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PORTUGUÊS
i
CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS
3º ANO
CÓDIGO
CRÉDITOS (SNATCA) 6
NÚMERO DE TEMAS 7
ii
Direitos de autor
Este manual é propriedade do Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e estão reservados todos
os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios, sejam (eletrónicos, mecânicos, gravação, fotocópia
ou outros), sem permissão expressa pela Entidade Editora (Universidade Aberta ISCED)
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A não observância do acima estipulado, o infrator é passível a aplicação de processos judiciais
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Beira - Moçambique
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i
Agradecimentos
ii
Índice
Visão geral Visão Geral................................................................................................... 7
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Literatura Portuguesa e Brasileira ........................... 7
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 7
Quem deveria estudar este Manual ................................................................................. 9
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 9
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação ........................................................................... 10
Ícones de actividade ....................................................................................................... 11
Habilidades de estudo .................................................................................................... 11
Precisa de apoio? ............................................................................................................ 12
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................. 12
Avaliação ......................................................................................................................... 13
TEMA 1: LITERATURA PORTUGUESA. ORIGENS E PERCURSOS....................................... 14
Introdução....................................................................................................................... 14
UNIDADE TEMÁTICA I: ASPETOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DE PORTUGAL............. 15
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 16
UNIDADE TEMÁTICA: POESIA TROVADORESCA ............................................................. 18
Introdução....................................................................................................................... 18
Cantiga de Amigo ............................................................................................................ 22
Sumário ........................................................................................................................... 25
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 25
UNIDADE TEMÁTICA: CANTIGAS SATÍRICAS (A SÁTIRA) ................................................. 28
Introdução....................................................................................................................... 28
Cantiga de Escárnio ......................................................................................................... 28
Cantiga de maldizer ........................................................................................................ 30
Trovadorismo e a Prosa .................................................................................................. 32
Auto-Avaliação ................................................................................................................ 33
TEMA 2: RENASCIMENTO ............................................................................................... 42
Introdução....................................................................................................................... 42
GÉNEROS LITERÁRIOS ..................................................................................................... 44
Sumário ........................................................................................................................... 46
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 46
UNIDADE TEMÁTICA: TEATRO POPULAR DE GIL VICENTE .............................................. 49
Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente .............................................................................. 52
Sumário ........................................................................................................................... 54
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 55
UNIDADE TEMÁTICA: LÍRICA CAMONIANA .................................................................... 57
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 59
UNIDADE TEMÁTICA: OS LUSÍADAS DE LUIS VAZ DE CAMÕES....................................... 62
O episódio de Inês de Castro .......................................................................................... 63
O Episódio do Gigante Adamastor .................................................................................. 65
Sumário ........................................................................................................................... 66
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 66
TEMA 3. LITERATURA BRASILEIRA .................................................................................. 69
Introdução ...................................................................................................................... 69
UNIDADE TEMÁTICA: FORMAÇÃO E PERCURSOS DA LITERATURA BRASILEIRA ......... 69
Sumário ........................................................................................................................... 71
iii
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 72
TEMA 4. O BARROCO ...................................................................................................... 74
Introdução ...................................................................................................................... 74
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍSTICAS GERAIS DO BARROCO .................................... 74
Sumário ........................................................................................................................... 77
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 77
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO BARROCO PORTUGUÊS ................. 79
Sumário ........................................................................................................................... 85
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 86
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO BARROCO BRASILEIRO .................. 89
Sumário ........................................................................................................................... 91
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 91
UNIDADE TEMÁTICA: O ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO NO BRASIL ....................... 93
Sumário ........................................................................................................................... 96
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 96
TEMA 5. O ROMANTISMO 98
Introdução ...................................................................................................................... 98
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍTICAS GERAIS DO ROMANTISMO............................ 99
Sumário......................................................................................................................... 100
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO EM PORTUGAL............................................. 103
Objectivos ........................................................................................................... 103
CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA ..................... 105
Sumário......................................................................................................................... 109
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO BRASILEIRO .................................................. 112
Objectivos ..................................................................................................................... 112
Sumário......................................................................................................................... 116
iv
Sumário......................................................................................................................... 154
v
Visão geral Visão Geral
Objectivos do Módulo
7
publicação do Poema Prosopopeia1, de Bento Teixeira, em 1601, e a
fundação da Arcádia Ultramarina e o seu fim é marcado pela publicação
de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa.
1
Trata-se de uma imitação de Os Lusíadas, cujo objectivo é louvar Jorge
dˈAlbuquerque Coelho, donatário de Pernambuco
8
Fazer um breve percurso histórico da Literatura Portuguesa e Brasileira
Conhecer as obras/textos literários que marcam os diferentes
momentos da Literatura Portuguesa e Brasileira;
Analisar as obras/textos sob as perspectivas formais e temáticas.
Objectivos Específicos
Acabou por não ser publicado. Mas também faz referência a outras
revistas ligadas ao Modernismo, como a Centauro (1916), Exílio (1916),
Portugal Futurista (1917), Atena (1924), mas é a Presença (1927) que
vai fixar a influência do movimento que sacudiu mas não se impôs, o
que agora é possível perceber, em razão do criticismo equilibrado de
João Gaspar Simões, de José Régio e Adolfo Casais Monteiro.
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada dos conteúdos do manual,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.
9
Conteúdo desta Disciplina / módulo
Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objetivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características:
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas algunas incluído estudo de caso.
Outros recursos
10
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova atividade ou tarefa, uma mudança de atividade, etc.
Habilidades de estudo
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que
já domina bem o anterior.
11
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo
superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança
de actividades). Ou seja, durante o intervalo não se deve continuar a
tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.
Precisa de apoio?
12
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas
semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo
conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo,
os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.
N.B: Em todos os casos, evite o plágio.
Avaliação
13
TEMA 1: LITERATURA PORTUGUESA. ORIGENS E
PERCURSOS
Introdução
14
UNIDADE TEMÁTICA I: ASPETOS HISTÓRICOS E
GEOGRÁFICOS DE PORTUGAL
Resumidamente:
15
Observe-se que a Literatura Portuguesa está dividida, portanto, em
nove momentos evolutivos fundamentais. Mas, chama-se atenção ao
facto de que as datas usadas para delimitar esses momentos são
simples pontos de referência, uma vez que nunca se sabe, com precisão,
quando começa ou termina um processo histórico. Elas funcionam
como indício de que algo de novo está acontecendo e não caracterizam
a morte definitiva do padrão estético até aí em voga.
2. O que é o trovadorismo?
a) Os textos escritos durante a trovadorismo ficaram conhecidos
como cantigas, pelo facto de o lirismo medieval associar-se
intimamente a música. A poesia era cantada.
b) Nas cantigas do trovadorismo a musicam não esta associada
à pauta musical.
c) Nas cantigas de amigo o trovador escrevia a canção para a
senhora da nobreza.
d) Durante o trovadorismo ocorreu uma separação entre nobres
e vassalos.
Questões de Reflexão
Respostas:
1. A
2. A
3. D
4. A
17
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Falso
Introdução
Cantiga de Amor
As cantigas de amor têm origem provençal: foi na Provença, sul da
França, entre os séculos XI e XIII, que se desenvolveu a arte dos
2
O poema recebia o nome de “cantiga” pelo facto de o lirismo medieval associar-se
intimamente com a música: a poesia era cantada, ou entoada, e instrumentada. Letra
e pauta musical andavam juntas, de modo a formar um corpo único e indissolúvel.
Dadas as circunstâncias sociais e culturais em que a poesia circulava, perderam-se
numerosas cantigas bem como a maioria das pautas musicais. Destas, somente
restaram sete pertecentes a Martim Codax, trovador da época de Afonso III (fins de
século XIII). O espólio trovadoresco conserva-se em “cancioneiros” (= colectâneas de
cantigas), dos quais os mais valiosos são: (I) o Cancioneiro da ajuda (composto nos fins
do século XIII, durante o reinado de Afonso III, apenas encerra a cantiga de amor), (II)
O cancioneiro da Vaticana (cópia italiana do século XVI sobre original da centúria
anterior, contém duas espécies de poesia trovadoresca) e o cancioneiro da Biblioteca
Nacional (também chamado Colocci-Brancuti, em homenagem a seus dois
possuidores italianos, é cópia italiana do século XVI e D. Dinis e cantigas das duas
espécies). Recebiam o título de trovadores os poetas que compunham, cantavam e
instrumentavam suas próprias cantigas; Jogral assim se chamava o bobo da Corte, o
mímico, o bailarino, às vezes também comunha. Segrel era o trovador profissional e,
via regra geral, andarilho. Menestrel era o músico. O idioma empregado era ogalaico-
português. Veja-se Moises (ibi.idem)
19
trovadores e seu amor cortês. Da Provença, a temática do amor cortês
se espalhou por toda a Europa e chegou à corte portuguesa, mas os
trovadores portugueses não se limitaram a imitar os provençais. Em
Portugal, as cantigas de amor ganharam nova dimensão e maior
sinceridade. D. Dinis, por exemplo, chegou a ironizar a postura artificial
de certo tipo de trovador, por causa da carência de paixão pela mulher
amada.
