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Dentro do grupo envolvendo os transtornos não verbais, um quadro ainda não é descrito em

manuais formais da saúde como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5a


edição (DSM V) e a Classificação Internacional de Doenças (CID 10); trata se do transtorno não
verbal de aprendizagem (TANV).

TA são alterações no sistema nervoso central, em crianças com inteligência normal, sem
alterações sensoriais, com qualidade de vida adequada e métodos de ensino apropriados. O
transtorno de aprendizagem não-verbal é uma alteração específica no funcionamento do
sistema nervoso, caracterizada por prejuízos marcantes no raciocínio matemático, na cognição
visoespacial, coordenação motora, percepção sensorial e nas habilidades sociais.

Similaridades funcionais entre o TANV e o transtorno do espectro autista (TEA), discussões


atuais giram em torno de o quadro ser ou não considerado pertencente ao espectro dos
transtornos invasivos do desenvolvimento.

Déficits bilaterais na percepção tátil, predominantemente acentuados no lado esquerdo do


corpo; a percepção tátil simples pode normalizar-se com a idade, mas a interpretação de
estímulos táteis mais complexos permanece alterada;

2. Déficits bilaterais na coordenação psicomotora, geralmente mais acentuado do lado


esquerdo do corpo; habilidades motoras simples e repetitivas podem normalizar-se com a
idade, porém as mais complexas permanecem alteradas e discrepantes com relação à norma;

3. Habilidades organizacionais viso-espaciais estão significativamente comprometidas;


discriminações visuais simples podem normalizar-se com a idade, porém os déficits tendem a
piorar comparativamente aos pares normativos;

4. Dificuldades importantes para lidar com situações, informações novas ou complexas. Forte
tendência a confiar em estratégias rotineiras, reações e respostas decoradas, frequentemente
inapropriadas para a situação, idade e humor. Dificuldade para adequar as respostas de acordo
com o feedback recebido. É frequente o uso de respostas verbais, apesar de a situação
requisitar outras estratégias de solução de problemas, formação de conceitos e testagem de
hipóteses.

5. Distorções na percepção e orientação temporal;

6. Habilidades verbais decoradas bem desenvolvidas (vocabulário ou facilidade para decorar);

7. Extrema dificuldade em se adaptar a novas situações mais complexas; apresenta excesso de


confiança em comportamentos prosaicos, por conseguinte, inadequados, nessas situações;

8. Deficiência destacada na mecânica da aritmética e na compreensão da leitura, em


comparação com as habilidades adequadas de leitura de palavras isoladas;

9. Alta verbosidade rotineira e repetitiva, com limitações relacionadas ao conteúdo de


linguagem, e dificuldades nos aspectos pragmáticos da comunicação.

10. Déficits significativos na percepção, julgamento e interação sociais, com clara tendência
para retraimento e/ou isolamento social, mesmo com o aumento da idade. De forma
compensatória, podem mostrar-se expansivos, porém sem a crítica adequada do próprio
comportamento inconveniente. Frequentemente estressados em situações de novidade social,
com alta ansiedade, chegando a pânico em determinadas situações. Apresentam risco para o
desenvolvimento de perturbação socioemocional, especialmente na forma internalizada da
psicopatologia.

Observam se alterações no âmbito das funções executivas relacionadas com a memória


operacional e a memória operacional visuoespacial

As crianças com TANV apresentam maior habilidade de processamento de informações


sequenciais em comparação ao processamento simultâneo, demonstram grande dificuldade.
O sequencial pode ser definido como a capacidade de processar a informação passo a passo e
é baseado no hemisfério esquerdo do cérebro. Já o simultâneo depende do hemisfério direito
e habilita o indivíduo a processar informações que apresentam várias facetas e a formar um
todo, ou seja, integrar parte e todo.

Linguagem

Boas habilidades morfossintáticas e fonológicas:

• Pragmática, que envolve a intenção da fala em comunicar algo, a linguagem quanto à


sua utilização na comunicação

• Compreensão de inferências

• De abstração verbal

• O discurso pode ser pobre em conteúdo

• Narrativa pouco organizada (Colomé et al., 2009).

A comunicação envolve diversos elementos não verbais, como gestos com as mãos, inclinação
do corpo em direção ao interlocutor, direcionamento do olhar, expressões faciais e tom de
voz. No TANV, são encontrados déficits em todas essas funções;

As áreas de maior prejuízo englobam as funções visuoespaciais e a memória operacional


visual. Os indivíduos com TANV apresentam inabilidade na evocação de informação visual e
espacial, o que causa impacto na aprendizagem de material novo por associação, na evocação
da informação já adquirida e também na habilidade de processar informações sociais, que
demandam de pistas visuais.

