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i
CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS
3º ANO
CÓDIGO
CRÉDITOS (SNATCA) 6
NÚMERO DE TEMAS 3
ii
Direitos de autor (copyright)
Este manual é propriedade da Universidade aberta ISCED, e contêm reservados todos os direitos. É
proibida a duplicação ou reprodução quer seja total ou parcial deste manual, sob quaisquer formas ou
por quaisquer meios (eletrónicos, mecânico, gravação, fotocópia entre outros), sem permissão expressa
da entidade editora.
3
Agradecimentos
4
Índice
Visão geral ............................................................................................................................................... 7
Bem-vindo à Didáctica de Literatura ...................................................................................................... 7
Quem deveria estudar este módulo? ..................................................................................................... 8
Como está estruturado este módulo? .................................................................................................... 8
Páginas introdutórias .............................................................................................................................. 9
Um índice completo ................................................................................................................................ 9
Conteúdo do módulo .............................................................................................................................. 9
Outros recursos....................................................................................................................................... 9
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação .............................................................................................. 9
Comentários e sugestões ........................................................................................................................ 9
Ícones de actividade ............................................................................................................................... 9
Habilidades de estudo .......................................................................................................................... 10
Avaliação ............................................................................................................................................... 10
TEMA I. INVESTIGAÇÃO BÁSICA: PERFIL CIENTÍFICO DA DIDÁCTICA DA LITERATURA ......................... 11
Unidade 1.1. Paradigmas Científicos da Didáctica da Literatura .......................................................... 11
Unidade 1.2.Métodos de Estudo da Obra Literária e Didáctica da Literatura ..................................... 15
TEMA II:ASPECTOS METODOLÓGICOS DE ESTUDO E INTERPRETAÇÃO DA OBRA LITERÁRIA .............. 20
Unidade 2.1.Biografismo ...................................................................................................................... 20
Unidade 2.2. O Estruturalismo/Formalismo ......................................................................................... 23
Unidade 2.3.Pressupostos Teóricos da Análise Estrutural da Narrativa .............................................. 28
Unidade 2.4.Paradigma sociológico ...................................................................................................... 33
Unidade 2.5. Paradigma psicanalítico................................................................................................... 36
Unidade 2.6.A Estética da Recepção .................................................................................................... 38
TEMAIII: PESQUISA APLICADA, ESTRATÉGIAS DE DESIGN DE PESQUISA-ACÇÃO
Unidade 3.1. Áreas de Pesquisa da Didáctica da Literatura ................................................................. 43
Unidade3.3. A Biblioteca Escolar e a Prática Pedagógica da Leitura .................................................... 49
Unidade 4.1. Esboços de Métodos Activos: As Oficinas Literárias ....................................................... 56
Unidade 4.3. Estratégias de Aplicação da Criatividade no ensino da Literatura .................................. 69
TEMA V: DIDÁCTICA DE LITERATURA: CONCEITUALIZAÇÃO E GENERALIDADES
Unidade 5.1.Didáctica de Literatura ..................................................................................................... 79
TEMA VI. A DIDÁCTICA DA LITERATURA E OUTRAS CIÊNCIAS .............................................................. 85
Unidade 6.1.Didáctica da Literatura: Seu Âmbito e Abrangência ........................................................ 86
Unidade 6.2.Relação entre Ciência da Literatura e Didáctica da Literatura ........................................ 86
TEMA VII:INRODUCAO À ANÁLISE DO LITERÁRIO ................................................................................ 90
Unidade 7.1.As Qualidades de uma Linguagem Literária ..................................................................... 93
Unidade 7.2.Teses sobre o Ensino do Texto Literário .......................................................................... 94
TEMA VIII: ANÁLISE LITERÁRIA E PEDAGOGIA LITERÁRIA .................................................................. 105
Unidade 8.1. Análise literária e pedagogia literária ........................................................................... 106
Unidade 8.2. Análise literária e Didáctica da Literatura ..................................................................... 110
Unidade 8.3. Como Fazer uma Boa Análise Literária.......................................................................... 111
TEMA IX: PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO ......................................................... 116
Unidade 9.1. Métodos e Técnicas de Leitura ..................................................................................... 116
Unidade 9.2. Pressupostos de Análise Textual Comparada ............................................................... 119
Unidade 8.3. Análise Intertextual ....................................................................................................... 122
Unidade 8.4. Proposta de Análise Semiótica e Estilística ................................................................... 131
5
TEMA XIV: RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO-LIVRO ............................................................................... 136
Unidade 9.1.O Papel de Mediação entre Aluno/Livro ........................................................................ 136
Unidade 9.2. Estratégias Didáctico-Pedagógicas para uma Leitura InteractivaLiterária ................... 142
TEMA X: O CONTO: ESTRATÉGIAS DE ENSINO E ANÁLISE TEXTUAL ................................................... 153
Unidade 10. 1. Conto .......................................................................................................................... 153
Unidade 10. 2.Como Trabalhar o Conto na Educação das Crianças? ................................................. 156
TEMA XI. PROPOSTA DE ABORDAGEM DOS GÉNEROS LITERÁRIOS E LEITURA NO ENSINO SECUNDÁRIO
............................................................................................................................................... 159
Unidade 11.1. Géneros Literários e Literariedade: Suas Implicações no Fenómeno Literário .......... 162
Unidade 11.2. Géneros Literários e Leitura no Ensino Secundário .................................................... 163
Referências Bibliográficas ................................................................................................................... 171
6
Visão geral
7
Portanto, toda actividade literária envolve as seguintes categorias ou temáticas:
Discurso, Ficção, Géneros, Narração/narratividade, Poética, Estilo, Tema/motivo e
Texto.
Objectivos Gerais
Educativos
Instrutivos
O estudante deverá:
Este Módulo foi elaborado, em última instância, para todos aqueles que queiram
ser professores de Português no futuro. Com os conhecimentos propostos neste
módulo, espera-se que os futuros professores de Português possam ensinar os
textos literários cientes da complexidade que a análise do texto literário invoca.
8
Páginas introdutórias
Um índice completo
Conteúdo do módulo
Outros recursos
Comentários e sugestões
Caro estudante, este é o seu ensejo para nos oferecer propostas e fazer
comentários sobre o conteúdo da cadeira. Os seus comentários ser-nos-ão
proveitosos se bem que ajudar-nos-ão a avaliar e melhorar cada vez mais este
módulo.
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas.
Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de
aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica do texto, uma nova
actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
9
Habilidades de estudo
Caro estudante, procure reservar algumas horas de estudo por dia e use ao máximo
o tempo disponível nos fins-de-semana. Lembre-se que é necessário elaborar um
plano de estudo individual, que inclua, a data, o dia, a hora, o que estudar, como
estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros).
Ademais, recorde-se que o seu sucesso depende da sua entrega e abnegação, uma
vez que você é o único responsável pela sua própria aprendizagem e caminhada e
cabe a si e só a si planificar, organizar, gerir, controlar e avaliar a sua própria
evolução.
Avaliação
10
TEMA I. INVESTIGAÇÃO BÁSICA: PERFIL CIENTÍFICO DA DIDÁCTICA DA
LITERATURA
Introdução
Objectivos Específicos
11
ser uma boa directriz, como veremos em vários exemplos. De qualquer forma, já
existem programas de pesquisa que combinam elaboração formal com análise
empírica. Por exemplo, no campo filológico, temos a contribuição de W. D. Mignolo
para uma teoria do texto literário, em analogia com os modelos cibernéticos da
caixa preta e da caixa translúcida.
12
Do ponto de vista normativo, o Ensino Aprendizagem da Didáctica deve abordar os
problemas de melhoria da compreensão literária ou da interpretação dos textos
pelos alunos. Mas do ponto de vista explicativo, a escolha de um modelo curricular
deve basear-se na análise das teorias mais relevantes e dos paradigmas mais
esclarecedores. Para tornar nossa concepção de DL mais concreta, usaremos o
modelo de Johnson (figura 1), discutindo a aplicação das directrizes do professor à
nossa disciplina.
O facto "básico" de que o pedagogo e o filólogo estudam pode ser o mesmo - uma
comunicação dialogada na sala de aula, mas a diferença é que o ponto de vista de
ambos difere no objecto formal de cada ciência: se estuda literatura, outro os
processos de aprendizagem. Assim, o problema mais difícil surge quando o campo
de acção de um especialista em DL deve ser delimitado. Este último deve realmente
unir ou interconectar esses campos em uma síntese que integre as noções
fundamentais de Disciplina, bem como os critérios para seleccionar o currículo e as
instruções de planeamento. A chave estará na coerência e no rigor desta síntese.
Por onde começar? Obviamente, a estrutura conceitual das disciplinas filológicas
deve ser descoberta para se saber o que é possível, e não uma questão tão óbvia,
dada a diversidade de paradigmas. Felizmente, Saussure e seus seguidores em
Linguística, Crítica Literária ajudaram a estabelecer uma hierarquia de conceitos
bastante aceite: a linguagem é um sistema, um axioma que, trazido para o campo
literário, é reformulado com algumas variações por estruturalistas franceses, como
Barthes ou Todorov, ou por semiologistas como Lotman, Segre ou Mignolo.
Podemos afirmar, no entanto que a obra literária constitui um sistema.
a) O modelo clássico-tradicional.
b) Modelos sistémico-tecnológicos
14
visão relacional da realidade (a base última do conceito de sistema) é sempre
melhor do que uma visão que considera literatura ou educação como conceitos
estáticos ou substâncias prefixadas.
Desse modo, Mignolo destaca que a função das teorias na pesquisa literária é o
acto da produção literária em geral e não o estudo ou a leitura de dada obra.
Embora ele a critique - Mignolo continua explicando, pode com base em "princípios
gerais", na medida em que há uma aplicação destes a um trabalho específico,
inevitavelmente entramos no campo da compreensão hermenêutica, porque
interpretar um texto é nos colocar irremediavelmente nos parâmetros de uma
comunidade interprete. Parece claro que fingir que o aluno entende o texto,
reconhece os temas ou interpreta a estrutura é uma tarefa da compreensão
hermenêutica, pois tentaria fornecer a ele os princípios que regulam os textos
poéticos do século XVI, por outro lado, isso seria muito mais patente para um leitor
do século XVI, pois pertenciam totalmente à sua metalinguagem (Mignolo) ou ao
seu horizonte de expectativas (Jauss). Para a metalinguagem (ou metatexto na
terminologia de Lotman), ela é especificada numa hierarquia de valores, que
descrevemos como isto ou aquilo poético. Diante disso, há espaço para entusiasmo
ou rejeição, na medida em que interpretar é entender participativamente.
15
incluindo suas subdivisões, pois cada paradigma pode gerar várias teorias:
I. Paradigma semiológico
1. Teorias Linguístico-Literárias
2. Teorias da Recepção
Para construir uma teoria, não basta que exista um referente (o facto literário) ou
um vocabulário definido (por exemplo, 'jargão' psicanalítico), porque o objecto
dessa teoria não é apenas o fenómeno literário, mas sua estrutura conceitual. Em
termos mais simples, é a abordagem escolhida que cria seu próprio objecto,
tornando certas noções e dados relevantes (por exemplo, relações
literatura/sociedade no paradigma sociológico), o que permite a existência de
múltiplos paradigmas e múltiplas teorias, porque sempre é possível abordar novas
tácticas de estudo: por exemplo, recentemente embarca-se num caminho de
análise estética de obras literárias, com base na aplicação de noções estéticas.
Vemos que um novo paradigma pode ser considerado, o Paradigma Estético.
I. Concepção impressionista
É óbvio que os níveis referidos por Mignolo não são distintos. Além disso, o autor
parece optar por críticas semióticas sem considerar as repetições didácticas de
escolher uma ou outra abordagem para o currículo escolar. Se consultarmos obras
especializadas, como a obra Teorias da literatura do século XX, encontraremos uma
acomodação maior:
2. Estruturalismo francês
16
3. Teorias Marxistas da Literatura
4. Estética da recepção
AUTO- AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1.O que acontece quando o professor não tem uma definição clara dos objectivos,
métodos e limites da Didáctica da Literatura?
17
3. Em que modelo é baseado o estudo do professor Campos Villegas para
prescrever uma composição escrita com base nos princípios da psicologia
cognitiva?
a) Ciências da educação
b) Ciências filológicas.
18
c) Todas as alternativas estão correctas.
Respostas:
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. A
9. C
10.A
19
TEMA II: ASPECTOS METODOLÓGICOS DE ESTUDO E INTERPRETAÇÃO
DA OBRA LITERÁRIA
Introdução
Objectivos
Unidade 2.1.Biografismo
20
Coelho, Problemática da História Literária, Lisboa: 1961).
A figura do autor
A biografia e a obra
Mas é claro que o lugar ocupado pelo autor é elemento de muita importância para
a abordagem de uma obra, no sentido mesmo de que é possível determinar um
estilo autoral, presente nas obras de um sujeito criador.
Assim, para o autor, os dados biográficos presentes no texto não são o caminho
certo para a interpretação, a linguagem é que deve nortear a relação do leitor com
o livro. Nesse sentido é que a biografia deve interessar na medida em que apoia a
interpretação e a abordagem das muitas linguagens presentes no texto literário.
Destaca-se nos dois textos citados a ideia de processo ou priom. No Brasil, este
termo foi traduzido muitas vezes como procedimento. E procedimento é um
conceito de suma importância para o Formalismo, recebendo sua definição em
1976, num ensaio intitulado “A Arte como Procedimento”, de Viktor Chklovski.
24
A noção de procedimento orienta a indicação das diferenças entre o texto literário
e o texto não-literário: a linguagem poética, ou literária, seria distinta da linguagem
quotidiana porque nela não há interesse na função referencial e seu objectivo não
é apenas o utilitarismo da comunicação imediata.
Chklovski (1976: 45) afirma que para devolver a sensação de vida, para sentir os
objectos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objectivo
da arte é dar a sensação do objecto como visão e não como reconhecimento; o
procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objectos e o
procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a
duração da percepção; a arte é um meio de experimentar o devir do objecto, o que
já é “passado” não importa para a arte.
Isso equivale dizer que a arte deve actualizar a visão das coisas de modo a inaugurá-
las, como se, ao usar as palavras numa determinada organização, fosse capaz de
torná-las limpas de todo o seu histórico de uso. Diante do texto poético, as coisas
ganham uma novidade que não teriam jamais na linguagem quotidiana, quando
“reconhecemos” as referências imediatamente.
Procedimentos de singularização
Observemos um famoso poema de Luís Vaz de Camões para verificar como se dão
O poeta focaliza o amor, cuja referência exterior é bastante comum a todos nós.
Há uma ideia corrente, compartilhada na nossa cultura, do que seja o amor. Para
ler esse poema, entretanto, a referência da cultura não basta, pois o objecto o
amor está apresentado de modo singular, ou melhor, ele é apresentado por meio
de alguns procedimentos de singularização que activam nossa percepção e nos
25
fazem pensar sobre o amor sob uma perspectiva não tão directa como a da
referência cultural.
Para chegar a essas conclusões (que não esgotam a análise do poema) não foi
necessário accionar conhecimentos exteriores ao próprio texto – e esta é a
premissa básica do Formalismo: o texto fornece os elementos para a sua
abordagem.
As teorias estruturalistas
▪ Ferdinand de Saussure
Podemos dizer, ainda, que a abordagem sincrónica é histórica e abstracta, por isso
servindo para o estudo de todas as línguas. A pergunta fundamental para entender
o pensamento de Saussure é “Como a langue (‘língua’) funciona?” Essa é a
pergunta que deu origem à linguística moderna, cujo pai é o próprio Ferdinand de
Saussure. Vamos destacar os princípios mais gerais da linguística de Saussure:
■Os significantes se definem pela diferença entre um e outro – por exemplo, porta
é diferente de torta;
Dito isso, podemos passar para o esquema fundamental engendrado por Ferdinand
de Saussure para explicar a relação entre significante e significado.
