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Teoria da Comunicação

Manual do Curso de Licenciatura em Comunicação Aplicada ao Jornalismo e


Marketiing

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO

1
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contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
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Website: www.isced.ac.mz

2
Agradecimentos
O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos
seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor MSc. Pinto Francisco Impito

Coordenação Direcção Académica

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)

Revisão Científica e PhD Jacinto Cipriano Banze Júnior


Linguística dra. Sheila D. C. Valegy Daudo
Ano de Publicação
2019
Local de Publicação
ISCED – BEIRA

Índice

3
I- Visão geral ......................................................................... Erro! Marcador não definido.
Conteúdos de apresentação modular ..................................................................................... i
Bem-vindo ao Módulo de Teorias da Comunicação. ................ Erro! Marcador não definido.
Objectivos da Disciplina/ Módulo ............................................................................................ i
Resultados esperados .............................................................................................................. i
Público-alvo..............................................................................................................................ii
Estrutura do Módulo ................................................................................................................ii
Conteúdo desta Disciplina / módulo .......................................................................................ii
Outros recursos ......................................................................................................................ii
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação ................................................................................iii
Ícone de actividade .................................................................................................................iii
Habilidades de estudo ............................................................................................................iii
Precisa de apoio? .....................................................................................................................v
Tarefas (avaliação e auto-avaliação).......................................................................................vi
Avaliação ................................................................................................................................ vii
Introdução............................................................................................................................... 1
TEMA 1: O PODER DOS MÍDIAS: MITOS E REALIDADE ............................................................. 3
Unidade temática 1: O Poder dos mídias ............................................................................... 4
1.1 Aparato histórico .............................................................................................................. 4
1.1.1 O Quarto Poder ........................................................................................................... 8
1.1.2 O Quinto Poder ......................................................................................................... 10
1.4 Grelha de correcção ........................................................................................................ 13
Unidade temática 2: Mito ou Realidade ............................................................................... 14
2.1 Mito ou Realidade nas mídias ......................................................................................... 14
2.1.1 Princípio da realidade nas mídia .................................................................................. 14
2.1.2 Padrão de ocultação .................................................................................................... 16
2.1 3 Padrão de Fragmentação ............................................................................................. 16
2.1.4 Padrão de Inversão ...................................................................................................... 16
2.1.5 Padrão da Indução ....................................................................................................... 17
2.1.6 Objectividade e Subjectividade ................................................................................... 18
2.1.7 Mitos de informação vs. Mitos de visibilidade ............................................................ 21
2.1.7.1 Mito de informação .................................................................................................. 21
2.1.7.2 Mito de visibilidade ................................................................................................... 22
2.2 Actividade de Auto-avaliação ......................................................................................... 23
2.1.11 Grelha de correcção ................................................................................................... 24
Unidade temática 3: O Poder das Mídias na Contemporaneidade ...................................... 25
a) Semiolinguística. ........................................................................................................... 26
b) Socioantropológica ....................................................................................................... 28
c) Dimensão técnico-tecnológica...................................................................................... 29
3.2 Actividade de Avaliação .................................................................................................. 32
3.3 Grelha de correcção ........................................................................................................ 34
3.4 Actividade Temática Geral .............................................................................................. 35

4
3.5 Grelha de correcção ........................................................................................................ 36
3.6 Referência Bibliográfica .................................................................................................. 37
TEMA 2: O OBJECTO DA CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO ........................................................... 39
Unidade temática 1: Estudos da comunicação ..................................................................... 40
d) Dois pontos de vista epistémicos: Comunicação material e formal............................. 42
1.2 Actividade de Avaliação .................................................................................................. 45
1.3 Grelha de correcção ........................................................................................................ 47
Unidade temática 2: O Objecto da Comunicação ................................................................. 48
2.1 E o objecto de estudo da ciência de comunicação! Como defini-lo? ....................... 50
2.2 Actividade de Auto-avaliação ......................................................................................... 52
2.3 Actividade de Avaliação .................................................................................................. 52
2.4 Grelha de correcção ........................................................................................................ 54
2.5 Actividade Temática Geral .............................................................................................. 55
2.6 Grelha de correcção ........................................................................................................ 56
2.7 Referência Bibliográfica .................................................................................................. 57
TEMA 3: AS PESQUISAS EMPÍRICAS NORTE-AMERICANAS .................................................... 58
Unidade temática 1: Pesquisas empíricas norte-americanas............................................... 58
1.0 Dissemelhança ................................................................................................................ 58
1.1 Engendro da pesquisa empírica ................................................................................ 60
1.1.1 Modelo de Lasswell (1948) ....................................................................................... 61
1.1.2 Modelo do fluxo de comunicação em dois tempos (1944) ...................................... 64
1.1.3 Teoria Matemática da Comunicação, ou modelo de Shannon e Weaver (1949) .... 67
1.4 Grelha de correcção ........................................................................................................ 72
1.5 Actividade Temática Geral .............................................................................................. 72
1.6 Grelha de correcção ........................................................................................................ 74
1.7 Referência Bibliográfica .................................................................................................. 75
TEMA 4: A CORRENTE CRÍTICA DA COMUNICAÇÃO .............................................................. 76
Unidade temática 1: Iniciação crítica às Ciências de Informação e de Comunicação .......... 76
1.1 Crítica de Mattelard .................................................................................................. 78
1.4 Grelha de correcção ........................................................................................................ 84
Unidade temática 2: Correntes teórico-críticas da Comunicação ........................................ 85
2.1 Escola funcionalista ......................................................................................................... 85
2.2 A Escola de Frankfurt ................................................................................................ 87
2.3 Estruturalismo ........................................................................................................... 89
2.4 A Teoria da Informação............................................................................................. 90
2.5 Marshall McLuhan e a ênfase aos meios .................................................................. 92
2.6. Os estudos centrados na recepção ................................................................................ 94
2.6 Paradigma das mediações ........................................................................................ 96
2.10 Grelha de correcção .................................................................................................... 101
2.12 Grelha de correcção .................................................................................................... 104
2.13 Referência Bibliográfica .............................................................................................. 105
TEMA 5: COMUNICAÇÃO E CULTURA: AS DINÂMICAS DA RECEPÇÃO .................................. 106

5
Unidade temática 1: Relação Comunicação e Cultura........................................................ 106
Perspectiva 1 ....................................................................................................................... 108
Em primeiro lugar: identidade e alteridade........................................................................ 112
Em Segundo lugar: sagrado e profano ............................................................................... 112
1.2 Actividade de Avaliação ................................................................................................ 114
1.3 Grelha de correcção ...................................................................................................... 116
Unidade temática 2: Dinâmica de Recepção ...................................................................... 117
2.1 Teoria de recepção ....................................................................................................... 118
2.2 Processo de recepção ................................................................................................... 123
2.3 Recepção em mídias digitais (Web 3.0) ........................................................................ 127
2.6 Grelha de correcção ...................................................................................................... 134
2.7 Actividade Temática Geral ............................................................................................ 135
2.8 Grelha de correcção ...................................................................................................... 137
2.9 Referência Bibliográfica ................................................................................................ 138
TEMA 6: OS ESTUDOS E TEORIAS DE JORNALISMO ............................................................. 139
Unidade temática 1: Aparato histórico............................................................................... 139
1.2 Actividade de Avaliação ................................................................................................ 144
1.3 Grelha de correcção ...................................................................................................... 146
Unidade temática 2: Teorias do jornalismo ........................................................................ 147
2.1 Teoria do espelho ......................................................................................................... 147
2.2 Teoria do Gatekeeper ................................................................................................... 148
2.3 Teoria organizacional .................................................................................................... 149
2.4 Newsmaking, Responsabilidade Social, Agendamento ................................................ 149
2.5 Instrumentalistas e Definidores Primários ................................................................... 152
2.6 Teoria Unificadora .................................................................................................. 153
2.7 Teoria Multifactorial da Notícia .............................................................................. 154
2.8 Teoria de acção política .......................................................................................... 156
2.9 Teoria etnoconstrucionista ou interacionista ......................................................... 156
2.10 Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista) ............................................ 158
2.11 Actividade de Auto-avaliação ..................................................................................... 160
2.13 Grelha de correcção .................................................................................................... 163
2.14 Actividade Temática Geral .......................................................................................... 164
2.15 Grelha de correcção .................................................................................................... 166
2.16 Referência Bibliográfica ............................................................................................. 167
2.17 Referências imagéticas gerais ..................................................................................... 168
2.18 Actividade de Preparação para Exame ....................................................................... 169
2.19 Grelha de correcção .................................................................................................... 177
Algum tempo depois do advento da imprensa, a mesma vem sendo utilizado como: ..... 178
A invenção da imprensa coincide com a criação das nações e do estado moderno com
exercício de poder também: ............................................................................................... 178
A luz de Thompson (2004), a reprodutibilidade conduziu a mercantilização de conteúdos:
............................................................................................................................................. 178
Segundo Nelson W. Sodré (2000) a história da imprensa é: .............................................. 178

6
A imprensa assume o poder mediante o seu envolvimento com: ..................................... 178
6. A realidade, valor, respostas, legitimidade e densidade, são palavras-chaves que
definem: .............................................................................................................................. 178
7. A relação que existe entre a imprensa e a realidade é parecida com a que existe
entre:................................................................................................................................... 178
2.20 Grelha de correcção .................................................................................................... 185

7
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Visão geral
_____________________________________________
Bem-vindo ao Módulo de Teorias da Comunicação

Conteúdos de apresentação modular

Benvindo ao Modulo de Teorias da Comunicação


Objectivos da Disciplina/ Módulo
Resultados esperados
Público-alvo
Estrutura do Módulo
Conteúdo desta Disciplina / módulo
Outros recursos
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação
Ícone de Actividade
Habilidades de estudo
Precisa de apoio?
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)
Avaliação

Objectivos da Disciplina/ Módulo


Constituem os objectivos deste módulo:

• Distinguir as diversas correntes teóricas da comunicação;


● Aplicar os princípios das diversas correntes teóricas aos factos mediáticos
reais;
● Criticar a realidade mediática em função das teorias da comunicação;
● Fazer análises comparativas de teorias da comunicação;
● Interpretar os fenómenos sociais, culturais, económicos e políticos com
recurso a argumentos do domínio das teorias da comunicação.

Resultados esperados
Espera-se que o estudante:
o Seja capaz de conhecer as diferentes correntes de
comunicação;
o Saiba diferenciar um mito de uma realidade jornalística
o Saiba resumir em termos epistémicos a problemática da
recepção na comunicação, teorias jornalísticas e mais.

i
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Público-alvo
O presente Módulo foi concebido para estudantes do
1º ano do curso de licenciatura em Comunicação Aplicada ao
Jornalismo e Marketing ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que
haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa matéria, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderão adquirir o
manual.

Estrutura do Módulo
O presente módulo está estruturado da seguinte maneira:
• Conteúdos de apresentação modular
• Abordagem geral dos conteúdos do módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa para conhecer as teorias de
comunicação. Recomendamos vivamente que leia bem a
apresentação modular antes de começar o seu estudo, para
melhor se informar a cerca do módulo.

Conteúdo desta Disciplina / módulo


Este módulo está estruturado em temas. Cada tema,
comporta certo número de unidades temáticas ou
simplesmente unidades, cada unidade temática caracteriza-se
por conter um título específico, seguido dos seus respectivos
subtítulos.
No final de cada unidade temática, são propostos 5 exercícios
de avaliação e 10 de auto-avaliação; e no fim do próprio tema,
são incorporados 10 exercícios fechados.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características:


autênticos exercícios Teóricos/Práticos;

Outros recursos
A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED,
pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto
Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo
de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos
adicionais ao seu módulo para você explorar. Posto isto, o

ii
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos


mais material de estudos relacionado com o seu curso como:
Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode
ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda
as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação


As tarefas de auto-avaliação para este módulo
encontram-se no final de cada unidade temática e de cada
tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam
duas características: primeiro apresentam exercícios
resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram
apenas respostas
As tarefas de avaliação neste módulo também se
encontram no final de cada unidade temática, assim como no
fim do módulo em si, e, devem ser semelhantes às de auto-
avaliação, mas sem mostrar os passos e devem obedecer o
grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem,
umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será
objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos
tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente atribuição de uma nota. Também constará
do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer
todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem

Ícone de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar um só ícone na
margem esquerda dos exercícios de avaliação e auto-
avaliação. Este ícone representa reflexão, isto é, um gesto de
consolidação da matéria depois dela ter sido estudada.

Habilidades de estudo
O principal objectivo deste campo é o de ensinar
aprender a aprender. Aprender aprende-se.
Durante a formação e desenvolvimento de competências, para
facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados,
implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os
bons resultados apenas se conseguem com estratégias

iii
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

eficientes e eficazes. Por isso, é importante saber como, onde


e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as
quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o
tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º - Praticar a leitura. Aprender à distância exige alto domínio


de leitura.
2º - Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).
3º - Voltar a fazer a leitura, desta vez para a compreensão e
assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).
4º - Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a
sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o
padrão.
5º - Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades
práticas ou as de estudo de caso, se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-


tempo, respectivamente como, onde e quando estudar, como
foi referido no início deste item, antes de organizar os seus
momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que
seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo
melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido
estudado durante um determinado período de tempo; deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só a
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.
Privilegia-se saber bem (com profundidade)
o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo
superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao
agradável: saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos


estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar
por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze)
minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de

iv
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

actividades). Ou seja, que durante o intervalo não se continuar


a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao


trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito
contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o
estudante acumula um elevado volume de trabalho, em
termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência
entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao
perceber que estuda tanto, mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!
Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma
avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a
questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida,
sobretudo, estude pensando na sua utilidade como futuro
profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua
agenda um horário onde define a que horas e que matérias
deve estudar durante a semana; face ao tempo livre que resta,
deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto
tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um


texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas
matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas
margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja
mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas,
nomes, pode também utilizar a margem para colocar
comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor
altura para sublinhar é imediatamente a seguir à
compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar.

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por
outra razão, o material de estudos impresso, pode suscitar-lhe
algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de
concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza,

v
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc.). Nestes


casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao
estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, SMS,
E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e
seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de
monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e
sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino à Distância
(EAD), onde o recurso às TIC se tornam incontornável: entre
estudante, estudante – tutor, estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em
que caro estudante, tem a oportunidade de interagir
fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da
equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as suas
sessões presenciais. Neste período, pode apresentar dúvidas,
tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar
cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é de muita
importância na medida em que permite-lhe situar, em termos
do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas.
Desta maneira fica a saber se precisa de apoio ou precisa de
apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos
relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos
diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


O estudante deve realizar todas as tarefas
(actividades avaliação e auto−avaliação), contudo nem todas
deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas.
As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das
sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos
de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega,
implica a não classificação do estudante. Tenha sempre
presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva
para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.

vi
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro


de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao
tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e
materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser
devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plágio 1 é uma violação do direito


intelectual do (s) autor (es). Uma transcrição à letra de mais de
8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é
considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o
respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização
dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação
Muitos perguntam: como é possível avaliar
estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e
muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: sim é muito
possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à
distância que contam com um mínimo de 90% do total de
tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo.
Quanto ao tempo de contacto presencial, conta com um
máximo de 10% do total de tempo do módulo. A avaliação do
estudante consta de forma detalhada do regulamento de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados,
durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e
servem para a nota de frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira,
disciplina ou módulo e decorrem durante as sessões
presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que
adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima
de conclusão da cadeira.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas,
sem prévia autorização.

vii
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Nesta cadeira o estudante deverá realizar


pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e
reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação
formativa.
Durante a realização das avaliações, os
estudantes devem ter em consideração a apresentação, a
coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de
conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das
referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do
autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do
Regulamento de Avaliação.

viii
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Introdução
O presente Módulo insere-se na disciplina de Teorias de
Comunicação, referente ao curso de Comunicação Aplicada ao
Jornalismo e Marketing, cujo objectivo é, por um lado, abordar de
forma linear as teorias de comunicação, e por outro lado,
apresentar em paralelo a problemática sincrónica que acompanha
as mesmas teorias desde os primórdios da sua aplicação no
entanto que epistémicas, obedecendo a seguinte sequência
temática, a saber:

1. Poder das mídias: mitos e realidade;


2. Objecto da Ciência da Comunicação;
3. As pesquisas empíricas norte-americanas;
4. Comunicação e cultura: as dinâmicas da recepção;
5. Os estudos e teorias de Jornalismo.

São várias as questões colocadas na actualidade em torno


do campo jornalístico, e este já foi objecto de diversos estudos
que culminaram com a produção de uma vasta literatura
constituída por milhares de livros e artigos que ocupariam
estantes em quaisquer bibliotecas. Em particular, o estudo do
jornalismo constitui um campo científico com já longas tradições
que chegam a pré-datar a criação dos cursos de mestrados e
doutoramentos nos anos 30 do século XX nos Estados Unidos.

É possível esboçar hoje a existência de várias teorias


jornalísticas que tentam responder a pergunta de Traquina
(2005), sobre a qual “porque as notícias são como são”,
reconhecendo o facto de que a utilização do termo “teoria” é
discutível, porque pode também significar uma explicação
interessante e plausível, e não um conjunto elaborado e
interligado de princípios e proposições

Consta no primeiro tema do presente módulo o grande


campo epistemológico do mito e a verdade nas mídias,
acompanhado de várias bases teóricas que os sustenta. Expor-se-
ia conteúdos relacionados com o objecto de estudo das ciências
de comunicação, objecto este que até certo ponto constitui uma
insolúvel problemática, facto justificado pela sua
interdisciplinaridade no campo de aplicação. As pesquisas
empíricas e a dinâmica da recepção, são dois campos epistémicos
também em discussão no presente módulo, que irá culminar com

1
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

a apresentação superficial senão exaustiva os estudos das teorias


do jornalismo.

Feita a apresentação resumida dos conteúdos, resta-nos


referir que o presente módulo contem temáticas onde são
discriminados os conteúdos micros que advém dos macros,
enquanto conteúdos mãe apresentado em cada tema.

2
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA I: O PODER DOS MÍDIAS: MITOS E REALIDADE


Unidade temática 1: O Poder dos mídias
Unidade temática 2: Mito ou Realidade
Unidade temática 3: O Poder das Mídias na Contemporaneidade

Introdução
O presente Tema analisa com uma certa profundidade três
pontos essenciais, a saber:

• O poder das Mídias


• Mito e realidade
• O poder das Mídias na contemporaneidade

O Tema inicia com o contar de histórias como base para


compreensão de todo um processo que engloba os poderes
midiáticos, princípios de concepções de teóricas sobre a
realidade e a subjectividade nas mídias, sem deixar de lado os
padrões que os caracterizam nos seus devidos campos de
actuação. O objectivo geral do presente tema recai por um lado,
no entender do desenrolar histórico dessas teorias nas suas
dimensões sincrónica e diacrónica, e por outro lado, permite-nos
perceber até que ponto o espelhar das mídias neste quinto
poder constitua o produto transformado e erradicado daquilo
que estas eram no passado.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Entender processo histórico da imprensa.
• Estabelecer a diferença entre os poderes midiáticos estudados.
• Compreender a manifestação de um mito em detrimento de uma
realidade nas mídias.

3
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Unidade temática 1: O Poder dos mídias


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Introdução
1.1 Aparato histórico

Após o nascimento da imprensa, a luz de Luís Gonzaga


Motta, diminuiu o uso da força para o exercício e a conquista do
poder. A imprensa passou a ser um instrumento nas mãos do
poder e ganhou muito com isso, tanto que hoje, nas democracias
liberais, ostenta o título de quarto poder – autónomo, logo após
do Executivo, Judiciário e do Legislativo, exercido em favor do
povo, que através dos anos elegeu a imprensa como seus olhos
para fiscalizar aqueles que comandam a sociedade.

Por se definir como poder paralelo, a imprensa acabou se


tornando um elemento fundamental na construção de
imaginários sociais e na construção daquilo que se compreende
como realidade. Diante dessa situação, a imprensa torna-se
essencial em qualquer projecto de formação de ideologias e de
chegada ao poder. Para atingir a política como fim, espaço público
por excelência, é fundamental passar pelo crivo da imprensa, seja
conquistando sua simpatia ou produzindo factos jornalísticos que
coloquem o político em evidência.

Desde que Johann Gutenberg, em 1440, inventou a


tipografia e permitiu a impressão em massa, a impressa vem
sendo utilizada pelo poder. A invenção da imprensa, de facto,
coincide com a criação das nações e do Estado moderno e com o
exercício do poder não apenas de forma coercitiva, pelo uso da
força, mas por meio de formas mais subtis de coerção e de
persuasão. A partir daí a imprensa sempre esteve ligada à luta
política.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Fonte: google: Impressão gráfica de Gutemberg

Como todas as invenções, a de Gutemberg resultou da


necessidade social, gerada pelo desenvolvimento histórico e que
estava atrelada à ascensão da burguesia em seu prelúdio
mercantilista. Naquela época o desenvolvimento da imprensa foi
lento, porque a troca de informações interessava apenas às
pessoas que tinham recursos financeiros, e foi facilmente
controlada pelas autoridades governamentais.

Para o teórico John Thompson (2004), a reprodutibilidade


conduziu a mercantilização dos conteúdos simbólicos. A
valorização económica dos bens simbólicos, “a indústria de
notícias‟, que cresceria gradualmente com o aumento do número
de leitores (e consequente aumento da produtividade), num
primeiro momento e o crescimento do papel das propagandas em
seguida, desencadeou na forte exploração comercial dos meios de
comunicação.

Segundo o historiador Nelson Werneck Sodré (1977), a


história da imprensa é a própria história do desenvolvimento da
sociedade capitalista. E há muitas razões que explicam essa
premissa. Uma delas é que o controle dos meios de difusão de
ideias e de informações sempre foi uma luta da sociedade. Outro
factor foi a influência que a difusão impressa exerce sobre o
comportamento da massa e dos indivíduos.

A partir do momento que a imprensa passou a seguir o


dinheiro e não a ética, sua vigilância ficou totalmente
comprometida com o poder ou com os interesses empresariais.
Apesar disto, não deixou de adoptar o papel, que teoricamente
pertence ao poder Judiciário, de tribunal, onde ela julga, acusa,
condena e absolve. Nesse sentido, a imprensa desenvolve o poder
de alterar a realidade, pois, através das normas e valor
jornalístico, consegue elaborar várias opiniões sobre homens e
factos.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Quando os jornais começaram um processo de


modernização da imprensa, na década de 1950, das técnicas
jornalísticas e dos aspectos gráficos, com o objectivo de afastar as
polémicas políticas, também iniciaram uma luta pela autonomia. E
se os jornalistas de hoje usufruem certo poder, tenha a certeza de
que ele é uma conquista de décadas. Segundo Marialva Barbosa
(1996), muitos veículos no início do século XX, os quais apelavam
para as ideias de objectividade e de imparcialidade, já defendiam
o uso das técnicas de hoje para contribuir na construção de sua
auto-imagem.

Os periódicos da época, nas mediações do século XX,


tinham seus espaços definidos e se estabeleciam como
defensores de alguma causa, nem que esta fosse o cofre cheio de
dinheiro público. As alianças políticas normalmente eram bem
definidas, mas havia jornais que só estavam do lado de quem
estivesse na frente do poder. Apesar de não muito honesto era
esse tipo de jornalismo que imperava e o que o público esperava
consumir.

O jornalismo norte-americano criou, por exemplo, o lead,


e essa técnica jornalística está, hoje, plenamente incorporada à
imprensa global. Nesse âmbito, outras nações passaram a adoptar
uma conduta igual a dos jornais norte-americanos e abandonaram
o conceito de serem instrumentos da política. Essa mudança não
foi rápida e instantânea, ela foi amplamente negociada e aos
poucos sendo incorporada como algo natural, constituindo-se
num campo de técnicas personalizadas. Com essa moda de não
ser mais instrumentos da política, os jornais ficaram pequenos
para discursos agressivos. Essa linha política que não criticava às
claras foi substituída por um tipo de imparcialidade que criticava
sim, mas de maneira indirecta. O poder passou a ser subtil, ou
seja, imperceptível. Como explica Pierre Bourdieu (1989), o poder
explícito passou a ser simbólico fantasiado de imparcialidade e
objectividade.

É importante referir que um aspecto básico da


comunicação é o poder. E é essa relação da comunicação com o
poder, que sustenta o mundo concreto, induz o consenso e traz o
conhecimento. Bourdieu (idem) afirma ainda que à comunicação
cumpre uma função política de construir consensos, legitimar
e/ou impor a hegemonia. Conforme ele afirma, se o discurso da
comunicação é entendido como zona de conflitos e disputas,

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

pode-se compreender que essa disputa acontece pelo poder ou


por sua manutenção.

Na polémica sobre o impacto ou poder exercido pela mídia


sobre os sujeitos, podemos distinguir duas posturas distintas, a
saber:
✓ afirmar a capacidade absoluta da mídia em impor, controlar,
homogeneizar cultura e absoluta manipulação dos sujeitos.
(Shiller , 1993);
✓ focaliza sua atenção no poder dos sujeitos, capazes de resistir e
subverter este poder. (Methuen, 1985).
Contrapondo-se a estas posições talvez fosse possível
trabalhar esta dificuldade de localizar o poder na mídia ou no
sujeito, com o conceito de poder de Foucault (1979) enquanto um
“conceito relacional”, um campo de forças que não está situado
em um lugar específico da estrutura social mas existe sim
enquanto uma prática social ou relações sociais de poder. Olga
Guedes (s.d)

Segundo afirma Regina L.L Lustosa (2005), Os detentores


dos meios de comunicação, representantes das classes
privilegiadas, conseguem, através do instrumento que têm em
mãos, corroborar o poder desses grupos dominantes. O conteúdo
transmitido, hoje, pelos meios de comunicação é, sobretudo, feito
pela elite e para as elites. Revistas, jornais, seriados de televisão,
novelas, a maioria segue as mesmas tendências modais e carrega
o mesmo teor mercadológico. Espaço aberto para a venda, tanto
de ideologias, como de bens materiais, alcançam grande eficácia
por estarem presentes de forma marcante no quotidiano das
pessoas. Como mostra o jornalista e sociólogo Perseu Abramo
(1988), as mídias “deixam de ser instituições da sociedade civil
para se tornar instituições da sociedade política. Procuram
representar mesmo sem mandato real ou delegação explícita e
consciente, valores e interesses de segmentos da sociedade”. Quer
dizer, a produção midiática actual não está comprometida com as
necessidades da sociedade como um todo, e sim de um grupo
privilegiado que impõe a manutenção das estruturas de poder e
dominação.

A mídia, que com o tempo chega a alcançar o status de 4º


Poder ao lado do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, vai,
então, ganhando espaço e credibilidade, e se consolida como
definidora de modelos nos tempos actuais. Capaz de estimular ou

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

intensificar acções, a mídia não apenas descreve o mundo, mas


constrói um mundo social, através desta incorporação constante
de mensagens por parte dos indivíduos, que vão, assim,
elaborando uma compreensão de si mesmos e da sociedade.

De forma breve, eis as características do 4° e 5° poder nas


mídias:

1.1.1 O Quarto Poder

O termo “Quarto Poder” foi considerado ter sido o maior


poder da nação, que tinha sido designado por um deputado do
parlamento inglês , McCaulay, que um dia apontou para a galeria
onde se sentavam os jornalistas e os apelidou o “Quarto Poder”
traduzido do inglês “fourth state”. Boorstein (1971:124).

De acordo com Albuquerque (2009), há três diferentes


concepções acerca da expressão o “quarto poder”, a saber:
✓ modelo Fourth Estate, que se refere à organização feudal entre
Clero, Nobreza e Comuns, caracterizando a imprensa como o
“quarto estado”, representante dos interesses do restante da
sociedade;
✓ modelo Fourth Branch, que remete à divisão dos poderes
executivo, legislativo e judiciário, sendo a imprensa responsável
por fiscalizá-los;
✓ modelo de Poder Moderador, mais comummente adoptado nas
pesquisas brasileiras, que também relaciona o termo à divisão
entre os três poderes, porém, considera a imprensa doptada de
um papel político activo em relação a eles.

Porem, se a origem da expressão “quarto poder” se refere


ao papel da mídia como fiscalizadora dos demais poderes, hoje,
entretanto, o poder da mídia é verificado mais fortemente na
articulação da agenda da sociedade e na influência política e
cultural que exerce na vida das pessoas. Mas, apesar do grau de
poder que detém, a mídia encontra resistência na sociedade. Essa
resistência pode ser identificada em diferentes acções de resposta
e de interacção da sociedade com a mídia, o media criticism.

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O desenvolvimento do jornalismo "independente" nos


Estados Unidos seria implausível na ausência de uma cultura
marcadamente individualista e de uni-conjunto sólido de
instituições políticas nelas baseadas (Tocqueville, 1977 Apud
Albuquerque (2009). Tais elementos fundamentam não apenas a
defesa da autonomia da imprensa em relação ao governo como
também o compromisso da imprensa com o interesse público
(Nerone, 1993 Apud Albuquerque (2009), muitas vezes descrito
como se estabelecendo nos termos de uni "Quarto Poder".

O exercício deste "Quarto Poder" não se dá no âmbito do


Estado e não se confunde com as prerrogativas dos três poderes
constitucionais. Ele se exerce, ao invés, pela publicitação dos
problemas políticos para o conjunto da sociedade. Mais
precisamente, ele implica no compromisso da imprensa com a
objectividade no tratamento das notícias (Schudson, 1978;
Soloski, 1993 Apud Albuquerque (2009), com a representação do
cidadão comum frente ao Estado (Hallin & Mancini, 1984, Apud
idem) e com o funcionamento eficiente do sistema de divisão de
poderes (Cook, 1998, Apud idem).

Os compromissos com os factos e com o interesse público


se conjugam, no jornalismo americano, no compromisso com a
objectividade. A adopção da objectividade como ideal jornalístico
implica em mais do que simplesmente a crença na necessidade de
se distinguir factos de valores. Trata-se de um processo de
institucionalização do facto jornalístico, em função do qual uma
declaração é considerada válida não simplesmente porque
corresponde ao "que realmente aconteceu", mas porque "foi
submetida a um conjunto de regras consideradas legítimas pela
comunidade profissional" (Schudson, 1978: 7).

Porém, diferentemente do que acontece entre os


cientistas, médicos ou advogados, os jornalistas não dispõem de
linguagem, método ou treinamento que lhes permitam reivindicar
o status de especialistas acerca dos assuntos sobre os quais falam
ou escrevem. Deriva daí que a construção da objectividade
jornalística se faz menos através do emprego de teorias e
métodos precisos, compartilhados pela comunidade profissional,
que pelo uso de determinadas convenções narrativas, a ênfase
em acontecimentos isolados, actores individuais e novidades, o
lead e a estrutura da pirâmide invertida, a busca do equilíbrio na
notícia, a apresentação dos "dois lados da questão", o uso de uma

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

narração em terceira pessoa (Tuchman, 1978, Schudson, 1982,


Campbell, 1991), cujo principal propósito é sublinhar o carácter
"realista" do texto noticioso, através do apagamento das suas
marcas ficcionais. (Albuquerque, 2009).

Para Pedrinho A. Guareschi (2007), quando se fala em


mídia como “quarto poder” é necessário ressaltar, de imediato,
que esse assim chamado poder pode também ser um poder
“usurpado”. Isso por que esse poder que a mídia se atribui não lhe
foi conferido pelo povo, origem do poder legítimo nas sociedades
democráticas. A mídia se arrogou esse poder por conta própria,
sem levar em conta a população, mas baseada apenas em sua
força económica, política e ideológica. Ninguém conferiu esse
poder a ela. Pode haver aqui, portanto, um equívoco ao se falar
em poder.

Pode dar-se o facto de que estejamos sob a ditadura de


um poder usurpado. E quem detém o poder da mídia tem
também o poder de decidir sobre a organização dessas
sociedades.

1.1.2 O Quinto Poder

A luz de Christofoletti (2008, p. 78) a função do “quinto


poder” está relacionada com os papéis do jornalista, do
consumidor da informação e do crítico da mídia com os actos de
olhar, ver e observar. Segundo o autor, o papel do jornalista se
refere ao olhar: “olhar é fitar, mirar, contemplar, sondar, cuidar,
ponderar, admirar, julgar, estudar, apreender o mundo, encarar,
pesquisar, examinar, captar, receber, ler o mundo, constituindo
assim uma forma de compreensão. O que quer dizer que o
jornalista empresta o seu olhar ao público, repassando a ele sua
visão do mundo, sempre motivado pelas características
fundamentais do jornalismo, como por exemplo: a actualidade, a
variedade, a interpretação, a periodicidade, a popularidade e a
promoção.

Já o público possui um olhar mais passivo, lê os meios de


comunicação a partir do olhar dos jornalistas, ou seja, a leitura
acontece sempre de maneira mediada, o que só se torna um
problema na medida em que ele acolhe ilimitadamente os
produtos midiáticos. A análise dessa tradução da realidade é uma
das funções dos observatórios da mídia, aqueles que adoptam

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

para si o verbo mais analítico das funções visuais: o observar,


caracterizado como uma leitura muito mais crítica dos factos
mediados pelos meios de comunicação.

Pedrinho A. Guareschi (2007), acredita que, contra o


quarto poder, que segundo ele é dominador e antidemocrático,
emerge urgentemente um novo poder, esse sim democrático e
popular, das ONGs, das organizações de base, das associações
populares, uma imprensa popular e alternativa, rádios e TVs
comunitárias, uma mídia que seja do povo, feita pelo povo, para o
povo.

É o que se pode chamar de “quinto poder”, expressão


criada por Roger Silverstone (2004). Ao contrário do tipo de poder
vigente agora, esse sim, seria um poder verdadeiro porque é
democrático, legitimado pela população, com o objectivo de
fiscalizar, monitorar, denunciar e confrontar esse quarto poder. É
sobre a possibilidade e a necessidade de organização desse quinto
poder que passamos a reflectir em seguida.

Guareschi (ibib), alerta para um fenómeno curioso, que


poderia se chamar de roubo, ou apropriação, de uma
representação social altamente legítima e louvável, que é
ancorada, pela mídia dominante, a uma prática completamente
oposta à preconizada. O autor refere-se à questão da liberdade de
imprensa e da censura. Na imaginação popular nada mais nobre e
saudável do que a liberdade de imprensa; e nada mais deplorável
e injusto do que a censura. Os meios de comunicação,
principalmente a imprensa, durante vários séculos exerceram um
papel importante na denúncia dos abusos do poder, dos atropelos
e discriminações de muitos governos e sociedades autoritárias. A
história da imprensa foi, até certo ponto, marcada por essas lutas
em prol da democracia e da liberdade de expressão de todos os
cidadãos.

Em suma, foi a partir dessas práticas que o conceito ou a


representação social da liberdade de imprensa, por um lado, e o
exercício da censura, por outro, foram assumindo conotações
valorativas.

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Sumário
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1.2 Actividade de Auto-avaliação


1. Diga como é que a imprensa vem sendo utilizado logo depois do
se advento? Vem sendo utilizado como poder
Criação das nações e do estado moderno2. Diga com o que coincide a invenção da imprensa.
3. A luz de Thompson (2004), que conteúdo a reprodutibilidade
conduziu no acto da mercantilização? Simbólico
4. da
história da imprensa é a própria história do desenvolvimento Defina a imprensa segundo Nelson W. Sodré (2000).
sociedade capitalista.
5. Diga qual é o envolvimento com o qual a imprensa assume o
poder. o dinheiro

1.3 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Os periódicos dos meados do século XX se auto-designavam:


A. Jornal do povo B. Autónomos C. Defensores de
alguma causa D. Nenhum

2. O processo de modernização da imprensa começa em


simultâneo com:
A. Guerra de poder B. Luta pela autonomia C. A política
B. O capitalismo

3. O processo de modernização da imprensa começa precisamente


em :
A. 1950 B. 1980 C. 1999
D. 1960

4. A palavra “lead” foi criada por:


A. Chineses B. Belgas C. Brasileiros
D. Americanos

5. O jornal deixou de ser instrumento da política, tornou-se


imparcial e o poder passou a ser:
A. Útil B. Sútil C. Controlado
D. Nenhum

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6. Uma das posturas que distingue o poder polémico exercido pela


mídia sobre o sujeito é:
A. Focalizar a sua atenção no poder do sujeito B. Firmar e resistir
o poder
C. Contrapor as posições do poder D. Homogeneizar o
poder

7. Segundo Albuquerque (2009), uma das concepções referentes ao


quarto poder é o modelo:
A. Fifth state B. Fourth estate C. Forty branch
D. Four estate

8. O que difere o quinto poder do quarto poder é:


A. O papel do jornalista B. O papel da TV C. O papel do
olhar D. Nenhum

9. O desenvolvimento do jornalismo independente nos Estados


Unidos seria implausível de uma cultura:
A. Jornalística B. Sólida C. Individualista
D. Política

10. O quarto poder implica o compromisso da imprensa com:


A. A unicidade de informação B. Objectividade no tratamento
das notícias
C. Desenvolvimento do Jornalismo D. O treinamento dos
jornalista

1.4 Grelha de correcção


Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta
1 Vem sendo utilizado como
poder
Actividade de Auto-avaliação 2 Criação das nações e do
estado moderno

3 Simbólico
4 É a própria história da
sociedade capitalista
5 O dinheiro
1 C
2 B
3 A
4 D
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Actividade de Avaliação 5 B
6 A
7 B
8 A
9 C
10 B

Unidade temática 2: Mito ou Realidade


______________________________________

Introdução
2.1 Mito ou Realidade nas mídias

A intenção de estudarmos as relações existentes entre o


mito e a mídia, parte porem de um estudo que H. Atlan (1992)
chama de “mecanismo de fabricação de sentido”, e em nosso
caso chamaríamos de criações de imaginário cultural, também
presentes nos textos da mídia. O mito é considerado ser a fonte
básica a partir da qual os textos/tramas da cultura são tecidos. E.
Morin (s.d: 92) citado por Malena S. Contrera (1966)

O jornalismo não é um discurso da realidade e sim sobre


ela, por isso é possível encontrar vários discursos sobre um
determinado evento com interpretações diferentes. É um erro
pensar que o jornalismo é um simples portador da palavra e dos
acontecimentos da realidade. É nessa confusão de identidade que
o jornalismo consegue se legitimar, assegurando seu lugar de
autoridade, como mediador “neutro” definido pelo conceito de
quarto poder, garantindo veracidade aos factos que divulga.

2.1.1 Princípio da realidade nas mídia

A comunicação, hoje, constrói a realidade? É difícil definir


o que seja realidade. Entendemos por realidade aqui o que existe,
o que tem valor, o que traz as respostas, o que legitima e dá
densidade significativa ao nosso quotidiano. Desse modo, hoje
algo passa a existir ou deixa de existir, sociologicamente falando,
se é midiado, ou não. É o que se deduz, por exemplo, de diálogos
quotidianos e rotineiros, ouvidos com muita frequência, como
quando alguém diz: Interessante, acabou a greve! E se o
interlocutor pergunta o porquê, a resposta é rápida e
convincente, como no exemplo a seguir:

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- Não se vê mais nada na TV! Não há mais nada nos jornais!

Pois é a isso que me refiro, alguma realidade, algum facto


nos dias de hoje existe, ou deixa de existir, se é ou não veiculado
pelos meios de comunicação. A mídia tem, na
contemporaneidade, o poder de instituir o que é ou não real,
existente. A segunda afirmativa é um complemento da primeira e
muito importante quando se discutem as Representações Sociais
(RS), por exemplo: a mídia não só diz o que existe e,
consequentemente, o que não existe, por não ser veiculado, mas
dá uma conotação valorativa à realidade existente. Ao dizer que
algo existe, digo, igualmente, se aquilo é bom ou ruim.

Em princípio, as realidades veiculadas pela mídia são boas


e verdadeiras, a não ser que seja dito expressamente o contrário.
O que está na mídia não é só e tudo que existe, mas contém
igualmente algo de positivo. Isso é transmitido aos ouvintes ou
telespectadores, isto é, as pessoas que aparecem na mídia são as
que existem e são importantes, dignas de respeito. Pedrinho A.
Guareschi (2017)

A relação que existe entre a imprensa e a realidade é


parecida com a que existe entre um espelho deformado e um
objecto, mas não só não é o objecto como também não é a sua
imagem, é a imagem de outro objecto que não corresponde ao
objecto real.

O público é quotidiano e sistematicamente colocado


diante de uma realidade artificial criada pela imprensa e que se
contradiz, se contrapõe e frequentemente toma conta da
realidade real que ele vive e conhece. Assim se dá a manipulação
da informação, através da manipulação da realidade. Mas não é
todo material publicado que é manipulado pela imprensa. Se isso
acontecesse, a imprensa se autodestruiria e sua importância seria
reduzida.