Nas cantigas de amor, o trovador sempre declara seu amor por uma
dama da corte, chamada senhor (senhora). Trata-a de modo respeitoso
e com cortesia, reproduzindo, em sua servidão amorosa, os mais puros
padrões da vassalagem feudal. O amor trovadoresco, amor cortês,
exigia que a mulher que se cantava fosse casada, porque a donzela não
tinha personalidade jurídica, uma vez que não possuía terras, nem
criados, nem domínios e não era dona, não dispunha de senhorios. O
poeta não vai prestar serviço a uma mulher que não seja senhor (o verbo
servir é extensamente usado nessas cantigas como sinónimo de
namorar, fazer a corte).
20
A confissão do sentimento amoroso que invade o poeta expressa-se na
cantiga de forma crescente até atingir a última estrofe (ou cobra). A
corrente emocional movimenta- se num círculo vicioso, repetindo-se,
monotonamente, e mudando apenas o grau do lamento que atinge o
apogeu no final da cantiga.
21
exclusivista da paixão que inunda o poeta. Repare-se que o tormento
sentimental pressupõe incorrespondência amorosa da dona ou/e
despeito do trovador.
Cantiga de Amigo
22
Paralelismo e refrão são elementos típicos da cantiga de amigo e
pressupõe a existência de um coro. Organizadas aos pares, as estrofes
sugerem a alternância de dois cantores ou de dois grupos deles.
23
escreveu o Rei-Trovador, pode ser considerada de múltipla
classificação.
ai, Deus, e u é?
ai, Deus, e u é?
ai, Deus, e u é?
ai, Deus, e u é?
ai, Deus, e u é?
[….]
ai, Deus, e u é?
24
mesmo tempo, o rítmo, a musicalidade acelerada, resultante dos
decassílabos terminados por refrãos em versos redondilhos (de cinco
sílabas), conduz à impressão de que a cantiga pode ser classificada
como bailada.
Estamos a dizer que, dependendo da perspectiva em que o leitor se
coloca, podemos classificar esta cantiga de D. Dinis de tenção, pastorela
e bailada.
Resumidamente:
CANTIGAS DE AMOR CANTIGAS DE AMIGO
Autoria: masculina Autoria: masculina
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
1. A cantiga de amigo é:
a) escrita pelo trovador que compõe as cantigas de amor e até
mesmo as cantigas de maldizer.
25
b) escrita pelo trovador que compõe as cantigas de amor e até
mesmo as cantigas de bemdizer.
c) escrita pelo trovador que não compõe as cantigas de amor
e até mesmo as cantigas de bemdizer.
d) Todas as alternativas estão correctas.
2. O trovadorismo reflete:
a) o ambiente amoroso e as relações de poder típicas da Idade
Média caracterizados, principalmente, pela visão teocêntrica do
mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
b) o ambiente religioso e as relações de poder típicas da Idade
Média caracterizados, principalmente, pela visão teocêntrica do
mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
c) o ambiente religioso e as relações de poder atípicas da
Idade Média caracterizados, principalmente, pela visão
teocêntrica do mundo e a servilidade do homem perante a
Igreja.
d) Todas as alternativas estão correctas.
26
Questões de Verdadeiro e Falso
Questões de Reflexão
Respostas:
1. A
2. B
3. A
4. A
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Falso
27
UNIDADE TEMÁTICA: CANTIGAS SATÍRICAS (A SÁTIRA)
Introdução
Objectivos da unidade
Cantiga de Escárnio
28
da segunda metade do século XIII, que escreveu numerosas cantigas de
amor, de amigo e de escárnio e maldizer:
Pêro Garcia Burgalês
Rui Queimado morreu com amor
29
Jamais morte temeria.
Cantiga de maldizer
3
Cf. Lopes, (1994:96).
30
representar o tipo maldizer vem registada no Cancioneiro da Vaticana,
sob o nº 1097, e no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, sob 1º 1399,
segundo Moises, Mussad (p.35):
31
com certeza, a mulher a que ele se destina a sátira se julgara
merecedora duma cantiga de amor e, quem sabe, as atenções do poeta.
Resumidamente:
Trovadorismo e a Prosa
32
Auto-Avaliação
Questões
de Escolha Múltipla
a) As cantigas de escárnio e as de
maldizer são
duas
modalidades
irmãs da sátira
trovadoresca.
b) As cantigas de amigo e as de
amor são duas modalidades
irmãs da sátira trovadoresca.
c) As cantigas de escárnio e as
de maldizer são duas
modalidades primas da sátira
trovadoresca.
3. A prosa, na época do
trovadorismo, é representada:
33
b) pelos filmes, novelas de
cavaleiro, os livros de linhagens,
as hagiografias e os cronicões.
34
Questões de Verdadeiro e Falso
Questões de Reflexão
Respostas:
35
Respostas:
1. A
2. B
3. A
4. D
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso
4
A prosa literária é uma manifestação artística que, no mundo todo, acontece sempre
depois da poesia. Em Portugal, não foi diferente. Na segunda época medieval, século
XV, a prosa e o teatro ascenderam ao primeiro plano, e a poesia palaciana, ao
segundo. Essa alteração resulta do novo contexto sócio-político vivido pelo país e
definido pela existência de um Estado, uma língua e uma cultura solidificados. O
crescimento da burguesia comercial no país, que fazia com que os interesses se
voltassem para assuntos mais práticos, como política, navegação e comércio, é outro
facto que deve ser considerado. A imprensa, criada em meados do século XV e
aperfeiçoada por Gutenberg, facilitou a transmissão de textos em prosa. Veja-se
Vicente, (p.27).
36
A época do Humanismo inicia-se em 1418, quando D. Duarte nomeia
Fernão Lopes para as funções de Guarda-Mor da Torre do Tombo, e
termina em 1525, quando Sá de Miranda, retornado da Itália, inicia em
portugal a campanha em prol da cultura clássica. No seu decurso, em
que se opera a implementação das ideias humanísticas, cultivam-se a
historiografia, a prosa doutrinária, a poesia, o teatro e a novela de
cavalaria (Amadis de Galta) .
A actividade historiográfica, que na época do Trovadorismo não passara
da fase embrionária e improvisada, entra agora na sua fase madura,
graças especialmente a Fernão Lopes seguido de Gomes de Azurara e
Rui de Lima.
Fernão Lopes5
Pouco se conhece da sua biografia. Como vimos, em 1418 D. Duarte
nomeia-o Guarda-Mor da Torre do Tombo6, e em 1434 incumbe-o de
escrever a crónica dos reis da primeira dinastia. De suas obras, apenas
três nos restaram, nomeadamente: Crónica d’El-Rei D. Pedro, Crónica
d’El Rei D. Fernando e Crónica d’El –Rei D. João (até 1411).
Além disso, Fernão Lopes procura ser moderno: despreza o relato oral
em favor dos acontecimentos documentados, buscando reconstituir a
verdade histórica e fazer justiça ao interpretar os acontecimentos e as
personagens que neles se envolvem, sempre atento às contradições
internas que a sociedade sua contemporânea começa a manifestar.
5
Na Literatura Portuguesa dos dois primeiros séculos, a actividade historiográfica
adquire relevância com Fernão Lopes, por causa do sentido literário e histórico com
que é praticada. (idem, p.28).
6
Era uma das torres do Castelo de S. Jorge onde estavam guardados os livros, registos
e originais das leis, escrituras públicas, contratos e outros documentos oficiais do
reino.
37
A importância de Fernão Lopes nos quadros da Idade Média portuguesa
deve-se, também, às suas qualidades literárias que levaram sua crónica
à superação do plano descritivo e narrativo, marca distintiva da
historiografia anterior. Ora vejamos:
“Em três cousas, assinadamente, achamos, pela mor parte, que el-Rei
D. Pedro de Portugal gastava seu tempo. A saber: em fazer justiça e
desembargos do Reino; em monte e caça, de que era mui querençoso;
e em danças e festas segundo aquele tempo, em que tomava grande
sabor, que adur é agora para ser crido e estas danças eram a som de
umas longas que então usava, sem curando de outro instrumento,
posto que o aí houvesse; e se alguma vez lho queriam tanger, logo se
enfadava dele e dizia que o dessem ao demo, e que lhe chamassem os
trombeiros.
Parai mentes se foi bom sabor: jazia el_Rei em Lisboa uma noite na
cama, e não lhe vinha sono para dormir. E fez os moços, e quantos
dormiam no paço; e mandou chamar João Mateus e Lourenço Palos,
que trouxeram os trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se
pela vila em dança com os outros.
As gentes, que dormiam, saíam às janelas, a ver que festa era aquela,
ou por que se fazia; e quando viram daquela guisa el-Rei, tomaram
prazer de o ver assim ledo. E andou el_Rei gram parte da noite, e
tornou-se paço em dança, e pediu vinho e fruta, e lançou a dormir…”
38
De acordo com Moisés, esta passagem das mais sugestivas de quantas
oferece o retrato de D. Pedro, convida a observar algumas das
características marcantes da obra historiográfica de Fernão Lopes:
A prosa doutrinária
Ao longo do século XV cultiva-se, intensamente, a prosa doutrinária e
moralista, textos que ecoam o surto de humanização da cultura e a
solidificação do absolutismo régio durante o reinado dos Avis. Escrita,
sobretudo por monarcas, essa prosa pedagógica servia à educação da
realeza e da fidalguia, visando a orientá-las para o convívio social e no
39
adestramento físico para a guerra. O culto do desporto,
particularmente o da caça, é a preocupação por excelência dessa
pedagogia pragmática.