SIGNIFICADO
SIGNIFICANTE REFERENTE
Para retermos de modo mais claro e simples as ideias de Sausurre, podemos dizer
que: significado é o conceito que temos de uma determinada coisa, que pode ser
concreta ou abstracta e significante é a palavra, o nome que designa essa coisa.
27
Unidade 2.3.Pressupostos Teóricos da Análise Estrutural da Narrativa
Propp elaborou um estudo sobre este tipo de contos, tendo concluído que na
diversidade de personagens e enredos, podem ser identificados elementos
constantes, a partir dos quais é possível determinar as principais características
estruturais dos contos populares russos. Como Primeira característica, constatou o
facto de estes contos serem constituídos por um inventário de 31 funções,
estruturadas numa ordem cronológica linear e inevitável. (Propp, 1984, p. 64)
Ao propor uma gramática para a narrativa, Propp estabelece a mesma lógica, pois
cria uma analogia entre a estrutura da oração e a narrativa. A proposta de Vladimir
Propp pode ser encontrada na íntegra no livro Morfologia do Conto Maravilhoso,
publicado em 1928.
Quadro I
Funções de Propp
1 Ausência
2 Proibição
3 Violação
4 Procura
5 Entrega
6 Engano
7 Cumplicidade
8 Malfeitoria
9 Apelo
10 Decisão do Herói
11 Partida
28
12 Início da Prova
13 Confronto com a Prova
14 Recepção do Adjuvante
15 Deslocação
16 Combate
17 Vitória
18 Marca
19 Reparação da Falta
20 Regresso
21 Perseguição
22 Socorro
23 Chegada Incógnita
24 Impostura
25 Tarefa ordenada
26 Tarefa Cumprida
27 Reconhecimento
28 Transfiguração
29 Descoberta
30 Casamento
31 Punição
Quadro II
Sujeito Vs Objecto
Destinador Vs Destinatário
Adjuvante Vs Oponente
29
Na categoria actancial“adjuvante vs oponente” é formada por duas espécies de
funções destintas: as representadas pelo adjuvante, que agem no sentido do
desejo e constituem as formas de auxilio-o ao sujeito, e as funções do oponente,
que criam obstáculo aosujeito, quer à realização do desejo, quer à comunicação do
objecto. O adjuvante e o oponente surgem, assim, como forcas que actuam a favor
ou contra o sujeito e que podem ser maléficas ou benéficas em relação ao seu
desejo.
Quadro III
1 Ausência
2 Proibição vs Violação
3 Procura vs Entrega
4 Engano vs Cumplicidade
5 Malfeitoria
6 Apelo vs Decisão do Herói
7 Partida
8 Início da Prova vs Confronto com a Prova
9 Recepção do Adjuvante
10 Deslocação Espacial
11 Combate vs Vitória
12 Marca
13 Reparação da Falta
14 Regresso
15 Perseguição vs Socorro
16 Chegada Incógnita
17 Impostura
18 Tarefa Ordenada Tarefa Cumprida
30
19 Reconhecimento
20 Transfiguração vs Descoberta
21 Casamento vs Punição
Como se pode verificar, tal como Propp, Greimas propôs um modelo de Análise
Estrutural da Narrativa centro nas funções das personagens. Perspectivou uma
classificação baseada em categorias actanciais, determinadas por três campos
semânticos fundamentais: o da Comunicação, o do Desejo e o da Prova,
representados sintacticamente pelo sujeito, objecto, e predicadores dos verbos.
31
11 Parida + _ _ _ _ _ +
ª
13 Confronto + + _ _ _ _ _
ª c/prova
14 Recepção + + _ _ _ _ _
ª do
Adjuvante
15 Deslocação + + + + _ _ _
ª
18 Marca + _ _ + + + +
ª
19 Reparação _ _ _ + _ _ _
ª da Falta
20 Regresso + _ _ + _ + _
ª
22 Socorro _ _ _ + _ + _
ª
23 Chegada _ _ + _ _ + _
ª
24 Impostura _ _ + _ _ _ +
ª
25 Tarefa + + _ + _ _ _
ª Ordenada
26 Tarefa + + _ + _ _ _
ª Cumprida
28 Transfigura _ _ + _ _ _ +
ª ção
29 Descoberta _ _ _ _ _ _ +
ª
31 Punição + + + + + + +
ª
É preciso ter cuidado, entretanto, para não compreender a obra literária como
apenas um decalque da sociedade, pois isso empobreceria muito a percepção da
literatura. A arte literária se espelha na realidade pra revelar camadas mais
profundas do mundo, e algumas vezes camadas ocultas. Podemos pensar em obras
cuja referência social é mais directa e simplificada, mas, mesmo assim, estamos
diante de um universo criado paralelamente ao que existe e, só por isso, já é um
fenómeno artístico que nos coloca reflexivamente diante da realidade de modo
muito diferente do que acontece quando estamos vivendo a experiência do real.
34
O maior problema da abordagem sociológica é a tendência de algumas abordagens
críticas em centrar o foco da análise no contexto social e político da produção de
um texto. Nesses casos, as especificidades do texto acabam sendo
desconsideradas, o que prejudica justamente a abordagem da relação existente
entre a sociedade em que o texto foi produzido e o próprio texto.º
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
4. Explique por que a história literária é mais densa e completa do que a história da
literatura.
35
Questões de Escolha Múltipla
Respostas:
6. Falso
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. Falso
10. A
36
psicológica, com vistas ao tratamento clínico, a psicanálise também definiu uma
série de conceitos que formam um arcabouço filosófico.
Inconsciente
37
Assim, vemos que na análise literária, a noção de inconsciente nos leva a considerar
o texto em duas perspectivas: a de que o texto esconde o verdadeiro conteúdo do
inconsciente, e por isso precisa ser desvendado por meio das associações
ensinadas pela psicanálise e a de que o texto é o conteúdo manifesto do
inconsciente.
Para construir uma teoria, não basta que exista um referente (o facto literário) ou
um vocabulário definido, porque o objecto dessa teoria não é apenas o fenómeno
literário, mas sua estrutura conceitual. Em termos mais simples, é a abordagem
escolhida que cria seu próprio objecto, tornando certas noções e dados relevantes
(por exemplo, relações literatura/ comunidade no paradigma sociológico), o que
permite a existência de múltiplos paradigmas e múltiplas teorias, porque sempre é
possível abordar novas tácticas de estudo.
O texto base para a estética da recepção foi escrito por Hans Robert Jauss (1978-
1994), se chama A História da literatura como provocação à teoria literária e é
resultado de uma conferência proferida pelo autor em 1967, na Alemanha. Jauss
critica a história recente da literatura ao questionar o alcance da teoria literária
marxista (que aborda o sentido da literatura como retrato da realidade social) e da
escola formalista (que compreendia a literatura como uma sucessão de sistemas
estético-formais sem relação com o processo geral da história). Para fazer frente à
abordagem marxista e à abordagem formalista, Jauss centra o foco de estudo da
história literária no reconhecimento do verdadeiro papel do leitor. A proposta de
Jauss é que a história da literatura leve em conta as instâncias de recepção do
texto. Interessa, assim, perceber que uma obra é lida porque é compreendida,
tendo, portanto, sentido para uma época, para um grupo social e, em certa medida,
a própria obra ajuda o público leitor a compreender a sua história e o seu próprio
lugar no tempo e no espaço.
Para Jauss, o público actua sobre a obra quando reconhece os valores dessa obra
e a elege como
38
representante de um tempo ou de uma época. A obra não subsiste por ela mesma
na história, e sim, porque houve um investimento do público sobre essa obra, de
modo que é importante estudar que investimentos determinado público fez em
uma obra, para reconhecer e interpretar os sentidos dessa obra na sua recepção.
Para a estética da recepção, o texto é um objecto histórico, investido de sentido
histórico pelo público que o acolheu.
d) O efeito: a acção da obra sobre a sociedade, efeito que se volta novamente para
o artista.
Por duas vezes, anteriormente, usamos o adjectivo simbólico. O que ele quer dizer?
Que a arte trabalha com signos polivalentes: mais que transmitir noções, conceitos,
mais que simplesmente reproduzir o real, eles produzem um outro real, criam
novos significados inesperados, estranhos, pessoais. É por isso que cada pessoa
(dependendo do seu grau de informação estética, bagagem cultural e
sensibilidade) vai sentir/“ler” de um modo único, singular, um poema de Manuel
Bandeira, uma tela de Portinari, uma sonata de Beethoven, um jardim de Burle
Marx, uma escultura de Rodin, uma apresentação do balé de Maurice Béjart, um
filme de Fellini).
39
E é bom ressaltar que a expressão estética da recepção cobre várias tendências
teóricas que, de um modo ou de outro, elegeram a figura do leitor e os processos
de leitura como prioridade de estudo. Zappone (2005: 155-156) sistematiza as
tendências de estudo do leitor conforme abaixo.
■Hans Robert Jauss (1978-1994) aparece como um dos autores mais exponenciais
e significativos entre os que colocam o leitor e a leitura como elementos
privilegiados nos estudos literários. As ideias de Jauss são particularmente
conhecidas sob a rubrica de estética da recepção. Além de pensar o carácter
artístico de um texto em razão do efeito que esse texto gera em seus leitores, ele
também propõe uma nova abordagem da história literária, pautada também no
aspecto recepcional. Sua proposta de história literária articula tanto a recepção
actual de um texto (aspecto sincrónico) quanto a sua recepção ao longo da história
(aspecto diacrónico), e ainda a relação da literatura com o processo de construção
da experiência de vida do leitor. Jauss reivindica que se tome como princípio
historiográfico da literatura o modo como as obras foram lidas e avaliadas por seus
diferentes públicos na história.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
6. Claro que sim, porque houve um investimento do público sobre essa obra, de
modo que é importante estudar que investimentos determinados públicos fez em
uma obra, para reconhecer e interpretar os sentidos dessa obra na sua recepção.
Para a estética da recepção, o texto é um objecto histórico, investido de sentido
histórico pelo público que o acolheu.
41
7. Esquematizando, podemos dizer que, sociologicamente, a arte pode ser definida
como um sistema simbólico de comunicação inter-humana e, portanto, pressupõe
a existência de: a) Quem comunica: o artista que, mais que simplesmente
transmitir conceitos e noções, vai exprimir as realidades nele profundamente
radicadas. b) Um comunicado: a obra que representa simbolicamente o mundo, a
realidade. c)Um comunicando: o público a quem a obra se dirige e d) O efeito: a
acção da obra sobre a sociedade, efeito que se volta novamente para o artista.
a) não actua sobre a obra quando reconhece os valores dessa obra e a elege como
representante de um tempo ou de uma época.
b) actua sobre a obra quando reconhece os valores dessa obra e a elege como
representante de um tempo ou de uma época.
c) actua sobre a obra quando não reconhece os valores dessa obra e a elege como
representante de um tempo ou de uma época.
a) A História da literatura.
b) Teoria da Literatura
c) Introdução a literatura
42
d) Análise Literária.
Respostas:
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. A
9. B
10. A
Introdução
Objectivos Específicos
43
Um importante instrumento de classificação de documentos, mas também uma
hierarquia de conceitos com menção explícita das categorias e inter-relações
existentes na disciplina constitui tarefa básica para delinear o que comummente
se chama de matriz disciplinar.
b) Hermenêutica da linguagem
c) Instrução de literatura
A) Seção Geral
1 - Paradigmas didácticos
2- Paradigmas literários
44
8- Implicações didácticas da produção, recepção e processamento de textos
B) Seção Particularizada
9- Didáctica da narração
C) Seção Singularizada
6- Biblioteca escolar
45
11- Métodos de trabalho de campo na colecta do folclore literário
46
A Literatura Infanto-juvenil é um ramo da literatura dedicada especialmente às
crianças e jovens adolescentes. Nisto se incluem histórias fictícias infantis e juvenis,
biografias, novelas, poemas, obras folclóricas ou culturais ou simplesmente obras
contendo ou explicando factos da vida real (exemplo; artes, ciências, matemática,
etc).
Ademais, o conteúdo de uma obra infantil deve ser de fácil entendimento pela
criança que a lê, seja por si mesma, ou com ajuda de uma pessoa mais velha. A par
disso, precisa ser interessante e, acima de tudo, estimular acriança.
a) Literatura infantil
➢ Ausência de temas adultos ou não apropriados a criança. Isto inclui guerra,
crime hediondo, drogas, etc.
➢ São relativamente curtos, ou seja, não possuem mais do que 80 a 100
páginas;
➢ Presença de estímulos visuais (cores, imagens, fotos);
➢ Escrito numa linguagem simples, apresentando um facto ou uma história
de forma clara;
➢ São de carácter didáctico, ensinando ao jovem leitor regras da sociedade
ou comportamentos sociais.
➢ No caso de obras fictícias (novelas, histórias):
➢ Possuem mais diálogos e diferentes acontecimentos, com poucas
descrições;
➢ Crianças são os principais personagens da história;
➢ Possuem um final feliz.
b) Literatura juvenil
➢ Cinderela
47
➢ Harry Potter
➢ O Jardim Secreto
➢ O Mágico de Oz
➢ Pinóquio
Nesta perspectiva, o educador deverá adoptar, nas suas aulas, actividades que
favoreçam o acto de ler e de construir seus próprios textos. Para tal, o professor
pode recorrer a seguinte metodologia: trabalhar com o intuito de tornar as aulas
significativas e prazerosas. Buscar estratégias que criem oportunidades aos alunos
para desenvolverem a autonomia da leitura, da interpretação e produção de
textos, possibilitando e incentivando a participação dos mesmos em todas as
actividades abordadas durante o período em que na sala de aula, promovendo,
desta feita, uma aprendizagem mútua.
48
leitura, tornando-se um hábito e não um momento esporádico.
É interessante que você saiba que não é à toa que a palavra biblioteca tem sua
origem nos termos gregos biblíon (livro) e theka (caixa), significando o móvel ou
lugar onde se guardam livros. Foi no Egipto que existiu, desde o século IV a.C., a
mais célebre e grandiosa biblioteca da Antiguidade, a de Alexandria, que tinha
como ambição reunir em um só lugar todo o conhecimento humano. Seu acervo
era constituído de rolos de papiro manuscritos – aproximadamente 60 mil,
contendo literatura grega, egípcia, assíria e babilónica.
Tipos de bibliotecas
49
c) Infantil – tem como objectivo primordial o atendimento de crianças com os
diversos materiais que poderão enriquecer suas horas de lazer. Visa a despertar o
encantamento pelos livros e pela leitura e a formação do leitor.
Biblioteca escolar
Você viu que existem vários tipos de bibliotecas. Especificamente, nesta unidade,
vamos reflectir a respeito da biblioteca que está mais próxima de si: a biblioteca
escolar.
A escola antiga era assim: não dispunha de biblioteca, ou quando a possuía era
mais para servir de consulta aos professores e não para uso dos alunos. O ensino
era voltado para o livro escolhido e os textos indicados. No entanto, nem toda
escola é igual. Muitas delas sabem valorizar esse tesouro fantástico e tornam as
bibliotecas suas aliadas no fazer pedagógico, tornando-a uma extensão da sala de
aula.
A biblioteca da escolar bem como a sala de aulas, deve ser vista como um espaço
activo e fundamental para aprendizagem e não apenas como algo complementar
ou dispensável.
Aissa Issak (2006) defende que as bibliotecas devem passar a ser vistas como
centro de promoção da leitura e com a mesma importância que a sala de aulas.
51
É consenso dos educadores que o desempenho escolar flui melhor quando a escola
tem uma biblioteca dinâmica.