Essa manipulação também não é um fenómeno que ocorra


esporadicamente, se isso fosse verdade os efeitos seriam
insignificantes. A título de exemplo, a relação que se segue faz
parte de um longo estudo produzido pelo jornalista e sociólogo
Perseu Abramo (1988), que muito contribuiu para a área de
comunicação, a saber:

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2.1.2 Padrão de ocultação

Esse padrão refere-se à ausência e à presença dos factos


reais na produção da imprensa. A ocultação da realidade se dá
quando a imprensa decide o que é e o que não é um facto
jornalístico. Ou seja, não é só porque a imprensa classifica um
evento como não-jornalístico que ele não vá existir e fazer parte
do mundo real, mas com certeza vai ser ocultado do público. O
padrão jornalístico não é uma característica intrínseca do real em
si, mas da relação que o órgão de jornalismo decide estabelecer
com a realidade. Segundo Perseu (idem), nesse sentido, todos os
factos, toda realidade pode ser jornalística, e o que vai tornar
jornalístico um facto não depende das suas características reais
intrínsecas, mas sim da visão de mundo da empresa de
comunicação, ou seja, da sua linha editorial. Sendo assim todas as
pautas e matérias podem ser jornalísticas.

2.1 3 Padrão de Fragmentação

Começamos por dizer que toda realidade é fragmentada


em vários factos que se apresentam, na maioria das vezes,
desconectando-os entre si e desvinculando-os de seus
antecedentes. Esse processo, que se concretiza na elaboração do
texto ou na edição da matéria (caso seja para televisão), implica
em duas operações básicas, a saber, selecção de aspectos: apesar
do facto já ter sido previamente fragmentado algumas
particularidades são ocultadas, assim como o processo de
ocultação. Descontextualização: é a consequência da selecção de
aspecto que deixa o dado, a informação, a declaração sem o seu
significado real, para permanecer no limbo, ou receber um novo
significado diferente do real original.

2.1.4 Padrão de Inversão

Depois do facto fragmentado e descontextualizado, esse


padrão opera na reorganização das partes, na troca de lugar,
valores e até mesmo de importância. Esse modelo, que é utilizado
no processo de edição final da matéria, pode ocorrer de diversas
formas, são elas: inversão da relevância dos aspectos, da forma
pelo conteúdo, da versão pelo facto e da opinião pela informação.
A seguir citaremos as formas descritas do artigo “Significado

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político da manipulação na grande imprensa”, de Perseu:

✓ Inversão da relevância dos aspectos: o secundário é apresentado


como o principal e vice-versa; o particular pelo geral e vice-versa;
o acessório e supérfluo no lugar do importante e decisivo; o
carácter adjectivo pelo substantivo; o pitoresco, o esdrúxulo, o
detalhe, enfim, pelo essencial;

✓ Inversão da forma pelo conteúdo: o texto passa a ser mais


importante que o facto que ele reproduz; a palavra, a frase, no
lugar da informação; o tempo e o espaço da matéria
predominando sobre a clareza da explicação; o visual harmónico
sobre a veracidade ou a fidelidade, o ficcional espectaculoso
sobre a realidade;

✓ Inversão da versão pelo facto: não é o facto em si que passa a


importar, mas a versão que dele tem o órgão de imprensa, seja
essa versão originada no próprio órgão de imprensa, seja
adoptada ou aceita de alguém, da fonte das declarações e
opiniões;

✓ Inversão da opinião pela informação: a utilização sistemática e


abusiva de todos esses padrões de manipulação leva quase
inevitavelmente a outro padrão, o de substituir, inteira ou
parcialmente, a informação pela opinião. Vejam bem que não se
trata de dizer que, além da informação, o órgão de imprensa
apresenta também a opinião. Mas que o órgão de imprensa
apresenta a opinião no lugar da informação, e com a agravante de
fazer passar a opinião pela informação.

2.1.5 Padrão da Indução

O público é induzido a ver mundo com os olhos da


imprensa. Ou seja, é o resultado e, ao mesmo tempo, o impulso
final das articulações combinadas de outros padrões de
manipulação dos vários órgãos de comunicação com os quais ele
tem contacto.

As mensagens e versões publicadas na imprensa para


serem eficazes devem estar de acordo com as convicções que os
públicos praticam em seu quotidiano. Apesar disto, existe uma
minoria esclarecida que consome, mas não adopta as

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interpretações como verdade absoluta. Isso reflecte que a mídia


não tem poder ilimitado de “inventar” notícias, tampouco pode
permanecer indefinidamente infensa aos factos que por sua força,
acabam se impondo como notícia. Certos veículos tentam ocultar,
combinando o conjunto de padrões citados, ao máximo esses
factos a fim de induzir o público a consumir e compreender aquilo
que lhe interessa.

2.1.6 Objectividade e Subjectividade

A manipulação é uma característica do jornalismo em geral


ou apenas de um tipo? Seria possível fazer um jornalismo não
manipulador? A resposta a essas perguntas passa pela discussão
da objectividade e da subjectividade no jornalismo. Quando se
pensa em objectividade no jornalismo, tem-se em mente apenas
o texto, esquecendo de todo o processo de selecção da
informação contido nele.

Também é abstraído, o facto de que o jornal é formado


por elementos verbais e não-verbais que se integram para a
produção do sentido. A verdade é que o conceito de objectividade
se refere ao campo do conhecimento e não da acção como acham
as pessoas. E é justamente nesse ponto que mora a diferença
fundamental entre a objectividade e outros conceitos, não
praticados, que são apenas figurantes em todo o processo, como:
neutralidade, imparcialidade e isenção. Todos eles se referem à
categoria de comportamento moral e dizem respeito aos critérios
do fazer, do agir e do ser.

O que torna a mídia tão perigosa é a sua capacidade de


andar de mãos dadas com o Estado, enquanto vende a imagem de
“neutralidade”, “objectividade” e “democracia”. É a sua
capacidade de condicionar o imaginário, moldar percepções,
gerar consensos, criar a base psicossocial para uma operação de
grande envergadura, como a guerra. (Idem, p. 8.)

Seria bom para o profissional e para um órgão de


comunicação ter uma postura neutra, imparcial, em vez de uma
tomada de posição. Todavia, quando os acontecimentos pedem
um direccionamento como no caso de um conflito de classes, uma
votação de uma Constituição ou até mesmo um desastre
atómico? É nessa premissa que nasce a defesa do jornalismo

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contra a neutralidade diante dos factos, em constante


movimento, da realidade. Como os meios de comunicação devem
tomar a posição? O órgão de comunicação deve orientar seus
leitores/espectadores para formar sua própria opinião, ou seja,
orientar para uma acção concreta enquanto seres humanos e
cidadãos.

Baseada na ideia de imparcialidade, a objectividade


costuma ser encarada com ponto de partida para o exercício do
“bom jornalismo”. Segundo Nilson Lage (S/d), o facto descrito
através de uma linguagem clara e transparente, com a finalidade
de ajudar o público a buscar sua própria opinião, levou os
jornalistas a uma atitude de indagação e a encontrar seu próprio
ponto de equilíbrio, desenvolvendo assim, um conceito de
verdade retirado do facto como poder de convencimento.
Retornando à questão inicial sobre a possibilidade de fazer um
jornalismo objectivo. Não é só possível, mas desejável a fim de
reduzir o erro involuntário e impedir a manipulação deliberada da
realidade.

Em suma, Nair Prata (2009) afirma que não são todos os


jornalistas que resumem a responsabilidade social da imprensa
nas expressões “Consiga a reportagem. Publique-a.” Elliot (1986,
p. 117), afirma que os meios de comunicação de massa têm
responsabilidade em relação à sociedade, não importando em
qual sociedade estejam operando. Já Christians (1986) vai mais
longe e afirma que “o grande compromisso dos veículos de
informação é o de denunciar toda e qualquer forma de injustiça e
opressão”.

Greenfield (1984, p. 68) recorda o princípio ético


fundamental de Kant: “Trate as pessoas como fins e não como
meios, como objectos. Se a imprensa ignora a humanidade
daqueles que são notícia ela faz exactamente isto: reduz as
pessoas a objectos”. O autor faz uma diferenciação importante da
definição de público para os jornalistas: “Eles antes eram nossa
audiência”, actualmente, existe uma nova palavra: “eles são o
nosso ‘mercado’”. Em termos éticos, a distância entre as duas
palavras citadas no parágrafo acima é enorme. Greenfield (1984,
p. 68)

Se o público é tratado como mercado, a notícia


certamente é um negócio. Newman (1984) explica que as pessoas

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

entram nesse ramo para ganhar a vida e que as organizações


informativas existem para ter lucros. Nesse caminho em direcção
ao lucro, o trabalho da imprensa visa buscar incessantemente a
novidade em detrimento, muitas vezes, de uma conduta ética.
Serva (2001, p. 121) explica esse processo em seis fases:

✓ Na ausência de notícias genuína ou integralmente novas, os


jornais buscam outras, inteiramente novas, ou ‘esquentam’ as já
existentes, redigindo-as propositalmente com a informação antes
desconhecida, aumentando o efeito surpreso, como também
diminuindo a compreensão;

✓ O facto de que precisamos de matérias de interesse humano não


é razão suficiente para justificar a publicação de todas. A
necessidade geral não impõe a exigência de se divulgar histórias
específicas. Existem, às vezes, boas razões para não se publicar
uma boa história, ainda que seja uma realmente excelente. Às
vezes elas invadem a privacidade. Às vezes podem embaraçar ou
prejudicar pessoas inocentes;

✓ Interesse público deve reger as relações do jornalista com a


sociedade, preservando os direitos do cidadão. É a preocupação
com o bem-estar social, que envolve a segurança, a saúde, a
moral e o património colectivo;

✓ Jornalista só deve dizer a verdade e resistir a todas as pressões


que possam desviá-lo desse rumo;

✓ É comum, principalmente em programas policiais, o uso de


expressões como assassino, bandido, estuprador e outras
denominações sem qualquer comprovação. Isto significa
incentivar o ódio social contra determinadas pessoas, etnias ou
minorias, e contribui para danos muitas vezes irreparáveis;

✓ Notícias que ajudam a criar uma imagem simpática ou romântica


de criminosos não devem ser divulgadas.

Newman (1984) diz que existem cada vez menos pessoas


no jornalismo que sabem a diferença entre o que está certo e o
que está errado. A dificuldade, certamente, reside na escolha das
notícias e qual o valor que elas têm perante a sociedade.
Greenfield (1984, p. 64) toca num ponto importante ao lembrar
que nenhum repórter pode renunciar a uma notícia interessante

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

porque algum dos envolvidos se opõe à sua divulgação, “e é


também igualmente verdadeiro que os segredos pessoais, até
mesmo íntimos, de alguns indivíduos são claramente de interesse
público”.

2.1.7 Mitos de informação vs. Mitos de visibilidade

A luz de Clarice C. M. Lima et al. (2014), Os mitos da


informação e da visibilidade podem e devem ser percebidos e
estudados na tentativa de entender o processo comunicativo
realizado através da mídia, que alteram o apagam significados
presentes na imagem veiculada. Ambos os mitos podem ser
caracterizados da seguinte maneira:

2.1.7.1 Mito de informação

Informar significa estabelecer uma comunicação, que tem


o intuito de passar/repassar uma informação específica sobre algo
e/ou alguém, significa também, fazer ciência a alguém sobre um
determinado evento. Nesse sentido, pode-se perceber que as
pessoas em seu quotidiano estão inseridas em meio a diversas
informações diárias e que essas informações são consumidas de
forma voluntária e também, algumas vezes, de forma
involuntária. Dessa forma, “toda imagem se inscreve numa
cultura visual e essa cultura visual supõe a existência para o
indivíduo de uma memória visual, de uma memória das imagens”.
(Milanez, 2006, p. 168, Apud Clarice C. M. Lima et al. 2014).

O termo informação apresenta as seguintes definições: “1


- acto ou efeito de informar, 2- dados acerca de alguém ou de
algo, 3 - instrução direcção, 4- conhecimento extraído dos dados,
5- resumo dos dados”. (Ferreira, 2002, p. 388). Essa definição
oferece elementos satisfatórios para situar a palavra e fazer o
significado do próprio mito, ou seja, ser compreensível, ajudando
assim, a entender o conceito.

A comunicação também serve para informar,


principalmente quando se pensa na mídia, que em uma de suas
atribuições está à difusão das informações em um meio local ou
global. Porém, quando se informa apresentando uma imagem
como suporte, provavelmente a informação será comprometida,
pois no momento que criam uma interpretação para os fatos, a

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

imagem perde a totalidade de seu valor e limita os seus


verdadeiros significados, comprovando o discurso de Orlandi
(1995), quando ela afirma que o não-verbal sofre essa assepsia
necessária para o momento.

Em suma, o mito de informação consiste na transformação


parcial ou total do significado de uma determinada imagem,
através de uma leitura literal, que gera uma ilusão sobre seu
verdadeiro significado acerca do que ele realmente apresenta.

2.1.7.2 Mito de visibilidade

Segundo Serra (2002) apud Clarice C. M. Lima et al.


(2014), de uma forma geral e simples pode-se entender que a
existência dos homens como seres vivos políticos (zoon politikon)
pressupõe, antes de mais, a visibilidade de uns perante os outros
no quadro de um espaço comum”. Para Ferreira (2002), a
definição, resume-se a algo que pode ser visto.

Porém, aprofundando o termo visibilidade nas relações


comunicacionais, principalmente entre relação da mídia e
sociedade pode-se dizer que essa visibilidade explorada é
controlada conforme certos interesses de quem veicula a imagem.
Dessa forma, perde-se parte da significação e a visibilidade é
planejada, pois bem mais do que uma imagem asséptica em sua
natureza, tem-se uma imagem destruída de sua visibilidade,
destruída de seu carácter de incompletude. Destruída de
possibilidades outras de interpretação”. (Souza, 2003, p.06).

Percebe-se perfeitamente que o mito da visibilidade


coloca em causa o posicionamento da mídia, uma vez que ao se
interpretar uma imagem através da linguagem, essa interpretação
oferece a leitura dos factos segundo o ponto de vista da emissora,
que se coloca no papel de juiz ao atribuir às imagens mostradas
de valor, e ao mesmo tempo fazendo uma (re) leitura de tudo que
fora exibido. As imagens são apagadas por um processo de
verbalização, de paráfrase, porque reproduzem um determinado
enfoque. (idem)

Dessa forma, a imagem acaba perdendo a sua visibilidade,


deixando para o veículo a responsabilidade da interpretação.

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Sumário
___________________________

2.2 Actividade de Auto-avaliação


1. Quais são as palavras-chaves que definem na “realidade”?
2. Com que se parece a relação que existe entre a imprensa e a
realidade?
3. Qual é o padrão que refere a ausência e a presença dos factos reais
na produção da imprensa?
4. O que é poder de ocultação?
5. A que pertence a característica “Reorganização das partes ?

2.3 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. O padrão de inversão pode ocorrer de diversas formas, uma


delas é:
A. Da opinião para a informação A. Do poder a opinião
C. Do significado a opinião D. Do conteúdo ao
conteúdo

2. Perseu Abramo caracteriza umas das suas formas na qual o


secundário é apresentado como o principal e vice-versa, trata-se
de:
A. Inversão da forma pelo conteúdo B. Inversão da
versão pelo facto
C. Conversão da forma pelo conteúdo D. Inversão da
relevância dos aspectos

3. O princípio da realidade nos media pode ser classificado por:


A. Padrão de inversão e Padrão de fragmentação B. Padrão política e
Padrão social
C. Padrão social e Padrão de inversão D. Padrão Política
e Padrão de inversão

4. Quando se pensa em objectividade no jornalismo tem-se em


mente apenas:
A. O poder B. O texto C. O público D. A
sociedade

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5. A venda de três factores tornam a mídia perigosa, elas são


A. Neutralidade, Objectividade e Democracia
B. Neutralidade, parcialidade e Democracia
C. Neutralidade, Objectividade e imparcialidade
D. Parcialidade, Objectividade e Democracia

6. É aconselhável que um profissional ou órgão de comunicação


tenha uma postura:
A. Social e Parcial B. Neutra e Imparcial C. Neutra e Parcial
D. Nenhuma

7. A prática de um bom jornalismo é resultado:


A. Parcialidade B. Objectividade C. Subtilidade
D. Opinião

8. “Os meios de comunicação de massas têm responsabilidade em


relação à sociedade, não importando em qual sociedade esta a
operar”. Essas citação pertence a:
A. Christian (1986) B. Ruggieri (2017) C. Elliot (1986)
D. Gerzon (2007)

9. Na responsabilidade atribuída aos meios de comunicação social


por Elliot (1986) e Nair Prata (2009) duas palavras-chaves são
usadas:
A. Publicar e Sociedade B. Publicar e massas C. Sociedade e
massas D. Nenhum

10. O princípio ético fundamental de Kant citado por Greenfield


(1984, p. 68) resume-se no seguinte dizer:
A. As pessoas são reduzidas a objectos B. As pessoas não são
reduzidas a objectos
C. As pessoas não são o mercado D. As pessoas são o que
não são

2.1.11 Grelha de correcção


Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta
1 Valor, respostas, legitimidade
e densidade
Actividade de Auto-avaliação 2 Um espelho deformado e um
objecto

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3 Padrão de ocultação
4 É um processo que se
concretiza na elaboração do
texto ou na edição da matéria
5 Pertence ao Padrão de
inversão
1 A
2 C
3 A
4 B
Actividade de Avaliação 5 A
6 B
7 B
8 C
9 A
10 A

Unidade temática 3: O Poder das Mídias na Contemporaneidade


______________________________________________________
_

Introdução

A palavra “Mídia” é traduzida por um dispositivo que


espelha poder (Faucoult, S/d) ou governabilidade (Gerzron, 2007),
influenciando directa ou indirectamente os comportamentos das
pessoas. Ruggieri (2017)

Gerzson (2007), defende que a mídia é um dispositivo da


governabilidade neoliberal. A autora explica que escolheu trata-la
como dispositivo para investigar de que modo seus discursos
servem como instrumento para a circulação e articulação das
relações de poder produzidas pelo neoliberalismo. Ela realça que,
ao pautar por este estudo, ela tem como foco a educação, mas
não limitamos a discussão a esse assunto, mais que veicular
informações, opiniões e comentários, os meios de comunicação
produzem “formas de fazer, de aprender, de ensinar e, sobretudo,
de ser e de compreender o mundo”. Dessa forma, a mídia ocupa e
tem papel importante na esfera pública, actuando na constituição
da opinião pública.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Ao analisarmos de maneira geral as obras foucaultianas,


entendemos que o “dispositivo”, portanto, é um conjunto de
vários elementos surgidos em um determinado momento com o
objectivo de exercer “poder” sobre algo.

Geralmente, quando os estudos da área da comunicação


se apropriam do termo “dispositivo” que se traduz por mídia, dão
ênfase ou abordam unicamente sua dimensão tecnológica e, por
vezes, o tratam como algo unidimensional (Klein, 2007). Para fugir
desse padrão, Ferreira (2006) faz o estudo das mídias na
contemporaneidade do ponto de vista de três dimensões, a saber,
a tecnológica, a socioantropológica e a semiolinguística.

Numa breve explanação, a dimensão semiolinguística


refere-se às operações de linguagem que participam da
midiatização, “bem como regras que criam significados por meio
da utilização de códigos e símbolos que são organizados a partir
dos enunciadores” (Klein, 2007, p.220). A tecnológica, ou técnico-
tecnológica diz respeito às operações realizadas e aos suportes
tecnológicos utilizados nos processos comunicacionais. E, por
último, a dimensão socioantropológica se refere ao social, ao
humano na comunicação, aqueles que participam do processo
produtivo. Não se restringe apenas aos agentes midiáticos, os
profissionais da área, mas todos os sujeitos midiatizados (Klein,
2007).

A seguir far-se-á uma análise sobre como o poder


midiático se estrutura nessas três dimensões do dispositivo
(mídia).

a) Semiolinguística.

Toda narrativa, não somente a midiática, busca atender a


algum objectivo. Isso significa dizer que elas não somente contam
estórias de forma ingénua, mas obedecem aos desejos do “sujeito
narrador”. Motta (2013) elucida que as narrativas são dispositivos
de linguagem persuasivos, atitudes argumentativas. Por conta
disso, esse autor propõe uma metodologia para o estudo das
narrativas, a narratologia, com procedimentos que visam observar
e compreender as estratégias empregadas pelo narrador para
alcançar os efeitos pretendidos.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Esse drama construído mencionado por Motta (2013)


acontece através da criação de conflitos, nos quais atuam os
personagens, representados como mocinhos, heróis, vítimas ou
vilões. Na narrativa da mídia, sobretudo a jornalística, é
costumeiro que essas personagens sejam pessoas reais,
entretanto, quando inseridos no discurso midiático, deixam de ser
aquelas pessoas da realidade e se tornam personagens do
discurso, que representam indivíduos que, dentro das narrativas,
assumem algum papel de actuação (Motta, 2013).

A representação não acontece unicamente com as


personagens, mas com o acontecimento como um todo, o que
coloca a mídia como construtora da realidade na medida em que,
enquanto “empalavramos” o mundo, o recriamos. (idem)

Contudo, apesar de produzir representações, o objectivo


da narrativa jornalística é produzir o efeito do real (Motta, 2013),
uma estratégia textual que colabora para que o público interprete
o discurso como realidade. A mídia alcança esse resultado por
meio de estratégias de linguagem, como a reprodução de
discursos de terceiros, por exemplo, no caso da utilização de
fontes testemunhas ou especialistas (Bruck; Santos; 2013).

Essa busca pela verdade intrínseca à linguagem jornalística


tem como justificativa a “ilusão” de que a imprensa é uma
tradutora da realidade (Guedes, 2009), visão relacionada à já
superada Teoria do Espelho. Nessa prática, essas representações
discursivas passam a ser interpretadas por grande parte do
público como fidedignas, o que algumas correntes teóricas, como
a da Teoria da Acção Política, da Teoria Estruturalista e da Espiral
do Silêncio vêem como possibilidade para uma manipulação a fim
de disseminar a ideologia dominante e legitimar o status quo.

Para demonstrar objectividade, recorrem ao que Emediato


(2013) chama de “apagamento enunciativo”, o que não significa
que não exista pontos de vista da enunciação mascarados. Tal
apagamento pode dar a impressão de que a argumentação em
determinados géneros textuais, como as notícias e os títulos, seja
nula. Contudo, as categorias linguístico-discursivas utilizadas “ são
portadoras de intenções argumentativas (pontos de vista) que
evocam sequências e inferências avaliativas diversas (os verbos,
os nomes e as designações, os adjectivos e as qualificações).

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A linguagem clara, concisa, com frases e parágrafos curtos


e palavras que evitam a ambiguidade, regras básicas para a
construção de textos informativos (Lopes, 2010), facilitam que as
narrativas midiáticas sejam acessíveis a todos, o que, certamente,
contribui para a construção da fidelidade do público e da
credibilidade do veículo.

Portanto, a dimensão semiolinguística demonstra “o


poder” que as narrativas midiáticas exercem sobre o público
enquanto construtora de uma realidade. Abarca a competência
dos meios de comunicação para fazer crer, criar interpretações e,
ao mesmo tempo em que influencia na formação da opinião
pública, constroem sua credibilidade. A partir dessa compreensão,
é preciso observar os meios pelos quais essas mensagens são
transmitidas e quem são os enunciadores. É o que começaremos a
entender nos tópicos a seguir.

b) Socioantropológica

Essa dimensão trata dos agentes envolvidos no processo


comunicativo: emissores e receptores. No seu artigo, Ruggieri
(2007) optou por fazer um estudo dos detentores dos meios de
produção de informação do Brasil, visto que o seu objectivo era
de compreender como se estruturava o poder do dispositivo
midiático.

A semelhança do Brasil (como refere Ruggieri, 2007),


assiste-se, também em Moçambique, a uma mídia concentrada.
Entendemos que a concentração da propriedade midiática
acontece quando poucas pessoas ou organizações controlam
grandes fatias dos veículos comunicacionais. Ao nível nacional do
brasil por exemplo, três grupos comandam o sector da
radiodifusão no país: Globo, SBT e Record, sendo que a
Bandeirantes, a Rede TV e a EBC (instituição pública de
comunicação) seguem o mesmo caminho (Cabral, 2015), em
contrapartida, em Moçambique é suposto que o mesmo aconteça
com os grupos televisivos como: TVM, STV,TV Miramar, e em
parte a TV Sucesso.

Essas empresas são controladas por pessoas poderosas.


Segundo matéria veiculada em 2015 pelo Fórum Nacional pela

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Democratização da Comunicação (FNDC), apenas 11 famílias


detêm o controlo midiático no país, para o caso do Brasil.

Desde a (re) democratização, após a ditadura militar,


assiste-se, no Brasil e Moçambique, à concessão de outorgas de
radiodifusão a parlamentares e empresários aliados via meios
cavilosos em troca de favores políticos. Essa prática ilegal foi
denominada “coronelismo eletrônico”, em referência ao
coronelismo político: “a moeda de troca continua sendo o voto. Só
que não mais com base na posse da terra, mas no controle da
informação, vale dizer, na capacidade de influir na formação da
opinião pública” (Lima, 2007, P.28).

O cenário, portanto, é de uma comunicação comandada


por empresários bilionários e por políticos. Segundo o FNDC
(2015), esse é um quadro que impõe restrições ao conteúdo
produzido e veiculado, que expressa unicamente os anseios e
interesses dos detentores desses meios. Essa constatação não diz
respeito somente aos donos da mídia, sob os quais direccionamos
nossa atenção. Em uma sociedade midiatizada, essas informações
carregadas pelos interesses políticos e ideológicos de seus
proprietários perpassarão todas as interacções sociais, relações
que serão pautadas pelo que é transmitido pela mídia, reflectindo
em acções de indivíduos que, por conseguinte, retroalimentarão a
produção de informação.

Assim sendo, compreende-se que essa dimensão do


dispositivo midiático diz respeito à influência que ele exerce na
população em função do que é interessante para os proprietários
das empresas comunicacionais. A pesquisadora Florence
Poznanski (2015 apud FNDC, 2015, s/p) discorre que
desconcentrar os meios de produção de informação e distribuí-los
de forma igualitária poderia resultar em “mais liberdade, mais
diversidade e mais pluralidade”, razão que impulsiona a existência
de diversos grupos de luta pela democratização da mídia,
contrários ao controle exercido pelo dispositivo midiático na
sociedade.

c) Dimensão técnico-tecnológica

A terceira dimensão diz respeito às operações e suportes


tecnológicos utilizados nos processos comunicacionais. Aqui,

29
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

procuraremos entender sobre as técnicas de produção de


conteúdo, o maquinário e as plataformas de difusão.

O desenvolvimento dos aparatos comunicacionais reflecte,


hoje, em uma variedade de plataformas para veiculação de
conteúdo. Contudo, mesmo com a emergência de novos espaços
para a disseminação de informação, a mídia de referência não
perdeu sua dominância na área. Se hoje existem diversas
plataformas, essas empresas alongaram seus ramos de actuação
para ocupar todos os espaços. Apesar de a internet ser uma
possibilidade de espaço democrático para a produção e
disseminação de informação, bem como um ambiente para o
crescimento e fortalecimento do midiativismo, a mídia tradicional
mantém sua liderança (Bezerra, 2013).

O advento da internet trouxe uma transformação


relevante para o nosso sistema de comunicação. Para ilustrar essa
revolução, basta nos remetermos ao passado, em que
precisaríamos estar em frente à televisão ou rádio, ou tendo um
jornal em mãos para nos mantermos informados sobre os
acontecimentos. Algumas informações levavam meses para
chegar de um lado do mundo ao outro. Hoje, carregamos
celulares com acesso à internet para nos conectarmos com os
factos a qualquer momento do dia; com câmeras para gravar ao
vivo um evento e compartilhar com amigos através das redes
sociais; entre outras tecnologias que nos permitem acesso rápido
a todo tipo de informação. Barreiras temporais e geográficas
foram superadas nesse ponto.

Entretanto, as plataformas digitais pertencem a grandes


empresas da internet, reforçando a característica centralizadora
dos meios de produção de informação. Segundo pesquisas
realizadas pela CNN Money e o Zenith Optimedia (Mídia
Interessante, 2016), o Facebook, por exemplo, site mais acessado
do mundo, ocupa o quinto lugar no ranking de maiores
conglomerados de mídia a nível mundial.

Massarolo (2012), elucida que cada uma dessas


plataformas deve complementar a outra, ou seja, devem
contribuir de formas distintas para a compreensão de uma
história que será desdobrada. Por isso, é comum assistirmos ao
jornal televisivo e recebermos orientação do(a) âncora para
navegarmos no portal virtual da emissora para sabermos mais

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

sobre o assunto. Desse modo, o canal consegue manter o


interlocutor sob seus domínios, seja televisivo, radiofónico, virtual
ou impresso, já que, por exemplo, muitas vezes, somos guiados
para uma página na Web da própria emissora que deu a notícia ao
invés de recebermos o link de materiais produzidos por terceiros
sobre o mesmo assunto.

Cada uma dessas mídias tem a sua linguagem própria, o


texto produzido para jornal impresso é diferente daquele
produzido para a Web, por exemplo, e isso tem relação com a
busca do público.

Salaverría e Negredo (2008, apud Luísa RUGGIERI, 2007),


explica que é um grande desafio para a mídia de referência fazer
com que a integração das plataformas seja mais do que
simplesmente unir as produções de vídeos, áudios, textos e fotos
em um único ambiente, mas adoptar uma linguagem que extraia
o que cada meio tem de melhor, levando em consideração a
quem se quer atingir. Por isso, estruturam as redacções, adoptam
metodologias e capacitam seus profissionais para
desempenharem este trabalho, processo que foi denominado
como “convergência jornalística”.

Esse é um cenário que modifica as previsões apocalípticas2


de que o avanço das novas tecnologias de informação e
comunicação resultaria no desaparecimento de mídias mais
antigas. Pelo contrário, a convergência assume todos esses meios
interagindo de forma complexa (Silva, 2013).

A dimensão técnico-tecnológica, portanto, trata do


aproveitamento dos aparatos tecnológicos pelo dispositivo
midiático a fim de aproveitar todos os seus meios de produção,
usufruindo ao máximo das qualidades e características de cada
plataforma para atrair o público e fidelizá-lo em seus domínios. A
internet é uma “poderosa” ferramenta para as empresas de
comunicação, pois permite que a sociedade esteja sempre
conectada às informações, fortalecendo a midiatização e,
consequentemente, o dispositivo.
Sumário
____________________________

2
Termo atribuído aos frankfurtianos considerados extremistas em relação aos bens culturais da humanidade

31
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3.1 Actividade de Auto-avaliação

1. Indica o termo culminante de Gerzon (2007) em relação ao


“poder produzido no neoliberalismo” quando trata a mídia.
2. Diga qual designação Foucault atribui a mídia.
3. Apresente segundo Ferreira (2006), as três dimensões do
estudo das midias.
4. Defina “Um dispositivo” enquanto midia.
5. A que dimensão dá-se mais enfâse quando a luz de Klein
(2007), os estudos da área de comunicação se apropriam do
termo ‘dispositivo’ que se traduz por mídia.

3.2 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. “Toda a narrativa obedece aos desejos do sujeito narrador”. Essa


característica pertence a dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística C. Tecno-tecnológica D.
Nenhuma

2. “O estudo das narrativa e narratologia ”, é referente a


dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística C. Tecno-
tecnológica D. Nenhuma

3. “Lida-se com os agentes envolvidos no processo comunicativo, a


saber os emissores e receptores”. Essa característica pertence a
dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística C. Tecno-tecnológica D.
Nenhuma

4. A prática sobre a qual os empresários se aliam via meios


cavilosos em troca de favores políticos é chamada de:
A. Coronelismo electrónico B. Coronelismo midiático C.
Coronelismo social D. Nenhum

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5. A pesquisadora Florence Poznanski (2015) afirma que


desconcentrar os meios de produção de informação e distribuí-
los de forma igualitária, poderia resultar em:
A. Mais liberdade, diversidade e pluralidade B. Mais liberdade,
facilidade e pluralidade
B. Mais liberdade e diversidade C. Mais liberdade e
pluralidade

6. “Ela diz respeito as operações e suportes tecnológicos utilizados


nos processos comunicacionais”. Trate-se da dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística C. Tecno-tecnológica D.
Nenhuma

7. “É um grande desafio para a mídia de referência fazer com que a


integração das plataformas seja mais do simplesmente unir as
produções de vídeos, áudios e fotos em um único ambiente”. A
citação pertence a:
A. Christian B. Ruggieri C. Faucoult D.
Salverria e Negredo

8. “É um grande desafio para a mídia de referência fazer com que a


integração das plataformas seja mais do simplesmente unir as
produções de vídeos, áudios e fotos em um único ambiente”.
Trata-se da dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística
C. Tecno-tecnológica D. Nenhuma

9. Segundo as pesquisas realizadas pela CNN Money e o Zenith


Optimedia, o Facebook, o site mais acessado do mundo, no
ranking dos maiores conglomerados ocupa:
A. O primeiro lugar B. O segundo lugar
C. O quinto lugar D. Sexto lugar

10. O texto produzido para um jornal impresso:


A. É diferente do produzido para Web B. Não é diferente do
produzido para Web
C. É semelhante do produzido pela Web D. É quase o do
produzido para Web

33
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3.3 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Trata-se de um dispositivo
2 Dispositivo
Actividade de Auto-avaliação 3 Socioantropológica, Técnica-
tecnológica e Semiolinguística
4 É um conjunto de vários
elementos surgidos em um
determinado momento com o
objectivo de exercer o poder
sobre “algo”.
5 Técnica-tecnológica
1 B
2 B
3 A
4 A
Actividade de Avaliação 5 A
6 C
7 D
8 C
9 C
10 A

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3.4 Actividade Temática Geral


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Para Greenfield (1984) se o público é tratado como mercado,


então:
A. É uma responsabilidade B. É um negócio C. Não é lucro
D. Nenhum

2. Segundo Newman a diferença entre o certo e o errado no


jornalismo é tida por:
A. Fácil B. útil C. indispensável D. Difícil

3. Para Clarice (2014), os mitos caracterizam-se da seguinte


maneira:
A. Mito de informação e de viabilidade B. Mito de Visibilidade e de
Informação
C. Mito de sociabilidade e imparcial D. Mito de informação
e desinformação

4. O jornalista enquanto negociante opta pela busca de novidade


em detrimento de:
A. Novidades B. Conduta ética C. Informação
D. Verdade

5. Um dos mitos apresentados por Clarice (2014) caracteriza-se


por: “ existência do homem pressupõe a visibilidade perante os
outros ”, trata-se de:
B. Mito de informação B. Mito de Invisibilidade
C. Mito de imparcialidade D. Mito de Visibilidade

6. No mito da informação, o termo “informa” é definido como:


A. Acto ou efeito de informar B. desinformar
C. Instrução indirecta D. Nenhum

7. Segundo Newman (1984) no que concerne ao lucro, o trabalho


da imprensa visa buscar incessantemente:
A. O lucro B. Negócio C. Conduta ética
D. Novidade

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8. “O facto de que precisamos de matérias de interesse público


humano, não é razão suficiente para justificar a publicação de
todas”. A citação pertence a:
A. Christian (1986) B. Ruggieri (2017) C. Serva (2001)
D. Gerzon (2007)

9. “Nenhum repórter pode renunciar a uma história interessante


porque algum dos envolvidos se opõe a divulgação”. A citação
pertence a:
A. Christian (1986) B. Ruggieri (2017) C. Serva (2001)
D. Greenfield (1984)

10. “O interesse público deve reger as relações dos jornalistas com a


sociedade, preservando os direitos do cidadão”. A citação
pertence a:
A. Christian (1986) B. Ruggieri (2017) C. Serva (2001)
D. Greenfield (1984)

3.5 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 B
2 D
3 B
4 B
Actividade Temática Geral 5 D
6 A
7 D
8 C
9 D
10 C

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3.6 Referência Bibliográfica

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA 2: O OBJECTO DA CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO


Unidade temática 1: Estudos da comunicação
Unidade temática 2: O Objecto da Comunicação

Introdução
O presente Tema versa essencialmente sobre dois aspectos
crucias na discussão sobre o núcleo de estudo da ciência de
comunicação:

• Estudos da comunicação
• Objecto da Comunicação

O Tema aborda maioritariamente indagações epistemológicas e o


campo interdisciplinar, que certamente foram decisivas na
compreensão daquilo que hoje seria designado por objecto de
estuda da ciência da comunicação. Os campos epistemológicos
apresentados no percurso do tema, irão de certa forma,
contribuir para o entendimento mais detalhado das discussões
levadas a cabo por diferentes personalidades teóricas, com vista a
chegar a uma conclusão sobre o objecto em causa. Por um lado, o
tema intenciona fazer perceber o quão importante foi a
interdisciplinaridade das ciências de comunicação na discussão
sobre o estudo da própria comunicação, e por outro lado, a
consciência de que uma ciência se firma por intermédio da outra
e vice-versa.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Compreender como funciona o campo interdisciplinar da ciência da
comunicação
• Saber dizer qual é o objecto de estudo da ciência de comunicação

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Unidade temática 1: Estudos da comunicação


_______________________________________

Introdução
Segundo George Gerbner, apud Denis McQuail (2003), a
comunicação é definida como “interacção social através de
mensagens”, e pode-se assim dizer que os estudos de
comunicação remontam pelo menos a Platão e a Aristóteles, e às
suas tematizações da linguagem em geral e da retórica e da
poética em particular.

Entendida a comunicação no seu sentido hodierno,


restrito, de comunicação mediatizada, os estudos de comunicação
têm um começo muito mais recente, embora nem todos os
investigadores estejam de acordo acerca do momento em que se
dá tal começo. Assim, para Kurt Lang apud Denis McQuail (2003),
que ressalta a relação entre a pesquisa em comunicação e as
transformações trazidas pela Revolução Industrial.

Ainda que preferindo ressaltar a relação entre teoria da


comunicação “em sentido amplo” correspondendo àquilo a que
nós temos vindo a chamar “estudos de comunicação”, e media,
McQuail chega a uma conclusão mais ou menos semelhante, ao
afirmar que a teoria da comunicação, definida em sentido amplo,
tem mais ou menos a mesma idade que o seu “objecto” de
estudo, os media3 nas suas formas modernas de imprensa de
massa, rádio, filme e televisão, reflectindo a estreita
interdependência entre a teoria social e a realidade social
material.

A luz de Paulo Serra (2007), os primeiros e alguns dos mais


significativos trabalhos relativos aos fenómenos da
“comunicação” emergem, a partir dos finais do século XIX e
princípios do século XX, no campo da sociologia e, mais tarde, no
da sociologia da comunicação.

A primeira grande problemática da sociologia da


comunicação foi a dos “efeitos” dos “meios de comunicação de
massa” uma problemática que, como refere João Pissarra Esteves
apud Denis McQuail (2003), sobressai como grande problemática
mobilizadora de esforços para a constituição e, depois, para a

3
Também pode ser chamado de mídia

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

rápida consolidação da sociologia da comunicação tendo a sua


presença marcado até aos nossos dias, quase todos os grandes
momentos do desenvolvimento desta disciplina científica e
acabando, assim, por exercer uma espécie de função ordenadora
sobre uma outra série de outras importantes problemáticas da
disciplina.

A afirmação epistemológica, académica e institucional


universitária mas não só dos estudos de comunicação efectuou-
se, basicamente, nos departamentos de sociologia das grandes
universidades americanas. Compreende-se, assim, que se tenha
afirmado, como “paradigma dominante” nos estudos de
comunicação, um paradigma não apenas funcionalista e centrado
nos “efeitos” mas também sociológico. No entanto, logo na altura
da sua constituição, este paradigma foi considerado como
reducionista a vários títulos, a saber:

i) Epistemológico: reduz os estudos de comunicação à sociologia da


comunicação e, dentro desta, à sociologia da “comunicação de
massa” e, ainda dentro desta, à sociologia dos “efeitos” com a
exclusão ou, pelo menos, a secundarização não só das outras
ciências sociais como das chamadas “humanidades”;

ii) Ontológico: reduz a comunicação à “comunicação de massa”, e


esta aos seus (supostos) “efeitos” com a exclusão, ou pelo menos
a secundarização, dos outros tipos de comunicação e de outras
problemáticas importantes no estudo da comunicação;

iii) Metodológico: reduz o método científico ao método empírico,


quantitativo e estatístico – excluindo, como não científicos, os
métodos qualitativos, descritivos e interpretativos e prolongando,
assim, uma visão positivista da ciência e o seu monismo
metodológico;

iv) Político: reduz a comunicação e os media a instrumentos da


integração social, da estabilidade e do consenso, excluindo assim
de facto, em nome da “pesquisa administrativa”, toda e qualquer
possibilidade de uma verdadeira crítica da comunicação e da
sociedade vigentes.

