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Visão psicolinguística e

Visão cognitivista das


dificuldades de
aprendizagem
As dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita podem ser
explicadas pela falta de pré-requisitos linguísticos básicos para sua
aquisição;
Desempenho linguístico, diferenciação da linguagem, consciência
da natureza simbólica da escrita, capacidade para análise segmental
da fala, capacidade para reconhecer autonomia da escrita são
habilidades a serem consideradas.
 Há necessidade do desenvolvimento de uma consciência
metalinguística pela criança (capacidade de refletir sobre as
mensagens). Ela envolve a capacidade do falante considerar a
linguagem como objeto abstrato, para que o sujeito possa se
concentrar mais na forma que no conteúdo verbal.
 São utilizados processos metacognitivos que lhe permitam ir
além dos níveis elementares de compreensão e produção.
 A consciência sobre a linguagem envolve habilidades fonológicas,
morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas e desenvolvem-se
espontaneamente ou por meio da instrução;
 Os comportamentos metalinguísticos são controlados, deliberados,
intencionais, e os linguísticos são automáticos não requerendo o controle
da atenção.
 A consciência metalinguística está relacionada com operações concretas do
pensamento, sendo um produto do desenvolvimento linguístico e
cognitivo;
 Desenvolve-se com a idade?
 Para aprender a ler a criança precisa estabelecer a correspondência entre o código
escrito e o código oral e compreender que a fala é representada por palavras
constituídas de unidades menores, as quais, combinando-se de maneiras
diferentes dão origem a outras palavras. Para que isto ocorra deve ter
desenvolvido a capacidade metalinguística de segmentar fonemas, e de reuni-los
para formar outros significantes.
 Dificuldades na leitura e escrita estão relacionados à problemas de linguagem e
com dificuldades de segmentação da palavra e sons (não conseguindo segmentar
não consegue relaciona-los com grafemas).
 A retenção de uma palavra na memória depende da compreensão
do significado da palavra em si e da compreensão mais geral dos
contextos em que ela está inserida.
 As crianças com retardo de leitura apresentam dificuldade de
memorização porque não conseguem dar um significado preciso
aos termos e organizar rapidamente a informação. Quando
conseguirem captar os significados globais, os disléxicos podem
chegar a uma boa compreensão (mas farão isso lentamente);
 Do mesmo modo, organizar a informação de forma ordenada e lógica é
fundamental para compreendê-la e recordá-la posteriormente. Maus leitores
parecem ter uma insuficiente organização sintática do material verbal.
 Vellutino (1995) aponta 2 pré-requisitos como sendo a base para a leitura: uma
habilidade linguística geral e a presença de uma linguagem ativa;
 Habilidade linguística geral: conhecimento substancial das palavras e emprego num
contexto adequado, rapidez de encontrar a palavra adequada e facilidade de associar
ideias num contexto lógico, habilidade para agrupar categorias verbais segundo
semelhanças e diferenças, manejo das relações gramaticais e habilidade para
codificar foneticamente, habilidade para usar ativamente a linguagem que, por sua
vez, facilita a elaboração de estratégias de identificação de palavras e interpretação
de mensagens do texto.
Enquete 1
• Você conhece uma atividade que trabalha a metalinguagem?
Grande guarda-chuva
• Consciência fonológica
• Consciência silábica
• Rimas e aliterações ...
 O método de ensino deve considerar para ser bem sucedido:
 Aumentar a consciência dos sons nas palavras;
 Mostrar-lhe como fazer generalizações sobre o soletrar;
 Dar ênfase e demonstrar as conexões entre leitura e soletrar e entre aspectos
fonológicos e visuais da escrita e da leitura;
 a melhora das capacidades fonológicas é uma boa medida preventiva a ser
tomada.
 Sugestão: Domlexia (app)
Referências
• Semantic and phonological coding in poor and normal readers.Vellutino FR,
Scanlon DM, Spearing D.J Exp Child Psychol. 1995 Feb;59(1):76-123. doi:
10.1006/jecp.1995.1004.
• AVALIAÇÃO E INTERVENÇÃO DA DISORTOGRAFIA BASEADA NA SEMIOLOGIA
DOS ERROS: REVISÃO DA LITERATURA. Amparo Ygual Fernández (1), José Francisco
Cervera Mérida (2), Vera Lúcia Orlandi Cunha (3), Andrea Oliveira Batista (4), Simone
Aparecida Capellini. Rev. CEFAC, São Paulo.
Visão cognitivista dos
problemas de
aprendizagem
 Dificuldades de aprendizagem: decorrentes de falha em
selecionar estratégias apropriadas para a tarefa e também
em usar estas estratégias (déficits metacognitivos);
Pressupostos:
• Dentro de um enfoque cognitivo o comportamento é resultado de uma
variedade de eventos e processos mentais, alguns dos quais são postulados
estarem sob controle do indivíduo.
• Uma parte central nesta posição é que o indivíduo é um resolutor ativo de
problemas e um processador de informações mais que um expectador dos
estímulos do meio.
• Neste contexto de resolução de problemas são determinantes críticos:
• A habilidade do indivíduo para entender o que é
requerido;
• A habilidade para entender suas próprias capacidades;
• A habilidade para monitorar tais atividades.
• Esta listagem compõe o que se chama de
metacognição.
• Metacognição: habilidade do sujeito para entender e monitorar
seus próprios processos cognitivos;
• Nesse contexto, procedimentos de avaliação dinâmica procuram verificar
se o aluno pode analisar a natureza do problema, relacionar o problema, a
experiências anteriores, planejar uma estratégia para operar, monitorar e
ajustar sua realização.
• A prática do pensar sobre o próprio pensar, saber e fazer
• O que você está fazendo?
• Por que escolheu essa estratégia?
• O procedimento utilizado em sua pesquisa para coletar dados foi eficiente? Como você o
melhoraria?
• Justifique a sua escolha!
• Nessa vertente, muitos alunos com problemas
de aprendizagem têm dificuldades em analisar
e visualizar planos para a resolução de
problemas diários.
FUNÇÕES EXECUTIVAS