Ao nível da escola
52
▪ Dedicar um espaço da escola à biblioteca. Nesse espaço poderão ser criadas
actividades de incentivo à leitura como a animação de textos do manual
escolar, a realização de concursos de escrita (contos, poemas), a leitura e
análise de textos dos livros existentes, a produção de um jornal pelos
alunos, entre outros. Embora pobre em acervo, esta biblioteca irá permitir
criar uma relação com os actos de ler e de escrever, que constituirá
certamente uma iniciação para o aluno.
▪ Buscar apoio junto dos pais, da comunidade, das empresas à volta da
escola_ por exemplo, a escola poderá empenhar-se numa campanha de
recolha de livros para a sua biblioteca assegurando, contudo, alguns
critérios específicos para a selecção dos materiais a incluir na biblioteca.
▪ Apoiar os pais no encorajamento da leitura em casa, tendo em conta que o
papel da família é fundamental neste processo.
▪ Realizar actividades interactivas que envolvam alunos e outras
personalidades que possam ser convidadas para falar do prazer de ler.
Incluem-se aqui escritores, jornalistas, governantes. Estas actividades
deverão ter um carácter constante e sistemático e não acontecerem de
forma esporádica, como vendo sendo hábito.
▪ Criar na escola uma cultura de leitura em que todas as crianças e jovens
sejam encorajados a envolver-se, tornando-se leitores entusiastas e tirar
partido do gosto que todas as crianças têm de ouvir e contar histórias.
▪ Desenvolver projectos de incentivo à leitura em parceria com diferentes
entidades como, por exemplo, as universidades.
O processo de incentivo à leitura, que visa criar nos leitores o desejo de ler cada
vez mais materiais, pode ser operacionalizado colocando à disposição dos leitores
materiais que sejam relevantes para eles e culturalmente enriquecedores. Como
refere Azevedo (2007), ler é um acto individual que exige esforço, perseverança e
força de vontade e que, embora se aprenda a ler, a experiência de leitura se atinge
pela prática. Reconhece-se grande esforço no sentido de reduzir as taxas de
analfabetismo, mas não se pode afirmar que este esforço esteja a ser
acompanhado pela criação de uma verdadeira comunidade de leitores. É preciso
começar a reconhecer que a biblioteca escolar constitui um reforço das acções do
professor e do aluno, permitindo o estudo independente, a busca de conhecimento
e auxiliando na criação de hábitos e atitudes de manuseio de materiais
informativos e também ampliando o conhecimento sobre o mundo.
A escola que não proporciona aos alunos o contacto com a leitura, não ensina a ler.
Mas é bom lembrar que este deve ser um compromisso de todos que trabalham
na escola. Uma grande
53
força-tarefa deve ser formada para transformar a biblioteca num espaço activo
para melhorar os índices de leitura. Este é um bom começo para envolver todos os
profissionais de educação, em actividades como: hora do conto, contar histórias,
representação teatral, jornada pedagógica, concursos literários, recitais poéticos
etc.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
5. Das diferentes bibliotecas arroladas, qual deve merecer melhor atenção no PEA
da leitura?
54
9. O Ensino da História da Literatura faz parte da Seção Singularizada.
Respostas:
6. a) Verdadeiro
b) Falso
7. a) Falso
b) Verdadeiro
c) Verdadeiro
8Verdadeiro
9Falso
10. A
55
TEMA IV: ILUSTRAÇÕES E ANÁLISE DE CASOS
Objectivos
Introdução
56
a) Métodos pluricêntricos.
b) Métodos de globalização.
c) Classes homogéneas.
d) Métodos de individualização.
e) Métodos de socialização.
Em geral, todos esses métodos têm como denominador comum o uso de técnicas
de educação activa, que podem ser resumidas na seguinte enumeração:
- Métodos de pesquisa.
- Dramatizações
- Métodos de redescoberta.
- Técnicas de observação.
- Actividades de síntese.
- Procedimentos de auto-avaliação.
- Colecções.
- Estudo de casos.
-Métodos de perguntas.
- Uso do dicionário.
- Ensino agendado.
- Coloque em comum.
57
- Jogos educativos e de aprendizagem.
A diferença está no tipo de produtos que são gerados, projectos globais de toda a
classe ou trabalho em pequenosgrupos ou tarefas colocadas individualmente,
embora os autores enfatizem a interconexão de todas essas facetas em certas
possíveis estratégias propostas pelo professor.
Outros usos possíveis serão indicados pelo professor. Obviamente, se estas são as
instruções do workshop, segue-se que elas teriam que ser complementadas pela
explicação do professor, pois essas indicações podem expressar as preocupações e
desejos do professor, mas não constituem um documento didáctico, como os que
vemos no ensino programado ou ensino a distância.
58
Assim certos estudos fazem o workshop de literatura gravitar em torno dos
seguintes princípios:
Também falta análise dos recursos disponíveis, mais além da relação professor /
aluno, e as técnicas e instrumentos avaliação. É claro, por exemplo, que não pode
ser resolvido um tópico tão fundamental quanto esse - ainda que devido à sua
complexidade oferecem muitas nuancescom essa apreciação não científica como
esta: "No caso de trabalhos de oficina, a nota se torna um elemento de segunda
ordem e cada menino é configurado através dos trabalhos e das conversas
contínuas sua própria avaliação. "
Portanto, podemos concluir que pelo menos estava errado desvincular a estratégia
das oficinas do restante da instrução da literatura. Diríamos mais, a abordagem
parece incorrecta para nós suprimirmos ou minimizarmos a história literária e
focalizar a literatura em tom de género, sacrificando a aparência tão importante
cognitivamente falando e compreensão puramente instrumental.
59
Além de estabelecer os critérios de selecção, o autor faz enfatizar a utilidade dos
próprios alunos em colectar os textos a trabalhar, aceitar gravações, textos escritos
por si mesmos, etc. Com isso, "a sala de aula é ampliada para a localidade".
C) Use para isso o princípio de transcodificação da literatura para artes não verbais
e vice-versa.
60
e) Uso da dinâmica de grupo, redes de comunicação e busca de modalidades de
equipa, tomando o cinema como modelo de "arte de equipa".
Assim, como o grupo assumiu suas próprias tarefas - não como sugeridas ou
impostas -, ele se auto-organizou e regulamentou até terminar de orientar o
próprio processo. Não é alheio a essa evolução, o carácter duplamente inovador
do método, no nível curricular, na medida em que normalmente eram tratados
aspectos marginalizados, como literatura fantástica e no nível de instrução, na
medida em que os alunos podiam dirigir seu trabalho de forma independente e,
em última análise, que essa experiência foi realizada num instituto rural com
poucos estímulos culturais. Nesse quadro, não surpreende que a própria
possibilidade de fazer uma um vídeo com roteiro e ideias próprias dos alunos,
embora a partir da história sem fim, constituiria um elemento altamente dinâmico.
61
possíveis que tornam esse método activo compatível com a organização da escola.
Identifique e avalie os recursos externos para o professorado que podem contribuir
com os outros elementos envolvidos (alunos, pais, cidade, administração etc.).
Especifique as inovações funcionais precisas (por exemplo, salas multiuso para
diaporamas, vídeos ...) .
O design da oficina aparece como um sistema linear no qual você planeia as etapas
sem dar a opção de variar o design. Por exemplo, as propostas criativas
mencionadas acima são apresentadas sem dar a opção de que eles são
modificados, porque são inoperantes ou por outros factores. O tema do Workshop,
como veremos, requer uma estratégia adaptável.Com o propósito de atingir os
objectivos desejados, nesta unidade temática, abordou-se acerca dos esboços de
métodos activos que funcionam como uma espécie de oficinas literárias.
Como regra fundamental, o texto deverá ser analisado de dentro para fora, ou seja,
deveremos basear-nos apenas no texto e no que contém. Para tal será necessário:
1._ Ler o texto até o ter compreendido bem, pesquisar dificuldades lexicais e
esclarecê-las, destacar o sentido superficial do texto e tentar atingir o seu sentido
mais profundo ou conotativo.
5._ Destacar a estrutura interna do texto para mostrar como foram articuladas as
ideias do autor.
NB. É preciso ter sempre em conta que forma e conteúdo (fundo) são dois aspectos
indissociáveis que se influenciam mutuamente, como duas faces de uma mesma
moeda.
63
8._ Elaborar o Plano do comentário, atendendo a que deverá conter:
Observe que isso foi feito com a melhor vontade do professor para oferecer um
método rigoroso e não um mero "falador" ou superficialidade na explicação dos
textos, e nesse erro de abordagem já incorremos naqueles que se dedicam a
ensinar a literatura. Todos nós temos a experiência de ter assistido a uma
explicação em que o professor comenta um texto com todos os tipos de análise
inesperada para o aluno, mas o problema latente de contar contando fonemas ou
pares melhorou o entendimento do aluno que ainda não era tocado no fundo.
Para citar um caso específico, é evidente que o que dizia respeito a Propp, Todorov,
Greimas ou Segre não é a interpretação das histórias, mas a definição de modelos
narrativos que representam sua estrutura. Por outro lado, para Lacau-Rosetti,
Rodari ou Pelegrfn, a perspectiva é de que os alunos entendam e recriem as
64
histórias que lêem. Ou seja, eles se concentram na hermenêutica da história e na
subsequente exploração didáctica dos seus começando.
3. Conclusão.
Certamente, com esse método, busca-se que, antes, por exemplo, de um soneto
de Góngora, o aluno reconheça a estética e o tema do texto, ou seja, seja colocado
nos parâmetros de uma comunidade interpretativa.
Não se pode pensar que os princípios são categorias imparciais que um professor
retira de um manual e um aluno assimila sem mais delongas, uma vez que não são
resultado de observação científica, mas das próprias categorias críticas (da época
de Góngora ou de nossa) que compõem o que Lotman chama de metatexto ou o
que a teoria da recepção chama de horizonte de expectativas ou cultura literária
que cada leitor recebe de uma "comunidade interpretativa". Por outras palavras,
sempre existem elementos de valoração no entendimento hermenêutico que o
separam da abordagem científica, que deve praticar "abstenção do julgamento" ou
a formulação de preceitos.
ESTANDARDIZAÇÃO
DESNORMALIZAÇÃO
SEMIOTIZ. NORMAL.
PADRONIZA. RESEMIOTI.
Por exemplo, quando um médico precisa fazer seu paciente entender uma doença,
ele precisa normalizar ou padronizar a mensagem médica para uma mensagem
coloquial, ou seja, ele precisa traduzir a mensagem de alguma forma ou, se você
quiser usar a terminologia de Bernstein, deve passar dos detalhes técnicos e
construções formais do código elaborado para a simplicidade do código restrito.
66
colocamos em uma perspectiva cognitiva, já que o objectivo principal é facilitar a
codificação do texto, vinculando-o aos esquemas anteriores ou estruturas
cognitivas do aluno.
Além disso, assim como é necessário assimilar "textos difíceis", reduzindo sua
complexidade por meio do método mencionado acima, também é necessário
prejudicar a linguagem comum ou, como os formalistas russos queriam,
desmotivá-la. Chamamos isso de desnormalização, pois é exactamente o oposto.
Na realidade, a desnormalização é equivalente a reescrever textos, com todas as
possibilidades que autores como Lacau ou Rodari descrevem, desde alterar o final
de uma história até usar a intertextualidade.
À luz do que já foi dito, podemos recomendar uma primeira fase de comentários
gerais que tentará elucidar as características discursivas gerais e uma segunda fase
de comentários específicos, que atenderá à gramática da disciplina abordada
(comentários literários, históricos etc.)
3) Comentário crítico.
1 .- Compreensão (normalização)
67
2.- Associação
3 .- Análise
4.- Síntese
Dessa maneira, o ensino de textos está relacionado ao tema básico estudado por
Bernstein: acesso ao código elaborado, pois, sem dúvida, possuir habilidades de
compreensão/ elaboração do texto é um sinal claro de superação das restrições do
código restrito. De facto, a literatura é a mais distante da linguagem posicional,
forma, repetitiva ou estereotipada.
Assim, existem duas etapas de design anteriores que não são praticadas neste caso
e que mais tarde impedem um design verdadeiramente alternativo ao usual e
finalmente aplicado repetidamente, embora com "disfarces terminológicos",
modelo retórico de invenção, dispositivo e elocutio.
68
formular o design alternativo em torno de um eixo raramente empreendido, como
a compreensão pragmática de um texto.
Por esse motivo, a escolha das estratégias de aplicação da criatividade não pode
ser prescrita de maneira genérica, no nível do macrossistema, mas assume seu
significado quando parte da análise da operação de um microssistema específico.
Em primeiro lugar, devemos identificar a dificuldade, erro ou disfunção que
chamamos de ponto crítico, e somente a partir daí podemos determinar se um
método de criatividade é realmente positivo ou contraproducente para essa
situação. Por exemplo, se o aluno em geral é motivado e possui fortes impulsos de
auto-atualização, métodos como resolução de problemas ou brainstorming
certamente funcionarão melhor do que uma aula de mestrado.
1. Famílias posicionais.
70
A criança educada em esquemas posicionais, o papel que lhe corresponde e o uso
do código são orientados a todo momento para reafirmar essa axiologia social. Por
exemplo, quando alguns falam ou brigam na sala de aula ou escrevem "notas
secretas", tendem a assimilá-lo como uma atitude que viola seu papel como alunos,
e sempre esperam o controle posicional do professor. Consequentemente, eles
não entendem bem que são incitados ao que parece não ser atribuído ao seu papel
de estudante: auto-expressão, falando livremente, "escrevendo seus segredos" ao
professor, e certamente não entendem bem que "ler para ler" é útil. Para algo. É o
conflito que Bernstein descreve entre linguagem posicional e linguagem pessoal.
De facto, em alguns casos, o trabalho de alguns alunos pode ser conduzido com
modos imperativos ou solicitações posicionais ("cabe a você fazer isso") e, em
outros, pode ser orientado por meio de solicitações pessoais, ou seja, uma
linguagem na qual o foco está mais no aluno como pessoa do que em seu status
formal. Obviamente, não se trata de cair no inaniqueismo, porque o código restrito
também carrega sua própria estética. O que acontece é que os processos de
compreensão exigidos ao aluno têm acesso implícito ao código elaborado como
uma condição:
1 .- Congruência
Como consequência de tudo o que foi dito, não queremos estabelecer uma lista de
possíveis métodos criativos para o ensino de literatura, porque cairíamos na
mesma inconclusão da programação convencional. Pensamos que o essencial é
projectar estratégias que levem em conta a comunicação de uma maneira muito
globalizada, incluindo a comunicação literária como modalidade central e não a
relegá-la, como costuma ser feito nos programas.
72
dialógica, pois requer a co-criação e a participação plena de quem a interpreta. O
problema é saber "conquistar" cada uma das áreas que compõem a experiência do
homem.
O método de ambição lúdica que esse autor nos propõe tem certas conexões com
a estética da recepção, insistindo no carácter dialógico-criativo da leitura e
designando o intérprete de um texto ou uma tarefa de trabalho, como a seguir:
2.- Cuide do que o autor deseja expressar e da lógica interna que confere coerência
ao seu discurso.
3.- Especifique ideias e eventos que o autor não expressa e indique o motivo da
lacuna.
4.- Adivinhe até o que o autor nem pensava e deveria ter feito se fosse lógico sua
intenção básica.
Assim, toda leitura autêntica constitui uma recriação da obra e, para isso, deve
assumi-la em todos os seus elementos, não como algo fossilizado, mas vibrante e
vivo, porque toda leitura passa a ser o encontro ou o diálogo, não entre o leitor e
um objecto (o livro), mas entre duas áreas relacionadas. Essas abordagens têm
grande semelhança com as expostas por Jauss no seu livro Literature as
Provocation, sendo alguns deles:
Acreditamos que esta é uma das propostas mais rigorosas que nos permite superar
as contradições entre o historicismo e o ensino activo-criativo da literatura, uma
vez que o núcleo essencial é fazer perguntas a que um trabalho responde em um
determinado momento, destacando o que López Quintás ele se referiu como
aspectos não explícitos, mas significativos do trabalho. Acreditamos que um
tratamento desse tipo também permita preencher a lacuna entre o estudo de caso
e a visão geral, uma vez que, ao estabelecer o horizonte de expectativas, é
necessário afirmar o gosto geral dos leitores e as relações intertextuais.
