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CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE

PORTUGUÊS

MANUAL DE LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2022

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CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS

MANUAL DE LITERATURA PORTUGUESA E BRASILEIRA

3º ANO

CÓDIGO

TOTAL HORAS/1º SEMESTRE 150

CRÉDITOS (SNATCA) 6

NÚMERO DE TEMAS 7

ii
Direitos de autor

Este manual é propriedade do Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e estão reservados todos
os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios, sejam (eletrónicos, mecânicos, gravação, fotocópia
ou outros), sem permissão expressa pela Entidade Editora (Universidade Aberta ISCED)
UnISCED.
A não observância do acima estipulado, o infrator é passível a aplicação de processos judiciais
em vigor no País.

Universidade Aberta ISCED

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Beira - Moçambique
Telefone: +258 23 323501

Cel: +258 82 3055839

Fax: 23323501
E-mail: suporte@unisced.edu.mz
Website: www.unisced.ac.mz

i
Agradecimentos

A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e


instituições na elaboração deste manual:

Autor Lourenço Covane


Vice-Reitoria Académica do ISCED
Coordenação
Universidade Aberta ISCED (UnISCED)
Design
Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância (IAPED)
Financiamento e Logística
Revisão Científica e
Linguística Faculdade de Educação
Ano de Publicação 2018
Ano de actualização 2022
Local de Publicação ISCED – BEIRA

ii
Índice
Visão geral Visão Geral................................................................................................... 7
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Literatura Portuguesa e Brasileira ........................... 7
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 7
Quem deveria estudar este Manual ................................................................................. 9
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 9
Auto-avaliação e Tarefas de avaliação ........................................................................... 10
Ícones de actividade ....................................................................................................... 11
Habilidades de estudo .................................................................................................... 11
Precisa de apoio? ............................................................................................................ 12
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................. 12
Avaliação ......................................................................................................................... 13
TEMA 1: LITERATURA PORTUGUESA. ORIGENS E PERCURSOS....................................... 14
Introdução....................................................................................................................... 14
UNIDADE TEMÁTICA I: ASPETOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DE PORTUGAL............. 15
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 16
UNIDADE TEMÁTICA: POESIA TROVADORESCA ............................................................. 18
Introdução....................................................................................................................... 18
Cantiga de Amigo ............................................................................................................ 22
Sumário ........................................................................................................................... 25
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 25
UNIDADE TEMÁTICA: CANTIGAS SATÍRICAS (A SÁTIRA) ................................................. 28
Introdução....................................................................................................................... 28
Cantiga de Escárnio ......................................................................................................... 28
Cantiga de maldizer ........................................................................................................ 30
Trovadorismo e a Prosa .................................................................................................. 32
Auto-Avaliação ................................................................................................................ 33
TEMA 2: RENASCIMENTO ............................................................................................... 42
Introdução....................................................................................................................... 42
GÉNEROS LITERÁRIOS ..................................................................................................... 44
Sumário ........................................................................................................................... 46
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 46
UNIDADE TEMÁTICA: TEATRO POPULAR DE GIL VICENTE .............................................. 49
Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente .............................................................................. 52
Sumário ........................................................................................................................... 54
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 55
UNIDADE TEMÁTICA: LÍRICA CAMONIANA .................................................................... 57
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 59
UNIDADE TEMÁTICA: OS LUSÍADAS DE LUIS VAZ DE CAMÕES....................................... 62
O episódio de Inês de Castro .......................................................................................... 63
O Episódio do Gigante Adamastor .................................................................................. 65
Sumário ........................................................................................................................... 66
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 66
TEMA 3. LITERATURA BRASILEIRA .................................................................................. 69
Introdução ...................................................................................................................... 69
UNIDADE TEMÁTICA: FORMAÇÃO E PERCURSOS DA LITERATURA BRASILEIRA ......... 69
Sumário ........................................................................................................................... 71

iii
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 72
TEMA 4. O BARROCO ...................................................................................................... 74
Introdução ...................................................................................................................... 74
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍSTICAS GERAIS DO BARROCO .................................... 74
Sumário ........................................................................................................................... 77
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 77
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO BARROCO PORTUGUÊS ................. 79
Sumário ........................................................................................................................... 85
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 86
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO BARROCO BRASILEIRO .................. 89
Sumário ........................................................................................................................... 91
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 91
UNIDADE TEMÁTICA: O ARCADISMO OU NEOCLASSICISMO NO BRASIL ....................... 93
Sumário ........................................................................................................................... 96
AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................................................... 96

TEMA 5. O ROMANTISMO 98
Introdução ...................................................................................................................... 98
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍTICAS GERAIS DO ROMANTISMO............................ 99
Sumário......................................................................................................................... 100
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO EM PORTUGAL............................................. 103
Objectivos ........................................................................................................... 103
CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA ..................... 105
Sumário......................................................................................................................... 109
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO BRASILEIRO .................................................. 112
Objectivos ..................................................................................................................... 112
Sumário......................................................................................................................... 116

