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DISLEXIA

Sinais de Dislexia
Desde o pré-escolar que alguns sinais e sintomas podem oferecer pistas de que a criança é
disléxica. Eles nã o sã o suficientes para se fechar um diagnó stico, mas vale prestar atençã o
aos seguintes aspetos (Almeida, n/d):

 Fraco desenvolvimento da atençã o;


 Falta de capacidade para brincar com outras crianças;
 Atraso no desenvolvimento da fala e escrita;
 Atraso no desenvolvimento visual;
 Falta de coordenaçã o motora;
 Dificuldade em aprender rimas/cançõ es;
 Falta de interesse em livros impressos;
 Dificuldade em acompanhar histó rias;
 Dificuldade com a memó ria imediata organizaçã o geral.
É importante ressaltar que nã o é necessá rio apresentar a totalidade desses sinais para que
uma criança seja disléxica, tampouco, devemos nos preocupar caso a criança apresente
alguns deles. O importante é estarmos atentos para os sinais. A dislexia só poderá ser
definida em um conjunto de atitudes da criança e nã o com sinais isolados (Mello, 2018).
Quanto à leitura (Shaywitz, 2003, citado por Pinto, 2015):

 Nã o aparenta assimilar muita informaçã o da sua leitura;


 Demonstra dificuldade em responder à pergunta: “De que tratava o livro?”;
 Nã o gosta de ler;
 Despende o mesmo tempo em passagens fá ceis e em excertos difíceis;
 Nã o acaba o que começa a ler;
 Nã o aparenta ser capaz de relacionar o que lê com as coisas que já sabe;
 Tem dificuldade em fazer inferências a partir do que lê. As suas interpretaçõ es sã o
sempre muito literais;
 Nã o consegue indicar bem as ideias principais ou resumir o que leu;
 Nã o consegue distinguir ideias importantes de outras que, no texto, têm menor
relevâ ncia;
 Tem dificuldades em fazer previsõ es;
 Raramente regressa a pá ginas anteriores para verificar a sua leitura;
 Considera a leitura aborrecida ou cansativa;

Causas
As causas exatas da dislexia ainda nã o estã o completamente claras, contudo estudos com
neuroimagem demonstram que há diferenças no desenvolvimento e funcionamento
cerebral. Também há forte indicativo de componente genético, uma vez que os estudos
clínicos indicam que mais de 50% das crianças com dislexia tem pais e irmã os com o
mesmo transtorno. Assim sendo, a presença de pai ou irmã o com dislexia aumenta a
probabilidade de ocorrência do transtorno (Mello, 2018).
Investigadores mencionam as mutaçõ es de alguns cromossomas como causa desta
perturbaçã o, nomeadamente nos cromossomas 6 e 15 (Salles et al., 2004) e, mais
recentemente, no cromossoma 2 (Cruz, 2009, citado por Cancela, 2014).
Há ainda autores que referem que a dislexia tem maior prevalência em indivíduos do sexo
masculino do que em indivíduos do sexo feminino, com uma proporçã o variável entre 3 a 6
meninos para 1 menina (Morais,1977 cit. in Cruz, 2009; Torres & Fernandéz, 2001 e
Moura, 2011, citados por Cancela, 2014).
Outros estudos neurobioló gicos puseram enfoque na existência de alteraçõ es neuro -
anató micas e sua relaçã o com a dislexia, dando como exemplo, a relaçã o estabelecida entre
transtornos na leitura e lesõ es na porçã o esquerda da circunvoluçã o angular (Síndrome de
Gerstman), assimetrias entre os hemisférios cerebrais, anomalias da arquitetura celular da
á rea de Wernicke e défices no funcionamento do cerebelo. Neste contexto e tendo
subjacentes os estudos recentes e de relevo nesta á rea (Beaton, 2002; Bishop, 2002;
Nicolson & Fawcett, 2000) sugerem a existência de um défice no funcionamento do
cerebelo como hipó tese explicativa da dislexia (Cancela, 2014).