Em consequência, todos e cada um destes pressupostos


do “paradigma dominante” foram sendo postos em causa por
teorias, seja contemporâneas sejam posteriores, pressupondo

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paradigmas alternativos.

d) Dois pontos de vista epistémicos: Comunicação material e formal


✓ Do ponto de vista material, os estudos de comunicação incidiriam
nas áreas da oralidade, da escrita, do audiovisual e do
multimédia. Esta maneira apresenta, no entanto, dois tipos de
problemas: por um lado, cada uma das áreas mencionadas é
estudada por outras disciplinas, não constituindo, portanto, uma
área específica dos estudos de comunicação; por outro lado, a
comunicação não se reduz à materialidade das áreas
mencionadas, antes exigindo “uma elaboração teórica específica e
transversal a essas materialidades”. Por conseguinte, a maneira
formal, centrada numa perspectiva “propriamente
comunicacional” uma perspectiva de que o Ensaio sobre a Dádiva,
de Marcel Mauss apud Paulo Serra (2007), poderá servir como
orientação, e que se deixa resumir na tese de que a comunicação
é o “domínio em que se processam as trocas simbólicas e se
constituem, se alimentam, se reproduzem e se restabelecem as
relações intersubjectivas da sociabilidade”.

✓ Do ponto de vista formal, a comunicação define-se, por


conseguinte, a resolução de problema da especificidade dos
estudos de comunicação incluindo o próprio recurso ao exemplo
de Mauss (idem) como referido no parágrafo anterior,
considerado um dos pais da antropologia moderna, coloca, desde
logo, um problema epistemológico crucial: o da possível
“identificação do social com o comunicacional “e, por
consequência, das ciências sociais e humanas com os estudos de
comunicação.

Actualmente há um conjunto de autores que pensam uma


tal identificação (referido no paragrafo acima) como justificada
ainda que geralmente não coincida o conceito de “comunicação”
que tais autores pressupõem. Referiremos, aqui, apenas alguns
exemplos mais conhecidos:

1 No campo da antropologia Claude Lévi-Strauss apud Paulo


Serra (2017), propunha-se logo em ensaio de 1951, considerar as
regras de casamento e os sistemas de parentesco como uma
espécie de linguagem, quer dizer, um conjunto de operações
destinadas a assegurar, entre os indivíduos e os grupos, um certo
tipo de comunicação, (no caso, das mulheres entre os clãs,

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linhagens ou famílias), a Linguagem e sociedade se inicia,


precisamente, com a referência de Lévi-Strauss a Norbert Wiener
e ao seu livro Cibernética, ou Controlo e Comunicação no Animal
e na Máquina, de 1948.

2 Edward T. Hall, ainda no campo da antropologia, afirmava


de forma lapidar que a cultura é comunicação e a comunicação é
cultura. No campo da linguística, Roman Jakobson afirmava
mesmo, num dos seus ensaios, a inclusão da linguística no círculo
da semiótica e a desta, da antropologia social, da sociologia e da
economia no círculo mais largo de “uma ciência integrada da
comunicação”, ainda que, e por razões que aqui não
explicitaremos, atribuísse à linguística um papel central no seio
dessa ciência integrada da comunicação, fazendo sua a
observação sempre oportuna de Sapir, de acordo com a qual,
todo o sistema cultural e cada acto isolado de comportamento
social implica a comunicação quer num sentido explícito quer
num sentido implícito.

3 No campo da sociologia, Niklas Luhmann apud Paulo Serra


(2007), tem vindo a afirmar que “a sociedade é unicamente
composta de comunicações (e não de homens, por exemplo) e que
tudo o que não é comunicação pertence ao ambiente desse
sistema”. Numa reflexão em que se misturam a antropologia, a
psicologia, a psiquiatria e a própria filosofia, os investigadores da
chamada “Nova Comunicação”, nomeadamente os da Escola de
Palo Alto, referimo-nos concretamente a autores como Gregory
Bateson, Ray Birdwhistell, Erving Goffman, Edward Hall, Don
Jackson, Arthur Scheflen e Paul Watzlawick, propõem-se
considerar “os diversos sistemas interpessoais”, incluindo aí
grupos de estrangeiros sem ligação entre si, casais, famílias,
relações psicoterapêuticas e mesmo relações internacionais,
como outros tantos fenómenos de “comunicação”, reduzindo esta
às “relações entre as entradas (input) e as saídas (output) de
informação”, e acabando, assim, por identificar comportamento e
comunicação.

4 No concernente as áreas da filosofia e da sociologia, e se


bem que partindo de pressupostos não só diferentes como
antagónicos em relação a muitos dos autores que acabámos de
referir, Jürgen Habermas apud Paulo Serra (2007), tem vindo a
enfatizar a importância do “agir comunicacional” em relação ao

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

“agir instrumental”, propondo o ideal de uma sociedade em que


não só se mantenham separados os dois tipos de acção mas em
que o primeiro tipo acabe por, em última análise, dirigir o
segundo; uma sociedade em que, através da “destruição das
restrições da comunicação”, se torne possível a discussão pública,
sem restrições e sem coacções em todos os níveis dos processos
políticos e dos processos novamente politizados de formação da
vontade.

Quanto às origens desta “viragem comunicacional”, já há


mais de três décadas Michel Foucaul apud Paulo Serra (2007),
atribuía à própria linguística de Saussure interpretando, assim, a
“viragem linguística” como “viragem comunicacional”, assente
numa concepção de língua não como “tradução do pensamento”
e “representação” mas sim como “forma de comunicação”, e a
partir da qual o “colectivo” ou “social”, deixará de ser a
universalidade do pensamento, quer dizer, uma espécie de
grande sujeito que seria algo como uma consciência social ou
personalidade de base, para ser um conjunto constituído por
pólos de comunicação, por códigos que são efectivamente
utilizados e pela frequência e estrutura das mensagens que são
enviadas. Trata-se de uma perspectiva que, sublinha Foucault,
não se limitando às ciências sociais e humanas, antes se
estendendo à generalidade das ciências, nomeadamente à
biologia, através dos estudos sobre a hereditariedade e o código
genético.
Sumário
________________________________

1.1 Actividade de Auto-avaliação

1. Diga a luz de Paulo Serra (2007), em que século os primeiros e


alguns dos mais significativos trabalhos relativos aos fenómenos
da “comunicação” emergem.
2. Defina a comunicação segundo George Gerbner.
3. Qual foi a primeira grande problemática da sociologia da
comunicação segundo João Pissara Esteves citado por Paulo Serra
(2007)?

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4. Fora dos funcionalistas, diga outra forma sobre a qual os


paradigmas nos estudos de comunicação foram firmados
centradas nos efeitos?
5. Os paradigmas dos estudos comunicacionais foram reduzidos a
vários domínios, diga quais são.

1.2 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Entre os paradigmas apresentados um só reduz a “comunicação


a comunicação de massas”:
A. Epistemológico B. Ontológico C. Metodológico
D. Político

2. Entre os paradigmas apresentados um só reduz o “ método


científico ao método empírico”:
A. Epistemológico B. Ontológico C. Metodológico
D. Político

3. Entre os paradigmas apresentados um só reduz a “comunicação


e os media a instrumentos da integração social”:
A. Epistemológico B. Ontológico C. Metodológico
D. Político

4. Entre os paradigmas apresentados um só reduz aos “estudos de


comunicação à sociologia da comunicação” :
A. Epistemológico B. Ontológico C. Metodológico
D. Político

5. Do ponto de vista material, os estudos de comunicação


incidiriam nas áreas de:
A. Oralidade, áudio, audiovisual e multimédia B. Oralidade, escrita,
audiovisual e multimédia
C. Oralidade, escrita, audiovisual e sonoro D. Cinema,
escrita, audiovisual e oral

6. “Comunicação é o “domínio em que se processam as trocas


simbólicas e se constituem, se alimentam, se reproduzem e se
restabelecem as relações intersubjectivas da sociabilidade”.
Trata-se de uma definição segundo:

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A. Paulo Serra B. Marcel Mauss C. Lévi-Strauss


D. Nenhum

7. A definição da comunicação apresentada por Marcel Mauss não


coincide com as pressupostas por autores como:
A. Claude Lévi -Straus, Edward T. Hall e Albuquerque
B. Claude Lévi-Strauss, Marcel Mauss, Hall e Niklas Luhmann
C. Claude Lévi-Straus, Edward T. Hall e Niklas Luhmann
D. Bernard Miège, Edward T. Hall e Niklas Luhmann

8. O conceito sobre o qual "a cultura é comunicação e a


comunicação é cultura", pertence a:
A. Paulo Serra B. Marcel Mauss C. Lévi-Strauss
D. Edward T. Hall

9. O conceito sobre o qual “ (...) os sistemas de parentesco como


uma espécie de linguagem, quer dizer, um conjunto de
operações destinadas a assegurar, entre os indivíduos e os
grupos, um certo tipo de comunicação”, pertence a:
A. Paulo Serra B. Marcel Mauss C. Lévi-Strauss
D. Edward T. Hall

10. “Todo o sistema cultural e cada acto isolado de comportamento


social implica a comunicação quer num sentido explícito quer
num sentido implícito”. A presente citação é referente ao
campo:
A. Sociológico de Niklas Luhmann B. Antropológico de
Claude Lévi-Strauss
C. Antropológico de Edward T. Hall C. Nenhum

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1.3 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Século XX
2 É interacção social através de
Actividade de Auto-avaliação mensagens
3 Efeitos dos meios de
comunicação de massa
4 A outra forma é a sociológica
5 São os domínios
Epistemológico, Ontológico,
Metodológico e Político

1 B
2 C
3 C
4 C
Actividade de Avaliação 5 B
6 B
7 C
8 D
9 D
10 C

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Unidade temática 2: O Objecto da Comunicação


___________________________________________
Introdução

A maior parte dos cientistas sociais e humanos não aceita,


obviamente, esta (possível) identificação entre o social e o
humano e o comunicacional, as ciências sociais e humanas e as
ciências da comunicação, tendendo a considerar a “comunicação”
como um elemento entre outros do seu objecto de estudo (a
“sociologia da comunicação”, a “economia da comunicação”, o
direito da comunicação, etc.), e a ver-se como cientistas da “sua”
própria ciência mesmo quando, e sobretudo quando, fazem as
suas incursões nos domínios da “comunicação”. Bernard Miège
(1980)

Um dos corolários desta posição é a afirmação de que as


ciências da comunicação não passam de um “espaço” ou
“território” interdisciplinar em que as várias ciências sociais e
humanas confluem, cada uma com a sua perspectiva própria, os
seus próprios métodos e objectivos para o estudo da sobredita
“comunicação”, constituindo assim as ciências da comunicação
uma espécie de apêndice sem direito a existência própria, à sua
própria autonomia.

Mas uma tal posição ignora, precisamente, que aquilo a


que se chama a “comunicação” não é um “objecto” empírico ou
material, mas antes um objecto formal, uma certa perspectiva ou
ponto de vista sobre os fenómenos sociais e humanos. Um ponto
de vista que se refere àquilo a que, nos fenómenos sociais e
humanos, Adriano Duarte Rodrigues apud Bernard Miège (1980),
chama, como vimos, as “trocas simbólicas” e “as relações
intersubjectivas da sociabilidade”, ou àquilo a que Daniel
Bougnoux (2001), chama a acção do homem sobre o homem “por
via dos signos”.

O mesmo é dizer que, e para recorrermos a alguns


exemplos, a “sociologia da comunicação” é menos o estudo
sociológico de um fenómeno chamado “comunicação” que uma
visão comunicacional dos factos sociais; a antropologia da
comunicação é menos o estudo antropológico da “comunicação”
que o estudo comunicacional da cultura; o linguístico é menos o
estudo linguístico da “comunicação” que a visão comunicacional
da língua; e assim sucessivamente.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Isso mesmo parece querer significar segundo Bougnoux


(2001), quando afirma sobre as “ciências da informação e da
comunicação” que, no campo intelectual, a disciplina surgiu de
uma interrogação antropológica sobre a redefinição da cultura,
identificada com as diferentes maneiras de comunicar e
centradas, em primeiro lugar, nos anos 60, na troca e na
formalização linguística (com as pesquisas ‘estruturalistas’ de
Lévi-Strauss, Barthes ou Jakobson).

Esta visão das ciências da comunicação não nega que, e


como se afirma correntemente, elas constituam um espaço
interdisciplinar ou uma “interdisciplina”, como lhe chama
Bougnoux (idem). Não cremos, no entanto, que tal
“interdisciplina” possa ser concebida como o faz o autor, seja
como uma espécie de continuação da filosofia tradicional por
meios menos “idealistas”, seja como uma espécie de actividade
de “colagem” de saberes que, sem isso, permaneceriam dispersos
e cegos uns perante os outros, seja ainda como uma espécie de
“nuvem” metafórica que cobre todos os saberes. Todas estas
visões nos parecem oscilar entre aquilo a que, e passe o exagero,
chamaremos o paternalismo e o providencialismo
epistemológicos.

Na realidade, a interdisciplinaridade que caracteriza as


ciências da comunicação resulta não do facto de múltiplas
disciplinas, com perspectivas diferentes, estudarem a mesma
coisa a “comunicação”, mas, como dissemos, do facto de
múltiplas disciplinas, adoptando a mesma perspectiva
“comunicacional”, estudarem coisas diferentes, correspondendo
aqui, estas “coisas diferentes”, aos diferentes “objectos” das
várias ciências sociais e humanas. Assim, e ainda que pelas razões
contrárias às aduzidas pelo autor, parece continuar a justificar-se
a afirmação feita pelo mesmo Bougnoux (idem), em 1999, de que
a metáfora da saladeira é, sem dúvida, mais apropriada do que a
do melting pot para pensar esta diversidade do pôr em comum
das ciências da comunicação, cujo plural é inultrapassável,
rebelde a toda a tentativa prematura de unificação.

Quanto às razões pelas quais a identificação do social com


o comunicacional e das ciências sociais e humanas com as ciências
da comunicação não anula a especificidade das primeiras em
relação às segundas uma hipótese que, dada a “viragem

49
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

comunicacional” que acima referimos, não parece de todo


descabida, uma primeira razão, epistemológica, tem a ver com o
facto de cada uma das ciências sociais continuar a manter, a par
da perspectiva comunicacional, o seu “objecto” (formal)
específico, a sua linguagem própria e, em muitos casos, uma
particular forma de utilização dos métodos e técnicas de
investigação científica. Outra razão reside, obviamente, na
posição institucional, académica e não só, de ambos os grupos de
ciências.

De facto, e como mostrou Thomas Kuhn, apud Paulo Serra


(2003), a cada paradigma corresponde uma determinada
comunidade científica e, a esta, determinados papéis e estatutos
académicos e institucionais que determinam o seu
reconhecimento não só pela comunidade científica em geral
como pelo conjunto da sociedade, e que se materializam na
existência de cursos universitários visando, nomeadamente, a
formação profissional para determinadas áreas, de investigações,
de reuniões e publicações científicas, etc..

Ora, a este nível, a distinção entre os cientistas sociais e


humanos e os da comunicação continua a ser forte. Uma posição
algo semelhante é também defendida por Roland Barthes (2002)
quando, referindo-se às ciências sociais e humanas, afirma que o
que define a ciência não é nem o seu conteúdo, nem o seu
método nem a sua moral, nem o seu modo de comunicação mas
tão-só o seu estatuto, quer dizer, a sua “determinação social” é
objecto da ciência toda a matéria que a sociedade julga digna de
ser transmitida. Numa palavra, a ciência é aquilo que se ensina.

2.1 E o objecto de estudo da ciência de comunicação! Como defini-lo?


Retomemos as questões da interdisciplinaridade colocadas
nos parágrafos anteriores, e é possível perceber que o principal
obstáculo colocado à fundamentação de um saber
comunicacional diz respeito à dificuldade do estabelecimento de
“fronteiras” suficientemente precisas para fundar um objecto
próprio a esta disciplina. E digamos claramente, a fim de que não
haja mal-entendido, que não é o caso de se estabelecer fronteiras
rígidas e proibitivas, o que aliás não faria o menor sentido dentro
das Ciências Humanas. Mesmo um estudo tradicional não pode se
furtar do trabalho de definição de seu objecto e seria um engano
primário achar que a natureza interdisciplinar de um certo estudo
poderia dispensar este trabalho. Pelo contrário, ela exige um

50
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

esforço redobrado na medida em que este objecto tende, como


no caso da Comunicação, a se confundir com o objecto de outras
ciências. Luiz C. Martino (s.d)

O “processo comunicativo” é, e sempre será, um processo


essencialmente psicológico, sociológico, político, etc. Assim
colocado, o problema parece insolúvel. Mas do mesmo modo que
a dimensão física está presente na dimensão biológica, que por
sua vez se encontra presente na dimensão psicológica e esta na
dimensão social, sem que isto venha a significar um empecilho ao
estabelecimento de qualquer uma das ciências citadas, o
estabelecimento da disciplina Comunicação não está inviabilizado,
à priori, pela complexidade das relações de seu objecto de estudo.

Descartada essa objecção, cabe então analisarmos as


relações que se estabelecem entre os objectos dos diversos
saberes quando a análise converge sobre uma mesma matéria. E
aqui, logo de saída, nos deparamos com a questão de saber até
que ponto podemos dizer “a mesma matéria”, já que estes
saberes não se debruçam sobre uma realidade empírica pura, e
comum a todas as abordagens, mas que, em uma larga medida,
constroem seus objectos de estudo a partir de aparatos
conceituais e de interesses específicos. Em última instância, são
estes últimos que particularizam uma determinada área do
conhecimento, e a questão que se coloca é de saber se a
disciplina Comunicação pode formular um interesse específico.

Em suma, desde o início desta temática, todo o problema


abordado reside então em se definir um interesse e um objecto
que possam caracterizar os estudos de comunicação. Ora, se
nossa análise da transformação social segundo Martino funciona,
se a emergência de uma nova forma de organização colectiva
libera determinadas práticas sociais, notadamente a do uso de
meios de comunicação como factor de socialização, revelando um
novo sentido da comunicação social, podemos então afirmar que
a emergência mesmo de nossa disciplina surge da necessidade de
compreender este novo sentido dos “processos comunicativos” e
que tem nas práticas que envolvem o uso dos meios de
comunicação o seu objecto de estudo.

Não seria nenhuma aberração afirmar que os estudos de


Comunicação gravitam em torno das mídia, mesmo que esses
estudos nem sempre estejam atentos para este facto. Com efeito,

51
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

os meios de comunicação, diferentemente de outros aspectos


igualmente constantes na problemática, constituem o factor que
melhor pode caracterizar objecto dos estudos de Comunicação.
Basta comparar com outros elementos para se ter a confirmação.
Por exemplo, o factor “ideologia”, bastante ressaltado pelas
abordagens de influência marxista, é na verdade um objecto que
caracteriza melhor as ciências políticas que propriamente a
Comunicação.
Sumário
_______________________________

2.2 Actividade de Auto-avaliação


1. Por que razão os corolários da posição sobre a qual a
identificação “dos humanos, do social e do comunicacional”
não possível?
2. Quem levou a cabo as pesquisas estruturalistas na redefinição
das ciências de informação e comunicação centradas em
primeiro lugar na troca de formalização linguística?
3. Como conclui Daniel Bourgnox (2001) em relação crítica dos
corolários em relação ao conceito da comunicação?
4. A disciplina de comunicação surgiu de um questionamento.
Diga qual.
5. De que resulta a interdisciplinaridade que caracteriza as
ciências da comunicação?

2.3 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. A distinção entre os cientistas sociais e humanos e os da


comunicação continua a ser:
A. Fraco B. Forte C. Resistente
D. Relevante

2. “O que define a ciência não é nem o seu conteúdo, nem o seu


método nem a sua moral, nem o seu modo de comunicação mas
tão-só o seu estatuto (...). A citação pertence a:
A. Lévi-Strauss B. Jakobson C. Martino
D. Roland

52
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

3. “A ciência é aquilo que ensina”, segundo:


A. Lévi-Strauss B. Jakobson C. Martino
D. Roland

4. Os entraves na definição do objecto do estuda da comunicação,


deve-se ao difícil estabelecimento de:
A. Fronteiras B. Interdisciplinaridade C. Obstáculos D.
Fundamento

5. A natureza interdisciplinar de um estudo não dispensa a


definição de um objecto de estudo, a semelhança da
comunicação exige-se um esforço redobrado na medida em que
seu objecto tende a se confundir com objectos de:
A. Ciências antropológicas B. Outras ciências C. Ciências
sociais D. Nenhuma

6. “Os meios de comunicação”, diferentemente de outros aspectos


igualmente constantes na problemática, constituem o factor que
melhor pode caracterizar:
A. Objecto dos estudos de outras ciências B. Objecto dos estudos
de Comunicação
C. Objecto dos estudos de ciências sociais C. Objecto dos
estudos de ciências humanas

7. A luz de Luis C. Martino, o “processo comunicativo” é, e sempre


será, um processo essencialmente:
A. Psicológico, Sociológico e Político B. Psicológico,
Sociológico e Antropológico
C. Social, Sociológico e Político D. Psicológico,
Social e Político

8. A metáfora da saladeira e de autoria de:


A. Lévi-Strauss B. Jakobson C. Bougnoux
D. Roland

9. A semelhança dos meios de comunicação como factor que


melhor caracterizam o objecto de estudo da comunicação, o
factor “ideologia” e na verdade um objecto que se caracteriza
melhor às:
A. Ciências sociais B. Ciências politicas C. Ciências
antropológicas D. Nenhuma

53
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

10. A luz de Thomas Kuhn citado por Paulo Serra (2003) cada
paradigma comunicacional corresponde a uma determinada
comunidade científica e à mesma também:
A. Tarefas, estatutos académicos e institucionais
B. Papéis, estatutos profissionais e institucionais
C. Papéis, estatutos académicos e sociais
D. Papéis, estatutos académicos e institucionais

2.4 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Porque as ciências de
comunicação não passam de
Actividade de Auto-avaliação um espaço e território
interdisciplinar
2 Lévi-Strauss, Barthes ou
Jakobson
3 A comunicação não é um
objecto empírico ou material,
mas sim um objecto formal
4 Surge da Interrogação
antropológica sobre a
redefinição da cultura,
identificada com as diferentes
maneiras de comunicar
5 Resulta das múltiplas
disciplinas, adoptando a
mesma perspectiva
comunicacional

1 B
2 D
3 D
4 A
Actividade de Avaliação 5 B
6 B
7 A
8 C
9 B
10 B

54
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.5 Actividade Temática Geral


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. O “agir comunicacional” em detrimento do “agir instrumental”


têm sido enfatizado como relevantes por:
A. Jürgen Habermas B. Marcel Mauss C. Levi-Strauss
D. Edward T. Hall

2. A linguística de Saussure foi interpretada, da anterior “viragem


linguística” para “viragem comunicacional” por:
A. Michel Foucaul B. Paulo Serra C. Jürgen Habermas
D. Nenhum

3. A “viragem comunicacional” esta assente numa concepção de


língua não como tradução do pensamento e representação,
todavia como:
A. Forma de comunicação
B. Meio de comunicação
C. Abordagem comunicacional
D. Paradigma comunicacional

4. “A sociedade é unicamente composta por comunicações, e não


de homens” a citação pertence a:
A. Niklas Luhmann B. Marcel Mauss C. Levi-Strauss
D. Edward T. Hall

5. Entre os demais investigadores da comunicação, os da Escola de


Palo Alto considerados ser investigadores da “Nova
Comunicação”, são:
A. Gregory Bateson, Ray Birdwhistell, Erving Goffman, Edward Hall,
Don Jackson, Arthur Scheflen e Paul Watzlawick
B. Niklas Luhmann , Ray Birdwhistell, Erving Goffman, Edward Hall,
Don Jackson, Arthur Scheflen e Paul Watzlawick
C. Niklas Luhmann , Ray Birdwhistell, Erving Goffman, Edward Hall,
Don Jackson, Arthur Scheflen e Jürgen Habermas
D. Gregory Bateson, Ray Birdwhistell, Levi-Strauss, Edward Hall, Don
Jackson, Arthur Scheflen e Paul Watzlawick

6. O “Objecto dos estudos de Comunicação” é caracterizado:

55
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. Pelos meios de comunicação B. Pela interdisciplinaridade


C. Por paradigma formal C. Nenhum

7. O “processo comunicativo” é, e sempre será, um processo


essencialmente psicológico, Sociológico e Político, Segundo:
A. Lévi-Strauss B. Jakobson C. Bougnoux
D. Luis C. Martino

8. Bougnoux (2001) e autor simultâneo de:


A. Metáfora da saladeira e crítica aos corolários
B. Metáfora da saladeira e crítica ao paradigma formal
C. Metáfora do coelho e crítica aos corolários
D. Metáfora da saladeira e crítica aos honorários

9. A afirmação de um dos corolários sobre a qual as ciências da


comunicação não passam de um espaço ou território (...)
culminando com o dito no qual as ciências de comunicação são
uma apêndice:
A. Com direito de existência própria B. sem direito da existência
própria
C. Com direito a um objecto próprio D. Nenhum

10. A disciplina de comunicação surgiu em primeiro lugar na década


de 50 via:
A. Interrogação antropológica B. Interrogação sociológica
C. Interrogação social D. Interrogação científica

2.6 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A
2 A
3 A
4 A
Actividade Temática Geral 5 A
6 B
7 D
8 A
9 A
10 B

56
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2.7 Referência Bibliográfica

Cf. Bernard Miège, (1998), "Le communicationnel et le social: déficits récurrents et


nécessaires (re)-positionnements théoriques", in Loisir et Société , vol. 21, No 1, Presses de l’
Université du Québec, http://www.u-grenoble3.fr/les_enjeux.
Daniel Bougnoux, (2001), Introduction aux Sciences de la Communication , Paris, La
Découverte,
George Gerbner (2003), Teoria da Comunicação de Massas, Lisboa, Gulbenkian,
Luiz C. Martino (S/d), Interdisciplinaridade e Objeto de Estudo da Comunicação,
http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/520b5e9c86ccce328b10cf0c058d13c2.PDF
Paulo Serra (2007), Manual de Teoria de Comunicação, Universidade da Beira Interior,
Roland Barthes, (2002), "De la science à la littérature", in Oeuvres Complètes , Tome II, Paris,
Éditions du Seuil

57
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA 3: AS PESQUISAS EMPÍRICAS NORTE-AMERICANAS


Unidade temática 1: Pesquisas empíricas norte-americanas

Introdução
O presente Tema aflora na sua integra sobre as pesquisas feitas in
loco por teóricos dos Estados Unidos. Os modelos de comunicação
em abordagem no tema são os seguintes:

• Modelo de Lasswell
• Modelo de Fluxo de comunicação em dois tempos
• Teoria Matemática da Comunicação

Por um lado, o Tema narra sobre a génese da pesquisa empírica,


incluindo a conceitualização da mesma, e por outro lado, a
caracterização de cada modelo incluindo os seus princípios de
concepções teóricas. O objectivo geral do presente tema recai
sobre o saber dos impactos dos presentes modelos de
comunicação nos processos comunicativos durante o percurso de
sua aplicação.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Entender processo histórico das pesquisas empíricas
• Compreender a natureza dos modelos de comunicação e a sua aplicação nos
processos comunicativos

Unidade temática 1: Pesquisas empíricas norte-americanas


__________________________________________________
Introdução
1.0 Dissemelhança

No período entre 1ª e 2ª guerras mundiais, as


pesquisas passaram a utilizar metodologia e técnica de
observação das Ciências Sociais e instrumentos estatísticos e
matemáticos. Os tipos de pesquisas empíricas privilegiadas
dessa fase foram a pesquisa de mercado, a pesquisa de
opinião pública, a pesquisa de efeitos (com a técnica do
questionário e do Registro mecânico) e a análise de conteúdo;
todas utilizando o método quantitativo.

58
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Essas pesquisas priorizavam saber a influência de um


meio junto ao público, as possíveis mudanças de atitudes após
o indivíduo ter ficado exposto a certo conteúdo da mídia, ou
seja, o
Conteúdo das mensagens e também o efeito das campanhas
de veículos de comunicação de massa. Tratava-se de
pesquisas de campo utilizando questionários, ou de
laboratórios (pesquisa de efeitos), algumas feitas com o uso da
técnica do registo mecânico para medir a reacção do receptor
frente a determinado conteúdo exposto e outras com
abordagens psicológicas.

A luz de Mauro Wolf apud Tamara de S.B Guaraldo


(S.d), essas pesquisas empíricas iniciais que conduziram a
superação da Teoria das Balas Mágicas ou Agulha
hipodérmica, tinham como objectivo verificar empiricamente
a consistência e os efeitos da comunicação de massa, mas a
partir de diferentes abordagens, a saber as de campo tinham
orientação sociológica e as de laboratório orientação
psicológica-experimental. Apesar de possuírem o mesmo
objectivo, os resultados foram opostos:

✓ Os estudos de laboratório de abordagem psicológica-


experimental realçaram a possibilidade de se obter efeitos de
persuasão se as mensagens fossem estruturadas de acordo
com as características psicológicas dos destinatários; os
estudos de campo de abordagem sociológica defenderam que
a eficácia da comunicação de massa está associada aos
processos de interacção social do indivíduo.

Os estudos de laboratório de abordagem psicológica-


experimental estudavam predominantemente os efeitos da
comunicação de massa em situações de campanha, a título de
exemplo, as propagandísticas, publicitárias, eleitorais,
informativas). As pesquisas de orientação psicológica mais
significativas foram as realizadas por Carl Hovland para o
Exército norte-americano. Essas pesquisas priorizavam o
ponto de vista do emissor, pois buscavam dados para tornar a
mensagem eficaz segundo os efeitos pretendidos por quem as
produzia. (ibid)

Em simultâneo aos estudos psicológicos, foram


realizados os estudos de orientação sociológica que foram os

59
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

mais relevantes para a história da Pesquisa em Comunicação.


Foram chamadas de pesquisas administrativas ou
convencionais de comunicação. A pesquisa administrativa
servia aos propósitos do financiador da pesquisa, tipicamente
as principais indústrias da comunicação, o governo ou
doadores de fundações.

Dada a conclusão da pesquisa, os especialistas


voltavam para suas áreas sem desenvolver uma conclusão
sobre a comunicação em si, mas assim que essas pesquisas
empíricas sobre a exposição de indivíduos às comunicações de
massa iam sendo realizadas, cada vez mais os pressupostos da
Teoria das Balas Mágicas 4 ou agulha hipodérmica e os
conceitos de sociedade de massa passaram a ser
questionados. O funcionamento da comunicação de massa,
tido como uniforme e directo, portanto poderoso, e a
sociedade de massa, concebida como um agregado
homogéneo, foram gradualmente abandonados pelos
pesquisadores.

A Teoria das Balas Mágicas foi aos poucos abandonada


e muitos teóricos afirmaram depois que se tratava de uma
teoria extremamente ingénua. O que se deve considerar desse
período é o facto de que a guerra havia acabado há pouco
tempo, e as revelações de propagandas enganosas por
operadores da mídia, chocaram a população que havia
acreditado nessas mensagens. Em tempos de guerra, as
histórias enganosas foram utilizadas para que a população
apoiasse as acções do seu exército, o que é diferente nos
tempos de paz, como a pesquisa do Fundo Payne 5
demonstrou. Apesar dessas pesquisas estudarem aspectos do
processo comunicativo, a palavra comunicação só viria a
aparecer em estudos e livros a partir de 1940.

1.1 Engendro da pesquisa empírica

A pesquisa empírica feita pelos cientistas sociais dos

4
Modelo da teoria da comunicação que compara uma mensagem a uma injecção de uma "seringa hipodérmica".
Para este modelo, uma mensagem transmitida pela mídia é aceita e espalhada imediatamente e igualmente entre
todos os receptores, provocando um efeito rápido e poderoso entre eles.

5
DeFleur & Ball-Rokeach apud Tamara de S.B Guaraldo (s.d), apontam o Fundo Payne (pesquisas realizadas para
investigar a influência de filmes nas crianças) como o início da pesquisa empírica em Comunicação a partir da
década de 1920

60
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Estados Unidos da época correspondente a primeira metade


do Século XX, década de 1920 como aponta DeFleur e Ball-
Rokeach apud Tamara de S.B Guaraldo (s.d) sendo o início da
pesquisa empírica nos Estados Unidos, propõe uma série de
modelos de comunicação. Justificados pela sua relevância, só
iremos apresentar três modelos para discussão, devido à
importância que adquiriram na história da Pesquisa em
Comunicação, a saber:

1.1.1 Modelo de Lasswell (1948)

Um dos teóricos fundadores da Escola Americana de


Comunicação ou Mass Communication Research foi Harold
Dwight Lasswell. Lasswell participou durante a Segunda
Guerra Mundial de projectos de Pesquisa em comunicação de
guerra do governo norte-americano. Esse propagandista foi o
iniciador da análise de conteúdo. Segundo Richardson (S.d) o
estudo de Lasswell sobre a propaganda na Primeira Guerra
Mundial inaugurou a história da análise de conteúdo com
técnicas mais sofisticadas e procedimentos do tipo
quantitativo. De acordo com Richardson (idem), as pesquisas
dessa época tinham uma forte influência do behavorismo6,
que procurava descrever a conduta dos indivíduos como
resposta a estímulos.

É inegável o facto de que Lasswell era um


propagandista, e como tal, visava saber como persuadir as
pessoas. Seus postulados seriam à base de uma Sociologia
funcionalista da mídia, definida por Mattelart (S.d), como uma
técnica de pesquisa que estuda a atenção aos efeitos da mídia
sobre os receptores, a constante avaliação, com fins práticos,
das transformações que se operam em seus conhecimentos,
comportamentos, em suas atitudes, emoções, opiniões e em
seus actos são submetida à exigência de resultados formulada
por accionistas preocupados em pôr em números a eficácia de
uma campanha de informação governamental, de uma
campanha publicitária ou de uma operação de relações
públicas das empresas e, no contexto da entrada na guerra,
das acções de propaganda das forças armada.

6
Behaviorismo, também conhecido como comportamentalismo, é uma área da psicologia, que tem o
comportamento como objecto de estudo

61
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Como se sabe o Funcionalismo é herdeiro do


Positivismo e a Escola Americana ou Mass Communication
Research, formada por Lasswell, Lazarsfeld, Merton e outros
cientistas sociais, também se tornou conhecida por
Funcionalismo. A técnica desses estudos era a investigação
empírica, ou seja, conhecimentos práticos devidos à
experiência. O Modelo ou Paradigma de Lasswell estabelece
através do funcionalismo, uma analogia entre o corpo social e
o biológico: “Os processos de comunicação da sociedade
humana, quando examinados em pormenor, revelam
equivalência em relação às especializações encontradas no
organismo físico e nas sociedades animais inferiores”.

Mattelart (ibid:73), afirma que para a Sociologia


Funcionalista a mídia seria um mecanismo decisivo de
regulação da sociedade. Lasswell elaborou um dos mais
famosos e pioneiros modelos de comunicação que se tornou
conhecido como Modelo de Lasswell em 1948. Em seu artigo
“A Estrutura e a função da comunicação na sociedade” o
cientista político oferecia um ponto de vista tradicional de
abordagem da comunicação, enfatizando alguns princípios já
estudados por Aristóteles.
No esquema do Modelo de Lasswell encontramos um
esquema referente ao processo de comunicação, como ilustra
abaixo:

Fonte: Google: Modelo de Lasswell

62
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Riley & Riley (1959) explicam o estudo do comunicador


através do modelo de Lasswell, e descrevem a análise do
“Quem”, como pesquisas que descrevem as várias espécies de
comunicadores de massa, em termos de seu treinamento ou
de suas características sociais e de personalidade. Outra linha
de pesquisa focaliza quem é o comunicador tal como ele é
percebido por sua audiência na relativa credibilidade dos
diferentes comunicadores como fontes, na importância de tal
credibilidade para a efectividade, a longo prazo da mensage.

Para Santos (S.d), o Modelo de Lasswell procurava


recuperar a credibilidade na Teoria das Balas Mágicas, e não
admira por isso que a pergunta que concentrou as atenções
de Lasswell tenha sido ‘com que efeito’. Toda a fórmula sugere
uma linearidade típica das teorias de persuasão da época. Há
um emissor activo e um receptor passivo que se limita a reagir
aos estímulos. Toda a comunicação é intencional e destina-se
a obter efeitos, isto é a manipular.

O Modelo de Lasswell, segundo Santos (idem),


continuava a supor o postulado da Teoria da Bala Mágica,
uma relação behavorista de E-R, ESTÍMULO – RESPOSTA. E
como afirma Riley & Riley (Ibid:23), o receptor era visto como
directamente influenciado pela comunicação transmitida de
um lado, o comunicador preocupado apenas com a emissão
de sua mensagem, tornando-a o mais persuasiva possível; de
outro lado, o receptor só, em sua torre de marfim, chegando a
uma decisão”. O modelo de Lasswell foi apontado por Santos
como a primeira fórmula comunicacional.

As críticas são a de que esse paradigma não estudou o


acto comunicacional na sua totalidade, pois concentrou seus
esforços nos efeitos, ignorando também o papel do receptor,
como também podemos afirmar que o pesquisador tentou
sistematizar com seu modelo, um processo que não é estático.
Como nos diz Santos, todavia “o modelo representa hoje a
contribuição mais significativa da teoria das balas mágicas
para o estudo da comunicação de massas”. Isso se deve ao
facto de que o Modelo de Lasswell indicou aos pesquisadores
algumas questões nas quais poderiam centrar seus estudos
referentes à comunicação. Wolf (S.d), vai além e afirma que o

63
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Modelo de Lasswell foi mais que uma fórmula, pois ordenou o


objecto de estudo segundo variáveis definidas e, assim,
transformou-se numa verdadeira teoria da comunicação.

1.1.2 Modelo do fluxo de comunicação em dois tempos (1944)

Paul Lazarsfeld (1971), um judeu austríaco que


emigrou para os Estados Unidos para fugir de perseguições
nazistas, participou, juntamente com os pesquisadores
Bernard Berelson e Hazel Gaudet de uma pesquisa na região
de Erie County, no estado de Ohio, Estados Unidos, sobre a
decisão de votos dos eleitores. Segundo Santos (1992), os
pesquisadores partiram convictos de que a comunicação de
massa desempenhava papel fundamental na escolha de voto
do eleitor e que o mesmo deveria reagir realizando as ordens
transmitidas pelos meios.

Após vários meses de pesquisa na região de Erie


(E.U.A), os pesquisadores perceberam que as pessoas
pareciam muito mais influenciadas nas decisões políticas pelo
contacto face a face do que directamente pela comunicação
de massas. Eles reviram seus processos e descobriram então,
o papel do líder de opinião, alguém que fazia a ponte entre as
mensagens dos meios de comunicação e o eleitorado. Eles
analisaram a importância desse grupo primário no qual ocorre
a comunicação em duas etapas:

• Etapa 1: Às pessoas mais expostas à mídia;


• Etapa 2: Às pessoas para as que pouco se expõe à mídia.

Esse novo modelo, de que a comunicação se


propagava em dois tempos, Fluxo de comunicação em dois
tempos (Two-step flow of communication), derrubou o
postulado da Teoria da Bala Mágica, na qual a influência da
mensagem dos meios de comunicação era directa e imediata.
Os investigadores perceberam que uma mensagem em favor
de um candidato difundida pela rádio ou pela imprensa não
terá como resposta necessária a plena adesão a esse
candidato. Muitas vezes, a resposta é até negativa, e noutros
casos nem sequer há resposta. A mais importante conclusão
foi a de que, na formação da opinião, há influências mais
ponderosas do que a comunicação de massas. A imprensa, a

64
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

rádio e a televisão não actuam num vácuo social, mas numa


rede complexa de relações sociais.

O próprio Lazarsfeld reconheceu nos anos seguintes, a


necessidade de reformular alguns aspectos do two-step flow.
Os líderes de opinião não recebem muitas vezes a informação
directamente dos meios de comunicação e sim também de
outros líderes de opinião. Santos (1992) destaca que “além
disso, influentes e influenciados podem trocar reciprocamente
de papéis” e então, em vez da comunicação em dois tempos,
two step, após um certo tempo Lazarsfeld sugere a
comunicação a vários tempos, multi-step. Os estudos de
Lazarsfeld modificaram o modo pelo qual os teóricos
analisavam a sociedade, tida como uma massa isolada, e o
papel do receptor, que era visto como passivo e influenciado
directamente, segundo a Teoria das Balas Mágicas da época
do pós-guerra.

