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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

1º Ano

Disciplina: Pré - História

Código:

Total Horas/1o Semestre: 125


Créditos (SNATCA):
Número de Temas: 6

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela Coordenação Direção Académica do ISCED

Pelo design Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística
Instituto Africano de Promoção da Educação
a Distancia (IAPED)

Pela Revisão

Elaborado Por: dr. Merton André Murrombe – Licenciado em Ensino de História e Geografia,
pela Universidade Pedagógica Sagrada Família – Maxixe

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Índice

Indice

Visão geral 1
Benvindo à Disciplina/Módulo de Pré-História................................................................ 1
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 1
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 2
Ícones de actividade .......................................................................................................... 3
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 3
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 6
Avaliação .......................................................................................................................... 7

TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS. 9


UNIDADE Temática 1.1. Introdução, Considerações Gerais à Disciplina ...................... 9
Introução ........................................................................................................................... 9
Objectivos ......................................................................................................................... 9
Sumário ........................................................................................................................... 10
Exercícios de auto-avaliação .......................................................................................... 10
Exercícios........................................................................................................................ 11
UNIDADE Temática 1.2. A metodologia e Epistemologia da História. ........................ 11
Introdução ....................................................................................................................... 11
Objectivos ....................................................................................................................... 11
Sumário ........................................................................................................................... 16
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 17
Exercícios........................................................................................................................ 17
UNIDADE Temática 1.3. Tipos de documentos ou fontes de História .......................... 17
Introdução ....................................................................................................................... 17
Objectivos ....................................................................................................................... 17
Sumário ........................................................................................................................... 24
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 25
Exercícios........................................................................................................................ 25
UNIDADE Temática 1.4. Objecto de estudo da História ............................................... 25
Introdução ....................................................................................................................... 25
Objectivos: ...................................................................................................................... 26
Sumário ........................................................................................................................... 27
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 27
Exercícios........................................................................................................................ 27
UNIDADE Temática 2 - Hominização I parte .............................................................. 28
UNIDADE Temática 2.1. A hominização: problemas gerais ......................................... 28
Introdução ....................................................................................................................... 28
Objectivos ....................................................................................................................... 28
Ao completar esta unidade você será capaz de: .................................................... 28

iii
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Sumário ........................................................................................................................... 37
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 38
Exercícios........................................................................................................................ 38
Unidade Temática 2.2. A hominização II Parte - Problemas gerais. ............................. 38
2.2.1. Os dados arqueologicos ........................................................................................ 38
Introdução ....................................................................................................................... 38
Objectivos ....................................................................................................................... 39
Sumário ........................................................................................................................... 42
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 42
Exercícios........................................................................................................................ 42
Unidade Temática 2.3. Os homens fósseis africanos...................................................... 43
2.3.1. Africa, o berco da humanidade ............................................................................. 43
Introdução ....................................................................................................................... 43
Objectivos ....................................................................................................................... 43
Sumário ........................................................................................................................... 51
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 51
Exercícios........................................................................................................................ 51
Unidade Temática 3: A história como forma de conhecimento ..................................... 52
Introdução ....................................................................................................................... 52
Objectivos ....................................................................................................................... 52
Sumário ........................................................................................................................... 59
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 59
Exercícios........................................................................................................................ 59
Unidade Temática 3.4. Ciência e Conhecimento Histórico ............................................ 60
Introdução ....................................................................................................................... 60
Objectivos: ...................................................................................................................... 60
Sumário ........................................................................................................................... 70
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 71
Exercícios........................................................................................................................ 71
Unidade Temática 4: A evolução cultural e tecnológica ................................................ 71
Introdução ....................................................................................................................... 71
Objectivos: ...................................................................................................................... 72
Sumário ........................................................................................................................... 77
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 77
Exercícios........................................................................................................................ 78
Unidade Temática 4.2. O homem e a técnica ................................................................. 78
Introdução ....................................................................................................................... 78
Objectivos ....................................................................................................................... 79
Sumário ........................................................................................................................... 83
Exercícios de Auto-Avaliacão ........................................................................................ 83
Exercícios........................................................................................................................ 83
Unidade Temática 5. Do Processo de Sedentarização ao Desenvolvimento das
Sociedades Humanas Pré-Históricas ............................................................................. 83
Introdução ....................................................................................................................... 83
Objectivos ....................................................................................................................... 84
Sumário ........................................................................................................................... 88
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 89
Exercícios........................................................................................................................ 89
Unidade Temática 5.2. Desigualdade social e estratificação social; .............................. 90

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

5.2.1. Diferença e desigualdade social ............................................................................ 90


Introdução ....................................................................................................................... 90
Objectivos ....................................................................................................................... 91
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 95
Exercícios........................................................................................................................ 95
Unidade temática 5.3. A inovação do Neolítico foi a tecelagem. ................................... 96
Introdução ....................................................................................................................... 96
Objectivos ....................................................................................................................... 96
Sumário ........................................................................................................................... 98
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 98
Exercícios........................................................................................................................ 98
Unidade Tema 6: Hierarquização, sociedades de classes e estado: o início da história . 99
Introdução ....................................................................................................................... 99
Objectivos ....................................................................................................................... 99
Sumário ......................................................................................................................... 102
Exercícios de Auto-Avaliação ...................................................................................... 102
Exercícios...................................................................................................................... 102
Unidade Temática 6.2. Natureza e Origem das Civilizações ....................................... 103
6.2.1. Culturas e civilizações ........................................................................................ 103
Introdução ..................................................................................................................... 103
Objectivos ..................................................................................................................... 103
Sumário ......................................................................................................................... 110
Exercícios de Auto-Avaliação ...................................................................................... 111
Exercícios...................................................................................................................... 111
Unidade Temática 6.2.7. A cidade se expande ............................................................. 111
Introdução ..................................................................................................................... 111
Objectivos ..................................................................................................................... 112
Sumário ......................................................................................................................... 114
Exercícios de Auto-Avaliação ...................................................................................... 115
Exercícios...................................................................................................................... 115
Exercícios Finais ........................................................................................................... 115
7. Referência Bibliográfica ........................................................................................... 116

v
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Visão geral

Benvindo à Disciplina/Módulo de Pré-História

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Pré-História o aluno deverá


compreender os fundamentos da Pré – História.

Objectivos específicos

Resultados esperados
Espera-se que o estudante:

 Distingue as diferentes fases de desenvolvimento humano


 Distingue as diferentes fases de desenvolvimento
tecnológico

 Discutir a evolução do Homem.


 Compreender a génese da Pré - História.
 Conhecer o conteúdo das fontes hostóricas.
 Analisar as particularidades do desenvolvimento humano.
 Compreender que a cultura de cada povo é produto das
Objectivos
condições socias, materiais e históricas
Específicos
 Compreender as principais transformações ocorridas desde
a origem do Homem até ao século XV.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Ensino de História e outros cursos lecionados no
ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se
actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses
serão bem vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas
poderá adquirir o manual.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Pré-História , para estudantes do 1º ano do curso


de Licenciatura em Ensino de História, à semelhança dos restantes
do ISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades,. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas algunas incluido estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicoa e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você
explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro
de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elém deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas: primeeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/doceentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exrcícios de
avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em goso de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.

3
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro


estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as


de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das


actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalhjo intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimento, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando


a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou admibistrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficar’a a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
habito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Como é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e concistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)
trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

TEMA – I: CONSIDERAÇÕES GERAIS.

UNIDADE Temática 1.1. Introdução, Considerações Gerais à Disciplina

Introução

Segundo a periodização clássica da História, Pré-História refere-se ao


período que vai do surgimento do homem na terra até cerca de 4 000
a.c quando é inventada a escrita.

Ora, o homem, desde seu aparecimento, é um ser histórico, ainda que


ele não utilizasse a escrita. Outras expressões foram propostas para
denominar os povos sem escrita.

Na pré-história o ser humano vivia em pequenos grupos nómadas. A


preocupação com a sobrevivência num ambiente natural e hostil era
crucial.

Caçar, pescar, procurar frutas e raízes, fugir de animais perigosos e


abrigar-se das variações climáticas faziam parte do cotidiano do homem
pré-histórico. O homem dessa época tinha que se adaptar à alternância
do claro-escuro e à mudança das estações.

O principal objectivo da Disciplina de Pré História é permitir aos


usuários compreender os fundamentos da Pré – História assim como
distinguir as diferentes fases de desenvolvimento humano e as fases de
desenvolvimento tecnológico e não só, discutir a evolução do Homem,
compreender a génese da Pré – História e finalmente analisar as
particularidades do desenvolvimento humano.

Objectivos

Ao completar esta unidade, você será capaz de:


 Identificar o período da pré-história;
 Identificar a divisão da pré-história;

1.1.2. Fontes para o estudo da Pré-História

O homem pré-histórico deixou uma série de vestígios de sua existência


e de seu modo de vida: fósseis, instrumentos, pinturas etc.

Entre as ciências que pesquisam essas fontes pré-históricas destacam-


se a Paleontologia Humana e a Arqueologia Pré-histórica. A
paleontologia humana estuda os fósseis dos corpos dos homens pré-

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

históricos, geralmente os ossos e dentes, partes mais resistentes, que


se preservaram ao longo do tempo.

A arqueologia pré-histórica estuda objectos feitos pelo homem pré-


histórico, procurando descobrir como eles viviam. Instrumentos de
pedra e metal, peças cerâmicas, sepulturas são alguns desses objectos.

1.1.3. Divisão da Pré-História

As fontes pré-históricas indicam que, nesse período, existiram


diferentes culturas. Deduz-se que os objectos inicialmente tiveram
formas variadas e foram feitos de diferentes materiais: madeira, osso,
pedra lascada, pedra polida e metal.

A partir de constatações dessa natureza, dividiu-se a Pré-História em


três grandes períodos:

a) Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada — (4 milhoes – 10 mil a.c)


período em que predominou a sociedade dos homens caçadores e
recolectores, nomadismo, divisão sexual de trabalho, sem
propriedade privada, abrigos naturais, controlo do fogo, pinturas
rupestres;
b) Neolítico ou Idade da Pedra Polida —(8 mil – 4 mil a.c) período em
que se desenvolveu a agricultura e a criação de animais, fabricação
de artefactos mais cortantes;
c) Idade dos Metais (cobre, bronze e ferro) — (4 500 a.c – 2 500 a.c)
período em que se desenvolveu a fundição de metais,
sedentarização, produção de excedente, aumento da população e
aumento da esperança da vida, construção de casas, surgimento das
primeiras cidades, hierarquização social (guerreiros, sacerdotes,
camponeses), centralização do poder – Estado (rei ou imperador =
sacerdote + chefe familiar).

Sumário

Podemos considerar o conceito de pré-história a época que antecede


aos registos históricos, ou seja, antes do surgimento e desenvolvimento
da escrita.

Alguns historiadores criticam tal termo, pois na sua visão não existe
uma anterioridade a história do mundo ou do homem e isso a uma
anterioridade a escrita.

Exercícios de auto-avaliação

1. Descreva os principais período da pré história

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Exercícios

1. Quais são as fontes para o estudo da pré-história


2. Fale da idade da pedra lascada.
3. Defina pré-história.
4. Caracterize a idade dos metais.
5. Diga em que período começou a criação de animais e o
aparecimento da agricultura.

UNIDADE Temática 1.2. A metodologia e Epistemologia da História.

Introdução

Hoje em dia é muito usual, em meios científicos e filosóficos, falar-se de


epistemologia. No entanto, este emprego generalizado do termo está
longe de indicar uma unanimidade de apreensão do significante.

A confusão um tanto comum entre epistemologia e metodologia, que é


em parte resultado do que sinteticamente já anotámos, exige um
esclarecimento cuidadoso da especificidade de cada uma delas.

Á primeira compete a problemática inerente aos fundamentos teóricos


e estruturais da ciência, enquanto à segunda se ligam precisamente as
questões relativas aos processos que a ciência segue na determinação
do facto científico.

Objectivos

Ao terminar esta unidade, você será capaz de:


 Identificar os métodos e objecto de estudo da história;
 Conhecer a metodologia e epistemologia histórica.

1.2.1. Os métodos da História

Em história temos apenas um e único método a que se dá o nome de


crítica histórica, que é composto por duas operações principais a saber:
a análise e a síntese.

O interesse pelo método não deve obscurecer nem obliterar a


importância de problemas como estes: O que torna científico um
conhecimento? O que caracteriza a abordagem do real feita pela
ciência? Como entender o progresso em ciência?

Cada ciência tem o seu método específico de estudo assim como de

11
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

investigação e a história não foge a regra, para entender a história, é


necessário conhecer as regras e os princípios com que esta é feita
(método) e reflectir sobre o seu modo de operar e a validade do seu
conhecimento epistemológico.

Assim, metodologia pode ser definida como sendo a lógica que estuda
os métodos das ciências enquanto epistemologia trata-se da teoria do
conhecimento com o objectivo de determinar ou explicar a origem
lógica de um conhecimento científico, o seu valor e objectivo.

O sujeito do conhecimento é o sujeito que conhece ou estuda o objecto,


com o qual interage, indirectamente, por intermédio de marcas,
vestígios, artefactos e restos. É o sujeito-historiador que produz o
conhecimento que deve ser compreendido sob duas acepções a saber:
o sujeito da história e o sujeito do conhecimento.

O sujeito da história refere-se ao que foi alvo de atenção durante as


várias épocas da evolução historiográfica, caso concreto das figuras
centrais estudadas ao longo das épocas e que foram variando de acordo
com a visão dos escritores-historiadores ou concepção histórica.

Entretanto, o sujeito da história evolui de Deus, na Antiguidade Clássica,


até ao homem na sua generalidade, e no caso da Nova História.

a) Análise

O historiador averigua o desconhecido para incorporá-lo no que já era


conhecido antes do estudo a partir do qual se suscitam as dúvidas,
inquietações. Trata-se de uma investigação desse desconhecido e
compreende os quatro momentos, nomeadamente:

b) Heurística: é a operação de recolha de fontes de informação, fontes


que, funcionam como o intermediário entre o objecto e o sujeito do
conhecimento. As fontes são absolutamente para a pesquisa em
História;
c) Critica externa/autenticidade: ocupa-se dos aspectos ligados à
forma e os materiais de que as fontes se constituem. Permite aferir
da autenticidade da fonte da análise dos aspectos formais que têm
que ver com a apresentação e formato da fonte, sua constituição
material, quando comparada com as demais do mesmo tipo;
d) Crítica interna/credibilidade: é a operação que basea o seu
trabalho no conteúdo da fonte, isto é, o que ela contém como
informação. Isto é feito através da interpretação literária, averiguar
a compitência, a fim de apuar se a pessoa que emitiu tal fonte tinha
ou não competência para haver emitido, a averiguação da
intencionalidade e sinceridade, que visa saber a intenção com que
fonte foi produzida, pois há casos em que as fontes são produzidas

12
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

com intenção enganoso, a averiguação da exactidão, em que se


procura apurar o rigor do testemunho e a comparação, que é, na
verdade, uma operação que perpassa por todas as anetriores,
porquanto todos os passos anteriores sãop feitos comparando as
fontes em estudo com outras que popderão ser assumidas como
termos de compararção.
e) Hermenêutica: trata-se da operacão pela qual se procede à
interpretação dos dados retirados das fontes, para se saber em que
medida elas respondem ao questionamento que lhes foi colocado,
de acordo com as inquietações na base das quais foi desencadeada
apesquisa.
f) Síntese

É a operação através pela qual se procede à integração do que se


conseguiu desvendar do deconhecido, com o desenrolar de todos os
passos da operação anterior, é na verdade, o resultado da pesquisa
histórica e com ela se enriquece o património histórico.

1.2.2. Metodologia

O conceito de método implica — consoante se acentua a ideia de


«caminho pelo qual se atingiu», ou se frisa a de processo «para se
chegar a um fim» — uma posição quanto às possibilidades de regras de
transmissão a priori (segundo caso) ou não, sendo no primeiro caso
realçada a «acepção a posteriori da noção de método».

Pelo que, segundo o mesmo autor, é necessário distinguir dois níveis:

 Um, enquadrando as questões de escolha, estruturação e


articulação dos processos técnicos que são postos em jogo para se
solucionar um problema;
 O outro, reunindo os problemas que visam a anular ou, pelo menos,
diminuir as «zonas de interdeterminação», quer dizer, as zonas
provenientes de uma disparidade possível de respostas perante o
mesmo problema (escolha, delimitação, etc).

Tanto num caso como no outro, mas muito especialmente no segundo,


encontramos certas questões de carácter teórico que estabelecem,
digamos, uma plataforma intermediária entre a metodologia e a
epistemologia.

1.2.3. Epistemologia

Esta é definida por LALANDE como «o estudo crítico dos princípios,


hipóteses e resultados das diversas ciências, destinado a determinar a
sua origem lógica, o seu valor e o seu alcance objectivo.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Estuda o conhecimento em pormenor e a posteriori, mais na


diversidade das ciências e dos objectos que na unidade do espírito.

Pela análise desta definição, que peca, quanto a nós, por não tornar
nítido se para LALANDE esta disciplina enquadra ou não problemas
gerais do conhecimento, concluiremos, pondo de parte uma tal
questão, que a reflexão epistemológica é crítica, se coloca num certo
grau de abstracção teórica e visa as diferentes ciências, não enquanto
elas se vão constituindo, mas enquanto já constituídas.

Do que resulta não poder haver epistemologia sempre que se despreze


ou não se respeite a ciência existente e constituída.

A epistemologia não se faz a priori não lhe compete estabelecer


princípios, hipóteses e possíveis resultados da ciência que ainda não
existe, mas sim examinar esses três pontos na existente. Não lhe cabe
reflectir para, mas reflectir sobre.

No oposto, isto é, quando se analisa o grau de consciência e de


objectividade que o cientista tem relativamente à sua produção e
respectivo produto, verifica-se, as mais das vezes, que também a ciência
não está isenta de pré-juízos, ao abrigo de certos hábitos mentais:
COPÉRNICO, revolucionário na astronomia, não continua a acreditar
que o movimento natural dos corpos celestes é circular?

A crença de LAVOISIER no «calórico» não é estranha quando se pensa


que ele criou a química moderna? A ideologia dogmática de NEWTON
não é contraditória em relação à sua investigação prática de carácter
crítico?

Concluindo: a ciência não é «totalmente transparente», nem mesmo


para aqueles que a praticam. Para que a reflexão sobre ela a não
profane é preciso um espírito crítico que saiba também abrir-se à
crítica.

Estamos, pois, agora mais aptos a apreender claramente que a crítica


sobre a ciência constituída tem que ver, mesmo que indirectamente,
com o seu método, com os seus métodos; por isso a epistemologia,
ainda que situada num plano de abstracção mais elevado, não pode
deixar de ter em conta a metodologia.

Por sua vez, dado que a epistemologia sujeita a uma formalização a


matéria que retira da ciência constituída e esta engloba cientistas,
prática científica e suas coordenadas socioepocais, a epistemologia,
sem entrar directamente nesses campos, não podera, contudo,
permanecer totalmente divorciada da psicologia do conhecimento e da

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

psicologia das ciências, da sociologia do conhecimento e da sociologia


das ciências, da história das ciências, etc.

De outro modo, correrá o risco de ser incompleta e «desencarnada ».


Importa, mesmo assim, notar-se que se coloca numa outra zona de
abstracção, pelo que, embora reunindo elementos que aquelas
disciplinas lhe forneçam, as deve ultrapassar.

É por isso que, quando se afirma: «a epistemologia geral não existe


enquanto disciplina unificada. Situa-se na intersecção de preocupações
e de disciplinas muito diversas pelos seus objectivos e métodos», se
justifica plenamente aplicar-se-lhe o «título», bem sugestivo, de
«disciplina de encruzilhada».
O interesse pelo método não deve obscurecer nem obliterar a
importância de problemas como estes: O que torna científico um
conhecimento? O que caracteriza a abordagem do real feita pela
ciência? Como entender o progresso em ciência?

Cada ciência tem o seu método específico de estudo assim como de


investigação e a história não foge a regra, para entender a história, é
necessário conhecer as regras e os princípios com que esta é feita
(método) e reflectir sobre o seu modo de operar e a validade do seu
conhecimento epistemológico.

Assim, metodologia pode ser definida como sendo a lógica que estuda
os métodos das ciências enquanto epistemologia trata-se da teoria do
conhecimento com o objectivo de determinar ou explicar a origem
lógica de um conhecimento científico, o seu valor e objectivo.

O conhecimento histórico é producto da interação de duas entidades:


o objecto e o sujeito. O objecto do conhecimento é a entidade a ser
estudada e sobre a qual se produz o conhecimeto. No caso concreto da
história, essa entidade é o homem no tempo e no espaço tal como
refere a própria definição da história.

O sujeito do conhecimento é o sujeito que conhece ou estuda o objecto,


com o qual interage, indirectamente, por intermédio de marcas,
vestígios, artefactos e restos. É o sujeito-historiador que produz o
conhecimento que deve ser compreendido sob duas acepções a saber:
o sujeito da história e o sujeito do conhecimento.

O sujeito da história refere-se ao que foi alvo de atenção durante as


várias épocas da evolução historiográfica, caso concreto das figuras
centrais estudadas ao longo das épocas e que foram variando de acordo
com a visão dos escritores-historiadores ou concepção histórica.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Entretanto, o sujeito da história evolui de Deus, na Antiguidade Clássica,


até ao homem na sua generalidade, e no caso da Nova História.

O interesse pelo método não deve obscurecer nem obliterar a


importância de problemas como estes: O que torna científico um
conhecimento? O que caracteriza a abordagem do real feita pela
ciência? Como entender o progresso em ciência?

Cada ciência tem o seu método específico de estudo assim como de


investigação e a história não foge a regra, para entender a história, é
necessário conhecer as regras e os princípios com que esta é feita
(método) e reflectir sobre o seu modo de operar e a validade do seu
conhecimento epistemológico.

Assim, metodologia pode ser definida como sendo a lógica que estuda
os métodos das ciências enquanto epistemologia trata-se da teoria do
conhecimento com o objectivo de determinar ou explicar a origem
lógica de um conhecimento científico, o seu valor e objectivo.

O conhecimento histórico é producto da interação de duas entidades:


o objecto e o sujeito. O objecto do conhecimento é a entidade a ser
estudada e sobre a qual se produz o conhecimeto. No caso concreto da
história, essa entidade é o homem no tempo e no espaço tal como
refere a própria definição da história.

O sujeito do conhecimento é o sujeito que conhece ou estuda o objecto,


com o qual interage, indirectamente, por intermédio de marcas,
vestígios, artefactos e restos. É o sujeito-historiador que produz o
conhecimento que deve ser compreendido sob duas acepções a saber:
o sujeito da história e o sujeito do conhecimento.

Sumário

O conhecimento histórico é producto da interação de duas entidades:


o objecto e o sujeito. O objecto do conhecimento é a entidade a ser
estudada e sobre a qual se produz o conhecimeto. No caso concreto da
história, essa entidade é o homem no tempo e no espaço tal como
refere a própria definição da história.

O sujeito da história refere-se ao que foi alvo de atenção durante as


várias épocas da evolução historiográfica, caso concreto das figuras
centrais estudadas ao longo das épocas e que foram variando de acordo
com a visão dos escritores-historiadores ou concepção histórica.

Entretanto, o sujeito da história evolui de Deus, na Antiguidade Clássica,


até ao homem na sua generalidade, e no caso da Nova História.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Descreva as operações da análise crítica

Exercícios

1. Defina o método da história.


2. Explica a importância da crítica histórica.
3. Conceitua a epistemologia.
4. Diferencie análise da heurística.
5. Apresente o método da história

UNIDADE Temática 1.3. Tipos de documentos ou fontes de História

Introdução

Antes de analisar o uso das fontes históricas, é preciso apresentar o


conceito do que seria uma fonte histórica e, além disso, estabelecer
alguns marcos teóricos em que se apresenta o estudo histórico até os
dias actuais.

As observações que seguem, têm como objectivo fundamental situar a


importância das fontes para construção da história, compreendendo o
papel dessa disciplina na preservação e valorização dos bens culturais,
além de fornecer alguns elementos para o debate crítico da história.

Objectivos

Ao Terminar esta unidade deve ser capaz de:


 Identificar tipos de fontes de história;
 Conhecer as principais instituições arquivísticas;

A noção de fonte segundo Funari é originária do cientificismo que


exerceu os estudos durante o século XIX. No sentido etimológico a
palavra ‘fonte’ [Do lat. fonte] significa nascente de água, bica onde
escorre água potável... , que é o mesmo nas línguas que se originaram
esse conceito, no francês, source, e no alemão, quell, por exemplo.

No sentido metafórico, o termo exprime uma noção de origem, causa,


‘fonte de alguma coisa’. Assim como das fontes d’água, das fontes

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

documentais jorrariam informações a serem utilizadas pelo


pesquisador.

Tudo que antes era colectado como objecto de coleccionador, passou a


ser considerado não mais algo para simples deleite, mas, uma fonte de
informação, capaz de trazer novos dados, indisponíveis nos
documentos escritos.

Um sentido mais amplo da palavra é evidenciado por Chuva traduzindo


fonte como múltiplos objectos de estudos e enfoques no sentido de
marca, vestígio, uma pegada, alguma coisa que ficou de toda uma
vivência social, não importando qual seja ela. Uma edificação histórica,
por exemplo:

(...) é uma fonte que tem várias linguagens a serem decifradas – a


técnica construtiva; o aspecto estético; os usos que teve e a hierarquia
dos seus espaços internos, que informam sobre uma dada realidade; a
apropriação que dela se fez historicamente até os dias de hoje; a mão-
de-obra utilizada na época em que foi construída; as restaurações, se
teve, informando sobre novas visões a respeito do mesmo objecto.

No inicio do século XX a História, assim como a Arqueologia, passou por


mudanças conceictuais, com consequências profundas para o
entendimento das fontes históricas em geral.

A Arqueologia, contudo, passou a fornecer uma grande quantidade de


informações sobre os aspectos do passado, desenvolvendo com isso,
novos parâmetros críticos para o estudo da economia, política e
sociologia, voltados à colecta e interpretação desses registos.

Os traços, marcas, restos, pegadas e vestígios que nos permitem obter


conhecimentos sobre o passado humanos tomam em História o nome
científico de fontr histórica ou documento.

Fonte ou documento, refere-se a todo e qualquer tipo de vestígios que


nos chegou do passado e que testemunha a presença e a actividade do
homem de outras épocas, permitindo ao historiador reconstruir a vida
desses períodos.

Portanto, o discurso do históriador só pode ser feito através do uso de


meios intermediários entre o passado e o historiador, ou seja,
intermediários entre o sujeito do conhecimento e o objecto da História.
Estes intermediários são fontes, uma vez que que o passado é
inatingível.

O esquecimento manteve durante muito tempo os povos africanos fora


do campo dos historiadores ocidentais, para quem a Europa era, em si

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

mesma, toda a história. Na realidade, o que estava subjacente e não se


manifestava claramente, era a crença persistente na inexistência de
uma história na África, dada a ausência de textos e de uma arqueologia
monumental.

Portanto, parece claro que o primeiro trabalho histórico se confunde


com o estabelecimento de fontes. Essa tarefa está ligada a um problema
teórico essencial, ou seja, o exame dos procedimentos técnicos do
trabalho histórico.