Fatores que agravam a problemática


A dislexia é talvez a causa mais frequente de baixo rendimento e insucesso escolar (Teles,
2004).
Geralmente, os alunos com dificuldades de aprendizagem reprovam de forma frequente,
despertando um sentimento de inferioridade neles, pois trabalhar com eles nã o é tarefa
fá cil e quando nã o sã o reprovados, sã o colocados em programas especiais de ensino como
o proposto para as salas de reforço ou de recuperaçã o paralela, destinadas a alunos com
dificuldades nã o superadas no quotidiano escolar (Viana, 2020).
A criança disléxica tem desorientaçõ es que alteram os seus sentidos, fazendo com que ela
seja capaz de experimentar mú ltiplas visõ es do mundo, podendo perceber objetos e a
partir dessas perceçõ es, adquirir mais informaçõ es do que outras pessoas. Umas dessas
desorientaçõ es é o problema com a grafia. De acordo com Braun e Davis (2004), quando
uma desorientaçã o ocorre, a criança ou adulto notam mú ltiplas imagens da palavra. Ela é
vista de vá rias formas, de frente para trá s, de cabeça para baixo, podendo ser
desmembrada e reagrupada em todas as combinaçõ es possíveis (Viana, 2020).

Implicações na aprendizagem
A escola e os pais devem estar preparados para dar o apoio necessá rio à criança disléxica
para que ela nã o desanime e desista de aprender a ler e a escrever. As dificuldades de
aprendizagem sã o complexas, nã o sendo fá ceis de diagnosticar e muitas vezes sã o
confundidos com outras deficiências. Portanto, os professores devem ter em isto
consideraçã o ao elaborar as suas metodologias de ensino e devem atentar para os
seguintes aspetos em relaçã o à s crianças com dificuldades de aprendizagem: apresentam
um quociente intelectual (QI) normal; as suas dificuldades nã o têm relaçã o com o
ambiente e com as suas emoçõ es ou atraso intelectual; e o seu rendimento é baixo em
relaçã o a algumas á reas da aprendizagem, ainda que nem sempre se estendam a todas
(Viana, 2020).
Para os estudiosos o tratamento adequado para crianças disléxicas é baseado no ensino
multissensorial - o fó nico – e algumas estratégias e doses só lidas de apoio e
acompanhamento com o intuito de criar um ambiente que ajudará o aluno a controlar a
sua ansiedade, a encarar riscos, a enfrentar os seus medos e a nã o sentir vergonha da sua
dificuldade de aprendizagem (Viana, 2020).
Nesta luta, onde professores e alunos se unem a fim de encontrar soluçõ es, a escola tem a
sua parte a cumprir, atendendo os interesses da família, com reformulaçõ es nos currículos,
proporcionando etapas de reciclagem didá ticas aos professores, além de adequar
calendá rios, sistema de avaliaçõ es junto aos alunos no critério de seleçã o e localizaçã o. As
famílias de crianças com dificuldades de aprendizagem, devem procurar formas de ajudá -
las a potencializar as suas habilidades, cujas podem de alguma forma compensar as suas
dificuldades. Neste sentido, as famílias devem ser um verdadeiro apoio emocional para a
pessoa com dificuldades. Estas crianças enfrentam frustraçõ es frequentes, sobretudo na
escola. Assim, a família deve ser um apoio constante que a ajude a controlar e superar as
suas crises (Viana, 2020).