F
Fonte: google: Modelo do fluxo de comunicação em dois
tempos

Como comprova o texto de Riley & Riley (1971), no


final da década de 1950 a mentalidade dos pesquisadores
estava mudando, “Assim, parece pouco frequente que o

65
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

receptor da mensagem transmitida em massa seja atingido


directamente no seu papel, como um membro anónimo e
isolado da burocracia ou de uma sociedade de massa. Seu
recebimento da mensagem é, antes, ‘mediado’ através dos
agrupamentos fechados e informais aos quais ele também
pertence.

Mario Wolf (S.d), conta que enquanto a Teoria das


Balas Mágicas falava em manipulação e a abordagem
psicológica-experimental falava em persuasão, os estudos de
orientação sociológica, como o Modelo de Lazarsfeld, falavam
em influência. Esses estudos compreenderam que os efeitos
da comunicação de massa são parte de um processo mais
complexo que é o da influência pessoal. Por sua orientação
funcionalista, em seu artigo de 1948 Comunicação de massa,
gosto popular e acção social organizada, escrito em co-autoria
com Robert Merton, os autores indicaram três funções sociais
dos meios de comunicação de massa.

Os meios de comunicação atribuem status a questões


públicas, pessoas, organizações e movimentos sociais.
Aparentemente os públicos dos meios de comunicação
participam da crença circular: ‘Se você tem alguma
importância, estará no centro de atenção dos meios de massa
e, se você aí estiver, então você deve ser importante de facto’.
A execução de normas sociais, os meios de comunicação
tendem claramente a reiterar normas sociais, ao exibirem à
opinião pública os desvios em relação ao padrão geral.

O cidadão interessado e bem informado pode


congratular-se consigo mesmo em razão de seu elevado
estágio de interesse e informação, sendo para ele impossível
perceber sua recusa de tomar decisões e agir, em suma, ele
considera seu contacto secundário com a esfera da realidade
política, suas leituras, seus programas de rádio, suas reflexões,
como um desempenho substitutivo. Acaba confundindo
conhecer os problemas do momento com fazer algo a seu
respeito.

Lazarsfeld preocupado com os efeitos dos meios de


comunicação de massa e as relações dos indivíduos na
sociedade deu à Teoria da Comunicação, a contribuição para a
superação da Teoria das Balas Mágicas. No tocante às funções

66
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

dos meios de comunicação, Lazarsfeld apontava a reiteração


das normas sociais ao revelarem situações que vão além dos
limites dos “padrões morais públicos”. O Jornalismo, que
torna público esses desvios, provoca a aplicação das normas
sociais: “A imprensa, o rádio e as revistas exibem
gratuitamente conhecidos desvios diante do público e, em
geral, esta revelação força algum grau de acção pública contra
o que foi tolerado na esfera pessoal”.

Com a difusão de notícias sobre violência e


comportamentos desviantes, o Jornalismo contribui para que
a sociedade exija a punição do grupo que praticou esses actos
que atentam contra a ordem moral vigente, mas ao mesmo
tempo marca as pessoas que apesar de não terem nenhuma
ligação com o caso específico, pertencem a esse mesmo
grupo, sendo então estigmatizadas pelos meios de
comunicação de massa e identificadas com as atitudes
divulgadas, despertando comportamentos preconceituosos da
sociedade.

1.1.3 Teoria Matemática da Comunicação, ou modelo de Shannon e Weaver (1949)

O modelo de Shannon & Weaver também, conhecido


como Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da
Informação, foi um dos que tiveram grande influência nos
estudos da comunicação até nossos dias. O tempo e o espaço
certamente são questões que nos preocupam até hoje. Claude
Shannon e Warren Weaver eram engenheiros da Companhia
Telefónica de Nova York e estavam preocupados em transmitir
o maior número possível de mensagens no menor espaço de
tempo ao menor custo operacional, com a menor taxa de
ruído. Tamara de S.B Guaraldo (S.d)

A fonte de informação é o sistema de onde procedem


às mensagens, por exemplo, na fala seleccionamos através da
linguagem as palavras que vamos usar. E como diz Weaver: “A
fonte de informação selecciona uma mensagem desejada, a
partir de um conjunto de mensagens possíveis. O transmissor
transforma esta mensagem num sinal que é enviado ao
receptor através do canal de comunicação. Quando eu falo
consigo, o meu cérebro é a fonte de informação e o seu é o
destinatário; meu sistema vocal é o transmissor e o seu

67
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

ouvido, com o oitavo nervo, o receptor”. Atente-se a figure


abaixo.

Fonte: google: Modelo de Shannon e Weaver

Na telefonia a fonte de informação é o cérebro da


pessoa que fala (seleccionando a mensagem desejada a partir
de um conjunto de mensagens possíveis – repertório). O
transmissor converte a mensagem em ondas
electromagnéticas. O sinal é uma corrente eléctrica variável e
o canal é um fio. O receptor é o fone que recebe o sinal e o
converte em mensagem inteligível para o destinatário, o
cérebro da pessoa com quem se fala. Na fala a fonte de
informação é o cérebro, o sistema vocal é o transmissor e o
sinal é a pressão sonora variável e o canal é o ar, o ouvido com
o oitavo nervo é o receptor que leva a mensagem até o
destinatário, que é o cérebro da pessoa com quem se fala.

Pela própria formação dos pesquisadores, os exemplos


citados no artigo de Weaver, A Teoria Matemática da
Comunicação (The Mathematics of Communication, 1949)
exemplificam o sistema de comunicação aplicado à telefonia,
dizendo que na telefonia, o sinal é a pressão sonora variável e
o canal é um fio.

Os pesquisadores deixaram claro que informação, para


eles, não era conteúdo e sim “uma medida de sua liberdade
de escolha quando selecciona uma mensagem”. O conceito de
“entropia” emprestado da Física foi definido como medida de
informação, ou seja, grande possibilidade de escolhas. Ruídos
são as distorções que afectam a mensagem, pois provocam

68
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

uma incerteza que, segundo a Teoria Matemática da


Comunicação, é indesejável, e para evitar o ruído é que
devemos recorrer à redundância para combatê-lo. Hoje em
dia, teóricos destacam que o ruído também deve ser
considerado como um factor positivo, pois leva o emissor a
modificar, corrigir a mensagem, contribuindo para o
aperfeiçoamento da mesma.

A crítica que se fez a essa teoria é a de que seu teor


matemático a faz mais apropriada para máquinas e não para
seres humanos. Gabriel Cohn (1971), aponta o mérito da
precisão na Teoria da Informação dizendo o seguinte: “ocorre
que a teoria da comunicação, no sentido que lhe dá Weaver,
está concebida para tratar de problemas de engenharia da
comunicação, aqueles que envolvem a transmissão e recepção
de sinais por aparelhos mecânicos ou electrónicos, mais do
que a troca de mensagens por grupos humanos”.

Beltrão (1986) destaca a importância da Teoria da


Informação para o trabalho jornalístico, na qual a relação
espaço-tempo é importante, pois o espaço da notícia é
delimitado em caracteres e laudas; a velocidade do locutor na
locução; o tempo da sonoplastia e das imagens, o casamento
entre texto e imagem na TV para que não haja redundância
desnecessária, a redundância no texto radiofónico, são
elementos que devem ser calculados e seleccionados pelo
jornalista.

A Teoria da Informação por seu carácter linear, uma


mensagem que vai de um ponto a outro, é uma teoria que
concebia a comunicação apenas como transmissão, por isso é
que a chamaram posteriormente de modelo telegráfico da
comunicação. E como disse Cohn (Ibid), foi concebida para a
engenharia das telecomunicações mais do que para
mensagens entre seres humanos.

A pesquisa norte-americana da primeira metade do


Século XX inferiu traços básicos da comunicação social, a
exemplo da importância do meio, a relação dos componentes
sociais para produzir uma resposta perante os estímulos do
contexto e a transmissão da herança social, além do
reconhecimento do entretenimento como um dos traços
circunstanciais de um produto de massa. Além das críticas

69
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

específicas a cada modelo, outras críticas à pesquisa norte


americana dessa época foram a de eliminar o conflito,
simplificar as categorias de status e eliminar o factor humano
no contexto estrutural. E também o facto de que a crise dos
paradigmas nas ciências sociais levou ao consequente
abandono de teorias ditas totalizantes e de concepção
sistémicas. Tamara de S.B Guaraldo (S.d)

1.2 Actividade de Auto-avaliação

1. O que priorizavam saber as pesquisas empíricas privilegiadas


no período entre as grandes guerra?
2. A luz de Mauro Wolf apud Tamara de S.B Guaraldo (S.d), qual
era o objectivo das pesquisas empíricas iniciais que
conduziram a superação da Teoria das Balas Mágicas ou
Agulha hipodérmica?
3. Quais são as abordagens usadas na verificação empírica a
consistência e os efeitos de massa?

4. De que resultam os efeitos propagandísticos, publicitários,


eleitorais e informativos?

5. Como foram designados os estudos de orientação sociológica


mais relevantes para a história da Pesquisa em Comunicação?

1.3 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. A teoria das Balas Magicas, esta que compara mensagens a


injecção de uma seringa, foi abandonada aos poucos sob
pretexto de que tratava-se de uma teoria:
A. Extremamente importante
B. Extremamente ingénua
C. Extremamente Séria
D. Não extremamente importante

2. O inicio da pesquisa empírica é apontada para a década de:


A. 1950 B. 1960 C. 1920
D. 2000

70
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

3. O início da pesquisa empírica é apontada para o século XX,


segundo:
A. DeFleur e Ball-Rokeach B. Richardson C. Lasswel D.
Mattelart

4. Os modelos de comunicação propostos no âmbito da pesquisa


empírica nos Estados Unidos são:
A. Modelo de Lasswell (1938), Modelo do fluxo de comunicação em
dois tempos (1946), Teoria Matemática da Comunicação, ou
modelo de Shannon e Weaver (1950)
B. Modelo de Lasswell (1945), Modelo do fluxo de comunicação em
dois tempos (1944), Teoria Matemática da Comunicação, ou
modelo de Shannon e Weaver (1950)
C. Modelo de Lasswell (1948), Modelo do fluxo de comunicação em
dois tempos (1944), Teoria Matemática da Comunicação, ou
modelo de Shannon e Weaver (1949)
D. Modelo de Lasswell (1990), Modelo do fluxo de comunicação em
dois tempos (1944), Teoria Matemática da Comunicação, ou
modelo de Shannon e Weaver (1950)

5. Segundo Richardson (S.d) o estudo de Lasswell sobre a


propaganda na Primeira Guerra Mundial inaugurou a história da
análise de conteúdo com técnicas mais sofisticadas e
procedimentos do tipo:
A. Quantitativo B. Qualitativo C. Equitativo
D. Midiático

6. Um dos teóricos fundadores da Escola Americana de


Comunicação ou Mass Communication Research foi:
A. Harold Dwight Lasswell B. Richardson C. Merton D. Mattelart

7. É inegável o facto de que Harold D. Lasswell era:


A. um publicitário B. um propagandista C. um professor
D. Nenhum

8. A escola norte americana ou Mass Communication Research foi


formada por:
A. Lasswell, Lazarsfeld, Richardson B. Lasswell, Mattelart
,Merton
C. Lasswell, Lazarsfeld, Merton D. Lasswell, Lazarsfeld,
Weaver

71
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

9. O Modelo ou Paradigma de Lasswell estabelece através do


funcionalismo, uma analogia entre:
A. O corpo do individuo e o biológico
B. O corpo social e o fisiológico
C. O corpo físico e o biológico
C. O corpo social e o biológico

10. Modelo de Lasswel foi elaborado em:


A. 1930 B. 1948 C. 1600
D. 1900

1.4 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A influência do meio junto ao
público
Actividade de Auto-avaliação 2 Verificar empiricamente a
consistência e os efeitos da
comunicação de massa

3 Abordagens de campo e de
laboratório
4 Resultam de estudos de
laboratório de abordagem
Psico-experimental
5 Foram designadas por
pesquisas administrativas ou
convencionais de
comunicação
1 B
2 C
3 A
4 C
Actividade de Avaliação 5 A
6 A
7 B
8 C
9 C
10 B

1.5 Actividade Temática Geral

72
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.


Escolhe-a.

1. O Modelo gráfico de Lasswell é composto por seguintes


elementos, a saber:
A. Quem, O que, Canal, Efeitos, Intenções e Condições
B. Quem, O que, Canal, Efeitos, Intenções e Condições
C. Quem, O que, Canal, Efeitos, Intenções e Condições
D. Quem, O que, Canal, Efeitos, Intenções e Condições

2. No modelo E-R, o receptor era visto como:


A. Indirectamente influenciado pela comunicação transmitida de um
lado
B. Directamente desinfluenciado pela comunicação transmitida de
um lado
C. Directamento influenciado pela comunicação transmitida de
ambos os lados
D. Directamento influenciado pela comunicação transmitida de um
lado

3. O “Quem” na análise feita por Riley & Riley (1959), representa:


A. O consumidor B. Alvo- destinatário C. A audiência D.
Nenhum

4. Modelo de Lasswell procurava recuperar a credibilidade numa


das seguintes Teorias:
A. Balas Mágicas B. fluxo de comunicação C. Cibernética
D.Nenhuma

5. O modelo de Lasswell foi apontado por Santos (S/d) como:


A. A formula comunicacional final B. A primeira formula
comunicacional
C. A primeira formula midiática D. A terceira formula
comunicacional

6. O postulado da teoria Agulha Hipodérmica adoptado por


Lasswell, funcionava em plena relação com a corrente
Behaviorista:
A. Resposta-Estimulo B. Estimulo-Resposta C. Estimulo-Acção
D. Acção- Resposta

7. Uma das grandes críticas feitas sobre o modelo de Lasswell foi:

73
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. Não ter estudado o acto comunicativo na sua parcialidade, pois


concentrou seus esforços no efeito
B. Ter estudado o acto comunicativo na sua totalidade, pois
concentrou seus esforços no efeito
C. Não ter estudado o acto comunicativo na sua totalidade, pois
concentrou seus esforços no efeito
D. Não ter estudado o acto comunicativo na sua totalidade, pois
concentrou seus esforços estímulos

8. Wolf (S.d), vai além e afirma que o Modelo de Lasswell foi mais
que uma fórmula, pois ordenou o objecto de estudo segundo
variáveis definidas e, assim, transformou-se numa verdadeira:
A. Teoria da comunicação B. Estimulo-Resposta C. Teoria Bala
Magica D. Ciência

9. O modelo de Fluxo de comunicação surgiu no século:


A. XIX B. XX C. XV D. XVIII

10. Duas etapas foram usadas na região de ERI, Estados Unidos,


onde os pesquisadores descobriram que as pessoas pareciam
muito mais influenciadas nas decisões políticas pelo contacto
face a face, elas são:
A. As pessoas menos expostas e as que aos poucos se expõem a
mídia
B. As pessoas não expostas e as que aos poucos se expõem a mídia
C. As pessoas mais expostas e as que aos não se expõem a mídia
D. As pessoas mais expostas e as que aos poucos se expõem a mídia

1.6 Grelha de correcção


Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta
1 C
2 D
3 A
4 A
Actividade Temática Geral 5 B
6 B
7 C
8 A
9 B
10 D

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

1.7 Referência Bibliográfica

Armand e Michelle Mattelart (S/d), História das teorias da comunicação, p.40.


Beltrão, l., quirino, n.o. (1986), Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. São
Paulo: Summus Editorial,.
Cohn, G. (1971), Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo - Companhia Editora Nacional,
de São Paulo (1971), Companhia Editora Nacional,
JohnW. Riley, Matilde Riley (S/d), A comunicação de massa e o sistema social,
José Rodrigues dos Santos (S/d), O que é comunicação, p.23.
Lasswell, H. D. (1971), A estrutura e a função da comunicação na sociedade. In: Cohn, G.
Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo –
Companhia Editora Nacional,. p.105-17.
Lazarsfeld, P. F., MERTON, R. K. Comunicação de massa, gosto popular e acção social
organizada. In: Cohn, G. Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Editora da
Universidade
Mauro Wolf. (1971),Teorias da comunicação, p.119-20.
Roberto J. Richardson, Pesquisa social, p.173.
Santos, J.R. (1992), O que é comunicação. Lisboa, Portugal: Difusão Cultural,.
Tamara de S.B Guarald,(S/d), Aspectos da pesquisa norte-americana em comunicação
Primeira metade do Século XX,

75
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA 4: A CORRENTE CRÍTICA DA COMUNICAÇÃO


Unidade temática 1: Iniciação crítica às Ciências de Informação e
de Comunicação
Unidade temática 2: Correntes teórico-críticas da Comunicação

Introdução
O presente Tema engloba essencialmente dois itens cruciais para
a percepção da matéria crítica sobre os processos
comunicacionais, a saber:

• Iniciação crítica as Ciências de Informação e de Comunicação


• Correntes teórico-críticas da Comunicação

O Tema abordará em parte e com uma certa incidência as linhas


críticas lançadas por Mattelard às ciências de informação e
comunicação. Numa outra vertente, far-se-á a uma caracterização
generalizada das escolas teórico-criticas, isto é, desde a escola
funcionalista até ao paradigma das mediações, objectivando, de
maneira geral, perceber o extremismo, o apocaliptismo assim
como o favoritismo ou a boa vontade, todos promovidos pelas
correntes críticas em relação aos processos comunicacativos.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Entender as críticas feitas por Mattelard aos processos comunicativos
• Perceber o enfoque de cada corrente crítica em relação aos processos
comunicacionais

Unidade temática 1: Iniciação crítica às Ciências de Informação e


de Comunicação
______________________________________________________
______________

Introdução

As correntes críticas, como também pode se chamar de teorias


críticas, fundamentam-se principalmente nas humanidades,
particularmente na filosofia e na história. Carlos A.A Araújo
(2009).

76
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A postura de uma teoria crítica se relaciona essencialmente com a


ideia de suspeição de que a realidade tenha fundamento nela
mesma. Ao contrário das aproximações "positivas" ao real, a
teoria crítica tem por atitude epistemológica a desconfiança, a
negação do evidente, a busca do que pode estar escondido ou
camuflado.

A origem da teoria crítica remonta à filosofia de Heráclito, para


quem o factor mais relevante para a explicação da realidade
humana era a mudança, e não a estabilidade, como defendia
Parménides. Tal argumento foi retomado, séculos depois, por
Hegel, quando da formulação da dialéctica como método
filosófico para a compreensão da realidade. Sua aplicação no
campo das ciências humanas e sociais foi bastante vasta, sendo a
mais importante delas a teoria marxista, que vinculou a
abordagem dialéctica à compreensão dos factos humanos e
sociais. O resultado de tal empreitada é que as dimensões da
tensionalidade e da historicidade se tornaram as mais relevantes
para a explicação da realidade humana.

No campo da Ciências de Informação, é exactamente a


perspectiva marxista a que mais se consolida no âmbito da teoria
crítica da informação. Os modelos anteriores, principalmente o
sistémico, de natureza biológica, enfatizavam a estabilidade, a
permanência (por meio da definição de leis, do estabelecimento
das funções) e a integração (cada parte exercendo seu papel para
a manutenção do todo). Na direcção oposta, a teoria crítica vai
enfatizar o conflito, a desigualdade, o embate de interesses em
torno da questão da informação, e entretanto, buscará explicar os
fenómenos a partir de sua historicidade.

O estudo da informação do ponto de vista dessa teoria não se


atém mais às condições de eficácia de seu transporte, de suas
funções para o equilíbrio social ou dos procedimentos funcionais
para seu processamento no âmbito dos sistemas. A informação é
entendida, pela teoria crítica, como recurso fundamental para a
condição humana no mundo e, como tal, a primeira percepção
que se tem é de sua desigual distribuição entre os actores sociais.
Como recurso, a informação é apropriada por alguns, que
garantem para si o acesso. Aos demais, sobra a realidade da
exclusão.

Assim é que as temáticas estudadas no âmbito dessa teoria


envolvem a questão da democratização da informação, do acesso
77
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

à informação por parte de grupos e classes excluídos e


marginalizados, a criação de formas e sistemas alternativos de
informação, e mesmo estudos sobre a contra informação, como
forma de rejeição aos regimes informacionais hegemónicos.

Ao mesmo tempo, estudos que denunciam a dimensão ideológica


dos equipamentos culturais (museus, arquivos, bibliotecas),
reproduzindo lógicas sociais de dominação e aprofundando
diferenças cognitivas e de sensibilidade, são conduzidas por
pesquisadores que aliam o estudo da informação a uma sociologia
crítica da cultura. Bourdieux (2007)

É principalmente nos países do Terceiro Mundo que tal corrente


crítica se desenvolve, embora exista volume considerável de
contribuições de autores franceses e alemães para sua evolução
teórica, e apoio institucional de órgãos como a Unesco, para o
desenvolvimento de acções práticas no campo da
democratização. Ao mesmo tempo, grupos hegemónicos da
produção científica em ciências de informação, ligados ao
contexto anglo-saxão (Inglaterra e EUA), frequentemente rejeitam
e desqualificam estes estudos, recusando seu pertencimento ao
campo das ciências de informação por estarem "politizando" as
discussões. Mattelart (2002)

1.1 Crítica de Mattelard

A preocupação crítica de Mattelart com a transformação do


mundo, guia suas propostas teóricas e metodológicas. A aplicação
do método da economia política para pesquisar os sistemas e as
redes de informação hegemónicos visa compreender de forma
mais aprofundada o funcionamento do capitalismo e do poder da
mídia no campo da comunicação social. Suas proposições
metodológicas sobre a necessidade de utilizar métodos
antropológicos, sociológicos, históricos, políticos e económicos no
estudo dos processos de comunicação partem do fundamento
essencial de subversão do sistema capitalista e, portanto, da
necessidade de compreender de melhor forma os fenómenos
comunicológicos das diversas classes, grupos, comunidades e
sujeitos.

Nesta perspectiva, Mattelart resgata o trabalho de Mikhail


Bakhtin (1895-1975) com sua formulação dialógica da linguagem,

78
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

"que tomava em consideração as expressões concretas dos


indivíduos em contextos sociais específicos. No coração desta
concepção dialógica da linguagem exprime-se uma crítica radical
da definição dogmática da ideologia como conjunto petrificado de
afirmações gerais, cortadas daquilo a que Bakhtin chama. Para
Mattelart é fundamental essa afirmação de Bakhtin a respeito da
linguagem como campo de tensões e interesses conflictivos, a
linguagem como uma forma particular de cultura humana inserida
e profundamente vinculada com o social.

Para Mattelart, a linguagem é importante enquanto manifestação


de relações dialógicas-sociais e sob o aspecto de mostrar
contextos sociais particulares. A problemática da recepção, que
para este autor tem um valor de conhecimento crucial, adquire
por meio do estudo de Bakhtin um carácter mais abrangente. As
relações entre cultura e linguagem, entre cultura e comunicação
podem ser pensadas de maneira mais ajustada. O popular
reflectido na história do riso, da festa, do proibido; o resgate das
formas de comunicação presentes nos carnavais, nos rituais, nas
imagens, nos costumes grotescos: "As festividades são uma forma
primordial, marcante, da civilização humana.

As festividades tiveram sempre um conteúdo essencial, um


sentido profundo, exprimiram sempre uma concepção do
mundo". A problemática cultural no próprio Mattelart mudou no
decurso dos anos 70 e 80; deixou o restrito campo dos interesses
de uma classe particular das sociedades contemporâneas -o
proletariado- para incluir formas históricas de longo alcance e
pesquisar as variantes culturais interclassistas: étnicas, raciais,
nacionais, regionais, religiosas, tribais e de género. Nessa nova
perspectiva do autor a cultura popular não se esgota no problema
das classes, ela tem que ser pesquisada nas suas múltiplas formas
de manifestação, tanto quotidianas quanto periódicas-simbólicas.

A problemática da comunicação para Mattelart com a inserção da


metodologia do quotidiano aprofunda-se e amplia-se
significativamente. O sujeito membro de uma classe de seus
primeiros escritos torna-se um sujeito concreto inserido num
grupo social, num contexto histórico, numa vida familiar, numa
comunidade de vizinhos e em relações interclassistas quotidianas.
Esses sujeitos estruturam no dia-a-dia complexidades de sentidos,
de comportamentos e de construções materiais que devem ser
compreendidas pelos comunicólogos.

79
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Mattelart amplia sua perspectiva de conhecimento, porque sua


problemática de transformação dos processos, dos modos e das
formas de comunicação social não fica reduzida à contradição
entre burguesia/proletariado ou às conjunturas pré-
revolucionárias. O vanguardismo de um partido, ou um bloco, que
organizaria a produção cultural revolucionária é superado
mediante a construção de uma concepção que afirma a existência
de culturas populares, independentemente da vontade, dos
planos, dos programas ou dos desejos dos militantes de esquerda.

Metodologicamente, Mattelart afirma a importância do estudo


comunicológico do sujeito sem restringir essa pesquisa só aos
sujeitos transcendentes (figuras históricas); é importante,
seguindo a linha de pesquisa de Certeau (1994), conhecer os
indivíduos "ordinários", pois são estes que constituem a grande
massa que conforma as classes sociais subalternas, que produzem
uma cultura qualificada por outros parâmetros e valores, distintos
da lógica do mercado e do lucro.

O público, os sujeitos, deixam de ser elementos inconscientes


quase totalmente manipulados para tornar-se “objecto
qualificado”, essencial, de estudo da comunicologia. Reconhecer
essa importância foi uma questão crucial para as correntes críticas
em comunicação fortemente influenciadas até os anos 70 pela
Escola de Frankfurt ( a ser abordada na temática á seguir), na sua
versão Adorno-Horkeimer. Na década de 80 Mattelart poderia ter
optado pela linha pós-modernista apologista do poder omnímodo
da tecnologia, poderia ter continuado com o esquema
estruturalista e seus esquemas "sólidos" e imutáveis, poderia ter
assumido um radicalismo marxista de forma, epidérmico, mas ele
continua sua linha revolucionária de pensador crítico
questionando suas próprias proposições, suas linhas de estudo,
seus paradigmas teóricos, seus comportamentos militantes e suas
cosmovisões.

E é assim que o autor consegue combinar a consequência


revolucionária com uma transformação importante de seu
pensamento, ampliando-o significativamente e deslocando-o em
pontos considerados imutáveis ou descartáveis segundo seja
opção dos oportunistas ou dos sectários, variantes que
proliferaram a partir da década de 80. A coragem de Mattelard foi
realizar uma revolução interna sem cair na saída fácil do

80
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

diletantismo intelectual da corrente pós-moderna ou na


prostituição intelectual dos funcionalismos de toda espécie. Na
sua perspectiva, não é possível entender o presente
comunicológico sem situá-lo no processo histórico que esclarece
seus nexos com problemáticas sociais e filosóficas gerais e seus
vínculos com problemas desenvolvidos pelos modelos de
pensamento do que hoje conhecemos como ciências sociais e
humanas.

Mattelart demonstrou muito mais domínio e aprofundamento


teórico-metódico nos seus textos político-ideológicos uma linha
de pesquisa em que actualiza, constrói, reformula e critica os
conhecimentos marxistas acerca da problemática da
comunicação. Foi um inovador revolucionário das proposições
funcionalistas e dogmáticas dentro da esquerda latino-americana
e mundial. Seus livros “La comunicación masiva en el proceso de
liberación (1973)”, “Cultura y comunicaciones de masa (1975)”,
“Frentes culturales y movilización de masas (1977)” e
“Comunicación y nueva hegemonia (1981)” são uma amostra
significativa do trabalho do autor na elaboração de uma teoria
crítica revolucionária da comunicação social.

Sumário
_______________________________

1.2 Actividade de Auto-avaliação

1. Diga qual era o factor mais relevante para explicação da


realidade humana nas vésperas da teoria crítica que remonta
à filosofia de Heráclito.
2. Em quê as correntes criticas às ciências de informação e
comunicação tem o seu principal fundamento?
3. Qual é a primeira percepção que se tem da informação que é
entendida, pela teoria crítica (perspectiva marxista), como
recurso fundamental para a condição humana no mundo?
4. Avance o objectivo da aplicação do método da economia
política segundo Mattelart (2002), para pesquisar os sistemas
e as redes de informação hegemónicos.
5. De que fundamento essencial de subversão parte das
proposições metodológicas de Mattelart (2002), sobre a

81
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

necessidade de utilizar métodos antropológicos, sociológicos,


históricos, políticos e económicos no estudo dos processos de
comunicação?

1.3 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. A problemática cultural no próprio Mattelart mudou no decurso


dos anos 70 e 80; deixou o restrito campo dos interesses de uma
classe particular das sociedades:
A. Contemporâneas B. Modernas C. Antigas
D. Clássicas

2. Entre os demais livros escritos por Mattelart, pode-se destacar:


A. Cultura y comunicaciones (1975) e Comunicación y nueva
hegemonia (1981)
B. Cultura y comunicaciones de masa (1975) e Comunicación y
antiga hegemonia (1981)
C. Cultura y comunicaciones de masa (1975) e Comunicación y
nueva hegemonia (1981)
D. Comunicaciones de masa (1975) e Comunicación y nueva
hegemonia (1981)

3. No estudo do processo da comunicação, Mattelart (2002)


necessita compreender de melhor forma os fenómenos
comunicológicos das diversas:
A. Tribos, grupos, comunidades e sujeitos B. classes, grupos,
comunidades e agentes
C. classes, grupos, comunidades e sujeitos D. classes,
grupos, indivíduos e sujeitos

4. Nos trabalhos de Mattelart, a linguagem é importante enquanto


manifestação de:
A. Relações dialógicas-anti-sociais B. Relações dialógicas-sociais
C. Relações analógicas-sociais D. Relações dialógicas-sócio-
económicas

5. Mattelart afirma a importância do estudo comunicológico do


sujeito sem restringir a sua pesquisa do quotidiano só aos

82
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

sujeitos transcendentes (figuras históricas), é importante, seguir


a linha de pesquisa de Certeau (1994), de modo a conhecer:
A. Os indivíduos sedentários B. Os indivíduos
extraordinários
B. Os indivíduos singulares D. Os indivíduos ordinários

6. A adopção da “metodologia do quotidiano” por Mattelart, visa


pesquisar as classes (sociais) nas suas múltiplas formas de
manifestação:
A. Tanto ordinárias quanto periódicas-simbólicas
B. Tanto quotidianas quanto periódicas-sociais
C. Tanto quotidianas quanto periódicas-simbólicas
D. Tanto ordinárias quanto periódicas-simbólicas

7. A metodologia do quotidiano de Mattelart permite ainda que o


sujeito membro de uma classe de seus primeiros escritos torna-
se:
A. um sujeito concreto inserido num grupo anti-social, num
contexto histórico, numa vida familiar, numa comunidade de
vizinhos e em relações interclassistas quotidianas.
B. um sujeito concreto inserido num grupo social, num contexto
psicológico, numa vida familiar, numa comunidade de vizinhos e
em relações interclassistas quotidianas.
C. um sujeito concreto inserido num grupo social, num contexto
histórico, numa vida familiar, numa comunidade de vizinhos e em
relações interclassistas quotidianas.
D. um sujeito concreto inserido num grupo social, num contexto
histórico, numa vida particular, numa comunidade de vizinhos e
em relações interclassistas quotidianas.

8. Reconhecer a importância do público, dos sujeitos como objecto


qualificado, foi uma questão crucial para as correntes críticas em
comunicação fortemente influenciadas até os anos 70:
A. Pela Escola de Frankfurt B. Pela Escola de Palo
Alto
C. Por ambas Escolas D. Nenhuma

9. A coragem de Mattelart foi realizar uma revolução interna sem


cair na saída fácil do diletantismo intelectual da corrente:
A. Pós-moderna B. Moderna C. Estruturalista
D. Nenhuma

83
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

10. Mattelart demonstrou muito mais domínio e aprofundamento


teórico-metódico nos seus textos político-ideológicos uma linha
de pesquisa em que:
A. Actualiza, destrói, reformula e critica os conhecimentos marxistas
acerca da problemática da comunicação
B. Actualiza, constrói, reformula e aprecia os conhecimentos
marxistas acerca da problemática da comunicação
C. Actualiza, constrói, reformula e critica os conhecimentos
marxistas acerca da problemática da comunicação
D. Actualiza, constrói, formula e critica os conhecimentos marxistas
acerca da problemática da comunicação

1.4 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A mudança, e não a
estabilidade
Actividade de Auto-avaliação 2 História e Filosofia
3 Desigual distribuição entre os
actores sociais

4 Compreender de forma mais


aprofundada o
funcionamento do capitalismo
e do poder da mídia no
campo da comunicação social

5 Sistema capitalista
1 A
2 C
3 C
4 B
Actividade de Avaliação 5 C
6 C
7 C
8 A
9 A
10 C

84
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Unidade temática 2: Correntes teórico-críticas da Comunicação


_____________________________________________________

Introdução

A presente temática faz referência ás correntes teóricas,


que nalgum momento são também designadas por correntes
críticas dada a sua natureza criticista em relação as práticas
comunicacionais e a sociedade na qualidade de um sistema
composto por agentes receptores de informação. A luz de Renato
de Campos (2006), descriminamos á seguir algumas correntes
teóricas cruciais para o estudo da comunicação:

2.1 Escola funcionalista

A corrente teórica funcionalista desenvolveu-se nos


Estados Unidos, trazendo uma visão da comunicação muito
particular, onde, ao que se percebe, a comunicação atende a
funções sociais específicas que, por sua vez atrelam-se aos
interesses dos grupos ou elites sociais de uma determinada
comunidade, na qual se trabalha a comunicação em termos de
manipulação da mensagem com o intuito de manter a ordem
social. “Em toda a sociedade os valores são moldados e
distribuídos de acordo com padrões mais ou menos peculiares
(instituições) ” (Laswell, 1971. “Estas funções, bem como outros
mecanismos psicológicos e sociais, têm diversas formas de
aplicação. Conhecer tais funções significa poder, o qual oferece a
oportunidade de ser usado para interesses gerais ou específicos”
(Merton apud Lima, 1990).

Analisando estas duas frases podemos chegar ao centro do


pensamento Funcionalista e seu estreito vínculo com a
manutenção da ordem social. Neste sentido, os funcionalistas
admitem um aspecto de manipulação e conquistador de opiniões
no campo da comunicação, e o admitem de modo natural,
designando para tanto funções ou papéis, que cada instituição ou

85
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

grupo social desempenha para a manutenção da ordem. O poder


e sua perpetuação na sociedade através da comunicação são a
tónica do pensamento funcionalista. Nesta corrente teórica
percebe-se um inequívoco posicionamento positivista, não há um
tom de criticidade quando se aborda o factor manipulação, e sim
um apaziguamento com o processo.

A mensagem é então pré-elaborada e estritamente


condicionada a atingir objectivos e públicos específicos, é a ênfase
no transmitir que torna a comunicação um acto de manipulação.
Temos um exemplo da aplicabilidade destes conceitos na área da
propaganda onde realmente se trabalha com persuadir da
comunicação e a ideia de se elaborar uma mensagem auto-
suficiente que atinja um determinado segmento da sociedade, ou
seja, o público-alvo, é não só inerente ao processo como aplicado
quotidianamente nos planeamentos de campanha.

A ênfase no transmitir fica ainda mais explícita quando


analisamos o paradigma de Lasswell e as funções que dele
decorre segundo seu autor: - quem (emissor): análise de controlo,
- diz o que (mensagem): análise de conteúdo, - em que canal:
análise dos meios, - para quem (receptor): análise de audiência, -
com que efeito: análise de efeitos. É no direccionamento que
Lasswell dá ao analisar o processo de comunicação que
percebemos sua tendência no transmitir, aliás ela se torna
evidente quando nos apegamos ao tipo de leitura que a escola
funcionalista faz ao analisar o processo: - quem inicia o acto de
comunicação não o faz ao acaso, esperando uma resposta
qualquer, ou seja, o comunicador guia a sua mensagem,
direccionando-a e tal o faz através da análise de controle. Para
quem se posiciona como receptor resta uma posição passiva, pois
este é colocado como simples audiência, um receptor que ouve e
é modificado pelo teor da mensagem passivamente.

Os autores funcionalistas procuram então, com ênfase no


transmitir a mensagem e com o processo de comunicação
enraizado no aspecto de manipulação e controle, elaborar uma
teoria que atenda a estes aspectos, e chegam até a ser um tanto
ingénuos em suas proposições, no intuito de buscar uma
socialização harmoniosa. Este aspecto encontra-se explícito no
seguinte trecho: “Uma terceira consequência social dos mass
media tem passado longamente despercebida. A ela podemos
chamar a disfunção narcotizante dos mass media”.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

É denominada disfuncional, supondo que não seja de


interesse da complexa sociedade moderna ter uma grande
parcela da população politicamente apática e inerte” (Lima, 1990,
p.114,115).

A partir daí os autores descrevem todo um suporte


disfuncional dos mass media que se resume na seguinte
proposição: “narcotizar ao invés de estimular” a acção social.
Quando foi citado uma certa ingenuidade teórica, se fez, porque
pareceu claro que uma grande parcela da sociedade permanecer
inerte é sim um interesse de Estado e note que nem assumir a
palavra Estado eles fazem, ao invés encobrem-no no manto da
“complexa sociedade moderna”. Aos funcionalistas, Umberto Eco
denominaria Integrados e os contraporia aos “Apocalípticos” da
Escola de Frankfurt que analisaremos a seguir.

2.2 A Escola de Frankfurt

A corrente teórica da comunicação que ficou conhecida


como a Escola de Frankfurt e que deve sua denominação ao início
de seus trabalhos no Instituto de Pesquisa Social, criado em 03 de
Fevereiro de 1923, vinculado à Universidade de Frankfurt, mas
que em seu desenvolvimento, pouco ficou estabelecida nesta
localidade. Devido a conturbações históricas que coincidiram e
afectaram irreversivelmente a vida do Instituto, temos no
decorrer do tempo e conforme a propagação do nazismo na
Europa, a mudança do Instituto por diversos países europeus até
culminar com sua emigração para os Estados Unidos, mais
precisamente em Nova York, sob a denominação de
“International Institute of Social Research” vinculado a
Universidade de Colúmbia (1933-1950).

O pensamento frankfurtiano caracteriza-se por seu


embasamento marxista na apreciação do homem e suas relações
na sociedade, aprofunda-se no estudo dos meios de comunicação
de massas trazendo, talvez como um dos maiores benefícios, o
conceito de Indústria Cultural, onde os bens culturais da
humanidade são apropriados pelo capitalismo onde passam a
operar como mais uma ferramenta de dominação social e
desvalorização ou esvaziamento do conceito de arte.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

“A dissolução da obra de arte não ocorre porque o sistema


de produção de mercadorias havia sido suprimido e sim porque
ela foi transformada em mercadoria, assimilando-a a produção
capitalista de bens” (Freitag, 1986). É assim que a cultura, num
processo denominado “perda da aura”, torna-se um valor de
troca. A produção artística e cultural é organizada sob moldes das
relações capitalistas, atendendo aos padrões económicos de tal
regime e reproduzindo, neste sentido perde seu valor intrínseco,
para ganhar um valor de troca (mercadoria). Todo este processo
da Indústria Cultural serve, segundo a Escola de Frankfurt, como
uma forma de dominação e perpetuação do regime, é o que se
pode chamar de função alienante da arte, “a cultura fornecida
pelos meios de comunicação de massas não permite que as
classes assalariadas assumam uma posição crítica, anulam os
mecanismos de reflexão crítica para accionarem a percepção e os
sentidos” (Freitag, 1986).

Se, no início do Instituto a visão da luta de classes era o


meio, a priori, das classes operárias reverterem o sistema de
dominação, já na década de 60 esta esperança ou visão é
abandonada (apesar do posicionamento marxista de seus
pensadores). O sistema seria perpetuado e revigorado: “A
desactivação da história, a naturalização dos processos de
produção, o congelamento das condições de exploração, de
alienação e de dominação, não deixou dúvidas de que a salvação
da humanidade não poderia ser esperada das massas dos
oprimidos” (Freitag, 1986).

Assumindo este posicionamento pessimista em suas


teorias é que os frankfurtianos mereceram a denominação de
“Apocalípticos”. Sem dúvida alguma o posicionamento teórico
destes pensadores, apesar do pessimismo, é muito mais engajado
e crítico, portanto menos inocente, que os da teoria Funcionalista.
Tracemos um paralelo entre estas escolas para poder evidenciar o
aspecto acima citado: Em a “Dialéctica do Esclarecimento”,
Adorno e Horkheimer (1947), insistem no seguinte: “a
omnipotência do sistema capitalista, reificado no mito da
modernidade, estaria deturpando as consciências individuais,
narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao
sistema estabelecido” (Freitag, 1986).