Auto-Avaliação
Questões de Reflexão
1. Defina o Humanismo.
41
10. As virtudes morais também são lembradas e enaltecidas, mas
tendo sempre em vista alcançar o perfeito equilíbrio entre a saúde
do corpo e a do espírito.
Questões de Reflexão
Respostas:
2. D
3. A
4. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro
TEMA 2: RENASCIMENTO
Introdução
42
Foi a efervescência artística e cultural vivida nos séculos XV e XVI na
Europa Ocidental que marca o início da Era Moderna e o nascimento do
universo burguês, especificamente em sua face cultural. No
Renascimento, fica claro o rompimento com a Idade Média em grande
parte de seus elementos. É, sobretudo, a exposição do universo e dos
valores da nova classe emergente, a burguesia.
GÉNEROS LITERÁRIOS
44
O terreno era fértil. Por isso, o empenho de Sá de Miranda para
contaminar seus confrades com as novidades literárias de origem
italiana demorou pouco para alcançar êxito. Desse modo, os ideais
clássicos predominaram em Portugal até a morte de Camões e à
passagem de Portugal para o domínio espanhol, em 1580 (MOISÉS,
1999, p. 50).
- Crónica histórica:
João de Barros;
- Literatura de
viagens:
45
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de reflexão
3. O Renascimento foi:
a) um movimento restrito à Europa Ocidental católica.
b) uma corrente extensiva à Europa Oriental católica.
c) uma corrente não extensiva à Europa Ocidental católica.
d) Todas as alternativas estão correctas.
46
5. O conhecimento racional das coisas começa a ganhar corpo
para depois triunfar no Iluminismo no século:
a) XVIIII.
b) XVIII
c) XVIII.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Reflexão
Respostas:
2. A
3. A
4. B
5. Verdadeiro
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Falso
47
48
UNIDADE TEMÁTICA: TEATRO POPULAR DE GIL VICENTE
Primeira Fase (de 1502 a 1514) – nessa fase a influência de Juan del
Encina é dominante, sobretudo nos primeiros anos, atenuando-se
depois de 1510.
Segunda Fase (de 1515 a 1527) – começando com Quem tem farelos? e
terminando com o Auto da Fadas. Corresponde ao ápice da carreira
dramática de Gil Vicente, com a encenação de suas melhores peças,
dentre as quais Trilogia da Barca (1517-1518), o Auto da Alma (1518), a
Farsa de Inês Pereira (1523), o Juiz da Beira (1525).
7
Também chamado auto de visitação. Veja-se Massaud, (idem, p.70)
49
Terceira Fase (de 1528 a 1536) – inicia-se com o Auto da Feira e se
encerra com Floresta de Enganos. Nesta fase, o dramaturgo, sob
influência do Classicismo renascentista, intelectualiza seu teatro.
50
isso, as representações progrediam de acordo com as circunstâncias
criadas pelo momento, em suas relações com o autor e o conteúdo da
peça. Parece que o trabalho de Gil Vicente era apenas esboçar um
roteiro básico com um objectivo: ordenar a encenação numa sequência
verossímil, uma vez que o resto aconteceria ao sabor do momento e de
todas as alterações impostas pelo acaso.
Como afirma, Massaud, (ib.dem, p.74) esta peça foi representada pela
primeira vez na Corte de D. João III, em 1523, no Convento de Tomar,
este auto vicentino gira em torno dum tema proposto por ‘certos
homem e de bom saber’ que duvidam ‘se o autor fazia de si mesmo
estas obras, ou se as furtava de outros autores’: mais quero asno que
me leve, que cavalo que me derrube’. O dramaturgo focaliza na peça
Inês Pereira, jovem do povo eu, desejando casar com um rico homem
rico, recusa Pêro Marques, filho de rico proprietário rural, para aceitar
Brás de Mata, escudeiro e pelintra. Mas o moço, que a maltrata é
chamado para combater em África e lá morre, cobardemente. Inês
resolve-se casar-se com Pêro Marques e vai ao encontro de um ermitão,
seu ex-namorado. Leia, a seguir, o diálogo (entrevista) entre Inês e o
pretendente:
52
Vem Pêro Marques e diz:
eu vos escrevi de lá
53
Pêro Eu Pêro Marques me digo,
e eu de bem, er também,
[…]
Sumário
54
Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as primeiras tentativas de
libertação da cultura teocêntrica imposta pela Igreja em todo o período
medieval. O modo de produção da Idade Média é o feudalismo, sistema
social em que predominam grupos sociais fechados e impossibilitados
de empreender mobilidade social. Nesse sistema, há uma profunda
ligação de dependência de homem para homem, definida pela relação
entre os senhores, proprietários da terra, e os servos, não-
proprietários, mas presos a ela.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
55
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
c) na Baixa Idade Média (séculos XIIIIe XIIIV) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
a) na Baixa Idade Média (séculos XIIX e XIII) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
6. O modo de produção da Idade Média é:
a) o feudalismo
b) o socialismo
c) o fmonopartidarismo
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Reflexão
10. “Quando o poeta, com os olhos voltados para trás, contempla o
mundo que morre, os temas e uma visão medieval das coisas
predominam.” Comente.
11. Fale sobre a idade Média.
56
Respostas:
3.. A
4. B
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Falso.
57
Falando dos sonetos, os mais perfeitos de quantos produzidos por
Camões e dos mais belos da Língua Portuguesa apresentam pontos em
comum naquilo que diz respeito à estética clássica. Em primeiro lugar,
pelo facto de obedecerem ao princípio de imitação, quer dizer, da
aceitação de modelos preexistentes à elaboração da obra de arte, sejam
eles escritores greco-latinos, sejam os quinhentistas que lhes seguiram
as pegadas.
O soneto que a seguir se vai ler, mostra claramente o que acima ficou
dito: versos ou temas imitados, mas misturados com a genialidade do
seu autor.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Quem é Luis Vaz de Camoes?
2. O que são sonetos?
59
c) da língua Francesa.
d) da língua franca.
60
repousa lá no céu eternamente
Questões de Reflexão
Respostas:
3. A
4. B
5. D
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso
61
UNIDADE TEMÁTICA: OS LUSÍADAS DE LUIS VAZ DE
CAMÕES
Segundo Moisés (p. 58) assim como, em outras épocas, eram outras as
passagens do poema as preferidas pelos leitores, os episódios mais
consagrados pela sensibilidade actual são o de Inês de Castro (Canto III,
118-135), o do Velho do Restelo (Canto IV, 88-104), o do Gigante
Adamastor (Canto V, 37-61) e o da Ilha dos Amores (Canto IX, 64-83):
63
O caso triste, e dino da memória
119
64
Por não concordar com a viagem, por entendê-la desnecessária à
segurança do povo, esse Velho era contrário à expansão geográfica:
julgava que a estabilidade devia decorrer não do comércio exterior, mas
do fortalecimento interno da nação. Em face disso, só podia
compreender aquela aventura como fruto do desejo de mando e da
ambição de glória.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Cobre Os Lusíadas – Luís de Camões – comente a afirmação: O
episódio “Velho Restelo” contrasta a certas concepções
66
dominantes na sociedade portuguesa da época dos grandes
descobrimentos.
67
a) as dificuldades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
b) as possiblidades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
c) as impossiblidades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Reflexão
11. Fale sobre Vasco da Gama (Vida e Obra).
12. Que diferença existe entre o autor do texto e o sujeito poético?
Respostas:
6.. A
7. A
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Falso
68
TEMA 3. LITERATURA BRASILEIRA
Introdução
UNIDADE TEMÁTICA:
FORMAÇÃO E PERCURSOS DA
LITERATURA BRASILEIRA
69
Em função desse quadro, muitos críticos têm dividido a literatura do
Brasil em duas Eras separadas por um período de transição.
Seiscentismo Realismo/Naturalismo
ou “ecos do /Parnasianismo – 1881
Barroco – 1601 – 1893
– 1768
Simbolismo – 1893 –
Setecentismo 1902
ou Arcadismo –
1708 -1808 Modernismo – 1922
até…
70
1549, comandados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Quem mais se
destacou entre os jesuítas foi Padre José de Anchieta.
Sumário
71
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
72
d) XVIIV foi reflexo e prolongamento da Portuguesa, pois as
condições do Brasil impediram que se desenvolvesse um
processo literário autónomo.
Questões de Reflexão
Respostas:
5.A
6. B
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Falso
73
TEMA 4. O BARROCO
Introdução
74
O Barroco é um fenómeno artístico cronologicamente delimitado: sua
génese remonta a meados do século XVI e enraiza-se na crise espiritual,
moral e cultural desencadeada pelo progresso e pela decomposição dos
valores da Renascença. Essa crise envolve os dois meios de
conhecimento da realidade visceralmente antagônicos: de um lado, o
avanço e desenvolvimento das ciências; do outro, o imobilismo e o
retrocesso da religião. Em face disso, pode-se dizer que, nesse
momento, a Cruz e o Telescópio – leia-se: a Fé e a Ciência – disputavam
o domínio do mundo.