• O QUE SÃO?
• CONJUNTO DE HABILIDADES MENTAIS QUE REGULAM NOSSO COMPORTAMENTO E PENSAMENTO A
PARTIR DE EXPERIÊNCIAS PASSADAS, COM O OBJETIVO DE REALIZAR AÇÕES NO PRESENTE OU
ATINGIR METAS FUTURAS.

• UTILIZAMOS EXAUSTIVAMENTE ESSAS FUNÇÕES NO DIA A DIA, SEJA PARA TROCAR DE ROUPA, SEJA
PARA RESOLVER PROBLEMAS COMPLEXOS.

• SÃO FUNÇÕES ALTAMENTE SOFISTICADAS.

• PROCESSADAS NO CÓRTEX PRÉ-FRONTAL E OUTROS CIRCUITOS CEREBRAIS EM SINTONIA.


FUNÇÕES EXECUTIVAS

• Se desenvolvem a partir do nascimento até o início da idade adulta e permite que se


desempenhe ações voluntárias com autonomia e organização para atingir metas específicas.

• Importância fundamental para o comportamento e desempenho escolar.

• Tais habilidades vão se aperfeiçoando com a idade e em conjunto permitem à criança ações de
antecipação, julgamento, consciência e controle de si, tomada de decisões, resolução de
problemas e adiamento de recompensas.

• FE são mais importantes para o bom desempenho escolar do que a inteligência (QI)3 e são
preditivas para as competências matemáticas e leitura ao longo dos anos escolares4.
1. Objetivar
estabelecer metas

• Ter um objetivo – seja para executar uma tarefa simples ou a mais complexa.

• Definimos esse objetivo, às vezes, de forma automática, após treinamento prévio.


Ex.: trocar a roupa, tomar banho.

• Outras vezes, em tarefas novas ou mais complexas, precisamos elaborar esse


objetivo de forma completamente consciente.

• Quanto mais claro o objetivo, mais fácil estabelecer as estratégias para alcançá-lo e
maior a chance de atingi-lo.
2. Planejar
Estabelecer estratégias para atingir a meta

• Habilidade de elaborar e executar um plano de ações, de “pensar antes” e de estipular os


passos necessários, uma sequencia para se atingir um objetivo.

• É necessário impor estrutura e ordem às ideias de forma independente.