Pelo menos esse estudo monográfico, por mais erudito e fossilizador que seja, não
incorre na visão "precária" de querer oferecer todo o trabalho em alguns textos ou
episódios, os quais, é claro, o antologista sempre resume todos os trabalho ou o
mais fundamental dele. É o episódio tradicional do engano das uvas, que tem sido
a única visão do Guia para milhares de estudantes em nossas escolas.
74
a) Quem é o enunciador / enunciador?
c) Como um homem com tão pouco treinamento sabe como relacionar sua vida
através de um género tão culto?
a) Métodos analógicos
b) Métodos antitéticos
c) Métodos aleatórios
AUTO-AVALIAÇÃO
75
Questões de Reflexão
5. Pelo menos esse estudo monográfico, por mais erudito e fossilizador que seja,
não incorre na visão "precária" de querer oferecer todo o trabalho em alguns
textos ou episódios, os quais, é claro, o antologista sempre resume todos os
trabalhos ou o mais fundamental dele.
6. Assim, toda leitura autêntica constitui uma recriação da obra e, para isso:
a) deve assumi-la em todos os seus elementos, não como algo fossilizado, mas
vibrante e vivo, porque toda leitura passa a ser o encontro ou o diálogo, não entre
o leitor e um objecto (o livro), mas entre duas áreas relacionadas.
b) não deve assumi-la em todos os seus elementos, não como algo fossilizado, mas
vibrante e vivo, porque toda leitura passa a ser o encontro ou o diálogo, não entre
o leitor e um objecto (o livro), mas entre duas áreas relacionadas.
c) deve assumi-la em todos os seus elementos, não como algo fossilizado, mas
vibrante e vivo, porque toda leitura passa a ser o encontro ou o diálogo, não entre
o leitor e um objecto (o livro), mas entre duas áreas não relacionadas.
76
7. A historicidade da literatura:
a) não fazer algumas perguntas às quais o texto deu uma resposta e, assim, deduzir
como o leitor pode ver e entender a obra.
b) por outro lado, não fazer algumas perguntas às quais o texto não deu uma
resposta e, assim, deduzir como o leitor pode ver e entender a obra.
c) fazer algumas perguntas às quais o texto deu uma resposta e, assim, deduzir
como o leitor pode ver e entender a obra.
77
d) a produção literária é apresentada não apenas de forma sincrónica e diacrónica
na sucessão dos seus sistemas, pelo contrário, é considerada uma história especial,
mesmo em sua própria relação com a história geral. Isso não termina com o fato
de que, na literatura de todos os tempos, uma certa imagem da existência social
pode ser descoberta.
Respostas:
3. Verdadeiro
4. Verdadeiro
5. Verdadeiro
6. A
7.B
8.C
9.D
78
10.A
Introdução
Objectivos
Num texto muito conhecido e admirado ainda hoje, "Como Ensinar Literatura",
incluído na primeira edição de Ao Contrário de Penélope, Jacinto do Prado Coelho
separa rigorosamente a literatura da pedagogia, acrescentando então: "A
literatura não se fez para ensinar: é a reflexão sobre a literatura que nos ensina."
(Bertrand, Lisboa, 1976, p.46). Outra formulação idêntica na aparência já havia sido
defendida por Jorge de Sena: "a literatura não pode ser ensinada. Ensinar seja o
que for é apresentar um instrumental adequado e explicar a maneira de uma
pessoa tirar proveito dele. Daí resulta que se ensina a escrever estudos sobre
literatura, e estudos sobre os estudos de literatura, indefinidamente; ou ainda se
ensina a ensinar literatura" (O Reino da Estupidez, vol. I, 3ª. ed., Edições 70, Lisboa,
1984, pp.96-97). Estas crenças exigem alguma discussão, porque se é claro que a
literatura seja distinta da pedagogia não deixa de ser menos verdade que podemos
falar de ensino ou didáctica da literatura sem que com isso se menospreze ou
adultere o valor individual de cada uma. Se a formulação de Jorge de Sena se refere
a um determinado contexto (a criação de um obra literária), a didáctica da
literatura só é rasurável (a didáctica da literatura) se pensarmos no ensino do ser
da literatura (muito diferente da definição que propusemos na abertura: a
didáctica como o ensino do modo de ser da literatura). Por outro lado, é evidente
que existe uma aprendizagem de quem trabalha com esta arte, em face do que se
entende por literatura. O que convém esclarecer ab ovo é aquilo que se ensina de
facto quando pretendemos ensinar literatura.
79
A definição geral apresentada por Margarida Vieira Mendes pode servir de
referência quando queremos acertar o passo da didáctica específica da literatura:
"A Didáctica é, dentro das disciplinas que constituem os Estudos Literários, aquela
que trata da arte de ensinar a Literatura. Tem como objectivo uma techné, um
saber fazer, mas não dispensa a especulação, não se limita a um receituário de
técnicas eficientes de aprendizagem, como se afirma com ligeireza num manual
clássico (Introdução à Didáctica Geral, de Imídeo G. Nérici)." ("Didáctica da
Literatura: um espaço devido na Faculdade de Letras", in Ensino da Literatura, org.
por Maria Isabel Rocheta e Margarida Braga Neves, Cosmos, Lisboa, 1999, p.33).
Todo aquele que inicia o ensino da literatura por uma definição do conceito de
literatura está convencido que sabe o que está a definir. Raramente este pedagogo
se predisporá à investigação, no sentido da skepsis platónica. Na verdade, ele inicia
a investigação do que não se sabe pela conclusão do que já julga ser o saber. Em
termos de ironia socrática, diríamos que tal indivíduo nunca virá a saber o que é
verdadeiramente a literatura. Só Sócrates sabe que não sabe, por isso só ele poderá
interrogar o fenómeno literário sem perturbar a sua essência; quero dizer, só pela
discussão de sucessivas hipóteses, só pela procrastinação assumida da resposta à
pergunta "O que é a literatura?" se pode chegar perto do que ela traduza de facto.
O saber sobre a literatura, ou sobre qualquer outra arte, só se alcança pelo diálogo
de hipóteses. Se "filosofia" quer dizer "amor (mas não posse) de saber", então
"crítica literária" há-de querer igualmente dizer a arte de discutir um texto (mas
não posse do saber sobre esse texto, do qual se exclui inclusive o seu próprio
autor). O professor que segue o caminho dos juízos apodícticos, ou sobre conceitos
ou sobre textos, e faz desses juízos o cerne do seu ensino há-de repetir para si o
que Sócrates diz do escravo com quem dialoga no Ménon: "Vês, Ménon, como eu
nada lhe ensino…", com a diferença de que o escravo aprende de facto alguma
coisa, por exemplo, as propriedades do quadrado, e o iniciado nos estudos
literários não aprende mesmo nada, porque o quadrado lhe é desenhado à frente
dos olhos por mão alheia.
Por outro lado, a didáctica da literatura que é comandada pela pergunta "O que
é?" e que exige que cada resposta seja objecto de uma refutação (elenchos) é
perfeitamente aceitável. Mais, a teoria platónica da reminiscência serve na
perfeição a qualquer tentativa de estabelecimento de um decreto sobre a essência
do fenómeno literário: se as perguntas de Sócrates não ensinam de facto
rigorosamente nada mas
81
apenas trazem à consciência do indivíduo um conhecimento adormecido, portanto
que ele já detinha, também o ensino dialéctico do fenómeno literário nada
transmite, uma vez que, inconscientemente, já sabemos aquilo que edifica esse
fenómeno.
O ensino da literatura pode fazer-se por esta via analítica. A literatura é tão
indefinível como o conhecimento, pelo que qualquer forma de ensino da literatura
tem que passar por uma condição de indeterminação. Ensinar passa a ser
equivalente à criação de condições de acesso ao conhecimento mais do que à falsa
convicção de que é possível deter conhecimento e transmiti-lo, porque quem
segue esta via está normalmente convencido de que não tem nada para aprender
e que sabe o suficiente para cumprir profissionalmente a sua missão. Da mesma
forma que não se pode ensinar Freud também não se pode ensinar o conhecimento
nem, por conseguinte, a literatura. Mas da mesma forma que se podem ensinar as
condições que permitem
83
estudar Freud, também se podem ensinar as condições que permitem estudar a
literatura.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
3. Por que se afirma que a prática corrente nas escolas de introduzir o fenómeno
literário a partir de definições apriorísticas de literatura é uma falácia?
6. A literatura não se fez para ensinar: é a reflexão sobre a literatura que nos ensina.
7. A literatura não pode ser ensinada. Ensinar seja o que for é apresentar um
instrumental adequado e explicar a maneira de uma pessoa tirar proveito dele.
84
8. A literatura é tão indefinível como o conhecimento, pelo que qualquer forma de
ensino da literatura tem que passar por uma condição de indeterminação.
a) ensinar
b) cantar
c) Ler
d) analisar
10. Mas da mesma forma que se podem ensinar as condições que permitem
estudar Freud, também se podem ensinar:
Respostas:
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. A
10.A
Introdução
85
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:
Objectivos
Bredella (1989) afirma que hoje, entende-se a didáctica de uma disciplina como a
integração de outras disciplinas específicas - a sociologia, a psicologia e a
pedagogia.
De acordo com Karl Otto Conrady, a didáctica da literatura será entendida como
uma ciência da mediação, a qual, ao transmitir os conhecimentos dessa disciplina,
deverá atender às capacidades e aos conhecimentos limitados dos destinatários,
enquanto que a ciência da literatura se poderá dedicar ao objecto, sem que tais
limitações constituam obstáculo.
86
Alfred Clemens Baumgärtner rejeita a ideia da didáctica da literatura como uma
ciência da mediação, porque isso acarretaria a adopção de critérios formais e
específicos de cada género literário, próprios da ciência da literatura. Baumgärtner
pretende que a didáctica da literatura desenvolva a sua própria atitude
problematizante em relação ao objecto da literatura.
A relação entre teoria e praxis depende daquilo que se entende por praxis. Se a
praxis for aquele domínio que está sempre sujeito às exigências da educação e da
formação, à teoria cabe a função de tornar conscientes essas exigências que
determinam a praxis e de possibilitar ao docente uma orientação do sentido que,
partindo da praxis, tem como objectivo a praxis.
87
A didáctica da literatura necessita, ainda, da reflexão sobre as exigências
projectivas que o ensino faz aos alunos. A legitimação do ensino da literatura não
pode depender do facto de ele impor ao sujeito da aprendizagem certas normas e
modos de acção, mas, antes, de ele ser capaz de alargar o horizonte de motivação
do aluno e de diferenciá-lo.
A crítica de Fingerhut: este modelo conduz apenas à indignação moral que acaba
por redundar em resignação e cinismo, já que não proporciona aos alunos
quaisquer possibilidades de acção. A literatura como contributo para uma praxis
orientada para o sucesso ou como instrumento de uma higienização social. As
concepções de literatura de Platão e de Aristóteles como fundamento de modelos
de didáctica da literatura.
A crítica violenta de Platão (A República) - para quem a literatura não tem como
meta atingir o conhecimento da praxis correcta, da justiça e do bem, mas que se
satisfaz apenas com a representação daquilo que o homem considera justo ou
injusto, bom ou mau; ela limita-se a representar as crises da vida e as emoções
controversas da alma, sem procurar saber qual é o seu verdadeiro motivo - deve-
se, no entender de Hans-Georg Gadamer ao facto da literatura não conseguir dar
qualquer resposta a duas importantes questões:“Qual é a maneira autêntica de
viver?”- Qual é a sua “utilidade social”?
De certo modo, para Platão, à literatura cabe a tarefa de fornecer regras morais e
de confirmar a ordem política, sem, todavia, se deixar tutelar, quando encarada
em termos de recepção, isto é, relacionando o objectivo geral - a realização do
homem - e a recepção da literatura. Como compreender a transição daquilo que o
ser humano é, pela sua natureza, de um estado de dependência de processos
biológicos, psíquicos e sociais para a autodestinação. E qual o papel que a arte pode
desempenhar em todo este processo?
A arte pode tornar o ser humano receptivo, para que ele atenda ao logos; pode, no
entanto, desviá-lo igualmente deste objectivo, fazendo que ele se feche ao logos.
O poder estético é, por conseguinte, ambíguo. Por um lado, ele é capaz de devolver
ao ser humano a capacidade de abandonar a sua auto-alienação, de fazer as pazes
consigo próprio, por outro lado, também é capaz de o manter preso à sua auto-
alienação e de o separar do seu si-mesmo racional, até à sua destruição na
loucura.”
88
A literatura leva até à consciência aquilo que, num primeiro momento, lhe é
estranho e incompreensível, ampliando, assim, as possibilidades de experiência e
o espaço de decisão do receptor. O ser humano, como ser finito que é, para o qual
o acesso ao mundo é sempre limitado, necessita da mediação através de outras
propostas interpretação e de compreensão do mundo, de forma a sair da sua
timidez e do seu isolamento, e poder compreender-se a si próprio, tanto na sua
diferença como na sua ligação aos outros.
Apesar de tudo o que tem sido dito, a crítica de Platão não visa a literatura em si.
(36) E nesse sentido, a concepção de literatura de Platão pode fundamentar um
modelo de didáctica da literatura que vise a “emancipação e autoconfiguração” do
ser, porque o próprio conceito de literatura integra este objectivo geral da
educação.
A obra literária como proposta de sentido no qual o que está em causa é a “praxis
orientada para o sucesso”, exige do receptor que ele, por um lado, veja o que é
representado, projectado sobre as suas representações e normas e que, por outro,
ele ponha em causa as suas representações. O processo de recepção é uma
operação consciente e a realidade ficcional e a do receptor estão inter-
relacionadas.
Sumário
A relação didáctica entre a língua e a literatura não pode ser entendida como uma
relação de sucessividade ou sobreposição quando sabemos que é parte integrante
da competência do falante, a capacidade de explorar, desde as fases mais precoces
da sua actuação verbal, as virtualidades cognitivas e lúdico-catárticas de uma
relação autotélica com a língua.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
90
Questões de Verdadeiro e Falso
91
Respostas:
2. Verdadeiro
3.Falso
4.Verdadeiro
5. Falso
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10.A
Introdução
92
Objectivos
É pois legítimo afirmar que as Belas Letras (Belles Lettres) são o objecto especial da
ciência da literatura, e que, em face dos outros textos, se apresenta como algo de
suficientemente diferenciado. (Kaiser, 1976, p.7).
Diz-se que literatura é um conjunto de obras literárias de uma Nação. O seu estudo
deve, por isso, abranger apenas obras literárias. Para ter literariedade uma obra
deve ser construída numa linguagem predominantemente estética_a linguagem
literária. São as seguintes as qualidades de uma linguagem literária arroladas por
Barreiros (s/d, pp. 13-14):
É por esta razão que as obras-primas, com o decorrer do tempo, ajustando à análise
e contemplação de sucessivos leitores, ganham inexaurível riqueza, no lugar de si
esgotar, de espremida, ou seja, a linguagem literária é ambígua e profundamente
conotativa. Daí afirmar-se que a obra de arte só está plenamente realizada com a
interpretação de cada destinatário, mas dentro dos limites que a ciência da
literatura impõe.
As figuras e imagens são muitas e variadas. Cada uma revela ao leitor um conteúdo
emotivo próprio, o qual as palavras, tidas em si mesmas, dificilmente poderiam
manifestar.