A variedade das fontes da historia africana permanece extraordinária.


Dessa forma, devem‑se buscar de forma sistemática novas relações
intelectuais que estabeleçam ligações imprevistas entre setores
anteriormente distintos.

A utilizacao cruzada de fontes aparece como uma inovação qualitativa.


Uma certa profundidade temporal só pode ser assegurada pela
intervenção simultânea de diversos tipos de fontes, pois um facto
isolado permanece, por assim dizer, à margem do movimento de
conjunto.

A integração global dos métodos e o cruzamento das fontes constituem


desde já uma eficaz contribuição da África à ciência e mesmo à
consciência historiográfica contemporânea.

A curiosidade do historiador deve seguir várias trajetórias ao mesmo


tempo. Seu trabalho não se limita a estabelecer fontes. Trata‑se de se
apropriar, através de uma sólida cultura pluridimensional, do passado
humano. Porque a história é uma visão do homem actual sobre a
totalidade dos tempos.

1.3.1. O uso das fontes históricas

Se o contexto da história é o passado, as construções antigas e


representantes desse passado nos sugerem, de antemão, um
determinante histórico digno de salvaguardas, portanto, registros
imprescindíveis e indispensáveis na apresentação dos fatos.

O que, no entanto, difere umas das outras obras antigas, são os valores
atribuídos a elas, cuja relevância está diretamente ligada à cadeia
histórica na evolução cultural e artística em que estes bens se inserem.

Segundo os princípios conceiptuais que conduzem as ações


preservacionaistas, Kuhl nos aponta que eles se fundamentam no
respeito pela obra, pela sua materialidade, pelos seus aspectos
documentais e de conformação.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O primeiro documento internacional sobre restauração de bens


culturais, a Carta de Atenas (1931), prescrevia a necessidade dos países
inventariarem seus monumentos históricos e organizarem arquivos
onde seriam registrados os documentos.

Neste sentido, a credibilidade das pesquisas e de seus procedimentos


deve ter como fim a justificativa da valorização do bem como
patrimônio cultural.

O trabalho de catalogação e interpretação das fontes no restauro, cuja


finalidade é fornecer indícios autênticos de sua história, está presente
em quase todas as etapas do processo de preservação e conservação,
servindo o mesmo como fonte em potencial de dados que somam aos
já analisados

As etapas de pesquisas estão presentes em todos os momentos do


processo de restauração, compilando e gerando futuras fontes
documentais imprescindíveis para a perpetuação e cuidado com os
bens patrimoniais e, poder-se-ia dizer que, o restaurador é um
pesquisador que antes de executar uma tarefa, documenta todos os
fatos. Segundo Kuhl: “a abordagem teórico metodológica, associada ao
ato histórico-crítico, em que se baseia a teoria brandiana e o restauro
crítico, define restauração no campo disciplinar autónomo”.

É válido salientar, entretanto, que essas prorrogativas também fazem


do Restauro uma disciplina de caráter multidisciplinar, e a sua primeira
atividade, o exame ou diagnóstico, deve estar baseada em abordagens
históricas de caráter qualitativo e quantitativo, encarando o próprio
monumento como uma fonte primária. Segundo Kuhl:

A preservação deve ser consequência de esforços multidisciplinares que


envolvem acurada pesquisa histórico-documental, iconográfica e
bibliográfica, sensíveis estudos antropológicos e sociológicos,
pormenorizando levantamento métrico-arquitectónico e fotográfico
do(s) edificio(s) (ou empregar as modernas técnicas de laser scan em
três dimensões), exame de suas técnicas construtivas e dos materiais,
de sua estrutura, de suas patologias, e análise tipológica e formal.

Sobre esses fatores Argan faz uma observação a respeito da


compreenção e atenção ao uso das fontes pelo pesquisador-historiador
no seu exercício de trabalho.

Segundo ele o restauro, que no passado era considerado uma atividade


reservada a artistas mais ou menos especializados, atualmente é
considerada uma verdadeira ciência específica a que se dedicam, em
estreita colaboração na formulação da narrativa dos factos,

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

historiadores, físicos, químicos, biólogos, geólogos dentre outros


profissionais.

O conhecimento das bases históricas e conceiptuais sobre as quais os


homens se posicionaram e se posicionam em relação aos bens culturais
é extremamente importante.

Temos, com isso, a tarefa de: colectar, colecionar, expor, estudar,


possuir e ver, como atitudes metodológicas que implicam na
manutenção ou não das condições materiais e simbólicas do objecto.
Ao mesmo tempo, essas atitudes, produzem e reproduzem as noções
de valor e de autenticidade.

1.3.2. Tipos de fontes de história

Para Obenga, o conhecimento da língua egípcia é um pre‑requisito


indispensável para o conhecimeto da pré-história de África. Esse
idioma, que permaneceu vivo durante cerca de 5000 anos (se levarmos
em consideração o copta), apresenta‑se materialmente sob três
escritas distintas:
• Escrita hieroglifica, que se dividem em duas grandes classes: os
ideogramas e os fonogramas.
• Escrita hieratica, ou seja, a escrita cursiva dos hieróglifos, que
apareceu em torno da III dinastia (‑2778 a ‑2423); é sempre orientada
da direita para a esquerda e traçada com um cálamo sobre folhas de
papiro ou fragmentos de cerâmica e de calcário. Teve uma duração tão
longa quanto a dos hieróglifos (o texto hieroglífico mais recente data de
+394).
• Escrita demotica, uma simplificação da escrita hierática.
O problema da difusão da escrita egípcia na África negra amplia ainda
mais o aparato metodológico do historiador, abrindo perspectivas
totalmente novas à pesquisa histórica africana.

O documento histórico é na maioria das vezes, um documento escrito,


manuscrito ou impresso. Pode ser também um documento gravado ou
audiovisual, ou uma simples tradição oral, sem suporte material, que
alguém recolhe com vista à sua fixação.

Pode ainda ser um documento figurado, um vestígio material do


homem ( documento arqueológico, numismática, esfragístico) ou uma
paisagem portadora de marcas dos homens que trabalharam
(observação geográfica).

Todavia, se o documento figurado ou a observação geográfica não são


acampanhados de textos, a sua significação espacar-nos-á com
frequência. Por último notamos que o próprio historiador pode ainda
ser testemunha directa de certos factos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O sujeito do conhecimento depara com dificuldades na procura de


fontes, principalmente quando o passado é muito longíquo ( na maioria
das vezes não existem fontes primárias, nem testemunhos, daí o auxílio
da Arqueologia).

Em contrapartida, encontra muitas fontes e testemunhos diversos de


épocas mais recentes. Porém, essa é uma fase inicial do trabalho do
historiador. Segue-se uma série de passos, a que anteriormente
chmamamos de metodologia.

O uso das fontes históricas está diretamente ligado à necessidade de


reconstruir os factos que busquem evidenciar os aspectos estéticos e
históricos dos monumentos.

O universo documental que se dispõe para o trabalho de restauro é


vasto e requer do historiador-pesquisador uma erudição e sensibilidade
no tratamento das fontes, pois delas depende a construção convincente
do seu discurso.

Ao começar as análises das fontes históricas é preciso, no entanto,


conhecer os tipos e a origem, saber onde localizá-las, aprender técnicas
de levantamento, seleção e anotação, contextualizar o documento que
se coleta, cruzar fontes diversas, cotejar informações, justapor
documentos, relacionar texto e contexto, identificar mudanças e
permanências, dentre outras questões que solidifiquem o
embasamento do discurso histórico.

Segue abaixo uma tabela que exemplifica, de maneira resumida, os


tipos de fontes mais usuais na pesquisa histórica.

Quadro 1 – Tipos de Fontes Históricas


Tipos de fontes
Documentais Arqueológicas Impressas Orais Bibliográficas Audiovisuais
Fontes Fontes Selecção Narrat História Vídeo, Tv,
Primárias e primárias e de ivas, comentada: rádio,
secundárias secundárias: periódicos entre livros cinema, etc.
encontradas objectos, : jornais, vistas específicos e
em Arquivos sítios, registos, revistas bibliográficos
Publicos e construções , artigos
Particularers científicos
Fonte: Pusky, 2010.

O interesse pela pesquisa empírica deve, sempre, instrumentalizar as


atenções para a importância dos documentos, em um esforço contínuo

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

de nortear a ação e o discurso do historiador.

Para além de conhecer os tipos de fontes, as documentais, embora já


bastante evidenciadas na pesquisa historiográfica, ainda extrapolam as
vantagens de compreensão dos objectos, pois constituem riquíssimos
acervos primários que podem e devem ser investigados.

A pesquisa em cada arquivo, passo de grande importância no


desenvolvimento do projecto de restauro, e seu universo de acervo
documental, deve ser estabelecida de acordo com a metodologia de
trabalho e as perguntas que o historiador busca responder.

No sentido da metodologia do uso das fontes, como já observado, as


prescrições para a realização do projeto de restauração devem sempre
ser precedidas por um exaustivo estudo sobre o objecto, elaborado do
ponto de vista multidisciplinar, relactivo à análise da obra original,
assim como aos eventuais acréscimos e alterações.

As fontes históricas e seu estudo sistematizado servem para a


formulação de inventários de conhecimento, que reúnem informações
sobre a própria metodologia do trabalho funcionam como base para a
construção de um dossie sobre o monumento e o seu projecto de
intervenção.

A tabela resumida a seguir classifica, a título de exemplo, as principais


instituições arquivísticas que actualmente guardam acervos de caráter
permanente, com algumas sugestões de documentos interessantes
neles existentes.

23
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Quadro 2 - Lista das principais instituições arquivísticas


Arquivo Local Documentos
Arquivos do Arquivos Públicos Correspondência: ofícios e
Poder municipais e requerimentos ; Listas
Executivo estaduais e Arquivo nominativas; Matrículas de
Nacional classificação de escravos; Lista
de qualificação de votantes;
Documentos sobre imigração
e nucleos coloniais; Matrículas e
frequências de alunos;
Documentos de polícia;
Documentos sobre obras
públicas; Documentos sobre
terras.
Arquivos do Arquivos Públicos Actas; Registos
Poder municipais e
Legislativo estaduais, Câmaras
municipais
Arquivos do Arquivos Públicos Inventários e testamentos;
Poder municipais e Processos cívies; Processos
Judiciário estaduais, Tribunais Crimes
de Justiça
Arquivos Arquivo Nacional e Notas; Registo civil
cartoriais cartórios
Arquivos Igrejas e cúrias Registos paroquiais; processos;
eclesiásticos diocesanas correspondencias
Arquivos Acervos pessoais, Documentos particulares de
Privados familiares de grupos indivíduos, famílias, grupos de
de interesses e interesses ou empresas.
empresas.
Fonte: Pusky, 2010.

Sumário

Com objectivo de gerar conhecimento e identificação dos bens


culturais, anterior às decisões a respeito de como preservá-los, é que se
enquadra a tarefa dos que se dedicam ao campo da história da arte
(arquitetos, historiadores, antropólogos, etc) procurando a melhor
forma possível de evidenciar seu valor e autenticidade.

A restauração deve estar calcada nos mais distintos campos


disciplinares: arquitetura, arqueologia, biologia, geografia, física e,
sobretudo da história, esta, por sua vez, pode fornecer importantes
dados para o esclarecimento sobre a historiografia do bem.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O uso das fontes históricas no restauro se integra à elaboração do


discurso histórico e ao processo de intervenção interdisciplinarmente,
com uma única função, salvaguardar para futuros estudos dados de
importância fundamental na pesquisa documental.

É trabalho dos preservadores culturais, antes de tudo, conhecer,


traduzir e atribuir valores a partir de uma visão mais global do bem
cultural.

É valido, portanto, apontar que o tema dá suporte a inúmeras


observações e aprofundamentos, que caberiam num estudo mais
extenso.

Porém fica bastante clara a importância do tema na construção das


bases historiográficas, e da responsabilidade dos trabalhos dos
profissionais envolvidos extraírem significados para melhor
compreensão de uma dada realidade.

Quando tratamos do ensino de história, dialogamos diretamente com


duas áreas do conhecimento, uma que trata da história em si e sua
referência acadêmica, e outra que considera sua relação com a
aprendizagem e com a estrutura cognitiva do aluno.

Conciliar as prerrogativas teórico-metodológicas que envolvem estas


áreas é imprescindível.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Justifica os cuidados que se deve ter com as fontes orais

Exercícios

1. Defina fontes escritas.


2. Faça a classificação destas e descreva cada uma delas.
3. Descreva a visão do documento no período da História Nova.
4. Justifica os cuidados que se deve ter com as fontes orais.
5. As fontes arquelógicas são importantes para o continente
africano. Justifique a afiermação.

UNIDADE Temática 1.4. Objecto de estudo da História

Introdução

Já foi dito por Marc Bloch que a história é a ciência dos homens no
tempo. Oobjecto de estudo da história
25
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

é o próprio homem e sua relação com o meio geográfico, social e


técnico ao longo do tempo.

Estas relações dependem do próprio homem, estão sujeitas a leis


(económicas, demográficas, sociológicas, psicológicas) que
condicionam o comportamento humano.

O objecto da história deixou de ser o conhecimento do passado pelo


passado, passou a subordinar o conhecimento do passado à
compreensão do futuro. Alguns historiadores deduzem o objecto da
história ao conhecimento dos factos históricos.

O alargamento do objecto da história levou ao surgimento de dois


domínios a saber: do que é singular e não se repete e daduilo que se
repete e obedece a leis científicas (geográficas, económica er
psicológicas).

Objectivos:

Ao Terminar esta unidade deve ser capaz de:


 Identificar o objecto do estudo da história;
 Identificar o papel do homem no estudo da história.

Na abordagem do homem como objecto da história, três pespectivas


são abordadas, nomeadamente: o papel dos grandes homens; o papel
da consciência humana e o papel do homem individual e colectivo.

O papel dos grandes homens: uns defendem que a história é individual,


deve ter em conta os grandes homens e não só a história política,
económica, mas também a história no seu todo, para outros, as
circunstâncias históricas gerais são importantes que as individuais. Para
o colectivismo a história é feita pelas massas, sem grande importância
para as acções individuais. A história é feita pela correlação entre
grandes personalidades e as massas.

Os grandes homens não aparecem ao acaso, mas por necessidade e no


momento necessário, o aparecimento de grandes homens tem a ver
com os desígnios da providência, dentro do normal desínio da natureza
e são instrumentos nas maos do espírito, exemplo: Sto Agostinho, Kant,
Hegel, Mondlane, Machel e outros.

1.4.1. O papel histórico da consciência humana

O indivíduo não é a causa, mas o resultado da evolução histórica. E esta


é divida às forças objectivas de carácter mais ou menos necessitante
(objectivismo colectivismo).

26
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Do ponto de vista do objectivismo colectivismo, um factor de natureza


trans-individual é que produz e encaminha a história.

1.4.2. O papel do homem individual e colectivo

O indivíduo é o agente histórico por excelênca acção quwe ia e é da sua


acção que resulta o processo histórico (subjectivismo individualista). O
homem cria o facto e o julga.

O meio natural e social é menos importante (história narrativa). O


indivíduo é o resultado da evolução histórica (objectivismo colectivista).

Lucien Febvre, na sua obra intetulada Combates pela História, refere


que não há história económica e social, mas sim história na sua unidade.

Ela é social por definição, considera a história o estudo cientificamente


conduzido, das diversas criações dos homens de outrora, tomadas na
sua data, no quando das sociedades extremamente variadas e,
contudo, comparáveis.

Sumário

Tal como constatou, o objecto da história variou ao longo do tempo,


desde a narrativa, pragmática à holistica, facto que levou alguns
historiadores a questionarem a cientificidade da história. Assim sendo,
os historiadores afirmam que o objecto da história são
fundamentalmente as ações humanas.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Explica o processo de evolução do objecto da história, referindo-


se aos aspectos tidos como objecto da história.

Exercícios

1. Dê o conceito de objecto de história.


2. Descreva o papel do homem como objecto da história.
3. Relacione facto histórico e o papel do historiador.
4. Facto histórico é toda a manifestação da vida dos indivíduos tal
como das sociedades que são escolhidas de entre muitas outras
outras manifestações. Comente a afirmação.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

UNIDADE Temática 2 - Hominização I parte


UNIDADE Temática 2.1. A hominização: problemas gerais

Introdução

O homem é um mamífero, mais exactamente, um mamífero


placentário. Pertence à ordem dos Primatas. Os primatas diferenciam‑
se dos outros mamíferos placentários pelo desenvolvimento precoce do
cérebro, pelo aperfeiçoamento da visão, que se torna estereoscópica,
pela redução da face, pela substituição das garras por unhas chatas, e
pela oposição do polegar aos outros dedos.

Objectivos

Ao completar esta unidade você será capaz de:


 Identificar os critérios paleotológicos;
 Identificar as principais fases da evolução do Homem;
 Compreender a datação por carbono 14;
 Conceituar homenídeo.

I Parte
2.1.1. Os dados paleontologicos
2.1.2. Critérios paleontologicos

Os primatas classificam‑se em prossímios e símios. O homem pertence


a este segundo grupo, que se caracteriza por um aumento da estatura,
pelo deslocamento das órbitas na face e consequente melhoria da
visão, e pela independência das fossas temporais.

Uma repentina proliferação de formas ocorre entre esses símios no


Oligoceno Superior, há cerca de 30 milhões de anos, o que leva a supor
que a diferenciação da família Hominidae poderia datar dessa época.

O Propliopithecus do Oligoceno Superior apresenta alguns discretos


sinais, o que explica o entusiasmo sem dúvida prematuro de certos
autores, em considera‑lo como pertencente ao nosso género.

As tendências observadas no Ramapithecus são mais relevantes: seu


cérebro parece ter atingido 400 cm³, o tamanho da face é reduzido, a
arcada dentária é arredondada, e os incisivos e caninos, também
reduzidos, estão implantados verticalmente.

Portanto, as tendências evolutivas do Australopithecus não deixam


margem a dúvidas. Esses bípedes permanentes têm pés humanos, mãos

28
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

modernas, cérebro com nítido aumento de volume, caninos pequenos


e face reduzida. Não podemos deixar de considera‑los hominídeos.

O género Homo, fim da cadeia, distingue‑se dos Australopithecus por


aumento da estatura, melhoria na postura ereta, crescimento do
volume do cérebro, que, a partir da espécie mais antiga, pode atingir
800 cm³, e transformação da dentição com maior desenvolvimento dos
dentes anteriores em relação aos laterais, em consequência da
mudança do regime alimentar, de vegetariano para hominívoro.

Os mais antigos primatas são os prossímios, grupo hoje representado


pelos lêmures de Madagáscar, os tarsídeos das Filipinas e da Indonésia
e pelo pequeno galago da África tropical.

A partir do Eoceno, os símios se dividiram em dois grandes grupos: os


platirrinos ou macacos do Novo Mundo, que têm um septo nasal largo
e 36 dentes, e os catarrinos ou macacos do Velho Mundo, que têm um
septo nasal estreito e 32 dentes.

Os catarrinos, por sua vez, dividiram‑se em um certo número de


famílias: Cercopithecidae, Pongidae, Hominidae, Hylobatidae,
Oreopithecidae, Silvapithecidae, Gigantopithecidae, etc.

2.1.3. Entre 20 e 40 milhoes de anos atrás

A falta de evidências torna difícil saber o que se preparava no Eoceno e


no Oligoceno, entre 20 e 40 milhões de anos atrás.

Entretanto o Faium, jazida muito rica situada a algumas dezenas de


quilómetros ao sul do Cairo, revelou às várias expedições que ali foram
pesquisar uma incrível variedade de primatas: o Parapithecus, o
Apidium, o Oligopithecus, o Propliopithecus, o Aeolopithecus, o
Aegyptopithecus.

O Parapithecus e o Apidium têm, como característica interessante três


pre‑molares, isto é, possuem 36 dentes, como os prossímios e os
macacos do Novo Mundo, os platirrinos. São, portanto, ancestrais dos
catarrinos, ou protocatarrinos.

Assim, o nosso primeiro olhar para o passado revela uma espécie de


estágio introdutório dos pre‑hominídeos, o protocatarrino com 36
dentes, representado por aqueles três tipos, Parapithecus,
Amphipithecus e Apidium.

O Oligopithecus, o Propliopithecus, o Aeolopithecus, o Aegyptopithecus


têm dois pre‑molares. São catarrinos propriamente ditos com 32
dentes.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O Oligopithecus, pequeno primata de 30 cm de altura, tem molares de


tipo primitivo; é considerado ancestral dos cercopitecóides e é o mais
antigo dos primatas conhecidos com 32 dentes.

O Aeolopithecus tem caninos enormes e molares com cúspides


independentes; poderia ser o predecessor dos gibões. O Pliopithecus do
Mioceno da Europa e o Limnopithecus do Mioceno do Quênia e de
Uganda assemelham‑se a ele.
O Aegyptopithecus também tem grandes caninos e pre‑molares
heteromorfos. É o ancestral do Dryopithecus encontrado em todo o
Velho Mundo, e provavelmente também dos chimpanzés.

O Propliopithecus tem caninos mais frágeis e um primeiro pre‑molar


inferior com uma cúspide proeminente e outra parcialmente

desenvolvida, o que se considera como prenúncio da homomorfia dos


dois pre‑molares inferiores, característica dos hominídeos.

Qualquer que seja a relação de parentesco entre esses primatas, o


interessante do período está em mostrar que, há 30 milhões de anos,
havia no nordeste da África uma grande variedade de pequenos
primatas prenunciando todos os que existem hoje: Cercopithecidae,
Pongidae, Hylobatidae e Hominidae.

2.1.4. Entre 10 e 20 milhoes de anos atras

Outros progressos aconteceram nesse período. No Quénia e em


Uganda, L.S.B. Leakey descobriu os restos de um pequeno primata,
Kenyapithecus africanus, que classificou como hominídeo.

Muitos autores, porém, encontraram nele características dos grandes


macacos. No Quénia, em Fort Ternan, Louis Leakey encontrou também
o que considera uma outra espécie do mesmo género, Kenyapithecus
wickeri, datada de 14 milhões de anos. Outros autores, baseando‑se
em outras características ou interpretando de modo diferente as
características descritas, classificam ainda esse primata como Pongidae.

Em 1971, em Adis Abeba, declarou que a maior parte das ossadas de


animais descobertas em associação com o Kenyapithecus wickeri tinha
sido quebrada artificialmente.

É, sem dúvida, impressionante imaginar esse pequeno primata africano


escolhendo pedras pontiagudas ou cortantes para preparar seu
alimento. Teoricamente, pelo menos, isso não é impossível.

Desde 1934, conhecemos um outro primata, Ramapithecus puniabicus,


descoberto nas formações
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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

miopliocênicas do norte da Índia e do Paquistão e que também tem de


8 a 14 milhões de anos.

Sua face curta, sua mandíbula maciça com ramo ascendente vertical, a
implantação vertical de seus caninos em processo de redução e de seus
pequenos incisivos, o nascimento tardio de seus molares e a
homomorfia de seus pre‑molares inferiores levaram muitos autores,
mas nem todos, a classifica‑lo como um hominídeo.

Um enorme primata, o Gigantopithecus, foi encontrado na China e na


Índia. Chama‑se Gigantopithecus blacki na China e Gigantopithecus
bilaspurensis na Índia, onde sua idade é estimada em alguns milhões de
anos.

Tem incisivos pequenos e caninos não muito grandes, mas que não são
homínidas; seu primeiro pre‑molar inferior tem duas cúspides; seus
dentes laterais são grandes, fortes e mostram um desgaste
considerável; sua face é curta e sua mandíbula possante tem um ramo
ascendente longo e vertical.

Mas, hoje, praticamente todos os autores o rejeitam como possível


ancestral do homem. Pesquisas realizadas na Grécia sob a direção de L.
de Bonis descobriram um primata de 10 milhões de anos, o
Ouranopithecus macedoniensis, que poderia ser o ancestral do
Gigantopithecus.

Para terminar, relacionaremos um outro primata, o Oreopithecus que,


há 12 milhões de anos, balancava-se nos galhos das florestas da
Toscana, e provavelmente também do Quénia, Descoberto em 1872 por
Gervais, foi descrito por um excelente paleontólogo suíço, Johannes
Hürzeler, que retomou as escavações em Grossetto, na Toscana, e teve
a sorte de encontrar um esqueleto praticamente inteiro de
Oreopithecus bambolii.

Este tem uma face curta; os ossos do nariz são salientes em relação ao
perfil facial; os incisivos e caninos são pequenos; o primeiro pre‑molar
inferior é bicúspide; a bacia é a de um bípede, mas os membros
anteriores são extremamente longos. O Oreopithecus talvez seja um
pequeno hominídeo; em todo caso, é um primata braquial8, adaptado
à vida nas florestas.

2.1.5. Entre 10 e 1 milhao de anos atrás

No Plioceno e no Pleistoceno, entre 10 e 1 milhão de anos atrás,


encontramo‑nos na presença de um grupo ao mesmo tempo polimorfo
e muito localizado, os australopitecíneos. Um breve histórico de sua

31
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

descoberta vai‑nos permitir, também, delimita‑los geograficamente.

2.1.6. Histórico

Foi em 1924 que o professor Raymond Dart descreveu e batizou o


primeiro espécime australopitecíneo. Tratava‑se do crânio de uma
criança de cinco a seis anos, descoberto na brecha de uma caverna de
Bechuanalândia (Botsuana) chamada Taung.

A essa descoberta seguiram‑se muitas outras, feitas a partir de 1936


pelos professores R. Broom e J. Robinson, e depois pelos professores
Dart e P. Tobias em quatro cavernas do Transvaal: Sterkfontein,
Swartkrans e Kromdraai, perto de Joanesburgo, e Makapansgat, perto
de Potgietersrus.

Em 1939, o professor alemão L. Kohl Larsen descobriu em Garusi ou


Laetolil, a nordeste do lago Eyasi, na Tanzânia, um maxilar de
Australopithecus, estendendo a área de distribuição desses hominídeos
até a África oriental.

Os trabalhos nesse local foram retomados por Mary Leakey com muito
sucesso, pois ela descobriu uma série bastante interessante de
hominídeos fósseis relacionados provavelmente com os
australopitecíneos.

Em seguida, vieram os célebres trabalhos da família Leakey na garganta


de Olduvai, na Tanzânia. De 1955 para cá, os Leakey descobriram
aproximadamente setenta espécimes relacionados a hominídeos,
alguns notáveis.

Em 1964, R. Leakey e G. Isaac acrescentaram uma terceira jazida aos


sítios paleontológicos da Tanzânia ao encontrar uma mandíbula de
australopiteco perto do lago Natron. Em seguida, as descobertas
deslocaram‑se para o norte.

Em 1967, uma expedição internacional retomou a exploração das


jazidas paleontológicas na margem ocidental do baixo vale do rio Omo,
na Etiópia.

Essa expedição era composta por três equipes: uma francesa; uma
americana; e uma do Quênia, pelo Dr. Leakey e seu filho Richard. Esses
sítios paleontológicos descobertos no início do século por viajantes
franceses haviam sido explorados em 1932‑1933 por uma expedição do
Museu Nacional de História Natural de Paris, sob a direção de C.
Arambourg.