• É importante pensar em todos os passos exigidos e no tempo necessário para atingir um


objetivo (realizar um projeto).
3. Organizar
ideias, materiais e tempo

• Depende de outras habilidades: planejamento, priorização (dar prioridade para


tarefas mais importantes) e de iniciar tarefas.
• Desorganização com os pertences, prejudicam a execução da tarefa, por não
encontrar o que precisam na hora de realizá-la.
• Desorganização das ideias faz com que a pessoa tenha dificuldade de
armazenar na memória os conhecimentos adquiridos ou não consiga explicar o
que sente ou pensa.
• Desorganização no tempo faz com que não se complete as etapas necessárias
para a realização de uma tarefa.
• A desorganização traz prejuízos em várias áreas: perder nota por não entregar
tarefa, perder amizades por esquecer compromissos, se perder por não chegar
a tempo no ponto de encontro combinado.
4. Iniciar
perceber a hora de iniciar tarefa sem adiamento

• Habilidade de perceber quando é hora de iniciar uma tarefa e efetivamente


iniciá-la sem adiamento.
• A dificuldade nessa habilidade faz com que a pessoa demore para iniciar suas
tarefas: escovar os dentes, tomar banho, dormir, fazer um trabalho escolar, deixa
tudo para a última hora.
• Gera desgaste aos pais que precisam repetir várias vezes o mesmo comando.
Quando por fim, a criança inicia a atividade, acaba abandonando-a ao encontrar
a primeira dificuldade.
• Procrastinam e não perseveram por não saberem como começar, enfrentar e
superar dificuldades. Tem dificuldade também com planejamento e organização.
5. Focar: prestar atenção
• Atenção = aplicação cuidadosa da mente a alguma coisa, o esforço de focalização do
pensamento em um alvo único (Aurélio).
• Dificuldade de atenção pode se manifestar por facilidade de distração: uma borracha que cai,
um barulho, etc.
• Atenção: existem três dimensões distintas.
• Seletividade: capacidade de focar em um alvo sem se distrair com outros estímulos.
• Alternância: capacidade de focar de forma alternada em dois alvos sem se distrair com outros
estímulos.
• Manutenção da atenção: manter o foco em um alvo ao longo do tempo.
• Vários fatores modulam a capacidade de atenção, um dos principais é a motivação.
6. Perseverar: não desistir diante das dificuldades que possam surgir

• Função ligada a outras: habilidade de objetivar, organizar-se no tempo e auto


monitorar.

• A falta de perseverança traz grande prejuízo ao longo da vida, seja no


desempenho escolar ou no trabalho. Dificuldades são inerentes à vida.
• Ex.: a criança que insiste que quer ser matriculada em um curso em poucas semanas
desanima e abandona. O jovem que “pula” de um curso superior para outro ou não
consegue manter-se por muito tempo em um mesmo emprego.
7. Monitorar
a si próprio – perceber e avaliar seu próprio desempenho

• Dificuldade em perceber que não estão seguindo as instruções até que alguém aponte isso para
elas.
• Tendem a avaliar mal seus próprios esforços e têm dificuldade para ajustar o que estão fazendo
com base em observações ou dicas de outras pessoas.
• Todas as demais FE dependem da habilidade de o indivíduo se monitorar em tempo real.
• Estudantes de sucesso conseguem calibrar a qualidade de sua atenção, compreensão e
produção em situações de aprendizado e fazer ajustes de acordo com o grau de dificuldade que
se apresenta.
• Se a pessoa tem consciência da qualidade de sua atenção, perseverança, organização,
autocontrole e produção ao executar uma tarefa, ela é capaz de modular seu desempenho e
o ambiente a sua volta de forma a aprender melhor.
• Recursos de modulação: fazer perguntas, reler um texto mais difícil, “fugir” das distrações, corrigir
uma frase que acabou de redigir.
8. Flexibilizar: mudar de foco / considerar diferentes alternativas