75
poeta espanhol, é seu primeiro representante). Os adeptos do cultismo
(outro nome que recebe esta forma de produção do conhecimento)
optam por uma linguagem rebuscada, especiosa e rica, alcançada pelo
uso de neologismos, hipérbatos, trocadilhos,
76
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
Questões de Reflexão
78
Respostas:
4.. A
5.B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro.
80
Barroco português, numa época em que a prosa dava sinais de
maturidade.
Resumidamente:
1. Exórdio Apresentação do
tema e captação da
atenção do auditório
8
Cf.
http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/portugues/11_sermao_s_a_peixes_d.htm
81
O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São
Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os
colonos portugueses no Brasil. O Sermão de Santo António aos Peixes
constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade
oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários
peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos
vícios daqueles colonos. Com uma construção literária e
argumentativa notável, o sermão tem como objectivo louvar algumas
virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade alguns
vícios dos colonos. Este sermão foi pregado três dias antes de o Padre
António Vieira embarcar ocultamente para Portugal, onde pretendia
obter uma legislação mais justa para os índios, prejudicando assim os
interesses dos colonos europeus. Pode-se especular que a sua saída
precipitada do Brasil se devia, pelo menos em parte, ao receio de
represálias por parte dos colonos.
82
Exposição e confirmação
Capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que
são os seguintes:
. Ouvem e não falam;
. Foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros
que Deus criou);
. São melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros
nomeados foram os peixes);
. Existem em maior número (entre todos os animais do mundo,
os peixes são os mais e os maiores);
. Revelam obediência (aquela obediência, com que chamados
acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor);
. Revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção
com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo
António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo
tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às
suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.);
. Não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não
domam nem domesticam)
Estas qualidades são, por antítese, os defeitos dos homens.
Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas
agora de carácter particular e apenas dos seguintes peixes:
do peixe de tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego,
aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou
inteiramente a vista] e seu coração expulsa os demónios [(...) tendo
um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou
com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração,
fugiu dali o demónio e nunca mais tornou];
da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder
[“(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra
mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por
diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta
força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que
menos naufrágios no mundo!”; “(...) a virtude da rémora, a qual,
pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];
do torpedo: faz descargas eléctricas para se defender e,
consequentemente, faz passar o bom e a virgindade do Espírito
Santo (Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia
sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe
tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável
efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do
peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da
cana ao braço do pescador);
83
do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados
para cima para vigiarem as aves e dois olhos voltados para baixo para
vigiarem os peixes – e representa a capacidade de distinguir o bem
do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele
peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo
olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo: para
cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há
Inferno"].
Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são
antíteses aos defeitos dos homens, assim simbolizando os seus
vícios.
Capítulo IV – repreensão dos peixes em geral:
. Comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos
outros];
. Os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis
uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos);
. “Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para
muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos,
não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande”.
Capítulo V – repreensão em particular
dos roncadores: embora tão pequenos, roncam bastante,
simbolizando assim os arrogantes (É possível que sendo vós uns
peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);
dos pegadores: sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os
largando mais e simbolizando os oportunistas e os parasitas
(Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande
propriedade, porque sendo pequenos não só se chegam a outros
maiores, mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que jamais os
desferram);
dos voadores: sendo peixes, também se metem a ser aves,
simbolizando os vaidosos [Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para
peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...) Contentai-vos com o
mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes];
dos polvos: tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo,
mas na essência é traiçoeiro, maldoso e hipócrita e faz-se de amigo
dos outros e no fim, representando assim os traidores e os hipócritas
“abraça-os” [E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar].
Peroração: o orador retoma os pregadores de que falava no conceito
predicável, servindo-se dele próprio como exemplo alegando que
não estava a cumprir a sua função. Alega também que ele (homens)
e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os
peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito. Padre
António Vieira diz que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto
dos peixes, são melhores do que a
84
racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a
vontade do homem.
Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a
Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar,
para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o
orador.
Recursos estilísticos predominantes
O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida
em que os peixes são a personificação dos homens. O Padre António
Vieira toma como ponto de partida uma frase bíblica
irrefutavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua
época. A pessoa gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda,
visto que o seu objectivo é persuadir e contar com a adesão dos
ouvintes.
Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem
grande coesão e coerência textual graças à utilização de recursos
estilísticos, nomeadamente: a anadiplose, a antítese, a apóstrofe, a
comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação
retórica, a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a
metáfora, o paradoxo, o quiasmo e o trocadilho.
Sumário
85
AUTO-AVALIAÇÃO
86
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Reflexão
Respostas:
1. A
2. B
3. A
4. C
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
87
88
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO
BARROCO BRASILEIRO
9
Trata-se de uma imitação de Os Lusíadas, cujo objectivo é louvar Jorge
d’Albuquerque Coelho, donatário de Pernambuco
89
(III) hipérboles, que traduzem a pompa, a grandiosidade do
Barroco;
90
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
91
Questões de Verdadeiro e Falso
Respostas:
4.. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso
92
UNIDADE TEMÁTICA: O ARCADISMO OU
NEOCLASSICISMO NO BRASIL
10
Nisa é uma mulher personagem fictícia, incorpórea, presente apenas pela situação
nominal. Não se manifesta na relação amorosa, não é descrita fisicamente, nem da
qualquer mostra de corresponder alguém de verdade. Apenas representa o ideal da
mulher amada inalcançável – nítido traço de reaproveitamento do neoplatonismo
renascentista.
93
lastima-se por se encontrar num lugar de grande beleza natural, mas
não estar acompanhado pela mulher amada.
94
Nisa? Nisa? Onde estás? Aonde espera
Vila Rica
Canto VI
95
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
96
d) Todas as alternativas estão correctas.
97
Respostas:
3.A
4. B
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10.. Verdadeiro
TEMA 5. O ROMANTISMO
Introdução
98
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍTICAS GERAIS DO ROMANTISMO
99
No plano das teorias, das ideias e de temas literários, os românticos,
repudiando os clássicos ou neoclássicos, revoltam-se contra as regras,
os modelos, as normas, lutam pela total liberdade na criação artística e
defendem a mistura e a impureza dos gêneros literários: a aventura no
lugar da ordem clássica; o caos no lugar do cosmos, como sinônimo de
equilíbrio; um conceito de arte extremamente individualista no lugar do
universalismo clássico; a visão microscópica, centrada no “eu” interior
de cada um, no lugar da visão macroscópica que os clássicos possuíam
da vida e da arte. O “eu” é o centro do universo.
Sumário
Estudamos, nesta unidade, que o Romantismo é a expressão literária e
plástica da consciência burguesa. Acredita no progresso, porque o
progresso foi a mola económica da burguesia; entoa o canto da
liberdade; exalta o sentimento contra a barreira das convenções;
inventa a alma do povo, ou o espírito nacional e, reinventa a história.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
3. O que é o Romantismo?
a) É a expressão literária e plástica da consciência burguesa.
b) É a expressão literária e plástica da consciência romana.
c) É a expressão literária da consciência burguesa.
d) Todas as alternativas estão correctas.
100
5. A Alemanha e a Inglaterra foram as pioneiras da nova
tendência, mas coube à:
a) Portugal o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe
com a tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
b) França o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe com
a tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
c) Iltalia o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe com a
tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Respostas:
3.. A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
101
10. Verdadeiro
102
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO EM PORTUGAL
Objectivos
• Destacar a importância do Romantismo na sociedade portuguesa;
103
João Batista Leitão de
Almeida Garrett
(1799-1854)
104
decassílabo branco, mas alguns deles mal disfarçam redondilhas. Não
obedecera, pois, aparentemente a nenhuma das formas fixas
determinadas nos tratados tradicionais, embora comece com uma
invocação a saudade como Musa, que um pouco adiante é chamada de
“deusa”
Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo
passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõem-se à razão e é
uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e
dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma
preocupação constante com a filha Maria, contudo, coloca acima de
tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel de Sousa, mesmo o seu
amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra,
aceita o convento como solução, mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi?
Eu vou)
Maria de Noronha
É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil;
psicologicamente é muito forte). Nobre, de inteligência precoce, é
muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É
uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa,
patriota, crente em agoiros e uma
105
sebastianista. É a vítima inocente de toda a situação e acaba por morrer
fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está
tuberculosa).
D. João de Portugal
Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça.
Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na
consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de
Maria.
É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei;
quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa
um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade,
mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então
a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos
mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que
ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do
velho escudeiro):
Telmo Pais
É muito crítico, cria juízos de valor e é através dele que consciência das
personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois
sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer. É um
sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.
106
Frei Jorge
Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É
também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu
“Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É uma
figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os
sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador,
pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o
equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.
