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DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM X TRANSTORNO ESPECÍFICO DE

APRENDIZAGEM

A dificuldade de aprendizagem é uma condição passageira que acontece quando


influências externas atrapalham o processo de aprendizagem. Diversos fatores podem
causar dificuldades de aprendizagem, como questões emocionais, problemas familiares,
alimentação inadequada e ambiente desfavorável.
O transtorno específico da aprendizagem é uma condição neurológica (interna)
que afeta a aprendizagem e o processamento de informações. Ao contrário da
dificuldade de aprendizagem, o transtorno específico da aprendizagem é persistente.
Transtorno Específico da Aprendizagem é um termo guarda-chuva que abrange
diferentes condições neurológicas que afetam a aprendizagem e o processamento de
informações, como a dislexia e a discalculia. O termo é usado para descrever
dificuldades específicas para adquirir habilidades acadêmicas básicas. 

DISLEXIA: CARACTERIZAÇÃO E SINAIS DE RISCO


É um transtorno de aprendizagem causado por origens neurobiológicas, que
influencia diretamente nas habilidades cognitivas de quem apresenta o quadro.

As pessoas com dislexia sentem dificuldade na hora de reconhecer e decodificar


palavras, o que acaba levando a outros estágios de aspecto fonológico e comunicacional.
Em outras palavras, quem tem dislexia apresenta limitações na hora de ler e interpretar
símbolos gráficos (como letras e números).

Por muito tempo, as pessoas costumavam se referir à dislexia como uma doença,
mas, por sorte, tanto a medicina quanto a educação têm evoluído bastante nos últimos
anos, rompendo com preconceitos e rótulos equivocados como esse. Hoje, é mais
correto dizer que as pessoas com dislexia possuem uma forma diferenciada de aprender,
o que leva a muitos especialistas a definirem como “um distúrbio de leitura e escrita”.

Quais são os tipos de dislexia?


Entre os grandes equívocos sobre esse assunto, está o de que a dislexia é uma só e se
manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Na realidade, existem espectros e tipos
de dislexia, que variam de acordo com as definições adotadas. É possível defini-los pela
área de dificuldade (ou desordem de aprendizado). Por exemplo:

 Desordem na fluência de leitura.


 Desordem na expressão escrita.
 Desordem nos cálculos de matemática.

Quais as causas da dislexia?


As respostas para essa pergunta podem ser bastante controversas, sendo que,
hoje, a mais aceita é a que considera as origens da dislexia em três âmbitos: genético, de
desenvolvimento ou devido a situações traumáticas.

A causa genética, também chamada de primária, é uma disfunção neurológica


que aparece já nos primeiros anos de vida. A de desenvolvimento ou secundária é
causada por hormônios ou outros quadros físicos de origem externa, como má nutrição.
A causa tardia, também chamada de dislexia adquirida, é consequência de lesões
no cérebro, por acidentes.

Quais são os principais sintomas?


Para ter certeza de que alguém tem dislexia, é fundamental buscar ajuda de
profissionais. Através de exames, como audiometrias, o diagnóstico será mais preciso.
No entanto, alguns sintomas costumam aparecer com frequência nesses casos. Veja
alguns:

 Dispersão.
 Atraso de desenvolvimento da fala.
 Dificuldades motoras, como limitações na hora de escrever, desenhar ou fazer
movimentos básicos de ginástica.
 Resistência à leitura.
 Dificuldades excessivas com jogos de rimas ou os chamados “trava-línguas”.
 Dificuldades em manusear e interpretar mapas.

Mitos sobre dislexia


Compreender a dislexia sem preconceitos ou limitações é algo que vem acontecendo
aos poucos, especialmente nos ambientes escolares. Por isso mesmo, ainda existem
alguns mitos sobre o assunto, que acabam prejudicando crianças e aterrorizando pais e
professores. Para esclarecê-los de uma vez por todas, vale a pena lembrar que:

 Dislexia não é doença. É um transtorno de aprendizagem que demanda novas


formas de ensinar e aprender.
 Se meu filho ou filha tem dislexia, não significa que não é inteligente. Além de
cruel, esse é um enorme erro. Cientificamente falando, pessoas com esse
transtorno de aprendizagem muitas vezes têm um Q.I acima da média. Se o seu
filho foi diagnosticado com dislexia, saiba que é inteligente e capaz como
qualquer outra criança de sua idade!
DISLEXIA FONOLÓGICA E LEXICAL

A dislexia fonológica é caracterizada por incapacidade de decodificação


fonológica grave, manifestada por desempenho muito ruim na leitura de estímulos não
familiares e palavras inventadas ou pseudopalavras (palavras formadas por combinação
de sons e letras, mas que não existem no léxico de uma língua). Crianças com dislexia
fonológica do desenvolvimento apresentam dificuldades em tarefas de memória de curto
prazo fonológica e consciência fonológica. Na leitura elas baseiam-se maciçamente no
reconhecimento da palavra inteira (leitura lexical), tendo em vista que possuem
dificuldades na conversão grafema-fonema. Sendo assim, os disléxicos fonológicos, por
realizarem a leitura pela rota lexical, cometerão erros em que farão a troca de palavras
pouco familiares por outras semelhantes, de maior frequência. Além disso, transformam
palavras inventadas em palavras reais12, ou seja, cometem lexicalizações.