Num encontro em que lhe cabia apresentar, Aguiar e Silva (1998:13-14) formula
cada tese de modo conciso, sem tecnicismos teoréticos e terminológicos e faz
acompanhar cada tese de sucintos esclarecimentos e comentários. E porque a
linguagem é número, no sentido originário desta a palavra, e porque os números
se inscrevem no mais fundo da sabedoria dos deuses e dos homens, o autor,
propõe enumerar dez
94
teses, numa espécie de decálogo ou de via-sacra com dez estações para mediar e
ganhar esperança:
TESE I
Entre a linguagem verbal, entre cada língua histórica, e a poesia existe uma
primordial e permanente relação ontológica, semiótica, social e cultural. Os textos
poéticos orais e escritos foram e são por excelência os espaços e os organismos da
constituição, do desenvolvimento e da ilustração das línguas históricas. Neles
coexistem, em tensão criadora, a exemplaridade e a normatividade linguísticas e a
inovação, a inventividade e a fantasia verbais, muitas vezes bordejando mesmo a
transgressividade e nessa fronteira de aventura e risco abrindo novos horizontes
de expressão e comunicação. Os textos poéticos – e neles incluo muitos dos textos
fundacionais das mitogonias e das religiões, como é o caso da Bíblia – são os textos
mais perduráveis, mais vivos e mais fecundantes, de todas as culturas.
Não se pode ensinar a língua sem o estudo da poesia, não se pode ensinar a poesia
sem o estudo da língua. A gramática, a retórica e a poética, três artes fundamentais
da cultura e da escola do Ocidente, têm como um dos seus pilares mais sólidos a
indissociabilidade da língua e da poesia. A grande filologia romântica e pós-
romântica conservou e renovou essa tradição, que foi prosseguida e aprofundada,
em quadros teóricos e metodológicos diversos, pela Estilística idealista, pelo
Formalismo russo e pelo Estruturalismo da Escola de Praga.
TESE II
TESE III
TESE IV
96
constituem uma dimensão primordial e constante, antropológica e socialmente, do
homem. A escola de massas, que acolhe nos nossos dias crianças e jovens de
múltiplos estratos sociais, alguns deles culturalmente muito desfavorecidos, deve
desempenhar também neste domínio um papel emancipatório, proporcionando a
todos, a partir das suas diversidades culturais de origem e sem as humilhar ou
rasurar, o acesso a um capital simbólico que transcende as clivagens das classes e
dos grupos sociais. Os autores clássicos não pertencem, enquanto tais, a nenhuma
classe social.
TESE V
TESE VI
TESE VII
A leitura e a interpretação dos textos literários devem ser para os alunos uma
viagem guiada pelo professor com segurança, mas com delicadeza e com discrição,
de modo que o aluno seja efectivamente um leitor com identidade própria, isto é,
um leitor que lê com a sua memória, a sua imaginação, a sua experiência vital, as
suas expectativas e os seus conhecimentos linguísticos-literários. É necessário que
as emoções – a alegria, a tristeza, a angústia, a piedade, a indignação a revolta... –
, fundamentais nos jovens e nos adolescentes, não sejam asfixiadas ou esterilizadas
no acto de leitura por impositivas grelhas de leitura ou por modelos analítico-
interpretativos de aplicação mecânica.
99
constitui uma das mais valiosas contribuições das humanidades para a educação
da criança, do jovem e do adolescente.
TESE VIII
Os textos literários, pelo modo como utilizam, reinventam e potenciam, sob todos
os pontos de vista, a língua portuguesa e pela sua ligação memorial ao destino e à
aventura de uma terra, de um povo e de uma cultura, constituem o thesaurus por
excelência da identidade nacional. Desde a poesia trovadoresca, porém, até à obra
de Fernando Pessoa, de Vergílio Ferreira ou de Carlos de Oliveira, os textos
literários têm sido também o lugar de diálogo criativo com outros textos de outros
povos, de outras terras, de outras culturas. A identidade nacional não é uma ilha,
uma cidadela ou uma prisão. Tal como a identidade individual se constrói no
diálogo com o(s) outro(s), assim a identidade de um povo e de uma nação se vai
plasmando, num processo interminável, no diálogo com as culturas de outros
povos e de outras nações. Camões, Garrett, Eça ou Fernando Pessoa não teriam
escrito a obra que escreveram sem o diálogo intertextual que mantiveram com
Petrarca, com Sterne, com Flaubert, com Walt Whitman. Os grandes textos
literários nunca nos clausuram num nacionalismo míope e bafiento: religam-nos à
Europa e ao mundo.
TESE IX
TESE X
100
Unidade 7.3.Níveis e Métodos de Análise de Textual
101
ou contemporâneas lidas pelo autor.
Na sequência deste tipo de estudos, tem-se vindo que a tomar consciência de que
nenhum texto vive isoladamente; pelo contrário, surge inserido num vasto sistema,
o sistema literário; e aí, entra em diálogo, aproveita, cita, contradiz ou paródia
textos anteriores ou contemporâneos. Este domínio é hoje denominado
intertextualidade. Nenhum texto nasce do nada. O seu autor conhece, melhor ou
pior, uma série de obras cujos ecos se repercutem no texto que cria.
Sumário
Para se conseguir que o aluno se torne um leitor crítico, o ensino deve colocar o
texto como uma possibilidade de reflexão e recriação, associando a actividade de
leitura à produção de outros textos pelos alunos e facilitando a expressão de suas
visões sobre o texto. Porém, sabe-se que o professor encontra-se diante de uma
realidade educacional que não permite em termos de estrutura, um trabalho
diversificado em suas aulas. Para criar e inovar o professor precisa investir em sua
formação continuada e numa constante actualização.Os níveis auxiliam uma
análise mais consentânea e mais profícua.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1.Desenvolva estratégias específicas para tornar seus alunos como leitores críticos.
5.Os textos literários no Ocidente são, desde há cerca de vinte e cinco séculos,
predominantemente textos escritos.
103
Questões de Verdadeiro e Falso
1.O corpo do texto só pode ser conhecido e apreciado em todo o seu esplendor,
em todos os seus segredos, mistérios e fascínios, se for literalmente incorporado
pelo leitor.
3. A leitura e a interpretação dos textos literários devem ser para os alunos uma
viagem guiada pelo professor com segurança, mas com delicadeza e com discrição,
de modo que o aluno seja efectivamente um leitor com identidade própria.
4. O aluno não deve ser um leitor que lê com a sua memória, a sua imaginação, a
sua experiência vital, as suas expectativas e os seus conhecimentos linguísticos-
literários.
104
Todas as alternativas estão correctas.
Respostas:
1. Verdadeiro
2. Falso
3. Verdadeiro
4. Falso
5. Falso
6. Falso
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. A
10. A
Introdução
Nesta parte procura-se compreender as técnicas que fazem uma obra literária
eficaz, identificando-os nos livros que você lê e escrever um breve ensaio
explicando o que você identificou. A Análise Literária incentiva o aluno a pensar
sobre como e por que um poema, conto, romance ou peça foi escrito.
105
Objectivos
É certo que análise literária, por assim dizer, aquém de opções metodológicas
particulares, pode compreender movimentos fundamentais (a análise
propriamente dita e a interpretação), sem que isso corresponda a um roteiro
minucioso e constantemente repetido; mas também é certo que a natureza
literária do texto (e não estritamente linguística) obriga a ponderar os
componentes em que, sem prejuízo das dominantes de modo/género e de período,
se elabora uma singularidade estética: recursos estilísticos, estratégias ficcionais,
articulações temáticas, composição estrutural, etc.
Dir-se-á, por isso, que a análise literária é uma leitura que procura fazer uma
descrição circunstanciada dos elementos técnico-compositivos que integram um
texto e atingir, em conexão com essa descrição, as suas dominantes semânticas;
de acordo com critérios metodológicos previamente estabelecidos e sem postergar
a sua condição de exercício escolar, a análise literária implica também a formulação
de um juízo crítico, designadamente visando os termos em que se articulam os
elementos técnico-compositivos e os componentes semânticos.
Assim, o texto pode ser encarado como a sínese superiormente elaborada de uma
mensagem cultural (propriamente estética, ideológica, histórica) que envolve o
escritor e o seu tempo; e a análise literária, enquanto trabalho crítico e escolar,
levará o aluno a apreender os modos de construção artística dessa mensagem e a
atingir sentidos eventualmente situados para além da intenção consciente do
escritor.
106
A análise literária é uma análise de como vários dispositivos literários numa obra
de literatura, cuja função é para criar significado, e para enfatizar o tema do
trabalho.
a) Leitura lúdica para contacto com a obra. Essa leitura é feita pelo aluno
inicialmente.
107
e) Anotação meticulosa de como os elementos constitutivos do romance foram
trabalhados para Integrarem a estrutura global.
2) Análise dos traços característicos daqueles que vão viver a acção (Personagens).
A Análise do Discurso
A análise do conto popular russo levada a cabo por Propp teve, como é sabido, uma
influência decisiva na afirmação das potencialidades metodológicas da análise
estrutural da narrativa. Os trabalhos de Claud Bremond e Greimas a, sobretudo os
publicados nos anos 60 a 70, foram disso mesmo um testemunho flagrante, e a
análise estrutural da narrativa, proposta e episodicamente praticada por Barthes,
nem sempre de forma metodologicamente consistente, reafirma a orientação
translinguística já mencionada e realça a independência dos elementos que, numa
estrutura, asseguram a coerência do texto.
A evolução dos modernos estudos literários não deixa de fazer recair sobre a
análise estrutural reparos a que importa dar alguma atenção. Conforme observa
108
Reys (1989: 24) “uma das críticas mais justas que pode fazer à poética estruturalista
é a sua negligência pelos modos de expressas na literatura; a tradução de um relato
a uma estrutura de proporções subjacentes, por exemplo, priva-nos do texto, não
só de muitos dos seus significados, dos seus modos de representar, senão
simplesmente, das suas palavras. ”
Já análise semiótica não encara o texto como uma entidade fechada e de certa
forma estática: é o resultado de uma produtividade, orientada para a dinamização
de um processo de comunicação e significação. Do que se trata então, em primeira
instância, é de descrever os signos que estruturam o texto e os códigos de onde
revelam; a produção sígnica e a sua estruturação são, de um modo geral, uma
produção de sentido. O que suscita uma reflexão sobre os signos literários numa
tripla dimensão: semântica (no que toca à representação do sentido propriamente
dita), sintáctica (quanto aos modos de articulação sintagmática dos signos) e
pragmática (no que respeita aos efeitos dos signos sobre o seu receptor).
O materialismo foi a alternativa viável para a saída dos idealismos tanto de Platão
quanto de Aristóteles, atrelado ainda aos estudos da psicanálise.
109
Discursivamente, é no sujeito que a língua acontece no homem, o qual não se
destitui de suas ideologias nem de seu inconsciente. Sendo que ocorre, na clivagem
do inconsciente e na interpelação ideológica do indivíduo, a constituição de um
sujeito assujeitado e demarcado pelos deslizes de sentido construídos em seus
discursos.
Faz-se mister destacar que não se pretende por meio da Análise do Discurso
polarizar uma relação entre língua e discurso, como na relação dicotómica de
Langue e Parole, de Saussure. Na acepção estruturalista, a língua era entendida
dentro de um sistema fechado em si mesmo, não pensada sua relação como o
mundo.
Que a fixação da análise literária no nível textual não obriga a uma leitura fechada
sobre si mesma, mostra-o a própria definição do texto literário como entidade
eminentemente cultural: como afirma Walter Mignolo, pode entender-se por texto
literário toda a “forma discursiva verbo-simbólica que se inscreve no sistema
secundário e que, ademais, é conservada numa cultura”. E acrescenta: “O literário
é apenas um caso particular do texto: o literário se define por um conjunto de
motivações (normas) que fazem possível a produção e recuperação de textos
enquanto estruturas verbo-simbólicas em função cultural. ” (Mignolo, 1987, pp.
56-57)
O texto literário não será, pois, lido e analisado como simples artefacto. Sublinha-
o indirectamente Cesare Segre, quando referindo-se à análise funcional do texto
literário, formula dúvidas quanto ao seu grau de suficiência: “A análise funcional
pode prescindir, no primeiro momento, de apelações à história. Põe em evidência
na obra de arte a totalidade de macro e microestruturas das que depende sua
eficácia; considera-a, em definitivo, como um organismo cujas partes são
mutuamente condicionadas e condicionantes. O problema é se a descrição deste
organismo coincide com a sua compreensão, e se, uma vez mais, existe
compreensão fora da história.” (Segre, 1970, p. 25)
111
A análise literária é o acto de decompor um texto no intuito de observar cada
componente que o constitui. Ou seja, de estudar os aspectos integrantes de uma
narrativa. Desse modo, você conseguirá compreender, interpretar e assimilar os
sentimentos e valores de uma obra.
Por exemplo, um dos erros mais comuns de quem estuda romance é de não
conhecer os principais elementos que o integram. Do mesmo modo, não pode ser
considerada análise comentários escritos sobre um material, por mais correto ou
relevante que seja. Antes de quaisquer conclusões, é importante examinar todo o
corpo narrativo.
Por isso, para ajudá-los a realizar uma boa análise literária, separamos 7 itens a
serem explorados logo após a leitura da obra. Confiram:
1. Enredo
Como visto, todo enredo está presente na estrutura do conflito. Desse modo, para
analisar a obra, é necessário encontrar três pontos principais: o início,
desenvolvimento e clímax.
Obs.: É permitido iniciar uma obra pelo desfecho e, depois, serem apresentados o
início e o desenvolvimento do conflito. Isso pode ocorrer em obras que utilizam
flashbacks para narrarem os acontecimentos. Apesar da alteração da ordem
cronológica, esses três pontos (início, meio e fim) estarão presentes em todos os
textos narrativos.
1. Tempo e espaço
112
O tempo e o espaço podem estar presentes numa obra de forma clara, ou seja,
diretamente mencionada pelo narrador ou personagem. Ou de forma mascarada,
quando apenas as descobrimos ao ligarmos alguns factores ao texto, como, por
exemplo:
2.Se a narrativa cita a Rua do Ouvidor, concluímos que o enrendo ocorre no Rio de
Janeiro, porque essa Rua é famosa naquela cidade. Além disso, podemos identificar
o espaço por meio da descrição do ambiente e da análise do aspecto social de um
determinado lugar.
Obs.: Caso o tempo e o espaço não possam ser definidos, descreva-os como não-
identificados ou não-definidos. Há outro modo para tratar locais inexistentes,
como cidade/estado/país, é chamá-los de fictícios.
3. Narrador
4. Linguagem
Por meio da linguagem é possível analisar a forma como a obra é escrita e até
mesmo narrada. Por exemplo, ao pegarmos um livro antigo, observamos que o
vocabulário é diferente do actual. Assim, o primeiro passo para estudar uma
narrativa de linguagem é verificá-la como simples ou rebuscada, formal ou
informal, culta ou marginalizada, etc.
113
No livro O Cortiço, por exemplo, há alguns exemplos de figuras de linguagens. O
autor Aluísio de Azevedo utiliza o ‘animalismo’ ou ‘zoomorfismo’ para caracterizar
seus personagens com características animais.
4.Personagens
• Personagens secundárias.
Obs.: A análise das personagens principais deve ser feita de forma mais completa.
Além das descrições físicas e psicológicas, podemos analisar alguns aspectos sociais
e históricos, se houver, como também traçar um perfil mais aprofundado sobre
suas motivações, desejos e anseios.
6. A importância da obra
Depois de todo esse processo de análise dos elementos que compõem uma
narrativa literária, você conseguirá discorrer sobre o livro como um todo. Basta
seguir a sua própria opinião, baseada nas estruturas textuais analisadas acima e, a
partir disso, determinar a importância de cada obra para a literatura.
