um caso
difícil ou perdido.
CARACTERÍSTICAS
COMPORTAMENTAIS
(1) Dificuldades para
ortografar (ou escrever
ortograficamente) (p.
ex., pode adicionar,
omitir ou substituir
vogais e consoantes);
(2) dificuldades com a
expressão escrita (p.
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críticos, moleculares ou sutis ex., comete múltiplos
da habilidade motora verbal- erros de gramática ou
textual. pontuação nas frases;
o Déficit na modelagem com emprega organização
esvanecimento – inserção e inadequada de
remoção gradual de dicas. parágrafos; expressão
o Ameaças punitivas sobre a escrita das ideias sem
aprendizagem, condicionando clareza).
aversão ao processo de
modelagem, concorrendo
com o desempenho,
estabelecendo a fuga-esquiva
atencional e impedindo o
“gosto pela escrita”.
o Constantes interrupções ou
mudanças de ambiente
modelador (troca de escola
ou professor).
o Práticas imprecisas de
correção, sem referentes
claros acerca do que
“acertou” e “errou”.
HABILIDADES
PSICOLÓGICAS
- Raciocínio
NOVAS
HISTÓRICO TERAPÊUTICO realisticamente otimista
FUNÇÕES
- Autocontrole
- Autorregulação
emocional
3. Discalculia

NOMENCLATURA CONTEXTUAL-FUNCIONAL: Transtorno do déficit nas

habilidades de equivalência e relações numéricas

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HISTÓRICO CONTEXTUAL
o Déficit na interação com
estímulos numéricos em
ambientes pré-escolares.
o Escassez, omissão,
inadequação ou atraso do
feedback ou reforçamento
durante a modelagem do
cálculo.
o Estresse por excesso de
atividades diversas, gerando
exaustão e déficit atencional
pelo alto custo de resposta.
o Déficit no treino e
supervisão doméstica pós-
escolarização.
o Dependência e mediação
excessiva dos pais ou
cuidadores, que calculam
pela criança.
o Expectativas hiper
elevadas dos pais ou
cuidadores.
o Autoconceito depreciado
oriundo de explicações
internalistas e rotulativas
(“não aprende porque é
burro”).
o Déficit no treino
discriminativo para aspectos
críticos, moleculares ou sutis
NOMENCLATURA FUNÇÕES
TOPOGRÁFICA: MANTENEDORAS
Discalculia o Reforçamento
COGNIÇÕES positivo pela
Sou burro, incapaz. proteção, cuidados
Matemática é difícil e mediações
demais e não é para compensatórias.
mim. Nunca conseguirei o Reforçamento
calcular algo. Não negativo pela fuga-
adianta tentar calcular esquiva de
algo. Por mais que eu exigências pela
tente, não consigo rotulação
calcular algo. Números internalista.
não fazem sentido. Se
preciso de tanto treino e
atividade é porque sou
um caso difícil ou
perdido.
CARACTERÍSTICAS
COMPORTAMENTAIS
(1) Dificuldades para
dominar o senso
numérico, fatos
numéricos ou cálculo (p.
ex., entende números,
sua magnitude e
relações de forma
insatisfatória; conta com
os dedos para adicionar
números de um dígito
em vez de lembrar o
fato aritmético; perde-se
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da habilidade matemática e no meio de cálculos
relações numéricas. aritméticos e pode
o Déficit na modelagem com trocar as operações). (2)
esvanecimento – inserção e dificuldades no
remoção gradual de dicas. raciocínio (p. ex., tem
o Ameaças punitivas sobre a grave dificuldade em
aprendizagem, aplicar conceitos, fatos
condicionando aversão ao ou operações
processo de modelagem, matemáticas para
concorrendo com o solucionar problemas
desempenho, estabelecendo quantitativos).
a fuga-esquiva atencional e
impedindo o “gosto pelos
números”.
o Constantes interrupções ou
mudanças de ambiente
modelador (troca de escola
ou professor).
o Práticas imprecisas de
correção, sem referentes
claros acerca do que
“acertou” e “errou”.

HABILIDADES
PSICOLÓGICAS
-Raciocínio
NOVAS
HISTÓRICO TERAPÊUTICO realisticamente otimista
FUNÇÕES
- Autocontrole
- Autorregulação
emocional

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