Este sentido narcotizante também é abordado na escola


Funcionalista por Merton e Lazarsfeld ao operarem com o

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

conceito de disfunção narcotizante e é aí que reside a


diferenciação entre ingenuidade e engajamento. Os
Frankfurtianos assumem uma posição crítica perante esta
situação, lançam o alerta, enquanto os Funcionalistas assumem o
conceito disfuncional, assim eles conseguem enxergar o processo,
porém não identificam suas causas, implicações e os interesses de
fundo implícitos no fenómeno da inserção do indivíduo no
sistema de dominação social e sua perpetuação.

2.3 Estruturalismo

As abordagens utilizadas pela Escola de Frankfurt e pelos


Funcionalistas apegam-se ao desenvolvimento de teorias que
ressaltam as implicações do progresso dos meios de comunicação
de massa na sociedade contemporânea, e é verdade que estas
duas correntes chegam a dois posicionamentos distintos e
praticamente opostos, mas ambas não trabalham com o processo
em si da comunicação.

assim que podemos imprimir a estas duas correntes


teóricas o facto de trabalharem com o “em torno” do processo
comunicacional, em oposição a corrente Estruturalista que, como
veremos a seguir, centra suas atenções para o interior deste
mesmo processo, debruçando-se, em primeiro plano, sobre a
mensagem produzida, assim sendo, as abordagens citadas
anteriormente seriam um estudo sociológico da comunicação
numa visão estruturalista, vale também ressaltar que ao
concentrar-se na mensagem estabelece-se um paralelo do
Estruturalismo com os estudos da Teoria da Informação, mas
convém ressaltar que enquanto os estruturalistas buscam os
dados comuns, as coincidências ou estruturas de uma dada
mensagem, os informacionistas, por assim dizer, vêem na
mensagem suas categorias exactas, seus signos e sua
mensurabilidade, buscam então a taxa de informação, sendo que
os dados comuns, estruturais, seriam tratados como factores de
redundância.

O posicionamento Estruturalista “é a busca de invariantes


ou de elementos invariantes entre diferenças superficiais” (Lévi-
Strauss, 1989, p.20). Neste sentido é que se preocupa com a
análise da mensagem, deslocando-a do contexto e tomando-a em
duas direcções distintas, a saber:

89
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2 a) na análise do conteúdo explícito, num enfoque quantitativo,


onde se busca isolar no corpo do texto determinados elementos;
3 b) na análise da estrutura da mensagem (onde se dá o efeito de
sentido), do discurso não manifesto. (Barros, 1992, p.11).

É neste ponto que acontecem as críticas ao pensamento


Estruturalista, pois ao deslocar a mensagem de seu contexto, para
analisar apenas o seu conteúdo, explícito ou implícito, deixa-se de
lado uma enorme gama de variáveis de contexto que afectam
profundamente, por assim dizer, o conteúdo de uma mensagem e
que são desprezadas pelos Estruturalistas, direccionam as
atenções para o interior do texto, omitindo os problemas do
contexto da emissão e, sobretudo, da recepção; como se a
comunicação ocorresse fora da história. (Barros, 1992)

No modelo estrutural opera-se também uma dissociação


entre emissor, mensagem e receptor. Desconsidera-se quem
produziu a mensagem e a quem foi dirigida, relegando-os ao
estudo sociológico que deve tratar dos grupos humanos. O que
profundamente se opera, então, é uma dissociação entre
semiologia e sociologia. Não se aposta na interdisciplinaridade
como em outras correntes que consideram texto e contexto
fundamentais para o estudo amplo da comunicação e o fazem
promovendo a análise da recepção, activando-a em seu contexto.
Assim, podemos concluir que, numa análise estrutural, não
apenas assistimos ao deslocamento da mensagem de sua
realidade temporal e histórica, de inserção no próprio contexto
em que foi produzida; como também assistimos a dissociação da
mensagem em relação aos sujeitos que participam do processo de
comunicação, tirando da mensagem também o seu contexto
social, tomando-a assim nua, como se a mensagem fosse um ente
transcendente na realidade sociocultural na qual está inserida.

2.4 A Teoria da Informação

Concentrando seus esforços na mensagem produzida


dentro do processo de comunicação e utilizando de uma
abordagem semiótica da mesma, a Teoria da Informação traz
como novidade, no estudo da comunicação, uma certa medida de
precisão, trata-se de uma teoria estatística e matemática que em
sua análise da informação tenta mensurar o processo de modo a
torná-lo preciso e sem ruídos. Na Teoria da Informação e da

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Comunicação, o que importa essencialmente é a medida de


conteúdo de informação, ou melhor, do teor ou taxa de
informação em suas origens e rigorosamente falando, a Teoria da
Informação surge como uma teoria estatística e matemática.
Pignatari (s/ d)

Vale a pena dizer que estamos tratando aqui de um


conceito que envolve o ser humano em suas relações com os
demais através da comunicação, seja ela um mero diálogo ou
mesmo um veículo de massas, tentar tornar exacto e preciso este
processo tem suas complicações, não que uma abordagem
semiótica do tema não traga elucidações, mas complicado seria
tentar fechar o assunto apenas com esta ferramenta.

O ser humano e seu processo de comunicação com o


mundo é muito mais amplo e cheio de caminhos que uma
abordagem estatística e matemática seriam capazes de explicar.
“Não há informação fora de sistema qualquer de sinais e fora de
um veículo ou meio apto a transmitir estes sinais. Em
consequência a nossa ênfase recairá sobre os aspectos sintácticos,
formais e estruturais da organização e transmissão das
mensagens”. (Pignatari, s/d, p.12)

Neste sentido fica explícito o objecto desta corrente


teórica, a informação e suas variáveis quantificáveis, mas para
isso deve-se desconsiderar o todo da inserção social dos
indivíduos que participam do processo, isso sem falar na inserção
da própria mensagem na realidade em que foi produzida.

Na Teoria da Informação admite-se a comunicação como


um fenómeno que exerce uma função social, e neste aspecto
passa a ter uma aproximação com a Escola Funcionalista pois,
como ela, também admitem a manipulação da mensagem e vêem
o mecanismo da comunicação como um estímulo, por parte do
emissor, em busca de determinadas respostas; seria mais ou
menos como os funcionalistas observavam o processo de
comunicação, como um estímulo a um organismo, e aí eles nos
remetem a comparações biológicas, determinando certas
respostas. Do ponto de vista psicológico, comunicação pode ser
definida como resposta discriminada ou seleccionada a um
estímulo.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Assim sendo, chega-se a concluir que, a comunicação não


é apenas a resposta, mas a relação estabelecida pela transmissão
de estímulos e pela provocação de respostas. O estudo dos
signos, das regras que regem e de suas relações com os usuários
ou intérpretes forma o cerne do problema da comunicação.
(Pignatari, s/d, p.16). Note que podemos até sermos traídos, em
pensamento pela palavra relação do texto acima, não se trata
aqui de uma relação emissor receptor como é vista na teoria da
recepção, onde o destinatário da mensagem também é agente
operante do processo e fruidor da mensagem, mas sim de uma
relação que ocorre no próprio nível da emissão, pois é o próprio
emissor quem lança os estímulos adequados à resposta que ele
quer, neste caso a comunicação torna-se um processo controlável
e funcional.

A comunicação, ainda aqui, parece ser vista como um


fenómeno unidireccional, aprofundemo-nos neste ponto: “Para
que a informação ou mensagem transite por este canal,
necessário se torna reduzi-la a sinais aptos a esta transmissão:
esta operação é chamada de codificação e quem ou o que a
realiza é o transmissor ou emissor. No ponto de destino, um
receptor reconverte a informação a sua forma original,
descodificando-a com vistas ao seu destinatário, e todas as fontes
de erros são agrupadas sob a mesma denominação de ruído ou
distúrbio” (Pignatari, s/d, p.17).

Finalmente, não há espaço para o receptor, visto aqui


como um mero destinatário - decodificador da mensagem e, note-
se, da mensagem original, qualquer parâmetro de interpretação,
por parte do receptor, pode deturpar a mensagem de seu sentido
original e por consequência, esta interpretação, pode ser
enquadrada como ruído ou distúrbio. Portanto, voltamos a frisar
que, a Teoria da Informação, em sua abordagem exacta da
mensagem, tem sua validade, porém desconsidera vários
aspectos da realidade humana e, sobretudo, da realidade de
quem vai receber a mensagem.

2.5 Marshall McLuhan e a ênfase aos meios

Dentro do paradigma da comunicação, enfatizar o meio


em que a mensagem é propagada ou transmitida e mesmo
afirmar que “o meio é a mensagem” como faz o profeta deste

92
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

posicionamento - Marshall Mcluhan - significa ter uma abordagem


da comunicação segundo uma preocupação com o aparato
técnico desenvolvido neste século sob a forma de novos meios de
comunicação de massa, como o rádio e a televisão.

Esta preocupação tecnicista da comunicação é o que se


destaca nos textos de Mcluhan. Neste sentido, Mcluhan, propõe
os meios tecnológicos criados pelo homem como extensões de
seu próprio corpo e confronta as máquinas e a impressão de
Gutemberg (extensões dos músculos) com a era digital ou
electrónica (rádio e televisão - extensões do sistema nervoso).

Em termos de mudança que a máquina introduziu em


nossas relações com os outros e connosco mesmos, pouco
importava que ela produzisse “flocos de milho ou Cadillacs” uma
expressão usada pelo autor para significar maravilhas. A
restruturação da associação e do trabalho humano foi moldada
pela técnica da fragmentação que constitui a essência da
tecnologia da máquina. O oposto é que constitui a essência da
tecnologia da automação” (Mcluhan, 1979, p.21). E segue: “A
estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou
caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala
das funções humanas anteriores, criando tipos de cidades de
trabalho e de lazer totalmente novos” (Mcluhan, 1979, p.22).

Este exemplo é amplamente elucidante do pensamento


contido na ênfase nos meios, expresso aqui por Mcluhan, neste
caso não se trata de expandir um viés da humanidade que estava
atrofiado ou até mesmo inexistente, trata-se sim de dinamizar e
maximizar uma característica do ser humano que seria a
locomoção ou transporte, não só de pessoas ou cargas, mas
também de comunicação; porque a locomotiva também tornou-
se um meio, talvez não directa como a imprensa, o rádio e a
televisão como os entendemos hoje mas indirectamente como
portadora de notícias ou distribuidora de cartas; mas voltando a
questão, a locomotiva criou uma nova organização social
característica de sua época e a ela voltada, é neste ponto que
Mcluhan afirma que “o meio é a mensagem”, ou seja, o meio
carrega em si seus próprios paradigmas que alteram e moldam a
sociedade segundo seu inter-relacionamento com este meio ou
com novos meios. “Cada produto que molda uma sociedade
acaba por transpirar em todos e por todos os seus sentidos”
(Mcluhan, 1979, p.37).

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Estabelecendo um paralelo entre a posição de Mcluhan e


as correntes da Informação e a Estruturalista notamos que a
Ênfase nos Meios traz bem menos uma preocupação com os
signos, não trabalha com a semiótica tão em voga nas outras duas
correntes. Mas se pensarmos no aspecto do controle e
manipulação da mensagem podemos estabelecer um elo entre a
Ênfase nos Meios e o Funcionalismo, os consumidores devem
estar passivos na sua interacção com os meios que estabelecem a
maneira de agir destes indivíduos e que, por sua vez, são
controlados por uma elite, detentora do poder, que designa os
comportamentos, posicionamentos e atitudes mais adequados,
ou seja, a função que cada um deve assumir e respeitar na sua
interacção com a sociedade.

“The medium is the message”, esta citação estabelece que


os efeitos de um meio de comunicação são inseparáveis do
próprio meio. Significa isto que os efeitos, globais e profundos,
dos meios de comunicação, são incontroláveis? Seguramente não,
e nisto reside o núcleo prático da obra de Mcluhan: “os efeitos
dos meios de comunicação são susceptíveis de controlo, mas
somente através daqueles que detém o domínio dos próprios
media, e não do lado dos consumidores das mensagens que eles
veiculam” (Cohn, 1971, p.367,368). Marshall Mcluhan, em sua
ênfase nos meios, é um autor polémico, por uns enaltecido e por
outros severamente criticado, mas o que fica de seu pensamento
é a radicalização no meio como determinante do comportamento
do homem, e se não quisermos assumir, de fato, esta linha,
teremos que reconhecer que muito disto acontece mesmo em
nossa organização e posicionamento perante o mundo.

2.6. Os estudos centrados na recepção

Teoria da Recepção, pertencente a década de 70,


representa uma reviravolta em relação ao Estruturalismo, trata-se
de uma ampliação da visão em relação ao fenómeno
comunicacional. Se, no Estruturalismo temos o estreito vínculo
com a mensagem como objecto de estudos, na Teoria da
Recepção amplia-se o foco de acção promovendo o encontro da
obra com o leitor, deixando portanto de lado o isolamento da
obra, no que poderíamos chamar de esvaziamento do contexto.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

É portanto o traço mais significativo, talvez uma evolução,


o confronto da obra com o receptor, uma interacção a ser
profundamente considerada pois desloca o receptor de uma
posição passiva, de receptáculo de um conteúdo orientado, para a
posição de fruidor da mensagem elaborada e produzida, por ele
próprio, no seu entendimento. As correntes anteriores davam
ênfase ao que foi dito, agora preocupa-se com as consequências
do que foi dito, na sua interface com a realidade onde se insere o
receptor.

“A recepção de uma obra literária é entendida como um


processo na qual a obra é recriada, tornando-se assim um
produto de sua interacção com o leitor” (Cruz, 1986, p.57). É a
poética da recepção, a mensagem elaborada pelo emissor,
segundo sua realidade, sofre uma nova produção, segundo os
parâmetros do receptor, no momento que este assimila a
mensagem. “Não assinala a presença do receptor para fazer dele
um mero decodificador do sentido original ou intencional da obra.
O receptor não é o destinatário de um sentido já constituído,
enviado pelo autor/ destinador por meio do texto” (Ibid: p.62).

Neste sentido é que se desenvolve o paradigma da


estética da recepção, trazendo como objecto de estudos o eixo
obra-leitor, ou seja, as relações advindas desta interacção para o
entendimento da mensagem, a qual não é mais a mensagem
original, mas sim uma nova mensagem recém-produzida na sua
interacção com o receptor no processo de entendimento.
Umberto Eco ao apresentar seu trabalho “Obra Aberta”, discute a
formação deste carácter de interacção entre mensagem e
receptor, inserindo-os no contexto das artes e da música; segundo
Eco, as novas obras musicais, ao contrário dos clássicos
apresentam-se “não como obras concluídas que pedem para
serem revividas e compreendidas numa direcção estrutural dada,
mas como obras abertas, que serão finalizadas pelo intérprete no
momento em que as fruir esteticamente”. Eco (1976, p.39).

Em relação as obras de arte tecem o seguinte comentário:


“Uma obra de arte é um objecto produzido por um autor que
organiza uma secção de efeitos comunicativos de modo que cada
possível fruidor possa recompreender, cada fruidor traz uma
situação existencial concreta, uma sensibilidade particularmente
condicionada, uma determinada cultura, gostos, tendências,
preconceitos pessoais, de modo que a compreensão da forma

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

originária se verifique segundo uma determinada perspectiva


individual”. Eco (ibid, p.40)

Neste sentido tornam-se explícitos os parâmetros que


influenciam a relação obra-público, ou mesmo, mensagem-
receptor. Neste mesmo texto, Eco alerta para que este carácter
interpretativo da obra, por parte de quem a observa já era
diagnosticado “nos antigos” (cita Platão - no Sofista, entre outros)
porém, Eco alerta para o posicionamento anti-abertura, em que
os autores cercavam a obra de vários “artifícios de perspectiva”
de modo que a mesma pudesse ser encarada de um “único modo
certo possível” (Ibid:p.42).

A abertura da obra de arte, da música e mesmo da


mensagem em si é uma evolução pois insere o receptor no
processo da comunicação através da observação da sua realidade
sócio-cultural, activando sua capacidade interpretativa, não mais
relegando-o a uma espécie de ser passivo no processo da
comunicação. Cabe aqui uma última menção a Umberto Eco que
define especialmente este processo: “Cada fruição, é assim, uma
interpretação e uma execução, pois em cada fruição a obra revive
dentro de uma perspectiva original” (Ibid: p.40).

2.6 Paradigma das mediações

Trata-se de uma teorização que leva em conta, além da


racionalidade humana, o seu lado emocional, os quais estão
inseridos no processo de comunicação. Em linhas gerais tenta-se
visualizar o indivíduo como ser pensante e racional ao mesmo
tempo que sentimental e lúdico, carregando no íntimo paixões,
loucuras, manias, preconceitos pessoais, e tantos outros aspectos
que permeiam a sua formação como indivíduo inserido numa
realidade sócio temporal e que, em que pese o seu lado racional,
tem em seu carácter, um meio que misto ou miscelânea de todas
estas características.

Partindo do homem, ele é concebido como homo sapiens


e homo faber. Ambas as definições são redutoras e
unidimensionais. Portanto, o que é demens – o sonho, a paixão, o
mito – e o que é ludens – o jogo, o prazer, a festa – são excluídos
de homo, ou, no máximo considerados como epifenómenos”
(Morin, 1986, p.113). Neste sentido condena-se, mais uma vez, a
visão do ser humano como puro receptáculo de informações,

96
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

parece, agora, que de uma vez por todas se abandona aquele tipo
de pensamento carregado de um certo grau de positivismo onde
a mensagem é pré-elaborada de modo a se fazer valer perante o
seu destinador, mero decodificador.

A glorificação da mensagem como tínhamos no


Estruturalismo e, principalmente, na Teoria da Informação,
caímos de joelhos uma vez que distinguimos, no receptor, toda
uma ambivalência do ser, profundamente humano, só o seu
carácter ludens e demens explicitados por Morin já colocam por
terra a tentativa determinista da mensagem. Por outro lado,
vemos toda a situação funcionalista-positivista também distorcer-
se perante a desunidade que representa o todo social. “Mas é
preciso ver que a organização social é um circuito incessante
entre interacções que emanam de baixo e coerções dominadoras
provenientes de cima (Estado)”. Morin (1986, 117)

Neste embate de interesses é que sobrevive a organização


social, a ideia funcional de aceitação de um modelo de papéis a
serem cumpridos de funções sociais desempenhadas a partir do
interesse comum, despenca neste próprio choque de interesses
egocêntricos entre várias comunidades ou indivíduos que
compõem o conjunto da nação, “nossa sociedade é o produto
permanente das interacções entre os milhões de indivíduos que a
constituem e não têm nenhuma existência fora dessas
interacções”. Morin (1986)

O que se é contra, no paradigma das mediações, constitui


aquele bloco de pensamentos simplificacionistas que não vêem a
realidade multifacetária da organização social e, pelo contrário,
carregam uma mesmice organizadora que Morin denomina de
pensamento “redutor/unidimensional”. Levando esta
consideração para a área da comunicação podemos estabelecer o
seguinte aspecto: a mensagem é produzida por um indivíduo, ou
mesmo por um veículo de comunicação de massa, de modo que,
esta mensagem, carrega em si todo um aparato que a insere
numa realidade social e de época, repleta de interesses e
carregada de mitificações, simplificações, reduções que a inserem
em sua realidade, na outra ponta do jogo, o fruidor desta
mensagem pode, com toda sua bagagem de formação, mediar
esta mensagem, debruçando-se sobre ela, analisando-a em suas
entrelinhas, ou simplesmente absorvê-la, ou, até mesmo nem se
dar conta de que a recebeu. É esta a mediação do paradigma, um

97
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

não aos dogmatismos e simplificações, a possibilidade de se


enxergar toda a complexidade do ser humano e sua inserção na
sociedade, não com uma visão reducionista, mas com um
pensamento de carácter complexo, observador das multifacetas
da inserção social.

Sumário
_________________________

2.8 Actividade de Auto-avaliação

1. Quando é que a corrente teórica da comunicação que ficou


conhecida como a Escola de Frankfurt foi criada?
2. Caracteriza pensamento frankfurtiano.
3. Diga onde é que se desenvolveu a corrente teórica
funcionalista.
4. Na corrente Funcionalista, assume-se uma visão sobre a qual a
comunicação atende a funções sociais específicas, diga quais.
5. De acordo com o quê os valores são moldados e distribuídos
em toda a sociedade?

2.9 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Os autores funcionalistas procuram com ênfase no transmitir a


mensagem e com o processo de comunicação enraizado no
aspecto de:
A. Manipulação e Controle B. Saber e Controle
C. Manipulação e Acção D. Controle e
Controle

2. Segundo Lima (1990), É denominada disfuncional os mass media


pelo facto de:

A. Não ser de interesse da complexa sociedade moderna ter uma


menor parcela da população politicamente apática e inerte
B. Ser de interesse da complexa sociedade moderna ter uma grande
parcela da população politicamente apática e inerte
C. Não ser de interesse da complexa sociedade antiga ter uma
grande parcela da população politicamente apática e inerte

98
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

D. Não ser de interesse da complexa sociedade moderna ter uma


grande parcela da população politicamente apática e inerte

3. Uma terceira consequência social dos mass media é:


A. Função narcotizante dos mass media B. Disfunção
narcotizante dos mass media
C. Disfunção narcotizante dos media D. Função
narcotizante dos media

4. A “Indústria Cultural”, “referida na Escola de Frankfurt se


resume na apropriação dos bens culturais da humanidade pelo:
A. Socialismo B. Capitalismo C. Feudalismo
D. Nepotismo

5. O “suporte disfuncional” dos mass media, mencionada na


corrente funcionalista, se resume na seguinte proposição:
A. Socializar ao invés de estimular a acção social
B. B. Narcotizar ao invés de estimular a acção social
C. Narcotizar ao invés de inibir a acção social
D. Narcotizar ao invés de estimular a acção psicológica

6. A Escola do Frankfurt aprofunda-se no estudo dos meios de


comunicação de massas trazendo consigo o conceito de:
A. Indústria Cultural B. Indústria comercial
C. Indústria Sociocultural D. Indústria Político-
cultural

7. Pela sua natureza capitalista na abordagem da humanidade


(apropriação dos bens), a Escola de Frankfurt ficou conhecida
por merecer como:
A. Apocalíptica B. Exterminadora C. Exploradora
D. Nenhuma

8. As abordagens utilizadas pela Escola de Frankfurt e pelos


Funcionalistas apegam-se ao desenvolvimento de teorias que
ressaltam as implicações do progresso dos meios de
comunicação de massa na sociedade contemporânea, todavia
ambas não trabalham com:
A. O processo político em si B. O processo em si da
informação
C. O processo em si da socialização D. O processo em si
da comunicação

99
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

9. Apesar da Escola de Frankfurt ser pessimista, engajado e crítico,


ela é:
A. Menos inocente que os da teoria Frankfurtiana
B. Menos inocente que os da teoria Funcionalista
C. Mais inocente que os da teoria Funcionalista
D. Menos inocente que os da teoria estruturalista

10. A crítica de Adorno e Horkheimer (1947) a corrente


Frankfurtiana consistia no seguinte:
A. A omnipresença do sistema capitalista, reificado no mito da
modernidade, estaria deturpando as consciências individuais,
narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao
sistema estabelecido
B. A omnipotência do sistema capitalista, reificado no mito da
modernidade, estaria deturpando as consciências individuais,
narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao
sistema estabelecido
C. A omnipotência do sistema capitalista, reificado no mito
contemporâneo, estaria deturpando as consciências individuais,
narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao
sistema estabelecido
D. A omnipotência do sistema socialista, reificado no mito da
modernidade, estaria deturpando as consciências individuais,
narcotizando a sua realidade e assimilando os indivíduos ao
sistema estabelecido

100
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.10 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 03 de Fevereiro de 1923

Actividade de Auto-avaliação 2 caracteriza-se por seu


embasamento marxista na
apreciação do homem e suas
relações na sociedade
3 Estados Unidos
4 Interesses dos grupos ou
elites sociais de uma
determinada comunidade

5 padrões mais ou menos


peculiares
1 A
2 D
3 B
4 B
Actividade de Avaliação 5 B
6 A
7 A
8 D
9 B
10 B

101
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.11 Actividade Temática Geral


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. O posicionamento Estruturalista “é a busca de invariantes ou de


elementos invariantes entre diferenças superficiais, neste
sentido é que se preocupa com a análise da mensagem,
deslocando-a do contexto e tomando-a em duas direcções
distintas””. A citação pertence a:
A. Lévi-Strauss B. Barros C. Mattelart
D. Nenhum

2. A corrente estruturalista busca os dados comuns, as


coincidências ou estruturas de uma dada mensagem, ao passo
que os informacionistas, buscam:
A. A taxa de informantes B. A taxa de
informação
C. A taxa de informatização D. Nenhum

3. As críticas ao pensamento Estruturalista, se resume no facto de


que os pensadores teóricos do estruturalismo:
A. Deslocam a mensagem de seu contexto, e não analisam o seu
conteúdo, explícito ou implícito (...)
B. Não deslocam a mensagem de seu contexto, para analisar apenas
o seu conteúdo, explícito ou implícito (...)
C. Deslocam a mensagem de seu contexto, para analisar apenas o
seu sentido, explícito ou implícito (...)
D. Deslocam a mensagem de seu contexto, para analisar apenas o
seu conteúdo, explícito ou implícito (...)

4. A “atenção direccionada para o interior do texto” é uma


característica típica da corrente:
A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

5. A afirmação sobre a qual “A omnipotência do sistema


capitalista, narcotizam a realidade e assimilando os indivíduos
ao sistema estabelecido” Pertence a corrente:
A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

102
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

6. Trata-se de uma corrente dentro do qual há uma dissociação


entre emissor, mensagem e receptor, ela é:
A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

7. “Manipulação e Controle” e uma das características da corrente:


A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

8. O conceito “Indústria Cultural” é empregado na corrente:


A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

9. A mensagem é considerada como se fosse um ente


transcendente na realidade sociocultural na qual está inserida.
Esta afirmação pertence a corrente:
A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista
D. Nenhuma

10. Numa análise estrutural, não apenas assistimos ao


deslocamento da mensagem de sua realidade temporal e
histórica, de inserção no próprio contexto em que foi produzida;
como também assistimos:

A. A dissociação da mensagem em relação aos sujeitos que


participam do processo de comunicação
B. A associação da mensagem em relação aos sujeitos que
participam do processo de comunicação
C. A dissociação da mensagem em relação as massas que participam
do processo de comunicação
D. A dissociação da mensagem em relação aos sujeitos que não
participam do processo de comunicação

103
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.12 Grelha de correcção


Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta
1 A
2 B
3 D
4 B
Actividade Temática Geral 5 A
6 B
7 C
8 C
9 B
10 A

104
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.13 Referência Bibliográfica

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Eco, Umberto, (1986), Obra Aberta. São Paulo: Perspectiva, 1976. Morin, Edgar. Para Sair Do Século XX.
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Freitag, Bárbara, (1986), A Teoria Crítica. São Paulo: Brasiliense
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Mattelart, Armand, (s/d), El Imperialismo En Busca De La Contrarevolución Cultural, Caracas
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Pignatari, Décio, (S/d), Informação, Linguagem E Comunicação. São Paulo: Cultrix
Renato De Campos, (2006), Teorias Da Comunicação: As Correntes Teóricas No Estudo Da Comunicação De
Massa, Revista Uniara, N.19

105
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA 5: COMUNICAÇÃO E CULTURA: AS DINÂMICAS DA RECEPÇÃO


Unidade temática 1: Relação Comunicação e Cultura
Unidade temática 2: Dinâmica de Recepção

Introdução
O presente Tema analisa questões relacionadas com a dinâmica
de recepção nos processos da, isto é, na relação cultura e
comunicação. Essencialmente aborda-se aqui o seguinte:

• Relação comunicação e cultura


• Dinâmica de recepção

O Tema primeiramente versa sobre as diferentes perspectivas que


ajudam na compreensão da relação comunicação e cultura, sendo
estes dois elementos indissociáveis por natureza da própria. De
seguida, este traz detalhes relacionados com a dinâmica da
recepção, isto é, as abordagens que testificam do ponto de vista
epistemológico o processo comunicativo que envolve o emissor e
receptor na sua interpelação, quer nas modalidades fácticas, quer
nas modalidades digitais. A intenção do tema em relação ao leitor,
reside no facto de fazer entender os pontos gerais sobre o
processo de recepção de informação no individuo, enquanto, um
ser que possui sua própria cultura e seus próprios costumes.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Entender o processo e a dinâmica geral de recepção (emissor-receptor) no
âmbito comunicativo.

Unidade temática 1: Relação Comunicação e Cultura


____________________________________________

Introdução

Ao priorizar-se o enfoque sobre as vinculações entre


comunicação e cultura, desloca-se o foco exclusivo dos meios
comunicacionais, que têm seu valor reposicionado, para
privilegiar as mediações próprias da recepção televisiva,
106
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

enfatizando-se a posição da cultura e do quotidiano. Há um


rompimento com as análises apocalípticas, que vêem o receptor
indefeso e apático diante do poder indefensável da mídia massiva,
a qual muitas vezes é apresentada como constituindo uma esfera
distinta da cultura. Por esta via, reestabelece-se o bom senso de
que, se os receptores não são mais considerados guiados pelas
indústrias culturais, a sociedade não é só mídia, ou seja, há muito
mais dados a serem observados, formando as mediações. Valério
Cruz Brittos (S/d)

Martín Barbero apud Valério Cruz Brittos (S/d), ao tratar


das mediações que envolvem a recepção e, por consequência, a
percepção da realidade, afasta da mídia a responsabilidade de
formadora única dos modos de ser e agir dos seres humanos,
sepultando as propostas que viam uma influência directa das
primeiras sobre os segundos. Mas muitos outros autores, na
actualidade, de diferentes linhas de estudo, têm relacionado
comunicação e cultura. Relacionar comunicação e cultura significa
um salto, por apreender o fenómeno como integrante de um
processo de maior dimensão e não de forma estanque. Este salto
provoca o abandono da posição de solidez que assegura o
tratamento da comunicação reduzida a um produto, a um veículo
ou a um meio, no máximo, para inseri-la no quotidiano das
pessoas. É um processo de rompimento e ampliação.

Para Martín Barbero (1985), pensar nos processos de


comunicação a partir da cultura implica deixar de pensá-los desde
as disciplinas e os meios. Implica a ruptura com aquela compulsiva
necessidade de definir a ’disciplina própria’ e com ela a segurança
que proporcionava a redução da problemática da comunicação à
dos meios. Por outra parte, não se trata de perder de vista os
meios, senão de abrir sua análise às mediações, isto é, às
instituições, às organizações e aos sujeitos, às diversas
temporalidades sociais e à multiplicidade de matrizes culturais a
partir das quais os meios-tecnologias se constituem. Valério Cruz
Brittos (S/d),

A realidade é que a cultura está na mídia, pois o que é


transmitido pelos meios de comunicação é cultura. Sob pena de
se cair num outro extremo, contudo, deve-se ressaltar que, se
tanto as culturas alternativas quanto hegemónicas são veiculadas
pelos meios, estão também fora deles. Embora a comunicação
midiática a cada momento envolva mais e mais as possibilidades

107
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

de troca de sentido, ela não é única. Ou seja, a produção de


sentido não é viabilizado só pelas indústrias culturais, envolvendo
ainda e necessariamente as mediações. Pretende-se eliminar
qualquer possibilidade de ver a comunicação como totalizante.

É necessário, ao elevar-se a comunicação ao patamar da


cultura, não superestimá-la e crê-la como panaceia capaz de
resolver problemas que são da constituição da sociedade. “Não é
o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação (NTCs),
isoladamente, que vai proporcionar a criação de um novo
patamar de vida social, se nada for feito para combater o injusto
acesso a quase todos os bens, inclusive os básicos, nesta
sociedade”. (Ibid:p.2)

Na percepção de Jean Caune (2008), as relações entre as


noções polissémicas de cultura e de comunicação configuram-se,
no campo das Ciências da Informação e da Comunicação, em
torno de discursos que tratam dos mesmos objectos reais, a
saber, os meios de comunicação, as práticas culturais, os objectos
artísticos, as políticas de comunicação, etc. Existem pelo menos
duas grandes perspectivas, duas “formações discursivas”, no
sentido atribuído por Foucault, nas quais os discursos eruditos
sobre a cultura e a comunicação se cruzam, se imbricam e se
hibridam.

Perspectiva 1

Primeira perspectiva, que aqui será somente indicada,


uma vez que ela é rica, profunda e diversa, foi traçada pelo
pensamento antropológico e filosófico contemporâneo, que se
interroga sobre a experiência vivida oriunda da relação que o
sujeito falante estabelece com o mundo social. Os discursos que
fazem parte dessa perspectiva vão buscar nos saberes específicos
da antropologia, da sociologia, da psicologia, da linguística e da
psicanálise uma grande parte de seus conceitos.

ram numa pluralidade de significa-


ções registradas pelas palavras nos discursos. São essas as palavras
que usa-
mos para nos comunicar. São elas que nos entregam "descrito" e
"interpre-
tado" pelas gerações anteriores o pequeno espaço do
ram numa pluralidade de significa-

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

ções registradas pelas palavras nos discursos. São essas as palavras


que usa-
mos para nos comunicar. São elas que nos entregam "descrito" e
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ções registradas pelas palavras nos discursos. São essas as palavras
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mos para nos comunicar. São elas que nos entregam "descrito" e
"interpre-
tado" pelas gerações anteriores o pequeno espaço d
Eles buscam identificar o que, no campo da cultura
tomada em seu sentido amplo, diz respeito às trocas simbólicas.
Assim, as interacções, as influências e as mediações culturais são
consideradas como modalidades de transmissão entre o passado
e o presente, entre os espaços públicos e a vida privada. Esse
pensamento, para utilizar uma expressão do linguista Émile
Benveniste apud Valério Cruz Brittos (S/d), que desenvolve uma
linguística de segunda geração, fundada no conceito de
enunciação, distingue dois modos de “significância”, que
correspondem à distinção entre língua e discurso.

A primeira, a significância “semiótica”, está ligada à lógica


do signo. A segunda, a significância “semântica”, ligada ao
sentido, resulta do mundo da enunciação e do universo do
discurso (Benveniste, 1969). Esses dois modos conferem à cultura
sua dimensão de mediação que se manifesta, ao mesmo tempo,
como produção do sentido e como construção da forma. Eles
permitem aos processos culturais funcionarem como espaços nos
quais são transmitidas as diversas formas da experiência humana.

Perspectiva 2

De facto, para além de um pensamento da mistura ou do


hibridismo que configura “a trama actual da modernidade e da
discontinuidade culturais”, Martín-Barbero (2002), conjuga a
sociologia da cultura (meios de comunicação de massa), a estética
(do folclore às formas populares) e a filosofia da linguagem
(práticas de recepção) e, desse ponto de vista, ele pode ser
considerado como um filósofo da globalidade da cultura. Por
outro lado, podemos identificar os discursos que tomam
directamente por objecto os fenómenos culturais do ponto de

109
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

vista dos suportes, dos actores, dos efeitos sobre os receptores,


da constituição das formas.

Analisadas as perspectivas de Jean Caune (2008),


avançaremos de seguida a análise feita por Márcio Souza
Gonçalves (2002), sobre a qual há evidentemente uma
indissociabilidade fundamental entre comunicação e cultura.
Segundo ele, não se pode pensar uma sem a outra: inexiste
cultura sem comunicação; não há comunicação possível sem uma
cultura que seja seu contexto. É necessário portanto avançar para
além do truísmo que sustenta essa indissociabilidade.

Uma primeira maneira de articular mais profundamente


comunicação e cultura é pensar os modos macroscópicos segundo
os quais a presença de determinados meios afecta e é afectada
pelos contextos culturais onde se localizam. Pensa-se então nas
diversas maneiras como diferentes tecnologias de comunicação
permitem caracterização de determinados contextos culturais.
Assim, por exemplo, a reprodutibilidade exponencial, e a criação,
de imagens marcaria a cultura contemporânea.

Nosso presente seria o dessa apoteose das imagens. Esse


modo profícuo de investigação comporta contudo seu perigo, sua
própria armadilha: o perigo é o do esquecimento de que essas
macrocaracterizações, se são conceitualmente vigorosas, não são
a realidade, mas apenas abstracções, ferramentas teóricas para se
tentar compreender o que se passa. Abaixo da superfície macro, a
realidade comporta uma multidão de desvios, singularidades,
linhas de fuga, usos, cuja compreensão põe em jogo um segundo
modo de articular comunicação e cultura.

De maneira complementar, trata-se então de olhar de


perto, de prescrutar essas singularidades microscópicas, de tentar
uma aproximação dos microagenciamentos locais entre processos
de comunicação e processos culturais. O que aqui importa é
precisamente o que escapa às macrodescrições. Não basta então
pensar os grandes padrões, é preciso descer aos pequenos
fragmentos que compõem o mosaico. Assim, um factor se torna
central: o agente humano.

Este é o terceiro elemento do que, na realidade, mais do


que um jogo binário entre comunicação e cultura, é um tripé:
“comunicação, cultura, subjectividade/corpo”. A presença do

110
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

corpo, ao lado da já tradicional subjectividade, serve para lembrar


que o humano também é carne, fisiologia, hábitos corporais,
sensibilidade. Essa presença humana aponta para a noção de uso,
para a importância da apropriação que os humanos realizam das
tecnologias e produtos comunicacionais num dado contexto
cultural. É preciso ver então o que se fabrica a partir dos produtos
comunicacionais, é preciso ver o que é feito com os meios. As
culturas humanas são indissociáveis desses processos de uso, de
apropriação, de fabricação.

Há por um lado uma dimensão cultural individual, por


outro uma dimensão cultural colectiva. A dimensão colectiva é a
dos ritos, dos ajuntamentos que de algum modo se servem de
tecnologias de comunicação, e as tecnologias digitais, com suas
redes, são frequentemente utilizadas nesse sentido, dos
exercícios de sociabilidade que envolvem mídia, exercícios sempre
em algum nível inventivos. Essa dimensão colectiva coexiste com
a dimensão individual da apropriação, com o que uma pessoa
pode fazer solitariamente, com a singularidade do caso único.

Os meios de comunicação, mesmo quando abordados


isoladamente, sempre foram referidos ao conjunto dos meios
presentes em seu contexto, de modo que a mídia é sempre
pensada como uma operação de conjunto, em que um meio
ganha seu sentido e deve ser compreendido em relação a todos
os outros, com todas as interferências possíveis. Evita-se com isso
o perigo da absolutização de uma tecnologia como se tivesse
surgido ex-machina e produzisse seus efeitos sem depender do
espaço cultural e dos grupos de actores sociais que dela se
servem. Os meios, em suma, são pensados a partir de uma
perspectiva ecológica.

Deste modo, a afinidade temática em torno do eixo


comunicação e cultura permite uma grande variação de
paradigmas e enquadramentos, o que exclui, de princípio,
qualquer forma de dogmatismo. Essa variação de perspectivas de
análise sempre fez do Comunicação e Cultura um espaço
privilegiado para a produção de interfaces entre o campo da
comunicação e outros campos de saber contemporâneos, tais
como:
✓ a filosofia;
✓ a história,
✓ a antropologia;

111
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

✓ a psicologia;
✓ as ciências da linguagem.

Dois pares de conceitos, que só podem ser compreendidos


um em relação ao outro, são:

Em primeiro lugar: identidade e alteridade

As figuras abstractas do mesmo e do outro se actualizam


tanto em termos macroculturais, como, por exemplo, quando se
procura articular a relação entre duas culturas estrangeiras uma à
outra ou quando se pensa o que seja uma identidade nacional,
quanto em termos mais específicos, quando por exemplo se
procura compreender o polo psicológico da articulação entre
comunicação, cultura e subjectividade.

Seguindo a melhor tradição intelectual contemporânea, a


identidade e a alteridade foram sempre pensadas de modos não
essencialistas, compreendidas dinamicamente como processos
em andamento. Além de identidade e alteridade, mais um par de
conceitos, também indissociáveis, deve ser destacado.

Em Segundo lugar: sagrado e profano

Isso envolve desde a consideração da religião no sentido


estrito, até a análise de elementos que aparentemente nada tem
de religioso mas que são a forma contemporânea do sagrado.
Esse sagrado e esse profano, hoje, passam por textos, imagens,
corpos, sons, produtos culturais e por uma série de elementos
que fazem parte de nosso tempo. Outro conceito dos mais
importantes no pensamento da relação entre comunicação e
cultura é, o que não é de surpreender, o conceito de poder. Por
um lado, toda comunicação actualiza relações de poder, fluídas ou
engessadas; por outro, é impensável a presença de uma cultura
sem o exercício de relações, novamente fluídas ou engessadas, de
poder.