Sumário
Para estudar um determinado texto, devemos fazê-lo como um todo até adquirir
uma visão global, para que possamos dominar e entender a mensagem que o autor
pretendia relatar quando escreveu. Os textos de estudos requerem reflexão por
aqueles que os estudam e, portanto, a leitura dos mesmos exige um método de
abordagem. Devemos compreender, analisar, interpretar e, para isso, temos que
criar condições capazes de permitir a compreensão, a análise, a síntese e a
interpretação do seu conteúdo. Analisar é decompor um texto completo em suas
partes para melhor estudá-las. Sintetizar é reconstituir o texto decomposto pela
análise e interpretar é tomar uma posição própria a respeito das ideias enunciadas
no texto, isto é, dialogar com o autor. Portanto, o núcleo da atenção do analista
sempre reside no texto, ou seja, o texto é ponto de partida e ponto de chegada da
análise literária.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
114
2. Por que diz que a análise literária não se reduz, pois, ao comum comentário do
texto?
5. A análise literária é uma leitura que procura fazer uma descrição circunstanciada
dos elementos técnico-compositivos que integram um texto.
10. A análise literária avalia o uso de conceitos literários importantes, tais como:
b) Apenas a narração
c) Apenas a linguagem.
Respostas:
5. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Verdadeiro
115
TEMA IX: PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DO TEXTO LITERÁRIO
Introdução
Diz-se que literatura é um conjunto de obras literárias de uma Nação. O seu estudo
deve, por isso, abranger apenas obras literárias. Para ter literariedade uma obra
deve ser construída numa linguagem predominantemente estética_a linguagem
literária. A análise do texto literário invoca diferentes mecanismos ou
procedimentos dada a sua natureza complexa. Nesta unidade temática
debruçamo-nos sobre os pressupostos de análise textual comparada. Constituem
orientações metodológicas para esta análise: Afinidades Temáticas, Aproximação
de Motivos e Distanciamento. Decifrar os pontos convergentes e divergentes
corrobora com a perspectiva de análise numa dimensão comparatista.
Objectivos
A leitura analítica
A análise textual
A análise textual constitui-se no primeiro contacto do leitor com o texto, e tem por
finalidade propiciar uma visão panorâmica, uma visão de conjunto do raciocínio do
autor, como também inserir o leitor no estilo e metodologia adoptado pelo autor
do texto. Nessa primeira leitura, o leitor fará um levantamento dos elementos
básicos necessário a compreensão do texto, tais como: colectar algumas
informações sobre a vida e obra do autor; assinalar as palavras desconhecidas do
seu vocabulário e efectuar uma pesquisa de seu significado para facilitar a
compreensão do texto; procurar esclarecimentos em fontes complementares, das
referências feitas pelo autor sobre factos históricos, outros autores ou outras
doutrinas.
Ele ainda sugere que a análise textual pode ser encerrada com uma
esquematização do texto, ou seja, uma visão de conjunto da unidade (de leitura)
em várias etapas, de acordo com a sequência redaccional da mesma.
117
A análise temática
Como não podemos falar com o autor, busca-se saber do que fala o texto. A
resposta a esta questão revela o tema ou assunto da unidade. Mas nem sempre o
título da unidade dá uma ideia fiel do tema. Às vezes apenas o insinua, por
associação ou analogia. Neste caso é necessário tentar a apreensão da mensagem
do autor através da problematização do tema. Pergunta-se pois, ao texto em
estudo: como o assunto está problematizado? Qual dificuldade deve ser resolvida?
Qual o problema a ser solucionado? Captada a problemática, surge
espontaneamente o que o autor fala sobre o tema. A resposta a esta questão revela
a ideia central, proposição fundamental ou tese.
A ideia central pode ser considerada como uma hipótese geral da unidade e deverá
ser considerada para efeito de raciocínio. A outra questão a ser considerada é como
o autor demonstra sua tese, como comprova sua posição básica. Qual foi o seu
raciocínio, sua argumentação?
A análise interpretativa
Num outro momento, estabelece-se uma associação uma associação das ideias
exposta no texto com outras ideias semelhantes, comparando as ideias temáticas
afins.
118
O próximo passo da interpretação é a crítica ou a formulação de um juízo crítico,
de uma tomada de posição, de uma avaliação cujos critérios devem ser delimitadas
pela própria natureza do texto lido.
A problematização
A síntese pessoal
A discussão da problemática, bem como a reflexão a que ela conduz, devem levar
o leitor a uma fase de elaboração pessoal ou síntese. É a fase da construção lógica
de uma redacção própria, mas com base no texto lido.
Portanto, para analisamos um texto devemos fazer por etapas, possibilitando por
fim, a construção de um raciocínio global, obedecendo a algumas etapas de
análises: Análise Textual, que consiste em buscar informações a respeito do autor
do texto, verificar o vocabulário, entre outros, podendo ser finalizada com uma
esquematização do texto, tendo como finalidade apresentar uma visão de
conjunto da unidade; Análise Temática que procura ouvir o autor, apreender sem
intervir, fazendo ao texto uma série de perguntas, onde as respostas fornecem o
conteúdo da mensagem; Análise Interpretativa que visa a interpretação, segundo
situações das ideias do autor, faz-se uma leitura analítica, objectivando o
amadurecimento intelectual; Problematização visando o levantamento do
problema relevante, para a reflexão pessoal e discussão em grupo; Síntese Pessoal
que consiste na construção lógica de uma redacção, baseada na problemática
levantada pelo texto; e por fim conclui valorizando a leitura analítica como
responsável no desenvolvimento de posturas lógicas na vida do estudante-leitor.
120
Um exemplo dessa estratégia seria a comparação entre a obra de um autor como
Gonçalves Dias, poeta romântico do começo do século XIX, e a obra de um autor
como Mário de Andrade, expoente do Modernismo brasileiro, no início do século
XX. Uma comparação como esta poderia elucidar os modos como se percebe a
nação brasileira em diferentes momentos de sua história.
Se tomarmos para comparação um texto de 500 a.C., como o Édipo rei, vamos
perceber que há várias obras posteriores que “conversam” com esse texto tão
antigo – conversam no sentido de estabelecerem intertextualidade com Édipo Rei,
apropriando-se de formas de realização do texto e actualizando essas formas.
121
Unidade 8.3. Análise Intertextual
Deve haver no mais pequeno poema de um poeta, qualquer coisa por onde se note
que existiu Homero.
A novidade, em si mesma, nada significa, se não houver nela uma relação com o
que a precedeu. Nem, propriamente, há novidade sem que haja essa relação.
Saibamos distinguir o novo o novo do estranho, o que, conhecendo o conhecido, o
transforma e varia, e o que aparece de fora, sem conhecimento de coisa nenhuma.
Entre os escritores que descendem com novidade da velha estirpe incógnita há a
mesma diferença que há entre o homem que nos dá uma sensação de novidade,
por, falando mal nossa língua, nos dizer estropiadamente qualquer frase dela.
(Fernando Pessoa/Ricardo Reis, s/d)
122
intertextualidade constitui um fenómeno de semiose cultural, actuante na história
e no confronto das forças ideológicas e sociais, carecendo de convalidação
científica, a ideia de que os textos da cultura representam tão-só a modulação
metamórfica de matrizes atemporais.
124
do sistema da tradição literária: imita-se o texto modelar, cita-se o texto canónico,
reitera-se o permanente, cultua-se, em suma, a beleza e a sabedoria sub specie
aetermitatis ou, pelo menos, sub specie continuitatis. Por outro lado, a
intertextualidade pode funcionar como um meio de desqualificar, de contestar e
de destruir a tradição literária, o código literário vigente: a citação pode ser
pejorativa e ter propósitos caricaturais; sob o signo da ironia e do burlesco, a
paródia contradita, muitas vezes desprestigia e lacera, tanto formal como
semanticamente, um texto relevante numa comunidade literária, procurando, por
conseguinte corroer ou ridicularizar o código literário subjacente a esse texto, bem
como os códigos culturais correlatos, e intentando assim modificar o alfabeto, o
código e a dinâmica do sistema literário.
B. Originalidade e Intertextualidade
Em todo o caso temos consciência, mais ou menos, que a poesia de cada um se faz
também com a poesia dos outros no permanente confronto da criação. Para
descobrir o há de pessoal em nós, para nos distanciarmos, já se vê. Mas não se foge
completamente a certos contextos literários mais afins. Encontramos sempre, com
maior ou menor conhecimento do facto, numa linhagem que nos convém e é
dentro dela que trabalhamos pelas nossas pequenas descobertas, mesmo os se
pretendem de uma total originalidade. Não há revoluções aliterações literárias que
125
rompam cerce com o passado. Olhem para elas, procure bem, e lá encontrarão
cartas fontes próximas oh até distantes. Claro, os escritores que contam são
aqueles que acrescentam ou opõem alguma coisa ao que já existe, ou exprimem
de maneira diferente, mas cortes totais, rupturas, não se dão. (Carlos de Oliveira,
O Aprendiz de Feiticeiro, 1971)
Seja no interior das obras individuais, seja entre elas, seja no seu contorno imediato
ou mais distante, interpenetram-se características, de modo que conceitos como
literatura, culta literatura de massa, literatura popular, ou literatura nacional,
literatura universal, ficção/não-ficção perdem sua força delimitadora. Hoje se
torna impensável a noção de que a literatura só é tal quando produzida por um
génio, por uma espécie de inspiração inexplicável, que não deve nada à tradição
ou às instituições ou pessoas que formam o chamado sistema literário. As
bandeiras actuais são o hibridismo e a intertextualidade: nada provém do nada.
Noutros contextos, o recurso da citação pode funcionar como um tema, tal como
acontece quando cumpre a função de epigrafe e aí se define como o factor de
vinculação do texto a um determinado sentido, quando não mesmo a um universo
literário. É exemplo disso O pirotécnico Zacarias, Murilo Rubião, colectânea de oito
contos precedidos de epígrafes bíblicas, estas com carácter funcional na história,
numa insinuação do sentido, em funda analogia com a linha temática dos contos.
Veja-se, por exemplo, a epígrafe que precede o conto “ O Edifício”: “Chegará o dia
em que os teus/pardieiros se transformarão/em edifícios;/naquele ficarás fora da
lei.”
D. Tipos de Intertextualidade
127
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Património Cultural e a
epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): "A cultura é o melhor conforto
para a velhice".
Exemplos
Texto Original
Paródia
128
Das horas
De minha infância
Debaixo da bananeira
(Oswald de Andrade)
Texto Original
Paródia
os passarinhos daqui
Paráfrase
129
Onde canta o sabiá!”
F. Intertextualidade na Música
É um contentamento descontente;
130
y hacia donde camines llevarás mi dolor.
Y yo le digo adiós.
131
■Valoração – via de regra, não se separa totalmente da explicação, pois ao levantar
determinada característica linguística do texto já se diz se essa característica
“valoriza” o texto ou não. Trata-se de apresentar, paralelamente ao levantamento
dos fenómenos linguísticos, a sua importância e sua pertinência para o conjunto
de sentidos que o texto alcança.
Uma análise orientada para a valorização do signo e, neste momento, para o relevo
eventualmente conferido ao significado, fundamenta-se na noção de que toda a
linguagem literária é essencialmente plurissignificativa; o que implica a ideia de
que o discurso literário dificilmente se confina, do ponto de vista semântico, aos
limites estreitos de um sentido unívoco, mas antes se concebe como discurso
plurívoco em que confluem planos isotópicos. Para que se efective uma análise
estilística eficiente, esses planos deverão ser não apenas detectados, mas também
coerentemente interpretados, à luz de uma certa sensibilidade estética que
nenhuma leitura crítica pode dispensar.
Deste modo, não causará estranheza que uma das características específicas da
linguagem literária que de modo mais flagrante opera com o significado, receba,
no seio da análise estilística, atenção especial: refere-se ao carácter conotativo da
linguagem. Representando uma atitude subjectiva do escritor perante a
denotação, a conotação implica o estabelecimento de uma polivalência
significativa deduzida da imposição de valores suplementares sobrepostos a uma
função puramente informativa da linguagem.
Uma análise estilística que atente na importância das conotações que povoam o
texto não deve cingir-se à verificação da polivalência significativa, como não pode
limitar-se à noção de que essa polivalência, se estende à colectividade, de acordo
com a necessidade de funcionamento social da linguagem literária, mais do que
isso, uma análise estilística debruçada sobre a conotação deve empenhar-se em
enraizar a elaboração formal por ela responsável no estatuto ideológico e afectivo
do escritor responsável pelo estilo peculiar que enforma o texto literário.
A estilística vê a obra literária como linguagem que importa estudar nela mesma.
Os estudos estilísticos incidem sobre qualquer dos domínios gramaticais: ora sobre
a camada sonora, sobre a fonologia: os acentos, entoações, onomatopeia e outros
efeitos de motivação fonética, aliterações, harmonia; bem como sobre a prosódia,
articulação, etc.
A Análise Estilística
Deste modo, não causará estranheza que uma das características específicas da
linguagem literária que de modo mais flagrante opera com o significado, receba,
no seio da análise estilística, atenção especial: refere-se ao carácter conotativo da
linguagem. Representando uma atitude subjectiva do escritor perante a
denotação, a conotação e implicando o estabelecimento de uma polivalência
significativa deduzida da imposição de valores suplementares sobrepostos a uma
função puramente informativa da linguagem.
Uma análise estilística que atente na importância das conotações que povoam o
texto não deve cingir-se à verificação da polivalência significativa, como não pode
limitar-se à noção de que essa polivalência, se estende à colectividade, de acordo
com a necessidade de funcionamento social da linguagem literária, mais do que
isso, uma análise estilística debruçada sobre a conotação deve empenhar-se em
enraizar a elaboração formal por ela responsável no estatuto ideológico e afectivo
do escritor responsável pelo estilo peculiar que enforma o texto literário.
Observa-se que o texto foi construído com intuitos estéticos e como manifestação
artística. O observador escolhe as palavras, combina-as criando um ambiente novo,
com significações desusadas e mais ricas. A intensão estética definida pela função
de linguagem eleita_ função poética, que resulta de todas as associações de
palavras de sentido figurativo, das leituras polissémicas, da extensão dos
significados que as palavras ganham, das tonalidades e do ritmo que o texto possui.
O texto de Alves Redol é literário, pois não tem um carácter programático e não
tem como prioridade a função informativa. Ele atesta a presença de redundâncias
e aparatos linguísticos, a linguagem conotativa, plurissignificativa, polissémica,
subjectividade no conteúdo e na linguagem, do primado da função poética de
linguagem, a relevância de elementos estéticos e remete para o texto não literário
não só a transparência como também a perfeição.
Embora tenhamos escolhido uma prosa para exemplificação do texto literário, isso
não quer dizer que este deva aparecer obrigatoriamente sob a forma de prosa. Não
é a forma técnica (prosa ou verso) que classifica o texto como literário, mas o modo
como se organiza a mensagem.
Sumário
O que deve constituir o objectivo da análise estilística das figuras de retórica não é
a simples enumeração acrítica dos recursos deste domínio que povoam o texto
literário; para além disso, a análise estilística deve procurar articular
harmoniosamente duas atitudes específicas: O conhecimento e capacidades de
descrição do funcionamento retórico das figuras e A tentativa de descortinar, em
certos textos, a importância relativa de determinada ou determinadas figuras.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1.O estudo de um texto exige do leitor disciplina e disposição, o que nem sempre
é bem visto pelos leitores, diante da impressão de monotonia que, à primeira vista
causam os textos científicos. Concorda com a afirmação? Justifique.
134
5. Como se procede a análise cruzada?
a) pois não tem um carácter programático e não tem como prioridade a função
informativa.
c) pois não tem um carácter programático e não tem como prioridade a função
apelativa.
Respostas:
6. Verdadeiro
135
7. Verdadeiro
8. Falso
9. A
10.A
Introdução
Objectivos
Todas as pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos tempos sobre como tornar
os alunos leitores competentes têm sido unânimes em afirmar que o acto de ler
está alicerçado na capacidade humana de compreender e interpretar o mundo. A
escola tem sido vista como um espaço de leitura em que diferentes situações nos
colocam em contacto com as palavras para as nomear, reconhecer, dar sentido ao
mundo onde vivemos e que temos necessidades de aprender e desvendar.