32
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Em nove temporadas, as equipes francesa e americana conseguiram um


resultado realmente excepcional: aproximadamente quatrocentos
restos de hominídeos.

Nas margens sudoeste do mesmo lago, uma expedição americana de


Harvard, sob a direção de B. Patterson, explorava, na mesma época, três
pequenas jazidas, em duas das quais encontram‑se restos de
hominídeos.

Para finalizar, em 1975 e 1976, após nove anos de pacientes


escavações, Jean Chavaillon descobriu em Melka Konturé, perto de Adis
Abeba, três interessantes fragmentos associados às indústrias
olduvaienses e acheulenses.

Esse conjunto de descobertas limita a área de distribuição do


Australopithecus às regiões oriental e meridional da África.

2.1.6. Datação por carbono 14

A mais antiga dessas jazidas é a de N’Gororá na bacia do lago Baringo,


no Quénia, que tem de 9 a 12 milhões de anos. Apenas um molar
superior de hominídeo de tipo indeterminado foi encontrado, mas,
evidentemente, temos muita esperança em futuras escavações nesse
sítio.

A coroa do molar encontrado é baixa como a dos dentes de


Ramapithecus, mas a estrutura de suas cúspides se assemelha à dos
australopitecíneos. Trata‑se possivelmente de um Sivanpithecus.

Em uma outra jazida da bacia do lago Baringo, Lukeino, datada de 6 a


6.500.000 anos, também foi encontrado um molar. É um molar inferior
bastante semelhante ao do Australopithecus.

A jazida de Laetolil, na Tanzânia, foi estimada em pelo menos 3.500.000


anos; seus hominídeos fósseis são espantosamente semelhantes aos
encontrados em Radar, na região Afar etíope, e datam de 2.800.000 a
3.200.000 anos.

As jazidas do leste do lago Turkana, onde foram encontrados restos de


hominídeos, abrangem um período entre 3 e 1 milhão de anos.

Através da comparação das faunas, as mais antigas cavernas de


australopitecíneos da África do Sul, Makapansgat e Sterkfontein, foram
recentemente datadas de 2,5 a mais de 3 milhões de anos, estimativa
essa ainda muito discutida.

33
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Na garganta de Olduvai, na Tanzânia, encontram‑se restos de


hominídeos e de suas indústrias, ao longo de 100 m de depósito,
datados de 1.800.000 anos na base.

Duas outras cavernas com restos de australopitecíneos na África do Sul,


Swartkrans e Kromdraai, talvez sejam contemporâneos das camadas
mais antigas de Olduvai ou pouco anteriores (de 2 a 2,5 milhões de
anos).

Finalmente, em Chesowanja, na bacia do lago Baringo (Quênia), no sítio


do lago Natron (Tanzânia) e talvez na brecha de Taung (África do Sul),
encontram‑se sem dúvida os mais jovens australopitecíneos, pois mal
ultrapassam 1 milhão de anos.

Os australopitecíneos, portanto, parecem ter surgido entre


aproximadamente 6 e 7 milhões de anos atrás e ter desaparecido há
cerca de 1 milhão de anos.

Vários hominídeos, foram descoberto nestes períodos, alguns


contemporâneos entre si. Um deles é chamado Australopithecus
robustus, ou Paranthropus, ou Zinjanthropus. Um outro é chamado
Australopithecus gracilis, ou Australopithecus propriamente dito, ou
Plesianthropus, ou Paraustralopithecus.

Um terceiro é chamado Homo habilis, ou Australopithecus habilis.


Enfim, um quarto é chamado Homo erectus, Telanthropus ou
Meganthropus.

2.1.7. Os hominideos

a) Australopithecus robustus: foi encontrado na África do Sul em


cavernas de 2‑2,5 milhões de anos, no vale do Omo (Etiópia), no leste
do lago Turkana (Quênia), e em Olduvai, com aproximadamente
1.800.000 anos, e em Chesowanja, com 1.100.000 anos. É chamado
robusto por ser realmente mais forte e maior que os outros. A
morfologia craniana revela um aparelho de mastigação possante: com
efeito, seus molares e pre‑molares são enormes.

O corpo é mais maciço que o de outras espécies de Australopithecus.


Para uma altura de 1,55 m, seu peso é estimado entre 35 e 65 kg. A
locomoção sobre os membros posteriores não era perfeita, pois os
fêmures têm apófises pequenas e colos longos. A capacidade craniana
foi estimada em 530 cm³ tanto para os espécimes de Swartkrans como
para os de Olduvai.

b) Australopithecus gracilis: foi descoberto em Makapansgat e


Sterkfontein, na África do Sul. Acredita‑se ter sido encontrado também

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

no Omo e em Afar (Etiópia), em Garusi ou Laetolil (Tanzânia) e em


Lothagam (Quênia).

Estima‑se sua altura entre 1 e 1,25 m, e seu peso entre 18 e 31 kg. A


face é mais proeminente que a do Australopithecus robustus. As
arcadas supraorbitárias, moderadamente desenvolvidas, sustentam
uma fronte relativamente desenvolvida. Os incisivos são espatulados e
implantados verticalmente; os caninos, pequenos, assemelham‑se a
incisivos.

c) Homo habilis: foi descrito em Olduvai (Tanzânia), em 1964 e talvez


tenha sido encontrado igualmente no Omo (Etiópia), na margem leste
do lago Turkana e em Kanapoi (Quênia). Seus dentes laterais mostram
dimensões menores que as do Australopithecus gracilis da África do Sul.

Esses dentes têm, aliás, proporções diferentes: são mais alongados e


mais estreitos. Com base nos parietais, sua capacidade endocraniana
foi estimada em 680 cm³; um crânio encontrado na margem leste do
Turkana tem um volume de quase 800 cm³. Por essas tendências
evolutivas dos dentes e do cérebro, parece tratar‑se de um ser mais
próximo de nós que o Australopithecus.

d) O Homo erectus: os pesquisadores descobriram o Homo erectus,


hominídeo mais evoluído que todos os anteriores, em Swartkrans, na
África do Sul, com 2.500.000 anos; em Olduvai, na Tanzânia, com
1.500.000 anos; na margem leste do lago Turkana, no Quênia, com
1.500.000 anos; em Melka Konturé, em Bodo e no Omo, na Etiópia, com
500.000‑1.500.000 anos.

O Hominídeo de Olduvai tem uma mandíbula menor e uma dentadura


20% mais reduzida que a do Homo habilis; o Hominídeo tem uma arcada
supraorbitária proeminente.

A leste do lago Turkana, no Quênia, um grande número de descobertas


guarda parentesco com essa espécie em evolução do gênero Homo.

Devemos citar, em particular, a recente descoberta de três crânios de


épocas diferentes, que ilustram muito bem o desenvolvimento das
tendências evolutivas no seio dessa espécie.

Comparações feitas em Cambridge por Tobias e von Koenigswald entre


peças originais javanesas e tanzanianas permitiram concluir que há uma
identidade morfológica entre o mais antigo Homo habilis, e o
Meganthropus palaeojavanicus e talvez o Hemianthropus peii da China.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Do mesmo modo, concluíram que existe uma identidade morfológica


entre o Homo habilis mais recente (Hominídeo ) e o Pithecanthropus IV,
o Sangiran B e o Telanthropus capensis.

2.1.8. Industrias da época

Pela primeira vez na história dos Primatas esses restos se encontram


associados a utensílios fabricados.

Nas jazidas do Omo, a expedição francesa descobriu, em 1969, alguns


utensílios de pedra e de osso com mais de 2 milhões de anos. No ano
seguinte, na margem leste do lago Turkana, a expedição do Quénia
descobriu, numa camada vulcânica de 2 milhões de anos, uma indústria
de pedra e de osso semelhante aos utensílios do Omo.

Mais recentemente, as missões americana e francesa conseguiram


assinalar doze camadas arqueológicas de 2 milhões de anos.

Pode‑se afirmar que em três anos, devido a essas descobertas da bacia


pliopleistocênica do lago Turkana, a idade dos primeiros instrumentos
lascados recuou para mais de 2.500.000 anos, talvez mesmo 3 milhões,
ultrapassando em quase 2 milhões de anos a idade das mais antigas
indústrias conhecidas até então.

Essa primeira indústria da história é constituída por uma grande


quantidade de lascas obtidas artificialmente por percussão e utilizadas
por causa de seu gume, de seixos cuja ponta ou gume foi aguçado e de
ossos ou dentes trabalhados ou utilizados diretamente, quando sua
forma assim o permitia (por exemplo, caninos de hipopótamos ou de
suínos).

Em Makapansgat, na África do Sul, foi descoberta uma indústria de


utensílios feitos de ossos, chifres e dentes – qualificada, por essa razão,
de “osteodontoquerática” – que parece ser também muito antiga; isso
poderá ser confirmado caso as recentes tentativas de correlações entre
as cavernas sul‑africanas e as grandes jazidas leste africanas revelarem
‑se exactas.

De qualquer modo, as constatações que podemos fazer são as mesmas


que para a bacia do lago Turkana: os diversos tipos de utensílios
encontram‑se reproduzidos em série, o que prova que já têm uma
história.

Em Hadar, H. Roche descobriu recentemente uma indústria de seixos


trabalhados, semelhante à de Olduvai, numa camada que pode ser
datada de 2.500.000 anos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Escavando o nível mais antigo de Olduvai, o Dr. Leakey notou, um dia,


uma grande acumulação de calhaus de basalto; à medida que a
escavação progredia, ele percebeu que esses calhaus, longe de estarem
espalhados aleatoriamente, ordenavam‑se em pequenos montes,
formando um círculo.

É possível que cada um desses montes servisse para calçar uma estaca.
Se imaginarmos um círculo de estacas ou de arcos, e peles ou folhagens
estendidas de um a outro, poderemos ser tentados a ver naqueles
montículos os restos de uma construção. Estaríamos, então, na
presença de uma estrutura de habitação de uns 2 milhões de anos!

Alguns pretendem que o Australopithecus robustus tenha sido o macho


do Australopithecus gracilis. Outros pensam que o Homo habilis era um
Australopithecus gracilis um pouco mais jovem e mais evoluído que o
sul‑africano.

Dessa aparente confusão surge, todavia, uma tese muito clara. Foi no
interior desse grupo de Australopithecus – de início limitados ao leste e
ao sul da África, e em seguida (sob a forma de Australopithecus ou sob
forma já mais evoluída) estendendo‑se até a Ásia ao sul do Himalaia –
que apareceram o gênero Homo e o utensílio fabricado.

Este logo se torna a característica distintiva de seu artesão; vários tipos


de instrumentos são rapidamente criados para finalidades precisas; sua
fabricação é ensinada.

Por último, aparecem estruturas de habitação. E a partir desse ponto de


vista que se pode falar de uma origem africana da humanidade.

2.1.9. O último milhão de anos

O último milhão de anos viu nascer o Homo sapiens e assistiu, durante


os últimos séculos, à sua alarmante proliferação. Foram necessários 115
anos para que a população mundial passasse de um bilhão para 2
bilhões de indivíduos, 35 anos para que atingisse os 3 bilhões e mais 15
anos para que chegasse aos 4 bilhões. E a aceleração continua...

Sumário

O homem aparece, portanto, ao fim de uma longa história, como um


primata que um dia aperfeiçoa o utensílio que vem usando já há muito
tempo.

Utensílios fabricados e habitações revelam de súbito um ser racional


que prevê, aprende e transmite, constrói a primeira sociedade e lhe dá
sua primeira cultura.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Atribuiu‑ se recentemente a idade de 2 milhões de anos a certos restos


fósseis de hominídeos de Java. Seixos lascados de várias jazidas do Sul
da França foram, em alguns casos, considerados daquela mesma idade.

Mas, no actual estágio dos nossos conhecimentos, a África continua


vitoriosa pelo número e importância das descobertas de tão remota
antiguidade.

E como se, há 6 ou 7 milhões de anos, nascesse no quadrante sudeste


do continente africano um grupo de hominídeos denominados
australopitecíneos, e, entre 2,5 e 3 milhões de anos atrás, emergisse
desse grupo polimorfo um ser, ainda Australopithecus ou já Homem,
capaz de trabalhar a pedra e o osso, construir cabanas e viver em
pequenos grupos, representando, através de todas as suas
manifestações, a origem propriamente dita da humanidade criadora, do
Homo faber.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Explique a importância da datação por carbono 14 para o uso de


fontes arquelógicas.

Exercícios

1. Descreva a constituição da indústria na pré-história


2. Descreve o Hominídeo de Olduvai
3. Dida onde é que foi descoberta a indústria de utensílios feitos
de ossos, chifres e dentes.
4. Diferencie homo habilis e erectus.
5. Em quantos grupos se clssificam os primatas? Identifique-os.

Unidade Temática 2.2. A hominização II Parte -


Problemas gerais.
2.2.1. Os dados arqueologicos

Introdução

Ao tratar do problema da “hominização” na África, o procedimento do


pre‑historiador é bastante diferente daquele empregado pelo
paleontólogo.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Para este último, a hominização é o desenvolvimento progressivo do


cérebro que permite ao homem conceber e criar, aplicando técnicas
cada vez mais elaboradas, um conjunto de utensílios tão diversificado e
eficiente que multiplica, ao longo dos milénios, sua ação sobre o meio
ambiente, a ponto de romper, em seu próprio proveito, o equilíbrio
biológico.

A posição do pre‑historiador justifica‑se: o verdadeiro missing link (elo


perdido) não é a forma intermediária entre australopitecíneos e
pitecantropíneos, entre o homem de Neandertal e o Homo sapiens.

Objectivos

Ao completar esta unidade você será capaz de:


 Conceituar hominídeo;
 Identificar os pricnipais utensílios utilizados na época;
 Responder as três perguntas sobre utensílios da época.
 Conhecer os principais dados arquelógicos.

Portanto, se para o paleontólogo existe um “limiar” da hominização o


“Rubicão cerebral”, que o Professor Vallois definiu como sendo a
capacidade cerebral de 800 cm³ –, para o pre‑historiador existe um
“limiar técnico” que, uma vez transposto, abre o caminho do progresso
até nós.

A definição desse limiar exige a solução de dois problemas: como e


quando. O primeiro problema implica eliminar todas as causas naturais
para poder reconhecer no utensílio a mão do homem. O segundo
implica dispor de esquemas cronológicos que permitam datar, com um
grau de aproximação aceitável, as mais remotas evidências da indústria
humana.
Até o presente momento, somente a África forneceu respostas para
esses dois problemas.Visto que a teoria do monogenismo é
universalmente aceita, a África é considerada hoje como o berço da
humanidade.

Esse “berço sobre rodas” –segundo a definição espirituosa do Abade


Breuil –, que por muito tempo se moveu entre os picos do Pamir e as
planícies do Eufrates, fixou‑se, por enquanto, na África oriental. Esse
fato teria ocorrido há uns 3 milhões de anos, no mínimo.

Na verdade, o Antigo Testamento (Livro do Gênesis) situa o Paraíso


terrestre, o Éden, numa paisagem de jardins e plantas cultivadas.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Deus destinava Adão à agricultura e à criação de animais, a um gênero


de vida “neolítica” numa região onde todo um período Paleolítico iria
pouco a pouco se revelar.

O pre‑historiador da África deve, antes de tudo, responder a três


perguntas:
1) O utensílio é, sem sombra de dúvida, um critério de hominização?
2) O utensílio nos permite delimitar o início da hominização?
3) O utensílio humano, no estado de preservação em que chegou até
nós, pode ser identificado com toda a segurança?

2.2.2. O utensilio é sem sombra de duvida, um criterio de


hominizacao?

Os dados desse problema são em grande parte de origem africana. Nos


últimos anos de sua vida, o Abade Breuil, bastante impressionado com
o comportamento de certos animais, confiou‑me que perguntava a si
mesmo se o utensílio realmente marcaria a transposição do limiar da
hominização, e se não deveríamos escolher a arte como critério, o que
equivaleria a distinguir um Homo verdadeiramente sapiens, o pintor de
Lascaux, nosso ancestral directo, de uma série de seres industriosos
faber, que o teriam precedido.

Como disse sabiamente Madame Tetry, o uso de utensílios que não


sejam órgãos do corpo, considerados como “utensílios naturais”, não é
característica exclusiva nem do homem, nem mesmo dos primatas.

Comprovam esse facto a vespa amófila e a formiga cortadeira, entre os


insetos; o tentilhão das ilhas Galápagos, a gaivota, o abutre, o urubu, o
tordo cantor, entre as aves; a lontra‑do‑mar, o castor e muitos outros
animais. Na ordem dos primatas, o chimpanzé é o vizinho mais próximo
do homem.

Quanto às pedras, utilizam‑nas para rachar os frutos e, assim como


fazem com os bastões, para história da África afugentar os predadores
rivais, atirando‑as por cima e por baixo do braço.

E, ainda, comunicam‑se entre si através de sinais sonoros. Observações


semelhantes foram feitas em relação aos gorilas de Ruanda.

Desse modo, para que um utensílio possa ser considerado critério de


hominização, não basta o conceito do emprego de um objeto externo
aos “utensílios naturais” do ser vivo.

Devemos considerar necessariamente o aspecto da transformação


deliberada, da “preparação” desse instrumento. Essa concepção do

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

utensílio vai‑nos permitir dar uma resposta afirmativa à terceira


pergunta, mas não à segunda.

2.2.3. O utensilio nos permite delimitar o inicio da hominizacao?

Na verdade, o utensílio não nos permite delimitar o início da


hominização. Em primeiro lugar porque o que chegou até nós foram
apenas ossadas fósseis e pedras.
E, ao mesmo tempo, é tão indemonstrável quanto plausível o facto de
que a árvore tenha oferecido aos primeiros hominídeos seus primeiros
instrumentos na savana arborizada dos planaltos africanos.

Está claro que, se a pedra que a mão humana apanhou e atirou não
guardou nenhum traço visível dessa utilização, mesmo o seixo lascado
pode ser um produto da natureza: as quedas d’água dos rios e as
ressacas do mar fragmentam as pedras de modo que nada as diferencia
das que foram deliberadamente lascadas pelo homem.

2.2.4. O utensilio humano pode ser identificado?

Concluindo do que acima expusemos, devemos nos limitar a resolver o


terceiro problema, que consiste em provar a ação intencional do
homem sobre os “utensílios” mais rudimentares, menos elaborados.

Só a África fornece material suficiente para essa pesquisa, que se


concentrará em duas áreas: o osso e a pedra.

a) A indústria osteodontoqueratica.
A hipótese formulada em 1949 de que uma “Idade do Osso” poderia ter
precedido a “Idade da Pedra”. Teria havido um período “Pre‑Litico”
anterior ao Paleolítico.

Antes das descobertas feitas em 1955 (África do Sul), em 1959‑ 1960


(Olduvai, Tanzânia), em 1969 (Omo, Etiópia) e em 1971 (lago Rodolfo,
Quênia), não se conhecia nenhuma indústria lítica associada às jazidas
de australopitecíneos.

Teria existido, portanto, um estágio osteodontoquerático, pre‑lítico,


depois paleolítico, seguido da Pebble Culture e das indústrias de bifaces,
o qual marcaria o início de uma “cultural implemental activity”.

Tal hipótese deveria, evidentemente, levantar ardentes discussões em


torno do tema “caçador ou caça”. Para alguns, todos os ossos, inclusive
os dos australopitecíneos, não passam de restos de banquetes de
carnívoros.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Outros os consideram como restos acumulados em covis de hienas, o


que não corresponde aos hábitos desse animal. Outros ainda os
atribuem a porcos‑espinhos.

Embora sendo de análise mais difícil, sabemos que ela existe, e em


nenhum outro lugar é, mais antiga que na África; contudo, não está
provada a existência de um estágio “pre‑lítico”.

b) A indústria lítica

Desde que a hipótese dos “eólitos” foi abandonada, os seixos lascados


da assim chamada Pebble Culture representam a mais antiga indústria
lítica conhecida.

Portanto, os problemas das indústrias do osso e da pedra em sua origem


são os mesmos. Nenhuma prova tecnológica ou morfológica pode ser
obtida.

Sumário

Não há nenhum sinal “clássico” de ação humana. De facto, o único


argumento positivo é a existência inexplicável de lascas junto aos restos
do Kenyapithecus.

Mas a eliminação do trabalho da natureza não afasta a possibilidade do


uso por um antropoide pre‑homínida. O que anteriormente dissemos a
respeito do comportamento dos chimpanzés demonstra a pertinência
dessa hipótese.

Na opinião dos pre‑historiadores da África, ainda que os instrumentos


de osso e de pedra atestem que há mais de 2.500.000 anos estava em
marcha um processo cerebral de hominização, não foi nessa época que
ele se iniciou.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Descreva os problemas da hominização.

Exercícios

1. Diga o que entende por hominização.


2. O utensílio é, sem sombra de dúvida, um critério de
hominização?
3. O utensílio nos permite delimitar o início da hominização?

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4. O utensílio humano, no estado de preservação em que chegou


até nós, pode ser identificado com toda a segurança?

Unidade Temática 2.3. Os homens fósseis africanos


2.3.1. Africa, o berco da humanidade

Introdução

Charles Darwin foi o primeiro cientista a publicar uma teoria importante


sobre a origem e a evolução do homem.

Foi também o primeiro a apontar a África como o lugar de origem do


homem. Pesquisas realizadas nos últimos cem anos vieram em abono
da teoria de Darwin, confirmando inúmeros aspectos do seu trabalho
pioneiro. Actualmente não mais é possível considerar a evolução como
uma simples hipótese teórica.

As provas do desenvolvimento do homem na África estão ainda


incompletas, mas nesta última década houve um aumento substancial
do número de espécimes fósseis estudados e interpretados.

Há boas razões para se acreditar que a África seja o continente onde os


hominídeos surgiram pela primeira vez e onde, mais tarde,
desenvolveram a postura ereta e o bipedismo, elementos decisivos à
sua adaptação.

Quando e por qual processo o homem foi capaz de realizar essa


adaptação é questão de extremo interesse. O período evolutivo é longo,
sendo possível que muitas de suas fases não estejam representadas por
espécimes fósseis, uma vez que a conservação desses fósseis só se dá
em condições muito especiais.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:

 Identificar o homem moderno e o Homo sapiens;


 Conhecer o pré‑Homo sapiens;
 Caracterizar genero Homo (pre‑sapiens): Homo erectus;
 Descrever a evolução da espécie humana.

A fossilização requer condições geológicas em que a sedimentação seja


rápida e a composição química dos solos e das águas de percolação
permita que elementos minerais substituam elementos orgânicos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Seria interessante comentar as razões pelas quais certas partes, da


África são tão ricas em testemunhos pre‑históricos. A primeira é a
diversidade de habitats.

Quando uma determinada área se tornava muito quente ou fria, era


possível migrar para ambientes mais apropriados.

Formulou‑se a hipótese de uma correlação entre os períodos glaciários


do hemisfério Norte e os períodos úmidos da África, pois se constatam
grandes variações nos níveis dos lagos, que cor respondem a variações
pluviométricas.

Com a colmatagem dos lagos e a mudança do regime das chuvas,


algumas bacias secaram enquanto outras foram‑se formando.

O processo de fossilização é lento, mas o Pleistoceno se estende por


mais de 3 milhões de anos, período durante o qual restos de animais
foram sendo depositados em sedimentos favoráveis à sua conservação.

A localização desses restos constitui, evidentemente, um problema


capital para o paleontólogo mas, também nesse ponto, certos fatores
contribuíram para diminuir as dificuldades na África, especialmente na
África oriental.

Entretanto, há outras possibilidades, como prova a grande quantidade


de restos de hominídeos encontrados na África do Sul. Esses fósseis se
formaram em cavernas calcárias, onde o acúmulo de ossadas foi
recoberto por uma camada estalagmítica ou pelo desmoronamento do
teto das cavernas.

Os ossos foram levados para essas cavernas por vários agentes, mais
provavelmente por animais necrófagos ou predadores, como leopardos
e hienas.

Existem certos indícios de que as cavernas tenham sido ocupadas por


hominídeos, os quais também seriam, portanto, responsáveis por
restos ósseos fossilizados.

O grande problema desse tipo de sítio reside no fato de praticamente


inexistirem critérios de estratigrafia, sendo assim muito difícil
determinar a idade relativa dos fósseis descobertos.

O estudo da origem do homem baseia‑se em grande parte numa


abordagem pluridisciplinar, que não se limita ao estudo de ossadas
fósseis e vestígios arqueológicos; a geologia, a paleontologia, a
paleoecologia, a geofísica e a geoquímica desempenham papel
preponderante, e, para os estágios mais recentes, quando os

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

hominídeos começaram a usar instrumentos, a arqueologia é


fundamental.

O estudo dos primatas vivos, inclusive o homem, é muitas vezes útil


para uma melhor compreensão da pre‑história do nosso planeta.

Os fósseis da família do homem, os hominídeos, podem ser


considerados como distintos e separados dos grandes macacos actuais,
os pongídeos, desde o Mioceno, há mais de 14 milhões de anos.

As evidências mais antigas estão incompletas, e existe uma grande


lacuna em nosso conhecimento sobre a evolução do homem no período
que vai de 14 milhões a pouco mais de 3 milhões de anos.

Foi durante esse período que a diferenciação parece ter‑se efectuado,


pois são conhecidas formas diferenciadas de hominídeos fósseis a partir
de ‑5 milhões de anos.

Os testemunhos fósseis de outros grupos de animais que não o homem


são, em geral, mais bem conhecidos e comportam material mais
completo.

São de grande interesse pois permitem tentar a reconstituição do meio


ambiente primitivo dos hominídeos durante os primeiros estágios de
sua evolução.

Já existem dados sobre vários períodos importantes em que numerosas


espécies animais sofreram mudanças muito rápidas, em resposta a
pressões do meio ambiente.

Demonstrou‑se também que o homem passou por diversos estágios


antes de se tornar o bípede com cérebro desenvolvido que é hoje. Em
certas épocas, existiram vários tipos de homens, e cada um poderia
representar uma adaptação específica.

As mudanças ocorridas a partir da forma simiesca do hominídeo do


Mioceno devem ser o resultado de algum tipo de especialização ou
adaptação, que nos cabe elucidar.

Embora os dados disponíveis estejam bastante incompletos, conhecem


‑se alguns detalhes dessa complexa evolução.

2.3.2. O homem moderno e o Homo sapiens

A clássica definição de homem encontrada nos dicionários está longe


de ser satisfatória: “Ser humano, a raça humana, adulto do sexo
masculino, indivíduo (do sexo masculino)”.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Um dos problemas dessa definição é que o homem moderno constitui


talvez a mais diversificada espécie conhecida, tantas são as diferenças
– comportamentais e físicas – existentes entre as populações do
mundo, diferenças essas que devem ser consideradas.

Mas apesar das diferenças aparentes, o homem constitui hoje uma


única espécie, e todos os homens partilham a mesma origem e a
mesma história na sua evolução primitiva.

É provável que só nos últimos milénios a espécie tenha passado a


apresentar variantes superficiais.

Possa essa noção contribuir a que os homens mais rapidamente se


conscientizem da identidade de sua natureza e de seu destino.

O homem actual, que pertence integralmente à espécie Homo sapiens


sapiens, é capaz de viver em habitats muito diferentes graças ao
desenvolvimento tecnológico.