Canto I
107
_dos entes o misérrimo na terra _
108
Sumário
Nesta unidade temática estudamos que o Romantismo português
normalmente é associado à revolução liberal de 1834. Essa revolução
representa um corte com a tradição, pois confiscou os bens da nobreza,
da Igreja e aboliu as ordens religiosas. Era necessário criar uma nova
literatura, com novas formas e novos temas, para uma nova sociedade,
uma vez que os românticos da primeira geração ainda estavam muito
ligados aos árcades. Didacticamente, costuma-se dividir o romantismo
em três momentos, nomeadamente: o de vigência de valores
neoclássicos, o da incorporação do chamado movimento ultra-
romântico e o da transição ao Realismo.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
109
b) representa o presente, a época gloriosa dos descobrimentos;
representa também o presente, a pátria morta e sem identidade
na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.
c) representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos;
representa também o futuro, a pátria morta e sem identidade
na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Respostas:
3.. A
4. D
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro
110
111
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO BRASILEIRO
Objectivos
Por esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor,
justamente por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às
suas expectativas, convencionou-se adotar o romance "A Moreninha",
de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro
romance brasileiro.
José de Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou possível uma
classificação por modalidades:
(i) Romances urbanos ou de costumes (retratando a sociedade
carioca de sua época - o Rio do II Reinado);
(ii) Romances históricos (dois, na verdade, voltados para o
período colonial brasileiro “As minas de prata" e "A guerra
dos mascates");
(iii) Romances regionais ("O sertanejo" e "O gaúcho" são as duas
obras regionais de Alencar);
(iv) Romances rurais (como "Til" e "O tronco do ipê");
115
(v) Romances indianistas (que trouxeram maior popularidade
para o escritor, como "O Guarani", "Iracema11" e
"Ubirajara").
Sumário
Nesta unidade temática estudamos que o Romantismo se inicia no
Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro de
poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e saudades". Vimos
também que no romantismo brasileiro podemos reconhecer três
gerações: Geração Nacionalista ou indianista; geração do "mal do
século" e a "geração condoreira". Porém, vimos que além da poesia, há
duas outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a
prosa e o teatro romântico.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Ligue a coluna da esquerda, de acordo com a coluna da direita,
tendo em vista a poesia romântica brasileira:
A B
• Primeira geração • Abolicionismo
11
O nome “Iracema” significa em tupi “lábios de mel”. É também um anagrama da
palavra. América. O livro foi escrito no século 19 e a história é ambientada no início
do século 17. A partir dessa constatação, podemos interpretar a relação amorosa
entre Martim e Iracema como uma metáfora da história da colonização da América: o
índio (representado por Iracema) se une ao colonizador português (representado por
Martim) e dessa miscigenação surge o primeiro cearense (representado por Moacir)
116
• Segunda geração • Condoreirismo
• Terceira geração • Autocomiseração exacerbada
• Obsessão pela morte
• Indianismo
• Nacionalismo
117
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Verdadeiro
6. Os romances respondiam às exigências daquele público leitor;
giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de
amenidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens,
apresentando personagens idealizados pela imaginação e
ideologia românticas com os quais o leitor se identificava,
vivendo uma realidade que lhe convinha.
7. José de Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou possível
uma classificação por modalidades.
8. O termo condoreirismo não é consequência do símbolo de
liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que
habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal
representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e
Sousândrade.
9. "O guarani" não é o melhor exemplo, ao se observar a relação
do principal personagem da obra, o índio Peri, com a família de
D. António de Mariz.
10. Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance
brasileiro foi "O filho do pescador", publicado em 1843, de
autoria de Teixeira de Souza (1812-1881).
Respostas:
3.. A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro
118
TEMA 6: O REALISMO/ NATURALISMO
Introdução
UNIDADE TEMÁTICA:
CARACTERÍTICAS GERAIS DO
REALISMO/ NATURALISMO
Objectivos
119
surgiu o Realismo, inaugurado pela publicação de Madame Bovary, de
Gustave Flaubert, em 1857;
120
Volta-se para a psicologia, Volta-se para a biologia e a
centrando-se mais no indivíduo patologia, centrando-se mais no
social.
O tratamento imparcial e O tratamento dos temas com
objetivo dos temas garantem ao base em uma visão determinista
leitor um espaço de conduz e direciona as conclusões
interpretação, de elaboração de do leitor e empobrece
suas próprias conclusões a literariamente os textos.
respeito das obras
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Reflita em torno do realismo /naturalismo.
2. Quais são as principais marcas do realismo /naturalismo?
Questões de Escolha Múltipla
3. Os termos "Realismo" e "Naturalismo" frequentemente se
confundem e alguns autores falam, então, de:
a) “Realismo-Naturalismo"
b) “Realismo-natureza"
c) Realismo-barroquismo"
d) Todas as alternativas estão correctas.
121
6. Toda a obra naturalista é realista, mas nem toda obra realista é
naturalista.
7. As escolas Realista-naturalista e parnasiana combateram o
Romantismo e propuseram uma nova forma de análise da
sociedade.
8. Os naturalistas se inspiraram fortemente na teoria da evolução
de Darwin para não compor sua arte, por isso acreditavam que
os seres humanos estavam aprisionados às leis que regem a
natureza.
9. O Naturalismo foi uma tendência do Realismo que não procurou
analisar o homem a partir de uma perspetiva determinista,
materialista e reduziu os fenómenos sociais aos fatores
biológicos, principalmente.
10. Os naturalistas privilegiaram os fenómenos colectivos e o
proletariado, classe social pouco enfocada na literatura até
então.
Respostas:
3..A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro
122
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO
123
Trata-se de uma poesia carregada de descrições objetivas e impessoais,
se opondo ao subjetivismo decadente do universalismo francês. É uma
poesia de meditação filosófica, no entanto artificial.
Sumário
Percebemos, nesta unidade temática, que o Realismo constitui-se como
o movimento artístico dominante na época, com maior incidência a
nível literário, revelando claramente influências políticas e ideológicas
ao defender uma visão objectiva da realidade, tendo em conta as
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a descrição da
124
vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais cuidadosamente
observados. Mas também vimos que os termos "Realismo" e
"Naturalismo" frequentemente se confundem e alguns autores falam,
então, de "Realismo-Naturalismo".
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Discorra sobre as diferenças e semelhanças entre o
parnasianismo e o simbolismo.
2. Reflita em torno do contexto histórico do parnasianismo.
3. Reflita sobre o contexto histórico do simbolismo.
125
5. Charles Baudelaire, autor de As flores do mal (1857), é
considerado fundador do:
a) Simbolismo
b) Parnasianismo
c) Romantismo
d) barroco
Questões de Verdadeiro e Falso
6. Com os efeitos negativos da industrialização vindo à tona, a
passagem do século XIX para o século XX suscita
questionamentos do modelo socioeconómico vigente e da visão
de mundo materialista e racionalista, dando origem a uma
poesia repleta de elementos transcendentais.
7. O poeta evita utilizar as palavras da mesma classe gramatical em
suas poesias, buscando tornar as rimas mais ricas na estética.
8. A poética parnasiana baseia-se no binómio inculto da
forma/objetividade temática, em uma postura totalmente anti-
romântica.
9. A objetividade temática surge como uma negação ao
sentimentalismo romântico, tentando atingir a impessoalidade
e impassibilidade.
10. O próprio nome dado remete à Parnasos, o lar das musas na
mitologia grega, e o estilo retomou conceitos da Antiguidade
Clássica como o racionalismo.
126
Respostas:
4.. A
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro
Objectivos
127
Estava armada a polémica, que passou a chamar-se Questão Coimbrã:
uma intensa polémica em torno do confronto literário entre os ultra-
românticos liderados por Castilho e os jovens estudantes de Coimbra,
cujo líder era Antero de Quental, iniciada após a publicação do livro
Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, onde Castilho escreve um
posfácio ironizando os jovens de Coimbra com o título "Bom senso e
Bom gosto".
128
Quental, publica em 1865 uma obra intitulada Odes Modernas, em cujo prefácio
declara que “a Poesia é a voz da Revolução” e o poeta é o arauto do futuro que,
juntamente com as Tempestades Sonoras e a Visão dos Tempos, de Teófilo Braga,
publicadas no ano anterior, desencadeiam a revolução literária chamada Questão
Coimbrã. Antero cultivou a poesia e a prosa polêmica e filosófica.
ABNEGAÇÃO
Antero de Quental
HINO À RAZÃO
(1874-1880)
Antero de Quental
3. O pessimismo e a evasão
O pessimismo manifesta-se em 1874 e desenvolve-se desde 1876 a
1882; extingue-se nos anos imediatos e em 1886 deixava o poeta, sem
nostalgia, numa região espiritual já percorrida.
130
O PALÁCIO DA VENTURA
Antero de Quental
NA MÃO DE DEUS
Antero de Quental
132
Queirós.
12
Em 1871 Eça de queirós Participa das Conferências do Casino, apresentando um
estudo sobre "O realismo como nova expressão de arte". Dentro da linha definida
nesse estudo, é em Leiria que dá inicio à redacção de "O crime do Padre Amaro",
analisando a sociedade portuguesa, focando principalmente o clero e a pequena
burguesia dos meios provincianos. Para além, desse romance escreve também a obra
“O Primo Basílio”, fortemente influenciado pela obra “Madame Bovary”, tem por
enredo uma família supostamente típica de Lisboa: a mulher casada, “sem formação
moral e sem outra cultura além da leitura de romances românticos, que lhe abrem
uma fuga para o tédio da vida conjugal”. A obra critica a deficiente educação feminina
e uma literatura que exalta os valores romanescos e pinta com cores atraentes o
adultério. Em “Os Maias”, o enredo trata de uma elite capaz de diagnosticar os males
da pátria. O grupo que convive no palácio do Ramalhete é, provavelmente, um auto-
retrato da geração de 70 na fase da desilusão: dois irmãos que não se conhecem, filhos
de uma paixão romântica e fatal, acabam por encontrar-se em Lisboa e por ter amores
incestuosos. É uma variante da história de Édipo.