Assim, como a reflexão sobre a articulação entre


comunicação e cultura precisou avançar para além da afirmação
básica do co-pertencimento entre ambas, a análise do poder deve
ir mais longe do que simplesmente afirmar que comunicação e
cultura comportam poder.

112
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A reflexão em torno do par comunicação e cultura sempre


se fez, marcada por uma forte consciência da historicidade das
sociedades humanas. Isso tem uma importante função
epistemológica: permitir a relativização de nosso próprio
momento histórico e sua apreensão dentro de quadros temporais
mais amplos e em temporalidades mais extensas. Com isso,
desnaturaliza-se a actualidade, que passa a ser compreendida
como uma contingência temporária no curso da humanidade. Isso
leva ao tema da memória e do património cultural, de sua
transmissão (comunicativa), preservação, apresentação.

É essa memória que permite, aparentemente de modo


paradoxal, a consciência da permanência histórica a despeito da
historicidade: sabemos que as experiências humanas são
construídas historicamente e que, portanto, são marcadas por seu
tempo; mas sabemos igualmente que essas construções nunca se
dão no vazio e que a actualidade se situa em relação ao seu
passado, a invenção em relação à tradição, o novo em relação ao
anteriormente presente. Sem essa percepção, aparentemente
paradoxal, como dito acima, a reflexão acerca de comunicação e
cultura corre o risco tanto do historicismo absoluto quanto do
mais radical anacronismo.

Sumário
_________________________

1.1 Actividade de Auto-avaliação


1. Na actualidade, de diferentes linhas de estudo, têm
relacionado comunicação e cultura. O que significa relacionar
comunicação e cultura significa?
2. O que implica para Martín Barbero (1985), pensar nos
processos de comunicação a partir da cultura?
3. Uma vez que a cultura está na mídia, diga o que é transmitido
pelos meios de comunicação?
4. Diga o que é que não pode proporcionar um novo patamar de
vida social isoladamente?
5. Apresente segundo Jean Caune (2008), os campos nos quais
se configuram as relações entre as noções polissémicas de
cultura e de comunicação.

113
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

1.2 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Existem pelo menos duas grandes perspectivas, duas “formações


discursivas”, no sentido atribuído por Foucault, nas quais os
discursos eruditos sobre a cultura e a comunicação se cruzam, se
imbricam e se hibridam. A saber:
A. Relação que o sujeito receptor estabelece com o mundo social e
os discursos que tomam directamente por objecto os fenómenos
culturais
B. Relação que o sujeito falante estabelece consigo mesmo e os
discursos que tomam directamente por objecto os fenómenos
culturais
C. Relação que o sujeito falante estabelece com o mundo social e os
discursos que tomam indirectamente por objecto os fenómenos
culturais
D. Relação que o sujeito falante estabelece com o mundo social e os
discursos que tomam directamente por objecto os fenómenos
culturais

2. Uma primeira maneira de articular mais profundamente


comunicação e cultura é pensar os modos macroscópicos
segundo os quais a presença de determinados meios afecta e:
A. É afectada pelos princípios culturais onde se localizam
B. É afectada pelos contextos culturais onde se localizam
C. É afectada pelos contextos socioculturais onde se localizam
D. É afectada pelos contextos culturais onde não existe

3. “Há evidentemente uma indissociabilidade fundamental entre


comunicação e cultura”, segundo:
A. Jean Caune (2008) B. Márcio Souza
Gonçalves (2002)
C. Martín-Barbero (2002) D. Nenhum

4. “Não se pode pensar uma sem a outra: inexiste cultura sem


comunicação”, segundo:
A. Jean Caune (2008) B. Márcio Souza
Gonçalves (2002)
C. Martín-Barbero (2002) D. Nenhum

114
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

5. Para Jean Caune (2008), a cultura contemporânea seria marcada


pela:
A. Produtibilidade exponencial, e a criação, de imagens
B. Reprodutibilidade exponencial, e a criação, de meios
C. Reprodutibilidade exponencial, e a recriação, de imagens
D. Reprodutibilidade exponencial, e a criação, de imagens

6. Há por um lado uma dimensão cultural individual, por outro


uma dimensão cultural colectiva. A dimensão colectiva:
A. São os ritos e as tecnologias clássicas B. São os ritos e
as tecnologias digitais
C. Não são os ritos, mas as tecnologias digitais D. São os ritos
e as tecnologias livres

7. A dimensão cultural colectiva coexiste com a dimensão:


A. Individual (fazer solitariamente, com a singularidade do caso
conjunto)
B. Individual (fazer solitariamente, com a singularidade do caso
único)
C. Individual (fazer colectivamente, com a singularidade do caso
único)
D. Individual (fazer solitariamente, com a conjuntura do caso único)

8. A mídia é sempre pensada como uma operação de conjunto, em


que:
A. Um meio ganha seu sentido e deve ser compreendido em relação
a todos os outros
B. Um meio ganha seu sentido e deve ser abordado em relação a
todos os outros
C. Um meio ganha seu sentido e deve ser compreendido na relação
com todos os outros
D. Um meio perde seu sentido e deve ser compreendido em relação
a todos os outros

9. A afinidade temática em torno do eixo comunicação e cultura


permite uma grande variação de paradigmas e enquadramentos,
o que exclui:
A. Qualquer forma de dogmatismo B. Todas formas de
dogmatismo
C. Qualquer espécie de dogmatismo D. Qualquer forma de
pragmatismo

115
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

10. Dois pares de conceitos, que só podem ser compreendidos um


em relação ao outro no âmbito cultural, são:
A. Identidade e alteridade & Sagrado e Profano
B. Identidade e Sagrado & alteridade e Profano
C. Sagrado e alteridade & Identidade e Profano
D. Identidade e alteridade Sagrado & Profano

1.3 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Significa um salto, por
apreender o fenómeno como
Actividade de Auto-avaliação integrante de um processo de
maior dimensão e não de
forma estanque.

2 implica deixar de pensá-los


desde as disciplinas e os
meios
3 Cultura
4 O desenvolvimento de novas
tecnologias de comunicação
(NTCs),
5 Ciências da Informação e da
Comunicação

1 D
2 B
3 B
4 B
Actividade de Avaliação 5 D
6 B
7 B
8 A
9 A
10 A

116
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Unidade temática 2: Dinâmica de Recepção


____________________________________

Introdução

A palavra “Recepção “se resume no acto ou efeito de


receber, mas em geral no campo das ciências da comunicação é
um nome referente aos estudos dos meios com sua audiência. No
que tange aos estudos em comunicação sobre a recepção a
mesma se desenvolveu em meados da década de 70, com o
surgimento teórico do modelo encoding/decoding traduzido por
codificação/decodificação, proposto pelo estudioso Stuart Hall
apud João P. Q. Xavier Fernandes (2013), e mais tarde na
década de 80 na confirmação dessa teoria no estudo empírico
denominado “The Nationwide Audience” pelo pesquisador
David Moley que seleccionando grupos distintos e
apresentando-lhes o programa Nationwide, confirmar a
existência de posições distintas diante da mesma mensagem,
corroborando assim a formulação de Hall.

As análises feitas acerca do modelo consideram que ele


mantém uma ideia de um emissor (decodificador) transmitindo
uma mensagem a um receptor (decodificador). Neste cenário
Stuart Hall (2003. p. 368) acrescenta “antes que essa mensagem
possa ter um “efeito” (qualquer que seja sua definição), satisfaça
uma “necessidade” ou tenha um “uso”, deve primeiro ser
apropriada como um discurso significativo e ser
significativamente decodificada. É esse conjunto de significados
decodificados que tem um efeito.

Várias correntes teóricas levaram a cabo o estudo da


recepção no processo comunicativo, cujas pesquisas se baseavam
principalmente nos efeitos produzidos sobre os interlocutores, a
saber:

➢ Pesquisa dos efeitos: preocupa-se com as consequências da


industrialização da cultura da mídia na sociedade;

➢ Usos e gratificações: a questão-chave nessa pesquisa é “o que as


pessoas fazem com os meios? ” sendo o uso dos meios uma
necessidade diária do público;

117
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

➢ Estudos literários: caracterizam-se pelo olhar dedicado à


audiência (ao leitor) inscrita no texto. Quando o leitor é visto e
empiricamente, as leituras individuais são focalizadas;

➢ Estudos culturais: é o campo de cruzamento de disciplinas


diversas que permitem a combinação de pesquisa textual e social,
unindo estruturalismo e cultura;

➢ Análise da recepção: utiliza-se de um grande número de técnicas


de pesquisa empírica para o estudo qualitativo da audiência, e
comparte com os estudos culturais a concepção sobre a
mensagem dos meios, considerando-a como formas culturais
abertas e distintas decodificações, e sobre a audiência definindo-a
como composta por agentes de produção de sentido.

Os estudos da recepção propõem uma abordagem


diferenciada dos meios de comunicação, vendo-os no processo de
interacção social. Pensar a comunicação a partir da recepção
permite-nos entender melhor o papel dos meios de comunicação
na vida da sociedade contemporânea, como eles actuam no
quotidiano dos grupos sociais, nas diferentes comunidades e
culturas. Permite-nos também sair da oposição:

✓ emissor-onipotente versus receptor-passivo;


✓ emissor neutro versus receptor/consumidor.

2.1 Teoria de recepção

Quando se fala da teoria de recepção, a princípio duas


personagens nos vêm em mente, de um lado, o Hans Roberto
Jauss, que aborda a teoria de recepção do ponto de vista literário
enquanto teoria de análise de um facto artístico ou cultural com o
foco no receptor. Do outro lado, o Stuart Hall, que desenvolveu
seus estudos relacionados com a teoria de recepção no âmbito da
comunicação humana. Um de seus postulados afirma que "um
texto" não é aceite passivamente pela plateia ou pelos leitores,
mas que estes interpretam e fundamentam outros significados a
partir da experiência individual e cultural. Assim o texto literário
ou artístico é criado não pelo artista, mas na relação estabelecida
entre o objecto e o receptor.

118
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Para o presente módulo, iremos aflorar somente os pressupostos


da recepção no processo comunicativo segundo Stuart Hall, dado
que o seu campo de estudo se enquadra na presente temática.

Hall (1980) aponta a crítica que se faz ao modelo de


concepção do processo comunicativo em três aspectos:

1. Linearidade emissor/mensagem/receptor;
2. Concentração no nível da troca de mensagens;
3. Ausência de uma concepção estruturada dos diferentes momentos
enquanto complexa estrutura de relações.

Hall apud Paulo Eduardo Barbosa (2003), propõe que se


pense neste processo como uma “complexa estrutura em
dominância” examinando a articulação de práticas conectadas
referenciado nos “Grundrisse de Marx” e em “O capital” em que
um contínuo circuito se sustenta através de uma passagem de
formas, argumentando que desta maneira se pode diferenciar a
produção discursiva de outros tipos de produção. Ele Identifica
que é sob a forma discursiva que se dá a circulação do produto e
que esta forma discursiva da mensagem tem uma posição
privilegiada na troca comunicativa e que os momentos de
codificação e decodificação são momentos determinados.

No momento em que um evento histórico é posto sob o


signo do discurso, ele é sujeito a toda a complexidade das regras
formais pelas quais a linguagem significa”. (Ibid: p.366). A partir
desta perspectiva geral, Hall faz o que chama de uma
caracterização do processo comunicativo da televisão ressaltando
que o processo de produção não é isento de seu aspecto
discursivo e embora estas estruturas de produção originem os
discursos televisivos, “elas não constituem um sistema fechado”,
mas alimentam o processo a partir de fontes e formações
discursivas da estrutura sociocultural e política em que se
inserem, citando Philip Elliot que discute “o modo como a
audiência é, ao mesmo tempo a fonte e o receptor da mensagem
televisiva”.(Ibid: p.367). Usando os termos de Marx, Hall afirma
que circulação e recepção são, de facto, “momentos” do processo
de produção da televisão, identificando o consumo, ou a recepção
como predominante por ser o ponto de partida para a
concretização da mensagem.

119
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Em outro momento diferenciado “as regras formais do


discurso e linguagem estão em dominância “ e a recepção não
pode ser entendida apenas em termos comportamentais mas
também “ordenada por estruturas de compreensão, produzida por
relações económicas e sociais, que moldam sua concretização”
permitindo que os “significados expressos no discurso sejam
transpostos para a prática ou a consciência.”(Ibid: p.368). Hall
observa que os graus de compreensão e má-compreensão na
troca comunicativa surgem da falta de equivalência entre os dois
lados:

✓ Codificador/produtor ;
✓ Decodificador/receptor .

A equivalência entre os dois lados afirma a determinação


“da entrada e saída da mensagem em seus momentos
discursivos.”(Ibid: p.369). Hall Propõe em seguida que o
paradigma semiótico estaria afastando o behaviorismo nas
pesquisas de audiência ao possibilitar compreender a recepção na
chave de uma distinção epistemológica que contemple a
complexidade do signo televisivo que afirma ser constituído pela
combinação de dois tipos de discursos, “o visual” e o “auditivo”e
que ao possuir propriedades da coisa representada torna-se signo
icónico. A realidade existe fora da linguagem, mas é
constantemente mediada pela linguagem ou através dela,
conferindo protagonismo ao código, permitindo afirmar que o
“naturalismo e realismo” são o resultado, o efeito, de certa
articulação específica da linguagem sobre o ”real”.

Hall aponta que certos códigos foram tão profundamente


naturalizados em certas culturas ou comunidades de linguagem
específica que parecem não terem sido construídos (efeito da
articulação entre signo e referente) e que este processo não é
produto da natureza mas de uma convenção que se apoia em
códigos. Umberto Eco apud Paulo Eduardo Barbosa (2003),
ressalta que os signos icónicos são particularmente vulneráveis a
serem ”lidos” como naturais. (Ibid: p.371).

Hall explicita que a distinção que faz entre “denotação” e


“conotação” é apenas analítica, diferentemente do que ocorre na
teoria linguística, pois para ele “ em um discurso de facto emitido,
a maioria dos signos combinará seus aspectos denotativos e
conotativos” e ”é no nível conotativo que as ideologias alteram e

120
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

transformam a significação” recorrendo a Volochínov apud Paulo


Eduardo Barbosa (2003), para afirmar a intervenção activa da
ideologia dentro do discurso e sobre ele estabelecendo a luta de
classes na linguagem.

Stuart Hall reafirma que os termos denotação e conotação


são “meramente ferramentas analíticas úteis para se distinguir,
em contextos específicos, os diferentes níveis em que as ideologias
e os discursos se cruzam, e não a presença ou ausência de
ideologia na linguagem.” (Ibid:p.373)

Para Hall apud Paulo Eduardo Barbosa (2003), os signos


visuais “já codificados se interseccionam com os códigos
semânticos profundos de uma cultura” assumindo dimensões
ideológicas adicionais mais activas. Cita Roland Barthes apud
Paulo Eduardo Barbosa (2003), para quem os níveis conotativos
dos significantes têm uma relação com a cultura, o conhecimento,
a história e é através deles, por assim dizer, que o meio ambiente
invade o sistema linguístico e semântico. Eles são, de alguma
forma, os fragmentos da ideologia.” (Ibid: p.374)

Ao constatar que o nível conotativo do signo televisivo é


objecto de transformações mais activas, Hall afirma que
polissemia não deve ser confundida com pluralismo posto que a
conotação atribuída ao signo emerge do repertório de
classificações do mundo social, cultural e político próprios de cada
sociedade ou cultura.

Observa-se que a desigualdade dos códigos conotativos


constitui ordem cultural dominante em sociedades ou culturas,
impondo suas classificações do mundo social, cultural e político.
Define-se os sentidos dominantes ou preferenciais como campos
de organização hierárquica dos domínios discursivos das
diferentes áreas da vida social, onde seriam alocados os novos
acontecimentos que rompem as expectativas do senso comum
antes que “façam sentido”, propondo que, para esclarecer um
mal-entendido em relação ao nível conotativo, devemos nos
referir (através de códigos) às ordenações da vida social, do poder
político e económico e da ideologia, e o processo comunicativo
está sujeito a regras performativas que buscam activamente
reforçar ou preferir um domínio semântico a outro, constituindo
as reais relações nas práticas de difusão televisivas demandando

121
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

um trabalho interpretativo muito frequentemente negligenciado


pela semiologia formal.

Stuart Hall (Idem) recorre à frase de Jurgen Habermas


“comunicação sistematicamente distorcida” para se contrapor ao
conceito de leitura proposto por Terni que pressupõe uma
capacidade subjectiva do receptor em colocar os signos entre si
em uma relação criativa que seria a condição da plena consciência
de todo o ambiente que está inserido, afirmando que é o caso
contrário: “ a prática televisiva assume responsabilidade
objectiva” (isto é, sistémica) precisamente pelas relações que os
signos distintos estabelecem uns com os outros em qualquer
ocorrência discursiva e, por isso, essa prática continuamente
rearranja, delimita e prescreve em qual consciência de todo
ambiente esses itens estão organizados.

Hall afirma que mesmo não existindo necessária correspondência


entre codificação e decodificação há entre elas várias articulações
em que poderiam ser combinadas propondo testar e refinar três
posições hipotéticas a partir das quais a decodificação de um
discurso televisivo poderia ser construída, a saber:

❖ Posição hegemónica-dominante – quando o telespectador esta a


operar dentro do código dominante, operando um metacódigo, já
que os profissionais codificam uma mensagem que já recebeu
significado de uma maneira hegemónica. A partir de Althusser,
Hall (1980) avalia que nesta hipótese, os profissionais que
codificam estão ligados às elites decisórias não somente através
da posição institucional das próprias emissoras enquanto
“aparelho ideológico” mas também pela estrutura de acesso (ou
seja, o recurso excessivo e sistemático a pessoas da elite e à sua
“definição da situação” na televisão);

❖ Código negociado – quando a mensagem televisiva contém


definições dominantes por conectarem eventos a grandes
totalizações, às grandes visões de mundo sintagmáticas
assumindo “perspectivas globais” sobre as questões definindo um
ponto de vista hegemónico que será negociado com âmbitos
locais atravessando a ideologia dominante por contradições.
Nesta hipótese os mal-entendidos surgiriam das contradições e
disjunções entre codificações hegemónico-dominantes e
decodificações negociadas corporativamente.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

❖ Código de oposição – quando o telespectador entendendo


perfeitamente a inflexão conotativa e literal de um discurso
decodifica a mensagem de maneira globalmente contrária, em
que os acontecimentos que são normalmente significados e
decodificados de uma maneira negociada começam a ter uma
leitura contestatária, travando o que o autor denomina de
“política da significação”, a luta no discurso.

2.2 Processo de recepção

Decreta-se, assim, o fim do que nunca existiu além das


proposições académicas, assimiladas pelo senso comum: “o
telespectador impassivo diante do poder diabólico dos meios
massivos, com uma mensagem atingindo o mesmo efeito em
todos os públicos”. Substitui-se esse discurso pelo que admite
serem as audiências plurais, que considera a recepção como o
lugar onde ocorrem a negociação e a produção de sentido (com a
participação de produtor e receptor) e que prega o estudo dos
meios de comunicação de massa a partir da cultura. Então, não é
a recepção um espaço consensual. Valério Cruz Brittos (S/d)

Como transmite Martín-Barbero, em entrevista com Martha


Montoya (1992, p. 30 - 31), os conflitos estão sempre presentes
na recepção, passamos a citar:

"Também esta nova concepção da recepção implica em estudar os


conflitos. O espaço da recepção é um espaço de conflito entre o
hegemónico e o subalterno, as modernidades e as tradições, entre
as imposições e as apropriações. Quando falamos de recepção
nesse sentido, não estamos a falar de uma recepção individual,
senão da recepção como fenómeno colectivo, da sociedade da
recepção. É dizer, estudar a recepção é estudar este novo mundo
de fragmentações dos consumos e dos públicos, essa liberação das
diferenças, essa transformação das sensibilidades que encontram
um campo especial na reorganização das relações entre o privado
e o público".

Da mesma forma está claro, no estudo da recepção, que,


sendo o sentido negociado, a comunicação, por sua própria
natureza, é negociada. Como o produtor não é omnipotente, nem
o receptor é um mero depositário de mensagens de outros, a
comunicação implica transacção entre as partes envolvidas no
jogo midiático. Há uma valorização da experiência e da

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

competência comunicativa dos receptores (Martín-Barbero, 1989,


p. 25). A partir daí tem-se posicionamentos diferenciados diante
dos produtos. São as mediações que vão implicar nas variações de
posturas frente aos bens simbólicos.

Ondina Fachel LEAL (1993), lembra que recepção,


conforme a perspectiva latino-americana, não corresponde à ideia
de homogeneização. Sendo o receptor vivo e activo, as leituras
não são homogéneas, havendo variações de interesses e de
produção de sentido diante de uma mesma obra, de acordo com
a variação do leitor ou grupos de leitores. Esse leitor, que é o
receptor, contará sempre com o processo de mediação ao assistir
à TV, não existindo um sem o outro.

Por isso, a recepção não é um fenómeno simples e directo.


Recepção é o espaço relacional "dos conflitos que articulam a
cultura, das mestiçagens que a tecem, das anacronias que a
sustentam e, por último, do modo em que trabalha a hegemonia
e as resistências que mobiliza", segundo Martín-Barbero (1987, p.
240). Está claro, devido às mediações, que a recepção não se
constitui em uma relação directa entre duas pontas, o produtor e
o emissor.

É por meio das mediações, que são várias e apresentam


variações conforme mudam os receptores ou grupos de
receptores, que se produz o sentido. Um dos mais importantes
pesquisadores sobre recepção, é o Guillermo Orozco Gomez, que
também associa assistir televisão e mediações definitivamente.
Gomez (1991, p. 60) observa que três premissas guiam a análise
de recepção televisiva, a saber:

✓ que a recepção é interacção;


✓ que essa interacção está necessariamente mediada de múltiplas
maneiras;
✓ que a interacção não está circunscrita ao momento de ver TV.

Assim, o esquema linear de uma mensagem atingindo


determinados efeitos, ao chegar ao destinatário, é abandonado.
Para Martín-Barbero (op. cit., p. 233), mediações são os lugares
de onde "provêm as constrições que delimitam e configuram a
materialidade social e a expressividade cultural da televisão". As
interacções entre o receptor e o produtor podem ser
compreendidas através das mediações, constituindo-se elas no

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lugar que propicia o consumo diferenciado aos diversos


receptores dos bens simbólicos, de forma que produzem e
reproduzem os significados sociais.

Compreende-se que mediação seja “todo um conjunto de


factores que estrutura, organiza e reorganiza a percepção e
apropriação da realidade, por parte do receptor”. Entende-se,
então, que o processo de mediação estrutura a percepção de toda
a realidade social, não somente da recepção de produtos das
indústrias culturais. Sem dúvida, a identidade cultural integra as
mediações. Só que a mídia possui um importante papel na
constituição das identidades culturais.

Então, pode-se dizer que os meios também compõem as


mediações, o que contribui para dificultar tentativas de análises
isoladas. Mais um motivo para reafirmar-se que, apesar do
receptor também ser activo, os meios inegavelmente possuem
um papel de destaque no processo. Sendo o conjunto de
mediações ordenador de apropriações distintas da recepção, ele
funciona como uma lente. Conforme as mediações, o receptor vê
um determinado produto televisivo ou um facto social. Cada
mediação é uma lente que estrutura a recepção. A representação
da sociedade homogeneizada, com óculos iguais, não
corresponde à verdade. As mediações dos receptores são
diferentes entre si. O que ocorre é que grupos com características
similares possuem mediações semelhantes e, portanto,
apresentam óculos semelhantes. São três os lugares de mediação
propostos por Martín-Barbero, como hipótese:

✓ A quotidianidade familiar;
✓ A temporalidade social;
✓ A competência cultural.

O “quotidiano” é o lugar privilegiado para abordar o


processo de recepção. No espaço das práticas quotidianas
encontram-se desde a relação com o próprio corpo até o uso do
tempo, o habitar e a consciência do que é possível ser alcançado
por cada um. Por isso, a valorização que passou a ter o
quotidiano, é como lugar de captação do real. É no quotidiano
onde ocorre a recepção, onde as pessoas vivem e o sujeito
mostra-se como verdadeiramente é, onde ele pode se soltar da
maioria das amarras que carrega.

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A “quotidianidade familiar”, repleta de tensões e conflitos,


é um dos poucos lugares onde os indivíduos se confrontam como
pessoas e onde encontram alguma possibilidade de manifestar
suas ânsias e frustrações. O âmbito familiar, inclusive, reproduz,
de forma particularizada, as relações de poder que se verificam no
conjunto da sociedade. Outro lugar de mediação é a
temporalidade social. Esta mediação refere-se à especificidade do
tempo do quotidiano, contrariamente ao tempo produtivo. O
tempo de que é feito a quotidianidade é repetitivo, enquanto o
tempo valorizado pelo capital, o produtivo, é aquele que se mede,
que corre (Martín-Barbero, op. cit., p. 236). O tempo do
quotidiano é o próprio das culturas populares, cíclico, que o
Estado-nação tentou abolir e aglutinar num novo tempo, único e
composto de unidades contáveis.

A TV também organiza-se pelo tempo da repetição e do


fragmento, incorporando-se ao quotidiano dos receptores. Por
fim, Martín-Barbero (op. cit., p. 241) nomeia a “competência
cultural” como mais uma mediação que integra o processo de
recepção: ". Este fala também da competência cultural dos
diversos grupos, que atravessa as classes, pela via da educação
formal em suas distintas modalidades, mas sobretudo os que
configuram as etnias, as culturas regionais, os dialectos locais e as
distintas mestiçagens urbanas com base naqueles.

No processo de recepção, a competência cultural


apresenta uma mediação fundamental, colaborando
decisivamente para que os receptores consumam diferentemente
os produtos culturais. A competência cultural não se refere só à
cultura formal, aprendida nas escolas e nos livros. É toda uma
identidade, onde se insere também a educação formal, mas vai
além, abrangendo a cultura dos bairros, das cidades, das tribos
urbanas. É uma marcação cultural viabilizada por meio da
vivência, da audição e da leitura.

São esses lugares de mediação que permitem ao sujeito,


agora tomado como parte activa, fazer usos diferenciados dos
produtos com os quais interage. Por isso é que este novo caminho
de estudos latino-americano empresta maior importância ao valor
de uso. A partir daí a comunicação passa a ser não só “vista”, mas
“revista”, abordada em toda a sua complexidade, como parte da
cultura, contextualizada dentro da história, valorizando o

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

quotidiano e envolvendo pessoas que pensam, a partir de


variados factores.

Em gesto de conclusão, questiona-se hoje a dificuldade


que têm tido as pesquisas de recepção de dar conta também da
produção, o que consta da proposta original de Martín-Barbero
(1984), já que se trata de um processo e a falta de atenção sobre
os meios pode parecer que o poder do receptor é ilimitado, o que
não é.

2.3 Recepção em mídias digitais (Web 3.0)

O papel que as redes sociais ocupam no modo de


organização das relações sociais contemporâneas certamente traz
consequências para a própria configuração e usos das mídias, com
destaque para a internet. A principal consequência centra-se na
passagem de uma lógica hegemónica de transmissão das
informações de forma “massiva” e “generalizada”, de um
pequeno grupo produtor a um colectivo indiscriminado, para a
possibilidade de produção de informação e estabelecimento de
comunicação de uma forma mais “descentralizada” e distribuída
para “públicos segmentados”. Denise Cogo e Liliane Dutra Brignol
(2010)

Um primeiro aspecto que se torna necessário destacar em


torno das transformações provocadas por essa outra ambiência
das redes sociais é o de que “um meio não substitui o outro”,
assim como os modelos de comunicação não são imediatamente
suplantados por novas experiências midiáticas. O que percebemos
é a complementaridade entre diferentes meios de comunicação, a
proliferação da oferta midiática e a ampliação dos usos possíveis
feitos para cada um deles ou, cada vez de forma mais incisiva,
entre eles e de forma combinada.

Assim, podemos dizer que o modelo de comunicação


“massiva” se mantém e pode ser identificado em lógicas
presentes na própria internet, mas é impactado por um modelo
de comunicação que se baseia, entre outros aspectos, na relação
entre as mídias, em um espaço de participação maior do público
na produção da informação e de autonomia no processo
comunicativo.

127
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

O que propomos pensar é que há aspectos da


comunicação mediada por computador e pelas TICs7 no contexto
da sociedade em rede que impactam a comunicação
contemporânea, dentre os quais destacamos a interdependência
entre as mídias, suas apropriações individuais e socialmente
partilhadas, no que vem sendo chamado de ‘convergência
midiática’, ‘multimidialidade’ ou, como sugerido por Bolter e
Grusin (1999), “remidiação”, conceito que faz referência aos
modos como uma mídia usa estéticas ou conteúdos desenvolvidos
para outra mídia.

A novidade das mídias digitais estaria em suas estratégias


singulares de remediação da televisão, do cinema, da fotografia e
da pintura, e de outros meios, através de releituras, referências,
adaptação dos seus conteúdos, formatos e linguagens. Para Sodré
(2002), o fenómeno é identificado como “multimidialismo”,
marcado pela “intertextualidade”, a mistura de meios, e pela co-
presença de várias mídias produzindo diferentes significações.
Fragoso (2005), por sua vez, aborda a convergência midiática a
partir de três aspectos, a saber:

✓ modos de codificação,
✓ tipos de suporte
✓ modos de distribuição midiáticos

A luz de Fragoso (2005), por “convergência dos modos de


codificação”, entende-se como possibilidade de “empacotar”, em
um único formato (no caso, o código binário), enunciados
originalmente pertencentes à categorias semióticas distintas ou
modelos comunicacionais, a saber:

✓ texto;
✓ som;
✓ imagem.

Essa indiferenciação viabiliza a reunião de tipos distintos


de mensagens em um único suporte. Na prática, trata-se da
possibilidade de utilizar uma mesma unidade de armazenamento
(um disquete ou CD, por exemplo) para guardar
indiferenciadamente e ao mesmo tempo o texto de uma carta em
andamento, um conjunto de imagens fotográficas e uma
sequência melódica.

7
Tecnologias de informações e comunicações

128
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Para os estudos de recepção, é importante considerar que


a ‘convergência’ pode ser pensada tanto como modo de
apropriação do conteúdo, através do uso combinado de
diferentes mídias, como padronização do formato de
armazenamento e distribuição, e como referência de uma mídia
em outras, através da aproximação de linguagens e lógicas. Ela
pode ser entendida, ainda, como reconfiguração do sistema
económico e organizacional das mídias administrado por grandes
grupos que, na maioria das vezes, unificaram o processo
produtivo para diferentes mídias, gerando, frequentemente, uma
hibridação do conteúdo.

Além da ‘convergência midiática’, outra noção a impactar


o processo comunicacional, repercutindo no âmbito da recepção,
é a de “interactividade”, apontada como um dos elementos
principais, senão o mais importante, da redefinição das formas e
processos psicológicos, cognitivos e culturais decorrentes da
digitalização da comunicação (Fragoso, 2001, p.1). Embora a
interactividade seja um termo criado para denominar uma
qualidade específica da chamada “computação interactiva” (Ibid:
p.2), com a modificação na relação ‘usuário-computador’, temos
que ter cuidado para não cair no equívoco de ignorar as
possibilidades de interacção entre produtores e receptores nas
demais mídias.

Fragoso refuta a classificação criada por Thompson (1998),


sobre a qual as interacções possíveis através dos meios de
comunicação são ditas “quase-interacções mediadas”,
caracterizadas pela produção para um número indefinido de
receptores e pelo fluxo de comunicação predominantemente de
sentido único, além da maior disseminação no tempo e espaço e
do estreitamento do leque de deixas simbólicas. Abandonando
essa concepção da mídia como monológica, entendemos que a
interactividade corporifica uma actividade interpretativa análoga
àquela que se verifica em torno de todo produto midiático.

Ainda que a partir da compreensão da interactividade


como característica também de outras mídias, é na internet que
ela ganha força como prática efectiva nos usos mediáticos.
Mesmo sendo, em grande parte das situações, limitada por um
número finito e pré-definido de opções, podemos falar de
interactividade maior no ciberespaço pela possibilidade mais

129
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

concreta de aproximação entre as lógicas da produção e as do


reconhecimento ou recepção.

Importa reafirmar que, nessa perspectiva, é preciso


distinguir os limites e as diferenças nos sistemas interactivos e
reconhecer que, na Web, podem ser ultrapassados esses
enquadramentos da participação em padrões previamente
estabelecidos com um empoderamento maior do receptor e o
aumento exponencial do número de indivíduos efectivamente
capazes de desempenhar o papel de emissor em um processo
comunicacional de ampla escala. Fragoso (2005)

Ainda nesse contexto, é a hibridação de diferentes formas


discursivas (texto, som, imagem), que dá margem ao
aparecimento de outro elemento essencial na comunicação
mediada pelo computador, cuja apropriação traz consequências
para o universo da recepção. O hipertexto, esse texto composto
por uma estrutura não sequencial, faz pensar também sobre o
conteúdo e as mensagens construídas através de fluxos
heterogéneos, num contexto de processos inter-relacionados.
Com a lógica do hipertexto, a postura cognitiva mais adequada ao
usuário é a da ‘exploração interpretativa’, em vez da ‘dedução de
verdades’. Sodré (2002, p. 54)

O hipertexto amplia as possibilidades de leitura, mas


também está longe de representar uma proposta inédita de
produção de sentido a partir das lógicas do receptor. Mesmo em
mídias com produtos caracterizados pela linearidade são os
caminhos percorridos de acordo com as competências dos
receptores os responsáveis pela significação. Vale ressaltar, a
partir de autores como Piscitelli (1995) e Landow (2005), que a
leitura não sequencial, antes do advento do hipertexto (forma
geral da escrita electrónica), está presente na literatura, em
artigos e em outros textos impressos, mas sua potencialização
através das redes digitais transforma o suporte da escrita, seus
modos de acesso, trazendo implicações para o nosso próprio
modelo de pensar.

Do mesmo modo como a interactividade, a ideia de


hipertexto muda as relações entre ‘produção e recepção’,
configurando-se em mais uma característica da comunicação
mediada pelas TICs que demanda um olhar cuidadoso e uma
reflexão teórica renovada ao apontar para uma reestruturação

130
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

dos processos da comunicação a partir de uma lógica de redes.


Partindo de uma concepção afastada de um determinismo
tecnológico, percebemos que as mudanças surgem a partir de
negociações e apropriações das mídias, dentro de um contexto
cultural, responsável pela atribuição de sentido aos avanços
tecnológicos. Em especial, a atenção se dá à internet, entendida
como um ambiente comunicacional múltiplo e complexo na qual
diferentes características, como indicamos aqui, entre elas, a
facilidade de acesso à esfera da produção, a convergência
midiática, a interactividade e a hipertextualidade, coexistem
com a centralidade dos acessos e usos unidireccionais ou pouco
participativos.

Poderíamos falar de várias internets com características


diferentes, que combinam apropriações que se aproximam da
lógica midiática, às vezes muito próxima às mídias tradicionais, e
outras que se relacionam a um meio de comunicação
interpessoal, pelo seu carácter interacional. Em função da
impossibilidade de tratar da internet de forma homogénea,
precisamos entendê-la como um ambiente comunicacional que
combina elementos, processos e lógicas diversas.

Cardoso (2007), trata a internet como uma tecnologia que,


pela primeira vez, apresenta o mesmo padrão para as
comunicações interpessoal e de massa, duas dimensões presentes
simultaneamente, fazendo com que assuma um papel central no
sistema da mídia. Para o autor, a internet surge como uma
tecnologia que, pelas suas capacidades de adaptação e interacção
com outras tecnologias, se conforma como uma nova mídia, que
fruto da sua difusão e apropriação social, se constitui como a
tecnologia com as quais todas as restantes parecem procurar
interagir pelo estabelecimento de links digitais ou analógicos”.
Cardoso, (2007, p. 129).
Sumário
_______________________________

2.4 Actividade de Auto-avaliação

1. Apresente o teórico do modelo surgido no âmbito de estudos


em comunicação sobre a recepção desenvolvidos em meados
da década de 70.
2. Como se chama o teórico do modelo
codificação/decodificação?

131
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

3. Em quê se traduz o modelo codificador / decodificador?


4. Várias correntes teóricas levaram a cabo o estudo da recepção
no processo comunicativo. Diga em que se baseavam suas
pesquisas?
5. Caracterize a corrente “Pesquisa de efeitos”.