A vida em cidades superpovoadas contrasta com a dos nómades


pastores de camelos no deserto, e ambas contrastam, por sua vez, com
a vida dos caçadores no seio das densas florestas tropicais da África
ocidental.

O homem é capaz de viver longos períodos no fundo do mar, a bordo


de submarinos, e em órbita terrestre, no interior de cápsulas espaciais.
A chave explicativa de todos esses casos é a adaptação pela tecnologia.

Várias descobertas importantes atestam a presença do Homo sapiens


primitivo no continente africano há mais de 100 mil anos. Tudo indica
que nossa espécie é tão antiga na África quanto em outras partes do
mundo, sendo provável que pesquisas futuras possibilitem datar com
precisão o mais remoto vestígio, cuja idade talvez esteja próxima dos
200 mil anos.

Em 1921, um crânio e alguns fragmentos de esqueleto foram


encontrados em Broken Hill, Zâmbia; sendo esse país a antiga Rodésia
do Norte, o espécime tornou‑se conhecido como homem da Rodésia
ou Homo sapiens rhodesiensis. Traços ainda mais antigos do Homo
sapiens foram descobertos na África oriental.

Em 1967, foram descobertos restos de dois indivíduos em um sítio do


vale do Omo, no sudoeste da Etiópia. Consistem em um fragmento de
crânio, partes de um esqueleto pos‑craniano e a calota de um segundo
crânio. Os dois fósseis provêm de camadas com idade estimada em
pouco mais de 100 mil anos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O vale do Omo é, provavelmente, mais conhecido por seus fósseis


antigos, mas há uma grande quantidade de depósitos recentes que
podem constituir uma fonte de dados novos sobre os primeiros Homo
sapiens da África.

Além disso, encontrou‑se cerâmica primitiva em sítios da mesma área,


suscetíveis, portanto, de fornecer informações acerca dos antigos usos
da cerâmica.

Assim, embora existam poucos espécimes do Homo sapiens primitivo


entre os fósseis, parece razoável supor que essa espécie gozava de
ampla difusão tanto na África quanto em outras partes do globo.

2.3.3. O pré‑Homo sapiens

Existe uma tendência a se relacionar as espécies fósseis com as espécies


modernas; essa relação, contudo, deve ser entendida em termos muito
genéricos.

Propomos aqui considerar a origem do Homo sapiens dentro de uma


linhagem que pode remontar a vários milhões de anos. Em diferentes
épocas, provavelmente existiram nessa linhagem vários tipos distintos
do ponto de vista morfológico, devendo a composição genética do
homem moderno reflectir, em parte, essa herança compósita.

Pelo menos dois generos e várias especies de hominídeos foram


identificados entre os fósseis dos últimos 3 milhões de anos. Essas
formas são básicas para compreendermos a origem de nossa espécie.

Até recentemente, pensava‑se que a evolução se processara em ritmo


uniforme; hoje, porém, acredita‑se que populações locais de uma
determinada espécie podem ter reagido diferentemente às pressões da
seleção.

Formas “primitivas” podem ser contemporâneas de formas avançadas


ou “progressivas”. A identificação de caracteres “primitivos” numa
espécie registada em um longo período de tempo é menos difícil que
numa amostra limitada, pois permite identificar tendências e
adaptações que ajudam a explicar o processo de sobrevivência por
modificações progressivas.

Os restos humanos fósseis da África, por suas características, podem ser


unidos em dois grupos principais. Propomos considera‑los como
linhagens evolutivas, uma das quais, representada pelo gênero Homo,
pode ser seguida até hoje, sendo que a outra, representada pelo género
Australopithecus, aparentemente extinguiu‑se há cerca de 1 milhão de
anos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Para os objetivos do nosso estudo, propomos considerar os hominídeos


anteriores ao Homo sapiens com base nestas duas linhagens. A forma
ancestral comum a ambas não pode ser facilmente identificada, pois os
testemunhos fósseis são bastante fragmentários.

O mais antigo hominídeo da África provém de Fort Ternan, no Quénia,


onde foram encontrados vários fragmentos de maxilar superior, um
fragmento de mandíbula e alguns dentes.

O sítio foi datado de 14 milhões de anos, e seus fósseis provam que


nessa época já havia ocorrido a diferenciação entre os hominídeos e os
pongídeos.

Portanto a redução dos caninos, traço característico dos hominídeos, já


se acentuara ligeiramente a partir dos caracteres propriamente
simiescos.

Assim, todo primeiro período praticamente nada revela sobre a origem


do Homo e do Australopithecus. Em compensação, o período entre 3 e
1 milhão de anos é relativamente rico em testemunhos fósseis.

Presume‑se que essas duas formas, Homo e Australopithecus,


habitassem nichos ecológicos diferentes e, embora seu território físico
pudesse coincidir, a competição por comida, ao que parece, não era
suficiente para que uma forma excluísse a outra.

Ainda temos muito a aprender sobre a adaptação de cada um desses


hominídeos, porém a coexistência dos dois géneros por um período
superior a 1.500.000 de anos é facto comprovado actualmente e atesta
a distinção entre os dois.

Foi o Australopithecus o ancestral do Homo? Essa pergunta geralmente


recebe resposta afirmativa; no entanto, com os novos dados
disponíveis, não mais é possível ter tanta certeza.

Alguns especialistas (inclusive o autor) tendem a pensar que as duas


formas têm um ancestral comum, distinto de ambas. Para estabelecer
essa tese, é necessário examinar os dois gêneros do ponto de vista de
suas “adaptações específicas” e considerar o grau de variação, se
houver, em cada grupo.

Para finalizar, cabe observar que alguns pesquisadores classificam


todos esses fósseis num mesmo género, o qual apresentaria uma
grande variabilidade intragenérica e um acentuado dimorfismo sexual.

2.3.4. O genero Homo (pre‑sapiens): Homo erectus

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

A forma pre‑sapiens mais conhecida do gênero Homo é a que foi


atribuída a uma espécie morfológica bastante diversificada que se
expandiu amplamente.

2.3.5. Homo erectus

Essa espécie foi encontrada pela primeira vez no Extremo Oriente e na


China; mais recentemente, foi descoberta na África do Norte, na África
oriental e talvez no sul da África.

Não há datação absoluta para os espécies da Ásia, embora tenha sido


publicada uma data inferida para parte do material, sugerindo que o
Homo erectus ocorre em sítios com 1.500.000 a 500 mil anos.

A datação dos sítios da África do Norte e do Sul onde se descobriu o


Homo erectus, foi igualmente inferida, situando‑os aparentemente no
Pleistoceno Médio.

Os espécimes da África oriental provêm de sítios onde foi possível fazer


datações fisico‑químicas, tendo sido datado de aproximadamente
1.600.000 de anos o mais antigo exemplar de Homo erectus.

Essa data tão remota poderia indicar uma origem africana para o Homo
erectus, e muitos especialistas são favoráveis à ideia de que todos os
testemunhos dessa humanidade descobertos fora do continente
africano seriam provenientes de populações que teriam emigrado no
início do Pleistoceno. Existem, no entanto, algumas novas datas,
extremamente antigas, para o Homo erectus de lava.

A tecnologia utilizada pelo Homo erectus pode ser inferida da


observação dos vestígios. O Homo erectus fabricava e usava
instrumentos de pedra e vivia de caça e coleta nas savanas, na África.

Os especialistas são unânimes em relacionar o biface da indústria


acheulense ao Homo erectus; esse tipo de material lítico é distintivo e
aparece em sítios da África, Europa e, em menor escala, da Ásia.

Se o Homo erectus é o estágio final de desenvolvimento que levou ao


Homo sapiens é facto ainda não comprovado. Portanto, é aconselhável
deixar a questão em aberto, à espera de novas informações sobre essa
espécie.

Antes de deixarmos o Homo erectus, apresentaremos rapidamente


suas características.

Os dentes talvez constituam um outro traço distintivo, mas é possível


que outras espécies morfológicas da linhagem Homo tenham

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

apresentado morfologia dentária muito semelhante. O mesmo se diga


da mandíbula, cuja morfologia é menos característica do que em geral
se supõe.

Alguns espécies, que se alega pertencerem ao Homo erectus e que


consistem apenas em dentes e maxilares, poderiam, na verdade,
representar uma espécie morfológica diferente dentro do mesmo
género.

2.3.6. O genero Homo (pre‑sapiens): Homo habilis

Os fósseis atribuídos à linhagem Homo, mas anteriores ao Homo


erectus, limitam‑se, atualmente, à África oriental. As formas mais
antigas talvez sejam as de Hadar e Laetolil, que, embora requerendo
ainda estudo mais aprofundado, podem ser tidas como ancestrais de
espécies mais recentes.

As principais características do Homo habilis seriam cérebro


relativamente desenvolvido (podendo a capacidade craniana exceder
750 cm³), crânio de ossos relativamente pouco espessos com abóbada
alta, constrição pos‑orbitaria reduzida.

Os incisivos são relativamente grandes, os molares e pre‑molares mais


reduzidos, e a mandíbula apresenta um contraforte externo. Os
elementos do esqueleto pos‑craniano têm características morfológicas
bastante semelhantes às do homem moderno.

2.3.7. O genero Australopithecus

O problema da definição de eventuais espécies no género


Australopithecus está longe de ser resolvido; porém, penso que há
suficientes evidências na formação de Koobi Fora para que se possam
definir, com certa convicção, duas espécies desse género.

A mais evidente, Australopithecus boisei, é bem típica, apresentando


mandíbulas maciças, molares e pre‑molares grandes em relação aos
caninos e incisivos, capacidade craniana inferior a 550 cm3; o
dimorfismo sexual revela‑se por características externas do crânio, tais
como cristas sagitais e ocipitais acentuadas nos indivíduos do sexo
masculino.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Quadro 3: A evolução da espécie humana


Nome Período Crânea Local Caracteristica
Auistrolopithecus 4,2-1,4 700 cm3 África Postuta semi
milhões –erecta, uso
de
ferramentas
Homo Habilis 2-1,5 750 cm3 África Fabricação de
milhões artefactos
rudumentares
Homo erectus 1,5 900 cm3 África, Coluna
milhões – Ásia, erecta,
300 mil Europa controlo de
fogo, caçador
habilidoso
Homo sapiens – 200-40 1300 – África, Fala,
neandertalensis mil 1600 Ásia, religiosidade,
cm3 Europa cerimónias
funebres
Homo sapiens 10000- 1300 – Todos Todas as
sapiens hoje 1600 actuais
cm3
Fonte: Adaptado pelo autor, 2015.

Sumário

Novas descobertas poderão trazer solução a esses problemas, que


sempre apresentarão semelhantes sutilezas taxonômicas no campo da
paleontologia dos vertebrados. Portanto, parece preferível, no
momento, mantermos a hipótese da existência de duas espécies
robustas aparentadas mas geograficamente separadas.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Descreva as fases da evoluão da espécie humana.

Exercícios

1. Apresente as caracterrísticas do homo eructus


2. Quais são as principais características do Homo habilis
3. Fale do homem moderno e o Homo sapiens
4. Identifique os locaios da descoberta dos vestígios das espécies
humanas
5. África é o berço da humanidade. Justifique a afirmação.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Unidade Temática 3: A história como forma de


conhecimento

Introdução

A necessidade de procurar explicar o mundo dando-lhe um sentido e


descobrindo-lhe as leis ocultas é tão antiga como o próprio Homem, que
tem recorrido para isso quer ao auxílio da magia, do mito e da religião,
quer, mais recentemente, à contribuição da ciência e da tecnologia.

Mas é sobretudo nos últimos séculos da nossa História, que se tem dado
a importância crescente aos domínios do conhecimento e da ciência.

E se é certo que a preocupação com este tipo de questões remonta já à


Grécia antiga, é porém a partir do séc. XVIII que a palavra ciência
adquire um sentido mais preciso e mais próximo daquele que hoje lhe
damos.

É também sobretudo a partir desta época que as implicações da


atividade científica na nossa vida quotidiana se têm tornado tão
evidentes, que não lhe podemos ficar indiferentes.

O que é oconhecimento científico, e como se adquire, o que temos


implícito quando dizemos que conhecemos determinado assunto, em
que consiste a prática científica, que relação existe entre o
conhecimento científico e o mundo real, quais as consequências
práticas e éticas das descobertas científicas, são alguns dos problemas
com que nos deparamos frequentemente.

Diante desses questionamentos, este trabalho pretende fazer um


apanhado geral acerca da Teoria do Conhecimento, suas correntes e
representantes, de modo que se torne mais fácil a sua compreensão.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Conceituar Teoria de Conhecimento;
 Identificar a origem do conhecimento;
 Conhecer os diferentes tipos de conhecimentos.
 Identificar as principais correntes de conhecimento

3.1. Teoria do Conhecimento

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

A teoria do conhecimento, se interessa pela investigação da natureza,


fontes e validade do conhecimento. Entre as questões principais que ela
tenta responder estão as seguintes.

O que é o conhecimento? Como nós o alcançamos? Podemos conseguir


meios para defendê-lo contra o desafio céptico? Essas questões são,
implicitamente, tão velhas quanto a filosofia.

Mas, primordialmente na era moderna, a partir do século XVII em


diante - como resultado do trabalho de Descartes (1596-1650) e Locke
(1632-1704) em associação com a emergência da ciência moderna – é
que ela tem ocupado um plano central na filosofia.

3.1.1. Principais correntes e seus representantes

3.1.2. O Conhecimento Quanto à Origem

A polémica racionalismo-empirismo tem sido uma das mais


persistentes ao longo da história da filosofia, e encontra eco ainda hoje
em diversas posições de epistemólogos ou filósofos da ciência.

Abundam, ao longo da linha constituída nos seus extremos pelo


racionalismo e pelo empirismo radicais, as posições intermédias, as
tentativas de conciliação e de superação, como veremos a seguir.

3.1.3. Empirismo

“O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo


conhecimento sintético é baseado na experiência.” (Bertrand Russell).

Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta


que a experiência sensorial é a origem única ou fundamental do
conhecimento.

Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do


tempo na Idade Média e Moderna, assumindo várias manifestações e
atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes.

Existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse


aspecto que abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo
elas: a integral, a moderada e a científica.

O empirismo integral reduz todos os conhecimentos – inclusive os


matemáticos – à fonte empírica, àquilo que é produto de contato direto
e imediato com a experiência.

O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico,


explica que a origem temporal dos
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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do


conhecimento, o qual pode ser não-empiricamente valido (como nos
casos dos juízos analíticos).

Uma das obras baseadas nessa linha é a de John Locke (Ensaios sobre o
Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações são ponto
de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as idéias são
elaborações de elementos que os sentidos recebem em contacto com a
realidade.

Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente


validas, como as matemáticas, cuja validez não assenta na experiência,
e sim no pensamento.

Na doutrina de Locke, existe a admissão de uma esfera de validade


lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos
matemáticos.

Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o


conhecimento oriundo da experiência ou verificado
experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de
ordem formal enquadradas no domínio das fórmulas lógicas. Esta
tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade cientifica”.

3.1.4. Racionalismo

É a corrente que assevera o papel preponderante da razão no processo


cognoscitivo, pois, os factos não são fontes de todos os conhecimentos
e não nos oferecem condições de “certeza”.

Um dos grandes representantes do racionalismo, Gottfried Leibniz,


afirma em sua obra Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano, que
nem todas as verdades são verdades de facto.

Ao lado delas, existem as verdades de razão, que são aquelas inerentes


ao próprio pensamento humano e dotadas de universalidade e certeza
(como por exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente),
enquanto as verdades de facto são contingentes e particulares,
implicando sempre a possibilidade de correção, sendo válidas dentro de
limites determinados.

Ainda retratando o pensamento racionalista, encontramos Reneé


Descartes, adepto do inatismo, que afirma que somos todos
possuidores, enquanto seres pensantes, de uma série de princípios
evidentes, idéias natas, que servem de fundamento lógico a todos os
elementos com que nos enriquecem a percepção e a representação, ou
seja, para ele, o racionalismo se preocupa com a idéia fundante que a

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razão por si mesma logra atingir.

Esses dois pensadores podem ser classificados como representantes do


racionalismo ontológico, que consiste em entender a realidade como
racional, ou em racionalizar o real, de maneira que a explicação
conceiptual mais simples, se tenha em conta da mais simples e segura
explicação da realidade.

Hessen, um dos adeptos do intelectualismo, lembra que há nele uma


concepção metafísica da realidade como condição de sua gnoseologia,
que é conceber a realidade como algo de racional, contendo no
particularismo contingente de seus elementos, as verdades universais
que o intelecto “lê” e “extrai”, realizando-se uma adequação plena
entre o entendimento e a realidade, no que esta tem de essencial.

Por fim, devemos citar uma ramificação do racionalismo que alguns


autores consideram autônoma, que é o Criticismo.

O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos


modos de conhecimento, ou seja, uma disposição metódica do espírito
no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento em
função da relação “sujeito-objeto”, indagando as suas condições e
pressupostos.

Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por


isso, muitos autores acreditam em sua autonomia. Entretanto,
devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos
pressupostos do conhecimento.

Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a


determinação a priori das condições lógicas das ciências. Ele declara
que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece
o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo.

Porém, sustenta também que o conhecimento de base empírica não


pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire validade
universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão.
Segundo palavras do próprio autor, “os conceitos sem as intuições são
vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”.

Para ele, o conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida


do humano.

Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica


sempre numa contribuição positiva e construtora por parte do sujeito
cognoscente em razão de algo que está no espírito, anteriormente à
experiência do ponto de vista gnosiológico.

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3.2. O Conhecimento Quanto à Essência

Nessa parte do estudo, analisaremos o ponto da Teoria do


Conhecimento em que há mais divergências, sendo estas fundamentais
para o pleno conhecimento do assunto, que é o realismo e o idealismo.

3.2.1. Realismo

Sabendo que a palavra realismo vem do latim res (coisa), podemos


conceituar essa corrente como a orientação ou atitude espiritual que
implica uma preeminência do objecto, dada a sua afirmação
fundamental de que nós conhecemos coisas.

Em outras palavras, é a independência ontológica da realidade, ou seja,


o sujeito em função do objecto. O realismo é subdividido em três
espécies. O realismo ingênuo, o tradicional e o crítico.

O realismo ingênuo, também conhecido como pré-filosófico, é aquele


em que o homem aceita a identidade de seu conhecimento com as
coisas que sua mente menciona, sem formular qualquer
questionamento a respeito de tal coisa. É a atitude do homem comum,
que conhece as coisas e as concebem tais e quais aparecem.

Já o realismo tradicional é aquele em que há uma indagação a respeito


dos fundamentos, há uma procura em demonstrar se as teses são
verdadeiras, surgindo uma atitude propriamente filosófica, seguindo a
linha aristotélica.

Por último, podemos citar o realismo cientifico, que é a linha do


realismo que acentua a verificação de seus pressupostos concluindo
pela funcionalidade sujeito-objecto e distinguindo as camadas
conhecíveis do real como a participação - não apenas criadora - do
espírito no processo gnosiológico.

Para os seguidores desse pensamento, conhecer é sempre conhecer


algo posto fora de nós, mas que, se há conhecimento de algo, não nos
é possível verificar se o objecto - que nossa subjetividade compreende
- corresponde ou não ao objecto tal qual é em si mesmo.

Há portanto, no realismo, uma tese ou doutrina fundamental de que


existe uma correlação ou uma adequação da inteligência a “algo” como
objeto do conhecimento, de maneira que nós conhecemos quando a
nossa sensibilidade e inteligência se conformam a algo de exterior a
nós.

De acordo com o modo de compreender-se essa “referibilidade a algo”,


bifurca-se o realismo em tradicional e o crítico, que são as duas linhas

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pertinentes à filosofia.

3.2.2. Idealismo

Surgiu na Grécia Antiga com Platão, denominado de idealismo


transcendente, onde as idéias ou arquétipos ideais representam a
realidade verdadeira, da qual seriam as realidades sensíveis, meras
copias imperfeitas, sem validade em si mesmas, mas sim enquanto
participam do ser essencial.

O idealismo de Platão reduz o real ao ideal, resolvendo o ser em idéia,


pois como ele já dizia, as idéias são o sol que ilumina e torna visíveis as
coisas.

Alguns autores entendem que a doutrina platônica poderia ser vista


como uma forma de realismo, pois para eles, o idealismo “verdadeiro”
é aquele desenvolvido a partir de Descartes.

O que interessa à Teoria do Conhecimento, é o idealismo imanentista,


que afirma que as coisas não existem por si mesmas, mas na medida e
enquanto são representadas ou pensadas, de maneira que só se
conhece aquilo que se insere no domínio de nosso espírito e não as
coisas como tais, ou seja, há uma tendência a subordinar tudo à formas
espirituais ou esquemas.

No idealismo, que é a compreensão do real como idealidade (o que


equivale dizer a realidade como espírito), o homem cria um objecto com
os elementos de sua subjectividade, sem que algo preexista ao objecto
(no sentindo gnosiológico).

Sintetizando, o idealismo é a doutrina ou corrente de pensamento que


subordina ou reduz o conhecimento à representação ou ao processo do
pensamento mesmo, por entender que a verdade das coisas está
menos nelas do que em nós, em nossa consciência ou em nossa mente,
no fato de serem “percebidas” ou “pensadas”.

Dentro dessa concepção existem duas orientações idealistas. Uma é a


do idealismo psicológico ou conscienciológico, onde o que se conhece
não são as coisas e sim a imagem delas.

Podemos conceituá-lo como aquele em que a realidade é cognoscível


se e enquanto se projeta no plano da consciência, revelando-se como
momento ou conteúdo de nossa vida interior.

Também chamado de idealismo subjectivo, este diz que o homem não


conhece as coisas, e sim a representação que a nossa consciência forma
em razão delas. Seus representantes são Hume, Locke e Berkeley.

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A outra é a orientação idealista de natureza lógica, que parte da


afirmação de que só conhecemos o que se converte em pensamento,
ou é conteúdo de pensamento. Ou seja, o ser não é outra coisa senão
idéia.

Seu maior representante, Hegel, diz em uma de suas obras que nós só
conhecemos aquilo que elevamos ao plano do pensamento, de maneira
que só há realidade como realidade espiritual.

Resumindo: na atitude psicológica, ser é ser percebido e na atitude


lógica, ser é ser pensado.

3.3. Possibilidade do Conhecimento

Essa parte da teoria do conhecimento é responsável por solucionar a


seguinte questão: qual a possibilidade do conhecimento?

Para que seja possível respondê-la, muitos autores recorrem a duas


importantes posições: o dogmatismo e o ceticismo, os quais veremos
abaixo.

3.3.1. Dogmatismo

É a corrente que se julga em condições de afirmar a possibilidade de


conhecer verdades universais quanto ao ser, à existência e à conduta,
transcendendo o campo das puras relações fenomenais e sem limites
impostos a priori à razão.

Existem duas espécies de dogmatismo: o total e o parcial. O primeiro é


aquele em que a afirmação da possibilidade de se alcançar a verdade
ultima é feita tanto no plano da especulação, quanto no da vida pratica
ou da Ética. Esse dogmatismo intransigente, quase não é adotado,
devido à rigorosidade de adequação do pensamento.

Alguns dogmáticos parciais se julgam aptos para afirmar a verdade


absoluta no plano da ação. Entretanto, outros somente admitem tais
verdades no plano especulativo. Daí origina-se a distinção entre
dogmatismo teórico e dogmatismo ético.

O dogmatismo ético tem como adeptos Hume e Kant, que duvidavam


da possibilidade de atingir as verdades últimas enquanto sujeito
pensante (homo theoreticus) e afirmavam as razões primordiais de agir,
estabelecendo as bases de sua Ética ou de sua Moral.

Por conseguinte, temos como adepto do dogmatismo teórico, Blaise


Pascal, que não duvidava de seus cálculos matemáticos e da exactidão
das ciências enquanto ciências, mas era assaltado por duvidas no plano

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do agir ou da conduta humana.

3.3.2. Cepticismo

Consiste numa atitude dubitativa ou uma provisoriedade constante,


mesmo a respeito de opiniões emitidas no âmbito das relações
empíricas.

Essa atitude nunca é abandonada pelo ceticismo, mesmo quando são


enunciados juízos sobre algo de maneira provisória, sujeitos a refutação
à luz de sucessivos testes.

Ou seja, o cepticismo se distingue das outras correntes por causa de sua


posição de reserva e de desconfiança em relação às coisas. Há no
cepticismo – assim como no dogmatismo – uma distinção entre
absoluto e parcial, ressaltando que este último não será discutido nesse
trabalho.

O cepticismo absoluto é oriundo da Grécia e também denominado


pirronismo. Prega a necessidade da suspensão do juízo, dada a
impossibilidade de qualquer conhecimento certo.

Ou seja, para os cépticos absolutos, não há outra solução para o homem


senão a atitude de não formular problemas, dada a equivalência fatal
de todas as respostas.

Sumário

Basicamente Teoria de conhecimento é conceituada como o estudo de


assuntos que outras ciências não conseguem responder e se divide em

quatro partes, sendo que três delas possuem correntes que tentam
explica-las: I - O conhecimento como problema, II - Origem do
Conhecimento e III - Essência do Conhecimento e IV - Possibilidade do
Conhecimento.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Como é que nós alcançamos o conhecimento?

Exercícios

1. Faça a distinção entre dogmatismo teórico e dogmatismo ético.


2. Qual a possibilidade do conhecimento?
3. Classifique o conhecimento quanto à essência.

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4. Idenqifique as principais correntes do conhecimento e seus


representantes .
5. Fale do idealismo

Unidade Temática 3.4. Ciência e Conhecimento Histórico

Introdução

Lakatos (1991), adverte que ao se falar em conhecimento, o primeiro


passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimento
existentes. Para tanto, exemplifica com uma situação histórica.

Desde a Antiguidade, até aos nossos dias, um camponês, mesmo


letrado ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo
da semeadura, a é poca da colheita, a necessidade da utilização de
adubos, as providências a serem tomadas para a defesa das plantações
de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo adequado para as diferentes
culturas.

Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo tipo, todos os


anos, no mesmo local, exaure o solo. Já no período feudal, o sistema de
cultivo era em faixas: duas cultivadas e uma terceira “em repouso”,
alternando-as de ano para ano, nunca cultivando a mesma planta, dois
anos seguidos, numa única faixa.

Objectivos:

Ao completar esta unidade você será capaz de:


 Relacionar os diferentes tipos de conhecimentos;
 Conhecer o conhecimento histórico como diálogo;
 Conceituar Ciência

O início da Revolução Agrícola não se prende ao aparecimento, no sé


culo XVIII, de melhores arados, enxadas e outros tipos de maquinaria,
mas à introduç ão, na segunda metade do sé culo XVII, da cultura do
nabo e do trevo, pois seu plantio evictava o desperdício de se deixar a
terra em pousio: seu cultivo “revitalizava” o solo, permitindo o uso
constante.

Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos


químicos, de defensivos contra as pragas e tenta-se, até , o controle
bioló gico dos insetos daninhos.

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Assim, neste exemplo, dois tipos de conhecimento podem ser


encontrados:

 O popular, transmitido de geração para geração por meio da


educação informal, na tradição e na experiência pessoal - portanto,
empírico;
 E o científico, transmitido por intermé dio de treinamento
apropriado, sendo um conhecimento obtido de modo racional,
conduzido por meio de procedimentos científicos, de modo a
explicar “por que” e “como” os fenómenos ocorrem.