Quanto à dislexia de superfície (lexical), as pessoas com esse tipo de dislexia


apresentam pouca capacidade na leitura pela rota lexical. Baseiam-se nos procedimentos
fonológicos de conversão de grafemas em fonemas, quando da leitura em voz alta.
Portanto, leem com maior precisão as palavras regulares e tendem a regularizar as
demais. As dificuldades residem na operação da rota lexical (preservada ou
relativamente preservada a rota fonológica), afetando fortemente a leitura de palavras
irregulares. Nesses casos, os disléxicos leem lentamente, vacilando e errando com
frequência, pois tornam-se escravos da rota fonológica, que é morosa em seu
funcionamento. Diante disso, os erros habituais são silabações, repetições e retificações,
e, quando pressionados a ler rapidamente, cometem substituições e lexicalizações; às
vezes, situam incorretamente o acento prosódico das palavras.

A dislexia mista, os disléxicos apresentam problemas para operar tanto com a


rota fonológica quanto com a lexical. São, assim, situações mais graves e exigem um
esforço ainda maior para atenuar o comprometimento das vias de acesso ao léxico
(vocabulário).*

DISORTOGRAFIA E CLASSIFICAÇÃO DOS DA ESCRITA

A disortografia enquanto manifestação de alteração no processamento


fonológico e ortográfico decorrente de condições determinadas genética e
neurologicamente, como os transtornos de aprendizagem específico (dislexia do
desenvolvimento) e global (distúrbio de aprendizagem).

As características da disortografia fazem parte do processo de apropriação do


sistema ortográfico da língua, mas são superadas ao longo da escolarização. No caso de
crianças com disortografia decorrente do quadro de transtorno de aprendizagem, essas
características não desaparecem com a progressão da escolaridade, mostrando-se
persistentes 

A caracterização da disortografia se dá pela dificuldade em fixar as formas


ortográficas das palavras, apresentando como sintomas típicos a substituição, omissão e
inversão de grafemas, alteração na segmentação de palavras, persistência do apoio da
oralidade na escrita e dificuldade na produção de textos .

A disortografia é a escrita incorreta, com erros e substituições de grafemas,


alteração atribuída às dificuldades no mecanismo de conversão letra-som que interferem
nas funções auditivas superiores e nas habilidades linguístico-perceptivas .

A disortografia é parte do quadro da dislexia do desenvolvimento. As crianças


que apresentam dislexia do desenvolvimento possuem o sistema fonológico deficiente,
ocasionando alterações na conversão letra-som. Assim, a correspondência letra-som não
consegue ser armazenada provocando leitura e escrita lenta, confusão entre palavras
similares tanto na leitura como na escrita e alteração na compreensão da leitura e escrita
ineficiente

CARACTERÍSTICAS DA DISCALCULIA DO DESENVOLVIMENTO

A Discalculia do Desenvolvimento é um transtorno específico de aprendizagem


caracterizado pela dificuldade persistente e inesperada da aprendizagem da matemática.
Os termos persistente e inesperado nos apontam que o quadro tem uma origem
neurobiológica, não podendo ser explicado por déficits intelectuais ou sensoriais,
práticas pedagógicas ineficientes ou fatores socioeconômicos. Apesar de ser menos
conhecida que a dislexia, o transtorno de aprendizagem da leitura, a discalculia tem uma
prevalência semelhante. Um estudo do ano de 2016 revela que as taxas no Brasil em
escolas públicas são de 7.8% da população em idade escolar.

As principais características que os indivíduos com este transtorno apresentam


são déficits na representação e manipulação de numerosidade ou magnitudes,
dificuldade de memorização dos fatos aritméticos, além de dificuldades na compreensão
e aplicação de conceitos e procedimentos matemáticos. Adicionalmente, encontramos
com frequência em crianças com discalculia do desenvolvimento transtornos de
ansiedade, uma baixa autoeficácia para aprendizagem e problemas de comportamento.

Em relação aos aspectos cognitivos, os mecanismos subjacentes às dificuldades


de aprendizagem da matemática podem se associar a domínios específicos (senso
numérico) ou a domínios gerais, como memória operacional, habilidades visuoespaciais
ou mesmo ao processamento fonológico, que é primariamente associada à
aprendizagem da leitura e da escrita. O senso numérico pode ser definido como a
habilidade de representar e manipular magnitudes não-simbólicas. Tais habilidades são
inatas, aproximadas e seguem leis de processamento mental (leis psicofísicas). Embora
os estudos sobre o senso numérico sejam recentes, já existe uma gama de evidências
provindas de crianças com desenvolvimento típico e com discalculia que mostram a
relação entre este domínio cognitivo e a aprendizagem da matemática. Já a relação dos
domínios gerais com as dificuldades na matemática se associam a habilidades
específicas desta disciplina. Por exemplo, déficits nas habilidades visuoespaciais
impactam a aprendizagem da geometria e cálculos multidigitais, mas não nas
habilidades de contagem, memorização da tabuada de multiplicação e comparação de
quantidades.
A natureza persistente das dificuldades e as exigências crescentes de um mundo
contemporâneo cada vez mais dependente das habilidades STEM (ciência, tecnologia,
engenharia e matemática) contribuem para tornar o transtorno de aprendizagem da
matemática altamente incapacitante, principalmente do ponto de vista da qualificação
profissional e renda. Nesse sentido, a discalculia do desenvolvimento representa um
importante problema de saúde pública, dada sua natureza crônica e o impacto negativo
sobre diversos desfechos médicos e psicossociais, além de problemas psiquiátricos,
baixos salários e evasão escolar.

Considerando a complexidade da discalculia do desenvolvimento, a triagem e


diagnóstico corretos e precoces das crianças são extremamente importantes, permitindo
um planejamento mais adequado de intervenções neuropsicológicas e educacionais mais

eficazes. A utilização de evidências científicas é de crucial importância para as


práxis de profissionais que atendem este público com o intuito de garantir
intervenções adequadas e, em um sentido mais amplo, direcionar a alocação
de recursos públicos em programas e políticas eficientes.

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