136
Segundo Cagliari (1994), a leitura deve ser extensão da escola na vida das pessoas
para que elas sejam capazes de entender a sociedade em que vivem e transforma-
la num mundo melhor. Se considerarmos que a função da escola não é apenas
ensinar a ler e escrever, mas levar o indivíduo a fazer uso da leitura e da escrita,
envolvendo-se em práticas sociais que delas dependem e também das relações dos
seus grupos sociais, culturais e económicos (literacia), é preciso que haja primeiro
disponibilidade de material de leitura (jornais, revistas, acesso à biblioteca,
livrarias, CD-ROM e também acesso à internet, etc.).
A sedução para gostar de ler começa na escola. Para poder ler é preciso saber ler e
ter material de leitura. Portanto, o primeiro passo da escola consiste em assegurar
um correcto e adequado processo de iniciação à leitura. Essa leitura como prática
sociocultural deve estar veiculada ao prazer desenvolvido através de actividades
de discussão e apreciação dos significados atribuídos ao texto, com várias
interpretações dentro de um clima de estimulação e com resultados significantes
para os leitores e professores, que permitam que o aluno tenha contacto com
textos literários e científicos, abrindo-lhe assim as portas para se tornar leitor e
escritor no futuro.
Existe uma relação entre hábitos de leitura e sucesso escolar dos alunos. Esta
afirmação responde afirmativamente às seguintes hipóteses: a) Os alunos que
apresentam hábitos de leitura mais consistentes obtêm melhores resultados e
mais sucesso escolar; b) Apesar de inserida num contexto sociocultural
desfavorecido, a escola pode estimular a criação e o desenvolvimento de hábito de
leitura.
137
Pensar nas crianças e nos problemas com elas relacionados implica a necessidade
de ter me primeira linda Valores do futuro; para elas tudo está no princípio, mesmo
quando ao nascer se encontram já na posse de factores determinantes da evolução
que se seguirá ou se as esperam situações fortemente condicionantes. Até essa
luta individual e inevitável com o trazido e o encontrado está no princípio. Mas
como perspectivar o futuro sem atender ao presente se é no presente que o futuro
que o futuro firma raízes? Tudo quanto toca a criança deve ser cuidado com
atenção e perícia para que não sejam gerados riscos ao desenrolar do futuro. Do
muito que cerca a criança, os livros constituem elemento actuante, tanto pela
presença como pela ausência. (Rocha, 1992, p. 15)
Desses livros_ que são potenciais agentes modeladores dos seres do futuro que
são as crianças de hoje_ pouco se fala; neles ainda pouco se pensa, mas elas aí
estão, aí tem estado há dezenas de anos, espalhando emoções, deixando
recordações, operando Segundo vectores variados, raramente reconhecidos come
forca actuante. Contos, ilustrações, poemas, ou ausência de tudo isto, condicionam
quem dessa força nem se apercebe. Contos, poemas e ilustrações são levados à
criança, na ignorância ou no esquecimento do poder neles contidos. Contos,
ilustrações e poemas que já não chegam só do livro, pois os modernos mass media
escancaram vias de acesso mais rápidas e sedutoras para os contos, poemas e
ilustrações. Os mass media podem atrair as crianças para essas mesmas histórias,
ilustrações se poemas, não por substituição do livro ou do contador de histórias,
mas por selecção provocada pela própria natureza da moderna tecnologia.
Como fenómeno social que é, deve ser analisado nas suas características, funções
e efeitos, e também no quando, como e onde do seu nascimento e este só pode
ser compreendido em ligação com condicionantes, inevitáveis ou não. A análise da
relação entre criança e livro conduz-nos a longo mergulho com o passado. O livro
é a forma palpável assumida por um fenómeno anterior à própria existência desse
mesmo desse mesmo objecto. A relação criança-livro é precedida pela relação
criança-história contada, a oralidade precedendo o texto escrito.
Sabe-se que, a prática de leitura se faz presente nas nossas vidas desde o momento
em que começamos a compreender o mundo à nossa volta. No constante desejo
de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo
sob diver4sas perspectivas,
138
de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contacto com um livro,
enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo, embora, muitas vezes
não nos devemos conta.
Para que isto ocorra, é necessário que exista o professor. É necessário que o
professor tenha plena consciência do seu papel enquanto orientador e mediador.
O ensino não se baseia apenas na acção de enunciar aquilo que sabe, produz
também, produz-se numa relação muito mais complexa do que isto. O ensino deve
basear-se numa relação psicopedagógica, uma relação que activa o processo de
aprendizagem no aluno.
O livro e a sua leitura, Nessa perspectiva, para que possa ser apropriado polo aluno
de forma consciente e constitutivo do seu pensamento deve ser mediado. Partindo
do pressuposto de que para que um objecto seja, de facto, apropriado pelo sujeito,
ele deve ser utilizado conforme o uso social que lhe foi conferido historicamente_
e que tal uso deve ser aprendido_, e estando esse processo directamente vinculado
ao papel do educador, a leitura só se constitui em apropriação à medida que se dá
com o objective inscrito no próprio texto. Dessa forma, o aluno vai-se tornando
leitor e tendo formadas em si as habilidades, aptidões e competências próprias da
actividade do ler.
O conto parece encarregado pela tradição oral de que saiu, de uma missão
educativa de maior importância, que consiste em ensinar as crianças que é preciso
passar de uma idade a outra, de um estado a outro, através de metamorfoses
dolorosas. O conto demonstra brilhantemente, no decorrer de uma acção
dramática fortemente condensada, que a metamorfose da criança em adulta está
cheia de perigos mas é possível.
Quase todas as pessoas mais velhas se lembram do seu tempo de infância em que
se juntavam crianças para ouvir histórias contadas por avós ou tios ou
simplesmente pessoas que tinham o dom de contar, de maravilhar a audiência.
140
No aspecto psicológico, a literatura infantil tem por fim ajudar a criança a viver
naturalmente as suas etapas psicológicas para evitar que venha a ser um adulto
com fracturas de personalidade. É por esta razão que todo o livro deve ser
criteriosamente escolhido para que satisfaça as necessidades básicas da criança
dentro do seu nível etário e a promova integralmente num ambiente de prazer.
A aventura de ler começa muito cedo. A leitura é uma aprendizagem social que
ultrapassa o quadro social começando muito antes da entrada na escola. A leitura
começa antes da leitura. A criança lê o mundo que a rodeia muito antes de ler um
livro. O mundo é um livro aberto. Lê o sorriso da mãe que se debruça no berço, lê
a natureza, lê a cor e a forma dos objectos que lhe são familiares.
141
transportam-nos, transformam-nos, ajudam a transformar o mundo, a criar um
mundo diferente daquele que nos rodeia.
Os pais podem fazer uso do " crédito afectivo" de que dispõem junto dos filhos,
contribuindo para que o livro ganhe o valor de objecto transaccional. Como o
encorajamento à leitura vem em geral dos pais, a atitude da criança perante o livro
reflectirá frequentemente a tonalidade afectiva das relações reais que a criança
mantém com o pai ou com a mãe. Um certo número de psicanalistas começaram a
admitir que o livro pode ser considerado, pelo menos numa primeira aproximação,
como um objecto transaccional de certo modo o equivalente do lenço ou da
coberta com que os mais pequeninos esfregam o nariz para reencontrar o
sentimento de plenitude e de segurança que lhe permitirá adormecer.
É fundamental que a criança comece a dar-se conta, desde muito cedo, que nasce
dos livros não nasce uma única vez para desaparecer em seguida, mas pode
renascer sempre que nós o desejarmos. Na criança que está habituada a ouvir
contar histórias, a manipular um livro, cresce o desejo de saber o que está escrito
num livro, de aprender a ler. O desejo de ler é o desejo de violar o obscuro, o desejo
de possuir um segredo, de ser capaz de exercer por si mesmo uma transformação
do inerte.
Ler supõe decifrar sinais gráficos e abstrair deles pensamentos. Fazem parte da
leitura os seguintes elementos: percepção (reconhecimento de palavras),
compreensão e interpretação, apreciação e aplicação.
A leitura deve ser vista como uma actividade activa e criativa, em que o leitor, deve
compreender e interpretar o texto que leu.
142
O que interessa mesmo no acto de ler literariamente um livro não é a sua
classificação técnica, ou maior ou menor conhecimento, mas é a forma como o
conhecimento que temos do mundo se altera. A competência literária diz-nos não
tanto o de funcionamento de um texto literário, mas antes possibilita descobrir
nele o que se aproxima do nosso quotidiano.
A interpretação como uma das etapas fundamentais da leitura, permite que muitas
leituras surjam ou transpareçam. Para Veigas (2003: 3) “a leitura aumenta a
capacidade de percepção de concentração e de interpretação de significados”.
Desse modo, cada professor deve ter em conta os textos a atribuir aos alunos,
tendo em conta os níveis em que vai trabalhar, para facilitar a interpretação,
leitura, compreensão, estímulo. É preciso criar um contacto directo entre a obra e
o aluno, logo nas classes iniciais e não se distanciar e para que isso aconteça, o
professor deve gostar de ler e estar familiarizado com as diferentes obras e seus
autores.
143
Ler é importante porque leva a pessoa a ter contacto com várias ideias diferentes
(dos autores), adquirindo assim uma visão mais ampla do mundo e dos conflitos
que envolvem a humanidade e a sociedade. Quando se tem uma visão mais ampla,
se tem também mais material para formar as próprias ideias e resolver de melhor
forma os próprios problemas.
É importante frisar também aquilo que todo mundo diz, e é uma grande verdade:
ao ler a pessoa pode conhecer e ir à lugares, que, de outra forma seria impossível.
A leitura é um passaporte com visto permanente para todos os lugares, culturas e
mundos, reais ou até imaginários. É uma fonte de diversão e prazer.
Ler é imaginar; com e pela leitura a função simbólica está sempre alerta. A
ultrapassar a fase de decifração penosa em que arranja ao código escrito sons e
sentidos, a presença do texto enquanto texto irá desaparecendo gradualmente. O
livro que se segura nas mãos, que se vai folheando é um objecto sem a presença
do qual a ausência do leitor no mundo é impossível. Ler não é tocar nos seres, nos
objectos, nas paisagens. Mas talvez seja a actividade de que mais justiça a
materialidade do imaginário. Ler, ler o que quer que seja, é sempre fazer apelo à
imaginação.
Para a maior parte dos alunos a leitura é encarada como um acto social e vista em
função do olhar dos outros. Trata-se de um passatempo, no meio de outros
passatempos, nem se que muito apetecido, pois a concorrência é desleal. Carregar
num botão e comandar do sofá a sucessão de umas horas diárias de desenhos
animados e vídeo-clips, eis
144
um passatempo que está ao alcance de uma boa parte dos nossos alunos, que na
sua grande maioria o preferirão ao prazer de uma boa leitura (de acesso muito
menos imediato). Para uma criança poder considerar que a leitura é uma aventura,
uma viagem, um encontro com os outros, um acto que, para além das aparências,
implica profundamente o ser que num pensamento e numa imaginação-outra,
para se estabeleça uma verdadeira troca_ qual é o caminho?
Tudo isso pressupõe que não se reduza o livro a um esqueleto, que não
se reduzam os textos, dos contos ou outros, a meros pretextos de
análises mais ou menos descabeladas e “esvaziantes” que lhe roubem
o sopro da vida que os anima e se transmite. Tudo isso pressupõe
também que não há receitas-tipo, nem milagres pedagógicos por
correspondência. A aventura do livro vivida dentro de uma aula é, até
certo ponto, única e irrepetível pois as histórias dos seus participantes
(alunos e professor) e a sua conjugação nunca são rigorosamente
coincidentes com as novas aventuras vividas por participantes
diferentes.
145
Unidade 9.3. Estratégias Didácticas para o Ensino da Leitura
•Ao não compreender uma palavra, tenta encontrar o seu significado. Assim, ou
perde o sentido global do texto ou pura simplesmente abandona a leitura que está
a fazer.
O professor deve fornecer aos alunos, antes de uma leitura, uma abordagem
mesmo que sumária sobre o tema, de maneira que este tenha primeiro a
possibilidade de reconhecer, articular e por último, compreender e assimilar o
sentido.
146
2. Fazer sublinhar palavras que causam problemas de compreensão. Sóapós uma
leitura global do texto é que o aluno vai procurar no dicionário as palavras que
continuam a causar problemas, podendo o professor optar por explicá-las.
Verificar-se-á que algumas palavras inicialmente desconhecidas, deixaram de o ser
após a leitura global do texto. Poder-se-á ainda pedir ao aluno que explique quais
os processos a que recorreu para desbloquear as dificuldades que inicialmente
encontrou na sua leitura.
147
▪ A divisão do texto (parágrafo, capítulos),
▪ Enumeração das partes,
▪ tipo de letra adoptado (itálico, sublinhado, parênteses, maiúsculas),
▪ Início dos parágrafos,
▪ Citações (introduzidas por aspas).
▪ Ilustração do texto (imagens, fotos).
É também e importante que o professor explicite o motivo pelo qual pede ao aluno
que execute uma actividade de leitura.
1.Ler
2.Fazer
3. Dizer
4. Reconhecer
O texto fornece sempre elementos que são reconhecidos pelo aluno. Poder-se-á
pedir ao aluno para referir o que reconhece através de conhecimentos
anteriormente adquiridos.
5. Antecipar/formular hipóteses
6. Localizar/seleccionar
7. Hierarquizar ou classificar
148
O leitor ou aluno, ao seleccionar os elementos, agrupa-os e classifica-os.
8. Estabelecer relações
9. Relacionar e interpretar
Pede-se ao aluno para dar sua opinião, e para atribuir um sentido ao texto lido.
Valoriza-se a interacção entre o texto e o leitor mas tambémentre os próprios
leitores, aproveitando a experiência pessoal de cada indivíduo.
10. Sintetizar
É uma actividade que é, muitas vezes, solicitada pelo aluno, uma vez que a
compreensão passa necessariamente pela síntese. O professor encoraja o
aluno/leitor a encontrar a ideia principal, a perguntar do que se trata, e finalmente
a resumir o texto.
11. Observar
Para compreender não é apenas necessário fazer-se a leitura, mas fazê-la com
atenção, tentar dar sentido a elementos parlinguísticos dos quais por vezes não
nos apercebemos de uma maneira consciente. Observar é uma etapa preparatória,
mas também uma actividade que reveste o trabalho de compreensão. O
aluno/leitor assume então a posição de “observador” do texto.
12.Verificar a compreensão
Se não for proposto ao aluno uma linha de leitura, acontece, por vezes, que o aluno
leitor, ao ler, vai parando sistematicamente em cada palavra desconhecida para
ele, o que entrava as possibilidades de compreensão global do texto.
Metodologia Interactiva
149
1. Interacção no sentido do leitor-texto
O texto deve ser visto como um texto veiculando um sentido a construir. Assim,
pedir-se-á que durante a leitura o aluno formule hipóteses sobre a situação, o que
irá acontecer. Seguidamente poderá interpretar a atitude de uma personagem ou
propor outro desenvolvimento do acontecimento.
O texto tem um efeito sobre o leitor e este pode manifestar a sua reacção perante
o texto e poder-se-á mesmo identificar com uma personagem ou ainda referir o
que o texto significa para ele.
O trabalho em grupo será privilegiado com cada grupo. A cada grupo serão
distribuídas tarefas diferenciadas (acção, personagens, narrador, etc.)
Itinerários de leitura
150
Depois da leitura do texto, é indispensável encorajar o aluno/leitor a fazer uma
distanciação da narrativa e confrontá-la com o seu próprio sistema de valores.
Procurar-se-á favorecer a interacção texto/leitor, encorajando o leitor a participar
no processo interpretativo, ao dar, por exemplo, um sentido, ao referir o efeito que
a obra exerceu sobre ele, ao formular a sua opinião, e referir se o texto se
desenrolou da maneira que ele previa.