3.4.1. Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento


Científico

O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso


comum, não se distingue do conhecimento científico/nem pela
veracidade nem pela natureza do objeto conhecido:

O que os diferencia é a forma, o modo ou o mé todo e os instrumentos


do “conhecer”. Saber que determinada planta necessita de uma
quantidade “X” de água e que, se não a receber de forma “natural”,
deve ser irrigada, pode ser um conhecimento verdadeiro e
comprovável, mas, nem por isso, científico.

Para que isso ocorra, é necessário ir mais além: conhecer a natureza dos
vegetais, sua composiç ão, seu ciclo de desenvolvimento e as
particularidades que distinguem uma espé cie de outra. Dessa forma,
patenteiam-se dois aspectos:

a) A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à


verdade;
b) Um mesmo objecto ou fenómeno — uma planta, um mineral, uma
comunidade ou as relaç ões entre chefes e subordinados — pode ser
maté ria de observaç ão tanto para o cientista quanto para o homem
comum; O que leva um ao conhecimento científico e outro ao vulgar ou
popular é a forma de observação.

3.4.2. Características do Conhecimento Popular

O conhecimento popular é o modo comum, corrente e espontâneo de


conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres
humanos: “é o saber que preenche nossa vida diária e que se possui
sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicaç ão de um mé todo e
sem se haver refletido sobre algo” (Babini, apud Lakatos, 1991).

O conhecimento popular caracteriza-se por ser predominantemente:

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 Superficial, isto é , conforma-se com a aparência, com aquilo que se


pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-
se por frases como “porque o vi”, “porque o senti”, “porque o
disseram”, “porque todo mundo o diz”;
 Sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoç
ões da vida diária;
 Subjectivo, pois é o pró prio sujeito que organiza suas experiências
e conhecimentos, tanto os que adquire por vivência pró pria quanto
os “por ouvir dizer”;
 Assistemático, pois esta “organizaç ão” das experiências não visa a
uma sistematizaç ão das idé ias, nem na forma de adquiri-las nem
na tentativa de validá-las;
 Acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses
conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma
crítica.

3.5. Os Quatro Tipos de Conhecimento

Verificamos, dessa forma, que o conhecimento científico diferencia-se


do popular muito mais no que se refere ao seu contexto metodológico
do que propriamente ao seu conteúdo. Essa diferença ocorre também
em relação aos conhecimentos filosófico e religioso (teológico).

3.5.1. Conhecimento Popular

O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se


fundamenta numa seleção operada com base em estados de ânimo e
emoções:

Como o conhecimento implica uma dualidade de realidades, isto é, de


um lado o sujeito cognoscente e, de outro, o objecto conhecido, e este
é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores do sujeito
impregnam o objecto conhecido. E também reflexivo, mas, estando
limitado pela familiaridade com o objecto, não pode ser reduzido a uma
formulaç ão geral.

A característica de assistemático baseia-se na “organização” particular


das experiências próprias do sujeito cognoscente, e não em uma
sistematização das idéias, na procura de uma formulação geral que
explique os fenómenos observados, aspecto que dificulta a
transmissão, de pessoa a pessoa, desse modo de conhecer. É verificável,
visto que estálimitado ao âmbito da vida diária e diz respeito àquilo que
se pode perceber no dia-a-dia.

Finalmente é falível e inexato, pois se conforma com a aparência e com


o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras palavras, não

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permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenómenos


situados além das percepções objectivas.

3.5.2. Conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida


consiste em hipó teses, que não poderão ser submetidas à observação:
“as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto, este
conhecimento emerge da experiência e não da experimentação”
(Trujillo, 1974).

Por este motivo, o conhecimento filosófico é não verificável, jáque os


enunciados das hipó teses filosó ficas, ao contrário do que ocorre no
campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados.

É racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados


logicamente correlacionados. Tem a característica de sistemático, pois
suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da
realidade estudada, numa tentativa de apreendê-la em sua totalidade.

Por último, é infalível e exato, já que, quer na busca da realidade capaz


de abranger todas as outras, quer na definição do instrumento capaz de
apreender a realidade, seus postulados, assim como suas hipó teses,
não são submetidos ao decisivo teste da observaç ão (experimentação).

Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da


razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir
entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da pró pria
razão humana.

Assim, se o conhecimento científico abrange factos concretos positivos,


e fenómenos perceptíveis pelos sentidos, atravé s do emprego de
instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objecto de análise
da filosofia são idéias, relações conceptuais, exigências lógicas que não
são redutíveis a realidades materiais e, por essa razão, não são passíveis
de observação sensorial directa ou indirecta (por instrumentos), como
a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da
ciência é o experimental:

 Ela caminha apoiada nos factos reais e concretos, afirmando


somente aquilo que é autorizado pela experimentaç ão. Ao
contrário, a filosofia emprega “o método racional, no qual prevalece
o processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige
confirmaç ão experimental, mas somente coerência ló gica”. (Ruiz,
1979).

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O procedimento científico leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e


analisar o que se constitui o objecto da pesquisa, atingindo segmentos
da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre à procura do
que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção
unificada e unificante do universo.

Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito


humano e, até , busca as leis mais universais que englobem e
harmonizem as conclusões da ciência.

3.5.3. Conhecimento Religioso

O conhecimento religioso ou teológico, apóia-se em doutrinas que


contêm proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas
pelo sobrenatural (inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são
consideradas infalíveis e indiscutíveis (exatas); é um conhecimento
sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e destino) como
obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está
sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado.

Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte doprincipio de que


as “verdades” tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em
“revelaç ões” da divindade (sobrenatural).

A adesão das pessoas passa a ser um ato de fé , pois a visão sistemática


do mundo é interpretada como decorrente do ato de um criador divino,
cujas evidências não são postas em dúvida nem sequer verificáveis.

A postura dos teó logos e cientistas diante da teoria da evoluç ão das


espé cies, particularmente do Homem, demonstra as abordagens
diversas: de um lado, as posições dos teó logos fundamentam-se nos
ensinamentos de textos sagrados; de outro, os cientistas buscam, em
suas pesquisas, factos concretos capazes de comprovar (ou refutar)
suas hipóteses. Na realidade, vai-se mais longe.

Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidência dos


fatos observados e experimentalmente controlados, e o do
conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidência lógica,
fazendo com que em ambos os modos de conhecer deve a evidência
resultar da pesquisa dos factos ou da análise dos conteúdos dos
enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém
nelas à procura de evidência, pois a tomada causa primeira, ou seja, da
revelação divina.

3.5.4. Conhecimento Cientifico

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Finalmente, o conhecimento científico é real (factual) porque lida com


ocorrências ou factos, isto é , com toda “forma de existência que se
manifesta de algum modo” (Trujillo, 1974).

Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposiç ões ou hipó


teses têm a sua veracidade ou falsidade conhecida atravé s da
experimentação e não apenas pela razão, como ocorre no
conhecimento filosófico.

Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmaç ões


(hipó teses) que não podem ser comprovadas, não pertencem ao
âmbito da ciência.

Constitui-se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo,


absoluto ou final e, por este motivo, é aproximadamente exacto: novas
proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o
acervo de teoria existente.

Apesar da separação ‘metodológica” entre os tipos de conhecimento


popular, filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da
realidade do objeto, o sujeito cognoscente pode penetrar nas diversas
áreas:

 Ao estudar o homem, por exemplo, pode-se tirar uma sé rie de


conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso
comum ou na experiência cotidiana;
 Pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, atravé s de
investigação experimental, as relaç ões existentes entre
determinados órgãos e suas funções;
 Pode-se questioná-los quanto à sua origem e destino, assim como
quanto à sua liberdade; finalmente, pode-se observá-lo como ser
criado pela divindade, à sua imagem e semelhança, e meditar sobre
o que dele dizem os textos sagrados.

Por sua vez, estas formas de conhecimento podem coexistir na mesma


pessoa: Um cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da física, pode
ser crente praticante de determinada religião, estar filiado a um sistema
filosófico e, em muitos aspectos de sua vida quotidiana, agir segundo
conhecimentos provenientes do senso comum.

3.6. O conhecimento histórico como diálogo.

O fenómeno hermenêutico para Gadamer tem o caráter de um diálogo.


Sua estrutura é então a da questão e da resposta. A “abertura” que a
relação com os textos da tradição implica leva o intérprete a formular
questões.

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Entretanto, neste ponto, o ideal metodológico do aufklarung se frustra:


não existe método para se aprender a questionar, pois todo
questionamento pressupõe um “saber do não saber”, “uma ignorância
precisa que conduz a uma questão precisa”.

Para Gadamer, ocorre em todo fenómeno hermenêutico o “primado”


da questão, isto é, o texto interpretado é interpelado pela questão que
lhe é posta e seu sentido depende disso. Da mesma forma, o interprete
também é tocado pela questão apresentada pelo texto, porém, num
sentido particular.

Gadamer concorda que entender um texto é entender a questão que


este nos apresenta. Essa tarefa pressupõe a aquisição do “horizonte
hermenêutico”, o horizonte da questão da qual o texto é uma das
respostas possíveis. Entretanto, não se trata de chegar ao que o autor
tinha em mente.

Em outras palavras, compreender a questão que está em jogo em um


texto não se limita a entender a questão do autor no ato da escrita. As
tendências de sentido ultrapassam em muito essa problemática
historicista.

O sentido de um texto é formado antes no curso da história, que


normalmente ultrapassa o que um autor tinha em vista. Gadamer
chama a atenção para o papel fundamental da temporalidade histórica
no estabelecimento do sentido dos textos.

Trata-se de “uma interrogação mais vasta graças a qual nós procuramos


a resposta a questão que nos é posta pela tradição histórica”. Chegar
ao sentido de um texto é sempre um questionamento sobre o que essa
tradição significa para nós.

Este caráter dialógico que Gadamer reivindica para a compreensão e


para a ciência histórica é fundamental para entendermos o papel ético-
social que pretende conferir a todo tipo de conhecimento.

Gadamer denuncia nossa época atual como um momento que a ciência


é a palavra de ordem absoluta, um fim em si mesmo. Cada vez mais a
ciência é vista como instância suprema de decisão das questões
humanas.

Em resposta a essa “consciência científica exacerbada”, o filósofo


propõe o retorno ao diálogo com vistas ao entendimento entre os
homens, povos e nações.

Juntamente com Hannah Arendt, Carl Schmitt, Reinhart Koselleck e


outros, Gadamer aponta na modernidade a crise ou o abandono
crescente da política.
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Sua aposta está num saber, não mais monológico, como na ciência, mas
num saber dialógico, uma “razão prática” geral, que venha em auxílio
do homem em sua busca por novas perspectivas e possibilidades de
futuro.

Segundo Gadamer, “Quem acredita que graças à sua competência


indiscutível, a ciência possa substituir a razão prática e a racionalidade
política, desconhece as forças que levam à configuração da vida
humana, às quais, pelo contrário, são as únicas que estão em condições
de utilizar com sentido e compreensão a ciência e todo saber prático
humano e responsabilizar-se pela utilização do mesmo”.

3.7. História e verdade

Como vimos, durante as escavações arqueológicas de que participou,


Agatha Christie percebeu que os indícios encontrados pela equipe do
professor Mallowan não eram suficientes para formar uma imagem
completa do passado. Havia inúmeras lacunas a serem preenchidas e
um minucioso trabalho de organização das “pistas” que só o
arqueólogo/historiador teria condições de fazer.

Entretanto, é importante lembrar que o resultado desse trabalho


dependeria muito de quem fosse realizá-lo, pois o toque individual e
pessoal do pesquisador certamente teria um papel importante em todo
o processo.

Mas será que esse toque individual na construção do conhecimento não


compromete o caráter científico da história?

Hoje, os métodos do historiador, ao mesmo tempo em que se


aproximam da investigação policial — da forma como aparece nas
aventuras de Hercule Poirot —encontram-se diante de um obstáculo
que definitivamente não existe para o detetive.

Nos livros de Agatha Christie, o assassino é sempre descoberto, o que


não acontece com a verdade na história. Poirot divide o seu espaço
temporal com o criminoso, que está lá para ser agarrado.

Ele analisa as pistas, entrevista os suspeitos, estabelece um diálogo


constante entre as evidências e as hipóteses — que muitas vezes, no
decorrer da investigação, transformam-se em outras hipóteses — para
no final, após preencher as lacunas e criar um ordenamento para os
seus dados, preparar a armadilha que vai revelar o assassino.

Os livros de Agatha Christie são construídos de forma a não deixarem


dúvidas sobre a identidade do criminoso, o que os diferencia dos textos
historiográficos, sempre sujeitos ao confronto com novas perguntas e
novos modelos de resposta.
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O trabalho do historiador não é tão simples quanto o de Hercule Poirot.


Ambos partem em busca das evidências, dos indícios; elaboram,
confirmam ou modificam hipóteses explicativas; questionam as suas
fontes e criam inteligibilidade para elas; mas só o detetive é capaz de
dizer como as coisas realmente aconteceram.

Os processos de investigação e de elaboração explicativa são muito


semelhantes. Como a história, ...a morte é um mistério e a busca do

criminoso operase nos têrmos de um problema. (LINS,1953). Podemos,


inclusive, comparar o momento em que o detetive cria uma explicação
para o crime e faz uma preleção final na qual as peças do quebra-
cabeças se unem e compõem uma imagem daquele passado até então
obscuro e misterioso, com o método descrito por Thompson em “A
Miséria da Teoria”:

O que estamos dizendo é que a noção (conceito, hipótese relativa à


causação) foi posta em diálogo disciplinado com as evidências, e
mostrouse operacional; isto é, não foi desconfirmada por evidências
contrárias, e que organiza com êxito, ou ‘explica’, evidências até então
inexplicáveis. (THOMPSON, 1978).

Ambos organizam à sua maneira os dados coletados no decorrer da


pesquisa, fazem conjuturas, elaboram hipóteses, criam, mas só o
detetive é capaz de obter a confirmação para as suas idéias. O
historiador seria um Poirot do mundo contemporâneo tentando
solucionar um crime ocorrido em um passado já bem distante.

Todos os suspeitos estariam mortos; as pistas, espalhadas por diversos


arquivos locais e fragmentadas em inúmeros códices; as armadilhas
psicológicas seriam inúteis; e a confirmação de que todos os indícios
analisados realmente tinham sentido dentro do quadro daquele
mistério seria impossível.

É o historiador que cria o sentido e produz o conhecimento — é ele que


elabora, no decorrer da sua pesquisa, ...um modelo teórico que define
por hipótese os mecanismos e as lógicas capazes de explicar a
complexidade dos comportamentos observados. (GRIBAUDI, 1996).

A história, entretanto, não é ficção. Mesmo que o historiador tenha a


liberdade de preencher as lacunas deixadas pela documentação,
interpretar os silêncios e fazer conjeturas, o quadro explicativo
elaborado por ele sempre se remete aos dados empíricos.

Não podemos inventar acontecimentos, colocar frases na boca de


nossos “personagens” como fazem os dramaturgos e romancistas. Os
exploradores do passado não são homens totalmente livres.

68
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O passado é seu tirano e os proíbe que saibam dele o que ele mesmo
não os entrega, cientificamente ou não. (BLOCH, 1995).

Para Marc Bloch, a história é uma ciência que não precisa formular
certezas objetivas como as ciências naturais, pois ...nossa atmosfera
mental não é a mesma.

O historiador, no final da sua investigação, no momento da escrita da

história, não pode confirmar suas idéias. Entretanto, nada o impede de


afirmar que o conhecimento produzido foi uma tentativa científica de
aproximação do real, tentativa esta que pode ser criticada e até mesmo
refutada por outros trabalhos.

Tal processo se dá através da busca de novos indícios, da elaboração de


novas questões e novas perspectivas de análise, sendo os resultados
das pesquisas submetidos ao julgamento dos membros da comunidade
de historiadores, que devem dizer se são válidos como trabalhos de
história ou não. (NOIRIEL, 1996).

É possível concluir, então, que a história é uma ciência diferente das


ciências naturais por abrir um espaço importante ao exercício da
subjectividade do historiador.

Segundo Max Weber, essa subjetividade compromete o conhecimento


científico. Em sua opinião, se o pesquisador quiser buscar a verdade
científica, ele deve deixar de lado os seus valores, suas paixões,
ideologias e opiniões, e simplesmente buscar essa verdade. Nas
palavras do próprio autor:

O homem tem personalidade e valores. Porém, emitir um juízo sobre


tais valores é um assunto de fé e, talvez, tarefa da reflexão e da
interpretação especulativas do sentido da vida e do mundo. Mas não é
objecto de uma ciência experimental no sentido em que queremos
praticá-la aqui. (WEBER, 1974).

Segundo Weber, na busca da verdade, quem deve falar é o homem do


entendimento, e não o homem da vontade. Para o sociólogo alemão,
mesclar essas duas figuras é extremamente pernicioso para a ciência.

Entretanto, no que se refere à disciplina histórica, mesmo o historiador


que busque a objetividade pura da ciência, no momento de escolher o
seu tema de pesquisa, preencher as lacunas da documentação,
interpretar os silêncios e organizar os seus dados, o elemento subjectivo
estará presente.

69
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Em verdade, conscientemente ou não, sempre tomamos de nossas


experiências cotidianas (...) os elementos que nos servem para
reconstruir o passado. (BLOCH,1995).

Segundo Henri I. Marrou, ...o infeliz historiador introduzirá sempre no


seu conhecimento algum elemento pessoal (...): exigir que ele termine
por isolar, no final de suas operações, (...) um resíduo 100% objetivo, é
impor a ele uma tarefa irrealizável; nessa perspectiva, ou mutilamos a
história [reduzindo-a a algumas simples constatações de fato] ou
abrimos a porta ao cepticismo.

Em resumo, o historiador, ao contrário do detetive, não tem como


atingir a verdade, ele não pode tocar o facto. Mas ele busca a verdade,
tenta aproximações, e nessa busca, ele não precisa abandonar as suas
paixões, nem indicar ao leitor quando for o homem do entendimento
ou o homem da vontade que estiver falando.

3.7.1. O Conceito de Ciência

Diversos autores tentaram definir o que se entende por Ciência. Os


conceitos mais comuns, mas, a nosso ver, incompletos, são os
seguintes:
 “Acumulação de conhecimentos sistemáticos;”
 “Actividade que se propõe a demonstrar a verdade dos factos
experimentais e suas aplicações práticas;”
 “Caracteriza-se pelo conhecimento racional, sistemático, exacto,
verificável e, por conseguinte, falível;”
 “Conhecimento certo do real pelas suas causas;”
 “Conhecimento sistemático dos fenómenos da natureza e das leis
que o regem, obtido atravé s da investigaç ão, pelo raciocínio e pela
experimentaç ão intensiva;”
 “Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por
outros enunciados;”
 “Conjunto orgânico de conclusões certas e gerais, metodicamente
demonstradas e relacionadas com objeto determinado;”
 “Corpo de conhecimentos consistindo em percepções, experiências,
factos certos e seguros;
 “Estudo de problemas solúveis, mediante mé todo científico;”
 “Forma sistematicamente organizada de pensamento objectivo.”

Sumário

Outros aspectos haveriam de ser tratados aqui, para se ter idéia mais
ou menos aproximada da reflexão tomasiana sobre a verdade.

70
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Mas é sempre preciso advertir para o facto de que a definição clássica,


aristotélico-tomista, da verdade-concordância implica muito mais
coisas do que uma simples afirmação do juízo, que separa ou une.

Em especial, a verdade tomasiana implica que tal juízo é, na realidade,


um meio para se ir à coisa mesma, de modo a obviar às dificuldades
ocorridas no próprio acto em que se abstraiu o inteligível de suas
condições sensíveis e materiais.

E se se considera o transfundo ontoteológico acima mencionado,


conclui-se que o intelecto humano, no ato de conhecer, procede à
reditio do ato criador divino.

Conhecer é, assim, percorrer o caminho de volta da criação, recuperar


aquela “luz” (tantas vezes usaram os antigos e medievais a metáfora da
luz!) que faz com que as coisas sejam e possam ser conhecidas.

É nesse percurso em direção à Verdade que o intelecto humano, ao


saber o mundo, toma consciência de si e se descobre imagem e
semelhança do divino.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Fale da importância do conhecimento.

Exercícios

1. Relacione os diferentes tipos de conhecimentos.


2. Conceitue Ciência.
3. Diga o que entende por verdade histórica.
4. Diferencie conhecimento relegioso do científico.
5. Na sua opinião, existe conhecimento mais impirtante?
Fundamente a sua resposta.

Unidade Temática 4: A evolução cultural e tecnológica

Introdução

Os homens se apegam apaixonadamente às velhas tradições e revelam


uma relutância intensa em modificar modos habituais de
comportamento, como os inovadores de todas as épocas verificam à
sua própria custa.

71
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

O peso do conservantismo, em grande parte uma aversão preguiçosa e


covarde pela cansativa e penosa actividade de pensar autenticamente,
sem dúvida retardou o progresso humano, no passado mais do que
hoje.

Objectivos:

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Distinguie os contextos históricos da produção da cultura;
 Distinguir contextos históricos de evolução tecnológica;
 Identificar o período do surgimento de máquinas.

4.1. A Produção da cultura e o processo de humanização

Inicialmente, para compreender na tradição marxista a definição de


cultura, faz-se necessário analisar como o ser humano se “humaniza”,
isto é, como ele forma a si mesmo no processo histórico.

Destacamos, desse modo, que as mediações e determinações entre a


cultura e a luta de classes são decisivas como possibilidades de
compreender o seu processo de produção material, do qual se
desdobra a produção simbólica, em sua perspectiva histórica,
determinado pelas relações que os seres humanos constroem no
processo de produção de sua existência, e, a partir destas relações,
podemos delinear o desenvolvimento cultural em sua materialidade.

Definindo o que é o homem, Markus explica que [...] o homem é antes


de mais nada uma criatura material, natural, um elemento da natureza,
que só é capaz de prover suas necessidades pela interação material com
os objectos naturais, os objectos de suas necessidades e que, por outro
lado, dispõe de um número finito de potencialidades, de capacidades
naturais, inscritas em sua estrutura orgânica [...] o que diferencia o
homem do animal deve ser procurado, em primeiro lugar, no que
diferencia as atividades vitais de ambos.

A actividade vital específica do homem é o trabalho, enquanto a


atividade do animal se limita à aquisição direta e, em geral, ao simples
consumo dos objetos que lhes são necessários.

Para Marx, é prioritária essa acção consciente dos homens sobre a


natureza, transformando-a em função de suas necessidades, chamada
de trabalho.

Marx e Engels, afirmam que se pode diferenciar o ser humano dos


animais por vários factores como a “consciência ou religião”, mas o ser

72
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

humano efetivamente começa a se diferenciar dos outros animais, no


momento em que inicia a produção de seus meios de vida, ato que se
encontra dependente da sua “organização corporal.

Desse modo, quando produz seus meios de vida, o ser humano está
produzindo “indiretamente sua própria vida material.

Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o ser humano e a


natureza, um processo em que o ser humano, por sua própria ação,
media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo
se defronta com a matéria natural, como uma força natural.

Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à sua


corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar-se da
matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao actuar, por
meio desse movimento, sobre a natureza externa a ele e ao modificá-
la, ele modifica ao mesmo tempo, sua própria natureza.

Desse modo, o trabalho é o elemento fundantal do ser humano, pois


como explica Engels, o trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os
economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de
fornecer materiais que ele converte em riqueza.

O trabalho, porém é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e


fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto,
podemos afirmar que o trabalho criou o próprio ser humano.

Na teoria marxista, a formação do ser humano, enquanto um ser social,


traz como princípio elementar a necessidade de se estar em condição
de poder viver e sobreviver e, assim, fazer história.

Portanto, o trabalho é determinante nas relações do ser humano com a


natureza e com os outros homens, condição básica e fundamental de
toda a vida humana; o que pode ser constatado através das alterações
e relações existentes entre o desenvolvimento humano e o
desenvolvimento das técnicas para a produção da vida.

Além do mais, como nos afirma Markus, o trabalho essa actividade


visando a transformação do objecto e transmitida por um instrumento,
rompe necessariamente a unidade biológica íntima do animal e de seu
meio, a aliança animal entre a necessidade e o objecto, e cria, o
conhecimento e a consciência humanas.

Compreendemos, portanto, que por meio da categoria “trabalho”


entende-se a formação do ser social numa perspectiva histórica, pois a
maneira pela qual o ser humano produz a sua existência, num certo
período, condiciona as suas consecutivas alterações de ordem

73
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

fisiológica e social, confirmando a prioridade da atividade vital do


trabalho no processo de humanização.

De acordo com as reflexões de Marx:

 Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence


exclusivamente ao ser humano. Uma aranha executa operações
semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um
arquiteto humano com a construção de favos de suas colmeias.
 Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade
orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios
[...] o processo de trabalho [...] é a actividade orientada a um fim
para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer
as necessidades humanas, condição universal do metabolismoentre
o ser humano e a natureza, condição natural eterna da vida humana
e, portanto [...] comum a todas as suas formas sociais.

É precisamente pela mediação do trabalho na relação do ser humano


com a natureza, momento em que começa a produzir cultura
diferenciando-se

dos outros animais, que ocorre o processo de humanização, da


formação do ser humano enquanto ser social, quando isso acontece o
ser humano dá um salto ontológico.

Leontiev (1978) afirma que “o aparecimento e o desenvolvimento do


trabalho, condição primeira e fundamental da existência do ser
humano, acarretaram a transformação e a humanização do cérebro,
dos órgãos de atividade externa e dos órgãos do sentido”.

Conforme Vieira Pinto assinala (1985), diferentemente do animal, no


ser humano a capacidade de resposta à realidade aumentou em
qualidade e intensidade, porque ao longo do processo de hominização,
as alterações que ocorreram devido a sua “ideação reflexiva”, criaram
novas ações sobre o ambiente, e por meio disso o ser humano exerceu
atos originais, não realizados antes por sua espécie.

Essas ações foram se acumulando na “consciência comunitária” numa


forma de “hereditariedade social” dos saberes adquiridos, pois devido
aos seus importantes resultados, foram guardados, acumulados e
transmitidos. Nessa direção Vieira Pinto afirma que

A cultura é, por conseguinte, coetânea do processo de hominização,


não tem data de nascimento definida nem forma distintiva inicial.

A criação da cultura e a criação do ser humano são na verdade duas


faces de um só processo, que passa de principalmente orgânico na

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

primeira fase a principalmente social na segunda, sem, contudo em


qualquer momento deixarem de estar presentes os dois aspectos e de
se condicionarem reciprocamente.

Podemos relacionar essa afirmação à descrição do três estágios, de


formação do ser social, por meio do trabalho, descrito por Leontiev
(1978, ). O primeiro estágio é o de preparação biológica tem inicio no
final do terciário e continua no início do quaternário.

O ser social atual neste período eram denominados de australopitecos,


eram animais que tinham uma vida societária; tinham conhecimento da
posição vertical e faziam uso de instrumentos rudimentares, é provável
que possuíssem meios extremamente primitivos para realizar a
comunicação entre o grupo.