2.5 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. “Olhar dedicado à audiência” é característica da seguinte


corrente teórica:
A. Pesquisa dos efeitos B. Usos e gratificações, C. Estudos
literários D.Nenhum

2. “Estudo qualitativo da audiência” é característica da seguinte


corrente teórica:
A. Pesquisa dos efeitos B. Usos e gratificações, C. Estudos
literários D.Nenhum

3. Pensar a comunicação a partir da recepção permite-nos


entender melhor o papel dos meios de comunicação na vida da
sociedade contemporânea, assim como sair da opção:
A. emissor-onmipresente versus receptor-passivo & emissor neutro
versus receptor
B. emissor-onipotente versus receptor-activo & emissor neutro
versus receptor
C. emissor-onipotente versus receptor-passivo & emissor neutro
versus receptor
D. receptor-onipotente versus receptor-passivo & emissor neutro
versus receptor

4. “O que as pessoas fazem com os meios?” é uma questão


característica da seguinte corrente teórica:
A. Pesquisa dos efeitos B. Usos e gratificações, C. Estudos
literários D.Nenhum

5. Hall (1980) aponta a crítica que se faz ao modelo de concepção


do processo comunicativo em três aspectos, um deles é:

132
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. linearidade emissor/canal/receptor B. linearidade


emissor/mensagem/emissor
C. linearidade canal/mensagem/receptor D. linearidade
emissor/mensagem/receptor

6. Os estudos da recepção propõem uma abordagem diferenciada


dos meios de comunicação, vendo-os no seguinte processo:
A. interacção religiosa B. interacção anti-social C. interacção
social D. Nenhum

7. Hall afirma que “circulação e recepção são, de facto,


“momentos” do processo de:
A. Produção jornalística B. Produção televisiva C. Produção de
rádio D. Nenhum

8. Para Stuart Hall (1980) o texto literário ou artístico é criado não


pelo artista, mas na relação estabelecida entre:
A. O objecto e o receptor B. O sujeito e o receptor C. O objecto e
o emissor D. Nenhum

9. “Ressalta que o processo de produção não é isento de seu


aspecto discursivo e embora estas estruturas de produção
originem os discursos televisivos, elas não constituem um
sistema fechado”. A citação pertence:
A. Stuart Hall B. João P. Q. Xavier Fernande C. David
Moley D. Nenhum

10. A recepção não pode ser entendida apenas em termos


comportamentais mas também:
A. Desordenada por estruturas de compreensão, produzida por
relações económicas e sociais, que moldam sua concretização
B. Ordenada por estruturas de compreensão, produzida por relações
económicas e sociais, que moldam sua concretização
C. Ordenada por estruturas de compreensão, produzida por relações
política e sociais, que moldam sua concretização
D. Ordenada por estruturas de compreensão, produzida por relações
económicas e sociais, que moldam o seu visionamento

133
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.6 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Encoding/Decoding
2 Stuart Hall
Actividade de Auto-avaliação 3 Emissor e Receptor
respectivamente
4 Suas pesquisas se baseavam
principalmente nos efeitos
produzidos sobre os
interlocutores
5 Combinação de pesquisa
textual e social
1 C
2 D
3 C
4 B
Actividade de Avaliação 5 D
6 C
7 B
8 A
9 A
10 B

134
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.7 Actividade Temática Geral


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Uma vez que a reflexão sobre a articulação entre comunicação e


cultura precisou avançar para além da afirmação básica do co-
pertencimento entre ambas, a análise do poder deve ir mais
longe do que simplesmente afirmar que:
A. Comunicação e cultura não comportam poder
B. Comunicação e cultura nunca comportam poder
C. Comunicação e cultura comportam poder
D. Comunicação e cultura são ambas o poder

2. A relativização de nosso próprio momento histórico


desnaturaliza a actualidade, que passa a ser compreendida como
uma contingência temporária:
A. No curso da história B. No curso da humanidade
C. No curso do amanha D. No curso da
actualidade

3. A reflexão em torno do par “comunicação e cultura”sempre se


fez, marcada por uma forte consciência da:
A. historicidade das sociedades naturais B. historicidade das
sociedades remotas
C. historicidade das naturezas humanas D. historicidade das
sociedades humanas

4. A reflexão sobre “comunicação e cultura” tem uma importante


função epistemológica, a saber:
A. A relativização de nosso próprio momento histórico
B. A relativização de nosso impar momento histórico
C. A relativização dos seus próprios momentos históricos
D. A relativização de nossa própria estacão histórica

5. Stuart Hall Propõe em seguida que o paradigma semiótico


estaria afastando o behaviorismo nas pesquisas de audiência ao
possibilitar compreender a recepção na chave de uma distinção
epistemológica que contemple a complexidade do signo
televisivo que afirma ser constituído pela combinação de dois
tipos de discursos:
A. Visual e auditivo B. Audiovisual e auditivo C. auditivo e semi-
visual D. Nenhum

135
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

6. Sem essa percepção na qual: “a actualidade se situa em relação


ao seu passado, a invenção em relação à tradição, o novo em
relação ao anteriormente presente”, a reflexão acerca de
comunicação e cultura corre o risco tanto:
A. Do historicismo perfeito quanto do mais radical anacronismo
B. Do historicismo normal quanto do mais radical anacronismo
C. Do historicismo absoluto quanto do mais radical anacronismo
D. Do historicismo absoluto quanto do mais enraizado anacronismo

7. Stuart Hall, observar que os graus de compreensão e má-


compreensão na troca comunicativa surgem da falta de
equivalência entre os dois lados, a saber:
A. Codificador e receptor /decodificador e receptor
B. Codificador e produtor /decodificador e receptor
C. Codificador e produtor /decodificador e produtor
D. Codificador e canal /decodificador e receptor

8. Umberto Eco apud Paulo Eduardo Barbosa (2003), ressalta que


os signos icónicos são particularmente vulneráveis a serem
”lidos” como:
A. Naturais B. Artificiais C. Simples
D. Nenhum

9. Stuart Hall reafirma que os termos denotação e conotação são


meramente ferramentas analíticas úteis para se distinguir em:
A. Contextos específicos, os iguais níveis em que as ideologias e os
discursos se cruzam, e não a presença ou ausência de ideologia na
linguagem
B. Contextos específicos, os diferentes níveis em que as ideologias e
os discursos se cruzam, e não a ausência ou presença de ideologia
na linguagem
C. Contextos específicos, os diferentes níveis em que as ideologias e
os discursos se cruzam, e não a presença ou ausência de ideologia
na linguagem
D. Contextos diferentes, os diferentes níveis em que as ideologias e
os discursos se cruzam, e não a presença ou ausência de ideologia
na linguagem

136
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

10. Ao constatar que o nível conotativo do signo televisivo é objecto


de transformações mais activas, Stuart Hall afirma que
polissemia não deve ser confundido com pluralismo posto que a
conotação atribuída ao signo emerge do repertório de
classificações do mundo:
A. Social, cultural e religioso B. social, religioso e político
C. Social, cultural e político D. anti-social, cultural e
político

2.8 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 C
2 B
3 D
4 A
Actividade Temática Geral 5 A
6 C
7 B
8 A
9 C
10 C

137
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.9 Referência Bibliográfica

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138
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

TEMA 6: OS ESTUDOS E TEORIAS DE JORNALISMO


Unidade temática 1: Aparato histórico
Unidade temática 2: Teorias do jornalismo

Introdução

O presente Tema analisa de maneira geral os contributos das


diferentes literaturas que versam sobre as correntes jornalísticas.
Assim sendo, dois pontos essenciais serão abordados:

• Aparato histórico
• Teorias do jornalismo

O Tema começa, por um lado, pela introdução do vasto o campo


histórico das teorias do jornalismo, mostrando as diferentes
manifestações teóricas que incidiram sobre as teorias
jornalísticas, assim como os diferentes campos como Filosofia;
Ciência política; Sociologia do conhecimento e do trabalho; Teoria
da cultura de massas da Escola de Frankfurt; etc. E por outro lado,
o tema faz a caracterização geral das teorias do jornalismo, isto é,
os seus pressupostos em relação ao jornalismo, e em fim, os
grandes contrastes que se colocam sobre a maneira como cada
teoria interpreta a imprensa e o processo comunicativo. O
objectivo visa essencialmente dar a conhecer o manifesto de cada
teoria do jornalismo e o quão esses manifestos fizeram sobreviver
o jornalismo até os dias de hoje.

Ao completar este Tema, você deverá ser capaz de:


• Entender a origem das noções aplicadas no campo jornalístico
• Saber as teorias jornalísticas e caracterizá-las como deve ser

Unidade temática 1: Aparato histórico


__________________________________
Introdução

Muitas correntes teóricas debruçaram-se sobre o


jornalismo ao longo do século XX. Na primeira metade do século
XIX, Walter Lippmann (1922), foi pioneiro nos estudos sobre
imprensa. Na década de 1920, este autor publicou, em co-autoria
139
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

com Charles Merz, “A test of the news”, um estudo sobre a


cobertura de The New York Times sobre a Revolução Russa,
ocorrida três anos antes. Dessa época para cá, os estudos
relacionados com as teorias do jornalismo começaram a emergir
de diversos campos do saber, a exemplo de:

2 Filosofia;
3 Ciência política;
4 Sociologia do conhecimento e do trabalho;
5 Teoria da cultura de massas da Escola de Frankfurt;
6 Estudos culturais da escola britânica.

A especificidade dos estudos sobre o jornalismo está


certamente conectada aos desenvolvimentos teóricos iniciados
por Lippmann (idem). Não é possível pensar o jornalismo sem ter
em mente os Estados Unidos como berço da imprensa moderna,
que influenciaria o mundo todo ao longo do século XX. O mesmo
vale para o estudo do jornalismo. A importância dada pelos
principais pensadores da Revolução Americana à questão da
liberdade de expressão ofereceu as condições tanto para o
nascimento do jornalismo moderno quanto para sua constituição
como objecto de estudo.

Mas a consolidação da especificidade do campo teórico,


vale ponderar, não significa homogeneização. Pelo contrário, as
linhas teóricas que compõem as teorias do jornalismo incluem
tanto análises macroscópicas quanto microscópicas; ora com foco
mais voltado para a representação (resultado final da produção
jornalística), ora com foco principal nas práticas (o fazer
jornalístico).

As origens do jornalismo como o conhecemos hoje,


comummente chamado de “moderno”, podem ser identificadas
nos Estados Unidos, no século XIX. Na ex-colónia britânica, o
estabelecimento da imprensa como contrapartida da emergência
burguesa, trazendo o iluminismo, no plano das ideias, e o
capitalismo, no plano Economico, deu-se da forma mais radical. A
radicalidade está expressa na força da ideia de “liberdade de
expressão” na constituição da identidade norte-americana. Na
introdução de História da imprensa no Brasil, Nelson Werneck
Sodré (1977) destaca a diferença entre os processos históricos de
constituição do campo do jornalismo nos Estados Unidos e nos
países europeus onde houve revoluções burguesas.

140
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Na Europa, argumenta Sodré, que os ecos do feudalismo


serviam como barreira para o estabelecimento radical da
liberdade de imprensa. Sobretudo na Inglaterra e na França, a
liberdade de imprensa encontrava barreiras nos remanescentes
feudais, adredes mantidos, por vezes, pela própria burguesia,
como escudos contra o avanço, embora ainda lento, do
proletariado e do campesinato. Foi a ausência, nos Estados
Unidos, de passado feudal, que permitiu ali a solução rápida de tal
problema, colocada a liberdade de imprensa, isto é, seu controlo
pela burguesia, como postulado essencial e pacífico. Assim,
enquanto, na Inglaterra, a stamp tax8 só desapareceu em 1855, e,
na França, a liberdade de imprensa permaneceu relativa até 1881,
nos Estados Unidos surgiu ampla, praticamente, com a
independência. Sodré (1977, pp. 2-3)

Do advento da imprensa, no século XVI, na Europa, ao


despertar norte-americano enquanto nação independente, na
primeira metade do século XIX, o jornalismo passou do paradigma
“opinativo” ao paradigma “informativo”. Nesse processo de
mudança paradigmática, Traquina (2005a, pp. 125-126) destaca,
no século XIX, quatro movimentos fundamentais para dar as
condições de passagem ao jornalismo moderno:

✓ primeiro paradigma, o opinativo, refere-se ao desenvolvimento e


a expansão da indústria gráfica, expressos no crescimento
vertiginoso, principalmente nos Estados Unidos, das tiragens de
jornais e de livros. Schudson (1978) e Gabler (1999)

✓ segundo paradigma, o informativo, é traduzido no advento do


formato da “notícia” e no ajuste do foco da imprensa, que passa
da opinião para os relatos dos acontecimentos.

Ao debruçar-se sobre a história social do jornalismo norte-


americano, Michael Schudson (1978, p. 4) localiza o advento da
notícia nas décadas de 1830 e 1840, nos Estados Unidos. O
terceiro movimento fundamental é a emergência de um campo
jornalístico com “autonomia relativa” em relação a objectivos
político-partidários aos quais o jornalismo de paradigma opinativo
era notadamente conectado.

8
Imposto sobre o celo de emissão
141
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Essa autonomização está também inserida na


profissionalização e optimização da produção dos jornais e na
consequente especialização profissional do jornalista, cristalizada
na figura do repórter. Ambos processos de profissionalização não
podem ser analisados sem termos em mente a “industrialização
da imprensa”, o primeiro movimento destaca por Traquina
(2005). O quarto e último movimento fundamental do século XIX
é a “formação”, segundo Traquina (ibib), de “dois polos
dominantes no campo jornalístico moderno” a saber:

✓ polo “económico” ou “comercial”;


✓ polo “ideológico” ou “intelectual”.

O primeiro polo o “ económico” trata das notícias como


mercadoria de um negócio cada vez mais lucrativa (Traquina,
2005a, pp. 125-126).

Está referido, portanto, à inserção do jornalismo, por meio


da indústria gráfico editorial, na “indústria cultural”. Theodor
Adorno e Max Horkheimer (2006), expoentes da Escola de
Frankfurt, estabeleceram o conceito ‘indústria cultural’, na década
de 1940, com foco maioritariamente no cinema norte-americano,
todavia, Neal Gabler (1999) demonstra, em seu livro sobre a
cultura do entretenimento nos Estados Unidos, como os
movimentos de industrialização e popularização da imprensa
estudados por Schudson (1978) ofereceram as bases para o
nascimento da “indústria cultural” ou que foram o principal motor
nos seus primórdios.

O segundo polo, o “ideológico” ou “intelectual”, trata a


informação como um “bem público”. Nele, o jornalismo é visto
como um serviço público, elemento fundamental da teoria
democrática e pré-requisito para o funcionamento do Estado
democrático de direito. As raízes desse polo podem ser
identificadas nos próprios pensadores da teoria democrática
durante a Revolução Americana, nos finais do século XVIII. Na
contemporaneidade, ele retorna sob a forma dos chamados
“jornalismo cívico” (Traquina, 2001, pp. 171-184) e, de uma
maneira mais genérica e difusa, na ideia da função social da
imprensa. É importante ressaltar o carácter contraditório desses
dois polos, coexistem numa tensão permanente nas imprensas da

142
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

grande maioria das democracias ocidentais. A contradição é de


berço9.

Os pensadores que forjaram a teoria democrática norte-


americana no processo de independência em relação ao Império
Britânico deram grande ênfase à liberdade de expressão. A
Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, promulgada
nos finais do século XVIII, seria a base da construção do
jornalismo moderno norte-americano ao longo dos séculos XIX e
XX, principalmente no aspecto ético conforme nos lembra Philip
Meyer (1989), em “A ética” no jornalismo. Paradoxalmente, os
Estados Unidos foram também palco da formação da “indústria
cultural” e do surgimento dos grandes conglomerados da mídia.

Surgiu nos Estados Unidos o jornalismo “de sensações”


(Barbosa, 2007, pp. 212-219), que transformou a venda da notícia,
como uma mercadoria, em uma lucrativa oportunidade de
negócios. Essa tensão está longe de ser resolvida nesta virada do
século XX para o XXI. Pelo contrário, as novas tecnologias de
comunicação colocaram em causa os modelos de negócios da
mídia tradicional, que, por sua vez, não tem hesitado em deixar
de lado sua função social em nome da sustentabilidade
económica.

No concernente as emissões, os jornais norte-americanos


começaram a noticiar os acontecimentos do quotidiano, em
detrimento da difusão de opiniões, a partir das décadas de 1830 e
1840, conforme destacado por Schudson (1978). No entanto, os
jornalismos opinativo e literário ainda teriam peso até o século
XX.

Sumário
_______________________________

1.1 Actividade de Auto-avaliação

1. Quem foi o pioneiro nos estudos sobre imprensa na primeira


metade do século XIX?
2. Qual é a obra publicada por Lippmann (1922), em co-autoria
com Charles Merz Na década de 1920?

9
Que quer dizer de nascença

143
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3. Não é possível pensar o jornalismo sem ter em mente os


Estados Unidos como berço da imprensa moderna. Diga ao
longo de que século este influenciaria o mundo todo?
4. O estabelecimento da imprensa deu-se da forma mais radical.
Em que força de ideia está expressa essa radicalidade?
5. Sodré (1977), afirma que os ecos do feudalismo serviam como
barreira para o estabelecimento radical da liberdade de
imprensa. Diga onde este evento aconteceu.

1.2 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Do advento da imprensa, no século XVI, na Europa, ao despertar


norte-americano enquanto nação independente, na primeira
metade do século XIX, o jornalismo:
A. Passou do paradigma “opinativo” ao paradigma “massiva”
B. Passou do paradigma “segmentado” ao paradigma “informativo”
C. Passou do paradigma “opinativo” ao paradigma “informativo”
D. Passou do paradigma “opinativo” ao paradigma “comunicativo”

2. O jornal a Stamp Tax na Inglaterra só desapareceu em:


A. 1800 B. 1858 C. 1890
D. 1855

3. “O paradigma, o opinativo, refere-se ao desenvolvimento e a


expansão da indústria gráfica, expressos no crescimento
vertiginoso”, segundo:
A. Schudson e Gabler B. Traquina e Hall C. Schudson e Meyer
D. Nenhum

4. O quarto e último movimento fundamental do século XIX é a


formação, segundo Traquina, de dois polos dominantes no
campo jornalístico moderno, a saber:
A. Polo “económico” ou “digital” & Polo “ideológico” ou “intelectual”
B. Polo “económico” ou “comercial” & Polo “ideológico” ou “social”
C. Polo “económico” ou “comercial” & Polo “ideológico” ou
“intelectual”
D. Polo “económico” ou “comercial” & Polo “ideológico” ou “feudal”

144
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

5. Ao debruçar-se sobre a história social do jornalismo norte-


americano, Michael Schudson (1978, p. 4) localiza o advento da
notícia nas décadas de:
A. 1830 e 1840, na Inglaterra B. 1830 e 1840, América
latina
C. 1830 e 1840, New York D. 1830 e 1840, nos
Estados Unidos

B. O Segundo paradigma, “o informativo” de Schudson, é traduzido


no advento do formato da:
A. Notícia B. Magazine C. Jornal
D. Nenhum

6. Segundo Traquina (2005), o primeiro polo o “ económico” trata


das notícias como:
A. mercadoria de um negócio cada vez menos lucrativo
B. mercadoria de um negócio cada vez mais lucrativo
C. mercadoria de um negócio cada vez mais defeituoso
D. mercadoria de um negócio cada vez mais quebrado

7. O segundo polo, o “ideológico” ou “intelectual”, trata a


informação como:
A. Bem público B. Bem do povo C. bem populacional
D. Nenhum

8. A Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos,


promulgada nos finais do século XVIII, seria a base da construção
do jornalismo moderno norte-americano ao longo dos séculos:
A. XVI e XX B. XIII e XX C. XIX e XX D. XVIII
e XX

9. Philip Meyer (1989), nos lembra a primeira emenda da


Constituição dos Estados Unidos principalmente no aspecto
ético, em sua obra que se intitula:
A. “A ética” do jornalismo B. “A ética” no
jornalismo
C. “A ética” em jornalismo D. Nenhum

10. Surgiu nos Estados Unidos o jornalismo “de sensações” (Barbosa,


2007), que transformou a venda da notícia, em:
A. uma mercadoria, em uma lucrativa época de negócios
B. uma mercadoria, em uma maior oportunidade de negócios

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C. uma mercadoria, em uma grande oportunidade de negócios


D. uma mercadoria, em uma lucrativa oportunidade de negócios

1.3 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Walter Lippmann
2 A test of the news
Actividade de Avaliação 3 Século XX
4 Liberdade de expressão na
constituição da identidade
norte-americana

5 Inglaterra e França
1 C
2 D
3 A
4 C
Actividade de Auto-avaliação 5 D
6 B
7 A
8 C
9 B
10 D

146
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Unidade temática 2: Teorias do jornalismo


___________________________________
Introdução

Enumeras questões colocadas em torno do campo


jornalístico, já foram objectos de diversos estudos que
culminaram com a produção de uma vasta literatura constituída
por milhares de livros e artigos que ocupariam estantes em
quaisquer bibliotecas do mundo. Em particular, o estudo do
jornalismo constitui um campo científico com já longas tradições
que chegam a pré-datar a criação dos cursos de mestrados e
doutoramentos nos anos 30 do século XX nos Estados Unidos.

Portanto, é possível esboçar hoje a existência de várias


teorias jornalísticas que tentam responder a pergunta de Traquina
(2005), sobre a qual “porque as notícias são como são”,
reconhecendo o facto de que a utilização do termo “teoria” é
discutível, porque pode também significar uma explicação
interessante e plausível, e não um conjunto elaborado e
interligado de princípios e proposições.

Analisemos as seguintes teorias:

2.1 Teoria do espelho

A mais antiga das teorias do Jornalismo é a Teoria do


Espelho, desenvolvida a partir dos anos 1850. Ela surgiu no
contexto das profundas mudanças que se processavam na
imprensa dos Estados Unidos (Pena, 2010), com o
desenvolvimento de uma rentável indústria noticiosa de massas.
Em contraponto ao anterior jornalismo “literário, ideológico,
partidário, panfletário, sensacionalista”, surgiam novos
profissionais que sustentavam ser a imprensa o espelho do real,
serem as notícias o que são por reflectirem a realidade. O
jornalista seria um mediador desinteressado, um observador
isento, imparcial, que descreveria objectivamente os factos. O
princípio básico seria a separação de factos e opiniões.

Dizia-se que a palavra poderia reflectir a realidade, assim


como a fotografia, recém inventada. O Jornalismo usaria métodos
científicos que evitariam a subjectividade. “O meu trabalho é
comunicar factos: as minhas instruções não permitem qualquer
tipo de comentários sobre os factos, sejam eles quais forem”,

147
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

afirmava, por exemplo, em 1856, o correspondente em


Washington da agência noticiosa Associated Press (Read, 1976:
108, apud Traquina, 2005: 147-148).

Nas décadas de 1920 e 1930, estes princípios voltaram a


ganhar força nos Estados Unidos, especialmente a partir do
lançamento de um livro que se tornaria célebre, Opinião Pública,
do jornalista Walter Lippmann (1922). Tratava-se do reforço da
pregação do uso de métodos científicos contra a subjectividade
na profissão, para fazer frente às distorções factuais verificadas na
cobertura da Primeira Guerra Mundial.

2.2 Teoria do Gatekeeper

Também conhecida como a Teoria da Acção Pessoal


(Schudson, 1988), atribui ênfase à percepção e selecção individual
do jornalista, caracterizando a selecção como subjectiva e
decorrente dos valores do jornalista/seleccionador. O conceito de
gatekeeper influenciou fortemente uma fase de estudos do
jornalismo nas décadas de 1950 e 1960, a partir do já icónico
trabalho de White (1950), e o “Mr. Gate”.

Neste período, as pesquisas eram essencialmente


quantitativas, e o foco da Teoria do Gatekeeper é quem as
produz, isto é, o jornalista. Trata-se de uma abordagem
macrossociológica, no nível do indivíduo. Especialmente a partir
da década de 1970, a teoria foi interpelada por abordagens
sociológicas do Jornalismo.

Contudo, principalmente a partir do crescimento do


jornalismo móvel, pode-se ponderar se o jornalista, enquanto
“seleccionador individual”, não torna a ganhar espaço, já que, não
raro, poucos minutos separaram o acontecimento da
disponibilização do relato. Neste sentido, a função do editor
enquanto mediador e coordenador central das pautas diminui,
enquanto a decisão individual, num primeiro momento, cresce.
Não é por acaso que o jornalismo das redacções dos grandes
conglomerados regista a volta da autoria; prática que
gradualmente havia se tornado ausente as últimas décadas do
século XX.

148
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Fonte: Google: representação do gatekeeper

2.3 Teoria organizacional

Nesta teoria a ênfase recai na notícia como relato


resultante dos condicionantes organizacionais, como as
“hierarquias, as formas de socialização e aculturação dos
jornalistas, a rede de captura de acontecimentos que o órgão
jornalístico lança sobre o espaço, os recursos humanos e
financeiros desse órgão, a respectiva política editorial, etc.”
(Sousa, 2002, p. 4).

É uma teoria que ganha força especialmente nos anos


1960, a partir do estudo seminal de Warren Breed (1955)
intitulado “Controle social da redacção”, uma análise funcional,
onde o autor sustenta que o jornalista se molda mais às normas
editoriais da empresa do que a qualquer crença que carregue
consigo. Assim, observa-se que, na Teoria Organizacional, é
sublinhada a importância duma cultura organizacional, e não uma
cultura profissional. Traquina (2005, p. 153)

2.4 Newsmaking, Responsabilidade Social, Agendamento

Na mesma linha de pesquisa, com uma abrangência


aglutinadora de factores inerentes à prática jornalística e às
empresas do sector, se fortaleceu nas décadas mais recentes a

149
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perspectiva do newsmaking, uma abordagem sociológica do


Jornalismo e que parte do reconhecimento da existência de
condições na selecção e construção dos acontecimentos a serem
narrados para definir o produto do jornalismo. Actualmente,
pondera-se que:

“Se os estudos mais antigos salientavam o papel individual dos


repórteres e editores na selecção e configuração das notícias, os
estudos mais recentes parecem indicar que factores “ambientais”,
“ecossistemáticos”, como as ‘deadlines’10, o espaço, as políticas
organizacionais, as características do meio social e da cultura,
entre outros, desempenham um papel importante na construção
das notícias”. (Souza, 2002, p.40)

A Teoria do Newsmaking tem, entre seus principais


sistematizadores, professores dos dois lados do Atlântico, como o
italiano Mauro Wolf (2010), o português Nelson Traquina (2001,
2005, 2008) e a americano Gaye Tuchman (1978). Por esta visão,
o Jornalismo “está longe de ser o espelho do real. É, antes, a
construção de uma suposta realidade” (Pena, 2010: 128).

A produção da notícia, embora possa parecer um processo


simples, precisa ser planejada como uma rotina industrial. A
execução do trabalho é dividida entre pauteiros, repórteres,
redactores, editores, directores e outros agentes da redacção, e
os critérios sobre o que é notícia e seu destaque são negociados
por todos os actores do processo produtivo. Assim, fica
minimizado o suposto paradigma de “manipulação da notícia”.
Notícias que, nos media tradicionais, possuem uma função
“massiva”.

Por função “massiva” entende-se, um fluxo centralizado


de informação, com o controle editorial do pólo de emissão, por
grandes empresas em processo de competição entre si, já que são
financiadas pela publicidade. Busca-se, para se manter as verbas
publicitárias, sempre o sucesso de “massa”, que resultará em
mais verbas publicitárias e maior lucro.

As mídias de função de massa são centradas, na maioria


dos casos, em um território geográfico nacional ou local. As
mídias e as funções massivas têm o seu papel social e político na

10 Prazos
150
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

formação do público e da opinião pública da modernidade. As


“funções massivas” são aquelas dirigidas para a massa, ou seja,
para pessoas que não se conhecem, que não estão juntas
espacialmente e que assim têm pouca possibilidade de interagir.
Não há estrutura organizacional nas massas, tampouco tradição,
regras. Lemos (2007, p.124)

A Teoria da Responsabilidade social é um preceito caro ao


Jornalismo. Expressões como “cães de guarda da sociedade” e
imprensa como “Quarto Poder”11 tem este sentido e se coadunam
com ideário romântico do Jornalismo. Advogam uma imprensa
que tem como eixo norteador o comprometimento apenas com
cidadão e com o interesse público. Por isso, as funções da
imprensa nas sociedades democráticas seriam a “mediação e o
esclarecimento”, de forma apartidária, neutra, distante e acima
das disputas de interesse da sociedade.

Outro enfoque possível para se pensar as notícias é a


hipótese do Agenda setting (ou agendamento). O conceito de
agendamento foi apresentado por McCombs e Shaw em 1972,
embora a relação causal entre agenda midiática12 e pública já
tivesse sido ventilada por Walter Lippmann, ainda nos anos 1920.
De lá para cá, o conceito se ampliou e complexificou, a partir do
reconhecimento de um poder midiático muito mais abrangente
do que dos efeitos limitados. Traquina (2000), integra o
paradigma do agendamento também dentro da literatura do
newsmaking, isto é, do ponto de vista dos emissores profissionais.

A literatura do agendamento abrange três angulações:

o pesquisas sobre a agenda mediática, isto é, estudos do conteúdo


dos media;
o os estudos da agenda das políticas governamentais; cujo núcleo é
o que se torna notícia a partir das entidades governamentais;
o estudos da agenda pública, definidos como aqueles que se
debruçam sobre os desdobramentos das notícias na agenda dos
receptores.

Nesta terceira vertente concentra-se a maioria dos


estudos de agenda setting, buscando examinar a relação entre
agenda midiática e agenda pública. Sobre a evolução da

11
Se informe mais no TEMA 1: O Poder das mídias
12
ou mediática

151
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

investigação do agendamento, McCombs e Shaw (1993)


escreveram que os media13 não só dizem em que pensar, mas
também como pensar e, consequentemente, o que pensar. Ao
menos era o que ocorria nos meios de comunicação com função
massiva.

2.5 Instrumentalistas e Definidores Primários

No turbilhão de estudos sobre o Jornalismo surgidos


especialmente a partir da década de 1970, encontram-se ainda
entre várias outras, a Teoria Instrumentalista, segundo a qual as
notícias seriam produzidas de maneira parcial, para servir
objectivamente a determinados interesses políticos. (Traquina,
2005).

Aceitando implicitamente a Teoria do Espelho, de que a


realidade pode ser reproduzida, ela apontava, todavia, distorções
e parcialidade. Os instrumentalistas dividiam-se em duas
correntes teóricas:

• viés direitista: que considerava os jornalistas uma classe social


distinta, anticapitalista, empenhada em distorcer as notícias para
difundir sua ideologia;
• viés esquerdista: que sustentava serem os jornalistas oprimidos
nas empresas, pressionados a reproduzir os valores capitalistas
como consumo desenfreado, competição, individualismo,
privatização.

De um modo ou de outro, as notícias seriam sempre


parciais. Como a Teoria Instrumentalista, a Teoria dos Definidores
Primários (Pena, 2010) considera que as notícias são distorcidas,
mas não por propósito dos jornalistas ou dos proprietários dos
veículos. As notícias não reflectiriam a realidade porque a
realidade seria distorcida pelas próprias fontes entrevistadas
pelos jornalistas, os “definidores primários”, que distorceriam os
factos a seu favor.

13
ou mídia

152
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2.6 Teoria Unificadora

Nenhuma dessas teorias foi capaz de sozinha, alcançar


consenso entre os estudiosos como sendo capaz de responder às
perguntas centrais sobre a natureza científica do Jornalismo, a
título de exemplo:

1) o que são notícias?;


2) por que as notícias são como são?;
3) quais são os efeitos da notícias?.

Nesse sentido, tais teorias podem ser vistas como


modelos, que, por sua vez, diferenciam-se de paradigmas.

Vellasco e Villa (2011) definem modelos científicos como o


resultado da perspectiva ou enfoque com que os diferentes
autores contemplam determinada realidade estudada. Não
abrangem o todo, mas só um aspecto do objecto em estudo.
Assim, não tendo um carácter totalizador, mas sim sendo
essencialmente incompletos, os modelos devem sempre procurar
uma forma de completar-se e enriquecer-se graças a perspectivas
diferentes.

Portanto, podem e devem coexistir para uma melhor visão


do objecto estudado. Nessa perspectiva, as numerosas teorias do
Jornalismo, surgidas desde meados do século XIX, são modelos
que focam parcialmente, cada qual, um aspecto do fenómeno
jornalístico global. Desta forma, a Teoria do Gatekeeper, por
exemplo, enfatizaria “não importa que o fazendo
exageradamente”, a influência pessoal do jornalista sobre o que
será noticiado. A Teoria Organizacional daria ênfase à força da
engrenagem empresarial, que em muitas circunstâncias de facto
restringe significativamente as margens de influência individual
do jornalista sobre a linha editorial.

A Teoria dos Definidores Primários destacaria a


importância, muitas vezes central, das fontes dos jornalistas sobre
o resultado final dos noticiários, e assim por diante. Já os
paradigmas, tendo como marco a definição basilar de Kuhn
(1975), representam a explicação global de determinado
fenómeno, aceita ao menos temporariamente pela comunidade
científica. É apenas quando um paradigma passa a ser contestado
e entra em crise que é substituído por outro paradigma, sendo

153
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

assim que se produzem as revoluções científicas. É nesta


perspectiva que a Teoria Multifactorial da Notícia, formulada pelo
professor Jorge Pedro Sousa (2002, 2004) e que apresentaremos
no próximo segmento, pode ser considerada o primeiro
paradigma das teorias do Jornalismo.

2.7 Teoria Multifactorial da Notícia

Observando que estudos de Jorge Pedro Sousa (2002,


2004) beneficiaram-se de trabalhos anteriores de pesquisadores
como Michael Schudson, Pamela Shoemaker e Stephen Reese,
destaca-se, já na abertura de sua Teoria Multifactorial da Notícia
(2004) que “À semelhança das ciências exactas e naturais, as
ciências humanas e sociais devem procurar agregar os dados
dispersos fornecidos pela pesquisa em teorias integradoras,
entendidas como explicações integradas para fenómenos
comprovadamente correlacionados, susceptíveis de explicar
determinados fenómenos com bases em leis gerais preditivas,
mesmo que probabilísticas.”

Para Sousa (2004: 3), a teoria da notícia deve ser traduzível


matematicamente e “deve atentar no que une e é constante e não
no que é acidental. Isto significa que o enunciado da teoria deve
ser contido, explícito e aplicável a toda e qualquer notícia que se
tenha feito ou venha a fazer”. Em seus estudos integradores sobre
o que são as notícias e ‘por que as notícias são como são’14, o
autor concluiu que:

“A notícia jornalística é o produto da interacção histórica e


presente (sincrética) de forças pessoais, sociais (organizacionais e
extraorganizacionais), ideológicas, culturais, históricas, dos meios
físicos e dos dispositivos tecnológicos que intervêm na sua
produção e através dos quais difundidas.” (Sousa, 2004: 16).

Em relação à questão quais os efeitos que as notícias


geram? Sousa afirma: “as notícias têm efeitos cognitivos, afectivos
e comportamentais sobre as pessoas e, através delas, sobre as
sociedades, as culturais e as civilizações”. (Sousa, 2004: 16). Com
base nesses raciocínios, em seu trabalho pioneiro de 2002, o
pesquisador português construiu duas fórmulas. A primeira, em
que Notícia (N) é Função (F) de várias forças:

14
Questão também colocada por Nelson Traquina em sua obra: Teorias do jornalismo, Vol 1, 2005.

154
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N=F (Fp.Fso.Fseo.Fi.Fc.Fh.Fmf.Fdt)
Fp = força pessoal
Fso = força social Fseo = força social extraorganizacional
Fi = força ideológica
Fc = força cultural
Fh = força histórica
Fmf = força do meio físico
Fdt = força dos dispositivos tecnológicos

E a segunda, em que Efeitos da Notícia (En) são Função (F) de


diversas variáveis:
En = F (Nf.Nc.P.Cm.Cf.Cs.Ci.Cc.Ch)
Nf = formato da notícia
Nc = conteúdo da notícia
P = pessoa Cm= circunstância: meio de difusão da notícia
Cf = circunstância: condições físicas de recepção da notícia
Cs = circunstância: sociedade
Ci = circunstância: ideologia
Cc = circunstância: cultura
Ch = circunstância: história

Em guia de conclusão, Sousa afirma estar convencido de


que “é tarefa dos estudiosos do Jornalismo construir uma
explicação unificada para as notícias” e que os estudos
jornalísticos nas últimas décadas foram de tal forma férteis, que já
nos deram matéria-prima suficiente para edificarmos essa
explicação unificada de forma simples, breve e clara, como
acontece em qualquer teoria científica, independentemente da
complexidade da fundamentação da mesma.

Sousa enfatiza ainda, que é possível explicar qualquer


notícia em função da interacção dessas forças e prever que
qualquer notícia que venha a ser enunciada e fabricada dentro do
sistema jornalístico resultará igualmente da interacção dessas
forças. Este encerra seu trabalho praticamente em tom de
desafio, afirmando o seguinte: “consideramos provado que essas
forças têm de estruturar uma teoria unificada do Jornalismo.
Quando uma notícia vier a contradizer a teoria, será, então, altura
de rever a teoria e, eventualmente, de a substituir”.

155
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2.8 Teoria de acção política

Esta teoria constituiu-se um foco relevante dos estudos de


Jornalismo a partir dos anos 1970, e tem como epicentro a
relação entre Jornalismo e sociedade, debruçando-se sobre as
implicações políticas e sociais da actividade jornalística, o papel
social das notícias e “a capacidade do Quarto Poder em
corresponder às enormes expectativas em si depositadas pela
própria teoria democrática” (Traquina, 2005, p.163). Por esta
abordagem, as notícias sistematicamente distorcem a realidade,
face aos interesses políticos dos agentes sociais, embora
pudessem ser o seu espelho. Sousa, numa releitura de Traquina
(2005), pontua que há duas versões desta "teoria".

Primeiro: afirma-se que as notícias são dissonantes da


realidade porque os jornalistas, sem autonomia, estão sujeitos a
um controle ideológico e mesmo conspirativo que leva os media
noticiosos a agirem como um instrumento ao serviço da classe
dominante e do poder. Por isso, para esses teóricos as notícias
dão uma visão direitista, liberal e conservadora do mundo e
contribuem para a sustentação do status quo.

Segundo: sustenta-se que os media noticiosos são


instrumentos da ideologia dos jornalistas. Estes são vistos como
quase totalmente autónomos em relação aos diversos poderes. As
notícias seriam enviesadas da realidade porque reflectem as
convicções ideológicas e políticas dos jornalistas e as suas
ideologias profissionais. Como só jornalistas, para esses
pensadores, são maioritariamente da oposição, as notícias
tendem a privilegiar uma visão da oposição do mundo. (Sousa,
2002, p.4-5)

2.9 Teoria etnoconstrucionista ou interacionista

As notícias são resultados de um processo de produção,


definido como percepção, selecção e transformação de uma
matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as notícias). Os
acontecimentos constituem um imenso universo de matéria-
prima; a estratificação deste recurso consiste na selecção do que
irá ser tratado, ou seja, na escolha do que se julga ser matéria-
prima digna de adquirir a existência pública de notícia numa
palavra, ter noticiabilidade.

156
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

Aliás, a questão central do campo jornalístico é


precisamente esta: O que é a notícia? Ou seja, quais os factores e
critérios que determinam a noticiabilidade dos acontecimentos
(Wolf, 1978). O desenvolvimento de um campo jornalístico
autónomo tem como factor crucial a profissionalização de pessoas
envolvidas na actividade jornalística em que é reivindicada a
autoridade e a legitimidade de exercer um monopólio sobre
poder de decidir a noticiabilidade dos acontecimentos e das
problemáticas.

Para a teoria integracionista, os jornalistas vivem sobre a


tirania do factor tempo. O seu desafio quotidiano é ter de
elaborar um produto final (notícia, jornal, telejornal, etc). Todos
os dias e todas as semanas é impossível a hipótese do
apresentador do telejornal, por exemplo dizer “hoje não há
notícias” ou “temos hoje um programa mais curto porque não
havia notícias suficientes”. O trabalho jornalístico é uma
actividade prática e quotidiana, orientada para cumprir as horas
de fechamento.

Pressionadas pela tirania da “hora do fechamento”, as


empresas do campo jornalístico são ainda mais obrigadas a
elaborar estratégias para fazer face ao desafio colocado pela
dupla natureza da sua matéria-prima:
1. Os acontecimentos (matéria prima preponderante do trabalho
jornalístico) podem surgir em qualquer parte;
2. Os acontecimentos podem surgir a qualquer momento;
3. Face a imprevisibilidade, as empresas jornalísticas precisam impor
ordem no espaço e no tempo.

Ordem no espaço-segundo Gaye Tuchman (1973, 1978), as


empresas jornalísticas tentam impor ordem no espaço
estendendo uma rede noticiosa (newsnet) para capturar os
acontecimentos. A consequência é que os acontecimentos
noticiáveis ocorrem em certas localidades e não em outras. Como
impor ordem no espaço? Para cobrir o espaço, Tuchman
apresenta três estratégias que as organizações jornalísticas
utilizam:

1. Autoridade territorialidade geográfica- as empresas jornalísticas


dividem o mundo em áreas de responsabilidade territorial;
2. A especialização organizacional- as empresas jornalísticas
estabelecem “sentinelas” em certas organizações, que do ponto

157
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de vista dos valores-notícias, produzem acontecimentos julgados


com noticiabilidade;
3. A especialização em termos de temas- as empresas jornalísticas
autodividem-se por secções que enchem certas “rúbricas” do
jornal.

Para Tuchman, uma das consequências deste imperativo


que os membros da comunidade jornalística utilizam para levar a
cabo o seu trabalho é de fazer com que os acontecimentos
julgados notícias tenham assim tendências a ocorrer em certas
localidades e não em outras.

2.10 Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista)

Teoria oposta a Teoria do Espelho, esta linha de


investigação concebe como impossível os media simplesmente
reflectirem à realidade através das notícias, pelo simples facto de
que as próprias notícias ajudam a construir a realidade. Para
Sousa (2002, p. 5). Para os académicos que perfilham essa
explicação (construcionista), as notícias são histórias que resultam
de um processo de:

✓ construção;
✓ linguística;
✓ organizacional;
✓ social;
✓ cultural.

Essas histórias, não podem ser vistas como o espelho da


realidade, antes são artefactos discursivos não ficcionais-
indiciáticos, que fazem parte da realidade e ajudam-na a construir
e reconstruir. Assim, o conceito de distorção é visto como
inadequado e as atitudes políticas dos jornalistas observados
como relativamente autónomos não são entendidas como um
factor determinante no processo jornalístico de produção de
informação.

Percebidas como o resultado de um complexo processo de


interacção entre jornalistas, fontes, demais profissionais da
imprensa e sociedade e em torno da noção central da notícia
como construção, duas correntes teóricas emergem neste
período, elas são:

158
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

✓ Teoria Estruturalista;
✓ Teoria Interacionista.

Com abordagens micro e macrossociológicas, essas teorias


pontuam a interacção do jornalista não apenas na organização à
qual pertencem (como na Teoria Organizacional, de Warren
Breed, por exemplo), mas também na comunidade jornalística,
sendo, por isso, transorganizacionais. Ambas as teorias sublinham
a importância da cultura jornalística, nomeadamente a estrutura
dos valores-notícia dos jornalistas, a ideologia dos membros da
comunidade, as rotinas e os procedimentos que os profissionais
utilizam para levar a cabo o seu trabalho. Assim, ambas rejeitam
categoricamente uma visão instrumentalista das notícias.
Traquina (2005)

Pela Teoria Estruturalista, as notícias são um produto


socialmente construído que reproduz a ideologia dominante e
legitima o status quo. Isto acontece porque os jornalistas e os
órgãos de comunicação social têm uma reduzida margem de
autonomia, cultivam uma cultura rotinizada e burocratizada e
estão sujeitos ao controle da classe dominante, proprietária dos
meios de comunicação, que vincula os media às suas (primeiras)
definições dos acontecimentos (Sousa, 2002, p.5).

Ao contrário da Teoria da Acção Política, contudo, a


estruturalista confere ao jornalista uma “autonomia relativa” em
relação ao controle económico das empresas do sector. Salienta a
relevância estrutural que adquirem os valores-notícias e a
ideologia jornalística que delimitam rotineiramente os factos
noticiáveis, os eventos que adquirem o status de notícia. Ao longo
da construção da notícia, Hall et. al (1993) oportunamente pontua
que a Teoria Estruturalista valoriza uma perspectiva culturalista,
sem a qual não haveria um “mapa de significados” no qual as
notícias pudessem fazer a mediação à qual se propõem. O ponto-
chave para esta abordagem é a relação estrutural entre os media
e as fontes; sendo estas percebidas como um bloco unido,
uniforme e que comandam a acção dos jornalistas.

