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Dislexia: Histórico e Conceituação
Marília Seno

O transtorno de aprendizagem é conhecido como uma desordem


neurobiológica do processamento cognitivo e da linguagem causado por um
funcionamento cerebral atípico. Como consequência dessa disfunção, a forma
como esses indivíduos processam e adquirem informações é diferente do
funcionamento das crianças com desenvolvimento típico (Policy et al., 2008;
Wu et al., 2008).
A dislexia é um distúrbio específico de aprendizagem de origem
neurológica. É caracterizada por dificuldades no reconhecimento preciso e/ou
fluente de palavras e por alteração na capacidade ortográfica e de
decodificação. “Essas dificuldades tipicamente resultam de um déficit no
componente fonológico da linguagem que é muitas vezes inesperado em
relação a outras habilidades cognitivas e à provisão de instrução efetiva em
sala de aula. Consequências secundárias podem incluir problemas de
compreensão de leitura e redução da experiência de leitura que podem impedir
o crescimento do vocabulário e do conhecimento prévio” (Ida, 2017).
Segundo Lyon, Shaywit e Shaywitz, (2013), a dislexia é manifestada por
dificuldades linguísticas variadas, incluindo, normalmente, para além das
alterações de leitura, um problema com a aquisição da proficiência da escrita e
da soletração. Alguns estudos indicam que a dislexia do desenvolvimento está
associada à expressão de quatro genes, denominados KIAA0319, DCDC2,
ROBO1 e DYX1C1, que estão sendo correlacionados a dificuldades de leitura
(Fisher; Francks, 2006).
Acomete entre 3 e 15% (Moll; Landerl, 2009; Fluss et al., 2008) das
crianças em idade escolar apesar da inteligência normal, da ausência de
problemas sensoriais ou neurológicos, da instrução pedagógica adequada e de
oportunidades socioculturais suficientes. Alguns sinais de risco para o
transtorno podem ser percebidos ainda na fase pré-escolar (Pestun; Ciasca;
Gonçalves, 2006), uma vez que o comprometimento fonológico está
frequentemente presente nesta condição, que é considerada hereditária em até
65% dos casos (Meng et al., 2005).

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Tomando como referência as estimativas apontadas pela Associação
Americana de Psiquiatria cerca de 10% das crianças em idade escolar
apresentam uma perturbação da aprendizagem cumprindo os critérios de
diagnóstico (American Psychiatric Association, 2002) sendo de se esperar uma
prevalência de 4% de crianças com uma perturbação especifica da leitura.
No Brasil, um estudo conduzido em Pelotas encontrou prevalência de
12,3% de dislexia em crianças entre 1ª e 4ª série (Pilatti; Pedroso; Gutierrez,
2010). Há carência de estudos mais controlados, com metodologia mais
rigorosa e mais atuais acerca deste dado. Como o transtorno está vinculado à
capacidade de leitura e escrita, seu diagnóstico pode sofrer algum impacto do
sistema alfabético/ortográfico local.
Nas últimas décadas tem aumentado significativamente o número de
escolares com comprometimentos na aprendizagem, entre esses a deficiência
na leitura (Belintane, 2006). Várias causas podem justificar essa condição e
uma delas são os fatores individuais dos aprendizes representados pelos
transtornos de aprendizagem de origem constitucional, isto é, de origem
genético-neurológica, destacando-se a dislexia (Andrade; Prado; Capellini,
2011).
Em 2013, a 5ª edição do Manual Diagnostico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-5) trouxe mudanças relacionadas à classificação
dos transtornos da aprendizagem, incluindo os critérios para transtornos do
neurodesenvolvimento (American Psychiatric Association, 2013). São
considerados Transtornos do Neurodesenvolvimento:
• Deficiências intelectuais: leve, moderada; grave; profunda; atraso
global do desenvolvimento; deficiência intelectual não especificada.
• Transtornos da comunicação: transtorno da linguagem; transtorno da
fala; transtorno da fluência com início na infância (gagueira);
transtorno da comunicação social (pragmática); transtorno da
comunicação não especificado (49).
• Transtorno do espectro autista: (50).
• Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: apresentação
combinada; apresentação predominantemente desatenta;

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apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva; outros
transtornos especificados e outros transtornos não especificados.
• Transtorno específico da aprendizagem.
• Transtornos motores: transtorno do desenvolvimento da coordenação.
• Transtorno do movimento estereotipado.
• Transtornos de tique: transtorno de tourette; transtorno de tique motor
ou vocal persistente (crônico); transtorno de tique transitório; outro
transtorno de tique especificado; transtorno de tique não especificado.
• Outros transtornos do neurodesenvolvimento: outro transtorno do
neurodesenvolvimento especificado; transtorno do
neurodesenvolvimento não especificado.

Com relação ao transtorno específico da aprendizagem, os critérios


diagnósticos estabelecidos foram:
A. Dificuldades na aprendizagem e no uso de habilidades acadêmicas,
conforme indicado pela presença de ao menos um dos sintomas a seguir que
tenha persistido por pelo menos 6 meses, apesar da provisão de intervenções
dirigidas a essas dificuldades:
1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex.,
lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e
hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de
soletrá-las).