Assim se desenvolvia o homem, tornado sujeito do processo social de


trabalho, sob a ação de duas espécies de leis:

E primeiro lugar, as leis biológicas, em virtude das quais os seus órgãos


se adaptaram às condições e às necessidades da produção;

Em segundo lugar, às leis sócio-históricas que regiam o


desenvolvimento da própria produção e os fenômenos que ela
engendra.

E por último, é o momento do surgimento do homem semelhante ao


atual, ou seja, o Homo sapiens. Este estágio compõe a fase
fundamental, a viragem.

É o período em que a evolução do homem se liberta inteiramente da


sua vinculação com as alterações biológicas decisivamente lentas, que
se transmitem por hereditariedade. Deste modo, somente as leis sócio-
históricas regem a evolução do ser humano.

Entendemos, portanto, que no processo de hominização, o ser humano


começa a lidar com os primeiros instrumentos, com as formas
rudimentares de trabalho na sociedade, porém a transmissão e a
definição das modificações anatômicas eram garantidas
predominantemente pela ação da hereditariedade.

Ou seja, o aparecimento do ser humano actual advém quando o mesmo


já possui os atributos biológicos necessários para o seu
desenvolvimento sócio- histórico ilimitado.

Passa a existir então a cultura, um modo diferente de transmissão e


apropriação das transformações e desenvolvimento da espécie, que
como produto do trabalho, diferencia o ser humano dos outros animais.

75
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Foi sob uma forma absolutamente particular, forma que só aparece


com a sociedade humana: a dos fenómenos externos da cultura
material e intelectual.

Esta forma particular de fixação e de transmissão às gerações seguintes


das aquisições da evolução deve o seu aparecimento ao facto,
diferentemente dos animais, de os homens terem uma atividade
criadora e produtiva. É antes de mais o caso da actividade humana
fundamental: o trabalho.

Na sua relação criadora com a natureza, e agora já com a natureza


modificada, o ser humano apropria-se das funções essenciais dos
instrumentos que utiliza e, assim, desenvolve por meio da apropriação
da cultura a formação de novas capacidades e novas funções
intelectuais.

Confrontando-se com adversidades naturais, o ser humano desenvolve,


simultaneamente com a evolução da produção de bens materiais, uma
cultura espiritual, seu conhecimento sobre o mundo que o rodeia e
sobre ele mesmo.

Assim, ao desenvolver-se enquanto ser social, o ser humano produz sua


existência e respectivamente a cultura material e simbólica,
transmitindo, destarte, os conhecimentos e conquistas humanas às
próximas gerações. Como nos explica Vieira Pinto:

“A cultura é, pois, o processo pelo qual o ser humano acumula as


experiências que vai sendo capaz de realizar, discerne entre elas, fixa as
de efeito favorável e, como resultado da acção exercida, converte em
ideias as imagens e lembranças, a principio coladas as realidades
sensíveis, e depois generalizadas, deste contato inventivo com o mundo
natural”.

Podemos definir, dessa maneira, que a cultura é constituída pelo


resultado da relação produtiva do ser humano sobre a natureza. Ou
seja, tudo aquilo que não é natural e tem actividade humana
condensada, é cultura.

Desse modo, compreendemos que a cultura é indissociável do processo


de produção. Isso ocorre em dois sentidos:

a) produção do ser humano por si mesmo, diante de sua ação sobre a


natureza, para reproduzir e perpetuar a espécie que evolui cada vez
mais e aumenta sua capacidade “ideativa”;
b) produção dos meios de existência da vida dos sujeitos e de sua prole.

Partindo desta análise, compreendemos que o desenvolvimento da

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

cultura está sempre apoiado numa base material da produção de bens,


por meio da qual o ser humano se constitui espécie distinta, e organiza
a sociedade como condição de sobrevivência.

Portanto, a cultura é um producto da existência do ser humano,


resultado de sua vida concreta na sociedade em que vive e das
condições, principalmente sociais que o circunda.

Sintetizando, podemos afirmar as seguintes características da cultura


numa perspectiva marxista:

 É resultado do trabalho, isto é, da ação do ser humano sobre a


natureza e, portanto, primeiramente a cultura é material;
 Da cultura material se desdobram os elementos que compõem a
cultura não material ou simbólica, como: a linguagem, as ideias e o
conhecimento;
 O conhecimento, dessa forma, é uma parte da cultura, não podendo
ser confundido como seu sinónimo;
 A apropriação da cultura é sempre um processo coletivo, ou seja, é
necessária a existência de mediações para que a mesma seja
transmitida e apropriada no processo de humanização.

Sumário

Entendemos, portanto, que a apropriação dos rendimentos da cultura


material e espiritual ocorre devido a sua relação com os outros homens
e é por este movimento que o ser humano faz a aprendizagem de uma
atividade apropriada, sendo, por conseguinte, um processo educativo,
desse modo, podemos afirmar que a apropriação da cultura é sempre
um processo colectivo.

Do ponto principal que deve ser bem sublinhado é que este processo
deve sempre ocorrer sem o que a transmissão dos resultados do
desenvolvimento sócio-histórico da humanidade nas gerações
seguintes seria impossível, e impossível, consequentemente, a
continuidade do progresso histórico o movimento da história só é,
portanto, possível com a transmissão, às novas gerações, das aquisições
da cultura humana, isto é, com educação.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Descreva a produção da cultura e o processo de humanização

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Exercícios

1. Define cultura.
2. Quais são as principais características da cultura?
3. Quando é que apareceu a cultura na espécie humana?
4. Define o homem segundo Markus.
5. A cultura é indissociável do processo de produção. Argumente.

Unidade Temática 4.2. O homem e a técnica

Introdução

Para os manuais de história as grandes transformações na industria


começaram com a invenção da máquina a vapor de Watt. Enquanto que
os livros convencionais de economia conferem maior importância á
introdução da maquinãria automática na fiação e tecelagem.

Sem querer entrar no mérito da questão, ambas as suposições sugerem


a impressão que a denominada Revolução Industrial estourou de um
dia para o outro com efeitos drásticos sobre a vida humana.

Evidentemente, seria injusto querer desmerecer o valor dos grandes


inventos tecnológicos dos dois ultimos séculos, como também seria
anti-histórico não enxergar as consequências sempre mais
determinantes advindas da sua aplicação industrial, não somente na
vida particular dos que têm contacto directo com a industria, mas
também na própria estrutura da sociedade actual.

Se não houve, conforme indicamos acima, uma descontinuidade no


desenvolvimento técnico na história humana, houve porem na época
deram uma aceleração tão marcante do mesmo que a simples
continuidade de dele não pode ser mais considerada uma explicação
suficiente.

Era por outro lado necessária uma profunda mudança de mentalidade


para que o terreno fosse preparado para a aceitação da tecnologia e de
seu predominio. Amáquina tinha que ser ideológica e socialmente
desejada antes de se tornar rair, ha do mundo actual.

Em outras palavras, era necessário que o homem se fizesse mecanico


antes de adquirir a capacidade de excogitar e fabricar as máquinas para
fins industriais.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Identificar o período do surgimento das primeira máquinas;
 Descrever o processo da evolução tecnológica

Quando e como se processou esta mecanização da mente humana?


Seria pretencioso querer responder satisfatoriamente a uma pergunta
tão abrangente com uma breve comunicação. Tentarei, contudo,
esboçar o caminho do que me parece uma explicação razoável.

Entre os três elementos aqui citados escolhemos para a nossa


comunicação somente o primeiro, o mosteiro. Pretendemos estudar de
que modo a ordem dos mosteiros medievais concorreu. embora não
intencionalmente. Para a mecanização da mente humana. Entre várias
datas citadas pelos historiadores como significativas para o começo da
Idade Média.

Evidente, as epocas históricas não começam na data certa, é preferível


falar em períodos de transição. Neste sentido o prazo de cerca de dois
seculos, entre o Edito de Milão (312) e a fundação de Monte Cassino, e
tipicamente transitório; da lenta, mas inexorãvel agonia da AntigUidade
para o tímido brotar de novos valores e formas da Idade Media.
Portanto, tamém na minha periodização, a obra de são Bento
representa um marca especialmente para a história ocidental.

4.2.1. Quando surgiu o primeiro relógio mecânico?

O uso de pesos como mecanismo de acionamento não é uma novidade,


pois já remonta a era pré-cristã. O emprego das engrenagens não e
desconhecido na Antiguidade, mas se alastra e se aperfeiçoa durante a
Idade Media na industria de moagem e afins.

Durante muito tempo estes elementos não podiam ser empregados


para a medição do tempo, por falta de meios para controlar a força do
peso em queda que sem um breque, sem um escapo, moviam-se em
ritmo acelerado.

A invenção do escapo e depois, a sua aplicação á medição do tempo


pelo relógio, tornaram-se portanto o passo principal na confecção do
relógio mecanico.

O monge Gerberto, depois Papa Silvestre 11 (999-1003), foi até o


começo deste século considerado como inventor do primeiro relógio
mecanico.

79
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Esta persuasão era tão universal que fazia parte do conhecimento


enciclopédico. Para podemos mencionar o conhecido "Dizionario de
Erudizione Ecclesiastica" do fim do século passdo que endossa como
indiscutivel a seguinte afirmação de Maurini: "Entre as invenções úteis,
fruto dos seus estudos, antes de subir ao Pontificado, o mais importante
é o relógio a balanço.

A tradição apoiava-se no testemunho de Guilherme Malmesbury


(Willian of Malmesbury) conforme o qual Gerberto fabricou para o
mosteiro de Magdeburg um relógio que indicava o tempo de dia e de
noite, explicitando que o aparelho foi feito segundo principios
mecanicos:

Hoje em dia porem tudo indica que o artefacto de Gerberto não passava
de um sofisticado relógio de água, pois a primeira descrição de um
escapo é muito posterior, por volta de 1250.

Os autores fundamentam suas preferências com argumentos mais ou


menos sólidos, contudo não apodicticos. Convém por prudência optar
pelo termo "post quem".

Neste sentido a posição de Usher nos parece a mais correta: "A critica
chega á conclusão de que as caracteristicas essenciais do relógio
mecanico eram já conhecidas em 1335. Três, ou possivelmente quatro
relógios construidos no decurso dos doze anos seguintes. Pelo menos
oito relógios foram construidos entre 1352 e 1360; treze entre 1361 e
1369; cinco em 1370.

Embora as conclusões da critica moderna levem a negar a primazia do


invento ao monge Gerberto. permanece contudo sintomática a
persuasão medieval, conservada pela tradição, de que o relógio
mecânico foi fruto dos cuidados dispensados pelos monges á medição
do tempo, que o seu berço foi o mosteiro e o seu inventor um monge.

A desmistificação do nome do inventor em nada diminuiu a persuasão


tradicional ligando o surgimento do relógio mecânico ao ambiente
monástico.

A proliferação de relógios mecanicos com a expansão urbana - exibidos


artistica e jocosamente das torres das igrejas góticas - transfere para o
mundo extramonãstico a ordem da mais exacta e perceptlvel divisão de
tempo.

Poderiamos imaginar a sociedade industrial sem petroleo, mas não sem


relógio. Por isso também, o relógio é a máquina universalmente mais
usada; ela foi a principal responsãvel pela mecanização da mente
moderna.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

4.2.2. Evolução da tecnologia

A história da humanidade pode contar-se a par da história da evolução


tecnológica, uma vez que se influenciam mutuamente. Umas vezes a
sociedade cria condições para a evolução tecnológica, apoiando a
criação de novas técnicas, outras vezes é a tecnologia que proporciona
alterações sociais, através da disponibilização de técnicas que
permitem criar novos hábitos, novas condições de vida.

Se reflectirmos um pouco, verificamos que o estudo da história está


desde logo organizado em dois períodos: a pré-história e história.

Quando designamos um determinado período da história estamos


quase sempre a identificar um período com determinadas invenções
técnicas e novas tecnologias.

Algumas tecnologias, que hoje já não utilizamos ou caíram em desuso,


foram no seu tempo o motor do progresso social, contribuindo para que
fossem inventadas técnicas que marcam o nosso dia-a-dia.

Por outro lado, há tecnologias criadas há séculos, que continuam com


tanta importância como a que tiveram à data da sua invenção.

4.2.3. Paleolítico ou idade da pedra lascada

A designação deste período deve-se ao facto de nesse período a


tecnologia se centrar no desenvolvimento dos primeiros instrumentos
de caça feitos em madeira, osso ou pedra lascada.

Usava-se o machado de pedra, para cortar e esmagar os alimentos mas


também como arma de defesa e para fazer furos. As lascas das pedras
eram aproveitadas para fabricar utensílios cortantes, usados nas
técnicas de corte e até produção de objectos esculpidos.

4.2.3. Neolítico ou idade da pedra polida (8000 a.C. no médio oriente


e 3000 a.C. na Europa).

O Neolítico caracteriza-se pela criação de instrumentos de pedra polida.


Após um longo período do paleolítico (cerca de 10.000 anos), o neolítico
surge em resultado de conquistas tecnológicas que garantiram a
sobrevivência dos povos nesse período.

Dão-se grandes conquistas técnicas que, aliadas às transformações do


ambiente permitem ao ser humano controlar gradualmente a natureza.

Tecnologias como a cerâmica, a tecelagem, a cestaria, a moagem, a

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

descoberta da roda e a tração animal mostram os grandes progressos


técnicos que se observaram neste período.

A fixação de comunidades permanentes, em aldeias, contribui para a


criação de métodos básicos da construção de arquitetura em madeira,
tijolo e pedra.

Outra manifestação de arte foi a criação dos monumentos megalíticos,


destinados ao culto funerário (antas, menires e cromeleques).

Se até 5000 a. C., a evolução tecnológica se fez muito lentamente, a


partir de então vai acontecer a um ritmo mais acelerado, mas não
constante.

Há períodos da história onde a evolução tecnológica é lenta ou pouco


significativa para alterar e influenciar os modos de vidas das sociedades
em questão.

Seguidamente, analisa-se a Idade Média, nomeadamente na transição


para o Renascimento, aqui referido como o período da “Revolução
Científica”. A partir deste período, as inovações tecnológicas vão
ocorrer a um ritmo cada vez mais rápido e acelerado.

4.2.4. A Mesopotâmia das antigas civilizações (5000 a. C. a 330 a. C.)


(actual Iraque)

A história da Mesopotâmia caminha de certa forma a par com o antigo


Egipto. Uma das principais inovações do período sumério foi a
descoberta do bronze. Por volta de 4000 a. C., os Sumérios já tinham
dominado a técnica da fundição, e já conheciam o cobre.

Por volta de 3000 a. C., descobriram que a combinação do cobre com


estanho e arsénico permitia fazer bronze. O ouro e a prata também
eram manipulados pelos especialistas.

A invenção da roda, ocorrida em diferentes lugares do mundo e em


diferentes épocas independentemente do contacto entre os povos,
aconteceu pela primeira vez na Suméria.

A roda de oleiro já estava em uso antes de ser empregada nos meios de


transporte, por volta do último século do quarto milénio a.C. Os

arqueólogos encontraram restos de carruagens enterrados na região da


antiga suméria, usadas provavelmente para transportar bens materiais.

Posteriormente, os veículos com rodas foram utilizados para fazer

82
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

guerra. A invenção da roda é particularmente importante, uma vez que


permitiu aos antigos ampliar o número de bens transportados.

Sumário

A abordagem ao início da história centra-se, aqui, nas culturas da


Mesopotâmia e sobretudo do antigo Egito. Faz-se uma breve referência
à Grécia Antiga, para se aprofundar um pouco mais o contributo dos
Romanos, nomeadamente ao nível da arquitetura e urbanismo.

As primeiras cidades da história surgem na Mesopotâmia. No entanto e


apesar do seu impacto simbólico e estético, a utilização sistemática do
adobe como tecnologia construtiva, explica a sua ruína quase completa.

Exercícios de Auto-Avaliacão

1. Reflicte sobre as primeiras manifetações Tecnológicas da


humanidade.

Exercícios

1. Quando e como se processou a mecanização da mente humana?


2. Quando surgiu o primeiro relógio mecanico?

Unidade Temática 5. Do Processo de Sedentarização ao


Desenvolvimento das Sociedades Humanas Pré-Históricas

Introdução

Antes mesmo do homem dominar a escrita, antes do surgimento das


primeiras civilizações, um manífero da ordem dos primatas, da família
dos hominídeos, género homo, mais conhecido como HOMEM, já
adquiria suas primeiras conquistas: Caminhar com postura ereta,
ampliação da capacidade cerebral, independência das mãos e domínio
de uma linguagem.

O homem durante todo esse período, teve que se adaptar as mais


diversas condições para garantir sua sobrevivência e é
isso que revela os arqueólogos e os historiadores sobre o estudo dos
vestígios deixados pelo homem da pré-história.

O longo período pelo qual o homem passou por diversas

83
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

transformações é a Pré-história. E, para facilitar o estudo desse


período, os cientistas dividem-no em três partes: Paleolítico, Neolítico
e Idade dos Metais. A seguir, serão analisados os períodos Paleolítico e
Neolítico.

O Paleolítico ou Pedra Lascada caracterizou-se pela busca do homem


pela subsistência e estendeu-se por, aproximadamente, três milhões de
anos. Alguns pesquisadores acreditam que os primeiros homens
andavam em grupos, facilitando o convívio e a proteção contra os
perigos.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Descrever o processo de sedentarização;
 Caracterizar as sociedades primitivas (caçadores-recolectores);
 Identificar o papel da agricultura no processo de sedentarização

No início, apenas pegavam da natureza o necessário para a


sobrevivência, por essa razão eram nómadas, ou seja, estavam sempre
se locomovendo de um lugar para outro.

Nessa fase, os seres humanos dependiam quase exclusivamente da


natureza para sobreviver. O seu processo migratório seguia os ciclos
naturais e as trilhas dos animais; eram caçadores-recolectores.

Para a sua segurança, procuravam locais como o alto das árvores, as


grutas e as cavernas. Alguns grupos faziam abrigos de galhos, cobertos
de folhas ou de pele de animais.

Além disso, o desenvolvimento da comunicação através de desenhos,


gestos e palavras facilitou o convívio entre indivíduos do mesmo grupo.
Homens e mulheres viviam em bandos e dividiam o espaço e as tarefas.

A divisão das tarefas dentro do grupo estabelecia formas de cooperação


entre os membros. Aos homens cabiam a caça, a protegessem e os
ajudassem no momento da caça.

Durante o Paleolítico, o domínio do fogo foi a mais notável evolução.


Muitos grupos humanos desconheciam as técnicas de produção do fogo
e buscavam adquiri-lo, roubando-os de outros que dominavam a sua
produção.

As disputas ocorriam devido à sua ampla utilização, como afastar os


animais ferozes, iluminar as cavernas, aquecer o corpo e cozinhar os
alimentos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Os estudiosos da Pré-história acreditam que o homem conseguiu


dominar o fogo há cerca de quatrocentos mil anos, baseados na datação
de vestígios de lareiras descobertas em diversos sítios.

Não resta nenhuma dúvida de que o domínio do fogo tornou a vida dos
homens da Pré-História muito mais fácil, e o interior das cavernas, um
refúgio mais seguro.

5.1. Organização das Primeiras Sociedades – Caçadores e recolectores

O Homem aprendeu a roubar sistematicamente o mel das abelhas,


manipulando as colmeias. Na costa litoral estremenha caçava-se o
veado, o javali, o auroque, o corço e o coelho.

Noutras regiões, a cabra-montês e diversas aves selvagens – pato,


ganso, tordo, faisão, rola – completavam a dieta. Pescava-se nos rios e
ribeiros e recolhia-se todo o tipo de frutos, comiam-se caracóis e
conchas... aos milhões.

Construíram-se choças primitivas às margens dos rios (só bem mais


tarde se construíram cabanas com ramos e barro). Assentaram-se as
primeiras «oficinas de sílex».

Começou a produção de objectos de adorno – a partir de conchas, por


exemplo. Singelas peças, com um orifício para suspensão, obtido por

furo das cascas de moluscos.

Outro grande avanço ocorreu quando o homem passou a dominar


algumas técnicas agrícolas, produzindo ele próprio os seus alimentos,
iniciando, assim, um outro período, há cerca de quinze mil anos, o
Neolítico.

Nesse período, percebeu-se que, das árvores, caíam sementes na terra


e dali nasciam novas plantas, que, ao crescerem, davam novos frutos e
novas sementes.

Graças ao trabalho feminino de selecionar espécies silvestres, teve


origem o cultivo do trigo, da cevada, do centeio e do arroz, e a
alimentação foi enriquecida de nutrientes.

Os cereais cultivados não levaram ao abandono do consumo de


alimentos de origem animal. Os cereais, a carne, o leite e seus derivados
passaram a ser incorporados na dieta e ajudaram a aumentar a
população, pois morria-se menos.

A partir do momento em que o homem dominou técnicas de produção


de alimentos, não houve mais a
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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

necessidade do nomadismo. Ocorreu, assim, o que chamamos de


sedentarização, ou seja, a fixação do homem à terra.

Não havia mais o tempo ocioso de antes, e a agricultura era uma


atividade que impunha uma maior organização do trabalho. O
aprimoramento das técnicas agrícolas, mais adequadas para aumentar
a productividade e acumular o excedente em épocas de má colheita, foi
primordial no processo de sedentarização.

Todo esse desenvolvimento fez com que o homem passasse a observar


de forma mais atenta os fenómenos naturais, pois ele dependia
totalmente da natureza para a sua sobrevivência. Um outro avanço que
não pode deixar de ser mencionado foi a domesticação dos animais.

O cão, o jumento, a cabra e o cavalo foram os primeiros animais


utilizados para benefício humano. Além da domesticação de animais,
da agricultura e da sedentarização, outro facto que não se pode deixar
de mencionar foram as construções de moradias conhecidas como
nuragues, que eram edificações de pedra.

Muitos grupos humanos desconheciam as técnicas de produção do fogo


e buscavam adquiri-lo, roubando-os de outros que dominavam a sua
produção.

As disputas ocorriam devido à sua ampla utilização, como afastar os


animais ferozes, iluminar os estudiosos da Pré-história creditam que o
homem conseguiu dominar o fogo há cerca de quatrocentos mil anos,
baseados na datação de vestígios de lareiras descobertas em diversos
sítios.

Não resta nenhuma dúvida de que o domínio do fogo tornou a vida dos
homens da Pré-História muito mais fácil, e o interior das cavernas, um
refúgio mais seguro.

O aprimoramento das técnicas agrícolas, mais adequadas para


aumentar a productividade e acumular o excedente em épocas de má
colheita, foi primordial no processo de sedentarização.

Todo esse desenvolvimento fez com que o homem passasse a observar


de forma mais atenta os fenómenos naturais, pois ele dependia
totalmente da natureza para a sua sobrevivência.

Um outro avanço que não pode deixar de ser mencionado foi a


domesticação dos animais. O cão, o jumento, a cabra e o cavalo foram
os primeiros animais utilizados para benefício humano.

Além da domesticação de animais,da agricultura e da sedentarização,

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

outro fato que não se pode deixar de mencionar foram as construções


de moradias conhecidas como nuragues, que eram edificações de
pedra.

5.1.1. O papel da agricultura

Antes de discutir a importancia do ferro no processo de dispersao dos


povos, deve‑se levar em conta um outro elemento, a agricultura.

A agricultura implica um certo controle de suprimento de viveres e um


modo de vida relativamente sedentário em contraste com os
deslocamentos constantes dos caçadores‑recolectores.

Isso favorece o aumento do efectivo dos grupos e o desenvolvimento


de estruturas – sociais e depois politicas – mais complexas.

A agricultura – principalmente a cultura praticada em terras preparadas


e a horticultura – implica igualmente uma população mais densa e um
aumento na cifra total de população.

Para a identificacao das sociedades agricolas, os arqueologos recorrem


a provas directas e indirectas. As provas diretas podem ser as sementes
ou os grãos, encontrados em estado carbonizado nos terrenos
escavados, ou provir da aplicação de técnicas avançadas de pesquisa
arqueológica, tais como a análise de flutuação, a palinologia, que
permite identificar os polens fossilizados de plantas cultivadas, e a
identificacao das impressões dos grãos na cerâmica.

Entre as provas indirectas ou circunstanciais pode ser citada a


descoberta de instrumentos destinados ao cultivo, a colheita e a
preparação de alimentos vegetais.

Infelizmente as condições climáticas em quase toda a Africa


subsaariana não favorecem a descoberta de grande parte das provas
directas.

Até o final dos anos 1950, era muito comum supor que o surgimento da
agricultura na maior parte da Africa subsaariana foi um evento tardio,
em realidade contemporaneo da introducao da tecnologia do ferro em
quase todo o continente, a excecao de algumas regioes da Africa
ocidental.

Essa inovação proveniente do sudoeste da Ásia teria se generalizado,


atingindo o vale do Nilo e finalmente o restante da África. Contudo,
recentes descobertas no Saara e em outros lugares indicam que a
historia nao e tao linear.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

As prirneiras colocações contrarias ao ponto de vista tradicional sobre


as origens da agricultura africana foram as de Murdock: esse autor
afirmou que a area de origem de grande parte da agricultura africana
situava‑se na regiao da Africa ocidental que corresponde a bacia
superior do Niger e do Senegal no Futa Djalon.

Embora no momento a hipótese de Murdock nao possa ser corroborada


minuciosamente, fica evidente que os inhames, uma certa variedade de
arroz, o sorgo, o dendezeiro e outros generos menos importantes são
originarios da Africa ocidental.

Considera que interacoes podem ter ocorrido pela primeira vez por
volta da metade do I milenio antes da Era Crista. Ele sugere ainda que
a area em torno do lago Tanganica foi estrategica para a dispersão
posterior do grupo oriental dos Protobantu, na medida em que se trata
de uma regiao apropriada para a cultura do sorgo e da eleusine, bem
como para a criacao de gado.

Ehret tambem indica que as palavras protobantu para “enxada” e


“sorgo” são derivadas das linguas do Sudão central, o que nos leva a
considerar uma dupla eventualidade: a interação social entre os povos
nilo‑saarianos e os ancestrais dos Bantu, e a difusão, para o sul, da
agricultura caracterizada pelo uso da enxada e da cultura do sorgo, esta
última ocorrendo principalmente na direcao dos territorios ocupados
pelos Bantu.

Embora possa ter havido uma certa expansao demográfica, como


resultado desse desenvolvimento, em torno do I milenio antes da Era
Cristã, as descobertas dos arqueólogos, descritas nos capítulos
posteriores, mostram bem que a expansão principal dos povos
agricultores foi um fenomeno do I milenio da Era Crista na maior parte
da Africa bantu.

Sumário

Devido à necessidade de sobrevivência, os primeiros grupos humanos


desenvolveram ferramentas, normalmente de pedra lascada, e armas
rudimentares que os foi a mais notável evolução.

No Mesolítico, os homens ainda eram nómadas, mas tinham


alojamentos de Inverno e acampamentos de Verão. Só em regiões que
ofereciam suficiente alimento durante o ano inteiro, os nómadas
armavam as suas tendas durante temporadas mais longas.

Embora as origens, a epoca e o modo de desenvolvimento da


agricultura africana sejam relativamente controversos, em geral se
admite que, a excepção de certas
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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

comunidades rigorosamente localizadas no Rift Valley do Quenia, que


teriam cultivado o milhete, o inicio da agricultura, pelo menos na
maioria das regiões da Africa onde se fala o bantu, e contemporaneo do
surgimento da metalurgia do ferro.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Caracterize as sociedades primitivas.