133
escrever obras de combate às instituições vigentes (Monarquia, Igreja,
Burguesia). São romances comprometidos com a geração de 1870 e
traçam um retrato da sociedade Portuguesa contemporânea, erguido
em linguagem original, plástica, já impregnada daquelas qualidades
características de seu estilo: naturalidade, fluência, vigor narrativo,
precisão, "oralidade" além de certo lirismo melancólico, da sátira e a
ironia. Pertencem a esta fase: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio,
A Relíquia e Os Maias.
134
senhora Joaneira – com quem Dias mantinha um caso –, auxiliando, em
troca, nas despesas da casa. O quarto de Amaro fica exatamente em
baixo do de Amélia, filha da dona da casa. Já no primeiro contato,
Amaro e Amélia sentem forte atração mútua, que se desenvolve aos
poucos e provoca o desinteresse da moça por João Eduardo, de quem
era noiva.
O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até que ela
começa a ter crises de consciência. A pedido da senhora Joaneira, o
cônego Dias investiga o caso e fica sabendo, por meio de Totó, o que
ocorria entre seu instruendo e a moça. Após uma discussão e trocas de
acusações entre os dois, porém, o cônego e o padre passam a se tratar
como sogro e genro.
135
Entristecida por se separar da mãe e pelo abandono de Amaro, que
permanece em Leiria, Amélia fica angustiada e entra em profunda crise.
A situação é agravada pela censura de dona Josefa. A jovem encontra
consolo então no bom abade Ferrão, um dos poucos personagens
apresentados como íntegros na narrativa. Ele ouve a confissão de
Amélia e a aconselha a superar a atração que ainda sente pelo padre.
Amaro, ao saber disso, cego de desejo e ciúme, procura mais uma vez
Amélia, que não resiste e se entrega novamente. O abade, por outro
lado, tenta inutilmente unir a moça com o reaparecido João Eduardo,
ainda apaixonado por ela.
IV
Amaro foi para o seu quarto, começou a rezar no Breviário; mas distraia-
se, lembravam-lhe as figuras das velhas, os dentes podres de Artur,
sobretudo o perfil de Amélia. Sentado à beira da cama, com o Breviário
aberto, fitando a luz, via o seu penteado, as suas mãos pequenas com
os dedos um pouco trigueiros picados da agulha, o seu buçozinho
gracioso...
136
Sentia a cabeça pesada do jantar do cônego e da monotonia do quino,
com uma grande sede além disso das lulas e do vinhito do Porto. Quis
beber, mas não tinha água no quarto. Lembrou-se então que na sala de
jantar havia uma bilha de Extremoz com água fresca, muito boa, da
nascente do Morenal. Calçou as chinelas, tomou o castiçal, subiu
devagarinho. Havia luz na sala, estava o reposteiro corrido; ergueu-o e
recuou com um ah! Vira num relance Amélia, em saia branca a desfazer
o atacador do colete; estava junto do candeeiro e as mangas curtas, o
decote da camisa deixavam ver os seus braços brancos, o seio delicioso.
Ela deu um pequeno grito, correu para o quarto.
Amaro ficou imóvel, com um suor à raiz dos cabelos. Poderiam suspeitar
uma ofensa! Palavras indignadas iam sair decerto através do reposteiro
do quarto, que ainda se balouçava agitado!
- Achei! achei!
Deitou-se sem rezar. Alta noite Amélia sentiu por baixo passos nervosos
pisarem o soalho: era Amaro que, com o capote aos ombros e em
chinelas, fumava, excitado, pelo quarto.
Na casa vizinha, uma criança chorava sem cessar. Amélia sentia a mãe
embalar-lhe o berço, cantar-lhe baixo:
137
Era a pobre Catarina engomadeira, que o tenente Sousa deixara com
um filho no berço, e grávida de outro - para ir casar a Extremoz! Tão
bonita era, tão loura - e mirrada agora, tão chupada!
Como ela conhecia aquela cantiga! Quando tinha sete anos sua mãe
dizia-a, nas longas noites de Inverno, ao irmãozinho que morrera!
138
tão suado, com umas mãos papudas e moles, de unhas pequenas!
Gostava de a ter entre os joelhos, torcer-lhe devagarinho a orelha, e ela
sentia o seu hálito impregnado de cebola e de cigarro. O seu amiguinho
era o cônego Cruz, magro, com o cabelo todo branco, a volta sempre
asseada, as fivelas luzidias; entrava devagarinho, cumprimentando com
a mão sobre o peito, e uma voz suave cheia de ss.
Sumário
Entendemos, nesta unidade temática, que o Realismo se constitui como
o movimento artístico dominante na época, com maior incidência a
nível literário, revelando claramente influências políticas e ideológicas
ao defender uma visão objectiva da realidade, tendo em conta as
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a descrição da
vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais cuidadosamente
observados. Mas também vimos que os termos "Realismo" e
"Naturalismo" frequentemente se confundem e alguns autores falam,
então, de "Realismo-Naturalismo".
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
1. Fale sobre o papel de Antero de Quental para a Literatura
Portuguesa.
2. Discorra sobre a temática e o contexto da obra “O crime do
Padre Maro”.
139
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a
descrição da vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais
cuidadosamente observados.
6. Em “O Crime do Padre Amaro” Eça faz um levantamento, uma
análise crítica da sociedade portuguesa do seu tempo.
7. O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até
que ela começa a ter crises de consciência.
8. Eça de Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua
Portuguesa, sendo considerado por Massaud Moisés um divisor
de águas linguístico entre a tradição e a modernidade.
9. Eça de Queirós cultivou apenas uma tipologia textual.
10. Eça de Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua
Inglesa.
Respostas:
3.. A
4. Verdadeiro
5. Falso
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Falso
140
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO EM PORTUGAL
PARNASIANISMO EM PORTUGAL
Termo de origem grega segundo o qual Parnaso seria uma terra
abençoada onde os poetas iam buscar a inspiração poética.
SIMBOLISMO EM PORTUGAL
Na passagem do século XIX para o XX, o país vive uma grande
turbulência política e económica. A monarquia portuguesa está em
franca decadência, provocada principalmente pelos recentes fracassos
em sua campanha expansionista – situação que determina a queda do
sistema monárquico em 1910. No Simbolismo português, tais conflitos
inspiram obras negativas e saudosistas.
Sumário
Nesta unidade temática vimos que nos anos seguintes a 1860, o
Romantismo entra em declínio e sofre os primeiros ataques por parte
da nova geração que surge, os rebeldes estudantes de Coimbra.
142
UNIDADE TEMÁTICA: O REALISMO/NATURALISMO NO BRASIL
Objectivos:
• Explicar o que foi o Realismo brasileiro, quais suas principais
características que fazem parte deste movimento,
143
Além de Machado, destacam-se no cenário do Realismo/Naturalismo
brasileiro: Aluísio Azevedo, autor bastante influenciado pelo
Naturalismo de Émile Zola e pelo Realismo de Eça de Queirós, e Raul
Pompéia, escritor que inaugurou a tendência impressionista nas letras.
144
Pompéia se imortalizou por ter escrito o romance O Ateneu – Crónica
de saudades (1888). Nele, Sérgio narra sua trajetória no internato
Ateneu, dirigido pelo inescrupuloso Aristarco, em tom impressionista,
particularidade que destoa das narrativas realistas/naturalistas. A
instituição é retratada como uma espécie de metonímia da sociedade.
145
2ª. Fase/realista: nessa fase, o autor centra sua análise pessimista e
irónica nos interesses obscuros que marcam as relações humanas, na
vaidade, no convencionalismo e na prevalência do poder financeiro. Os
romances realistas de Machado, em geral, inovam também na ruptura
que promovem com a ordem cronológica da narrativa, nas digressões
feitas pelo narrador e na análise psicológica das personagens.
Pertencem a essa fase: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881),
Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e
Memorial de Aires (1908).
Desse ponto até o fim da vida, Brás se dedica à carreira política, que
exerce sem talento, e a acções beneficentes, que pratica sem nenhuma
paixão. O balanço final, tão melancólico quanto a própria existência,
arremata a narrativa de forma pessimista: “Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.
146
morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este
livro e o Pentateuco.
amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e
constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da
última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu
à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós
podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda
irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens
escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor
crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é
um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe
deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que
me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias
nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem
se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viramme ir umas
nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina,
casada com o Cotrim, a filha, — um lírio do vale, — e...
Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão,
convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um
solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna
em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos
convinha a essa anónima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama,
com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia
crer na minha extinção.
147
E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu
desferirem o vôo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das
ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou por
sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil...