• Flexibilidade mental – diretamente relacionada – capacidade de resolver


problemas e entender a si próprio e aos outros. Permite que nos coloquemos no
lugar do outro – fundamental para o bom desempenho social e aprendizado.
• Habilidade indispensável para o desempenho na vida diária, onde as situações
se modificam a cada instante. Papel central no processo de adaptação do
indivíduo ao meio e às pessoas.
• Inflexibilidade (rigidez) – têm problemas quando algo muda na rotina e sentem
dificuldade de se adaptar ao novo. Não toleram bem as frustrações, nem
resolvem problemas a contento. Pessoas intolerantes e desafiadoras prejudicam
sua interação social.
9. Inibir: controlar os impulsos
• Capacidade de pensar antes de agir; avaliar uma situação e depois decidir
se algo deve ou não ser dito ou feito.
• Controlar os impulsos: aspecto essencial da condição humana, para que se
viva amigavelmente com os outros e atinja objetivos.
• Habilidade de inibir a raiva, controlar os impulsos, domar os desejos e se
proteger dos riscos é fundamental para o sucesso na escola e na vida.
• É a função executiva fundamental para o funcionamento executivo. As outras
funções dependem dela.
• Pessoas com pobre capacidade de inibição funcionam pelo prazer, sem
levar em conta suas obrigações e compromissos. Prejudicam seu
desempenho e podem se colocar em situações de perigo.
• A pessoa funciona como um carro sem breque.
10. Regular: controlar a expressão das emoções

• Ao nascermos temos uma habilidade variada em lidar com as frustrações e a raiva.


• Menor habilidade = dificuldades sérias na vida social, escolar e familiar.
• Dificuldade para aceitar as críticas, mesmo as construtivas, choram por nada e não conseguem
manter a atenção em sua meta quando coisas desagradáveis ou inesperadas acontecem.
• Reagem exageradamente quando perdem um jogo ou são repreendidas em casa ou na sala de
aula.
11. Operacionalizar: memória operacional ou de trabalho

• Capacidade de manter informação na mente e usá-las para completar uma tarefa. Memória de curto prazo.
• É mais instantânea e desempenha um papel chave na aprendizagem e na realização de tarefas em nosso
cotidiano (operacionalização).
• Conforme as informações chegam você as processa ao mesmo tempo em que armazena.
• É fundamental para a realização de cálculos matemáticos, pois precisamos reter os números enquanto
trabalhamos com eles.
• Na leitura, precisamos lembrar a sequência de eventos e ao mesmo tempo pensar sobre o enredo da
estória.
• Na redação, para escrevermos precisamos ter em mente a estrutura do texto e o que pretendemos
concluir.
Há dois tipos de memória de trabalho:
1. Memória de trabalho verbal (auditiva) – o som é a fonte de informação.
• Ao seguir um conjunto de instruções verbais em sequência. Ex.: se pede para uma pessoa ir até o supermercado
comprar três produtos, ela precisa lembrar-se de cada item e voltar com eles até você.
• Quem tem dificuldade de memória verbal não consegue lembrar-se de todos os itens ou voltam sem nenhum.
• Afeta mais a aprendizagem do que a memória de trabalho visuo-espacial.

2. Memória de trabalho visuo-espacial – permite que você visualize alguma coisa para mantê-la na mente.
• Usamos para fazer contas mentais e recordar padrões, imagens, mapas e sequências de eventos.

• Pessoas com fraca memória de trabalho são incapazes de recordar e aplicar informações cruciais a
fim de prosseguir para o próximo passo de uma tarefa.
Funções executivas
• Evidências científicas mostram que crianças que desde bem cedo são estimuladas para boas
Funções Executivas se desenvolvem melhor, apresentam melhor saúde mental, comportamento,
sociabilidade e desempenho escolar.
• Se a criança não recebe estimulação adequada ela tem as vias cerebrais responsáveis por essa
função desabilitadas.
• Ansiedade: de “o que fazer” e de “como estão se saindo” (principalmente quando estão “fazendo
de qualquer jeito” sem objetivar, planejar e se organizar) – dá sensação de estar sobrecarregada
e atrasada.

• Gera exaustão, desatenção e um ciclo de insegurança e de se sentir fora do controle.


• O que não é nada bom para aprendizagem e autoestima.
Enquete n.2
• Dê um exemplo de um exercício para trabalhar a metacognição em sala de
aula...
Exercício
• O que preciso saber sobre o tema estudado?
• O que ainda não sei?
• Como posso vir a saber?

• Usar jogos de estratégia...Quais vc conhece?

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