Exercícios

1. Sobre o surgimento da agricultura e seu uso intensivo pelo homem


pode-se afirmar que:
a) foi posterior, no tempo, ao aparecimento do Estado e da escrita.
b) ocorreu no Oriente próximo (Egito e Mesopotâmia) e daí se difundiu
para a Ásia (Índia e China), Europa e, à partir desta para a América.
c) como tantas outras invenções teve origem na China, donde se
difundiu até atingir a Europa e, por último, a América.
d) ocorreu, em tempos diferentes, no Oriente Próximo (Egito e
Mesopotâmia), na Ásia (Índia e China) e na América (México e Peru).
e) de todas as invenções fundamentais, como a criação de animais, a
metalurgia e o comércio, foi a que menos contribuiu para o ulterior
progresso material do homem.

2. Na Pré-História encontramos fases do desenvolvimento humano.


Qual a alternativa que apresenta características das actividades do
homem na fase neolítica?
a) Os homens praticavam uma economia coletora de alimentos.
b) Os homens fabricavam seus instrumentos para obtenção de
alimentos e abrigo.
c) Os homens aprenderam a controlar o fogo.
d) Os homens conheciam uma economia comercial e já praticavam os
juros.
e) Os homens cultivavam plantas e domesticavam animais, tornando-se
produtores de alimentos.

4. Todas as alternativas correspondem a actividades desenvolvidas


durante o neolítico. Assinale aquela que sofreu solução de
continuidade quanto ao seu desenvolvimento.
a) A procura dos homens do neolítico pelas margens dos rios para se
fixarem devido à secura do clima e à escassez de água.
b) A sedentarização do homem, o desenvolvimento do cultivo do solo,
de técnicas de caça e a domesticação de animais.
c) O surgimento dos primeiros aglomerados urbanos devido à
necessidade dos indivíduos se defenderem de saques e agressões.
d) O aparecimento dos primeiros trabalhos em metal, em barro e em lã.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

5. Em relação ao momento em que homens e mulheres se colocaram


como seres históricos no mundo, é correcto afirmar:
a) A invenção da escrita, da roda, do fogo é o que caracteriza os povos,
considerados com história, que se estabeleceram às margens do rio
Nilo, há milhões de anos.
b) A história da humanidade teve início na região conhecida na
Antigüidade por Mesopotâmia, quando se inventou a escrita.
c) As pesquisas arqueológicas vêm apontando que a história humana
teve início há um milhão de anos, em várias regiões do globo terrestre,
simultaneamente.
d) Entre 4 e 6 milhões de anos atrás, surgiram na África os primeiros
antepassados do ser humano com os quais teve início a história da
humanidade.
e) O elemento preponderante no reconhecimento dos homens e
mulheres como seres históricos é a invenção da linguagem, há 2 milhões
de anos, no continente europeu.

6. Foi factor decisivo para a sobrevivência dos povos do período


Neolítico:
a) a utilização de metais como cobre e bronze.
b) o nomadismo típico dos povos caçadores e coletores.
c) a revolução agrícola.
d) a revolução urbana e a formação dos impérios tecnocráticos.
e) a formação de religiões monoteístas.

Unidade Temática 5.2. Desigualdade social e estratificação


social;
5.2.1. Diferença e desigualdade social

Introdução

O debate relacionado à diferença social e à desigualdade social leva em


conta alguns aspectos importantes na especificação de cada definição.

Ou seja, as designações dessas categorias não são sinónimas. No


entanto, podemos observar que algumas diferenças sociais passam a
representar elementos de desigualdade social na dinâmica das relações
sociais construídas entre os indivíduos.

Entretanto, a diferença pode ser considerada natural, por ser inerente


ao sujeito. Em contrapartida, a diferença de sexo pode ser ressignificada
nas relações sociais e tornar-se um elemento de diferenciação e de
desigualdade social.

90
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Nesse sentido, quando falamos de diferenciação social entre os sexos,


estamos nos referindo às relações de gênero.

Esta definição supõe que os atributos, tanto da ordem da natureza


quanto da ordem do social, passam a ter valor na dinâmica das relações
sociais. Uma característica física, biológica, como é o sexo, transforma-
se em algo negativo ou positivo na construção das interações sociais,
que não está dada, mas resulta das relações socialmente construídas.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Identificar as diferentes formas da estratificação social;
 Descrever as formas de divisão sexual de tarefas

Podemos falar também nas diferenças sociais relacionadas à construção


identitária dos sujeitos no interior dos grupos sociais. Nesse caso,
também há uma relação entre identidade social e a posição ocupada
pelo sujeito na estrutura social da sociedade. No entanto, ressaltamos
mais uma vez que essa relação é construída nas interações sociais.

Torna-se necessário, então, entender a diferença entre identidade


social e cidadania: a primeira remete à questão da diferença social
relacionada ao espaço privado, e a segunda, à questão da desigualdade
social relacionada ao espaço público.

Com o advento da sociedade industrial, a cidadania torna-se um direito


público, já que é no espaço público que as relações sociais são
construídas tendo como referência a sociedade global; logo, a cidadania
está relacionada à existência social dos indivíduos.

As relações de trabalho são exemplos de interações estabelecidas no


âmbito da sociedade. Na era moderna, a cidadania passa a ser um
direito, e não uma concessão; passa a ser uma condição de liberdade,
na qual se estabelece a igualdade formal entre os cidadãos que
expressam essa condição nos espaços públicos de interação.

Nesse sentido, o trabalho passa a ser um elemento importante que


garante aos indivíduos sua liberdade para transitar no território, para
expressar sua convicção religiosa, para ter acesso ao conhecimento e a
alguns bens comuns.

O indivíduo passa, então, a ter liberdade para vender sua força de


trabalho a fim de garantir a reprodução social de sua família (GEHLEN,
2009).

91
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Em contrapartida, a identidade social do indivíduo está relacionada à


existência privada. Ou seja, a identidade sociocultural refere-se à
totalidade cultural da qual o indivíduo faz parte.

Assim, entre os ciganos, ou entre os caboclos, ou entre os zulus, ou


entre os poloneses, cada um se define pela semelhança, pelos gostos,
pelo cheiro, pelos hábitos, validados pelos que pertencem ao mesmo
universo da vida privada ou à mesma cultura, possuem o mesmo cheiro,
pensam de forma a se entenderem por gestos, meias palavras. As leis
são de sangue e, em geral, não escritas.

Na atual dinâmica social, algumas identidades socioculturais se


sobrepõem a outras. Esse é o caso da dita civilização que tem como
centro a tradição romanocristã e os fundamentos que compõem o que
entendemos hoje por cidadania, que, a partir de uma visão
eurocêntrica, subvaloriza as identidades indígenas e africanas.

Em nome dessa civilização ocidental cristã, subjugam-se essas


identidades como se ocupassem posição inferior no estrato social.
Portanto, nesse caso, a diferença se constituiu também em critério de
desigualdade social.

Os valores de cidadania se impuseram como se constituíssem uma única


identidade universal e, com isso, deveriam fazer parte da vida privada
de cada um. A cidadania se sobrepôs à identidade; o trabalho, à cultura.

Portanto, o debate sobre as definições de diferença e desigualdade


sociais é de extrema relevância para o entendimento das dinámicas
sociais que envolvem a construção da estrutura social da sociedade e
para seu entendimento através da estratificação social, já que, como
ficará claro ao longo do texto, na sociedade em que vivemos, os
indivíduos se diferenciam não só em relação à sua identidade
sociocultural, senão também em relação à cidadania.

5.2.2. Estratificação social

Na medida em que as sociedades humanas se desenvolveram, elas


tenderam a se complexificar. A complexidade de uma sociedade pode
ser identificada por sua diferenciação interna, de modo que podemos
afirmar que as sociedades complexas são internamente diferenciadas.

Quando essas diferenças sociais são usadas como fundamento para a


distribuição desigual de recursos e poder, fundando relações de
dominação e atribuindo às pessoas e aos grupos sociais posições numa
hierarquia social, deparamo-nos com a produção de desigualdades
sociais.

92
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

As desigualdades podem ser entendidas como produtos da distribuição


diferenciada de recursos socialmente valorizados, tais como
conhecimento, renda monetária, propriedade, prestígio e poder
político.

Um dos mecanismos utilizados pelos cientistas sociais para investigar


essas desigualdades são as teorias e esquemas de estratificação social.
Estes oferecem subsídios para descrever a maneira como os recursos se
concentram entre diferentes grupos e classes sociais.

5.2.3. O que é estratificação social?

Embora seja possível construir uma extensa ordenação dos graus e


recursos aos quais os indivíduos têm acesso e dos quais têm controle,
tais como renda monetária, propriedades, poder e prestígio, a
abordagem adotada pela Sociologia é a de analisar essa distribuição
como uma manifestação coletiva, por meio do estabelecimento de um
conjunto de estratos sociais, representativos de grupos e classes
específicas.

Isso permite que a sociedade possa ser estudada a partir da constituição


da desigualdade entre grupos sociais dispostos de maneira
hierarquizada, formando camadas distintas e superpostas.

Nesse sentido, o sociólogo britânico Anthony Giddens (2005,p. 234)


escreveu de maneira bastante simples que “a estratificação social pode
ser definida como as desigualdades estruturadas entre diferentes
agrupamentos de pessoas”.

Resumindo, podemos dizer que estratificação social é um recurso


heurístico que auxilia no estudo das diferenças e das desigualdades
entre pessoas e grupos em uma dada sociedade ou em uma parte dela,
permitindo identificar a posição que cada um ocupa na estrutura social,
de acordo com um critério estabelecido teoricamente.

O objectivo da pesquisa que se utiliza da estratificação social é


especificar a forma e os contornos desses distintos grupos sociais para
descrever os processos através dos quais se faz a alocação dos
indivíduos em diferentes condições sociais de existência, a fim de
revelar os mecanismos institucionais por meio dos quais são geradas e
mantidas as desigualdades sociais (GRUSKY, 1996).

Um dos indicadores mais famosos criados para a medição da


desigualdade em relação a um recurso específico é o Índice de Gini,
explicado detalhadamente abaixo.

5.2.4. Divisão sexual de tarefas

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Nos grupos precedentes à revolução agrícola já havia uma divisão


sexual de tarefas: ao homem cabia a caça e a preparação de todo o
quipamento para a actividade, enquanto a mulher era a colectora e a
responsável pela educação dos filhos.

Com as mudanças ocorridas com a agricultura, o homem passa a


derrubar os bosques e preparar a terra para a lavoura, enquanto a
rotina da lavoura fica nas mãos das mulheres.

São elas que cuidam da casa, das crianças, da comida e da colheita,


submetidas à rotina massacrante dos dias iguais, que tolhem a
criatividade e reduzem a imaginação ao horizonte de suas vidas.

O homem não é o principal produtor. De resto já não o era antes. Vimos


que a actividade de coleta propiciava mais alimentos ao grupo que a
caça na maioria das vezes. O homem mantinha sua importância pelo
significado que a carne tinha, pela sua relativa raridade até.

De uma forma ou de outra, o homem era quem trazia alimentos para


casa. Já nas sociedades agrícolas, a mulher era quem semeava, colhia e
preparava os alimentos, ficando os homens fora da produção directa.

Então. como é que eles mantinham sua dominação sobre as mulheres?


Através de mitos, ritos e instituições que estabelecem seu poder
virtualmente ameaçado. Por meio de crenças e cultos perpetua-se uma

precedência social que ja não corresponde ao papel masculino na nova


economia dos povos agrícolas. Força física para dissuadir e manipulação
do sistema ideológico para manter e reproduzir o poder foram armas
do homem nas comunidades agrícolas.

Nas sociedades de pastores a dominação não precisava dessas


sofisticações, uma vez que os homens desempenhavam relevante papel
no sistema produtivo. Como resultado, a mulher ficava numa atitude
mais submissa ainda.

A força do homem, que lhe dá condições melhores de guerrear —


actividade frequente no Neolítico —, faz com que sua precedência
sobre a mulher se amplie.

A diferença entre os sexos tem uma origem biológica, mas vai


adquirindo uma explicação histórica. Simone de Beauvoir costumava
dizer que ninguém nasce mulher, mas se transforma em mulher.

Ela não nega, é claro, que alguns seres humanos venham ao mundo com
características físicas diferentes de outros. É evidente que há a mulher
objetiva, aquela que é mais fraca que o homem, que fica menstruada,

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

que engravida, que dá à luz, que amamenta.

Mas, se nessas características podem estar plantadas as origens da


diferença, esta se materializa na História, isto é, na prática cotidiana e
nos valores cristalizados, nos estereótipos e na manipulação do
ideológico.

Valorizar a carne sobre o cereal, a derrubada da mata sobre o cultivo


contínuo, resulta em sacerdotes masculinos e deuses executivos
machos assessorados por belas (e necessariamente puras) sacerdotisas.

A reprodução da desigualdade (qualquer que seja) continuará


ocorrendo enquanto houver dominadores interessados e dominados
conformados e/ou ignorantes.

A sociedade neolítica estabelecia divisão de tarefas e não de trabalho,


a chefia era um ônus e não privilégio, não havia extração de mais-valia.
Mas, entre os iguais, os homens eram um pouco mais-iguais que as
mulheres.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Faça a caracterização da estratificação social no período neolítico

Exercícios

1. A questão das classes sociais ocupa um papel fundamental na


teoria de Karl Marx. Para ele, existem condicionantes e
determinantes na complexa relação entre indivíduo e sociedade e
entre consciência e existência social. Considerando as reflexões de
Karl Marx sobre esse tema, marque a alternativa incorrecta.
a) A luta de classes desenvolve-se no modo de organizar o
processo de trabalho e no modo de se apropriar do resultado do
trabalho humano.
b) A luta de classes está presente em todas as ações dos
trabalhadores quando lutam para diminuir a exploração e a
dominação.
c) Em meio aos antagonismos e lutas sociais, o indivíduo pode
repensar a realidade, reagir e até mesmo transformá-la, unindo-
se a outros em movimentos sociais e políticos.
d) As classes sociais sustentam-se em equilíbrios dinâmicos e
solidários, sendo a produção da solidariedade social o resultado
necessário à vida em sociedade.
2. Segundo Karl Marx, a sociedade capitalista conhece basicamente
duas classes: a burguesia e o

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

proletariado. Na abordagem marxista, como se dá a relação entre


elas?
a) As duas classes estão em harmonia. Ambas se
complementam em um processo produtivo: os burgueses
oferecem empregos, enquanto os proletários trabalham
contribuindo para o progresso da civilização.
b) Essas duas classes estão em luta. Enquanto os burgueses
tentam exercer sua dominação sobre o proletariado, estes
procuram resistir e fugir dessa
c) relação de opressão. Longe de produzir desagregações,
essa complexidade favorece a coesão social devido à
dependência mútua de todos os indivíduos.
d) As duas classes estão em relação de solidariedade orgânica.
O capitalismo surge em uma sociedade moderna, marcada
por uma complexa divisão do trabalho.
e) As classes sociais estão em processo de fusão. Devido à
mundialização do capital, não haverá mais classes sociais.
Todos serão híbridos de empreendedores e trabalhadores,
em uma sociedade regulada pelo mercado.

Unidade temática 5.3. A inovação do Neolítico foi a


tecelagem.

Introdução

O homem passou a utilizar pelos de animais ou fibras vegetais no


processo de fiar e tecer suas vestimentas, não utilizando mais somente
as peles dos animais.

Outro aspecto que devemos citar nesse período é o surgimento da


religiosidade. Tornou-se comum os homens relacionarem os
fenómenos da natureza às forças sobrenaturais.

Assim surgiu, por exemplo, o culto à mulher, a qual simbolizava a


geração e a perpetuação da vida. A mulher era considerada deusa mãe,
e essa simbologia serviu de base para a crença no poder mágico e
religioso das divindades femininas em épocas posteriores.

Objectivos

Ao completar esta unidade você será capaz de:


 Identificar a evolução do modo de produção;
 Descrever a evolução do Estado Organizado .

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

A deusa mãe no Neolítico era especificamente uma deusa agrícola, da


fertilidade, e seu culto simbolizava a morte e a ressurreição da
vegetação e das plantações. A ela, frequentemente, associava-se um
deus masculino (filho, esposo ou animais selvagens).

Em sítios arqueológicos, foram encontradas esculturas femininas de


diferentes períodos da Pré-história, comprovando o que os
historiadores e arqueólogos já haviam mencionado sobre a
religiosidade desse período.

No último período da Pré-História, o Neolítico, iniciou-se o


desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Os grupos
humanos que tinham vida nómada, não precisavam mais mudar-se
constantemente em busca de alimento e puderam se fixar.

Essa mudança para uma vida mais estável também teve reflexos na
expressão artística: o artista do Neolítico passou a retratar a figura
humana em suas atividades cotidianas.

O homem via se aprimorando também em sua forma de comunicação.


Os desenhos deixados nas paredes, com o decorrer do tempo, passam
a transmitir uma idéia. A esse conjunto de desenhos denominamos
ideogramas.

5.3.1. Evolução do Modo de Produção

 Processo de divisão do trabalho: grupo de trabalhadores que se


dedicava à prestação de serviços (médicos, soldados, sacerdotes) ou
à fabricação de objectos (cerâmica, instrumentos de metal, tecidos);
 A especialização do trabalho permitiu duas inovações técnicas
muito importantes: a confecção de tecidos e a cerâmica;
 A maior parte da população das cidades trabalhava na agricultura e
na criação de animais;
 Produção de excedentes.
 Invenção do arado.

5.3.2. Evolução do Estado Organizado


 Necessidade de contabilizar os produtos comercializados.
 Desenvolvimento da escrita por volta de 4000 aC.
 Levantamento da estrutura das obras.

5.3.3. Formação da Organização Política


 O trabalho de coordenação era feito pela família da aldeia mais
poderosa, que assumia o controle da produção de alimentos e
da construção de obras públicas, como canais de irrigação e
diques.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

 O chefe dessa família passava então a ser um rei.


 Originou-se uma organização de pessoas com plena autoridade
sobre a população, que podiam criar e cobrar impostos,
organizar a defesa, fazer leis e julgar os crimes.
 É o que chamamos de processo de centralização política ou de
formação do Estado.

Sumário

O ser humano do Neolítico desenvolveu técnicas como a tecelagem, a


cerâmica e a construção de moradias. Além disso, como já produzia
fogo, começou a trabalhar na fundição de metais.

Também era muito importante para o homem da Pré-História garantir


a continuidade de sua espécie. Demonstrava esse sentimento
esculpindo figuras femininas em pedra ou marfim com formas
avantajadas: seios e quadris enormes, o que ressalta a importância da
fertilidade. Essas esculturas são chamadas de Vênus.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Reflecte sobre as principais inovações do neolítico.

Exercícios

1. Quyais são as técnicas que o ser humano desenvolveu no


período neolítico?
2. Como se chamava a deusa mãe no Neolítico?
3. Como era o processo de divisão do trabalho nesse período?
4. Fale do processo da organização política no noelítico.
5. Qual era a função do chefe da família?

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Unidade Tema 6: Hierarquização, sociedades de classes e


estado: o início da história

Introdução

Até hoje ninguém sabe qual foi o berço da espécie humana. Há,
entretanto, indícios de que possa ter sido a parte sul da África Central
ou talvez a Ásia Central, ou ainda a parte sul desta.

As condições climáticas dessas regiões eram de molde a favorecer a


evolução de uma variedade de tipos humanos, partindo de
antepassados primatas.

Do seu lugar ou lugares de origem, representantes da espécie humana


migraram para a Ásia oriental e sul-oriental, para o norte da África, a
Europa, e finalmente a América.

Durante centenas de séculos permaneceram em estado primitivo,


levando uma existência, de início, pouco melhor que a dos animais
superiores. Cerca de 5000 a.C., alguns deles, especialmente favorecidos
em matéria de localização e clima, desenvolveram culturas superiores.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Identificar o período do início da história;
 Mencionar as principais culturas pré-literárias;

6.1. A Aurora da História


6.1.1. A Idade da Pedra ou as culturas pré-literárias

A história humana inteira pode ser dividida em dois períodos, a Idade


da Pedra e a Idade dos Metais. A primeira é às vezes denominada Idade
Pré-Literária, ou seja, o período anterior à invenção da escrita.

A segunda coincide com o período da história baseada em registos


escritos. A Idade Pré-Literária cobre pelo menos 95 por cento da
existência humana e não termina senão nas proximidades do ano 3000
a.C. A Idade dos Metais é praticamente sinônima da história das nações
civilizadas.

A Idade da Pedra subdivide-se em Paleolítico (antiga idade da pedra) e


Neolítico (nova idade da pedra). Cada uma delas recebe o nome do tipo

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

de armas e utensílios de pedra caracteristicamente fabricados durante


o período.

Assim, durante a maior parte do Paleolítico era comum afeiçoar os


instrumentos retirando lascas de uma pederneira ou outra pedra e
conservando o núcleo restante, que se usava como "machado manual".

Na fase terminal do período, eram as próprias lascas que se usavam


como facas ou pontas de lança, rejeitando-se o núcleo. O Neolítico viu
os instrumentos de pedra lascada ceder o passo aos instrumentos feitos
de pedra desgastada pelo atrito e polidas.

Os nomes dos períodos mencionados deixam muito a desejar. Foram


inventados numa época em que o estudo das culturas primitivas se
encontrava ainda na infância.

Actualmente se admite que nem sempre é possível traçar uma linha


divisória nítida entre fases de cultura, com base nos métodos de
fabricação de armas e instrumentos. Isto se aplica em especial às fases
mais avançadas.

Ademais, os tipos de armas e instrumentos nem sempre representam


os traços mais significativos que distinguem uma cultura de outra. Sem
embargo, esse método de denominação tem-se revelado bastante
cômodo e continuará sem dúvida a ser usado indefinidamente.

6.1.2. Cultura do paleolítico inferior

O período Paleolítico pode ser datado, grosso modo, de 500.000 a


10.000 a.C. Costuma-se dividi-Ia em duas fases, uma mais antiga ou
Paleolítico Inferior, e outra mais moderna ou Paleolítico Superior.

A primeira foi muito mais longa que a segunda, cobrindo pelo menos 75
por cento de todo o período. Durante essa época, pelo menos quatro
espécies humanas habitaram a terra. Uma delas foi o famoso

Pithecanthropus erectus, ou seja, "homem macaco em pé", do qual


foram encontrados restos de esqueleto na ilha de Java; em 1891.

O segundo contemporâneo conhecido do Paleolítico Inferior foi o


Sinanthropus pekinensis, cuja ossamenta foi encontrada na China, cerca
de quarenta milhas a sudoeste de Pequim, entre 1926 e 1930. Depois
desta última data localizaram-se nada menos de trinta e dois esqueletos
do tipo Sinantropo, tornando possível uma reconstituição completa da
cabeça, pelo menos, dessa antiga espécie.

6.2.3. Cultura paleolítica superior

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Cerca de 30.000 a.C., a cultura da Antiga Idade da Pedra passou do


estágio do Paleolítico Inferior para o do Paleolítico Superior. Este último
período não durou mais que uns duzentos séculos, ou seja, de 30.000 a
10.000 a.C.

Um tipo novo e superior de ser humano dominou a terra durante esse


tempo. Biologicamente, os homens de que falamos estão intimamente
relacionados com o homem moderno.

Seus predecessores, os de Neanderthal tinham cessado de existir como


variedade distinta. Ignora-se o que foi feito deles.

6.1.4. Cultura neolítica


O Último estágio da cultura pré-literária é conhecido como o período
Neolítico, ou Nova Idade da Pedra. O nome foi adoptado porque as
armas e instrumentos de pedra passaram então a ser feitos pelo
método do polimento mediante o atrito, ao invés da fractura e
separação de lascas, como nos períodos anteriores.

Os portadores da cultura neolítica foram novas variedades de homem


moderno que se espalharam pela África e pelo sul da Europa, vindas da
Ásia ocidental.

Como nada está a indicar que esses novos elementos tivessem sido
exterminados ulteriormente, ou que tivessem migrado em massa,
devemos considerá-Ias como os antepassados imediatos da maioria dos
povos que hoje habitam a Europa.

Alguns antropólogos modernos dão grande importância à liderança


como factor na origem do estado. Fazem ver que em tempo de crise um
indivíduo dotado de qualidades de comando invariavelmente se eleva
da multidão e assume o controle.

Num naufrágio, por exemplo, um dos ocupantes de cada escaler salva-


vidas assume o comando, racionando a água e os alimentos, se os há, e
mantendo os seus companheiros em ordem.

Entre os boximanes da Austrália e entre os esquimós não existem


instituições políticas de nenhuma espécie em tempos ordinários. Mas
quando surge uma emergência alguém se coloca à frente do grupo e o
bando informe de caçadores assume o caráter de um estado
rudimentar.

Entre os povos que têm uma existência mais estabilizada o líder tem-se
tornado frequentem ente uma espécie de chefe político, presidindo a
uma "máquina" e dispensando festas e outros favores.

101
ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Às vezes ele é reverenciado como um ser quase divino, como um


símbolo da unidade e da interdependência do grupo. Imagina-se que os
indivíduos vivam por meio dele, assim como os diversos órgãos e
membros de um corpo vivem por meio da cabeça.

Com toda probabilidade, alguns deles se fizeram reis. Concebe-se que


em outros casos o estado tenha surgido da natural expansão da vida
grupal, com as resultantes complexidades e conflitos.

Sumário

Essas culturas, baseadas no conhecimento da escrita e num progresso


considerável no tocante às artes, às ciências e à organização social,
nasceram na parte do mundo conhecida como o Oriente Próximo.

Essa região estendese da fronteira ocidental da Índia ao Mediterrâneo


e às margens do Nilo. Ali floresceram, em diferentes períodos entre
5.000 e 300 a.C., os poderosos impérios dos egípcios, babilônios,
assírios, caldeus e persas, além de pequenos estados como os dos
cretenses, sumerianos, fenícios e hebreus.

Em outras partes do mundo os inícios da civilização foram retardados.


Ainda por volta de 2000 a.C. nada havia, na China, que merecesse o
nome de vida civilizada. E, com excepção da ilha de Creta, não houve
civilização na Europa senão mais de um milénio depois.

À medida que a população aumenta dentro de áreas limitadas, a lei


consuetudinária e a administração familiar da justiça revelam-se
insuficientes e faz-se sentir a necessidade da organização política como
substituto.

No domínio da política como em todas as demais esferas relacionadas


com as origens sociais, não existe explicação única que possa acomodar
se a todos os factos.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. A história humana inteira pode ser dividida em dois períodos, a


Idade da Pedra e a Idade dos Metais. Escolha um período e
descreva.

Exercícios

1. Caracterize o tipo de armas e ou instrumentos uzados nas culturas


pré-literárias.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

2. Como é conhecido o último estágio da cultura pré-literária?


3. Qual é o grande factor da origem de Estado?
4. Explique o processo do surgimento da política naquele período.
5. Num espaço de cinco linha fale da cultura do paleolítico inferior

Unidade Temática 6.2. Natureza e Origem das Civilizações


6.2.1. Culturas e civilizações

Introdução

Designamos pelo nome de culturas as fases do progresso humano até


agora descritas. Essa palavra é usada para indicar as sociedades ou
períodos que ainda não alcançaram o conhecimento da escrita e cujo
nível de cultura geral de evolução é ainda relactivamente primitivo.