Estratégias de intervenção
Segundo Cancela (2014), deve iniciar-se a intervençã o através do tratamento em
habilidades específicas deficitá rias, nomeadamente: motivar a criança para as tarefas
escolares, proporcionar experiências gratificantes relacionadas com as á reas deficitá rias,
ajudar os alunos a perceberem os seus problemas de maneira resolú vel e mudar as crenças
iniciais (por exemplo, “nã o sei, nã o consigo fazer”), antes ou ao mesmo tempo que se
avança na intervençã o.
Domingues e Marchesan (2004), citados por Pinto (2015) apresentam sugestõ es para
auxiliar a criança com dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita, que
consideramos pertinente. Assim:

 Dividir trabalhos longos em pequenas partes;


 Conteú dos de ensino devem ser revistos sempre;
 Usar enigmas para descrever objetos;
 Inicialmente, o conhecimento só deve ser avaliado por respostas orais;
 Deve haver cuidado com o material escrito: cabeçalho, letra claras, uso de
desenhos e diagramas e menos uso de palavras escritas;
 Uso da letra script ou bastã o em cores diferentes o que melhor auxilia a velocidade
ou memorizaçã o da forma ortográ fica da palavra;
 Solicitar ao aluo que repita, sempre que possível, a ordem ou conteú do com as suas
pró prias palavras; isso ajuda na memorizaçã o;
 Regras escritas devem ser dadas com muita fixaçã o e separadamente;
 Nunca expô -lo a leitura em voz alta diante de outros;
 Usar material colorido e grande para o aprendizado das letras;
 O uso do dicioná rio deve ser bem ensinado. Quando possível, ilustrado.
No reforço das estratégias utilizadas no grupo ou turma aos níveis da organizaçã o, do
espaço e das atividades (Pinto, 2015):

 apoiar na organizaçã o dos cadernos, livros, restante material escolar e mesa de


trabalho;
 colocar a criança numa mesa o mais à frente possível para eliminar as variáveis
parasitas que possibilitem a distraçã o;
 verificar se a criança compreende as instruçõ es das tarefas, pedindo-lhe, por
exemplo, que as repita;
 criar rotinas de apoio entre pares (aprendizagem cooperativa), de modo que os
colegas possam auxiliar o aluno nas atividades da sala de aula;
 realizar exercícios de memorizaçã o de palavras, para tornar a leitura mais
automá tica;
 informar previamente o aluno dos textos a abordar na aula seguinte, no sentido de
ler repetidamente os mesmos e reconhecer as palavras desconhecidas;
 os erros ortográ ficos, de sintaxe, entre outros de cará ter linguístico nã o devem ser
contabilizados (também aplicável em momentos de avaliaçã o externa), mas devem
ser sempre corrigidos em conjunto com o aluno;
 incentivar à leitura recreativa semanal e durante os períodos de interrupçõ es
letivas;
 recorrer à s á reas de interesse/gostos da criança, para levá -la a ter prazer pela
leitura e pela escrita.

Referências
Almeida. M., (n/d). Dislexia. Psicologia.com.pt – O Portal dos Psicó logos. Consultado em
https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0217.pdf
Cancela, A., (2014). As implicaçõ es da dislexia no processo de aprendizagem na perspetiva
dos professores do 1º Ciclo do Ensino Bá sico. Dissertaçã o de Mestrado.
Universidade Fernando Pessoa – Porto.
Mello, A, (2018). DISLEXIA: Métodos e Técnicas para auxiliar o aluno disléxico no Contexto
Escolar. Dissertaçã o de Mestrado. Universidade Fernando Pessoa – Porto.
Pinto, C., (2015). Dislexia – A uniã o faz a força. Dissertaçã o de Mestrado. Instituto Superior
de Educaçã o e Ciências.
Teles, P., (2004). Dislexia: Como identificar! Como intervir? Revista Portuguesa de Clínica
Geral. [Em linha]. Disponível em < http://pt.scribd.com/doc/2683714/-Dislexia-
como-Identificar-e-Intervir>. [Consultado em 06/02/2024].
Viana, M., (2020). Implicaçõ es da dislexia no processo de ensino/aprendizagem
Implications of dyslexia in the teaching/learning process. Brazilian Journal of
Development. 6. 71956-71971. 10.34117/bjdv6n9-589. DOI:10.34117/bjdv6n9-
589

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