[…]
148
Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria,
alegava meu pai, bisneto de Damião, que o dito apelido fora dado a um
cavaleiro, herói nas jornadas da África, em prémio da façanha que
praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era homem
de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um calembour. Era um
bom caráter, meu pai, varão digno e leal como poucos. Tinha, é
verdade, uns fumos de pacholice; mas quem não é um pouco pachola
nesse mundo? Releva notar que ele não recorreu à inventiva senão
depois de experimentar a falsificação; primeiramente, entroncou-se na
família daquele meu famoso homônimo, o capitão-mor, Brás Cubas,
que fundou a vila de São Vicente, onde morreu em 1592, e por esse
motivo é que me deu o nome de Brás. Opôs-se-lhe, porém, a família do
capitão-mor, e foi então que ele imaginou as trezentas cubas mouriscas.
Sumário
149
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
5.. C
6. D
7. A
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Verdadeiro
Objectivos
Analisar o contexto do surgimento do parnasianismo no Brasil
• PARNASIANISMO NO BRASIL
A olhar atento,
O pensamento.
Tanta requer,
De outro qualquer.
Serena Forma!
152
O eu lírico destaca, nesses versos, a concentração necessária ao fazer
poético, que deve evitar tanto questões sociais quanto manifestações
de qualquer estado de espírito. O poeta dedica-se ao objectivo maior
de atingir a perfeição formal.
SIMBOLISMO NO BRASIL
A poesia parnasiana tem destaque no início da República, quando a elite
brasileira, entusiasmada com o progresso nacional e indiferente às
condições de vida da população, busca um modelo de “civilidade” e de
distanciamento da realidade nacional.
153
subjetivo, o espiritual e o sinestésico. Destaca-se também uma
dualidade constante, representada pelo conflito entre o plano material
e o desejo de alcançar o plano transcendental em busca da purificação,
como exemplifica a estrofe a seguir.
Cruz e Sousa, João da. Missal Broquéis. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
p. 139.
Ismália
Sumário
Estudamos, nesta unidade o surgimento do Parnasianismo no Brasil,
marcado pela publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1882,
embora tenha ganhado força com os
154
nomes Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo Correia. O
Parnasianismo foi um movimento de estilo poético que marcou
bastante a elite brasileira no final do século XIX. No começo do
movimento, ele apresentava nítida influência francesa, valorizando a
forma e o culto à arte sempre. Com o passar dos tempos, os parnasianos
brasileiros não seguiram todos os acordos propostos pelos franceses,
pois muitos dos poemas apresentavam subjetividade e preferências
voltadas ao que acontecia de facto no Brasil, algo que contrariava o
“universalismo”, característica do Parnasianismo francês. Os temas
universais que apareciam na França se opunham ao individualismo
romântico que mostrava os aspectos pessoais, os desejos, sentimentos
e aflições do autor.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
Respostas:
3.. A
4. B
5. C
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
156
9. Falso
10. Falso
157
TEMA 7: O MODERNISMO
Introdução
UNIDADE TEMÁTICA:
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO
MODERNISMO
13
As principais vanguardas europeias
Expressionismo (1910): deforma a realidade para fazer uma leitura trágica e crítica do
contexto social e político.
158
valor ético e estético, da autonomia da arte, e da recusa da realidade
como modelo para esta última.
A escrita era mais curta, mais clara, e fácil de ler. A origem do cinema
na primeira década do século vinte deu ao modernismo uma forma de
arte que era unicamente dele. A escrita era mais curta, mais clara, e fácil
de ler. A origem do cinema na primeira década do século vinte deu ao
modernismo uma forma de arte que mais peculiar.
159
Ezra Pound, Wallace Stevens, entre muitos outros. Compositores como
Schoenberg e Stravinsky representam o modernismo na música.
Sumário
Nesta unidade temática estudamos basicamente as principais
vanguardas da Europa, nomeadamente: Cubismo (1907): reconstrói as
imagens rompendo com os conceitos tradicionais de perspectiva e
proporção, atribuindo ao observador o papel de decodificá-las.
Futurismo (1909): inspirado pelas inovações técnicas, rejeita
agressivamente as tradições e convenções. Expressionismo (1910):
deforma a realidade para fazer uma leitura trágica e crítica do contexto
social e político. Dadaísmo (1916): utiliza o nonsense (falta de sentido;
absurdo) para criticar radicalmente a sociedade, propondo uma ruptura
com a lógica e com a realidade e opondo-se a uma arte reflectida e
premeditada. Surrealismo (1924): surge no pós-guerra e, assim como o
dadaísmo, rebela-se contra a lógica, porém, voltando-se para o
inconsciente, a loucura, os sonhos e os impulsos, motivado pelo
advento da psicanálise.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
160
1. Explique por que razão o modernismo é corrente dos
“ismos”?
2. Indique os referidos “ismos”.
3. Apresente as características de cada um dos “ismos”
4. No advento do movimento modernista, nomes sonantes
estiveram a ele associados. Indique e enquadre-os nos
respectivos campos, cultural, literário.
Respostas:
161
5.. A
6. B
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Falso
162
UNIDADE TEMÁTICA: O MODERNISMO EM PORTUGAL
Objectivos
163
No rumo da revista Orpheu estiveram outras revistas ligadas ao
modernismo, como O Centauro (1916), Portugal (1917), Atena (1924),
mas a Presença (1927) que vai fixar a influência do movimento que
sacudiu mas não se impôs, o que agora, doze anos mais tarde, é
possível, em razão do criticismo equilibrado de João Gaspar simões, de
José Régio e Adolfo casais Monteiro.
14
Fernando António Nogueira Pessoa Mais conhecido por Fernando Pessoa, nasceu
em Lisboa a 13 de Junho de 1888. Foi baptizado a 21 de Julho de 1888 na Basílica dos
Mártires que se encontra no Chiado Lisboa. O nome Fernando António tem a ver com
o Santo António de Lisboa, dado que o seu nome de baptismo era Fernando de
Bulhões. O dia de Santo António comemora-se a 13 de Junho, que por coincidência é
o dia de nascimento de Fernando Pessoa. Faleceu na mesma cidade a 30 de Novembro
de 1953. Era filho de Joaquim Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira
Pessoa. O seu pai faleceu a 24 de Julho de 1893 com uma tuberculose, e o seu irmão
falecera um ano mais tarde. A sua juventude foi passada em Durban – África do Sul,
por motivos da sua mãe ter casado novamente com o Cônsul de Portugal em Durban
– África do Sul. A língua Inglesa foi muito importante na vida de Fernando Pessoa, pois
teve alguns contactos com vários autores Ingleses. Fernando Pessoa foi poeta e
escritor, tendo-se dedicado ao jornalismo e á literatura. Os críticos literários, um do
século XIX Harold Bloom (Nova Iorque, 11 de Julho de 1930), e Pablo Neruda do
século XX (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973),
consideraram Fernando Pessoa como um dos poetas mais representativos do século
XX. E reconhecido com um dos maiores poetas Portugueses a seguir a Camões. Na
literatura criou diversas personalidades sendo conhecidas como heterónimos.
164
Ortónimo significa basicamente: real, verdadeiro. É quando um autor
assina com seu nome verídico a obra, ou seja, quando não se faz o uso
de pseudónimo (heterónimo).
A. Características Temáticas
Ø Identidade perdida;
Ø Tensão sinceridade/fingimento,
consciência/inconsciência, sonho/realidade;
15
Veja-se http://www.dicionarioinformal.com.br/ortónimo
165
Ø Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia,
cansaço, desespero, frustração;
Ø Auto-análise.
Características Estilísticas
Ø Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom
nasal (que conotam o prolongamento da dor e do
sofrimento);
Ø Adjectivação expressiva;
Ø Pontuação emotiva;
166
B. A dor de pensar;
A Obra
Ø Poesias de «Cancioneiro» ;
Ø Poesias Coligidas;
Ø Mensagem;
Ø Chuva Oblíqua;
Ø Passos da Cruz;
Ø Poesias de Orpheu;
Ø «Canções de Beber»;
Ø «Poesias Dispersas».
167
Vejamos analisar agora o poema “Não sei quantas almas
tenho”, de Fernando Pessoa Ortónimo.
168
Os heterónimos são concebidos como individualidades distintas da
do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios.
Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a
unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade
e a estranheza da existência. Traduzem a consciência da
fragmentação do eu, reduzindo o eu “real” de Pessoa a um papel que
não é maior que o de qualquer um dos seus heterónimos na
existência literária do poeta. São a mentalização de certas emoções
e perspectivas, a sua representação irónica. De entre os vários
heterónimos de Pessoa destacam-se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e
Álvaro de Campos.
Segundo a carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos seus
heterónimos, Caeiro (1885-1915) é o Mestre, inclusive do próprio
Pessoa ortónimo. Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso,
embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no
Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, sendo os
do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se
encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a “novidade
um pouco estranha ao carácter geral da obra”).
Não desempenhava qualquer profissão e era pouco instruído (teria
apenas a instrução primária) e, por isso, “escrevendo mal o
português”. Era órfão desde muito cedo e vivia de pequenos
rendimentos, com uma tia-avó.
Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza»,
procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a
metafísica, isto é, recusando saber como eram as coisas na realidade,
conhecendo-as apenas pelas sensações, pelo que pareciam ser. Era
assim caracterizado pelo seu panteísmo, ou seja, adoração pela
natureza e sensacionismo. Era mestre de Ricardo Reis e Álvaro de
Campos, tendo-lhes ensinado esta “filosofia do não filosofar, a
aprendizagem do desaprender”.