Elas também demonstram falhas quanto ao raciocínio e aprendizagem de conceitos


matemáticos e de geometria, e em matérias envolvendo mapas e diagramas, além de falhas no
alinhamento dos números na montagem de contas e dificuldades na
interpretação de problemas matemáticos.

Alguns fatores considerados de risco podem ser observados em crianças na fase pré escolar:

• Comportamento resistente a atividades que envolvam a coordenação motora fina,


como colorir desenhos e montar quebra cabeças

• Problemas com a inteligibilidade ou fluência do discurso

• Dificuldade com a pragmática da linguagem e com seu uso no contexto social (humor,
linguagem simbólica, uso da comunicação com seus pares)

• Falha na interpretação de pistas sociais não verbais (gestos) e na interação social

 Problemas com a coordenação mão olho e a coordenação motora grossa (equilíbrio,


noções de direita e esquerda).

Em ambiente escolar, por exemplo:

• a realização de atividades e provas orais pode ser privilegiada;

• instruções podem ser executadas de modo oral, sequencial e passo a passo;

• checagens verbais, solicitação de evocação de conteúdos recém aprendidos pela


criança de maneira verbal;

• apresentação de vocabulário novo também de modo oral são outras possibilidades;


• disciplinas que envolvam reconhecimento de mapas, gráficos e tabelas podem ser
mais difíceis e devem ser trabalhadas com direcionamento verbal, uso de marca textos
e canetas coloridas.

A reabilitação no TANV deve ser conduzida por uma equipe multiprofissional, e os déficits
quanto à coordenação motora grossa devem ser trabalhados por fisioterapeutas e/ou
terapeutas ocupacionais. As alterações na pragmática da linguagem necessitam de
acompanhamento fonoaudiológico, e o médico neurologista é responsável por intervenções
medicamentosas quando necessário, além do acompanhamento do neurodesenvolvimento.
Dependendo da etiologia do quadro, o médico geneticista também pode ser parte da equipe.

No processo de reabilitação, o manejo do comportamento, as metas e as demandas


ambientais devem sempre ser planejados individualmente. No entanto, existem similaridades
entre os déficits presentes nas crianças, uma vez que se trata de um perfil neuropsicológico.
Assim, algumas metas, técnicas e intervenções podem servir como base ou orientação para
diferentes pacientes que tenham os mesmos déficits cognitivos

Em ambiente escolar, algumas metas podem ser traçadas na reabilitação:

• Capacidade de armazenar e encontrar seus materiais tanto na mesa escolar quanto em


sua mochila em tempo hábil

• Capacidade de se planejar com relação aos materiais e livros que serão necessários
durante a semana

• Independência para utilizar uma agenda ou um calendário com planejamento de


eventos e suas atribuições semanais

• Habilidade para identificar e planejar os passos envolvidos em tarefas mais longas

• Independência para fazer uso de três a cinco estratégias destinadas à melhora do foco
da atenção e do alerta quando em atividades desafiadoras ou mais longas
independência para retomar a meta na tarefa.

Quanto às habilidades sociais, também é possível pensar em algumas metas, como:

• Participar de grupos pequenos em tarefas predeterminadas e já estruturadas pelo


professor

• Ter habilidade para identificar as regras e demandas sociais em pequenos grupos


(aguardar a vez de falar, entender os papéis do grupo)

• Reconhecer os amigos pelo nome, buscar sua ajuda se necessário

• Perguntar ao professor em caso de dúvidas na aprendizagem

• Ter habilidade para comunicar e pedir ajuda para o professor em caso de provocações
dos colegas

• Identificar gestos, posturas e expressões sociais que acontecem junto com a


linguagem, pistas não verbais de comunicação (mãos na cintura podem significar que a
pessoa está brava; mãos na boca podem significar susto; palma da mão aberta e
direcionada para cima pode significar “pare”, dedo indicador direcionado pode
significar uma bronca).

• Os pais devem ser inseridos no processo de desenvolvimento de melhores estratégias


para que a criança interaja com seus pares, assim, sessões psicoeducativas e de
orientação devem envolver incentivos para que os
pais busquem frequentar diferentes situações de convívio social, como clubes, parques
e casas de outras crianças da mesma faixa etária.

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