Sumário
A leitura tem uma grande importância em vários sentidos, podemos citar alguns:
aprender; tirar boas notas; falar bem e escrever bem; ser informado da realidade.
Esses são os motivos básicos da leitura. Mas o motivo principal para se ler é o
crescimento interno, como homem, como ser pensante, só se justifica ler se
também se pensa, ler e decorar, ler e não aprender, ler e não reflectir, é perder
tempo. A leitura não pode ser uma obrigação e sim uma opção, aquele que reflecte
sobre o que lê, tem senso crítico, capacidade de transmitir o crescimento. A leitura
é um modo de ampliação de referências, de enriquecimento de vivências, de
comunicação, de formação de personalidades. Na aula Língua Portuguesa, o
principal objectivo consiste em desenvolver a competência comunicativa do aluno,
de forma criativa. Para que este objectivo seja alcançado, o professor deve
proporcionar ao aluno o contacto com situações variadas e permitir a utilização de
textos diversificados.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
6. Comente a seguinte afirmação: “Sem leitura, não se formam bons leitores nem
bons escritores.
151
leitura. Cria-se condições favoráveis à recepção do texto, informações do tipo
linguístico e significado de determinadas palavras-chave.
9. A leitura tem uma grande importância em vários sentidos, podemos citar alguns:
a) aprender
c) enriquecer o vocabulário
a) de ampliação de referências
b) de enriquecimento de vivências
c) de comunicação
Respostas:
6. Falso
7. Falso
8. Verdadeiro
9. D
10. D
152
TEMA X: O CONTO: ESTRATÉGIAS DE ENSINO E ANÁLISE TEXTUAL
Introdução
Objectivos
➢ Definir o conto.
➢ Distinguir o conto moderno do tradicional/clássico.
➢ Interpretar o conto “Mbelele” de Aníbal Aleluia.
O conto é uma espécie literária que se integra numa das formas naturais da
literatura – a narrativa, tal como romance e a novela, cujas origens têm sido
procuradas sobretudo em elementos míticos e folclóricos adquirindo então plenos
direitos de cidadania artística e irrecusável autonomia estética.
No entanto, na perspectiva de Paz e Moniz (2004: 49), conto é retrato breve, oral
ou escrito, de uma história ou uma ficção, na qual participa um número reduzido
de personagens numa concentração espácio-temporal.
153
tempos primitivos desempenhando uma função lúdica ou moralizante. Neste, o
tempo e o espaço são determinados. Nos contos tradicionais encontramos toda
uma panóplia de variados temas relacionados com: a mulher (teimosa,
desmazelada, gulosa, etc.), a infidelidade, a fidelidade, o engano, o homem
dominado pela mulher, a superstição, a feitiçaria, a magia, a crença no destino,
etc., que são a base das nossas análises neste trabalho.
Mas sabemos também que o narrador vai sempre com a sua originalidade
contrapondo os valores e as intenções dos vários intervenientes. Assim, nem
sempre é o mais forte que sai vitorioso, mas o mais esperto ou que injustamente é
atacado. Se expressa aqui a ordem normal da moral, pelo contrário seria a inversão
da moral, ou seja, quando vence o mais forte.
Se os livros para as crianças que se publicam actualmente não têm uma intenção
tão flagrantemente moralista, nem por isso o seu conteúdo é menos normativo. Os
modelos propostos, a representação da sociedade devem estar de acordo com um
determinado ideal de criança, de " homem", devem responder aos horizontes de
espera dos adultos em relação às crianças.
154
que modelos são transmitidos? Que " horizontes de espera" da Família e da
Sociedade contemplam?
Os contos são uma fonte de divertimento e possuem uma função educativa. Desde
Platão em a República, pôs em realce a sua importância como factor educativo,
que se tem vindo a chamar a atenção para essa dimensão lúdica e pedagógica que
Peraultt sabiamente sintetizou: instruir e divertir.
A educação estética " por meio do folclore afina a sensibilidade, que é inseparável
da inteligência; as crianças criadas sem canções, sem contos, sem poesia, são
crianças espiritualmente mais pobres do que as outras. Os psicólogos e os
professores sabem-no muito bem. Porque a educação estética começou no berço",
afirma Carmen Bravo Villasante.
A função essencial do conto na educação é " dar alegria; na alegria e pela alegria,
excitar e alimentar o espírito ". Não é necessário insistir sobre o valor cultural do
folclore em geral e dos contos populares em particular como elementos de
identidade cultural de um povo.
No passado a maioria das crianças nascidas em famílias pouco letradas não tinha
contacto com o livro antes de entrar na escola. O encontro entre ambos ocorria
com sete anos, na primeira série, classe da alfabetização. O livro era único, não
havia outro, colectivo, cada aluno tinha um exemplar, e didáctico, a cartilha. Esse
livro, objecto puramente escolar, não tinha função social, isto é, não era utilizado
fora da escola. Em vez de aguardar a conclusão do processo de alfabetização para
só então entrar nos primeiros anos de vida ou até mesmo nos primeiros meses. De
facto, não existe idade mínima para a criança ser presenteada com obras de
literatura infanto-juvenil, folheá-las no sofá e escutar “histórias do livro na cama
antes de dormir.
Mesmo sem saber ler, as crianças tem acesso a literatura pelo caminho da escuta.
A tradição da voz alta é antiga. Depois da reforma ela já era frequente na Europa
entre as famílias protestantes nas quais os patriarcas diziam textos sagrados da
bíblia durante a noite. No Brasil, séculos atrás, letrados reunidos em saraus
escutavam poemas da boca dos seus autores, reuniões essas que hoje ainda
perduram sobre novas formas.
Essa prática sempre esteve presente na escola. Todo leitor conheceu em sua
escolaridade algum professor que dizia textos literários para o prazer do auditório,
sem cobrar tarefas escolares dos seus ouvintes. Essa voz alta sistemática não
somente encantava os alunos, fascinados pela musicalidade da voz do professor
como também revelava as obras escritas da literatura.
Uma parte do sucesso de vendas do Daniel Pennac (1997) prove da sua proposta
de reactivar uma escuta do texto marcada pela qualidade, em oposição a exercícios
de decifração isentos da dimensão comunicativa. Dado novo é que hoje a
variedade dos textos ao alcance da criança é muito mas ampla e mas bem adaptada
aos seus interesses, tanto pela temática abordada, enquanto pela língua utilizada.
A entrada dos livros da literatura infanto-juvenil nas famílias de classe média leva
os pais a assumirem também o papel daquele que profere, até então restrito a
determinadas reuniões, bíblicas ou poéticas. Hoje felizmente, a voz alta está
ganhando espaços educacionais diversificados fora das classes privilegiadas; ela se
manifesta também nas bibliotecas, creches, além de espaços sociais tais como
núcleos de educação informal, hospitais ou jardins públicos.
Para que isso possa acontecer, torna-se necessário que possuía ampla formação
científica e pedagógica, que conheça o assunto em profundidade, que esteja
penetrado do valor do que transmite. Necessário também se torna dispor de
metodologias seguras e de conhecimentos objectivos que lhe permitam mover-se
à vontade nesta temática particular.
É preciso admitir, logo à partida, que só se consegue fazer amar aquilo que se ama.
Uma obra pode apresentar um interesse seguro do ponto de vista didáctico. Se não
nos disser nada, se não “aquecer o coração”, será que vale a pena trabalhá-la? A
emoção que se comunica é a única que pode criar um verdadeiro clima de
entendimento e de troca.
Falar (dos livros) dos contos que desbloqueiam o imaginário das crianças, que lhes
permitem reencontrar um uso lúdico, pessoal e criativo da língua, conduz-nos a
repensar os contos como vias de acesso à literatura escrita, particularmente a uma
literatura poética e fantástica. Nem sempre se compreende plenamente o valor
educativo do poético e do fantástico, talvez porque não se lhe vê uma utilidade
imediata uma vez que se trata de um valor indirecto, que age a longo prazo,
subterraneamente. A literatura é a grande educadora, como lhe chamou Aragón.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
Mbelele
De manhã, a terra era fresca. O ar gélido cortava a pele. O céu apresentava-se dum
azul puro, levemente empanado por um véu violeta que desaparecia à medida que
o sol subia, diluído por um calor de estufa, sempre crescente.
As várzeas estavam já limpas; o povo cansara-se mais uma vez, derribando plantas
bravias; as charruas tinham sulcado a terra, revirando a resteva; as enxadas haviam
pulversado o folhiço. E tudo isto secara àquele sol de aço.
O próprio rio minguara, lentamente, fugindo da álea dos chorões que lhe
delimita¬vam o leito, até se restringir a um fio sinuoso, humilde, gemebundo.
Seis colheitas antes, a fome visitara a região nas asas roxas dos acrídeos. O
gafanhoto, em ondas maciças, limpara com sofreguidão as culturas viridentes e
promisso¬ras, deixando as machambas nuas, os galhos erectos em gesto de
súplica, cruelmente fustigados pelo sol, como símbolos do espectro da fome.
Anos depois, o rio tufara com arrufos de soba pérfido, assoprando para as margens
a sua baba cor de ocre, invadindo sanzalas e machambas, submergindo gado e
gente, levando a todos os lares a miséria e o luto, o desespero e as lágrimas. Toda
Gaza fôra, então, uma terra de desolação. Dir-se-ia estendidas sobre ela as asas do
anjo mau do Apocalipse.
E agora, antes que o povo se refizesse, chegam a seca, cruel e dura, levando a
impo¬tência aos braços
158
vigorosos do povo, enxugando rios, queimando a terra, calcinando a bosta que
estrumava as machambas.
_ <<Os nguluves estão zangados>>_ dizia o povo, observando com tristeza o céu
indiferente às suas queixas. E todos procuravam descobrir que desacatos às
vontades dos mortos se expiavam tão dolorosamente.
Muitas luas tinham bebido as águas do Indico. Já todos estavam certos de que o
nhamussoro fôra derrotado pela ira implacável dos nguluves.
«A culpa é dos moços, gente. Foram estragados pelos brancos. Não obedecem às
leis velhas da raça. Não fazem a purificação anual da terra» – gritam Mucindo, o
soba velho, apontando com a canha a planície queimada pelo sol.
Os moços, como resposta, pegavam nos xitendes, faziam as malas e partiam para
os «compounds» a alistarem-se para o Jone. As raparigas guardavam os berimbaus
nos cantos das palhotas e iam para Mafalala e Estrada Nova vender amor.
Perguntas:
4. Qual seria a sua opinião em relação a sentença: – «Ide fazer mbelele... » – tal a
sentença de nhamussoro.
159
Questões de Verdadeiro e Falso
7. A entrada dos livros da literatura infanto-juvenil nas famílias de classe média leva
os pais a assumirem também o papel daquele que profere, até então restrito a
determinadas reuniões, bíblicas ou poéticas.
8. Uma parte do sucesso de vendas do Daniel Pennac (1997) não provém da sua
proposta de reactivar uma escuta do texto marcada pela qualidade, em oposição a
exercícios de decifração isentos da dimensão comunicativa.
10. O conto, sobretudo o conto maravilhoso, contado às crianças ou lido por elas,
pode ser encarado na perspectiva de:
160
Respostas:
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. A
10. B
Introdução
Para Stalloni (2010: 18-19) O género é uma categoria que permite reunir, de acordo
com vários critérios, um certo número de textos. O género é uma espécie de
paradigma primordial, um arquétipo, uma essência, na qual cada obra que os
actualiza constitui uma determinada inflexão, uma singular concretização.
Géneros literários são categorias de obras literárias que, tendo a mesma finalidade
fundamental, apresentarão estrutura parecida e obedecerão a normas
semelhantes. São uma classificação tipológica das obras literárias, baseada em
elementos de forma e conteúdo e na sua relação funcional. Têm a sua origem no
valor exemplar de uma obra que origina outras do mesmo tipo. A autoridade
advém-lhe do reconhecimento e aceitação por parte dos autores e do público. A
sua função é múltipla: para o autor, recurso fácil, enquanto forma genérica
previamente estabelecida; para o leitor, coordenada de referência ou orientação;
para o crítico, terreno comum a partir a partir do qual faz a análise comparativa ou
a valorização. (In Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura).
162
apud Stalloni (2010: 176) “o género remete para a literatura através do critério
remático, definindo o rema o tipo de discurso por oposição ao tema, que se aplica
ao conteúdo do discurso.”
163
o do rigor analítico desses mesmos discursos» (Ferraz, 1990: 144).
Por seu turno, Fernanda Bernardo, numa longa reflexão sobre a leitura na
perspectiva de Jacques Derrida, interroga-se acerca dos pressupostos ideológicos
da leitura, dizendo: «como continuar também a ignorar que a praxis da leitura, a
simples — mas, sem dúvida, sem simplicidade — postura ‘diante’ de um ‘texto" é
iminentemente (ultra)-ético-política?» (Bernardo, 1992: 180).
Deste modo, qualquer teoria da leitura que valorize a interacção entre texto e
leitor, traduzida nos efeitos estéticos daquele e nas respostas deste, para ser
produtiva, não pode desligar-se da necessidade de determinar o horizonte teórico
da leitura.
164
e) Os conteúdos da leitura configuram uma espécie de amálgama. Diante de
situações de bloqueio, o aluno e o professor não podem sentir-se bem.
Nos anos terminais do ensino secundário (10.º, 11.º, 12.º anos) espera-se que os
alunos desenvolvam estas operações mentais e queremos acreditar que têm
competências para o fazê-lo. Nestes anos, de verdadeira iniciação da história da
literatura portuguesa, de crescente familiarização com os modos e géneros
literários, traduzida numa abordagem rigorosa do texto literário, a capacidade de
atribuir e justificar o sentido do se lê constitui competência fundamental
necessária aos alunos de letras. Importa assegurar, nesta fase propedêutica aos
165
estudos literários de nível superior, uma progressiva inteligibilidade da natureza
complexa da literatura. Para a realização deste projecto, torna-se necessária uma
intensa prática de leitura e a concomitante reflexão sobre os procedimentos
estético˗literários, o que nem sempre acontece com os jovens leitores.Nesta fase,
não se pretende que se ensinem os processos da leitura, embora haja situações
que pedem ao professor mais esta dádiva, demostrando o modo como ele, leitor
mais experiente, rompe barreiras ou, então, fica “preso por um texto sobre o qual
não sabe o que dizer.
Das componentes dos géneros mais apreendidas podemos apontar algumas que
nos parecem ser as principais, como o conteúdo semântico, com uma certa
diversidade de respostas, verificando-se maior heterogeneidade, fluidez e grandes
indecisões na captação de traços formais e elementos técnicos-compositivos e
retórico-estilísticos. A excepção de personagens e temas, no que diz respeito à
narrativa e ao drama, a previsão das respostas é extremamente variável. Na nossa
opinião, um handicap visível é a dificuldade de dialogar com o texto, para o que se
requerem capacidades discursivas, de ginástica mental e verbal.
166
Apesar dos elementos que temos vindo a constatar em observações de práticas
pedagógicas e na leitura de escritos dos alunos, cremos que ainda é prematuro tirar
conclusões acerca de leituras como prática interactiva porque na prática do ensino
há muitos percursos, justamente em função do heterogéneo perfil do leitor que
temos vindo a esboçar.
Sumário
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
3. Dos três modos fundacionais da literatura, onde reside maior dificuldade por
parte dos alunos?
168
5. Considerando as limitações acima expostas da leitura e as suas implicações,
acreditamos que um trabalho centrado nas dificuldades dos alunos pode contribuir
para o sucesso escolar.
AUTO- AVALIAÇÃO
Questões De Reflexão
8. Para Stalloni, género é uma categoria que permite reunir, de acordo com vários
critérios, um certo número de textos.
10. O género é:
169
Respostas:
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. A
170
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