2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex., pode ler o
texto com precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as
inferências ou os sentidos mais profundos do que é lido).

3. Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex.,


pode adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes).

4. Dificuldades com a expressão escrita (p. ex., comete múltiplos erros de


gramática ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada
de parágrafos; expressão escrita das ideias sem clareza).

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5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou
cálculo (p.ex., entende números, sua magnitude e relações de forma
insatisfatória; conta com os dedos para adicionar números de um dígito
em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas; perde-se
no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações).

6. Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave dificuldade em aplicar


conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas
quantitativos).

B. As habilidades acadêmicas afetadas estão substancial e quantitativamente


abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, causando
interferência significativa no desempenho acadêmico ou profissional ou nas
atividades cotidianas, confirmada por meio de medidas desempenho
padronizadas administradas individualmente e por avaliação clínica
abrangente. Para indivíduos com 17 anos ou mais, história documentada das
dificuldades de aprendizagem com prejuízo pode ser substituída por uma
avaliação padronizada.

C. As dificuldades de aprendizagem iniciam-se durante os anos escolares, mas


podem não se manifestar completamente até que as exigências pelas
habilidades acadêmicas afetadas excedam as capacidades limitadas do
indivíduo (p. ex., em testes cronometrados, em leitura ou escrita de textos
complexos longos e com prazo curto, em alta sobrecarga de exigências
acadêmicas).

D. As dificuldades de aprendizagem não podem ser explicadas por deficiências


intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, outros transtornos
mentais ou neurológicos, adversidade psicossocial, falta de proficiência na
língua de instrução acadêmica ou instrução educacional inadequada.

Os especificadores devem indicar em qual habilidade foi observado


prejuízo caracterizando o quadro como dislexia, disortografia ou discalculia:

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1. Dislexia - com prejuízo na leitura nos aspectos: precisão na leitura
de palavras; velocidade ou fluência da leitura e/ou compreensão da
leitura.
2. Disortografia - com prejuízo na expressão escrita nos aspectos:
precisão na ortografia; precisão na gramática e na pontuação e/ou
clareza ou organização da expressão escrita.
3. Discalculia - com prejuízo na matemática nos aspectos: senso
numérico; memorização de fatos aritméticos; precisão ou fluência de
cálculo e/ou precisão no raciocínio matemático.

Com Relação à Gravidade do Comprometimento, a Classificação se Divide em:


• Leve: alguma dificuldade em aprender habilidades em um ou dois
domínios acadêmicos, mas com gravidade suficientemente leve que
permita ao indivíduo ser capaz de compensar ou funcionar bem
quando lhe são propiciados adaptações ou serviços de apoio
adequados, especial- mente durante os anos escolares.
• Moderada: dificuldades acentuadas em aprender habilidades em um
ou mais domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o
indivíduo se torne proficiente sem alguns intervalos de ensino
intensivo e especializado durante os anos escolares. Algumas
adaptações ou serviços de apoio por pelo menos parte do dia na
escola, no trabalho ou em casa podem ser necessários para
completar as atividades de forma precisa e eficiente.
• Grave: dificuldades graves em aprender habilidades afetando vários
domínios acadêmicos, de modo que é improvável que o indivíduo
aprenda essas habilidades sem um ensino individualizado e
especializado contínuo durante a maior parte dos anos escolares.
Mesmo com um conjunto de adaptações ou serviços de apoio
adequados em casa, na escola ou no trabalho, o indivíduo pode não
ser capaz de completar todas as atividades de forma eficiente.

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Tanto no contexto clínico como no educacional é de extrema importância
atentar-se para os sinais de risco para a dislexia possibilitando a intervenção
precoce e minimizando as manifestações do quadro e sua interferência no
processo de alfabetização, na fluência de leitura e no desenvolvimento da
escrita.

Referências Bibliográficas

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais: texto revisado (DSM-IV-TR). Artmed,
2002.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual


of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5). Arlington: American Psychiatric
Publishing; 2013.

ANDRADE, Olga Valéria Campana dos Anjos; PRADO, Paulo Sérgio Teixeira
do; CAPELLINI, Simone Aparecida. Desenvolvimento de ferramentas
pedagógicas para identificação de escolares de risco para a
dislexia. Revista psicopedagogia, p. 14-28, 2011.

BELINTANE Claudemir. Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca para


além da polarização. Educação e Pesquisa. v. 32, n. 2, p. 261-277, 2006.

FISHER, Simon E.; FRANCKS, Clyde. Genes, cognition and dyslexia: learning
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FLUSS, J. et al. Prévalence des troubles d’apprentissages du langage écrit


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MOLL, Kristina; LANDERL, Karin. Double dissociation between reading and


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PESTUN, Magda S. Vanzo; CIASCA, Sylvia; GONÇALVES, Vanda Maria


Gimenes. A importância da equipe interdisciplinar no diagnóstico de
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PILATTI, Luiz Alberto; PEDROSO, Bruno; GUTIERREZ, Gustavo Luis.
Propriedades psicométricas de instrumentos de avaliação: um debate
necessário. Revista brasileira de ensino de ciência e tecnologia, v. 3, n. 1, 2010.

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