São da sua autoria as obras O Guardador de Rebanhos, O Pastor
Amoroso e os Poemas Inconjuntos.
Ricardo Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de
jesuítas, tendo recebido, por isso, uma educação clássica (latina).
Estudou (por vontade própria) o helenismo, isto é, o conjunto das
ideias e costumes da Grécia antiga (sendo Horácio o seu modelo
literário). A referida formação clássica reflecte-se, quer a nível
formal, quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem
utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado.
Apesar de ser formado em medicina, não exercia. Dotado de
convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação
da República. Caracterizava-se por ser um pagão intelectual lúcido e
consciente (concebia os deuses como um ideal humano), reflectia
uma moral estoico-epicurista, ou seja, limitava-se a viver o momento
169
presente, evitando o sofrimento (“Carpe Diem”) e aceitando o
carácter efémero da vida.
Álvaro de Campos, nasceu em Tavira em 1890. Era um homem
viajado. Depois de uma educação vulgar de liceu formou-se em
engenharia mecânica e naval na Escócia e, numas férias, fez uma
viagem ao Oriente (de que resultou o poema “Opiário”). Viveu depois
em Lisboa, sem exercer a sua profissão. Dedicou-se à literatura,
intervindo em polémicas literárias e políticas.
É da sua autoria o “Ultimatum”, manifesto contra os literatos
instalados da época. Apesar dos pontos de contacto entre ambos,
travou com Pessoa ortónimo uma polémica aberta. Protótipo da
defesa do modernismo, era um cultivador da energia bruta e da
velocidade, da vertigem agressiva do progresso, de que a Ode
Triunfal é um dos melhores exemplos, evoluindo depois no sentido
de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida,
progressivos e auto-irónicos.
Representa a parte mais audaciosa a que Pessoa se permitiu, através
das experiências mais “barulhentas” do futurismo português,
inclusive com algumas investidas no campo da ação político-social.
171
Desassossego - obra que o ocupou até ao fim. É neste livro que revela
uma lucidez extrema na análise e na capacidade de exploração da
alma humana.
Sumário
Nesta unidade temática, foi-nos importante ver que em Portugal, o
modernismo surge no segundo decénio do século XX, este movimento
artístico que filosoficamente assenta em Ficht e Hegel, é a assimilação
de dois movimentos literários. O simbolismo e o futurismo. O
modernismo ensaia-se em 1913, com os poemas de Dispersão de Sá
Carneiro e Pauis de Fernando Pessoa. Prossegue com o encontro de
Pessoa e Almada Negreiros depois da crítica de Pessoa, em Águia, de
uma exposição de caricaturas de Negreiros.
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
Objectivos
172
• Identificar as fases do Modernismo brasileiro, bem como
textos e seus autores
173
6.2.2. Modernismo literário do Brasil
16
Mário Raul de Morais Andrade nasceu na cidade de São Paulo em 9 de outubro de
1893. Seu pai era de origem humilde, mas conseguiu alcançar uma situação financeira
estável através de muito trabalho e esforço. Sua mãe, apesar de ser descendente de
bandeirantes, também não era rica. Quando pequeno tinha baixo rendimento na
escola, ao contrário de seus irmãos, que eram muito elogiados. Porém, em dado
momento Mário começou a estudar, ler muito e passava até nove horas por dia
estudando música. Assim, em 1917, ele conclui o curso de piano no Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, publica seu livro de estreia, Há uma gota de sangue
em cada poema. Além disso, conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Como um
dos principais organizadores, participa da Semana de Arte Moderna, que foi realizada
em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Neste mesmo ano, publica o livro de
poesia Paulicéia Desvairada. Em 1927 publica o polêmico Amar, verbo intransitivo,
criticando a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana. Em 1934 é nomeado diretor
do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde fica até 1938, quando
se muda para o Rio de Janeiro. Em 1940 resolve voltar para São Paulo, vindo a
trabalhar no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1942, publica O
Movimento Modernista, onde faz o balanço e a crítica de sua geração. A partir dessa
época, seu estado de saúde, que já era frágil, piora. Em 25 de fevereiro de 1945, Mário
de Andrade sofre um ataque cardíaco e morre. Além de romances, poemas e contos,
Mário deixou uma grande coleção como crítico literário ("O movimento modernista"
(1942), "Aspectos da literatura brasileira" (1943) e outros livros). Seus principais
romances são: "Paulicéia Desvairada" (1922), "Amar, verbo intransitivo" (1927) e
"Macunaíma" (1928).
174
esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a um
forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um
amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase, que
continuam produzindo.
17
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas seus pais imigraram para o Brasil pouco
depois. Chegou a Maceió com dois meses de idade, com seus pais e duas irmãs. Em
1924 a família mudou-se para o Recife, e Clarice passou a freqüentar o grupo escolar
João Barbalho. Aos oito anos, perdeu a mãe. Três anos depois, transferiu-se com seu
pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro. Em 1939 Clarice Lispector ingressou na
faculdade de direito, formando-se em 1943. Trabalhou como redatora para a Agência
Nacional e como jornalista no jornal "A Noite". Casou-se em 1943 com o diplomata
Maury Gurgel Valente, com quem viveria muitos anos fora do Brasil. O casal teve dois
filhos, Pedro e Paulo, este último afilhado do escritor Érico Veríssimo. Seu primeiro
romance foi publicado em 1944, "Perto do Coração Selvagem". No ano seguinte a
escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras. Dois anos
depois publicou "O Lustre". Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do
Coração Selvagem", com capa ilustrada por Henri Matisse. Em 1956, Clarice Lispector
escreveu o romance "A Maçã no Escuro" e começou a colaborar com a Revista Senhor,
publicando contos. Separada de seu marido, radicou-se no Rio de Janeiro. Em 1960
publicou seu primeiro livro de contos, "Laços de Família", seguido de "A Legião
Estrangeira" e de "A Paixão Segundo G. H.", considerado um marco na literatura
brasileira. Em 1967 Clarice Lispector feriu-se gravemente num incêndio em sua casa,
provocado por um cigarro. Sua carreira literária prosseguiu com os contos infantis de
"A Mulher que matou os Peixes", "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" e
175
A seguir, vai ter a oportunidade de ler o trecho do livro: “A Mulher que
matou os Peixes”:
“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro
a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar
uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.
Pois logo eu matei dois peixinhos vermelhos que não fazem mal a
ninguém e que não são ambiciosos: só querem mesmo é viver.
E eu respondo:
O resultado é que a casa ficou alegre para mim, mas infernal para as
pessoas grandes. Afinal, não agüentando mais os meus gatos, deram
escondido de mim a gata com sua última ninhada.
"Felicidade Clandestina". Nos anos 1970 Clarice Lispector ainda publicou "Água Viva",
"A Imitação da Rosa", "Via Crucis do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite?".
Reconhecida pelo público e pela crítica, em 1976 recebeu o prêmio da Fundação
Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra. No ano seguinte publicou "A
Hora da Estrela", seu ultimo romance, que foi adpatado para o cinema, em 1985.
Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57 anos.
176
Eu fiquei tão infeliz que adoeci com muita febre.
[...]
Tenho esperanças de que até o fim do livro vocês possam me perdoar.
Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E
vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e meu
coração vai ouvir.
[...]
Vocês ficaram tristes com a história? Vou fazer um pedido para vocês:
todas as vezes que vocês sentirem solitários, isto é, sozinhos, procurem
uma pessoa para conversar. Escolham uma pessoa grande que seja
muito boa para crianças e que entenda que às vezes um menino ou uma
menina estão sofrendo. Às vezes de pura saudade, como os periquitos
australianos. Conheço uma moça que toca piano muito bem nos teatros.
Essa moça ganhou de presente no dia do seu aniversário um periquito
australiano. Só ganhou a fêmea. O pior é que as pessoas que dão um
periquito australiano têm que comprar dois: um macho e uma fêmea
que, por causa da raça deles, são tão amorosos que passam o dia se
beijando e não podem ser separados. A periquita até adoeceu de tanta
saudade do macho dela.
[...]
Bem, agora chegou a hora de falar sobre o meu crime: matei dois
peixinhos. Juro que não foi de propósito. Juro que não foi muito culpa
minha. Se fosse, eu dizia.
Meu filho foi viajar por um mês e mandou-me tomar conta de dois
peixinhos vermelhos dentro do aquário.
Mas era tempo demais para deixarem os peixes comigo. Não é que eu
não seja de confiança. Mas é que sou muito ocupada, porque também
escrevo histórias para gente grande.
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A comida parecia um pozinho horrível, mas devia ser gostoso para peixe
porque eles comiam tudo.
Devem ter passado fome, igual gente. Mas nós falamos e reclamamos,
o cachorro late, o gato mia, todos os animais falam por sons. Mas peixe
é tão mudo como uma árvore e não tinha voz para reclamar e me
chamar.
Vocês me perdoam?”
Sumário
Questões de Reflexão
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7. As manifestações do período conhecido como Pré-modernismo, não
foram marcadas por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves
operárias.
Respostas:
4.. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Verdadeiro
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
AMORA, António Soares, Teoria da Literatura. São Paulo, Editora
Clássica-Científica, 1969.
180
BOSSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª Ed., São
Paulo, Cultrix Lda, 1990.
181
182