Por esta abordagem as notícias também são uma


construção social, produto de um processo de percepção,
selecção e transformação de acontecimentos, realizado por
profissionais relativamente autónomos, que compartilham uma
cultura comum e sujeitam-se aos “constrangimentos

159
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

organizacionais, os enquadramentos e narrativas culturais que


governam a expressão jornalística” (Sousa, 2002, p.5).

Neste sentido, o desenvolvimento de um campo


jornalístico autónomo tem como factor crucial a
profissionalização das pessoas envolvidas na actividade
jornalística em que é reivindicada a autoridade e a legitimidade de
exercer um monopólio sobre o poder de decidir a noticiabilidade
dos acontecimentos e das problemáticas. Perder esse monopólio
é pôr em causa a independência do jornalismo e a competência
dos seus profissionais (Traquina, 2005, p.181).

Observa-se que as teorias acima sintetizadas guardam


interfaces e nem sempre apresentam fronteiras bem definidas.
“Aquilo que as une é mais importante do que aquilo que
eventualmente as separa” (Sousa, 2002, p.6). Talvez por isso,
autores como Jorge Pedro Sousa (2002, 2002a) e Michael
Schudson (1988) estejam entre aqueles que defendem que as
teorias unidimensionais não conseguem explicar as notícias,
propondo uma teoria unificada, sistematizadora.

Contudo, quando foca-se mais no que une as teorias acima


descritas do que no que as diferencia, observa-se que o ponto em
comum é sempre discutir o Jornalismo do ponto de vista dos
emissores, seja priorizando o jornalista, a cultura profissional, a
ideologia ou os constrangimentos organizacionais.
Sumário
__________________________

2.11 Actividade de Auto-avaliação

1. Diga qual é a questão colocada por Traquina (2005) no âmbito


das suas teorias jornalísticas.
2. A partir de que ano foi desenvolvida a Teoria do Espelho?
3. Em contraponto a o quê a teoria do espelho se firmou com o
desenvolvimento de uma rentável indústria noticiosa de
massas?
4. O que é considerado ser um jornalista na teoria do espelho?
5. Reflectir a realidade, assim como a fotografia recém inventada
era o teor da teoria do espelho. Que métodos científicos
usaria o Jornalismo para reflectir a realidade?

160
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.12 Actividade de Avaliação


Entre as alternativas colocadas, uma só opção está correcta.
Escolhe-a.

1. Também conhecida como a Teoria da Acção Pessoal (Schudson,


1988), atribui ênfase à percepção e selecção individual do
jornalista. Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do
Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D.
Newsmaking,

2. Contrapuseram-se ao anterior jornalismo “literário, ideológico,


partidário, panfletário, sensacionalista”, Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Newsmaking,

3. Tratava-se do reforço da pregação do uso de métodos científicos


contra a subjectividade na profissão, para fazer frente às
distorções factuais verificadas na cobertura da Primeira Guerra
Mundial, Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Newsmaking,

4. A ênfase recai na notícia como relato resultante dos


condicionantes organizacionais, como as “hierarquias, as formas
de socialização e aculturação dos jornalistas, a rede de captura
de acontecimentos que o órgão jornalístico lança sobre o espaço,
os recursos humanos e financeiros desse órgão, a respectiva
política editorial, etc.” (Sousa, 2002), Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Newsmaking,

5. A produção da notícia, embora possa parecer um processo


simples, precisa ser planejada como uma rotina industrial,
Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Newsmaking,

6. O seus principais sistematizadores são os professores dos dois


lados do Atlântico, como o italiano Mauro Wolf (2010), o

161
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

português Nelson Traquina (2001, 2005, 2008) e a americano


Gaye Tuchman (1978). Refere-se a:
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Newsmaking,

7. Teoria da Responsabilidade social é um preceito:


A. caro ao Jornalismo B. barato ao Jornalismo C. simples ao
Jornalismo D. aceitavel ao Jornalismo

8. A literatura do agendamento abrange três angulações, uma


delas é:
A. pesquisas sobre a agenda política B. pesquisas sobre a
agenda social
C. pesquisas sobre a agenda mediática D. pesquisas
sobre o fim mediática

9. Teoria segundo a qual as notícias seriam produzidas de maneira


parcial, para servir objectivamente a determinados interesses
políticos.
A. Teoria do espelho B. Teoria do Gatekeeper,
C. Teoria organizacional D. Instrumentalista

10. As numerosas teorias do Jornalismo, surgidas desde meados do


século XIX, são modelos que focam parcialmente, cada qual:
A. um aspecto do fenómeno jornalístico global
B. dois aspectos do fenómeno jornalístico global
C. três aspecto do fenómeno jornalístico global
D. Nenhum aspecto do fenómeno jornalístico global

162
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2.13 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 Porque as notícias são como
são?
Actividade de Auto-avaliação 2 1850
3 Em contraponto ao anterior
jornalismo literário,
ideológico, partidário,
panfletário, sensacionalista
4 um mediador desinteressado,
um observador isento,
imparcial, que descreveria
objectivamente os factos

5 Usaria métodos científicos


que evitariam
a subjectividade
1 B
2 A
3 A
4 C
Actividade de Avaliação 5 D
6 D
7 A
8 C
9 D
10 A

163
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.14 Actividade Temática Geral

1. A teoria de acção política constituiu-se um foco relevante


dos estudos de Jornalismo a partir dos anos:
A. 1970 B. 1980 C. 1990 D. 2000

2. As notícias são resultados de um processo de produção,


definido como percepção, selecção e transformação de uma
matéria-prima (os acontecimentos) num produto (as
notícias). Refere-se a:
A. Teoria de acção política
B. Teoria etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista)
D. Teoria Multifactorial da Notícia

3. Os jornalistas vivem sobre a tirania do factor tempo. Refere-


se a:
A. Teoria de acção política
B. Teoria etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista)
D. Teoria Multifactorial da Notícia

4. Ordem no espaço-segundo Gaye Tuchman (1973, 1978), as


empresas jornalísticas tentam impor ordem no espaço
estendendo uma rede noticiosa (newsnet) para capturar:
A. os acontecimentos B. os factos C. as histórias
D. as mensagens

5. Teoria oposta a Teoria do Espelho, esta linha de investigação


concebe como impossível os media simplesmente reflectirem
à realidade através das notícias. Refere-se a:
A. Teoria de acção política
B. Teoria etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista)
D. Teoria Multifactorial da Notícia

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

6. Para Sousa (2002), as notícias também são uma construção


social, produto de um processo de percepção, selecção e
transformação de acontecimentos, realizado por
profissionais relativamente autónomos, que compartilham
uma cultura comum e sujeitam-se aos:
A. constrangimentos desorganizacionais, os enquadramentos e
narrativas culturais que governam a expressão jornalística
B. constrangimentos organizacionais, os enquadramentos e
narrativas culturais que governam a expressão jornalística
C. constrangimentos organizacionais, os enquadramentos e
narrativas religiosas que governam a expressão jornalística
D. constrangimentos organizacionais, os enquadramentos e
narrativas politicas que governam a expressão jornalística

7. Para Sousa (2004: 3), a teoria da notícia deve ser traduzível


matematicamente. Refere-se a:
A. Teoria de acção política B. Teoria
etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista) D.
Teoria Multifactorial da Notícia

8. “Étarefa dos estudiosos do Jornalismo construir uma


explicação unificada para as notícias”. Refere-se a:
A. Teoria de acção política B. Teoria
etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista) D.
Teoria Multifactorial da Notícia

9. Para cobrir o espaço no âmbito jornalístico, Tuchman


apresenta três estratégias que as organizações jornalísticas
utilizam, uma delas é :
A. Autoridade territorialidade geográfica- as empresas
jornalísticas não dividem o mundo em áreas de
responsabilidade territorial
B. Autoridade territorialidade geográfica- as empresas
jornalísticas traçam o mundo em áreas de responsabilidade
territorial
C. Autoridade territorialidade geográfica- as empresas
jornalísticas dividem o mundo em áreas de responsabilidade
territorial
D. Autoridade territorialidade geográfica- as empresas
jornalísticas dividem o mundo em áreas de responsabilidade
central

165
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

10. Para a teoria interacionista, os jornalistas vivem sobre a


tirania do seguinte factor :
A. Tempo B. Espaço C. Geográfico D. Nenhum

2.15 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A
2 B
3 B
4 A
Actividade Temática Geral 5 C
6 B
7 C
8 A
9 C
10 A

166
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.16 Referência Bibliográfica

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

2.17 Referências imagéticas gerais

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2%2F&psig=AOvVaw1DJ0Wk0tGkt5IeyDbBDdVm&ust=1566136199901624

https://www.google.com/url?sa=i&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=2ahU
KEwjLv8C6sorkAhWJURUIHZZmDR4QjRx6BAgBEAQ&url=%2Furl%3Fsa%3Di%
26source%3Dimages%26cd%3D%26ved%3D%26url%3Dhttps%253A%252F%252Fe
mersonalmada.wordpress.com%252F2017%252F01%252F15%252Ffluxo-de-
comunicacao-em-dois-tempos-two-steps-
flow%252F%26psig%3DAOvVaw3M5UJN0M639xEiqcgbdaG
%26ust%3D1566147996623949&psig=AOvVaw3M5UJN0M639xEiqcgbdaG
&ust=1566147996623949

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y2YrkAhXCEVAKHd3qCPQQjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Fwww.comuniq
ueiro.com%2Fdicionario%2Fteoria-matematica-
informacao&psig=AOvVaw0bba9mY3djrTe7RMd1yfUS&ust=1566158550445250

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AhWQZlAKHYZpDBUQjRx6BAgBEAQ&url=http%3A%2F%2Fwww.benoliveira.co
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do.html&psig=AOvVaw3EDuBmVHpaT33JADI9rp7x&ust=1567059337653274

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2.18 Actividade de Preparação para Exame

Fase 1
Reflicta sobre as questões colocadas a seguir, e escolha a opção correcta.

1. O modelo “Poder Moderador “é uma das características típicas do:


A. Quarto poder B. Quinto poder C. Primeiro Poder D. Segundo poder

2. “O quarto poder implica no compromisso da imprensa com a objectividade no


tratamento das noticias”. Essa afirmação pertence”
A. Cook (1998) B. Alburquerque (2009) C. Schudson (1978) D. Tocqueville (1977)

3. A designação “Quarto Poder “ foi considerado ter sido o maior poder da nação. O seu
designante chama-se:
A. McCauley B. Albuquerque C. Traquina D. Boorstein

4. Os mídias deixam de ser instituições da sociedade civil para se tornar instituições da


sociedade política(...), segundo:
A. L. L. Lustosa B. Albuquerque C. Perseu Abramo D. McCaulay

5. Para Pedrinho A. Guareschi (2007), quando se fala em mídia como quarto poder, pode
também ser um poder:
A. Usurpado B. Político C. Capitalista D. Social

6. “O jornalista empresta o seu olhar ao público” essa afirmação pertence:


A. Ao quarto poder B. Quinto poder C. Quarto e quinto poder D. nenhum

7. O quinto poder é uma expressão criada por:


A. Pedrinho A. Guareschi B. Roger Silverstone C. Roger e Pedrinho D. Nenhum

8. Influenciar na formação de opinião pública e construir sua credibilidade, é um dos


objectivos da dimensão:
A. Socioantropológica B. Semiolinguística C. Tecno-tecnológica D. Nenhuma

9. Massarolo (2012), elucida que cada uma das plataformas digitais deve:
A. Desamparar a outra B. Complementar a outra C. Criticar a outra D. Nenhuma

10. “Apesar da internet ser uma possibilidade de espaço democrático para a produção e
disseminação de informação (...), a mídia tradicional mantem a sua liderança”. A
citação pertence a:
A. Massarolo B. Ruggieri C. Bezzera D. Salverria e Negredo

169
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11. O modelo de fluxo de Lazarsfeld se propagava em dois tempos, e em inglês designa-se


da seguinte maneira:
A. Two step flow B. Three step flow C. None step flow D. Four step flow

12. O próprio Lazarsfeld reconheceu nos anos seguintes, a necessidade de reformular


alguns aspectos do two-step flow, e então, em vez da comunicação em dois tempos,
two step, após um certo tempo Lazarsfeld sugere a comunicação em multi-step, que
quer dizer:
A. Dois tempos B. Vários Tempos C. Multi-passos D. Algum tempo

13. Os estudos de Lazarsfeld modificaram o modo pelo qual os teóricos analisavam a


sociedade, que era tida como uma massa isolada, e o papel do receptor, que era visto
como:
A. Activo e influenciado directamente, segundo a Teoria das Balas Mágicas da época do
pós-guerra.
B. Passivo e influenciado indirectamente, segundo a Teoria das Balas Mágicas da época do
pós-guerra.
C. Passivo e influenciado directamente, segundo a Teoria das Balas Mágicas da época do
pós-guerra.
D. Passivo e influenciado directamente, segundo a Teoria estruturalista da época do pós-
guerra.

14. A partir do final da década de 50 do século XX a mentalidade dos pesquisadores


começavam a mudar, desta vez, o receptor:
A. Isola-se da burocracia ou de uma sociedade de massa
B. Isola-se da burocracia ou de uma sociedade de individualista
C. Isola-se da política ou de uma sociedade de massa
D. Apega-se a burocracia ou de uma sociedade de massa

15. Mário Wolf (S.d), afirma que enquanto a Teoria das Balas Mágicas falava em
manipulação e a abordagem psicológica-experimental falava em persuasão, os
estudos de orientação sociológica, como o Modelo de Lazarsfeld, falavam em:
A. influência B. persuasão C. manipulação D. Nenhuma

16. O modelo de Shannon & Weaver é conhecido por:


A. Teoria Algébrica da Comunicação ou Teoria da Informação
B. Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da Informação
C. Teoria Matemática da Comunicação ou Teoria da comunicação
D. Teoria Matemática dos cálculos ou Teoria da Informação

17. A grande preocupação de Claude Shannon e Warren Weaver era de:

170
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. Transmitir o menor número possível de mensagens no menor espaço de tempo ao


menor custo operacional, com a menor taxa de ruído.
B. Transmitir o maior número possível de mensagens no maior espaço de tempo ao menor
custo operacional, com a menor taxa de ruído.
C. Transmitir o maior número possível de mensagens no menor espaço de tempo ao
menor custo operacional, com a menor taxa de ruído.
D. Transmitir o maior número possível de mensagens no menor espaço de tempo ao maior
custo operacional, com a menor taxa de ruído.

18. Segundo Claude Shannon e Warren Weaver, a fonte de informação é:


A. O sistema de onde se recebe às mensagens
B. O sistema de onde procedem às mensagens
C. O campo de onde procedem às mensagens
D. O sistema de onde envia-se às mensagens

19. Na teoria matemática de informação um receptor é:


A. O fone que recebe o sinal e o converte em mensagem inteligível para o canal
B. O fone que recebe o sinal e o converte em palavras inteligível para o destinatário
C. O fone que recebe a voz e a envia em mensagem inteligível para o destinatário
D. O fone que recebe o sinal e o converte em mensagem inteligível para o destinatário

20. A Fonte de informação e o Sistema vocal são respectivamente:


A. Cérebro e o Transmissor B. Cérebro e o Canal
C. Voz e o Transmissor D. Cérebro e o Sinal

21. Os pesquisadores da teoria matemática de informação deixaram claro que


informação, para eles, não era conteúdo e sim:
A. Uma medida de sua liberdade de escolha quando selecciona um canal
B. Uma medida de sua liberdade de escolha quando selecciona uma mensagem
C. Uma medida de sua liberdade de escolha quando selecciona um receptor
D. Uma medida de sua liberdade de escolha quando elimina uma mensagem

22. O conceito de Entropia na Teoria matemática de informação foi definido como:


A. Medida de informação, ou seja, grande possibilidade de escolhas
B. Quantidade de informação, ou seja, grande possibilidade de escolhas
C. Medida de informação, ou seja, pequena possibilidade de escolhas
D. Medida do ruído, ou seja, grande possibilidade de escolhas

23. Gabriel Cohn (1971), aponta o mérito da precisão na Teoria da Informação sobre o
qual está concebida para tratar de problemas de engenharia da comunicação, aqueles
que envolvem:
A. A Transmissão e Envio de sinais por aparelhos mecânicos ou electrónicos

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CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

B. A Transmissão e Recepção de sinais por aparelhos mecânicos ou electrónicos


C. O Envio e Recepção de sinais por aparelhos mecânicos ou electrónicos
D. A Transmissão e Recepção de sinais por via oral ou electrónicos

24. A crítica que se fez a teoria de informação é a seguinte:


A. O seu teor Informativo a faz mais apropriada para máquinas e não para seres humanos
B. O seu teor pragmático a faz mais apropriada para máquinas e não para seres humanos
C. O seu teor matemático a faz mais apropriada para máquinas e não para seres humanos
D. O seu teor matemático a faz mais apropriada para as massas e não para indivíduos

25. Beltrão (1986) destaca a importância da Teoria da Informação para o trabalho


jornalístico na relação:
A. Tempo-Espaço B. Temporalidade C. Espaçamento D. Espaço-centro-Tempo

26. A relação espaço-tempo é importante, pois o espaço da notícia é delimitado em:


A. Carácteres e Sinais; a velocidade do locutor na locução; o tempo da sonoplastia e das
imagens
B. Carácteres e laudas; a velocidade do locutor na locução; o tempo da sonoplastia e das
vozes
C. Carácteres e laudas; a velocidade do locutor na locução; o tempo da sonoplastia e das
imagens
D. Carácteres e laudas; a velocidade do locutor na transmissão; o tempo da sonoplastia e
das imagens

27. A Teoria da Informação por seu carácter linear é caracterizada por:


A. Transmissão de mensagem que vai por um canal ao outro
B. Transmissão de mensagem que não vai de um ponto a outro
C. Transmissão de mensagem que vai de um ponto a outro
D. Retransmissão de mensagem que vai de um ponto a outro

28. A Teoria de Matemática foi chamada de modelo telegráfico da comunicação por que:
A. Concebia a comunicação apenas como receptor
B. Concebia a comunicação apenas como um canal
C. Concebia a comunicação apenas como transmissor e receptor
D. Concebia a comunicação apenas como transmissão

29. Além das críticas específicas feitas a cada modelo de comunicação, outras críticas à
pesquisa norte americana dessa época foram a de:

172
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. Eliminar o conflito, simplificar as categorias de status e eliminar o factor humano no


contexto estrutura
B. Instituir o conflito, simplificar as categorias de status e eliminar o factor humano no
contexto estrutura
C. Eliminar o conflito, dificultar as categorias de status e eliminar o factor humano no
contexto estrutura
D. Eliminar o conflito, simplificar as categorias de status e propor o factor humano no
contexto estrutura

30. As teorias de concepção sistémicas (a exemplo da teoria de Shannon e Weaver)


acabaram por ser abandonadas graças:
A. A crise sociológica nas ciências sociais
B. A crise dos paradigmas nas ciências sociais
C. A crise dos antropológicos nas ciências sociais
D. A crise dos paradigmas nas ciências humanas

31. A Teoria da Informação, no entanto que também corrente criticada, traz como
novidade no estudo da comunicação:
A. uma certa medida de imprecisão, é uma teoria estatística e matemática e mensuração
do processo de modo a torná-lo preciso e sem ruídos.
B. uma certa medida de precisão, é uma teoria humana e matemática e mensuração do
processo de modo a torná-lo preciso e sem ruídos.
C. uma certa medida de precisão, é uma teoria estatística e matemática e mensuração do
processo de modo a torná-lo preciso e com ruídos.
D. uma certa medida de precisão, é uma teoria estatística e matemática e mensuração do
processo de modo a torná-lo preciso e sem ruídos.

32. “O ser humano e seu processo de comunicação com o mundo é muito mais amplo e
cheio de caminhos que uma abordagem estatística e matemática seriam capazes de
explicar”- essa critica foi feita por:
A. Lévi-Strauss B. Barros C. Mattelart D. Pignatari

33. A semelhança da Teoria da Informação e a corrente Funcionalista reside no facto de


que:
A. A comunicação é um fenómeno que exerce uma função social, e o mecanismo da
comunicação é visto como um estímulo por parte do emissor respectivamente
B. A comunicação é um fenómeno que exerce uma função anti-social, e o mecanismo da
comunicação é visto como um estímulo por parte do emissor respectivamente
C. A comunicação é um fenómeno que exerce uma função social, e o mecanismo da
comunicação não é visto como um estímulo por parte do emissor respectivamente
D. A comunicação é um fenómeno que exerce uma função social, e o mecanismo da
comunicação é visto como uma resposta por parte do emissor respectivamente

173
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

34. Mcluhan (1979), na sua corrente propõe os meios tecnológicos criados pelo homem
como extensões de seu próprio corpo e confronta:
A. As máquinas e a impressão chinesa com a era digital ou electrónica
B. As máquinas e a impressão digital com a era digital ou electrónica
C. As máquinas e a impressão de Gutemberg com a era digital ou electrónica
D. As máquinas e a impressão de Gutemberg com a era digital ou mecânica

35. “A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na


sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas anteriores,
criando tipos de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos”- Esta citação
pertence a:
A. Mcluhan B. Barros C. Mattelart D. Pignatari

36. Os pressupostos apresentados por Mcluhan (1979), não tinha como objectivo de
expandir um viés da humanidade que estava atrofiado ou até mesmo inexistente,
todavia:
A. Trata-se sim de dinamizar e minimizar uma característica do ser humano
B. Trata-se sim de dinamizar e maximizar uma característica do ser humano
C. Trata-se sim de incentivar e maximizar uma característica do ser humano
D. Não se trata de dinamizar e maximizar uma característica do ser humano

37. Estabelecendo um paralelo entre a posição de Mcluhan (1979) e as correntes da


Informação e a Estruturalista notamos que:
A. A enfâse nos meios traz mais uma preocupação com os signos e não trabalha com a
semiótica tão em voga nas outras duas correntes
B. A enfâse nos meios traz menos uma preocupação com os signos e trabalha com a
semiótica tão em voga nas outras duas correntes
C. A enfâse nos meios traz menos uma preocupação com os signos e não trabalha com a
semiótica tão em voga nas outras duas correntes
D. Nenhuma

38. Para Stuart Hall, a decodificação de um discurso televisivo poderia ser construída por:
A. Posição hegemónica-dominada, Código negociado e Código de oposição
B. Posição hegemónica-dominante, Código negociado e Código de oposição
C. Posição hegemónica-dominante, Código negociado e Código de igualdade
D. Posição harmónica-dominante, Código negociado e Código de oposição

39. “The medium is the message”, esta citação estabelece que:


A. Os efeitos de um meio de comunicação não são inseparáveis do próprio meio
B. Os efeitos de um meio de comunicação são não inseparáveis do próprio meio
C. Os efeitos de um meio de comunicação são inseparáveis do próprio meio

174
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

D. Os efeitos de um meio de comunicação são inseparáveis do próprio efeito

40. A Teoria da Recepção representa uma reviravolta em relação a corrente:


A. Frankfurtiana B. Estruturalista C. Funcionalista D. Marshall McLuhan e a ênfase
aos meios

41. Paradigma das mediações é uma teorização que leva em conta, além da racionalidade
humana:
A. O seu lado racional os quais estão inseridos no processo de comunicação
B. O seu lado emocional os quais estão inseridos no processo de comunicação
C. O seu lado psicossocial os quais estão inseridos no processo de comunicação
D. O seu lado situacional os quais estão inseridos no processo de comunicação

42. Segundo Stuart Hall, a prática televisiva assume responsabilidade “objectiva” (isto é,
sistémica) motivado:
A. Pela relação que os mesmos signos estabelecem uns com os outros em qualquer
ocorrência discursiva
B. Pela relação que os signos distintos estabelecem uns com os outros em qualquer
ocorrência discursiva
C. Pela relação que os signos distintos estabelecem uns com uns em qualquer ocorrência
discursiva
D. Pela relação que os signos iguais estabelecem uns com os outros em qualquer
ocorrência discursiva

43. Como afirma Martin-Barbero, em entrevista com Martha Montoya, os conflitos estão
sempre presentes na:
A. Recepção B. Receptor C. Emissor D. Código

44. Ondina Fachel (1993), lembra que recepção, conforme a perspectiva latino-americana,
não corresponde à ideia de:
A. Heterogeneização, sendo o receptor vivo e activo, as leituras não são homogéneas
B. Homogeneização, sendo o emissor vivo e activo, as leituras não são homogéneas
C. Homogeneização, sendo o receptor vivo e activo, as leituras não são homogéneas
D. Homogeneização, sendo o receptor vivo e passivo, as leituras não são homogéneas

45. “Mediações são os lugares de onde provêm as constrições que delimitam e configuram
a materialidade social e a expressividade cultural da televisão". A citação pertence a:
A. Martin- Barbero B. Guillermo Orozco Gomez C. Ondina Fachel LEAL D. Nenhum

46. “Compreende-se que mediação seja todo um conjunto de factores que estrutura,
organiza e reorganiza a percepção e apropriação da realidade, por parte do receptor”

175
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

- A citação pertence a:
A. Martin- Barbero B. Guillermo Orozco Gomez C. Ondina Fachel LEAL D. Nenhum

47. A principal consequência das redes sociais centra-se na passagem de uma lógica
hegemónica de transmissão das informações de forma:
A. massiva e generalizada B. massiva e segmentada
C. passiva e segmentada D. Nenhum

48. A luz de Fragoso (2005), por “convergência dos modos de codificação”, entende-se
como possibilidade de “empacotar”, em um único formato (no caso, o código binário),
enunciados originalmente pertencentes à categorias semióticas distintas ou modelos
comunicacionais, a saber:
A. Texto, canal, imagem B. Texto, som, imagem C. Texto, som, mensagem D. Nenhum

49. A Teoria de acção política constituiu-se um foco relevante dos estudos de Jornalismo a
partir dos anos 1970, e tem como epicentro:
A. A relação entre Jornalismo e política e B. A relação entre Jornalismo e capital
C. A relação entre Jornalismo e sociedade D. Nenhum

50. Afirma-se que as notícias são dissonantes da realidade porque os jornalistas, sem
autonomia, estão sujeitos a um controlo ideológico e mesmo conspirativo que leva os
media noticiosos a agirem como um instrumento ao serviço da classe dominante e do
poder. Refere-se a:
B. Teoria de acção política B. Teoria etnoconstrucionista ou interacionista
C. Teoria construcionista (Estruturalista e Interativista) D. Teoria Multifactorial da Notícia

176
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2.19 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A
2 C
3 A
4 C
5 A
6 B
7 B
8 B
9 B
10 C
11 A
12 B
13 C
14 A
15 A
16 B
17 C
18 B
Actividade Temática Geral 19 D
para efeitos de preparação 20 A
para exames 21 B
22 A
23 B
24 C
25 A
26 C
27 C
28 D
29 A
30 B
31 D
32 D
33 A
34 C
35 A
36 B
37 A
38 B

177
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

39 C
40 B
41 B
42 B
43 A
44 C
45 A
46 A
47 A
48 B
49 C
50 B

Fase 2
Reflicta sobre as questões colocadas a seguir, e escolha a opção correcta.

1. Algum tempo depois do advento da imprensa, a mesma vem sendo utilizado como:
A. Poder B. Autoridade C. Autonomia D. Lei

2. A invenção da imprensa coincide com a criação das nações e do estado moderno com
exercício de poder também:
A. De forma coerciva B. Pelo uso da força C. Sem formas subtis D. Sem persuasão

3. A luz de Thompson (2004), a reprodutibilidade conduziu a mercantilização de


conteúdos:
A. De poder B. Económicos C. Simbólico D. De exploração

4. Segundo Nelson W. Sodré (2000) a história da imprensa é:


A. A própria imprensa capitalista B. A própria história da sociedade capitalista
C. A própria história do mercantilismo D. A própria história da difusão a imprensa

5. A imprensa assume o poder mediante o seu envolvimento com:


A. A ética B. A política C. O poder D. O dinheiro

6. A realidade, valor, respostas, legitimidade e densidade, são palavras-chaves que


definem:
A. A mídia B. A realidade C. O valor D. A comunicação

7. A relação que existe entre a imprensa e a realidade é parecida com a que existe entre:
178
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

A. Um espelho deformado e um objecto B. uma imagem e um espelho


C. O público e a realidade D. um objecto e a mídia

8. O padrão que refere a ausência e a presente dos factos reais na produção da imprensa
é:
A. Padrão de ocultação B Padrão de fragmentação C. Padrão de inversão D. Nenhum

9. É um processo que se concretiza na elaboração do texto ou na edição da matéria. Essa


afirmação pertence ao:
A. Padrão de ocultação B Padrão de fragmentação C. Padrão de inversão D. Padrão
da indução

10. “Reorganização das partes ” é uma das características que pertencem ao:
A. Padrão de ocultação B Padrão de fragmentação C. Padrão de inversão D. Padrão
da indução

11. O “poder produzido no neoliberalismo” é o objectivo culminante de Gerzon (2007)


quando trata a mídia como:
A. Um negócio B. Um dispositivo C. Um neoliberalismo D. Nenhum

12. A mídia também é tratada como um “dispositivo” por:


A. Christian B. Ruggieri C. Faucoult D. Gerzon

13. O estudo das mídias segundo Ferreira (2006), obedece três dimensões, pois uma delas
é:
A. Socioantropológica B. Neoliberal C. Social D. Midiatizada

14. É um conjunto de vários elementos surgidos em um determinado momento com o


objectivo de exercer o poder sobre “algo”. Esta definição pertence a:
A. Um negócio B. Um dispositivo C. Um neoliberalismo D. Nenhum

15. A luz de Klein (2007), quando os estudos da área de comunicação se apropriam do


termo ‘dispositivo’ que se traduz por mídia, dão mais enfâse a dimensão:
A. Social B. Tecnológica C. Comunicativa D. Humana

16. A luz de Paulo Serra (2007), os primeiros e alguns dos mais significativos trabalhos
relativos aos fenómenos da “comunicação” emergem, a partir dos finais do século:
A. XIX B. XX C.XXI D. XV

17. A comunicação é definida como “interacção social através de mensagens”, por:


A. Paulo Serra B. George Gerbner C. McQuail D. Kurt lang

179
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

18. Como se refere João Pissara Esteves citado por Paulo Serra (2007), a primeira grande
problemática da sociologia da comunicação foi a dos:
A. Efeitos dos meios de comunicação de massa B. Efeitos dos meios de comunicação
C. Efeitos isentos dos meios de comunicação de massa C. Nenhum

19. Os paradigmas nos estudos de comunicação foram firmados não apenas como
funcionalistas e centradas nos efeitos, mas também como:
A. Sociológico B. Antropológico C. Social D. Funcionalista

20. Os paradigmas dos estudos comunicacionais foram reduzidos a vários domínios, a


saber:
A. Epistemológico, Ontológico, Metodológico e Social
B. Epistemológico, Social, Metodológico e Político
C. Epistemológico, Ontológico, Antropológico e Político
D. Epistemológico, Ontológico, Metodológico e Político

21. Os corolários da posição sobre a qual a identificação “dos humanos, do social e do


comunicacional” não possível, o e fazem sobre seguinte pretexto: as ciências de
comunicação não passam de:
A. Espaço e território interdisciplinar B. Espaço e território extradisciplinar
C. Espaço e território convergentes D. Espaço e núcleo interdisciplinary

22. A redefinição das ciências de informação e comunicação centrou-se em primeiro lugar


na troca de formalização linguística com pesquisas estruturalistas levadas a cabo por:
A. Lévi-Strauss, Barthes ou Jakobson B. Lévi-Strauss, Paulo ou Jakobson
C. Lévi-Strauss, Martino ou Jakobson D. Nenhum

23. Daniel Bourgnox (2001) critica aos corolários que põe em causa o conceito da
comunicação, pressupondo que o que se chama de comunicação é um objecto
empírico ou material, todavia:
A. Um objecto formal B. Objecto informal B Um paradigma formal D. Nenhum

24. A disciplina de comunicação surgiu de uma interrogação antropológica sobre a


redefinição da cultura, identificada com as diferentes maneiras de comunicar e
centradas, em primeiro lugar, nos anos:
A. 30 B. 50 C. 60 D. 80

25. A interdisciplinaridade que caracteriza as ciências da comunicação resulta não do


facto de múltiplas disciplinas, com perspectivas diferentes, estudarem a mesma coisa
(...), todavia, com múltiplas disciplinas, adoptando a mesma perspectiva:
A. Social B. Sociológica C. Comunicacional D. Antropológica

180
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

26. As pesquisas empíricas privilegiadas no período entre as grandes guerra, priorizavam


saber :
A. A influencia do meio junto ao público B. A influência do meio junto ao indivíduo
C. A influencia do meio junto as ciências D. A desinfluência do meio junto ao público

27. A luz de Mauro Wolf apud Tamara de S.B Guaraldo (S.d), essas pesquisas empíricas
iniciais que conduziram a superação da Teoria das Balas Mágicas ou Agulha
hipodérmica, tinham como objectivo:
A. Verificar empiricamente a consistência e os efeitos da comunicação de massa
B. Verificar sem provas a consistência e os efeitos da comunicação de massa
C. Verificar deliberadamente a consistência e os efeitos da comunicação de massa
D. Verificar empiricamente a existência e os efeitos da comunicação de massa

28. As abordagens usadas na verificação empírica a consistência e os efeitos de massa


são:
A. Abordagem científica e de laboratório B. Abordagem de campo e empírica
C. Abordagem laboratorial e de laboratório D. Abordagem de campo e de laboratório

29. Os efeitos propagandísticos, publicitários, eleitorais e informativos resultam de


estudos de laboratório de abordagem:
A. Psicossocial B. Psico-experimental C. Psicopedagógica D. Psicofisiológica

30. Os estudos de orientação sociológica que foram os mais relevantes para a história da
Pesquisa em Comunicação, foram designadas por:
A. Pesquisas empíricas ou convencionais de comunicação
B. Pesquisas administrativas ou psico-experimental de comunicação
C. Pesquisas administrativas ou convencionais de comunicação
D. Pesquisas administrativas ou convencionais de ciências humanas

31. A origem da teoria crítica remonta à filosofia de Heráclito, para quem o factor mais
relevante para a explicação da realidade humana era:
A. A mudança, e não a instabilidade B. A realidade, e não a estabilidade
C. A mudança, e não a estabilidade D. A permanência, e não a estabilidade

32. As correntes criticas as ciências de informação e comunicação tem o seu principal


fundamento em:
A. História e Filosofia B. História e Psicologia C. História e Antropologia D. Nenhum

33. A informação é entendida, pela teoria crítica (perspectiva marxista), como recurso
fundamental para a condição humana no mundo e, como tal, a primeira percepção
que se tem é de:
A. Sua desigual distribuição entre os actores sociais

181
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

B. Sua igual distribuição entre os actores sociais


C. Sua desigual distribuição entre os sistemas
D. Sua desigual acumulação entre os actores sociais

34. A aplicação do método da economia política de Mattelart (2002), para pesquisar os


sistemas e as redes de informação hegemónicos visa:
A. Compreender de forma mais superficial o funcionamento do capitalismo e do poder da
mídia no campo da comunicação social
B. Compreender de forma mais sintética o funcionamento do capitalismo e do poder da
mídia no campo da comunicação social
C. Compreender de forma mais aprofundada o funcionamento do capitalismo e do poder
da mídia no campo da comunicação social
D. Compreender de forma mais aprofundada o funcionamento do capitalismo e do poder
da mídia no campo da comunicação de massa

35. As proposições metodológicas de Mattelart (2002), sobre a necessidade de utilizar


métodos antropológicos, sociológicos, históricos, políticos e económicos no estudo
dos processos de comunicação partem do fundamento essencial de subversão do:
A. Sistema capitalista B. Sistema Socialista C. Sistema Feudal D. Nenhum

36. A corrente teórica da comunicação que ficou conhecida como a Escola de Frankfurt foi
criada em:
A. 03 de Fevereiro de 1920 B. 03 de Fevereiro de 1923
C. 03 de Fevereiro de 1943 D. 03 de Fevereiro de 1933

37. O pensamento frankfurtiano caracteriza-se por seu embasamento marxista na


apreciação do homem e suas relações:
A. Na sociedade B. No ciberespaço C. Na comunidade D. No campo

38. A corrente teórica funcionalista desenvolveu-se:


A. Nos Estados Unidos B. Na Alemanha C. Nos países baixos D. Na África

39. Na corrente Funcionalista, assume-se uma visão sobre a qual a comunicação atende a
funções sociais específicas, a saber:
A. interesses da população endereçou elites sociais de uma determinada comunidade
B. desinteresses dos grupos ou elites sociais de uma determinada comunidade
C. interesses dos grupos ou elites sociais de uma determinada comunidade
D. interesses dos grupos ou elites sociais de varias comunidades

40. Em toda a sociedade os valores são moldados e distribuídos de acordo com:


A. padrões mais ou menos peculiares B. padrões mais ou menos peculiares
C. padrões mais peculiares D. padrões de comer os peculiares

182
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

41. Na actualidade, de diferentes linhas de estudo, têm relacionado comunicação e


cultura. Relacionar comunicação e cultura significa:
A. Um salto, por afastar o fenómeno como integrante de um processo de maior dimensão
e não de forma estanque
B. Um salto, por empreender o fenómeno como integrante de um processo de maior
dimensão e não de forma estanque.
C. Um salto, por apreender o fenómeno como integrante de um processo de maior
dimensão e não de forma estanque.
D. Um salto, por apreender o fenómeno como excluso de um processo de maior dimensão
e não de forma estanque.

42. Para Martín Barbero (1985), pensar nos processos de comunicação a partir da cultura
implica deixar de pensá-los desde:
A. As disciplinas e os canais B. Os paradigmas e os meios
C. As disciplinas e os meios D. As disciplinas e as vias

43. A realidade é que a cultura está na mídia, pois o que é transmitido pelos meios de
comunicação é:
A. Informação B. Cultura. C. Moral D. Sociedade

44. Não é o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação (NTCs), isoladamente,


que vai proporcionar a criação de um novo patamar de:
A. Vida social B. Cultura social C. Condição social D. Nenhuma

45. Segundo Jean Caune (2008), as relações entre as noções polissémicas de cultura e de
comunicação configuram-se nos seguintes campos:
A. Ciências da Informação e Sociológica
B. Ciências da Informação e da Comunicação
C. Ciências da comunicação e da Comunicação
D. Ciências da Informação e da Comunicação social

46. Os estudos em comunicação sobre a recepção se desenvolveu em meados da década


de 70, com o surgimento teórico do modelo:
A. Encoding/Decoding B. Coding/Decoding C. Encoding/Coding D. Nenhum

47. O modelo codificação/decodificação pertence a:


A. Stuart Hall B. João P. Q. Xavier Fernande C. David Moley D. Nenhum

48. O modelo codificador / decodificador se traduz por:


A. Emissor e Receptor respectivamente
B. Canal e mensagem respectivamente
C. Emissor e Canal respectivamente

183
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

D. Nenhum

49. Várias correntes teóricas levaram a cabo o estudo da recepção no processo


comunicativo, cujas pesquisas se baseavam principalmente nos efeitos produzidos
sobre os interlocutores, a saber:
A. Pesquisa dos sinais, Usos e gratificações, Estudos literários, Estudos culturais e Análise
da recepção
B. Pesquisa dos efeitos, Usos e gratificações, Estudos literários, Estudos poéticos e Análise
da recepção
C. Pesquisa dos efeitos, Usos e gratificações, Estudos literários, Estudos culturais e
Análise da recepção
D. Pesquisa dos efeitos, Usos e gratificações, Estudos literários, Estudos culturais e
Análise da emissão

50. A “Combinação de pesquisa textual e social” é característica da seguinte corrente


teórica:
A. Pesquisa dos efeitos B. Usos e gratificações, C. Estudos literários D.Nenhum

184
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2.20 Grelha de correcção

Tipo de actividade N° de questões Solução de resposta


1 A
2 B
3 C
4 B
5 A
6 B
7 A
8 A
9 A
10 C
11 B
12 C
13 A
14 B
15 B
16 B
17 B
18 A
Actividade Temática Geral 19 A
para efeitos de preparação 20 D
para exames 21 A
22 A
23 A
24 B
25 C
26 A
27 A
28 D
29 B
30 C
31 C
32 A
33 A
34 C
35 A
36 B
37 A
38 A
39 C

185
CURSO: COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E MARKETING; 10 Ano Disciplina/Módulo: Teoria da Comunicação

40 B
41 C
42 C
43 B
44 A
45 B
46 A
47 A
48 A
49 C
50 A

186

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