O historiador inglês Arnold J. Toynbee encara a história mundial como


uma sucessão de unidades culturais, mas designa cada uma das
unidades primárias, através de todo o seu desenvolvimento, pelo termo
de "civilização".

Com base num critério em grande parte quantitativo, estabelece


distinção entre civilizações e “sociedades primitivas". Estas últimas são
relativamente efêmeras, restringem-se a limites geográficos
relativamente estreitos e são abraçadas por um número relativamente
pequeno de seres humanos.

Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Identificar as causas do aparecimento das civilizações;
 Mencionar as civilizações mais antigas;
 Iedentificar os factores de desenvolvimento das civilizações.

6.2.2. Desenvolvimento das civilizações

Quais as causas que contribuem para o aparecimento das civilizações?


Quais os factores que lhes determinam o desenvolvimento?

Por que certas civilizações alcançam um nível muito mais alto de


evolução do que outras? O esclarecimento de tais questões constitui
um dos objectivos principais dos sociólogos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

A maioria deles chegou a convicções bem definidas quanto ao valor


relactivo das possíveis respostas. Alguns concluíram que os factores
geográficos são os mais importantes. Outros põem em relevo os
recursos económicos, as fontes alimentares, o contacto com civilizações
mais velhas e assim por diante.

As mais populares dentre as teorias que explicam o aparecimento das


culturas superiores são provavelmente aquelas que pertencem ao
âmbito da geografia.

Entre elas goza de preeminência a hipótese do clima. A teoria climática,


defendida no passado por notabilidades como Aristóteles e
Montesquieu, teve sua exposição mais eloqüente na obra de um
geógrafo americano, Ellsworth Huntington.

Ninguém contestará que a alimentação dos pastores nómadas


consistindo, como consiste, em carne e leite, seja altamente nutritiva.
Em razão disso, o nômade possui reservas ilimitadas de energia e
infunde vida nova às populações estagnadas, onde quer que vá.

Ainda que brutal e prepotente, ele não obstante organiza, impõe a


disciplina e cria as desigualdades de condição e classe que parecem ser
necessárias como bases do desenvolvimento cultural.

Além disso, os costumes e a alimentação dos povos pastores são


particularmente propícios a um rápido aumento da população. A forma
de casamento é em geral poligâmica e a abundante provisão de leite
animal “encurta o período de aleitamento para as mães, permitindo,
assim, que nasça e chegue até a idade adulta um maior número de
crianças".

Afirmava o economista e filósofo americano Thorstein Veblen que os


povos nómadas não contribuíram com coisa alguma de importante,
salvo poesias e, por outro lado, credos e cultos religiosos.

Não se pode negar, no entanto, que os nômades infundiram energia


nova na cultura das populações sedentárias e provavelmente
instigaram os habitantes a uma atividade que resultou, com o tempo,
em novas conquistas para a civilização.

Além disso, as circunstâncias em que se deu a expansão inicial de povos


tais como os babilônios, assírios, hebreus e muçulmanos quase não
deixam dúvida de que o facto desses povos terem fundado civilizações
se deveu em grande parte às condições da existência nómada.

6.2.3. Por que as mais antigas civilizações começaram em


determinadas regiões

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Ainda se discute acaloradamente para saber qual das grandes


civilizações da antiguidade foi a primeira. A maioria das opiniões parece
favorável à egípcia, não obstante um número respeitável de
autoridades advogar os direitos do vale do Tigre e do Eufrates.

Outros especialistas preferem o Elam, região situada a leste do vale do


Tigre-Eufrates e margeando o Golfo Pérsico. Embora não se deva
descurar a opinião de nenhum cientista competente, há mais fortes
razões para acreditar que os vales do Nilo e do Tigre-Eufrates foram os
berços das mais antigas culturas históricas.

Essas duas áreas eram, geograficamente, as mais favorecidas da região


chamada Crescente Fértil. Aí foi encontrado maior número de
artefactos de antiguidade incontestável do que em qualquer outra
parte do Oriente Próximo.

Das diversas causas que determinaram o aparecimento remoto de


civilizações nos vales do Nilo e do Tigre-Eufrates, parece ter sido o factor
geográfico o mais importante.

Ambas as regiões apresentavam a vantagem de possuir uma área


limitada de solo extremamente fértil. Ainda que se prolongue por uma
extensão de 1.150 quilômetros, o vale do Nilo não mede mais de 16 km
de largura em alguns lugares, sendo a sua amplitude máxima de 50 km.

A área total é de menos de 26.000 quilómetros quadrados, ou seja, uma


superfície um pouco inferior à do Estado de Alagoas.

No vale do Tigre-Eufrates predominavam condições semelhantes.


Como no Egito, os dois rios ofereciam excelentes facilidades para o
transporte interior e neles enxameavam os peixes e as aves ribeirinhas,
fonte abundante de alimentação proteínica.

A distância entre o Tigre e o Eufrates era, em dado ponto,


aproximadamente trinta quilómetros, sendo que em nenhuma parte do
vale inferior excedia oitenta quilómetros. O facto de ser deserta a terra
circundante impedia o povo de se dispersar numa extensão muito
grande do território.

O resultado, como no Egipto, foi a fusão dos habitantes numa sociedade


compacta, sob condições que facilitaram um rápido intercâmbio de
idéias e de descobertas.

Com o crescimento da população tornou-se cada vez mais urgente a


necessidade de órgãos de controle social. Incluídos entre esses órgãos
estavam o governo, as escolas, os códigos morais e sociais e as
instituições de produção e distribuição de riqueza.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

As influências climáticas também desempenharam seu papel em ambas


as regiões. A atmosfera do Egipto é seca e revigorante.

Mesmo os dias mais quentes não causam nada do desconforto


opressivo que freqüentemente é sentido em regiões mais para o norte,
durante a estação estival.

As condições climáticas, na Mesopotâmia, não parecem ter sido tão


favoráveis quanto no Egipto. O calor do verão é mais implacável, a
umidade um pouco mais alta e as doenças tropicais fazem sentir a sua
presença.

Por outro lado, a queda da chuva é mais abundante, alcançando uma


média de 7,5 cm por ano, isto é, o triplo da quantidade de precipitação
pluvial no delta do Nilo.

Permanece sem resposta satisfatória a pergunta: qual das duas


civilizações, a egípcia ou a mesopotâmica, foi a mais antiga? Há vários
factos que parecem sugerir a prioridade do Egipto.

Acima de tudo, os habitantes do vale do Nilo gozavam de vantagens


geográficas que eram negadas aos nativos da Mesopotâmia: uma
atmosfera menos enervante, um clima dos mais salubres e a
disponibilidade de metais e boa pedra de construção.

Além disso, o Egpito estava bem protegido contra a invasão e contra a


mistura com povos mais atrasados. A leste e a oeste estendia-se o
deserto impérvio; ao norte, uma costa sem portos; e, ao sul, as barreiras
rochosas de uma série de cataratas obstavam às incursões dos
selvagens africanos.

6.2.4. O homem criou as cidades

A vida nas grandes cidades modernas estabelece uma distância enorme


entre seus habitantes e a natureza. É comum as professoras darem às
crianças da pré-escola um grão de feijão deitado sobre um pedaço de
algodão molhado para que o aluno tenha ao menos uma idéia sobre o
ciclo de vida vegetal: de outra forma, eles poderiam pensar que vegetais
são fabricados em sacos plásticos ou caixas de cores atraentes.

O facto é que o habitante de uma cidade recebe sua formação em vista


do mundo que espera, e não de uma ligação com a natureza orgânica.

Despreparado, é candidato à morte por inanição se se perde num


bosque não muito distante de casa: não reconhece árvores frutíferas e
raízes que podem servir de alimento; é incapaz de matar pequenos
animais improvisando armas; não sabe tecer com fibras de piteiras e

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palmeiras uma proteção adequada; e, sem instrumentos industriais,


perde o senso de localização, não encontrando o caminho de volta.

Há toda uma sabedoria desenvolvida ao longo de milénios, que nós,


urbanos, jogamos fora pela janela do nosso confortável apartamento.
A natureza foi dominada pelos humanos como grupo, nao enquanto
individuos isolados.

O poder que sentimos enquanto reis dos animais nos dá a falsa


sensação de que cada um de nós é capaz de perpetrar as proezas que
apenas alguns conseguem realizar. Como, por exemplo, sobreviver num
bosque.

Urbanos por excelência, somos é dependentes. Dependemos do


agricultor que planta e do bóia-fria que colhe; do engenheiro que
profeta, do operário que fabrica e do comerciante que vende;
dependemos da prospecção de petróleo no golfo Pérsico, da água
domada em Itaipu, da lenha das florestas dizimadas pelo país todo.

Nossas pernas sao as rodas dos ônibus e dos trens, nossos olhos são o
vídeo da televisão, nosso horizonte são os postais que amigos nos
impingem após suas viagens pasteurizadas.

Por tudo isso, quando falamos de revolução urbana, não se pense em


cidades como as nossas nem em homens com valores semelhantes aos
que nós desenvolvemos aqui.

6.2.5. Por que surgem as cidades nas civilizações antigas?

Antes de tudo, evitemos os sonhos. Não há como idealizar os homens


conscientemente, decidindo-se a fundar uma cidade. Não há
consciência individual ou de grupo que tenha levado pessoas a plantar
os alicerces de agrupamentos urbanos no Egito ou na Mesopotamia,
qual bandeirantes avant la lettre que, a partir de modelos e de acordo
com objectivos bem determinados, criavam as bases de futuras cidades.

Há 5 ou 6 mil anos não havia referências ou parâmetros, e a organização


das cidades decorre de uma série de circunstâncias sociais tão
complexas que até hoje não há unanimidade entre os pesquisadores a
respeito do tema.

Veja-se, por exemplo, a primeira questão: o porquê. Childe fala de uma


revolução que "transformou pequenas aldeias de agricultores
autosuficientes em cidades populosas".

Passa-nos a nítida impressão de que, após organizar-se


sedentariamente como agricultor, atingindo a autosuficiência e

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administrando o excedente, o passo seguinte torna-se natural e de


facto ocorre: a urbanização.

De resto, os locais aparentemente coincidem: a agricultura inicia-se no


Oriente Próximo, a urbanização também. Mais exactamente, falamos
de Crescente Fértil (vide mapa) como local onde as revoluções agrícola
e urbana teriam se realizado.

Assunto resolvido? Não. Se houvesse uma relação mecanica entre uma


revolução e outra, por que a organização não terá ocorrido com todos
os productores de alimento do Crescente Fértil?

Qual é o motivo pelo qual em alguns lugares as aldeias se


transformaram em cidades, e noutros elas continuam no mesmo estado
durante séculos (e até milénios)? O que fez com que a urbanização
tenha sido um privilégio, ao menos inicial, do sul da Mesopotamia e do
vale do Nilo?

Braidwood arrisca uma engenhosa hipótese para explicar a questão.


Para ele, as encostas das montanhas e os vales podem ser cultivados
sem grande dificuldade.

No caso da Síria e da Palestina, há que se considerar a terra fértil e a


chuva de inverno como elementos favoráveis ao plantio, e as
montanhas razoavelmente verdejantes como local adequado ao
pastoreio. Um local "feito de encomenda para agricultores
principiantes" que poderiam "levar uma vida aprazível, sem muito
trabalho".

A extensão larga de terras permitiria ainda pequenas deslocamentos


por parte dos grupos por ocasião do esgotamento do solo.

Já no sul do Egipto e da Mesopotamia, as condições geoclimáticas eram


(e continuam sendo bastante diferentes. A chuva, nesses locais, é
praticamente inexistente. A fertilidade da terra, após as cheias, é
excelente.

Mas, para ela ser utilizada pela agricultura, de forma sistemática, os rios
precisam ser domados. Tome-se o Nilo, por exemplo. Por
responsabilidade de Heródoto, quase todos os manuais repetem ser o
Egito uma dádiva do Nilo.

De facto, o rio, anualmente, em fins de Setembro, começo de Outubro,


inundava suas margens, depositando nelas vivificante camada de solo
novo, rico em matéria orgânica. Junto com os benefícios que trazia, a
cheia criava pantanos e infestava as margens de crocodilos.

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

Era necessário construírem-se diques e reservatórios para controlar a


água, soltan-do-a lenta e adequadamente, de modo a não encharcar em
excesso após as cheias nem permitir que a terra gretasse vários meses
depois.

Com o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia, o processo era diferente,


mas caminhava na mesma direção. Lá, por causa da irregularidade do
degelo nas vertentes, as cheias eram surpreendentes e intempestivas,
às vezes destruidoras.

A extrema fertilidade das terras às suas margens (pelo menos ao sul de


Bagdá) requeria uma defesa contra a imprevisibilidade dos rios, o que
era obtido através da construção de valas que conduziam as águas para
onde fosse necessário, graças à topografia plana e aos canais e braços
naturais.

No Egipto e na Mesopotâmia havia, portanto, condições altamente


favoráveis à agricultura, condições essas, entretanto, que precisavam
ser aproveitadas com um trabalho sistemático, organizado e de grande
envergadura.

Talvez por isso é que a urbanização tenha se desenvolvido antes aí e


não na Palestina, na Síria ou no Irã.

A necessidade é a mãe das invenções. Nos vales e encostas férteis e


relativamente chuvosos, a vida corria normalmente e as pessoas não
precisavam tornar mais complexas suas relações de trabalho.

Mas construir diques, cavar valetas, estabelecer regras sobre a


utilização da água (para que quem tivesse terras perto dos diques não
fosse o único beneficiários), significava controlar o rio, fazê-lo trabalhar
para a comunidade.

Claro que isso demandava trabalho e organização. Mas o resultado foi


fertilidade para a terra e alimento abundante para os homens. Essa foi
a base das primeiras civilizações.

6.2.6. Urbanização e civilização antiga

Durante muito tempo, e por inspiração dos filósofos racionalistas do


século XVIII, a palavra civilização significou um conjunto de instituições
capazes de instaurar a ordem, a paz e a felicidade, favorecendo o
progresso intelectual e moral da humanidade.

Dessa forma, como já vimos na introdução deste módulo haveria um


corte nítido entre pré-civilizados e civilizados, sendo que os primeiros,
por terem comportamento muito distinto do nosso (enquanto

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ISCED CURSO:LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pré - História

ocidentais e europeus), seriam uma espécie de homens inferiores,


criando sociedades primitivas e à margem da lei.

Com medo de limitarmos a denominação a apenas meia dúzia de povos


que tiveram influência na formação do mundo ocidental, caímos, às
vezes, no extremo oposto: atribuímos a qualquer pequeno grupo de
indivíduos capazes de amassar o barro e construir palhoças o título de
civilização.

O importante é despir essa palavra de conotações valorativas. Evitando


isso, poderemos estabelecer com maior facilidade e precisão as
características que definem uma civilização.

Já ficou claro, em páginas anteriores, que civilização não é um elogio e


pré-civilizados não pode ser tomado como ofensa. Mas temos que
caracterizar a civilização com parâmetros objetivos para não fazermos
demagogia, dificultando mais ainda a compreensão do processo
histórico.

Uma civilização, via de regra, implica :

 Uma organização política formal com regras estabelecidas para


governantes (mesmo que autoritários e injustos e governados;
 Projectos amplos que demandem trabalho conjunto e
administração centralizada (como canais de irrigação, grandes
templos, piramides, portos, etc.);
 Implica a criação deum corpo de sustentação do poder (como a
burocracia de funcionários públicos ligados ao poder central,
militares, etc.);
 Implica a incorporação das crenças por uma religião vinculada ao
poder central, direta ou indiretamente (os sacerdotes egípcios, o
templo de Jerusalém, etc.);
 Implica uma produção artística que tenha sobrevivido ao tempo e
ainda nos encante (o passado não existe em si, senão pelo fato de
nós o reconstruirmos;
 Implica a criação ou incorporação de um sistema de escrita (os incas
não preenchem esse quesito, e nem por isso deixam de ser
civilizados);
 Implica, finalmente, mas não por último, a criação de cidades. De
facto, sem cidades não há civilização.

Sumário

As grandes descobertas e invenções do Neolítico seriam apenas


comodidades se não provocassem, através e por causa da urbanização,
uma significativa mudança socio-económica.

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A roda, a metalurgia, o carro de bois, o animal de tração, o barco a vela


tiveram seu caráter transformador por se integrarem a uma nova
organização social propiciada pela urbanização.

Nas inúmeras aldeias espalhadas pelo Crescente Fértil não havia


necessidade de levar os inventos e as descobertas até a sua utilização
máxima. Já no sul da Mesopotâmia e do Egipto tudo foi utilizado para
que o homem pudesse enfrentar e dominar a natureza.

Isso significa grande número de pessoas actuando de forma organizada,


pela incorporação de conhecimentos sociais e sob uma liderança que
vai se estabelecendo e adquirindo legitimidade.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Faça um texto de 8 linhas, relatando o processo de surgimento


das primeiras cidades.

Exercícios

1. Enumere as regras de uma civilização.


2. Diferencie pré-civilização e civilizados.
3. Quais as causas que contribuem para o aparecimento das
civilizações?
4. Quais os factores que lhes determinam o desenvolvimento?
5. Por que certas civilizações alcançam um nível muito mais alto
de evolução do que outras?

Unidade Temática 6.2.7. A cidade se expande

Introdução

Ao necessitar de matérias-primas que não eram encontradas em seu


território, os governantes das primeiras cidades expandem os seus
tentáculos.

Por meio dos contactos propiciados pelo comércio, vemos vários povos,
vizinhos aos sumérios e aos egípcios, transformando aldeias em
cidades. Isso ocorre na Síria, na Assíria, no Irã, na Palestina, em Creta e,
depois, cada vez mais longe.

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Objectivos

Ao terminar esta unidade você será capaz de:


 Explicar o contexto do surgimento das cidades;
 Explicar o processo da divisão do trabalho;
 Contextualizar a cultura de escrever e contar.

6.2.7. A cidade se expande

Productoras auto-suficientes de alimentos, metamorfoseiam-se em


cidades complexas com actividades manufatureiras .

É interessante verificar a influência que as cidades-mães desempenham


sobre as outras. Isso se evidencia não só através de estruturas
sociopolíticas muito semelhantes, como através de padrões de
comportamento e valores.

Enquanto a revolução agrícola ocorreu em grande parte de forma


espontânea, a revolução urbana desenvolveu-se mais pela difusão, o
que não é difícil de compreender.

Atrás das matérias-primas, os comerciantes procuravam as regiões que


as produziam, onde encontravam grupos humanos já estabelecidos.
Coube aos egípcios e sumérios convencer esses grupos a extrairem
metais, madeiras ou pedras em quantidade muito superior à que
estavam habituados.
A presença egípcia em Biblos foi muito grande: seus funcionários
levaram para a cidade suas crenças e sua escrita, sua arte e sua
administração. Os fenícios tomaram contato com a cultura egípcia,
assimilando-a, e criaram suas cidades a partir daí.

Às vezes, a presença do comerciante não era aceita pacificamente, mas


imposta pela força. Nesses casos, o invadido ou se organizava
tecnicamente para a defesa ou era massacrado, num tipo de guerra
comum na Antiguidade.

Para a defesa, era necessário aos invadidos dominarem a metalurgia, o


que, de qualquer forma, provocava a difusão da cultura urbana, ou seja,
da civilização.

O trágico para a cultura era quando um povo apreendia apenas as


técnicas ligadas à atividade bélica e se aperfeiçoava ao máximo, a ponto
de destruir a civilização de onde obtivera seu conhecimento. Nessas
ocasiões que foram muitas, através dos tempos parece que a História
caminha para trás.

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6.2.8. A divisão social do trabalho

A exploração do trabalho de uma parte da sociedade por outra cria, pela


primeira vez na humanidade, antagonismos determinados pelo papel
económico exercido pelo indivíduo no grupo.

É importante notar que não se está falando de divergências pessoais,


questões subjectivas, mas de oposição socialmente determinada,
portanto impessoal.

O sacerdote não explorava o artesão pelo facto de ser, pessoalmente,


um mau elemento, de possuir um mau caráter. Ele, na verdade,
desempenhava o papel de organizador do processo de trabalho, em
nome de cuja racionalidade agia.

Havia, contudo, uma contradição aqui: os sacerdotes representavam


um deus determinando, um templo determinado, não uma região, uma
cidade.

Os trahalhos públicos, os grandes empreendimentos não religiosos


como -- principalmente, a construção de canais eram atividades que
afetavam regiões ligadas a vários templos.

Por isso é que surgiram os dirigentes não vinculados aos templos,


aqueles que mais tarde iriam se tornar os reis. Com os reis, os sumérios
tinham também um chefe para as guerras, que eram atividades muito
úteis tanto para a iniciativa comercial quanto para a obtenção de novas
terras.

Não é de acreditar que o rei tenha rompido com a religião. Pelo


contrário, ele passa a atuar junto com ela. Dá dinheiro para construir ou
decorar templos, fornece matéria-prima e às vezes até mão-de-obra.

Representante dos deuses, o rei recebia a maior parte das terras do clã,
além de impostos que eram a forma alternativa dos presentes
oferecidos aos chefes tribais.

Em casos de guerras, cabia-lhe a parte do leão dos saques efetuados, o


que provocava uma concentração de riqueza maior ainda.

Nesse período não há ainda algo que se pareça com unificação política:
as cidades são independentes do ponto de vista político, embora
interdependentes economicamente e extremamente homogêneas do
ponto de vista cultural.

Ao contrário do Egipto, em que a uma cultura unificada corresponde


uma chefia única, na Mesopotâmia isso não ocorrerá tão cedo: pelo

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contrário, assistimos a um desfilar de reinos e reis que lutam entre si,


não pela hegemonia mas por um espaço político-económico.

A cultura, entretanto, estava em plena ebulição. Administrar uma


cidade exigia mais que disposição e procuração divina: exigia
instrumentos adequados, que se desenvolveram de forma notável na
Mesopotâmia.

6.2.9. Escrever e contar

A complexidade e a objectividade das relações económicas que se


estabelecem, decorrentes de sua amplitude em termos de espaço e
tempo, vão exigir cálculos precisos e anotações claras, enfim, registros
inteligíveis não apenas para quem os fazia como para outros
participantes ou coordenadores do projeto comum.

Numa aldeia neolítica, a transmissão oral e pessoal era suficiente para


o nível de sofisticação que as relações no interior de um pequeno grupo
exigiam.

Mas em agrupamentos maiores, onde nem todos conheciam todos e,


mais ainda, onde um empreendimento podia durar mais de uma
geração, a simples transmissão oral não era mais suficiente. Havia que
encontrar formas interpessoais e objectivas.

Era importante que um sinal deixado por alguém não se tornasse uma
obra aberta, sujeita a diversas interpretações, elas fosse um símbolo
específico que significasse aquilo e apenas aquilo.

Tratava-se, afinal, não de concepções ou teoria, mas de largura de


canais, de altura de paredes de templos, de quantidades de cereal, de
volume de água e assim por diante.

Como diz Childe, "a invenção de um sistema de escrita foi apenas um


acordo sobre os significados que deviam ser atribuidos aos simbolos
pela sociedade que deles se utilizava para seus objetivos comuns".

Sumário

Assim, os primeiros simbolos são praticamente auto-explicativos, são


pictogramas. A escrita pictográfica não se constitui, contudo, numa
exaustiva reprodução naturalista do objecto a ser representado; para
falar de boi, não havia necessidade de mostrar seus pelos ou seus cascos
ou o comprimento exacto da cauda.

Mas já se monetariza a economia, produzindo-se para o mercado (para


trocar o producto por pratas e

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cobrando-se juros por empréstimos feitos. Com isso, os comerciantes


se enriquecem e se fortalecem, ganhando em influência política.

Os códigos de transmissão cultural já estavam nesse período


estabelecidos e o processo civilizatório em franco andamento.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Reflicte sobre a necessidade da criação das cidades.

Exercícios

1. Quais foram as primeiras cidades a emirgirem no mundo?


2. Qual era o mecanismo usado para evitar as cheias nas cidades
e nas machambas?.
3. Por que as mais antigas civilizações começaram em
determinadas regiões?
4. Quais são as regões que correspondem á zona do crescente
fértel?
5. Como era a transmissão de conhecimentos ness altura?

Exercícios Finais

1. A denominação Pré-História começou a ser usada no século XIX


para designar o passado anterior ao domínio da escrita. Com
base nessa ideia, reúna-se com um colega seu em criem uma
nova devisão da História da humanidade, dando outro nome e
outros valores às experiências humanas da chamada pré-
história. Vocês devem explicar essa nova divisão usando bons
argumentos.
2. Definir e explicar os conceitos: Fonte histórica, arqueologia,
paleolítico e economia recolectora, nomadismo, arte rupestre,
revolução neolítica, neolítico, economia de produção e
sedentariza,cão.
3. Explica a importância do domínio do fogo.
4. Caracteriza e inter-relaciona econopmia recolectora e
nomadismo.
5. Explica o processo do aparecimento da agricultura.
6. Enumera e caracteriza genericamente as principais etapas da

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hominização.
7. Localiza no tempo o processo de hominização.
8. Que evidências podem ser utilizadas para a recuperação e para
o estudo do passado da humanidade? Justifique.
9. Defina o método da história.
10. Explica a importância da crítica histórica.
11. Diferencie análise da heurística.
12. Justifica os cuidados que se deve ter com as fontes orais.
13. Defina fontes escritas.
14. Descreva a visão do documento no período da História Nova.
15. As fontes arquelógicas são importantes para o continente
africano. Justifique a afiermação.
16. Explica o processo de evolução do objecto da história, referindo-
se aos aspectos tidos como objecto da história.
17. Descreva o papel do homem como objecto da história.
18. Facto histórico é toda a manifestação da vida dos indivíduos tal
como das sociedades que são escolhidas de entre muitas outras
outras manifestações. Comente a afirmação.
19. Dê o conceito de objecto de história.
20. Relacione facto histórico e o papel do historiador.
21. Diga o que entende por hominização.
22. O utensílio nos permite delimitar o início da hominização?
23. Descreva as fases da evoluão da espécie humana.
24. Qual a possibilidade do conhecimento?
25. Classifique o conhecimento quanto à essência.
26. Quais as causas que contribuem para o aparecimento das
civilizações?
27. Quais os factores que lhes determinam o desenvolvimento?
28. Por que certas civilizações alcançam um nível muito mais alto
de evolução do que outras?
29. Enumere as regras de uma civilização.

7. Referência Bibliográfica

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Novo Ensino Médio).


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 ENGELS, F. (1984). A origem da família, da propriedade privada e
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 BLOCH, Marc. (2001). Apologia da História: ou o ofício do
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 BLOCH, Marc. (1997). Introdução à História. Mira-Sintra,
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 BRAUDEL, Fernand. (S/D). Escritos sobre a história. São Paulo,
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BURKE, Peter (Org.) (1992). A escrita da História: novas
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 CARDOSO, Ciro F. e Brignoli, Héctor P. (1990). Os Métodos da
História. Rio de Janeiro, Edições Graal.
 VEYNE, Paul. (1971). Como se Escreve a História. Brasília, Editora da
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