TEMA 6: O REALISMO/ NATURALISMO 119


Introdução .................................................................................................................... 119
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍTICAS GERAIS DO REALISMO/ NATURALISMO ........ 119
Objectivos ............................................................................................................ 119
Diferenças entre Realismo e Naturalismo ......................................................... 120
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO ........................................... 123
Sumário......................................................................................................................... 124
Respostas:..................................................................................................................... 127
UNIDADE TEMÁTICA: O REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL ......................... 127
Objectivos ..................................................................................................................... 127
Sumário......................................................................................................................... 139
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO EM PORTUGAL .................. 141
Sumário......................................................................................................................... 142
UNIDADE TEMÁTICA: O REALISMO/NATURALISMO NO BRASIL ................................ 143
Objectivos: .......................................................................................................... 143
Sumário......................................................................................................................... 149
UNIDADE TEMÁTICA: PARNASIANISMO E SIMBOLISMO NO BRASIL .......................... 151
Objectivos ........................................................................................................... 151

iv
Sumário......................................................................................................................... 154

TEMA 7: O MODERNISMO 158


Introdução .................................................................................................................... 158
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MODERNISMO .......................... 158
Sumário......................................................................................................................... 160
UNIDADE TEMÁTICA: O MODERNISMO EM PORTUGAL............................................ 163
Objectivos ..................................................................................................................... 163
Sumário......................................................................................................................... 172
UNIDADE TEMÁTICA: O MODERNISMO NO BRASIL ................................................... 172
Objectivos ..................................................................................................................... 172
Sumário......................................................................................................................... 178

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 180

v
Visão geral Visão Geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de Literatura Portuguesa


e Brasileira

Objectivos do Módulo

O módulo de Literatura Portuguesa e Brasileira é composto de sete


temas, subdivididos em respectivas unidades temáticas e tem por
objectivo contribuir na formação continuada de professores de Língua
e Literatura portuguesas e outros técnicos superiores interessados
nessa área, cujo contexto de trabalho, desenvolvido em diferentes
espaços concorra para que a escola e outros sectores de actividade
cumpram com o seu papel social na formação dos estudantes.

No presente módulo, vamos abordar a Literatura Portuguesa e


Brasileira desde as suas origens à contemporaneidade. Dentro dessa
abordagem, vamos analisar algumas possibilidades de
interpenetrabilidade na construção de processos e percursos nos dois
países. Na articulação dos sete temas anteriormente referidos, será
necessário analisar as principais obras e autores representativos de
cada Período Literário e país, respectivamente.

O tema I busca refletir sobre a lírica trovadoresca portuguesa,


expressão poética da Baixa Idade Média, situada no Trovadorismo.

O tema II procura analisar o surgimento do Renascimento em Portugal,


distinguindo o Renascimento do Humanismo e o Classicismo português.
Dentro dessa abordagem, vamos falar do teatro popular de Gil Vicente,
e depois será interessante estudar o universo literário de Luis Vaz de
Camões nomeadamente a sua lírica e O’s Lusíadas.
Dessa forma, o tema III explora a literatura brasileira, desde as suas
origens até meados do século XVII. Analisa também a literatura do
Brasil, tendo em conta as duas Eras que a divide, sem deixar de lado o
período de transição. Para terminar, no presente tema vai-se apreciar a
carta de Pero Vaz de Caminha, tida como o primeiro documento da
literatura no Brasil, mas também as principais crónicas da literatura
informativa da segunda metade do século XVI.

Por sua vez, o tema IV analisa e discute o surgimento do termo


“Barroco”. Destaca o incontornável papel do Padre António Vieira na
literatura portuguesa e brasileira, com os seus sermões. Do lado da
literatura brasileira, em particular, menciona o início do Barroco com a

7
publicação do Poema Prosopopeia1, de Bento Teixeira, em 1601, e a
fundação da Arcádia Ultramarina e o seu fim é marcado pela publicação
de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa.

O tema V prossegue a análise da literatura portuguesa e brasileira.


Caracteriza o contexto político e histórico-cultural em que se gerou e se
desenvolveu o Romantismo português e brasileiro. Do Romantismo
brasileiro, destaca primeiro "momento" romântico, que se desenvolve
mais ou menos entre 1825 a 1838, e encabeçado por Almeida Garret,
com a publicação, em 1825, do poema Camões, obra que, apesar de não
representar fielmente os ideais românticos, traz consigo algumas
características deste movimento literário. No caso brasileiro, dada a
diferença entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves, o tema
divide e analisa o Romantismo em fases ou gerações, nomeadamente:
Geração Nacionalista ou indianista; geração do "mal do século" e a
"geração condoreira".
O tema VI propõe-se a analisar o Realismo/Naturalismo, surgido na
segunda metade do século XIX. Discute, primeiro, os termos
Realismo/Naturalismo, dada a sua maior possibilidade de se
confundirem com frequência. Depois, destaca nomes como Antero de
Quental, Pinheiro Chagas, este último do ultra-romantismo. Dentro
dessa abordagem, o tema salienta a grande “querela” que passou a
chamar-se Questão Coimbrã. Mas também aborda as Conferências
Democráticas do Casino Lisbonense, que tinham por objetivo colocar
Portugal na modernidade, “estudando as condições de transformação
política, económica e religiosa da sociedade portuguesa". Do lado
brasileiro, o tema analisa o papel de Memórias póstumas de Brás Cubas
(1881), de Machado de Assis e O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo e,
Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, obras consideradas iniciadoras do
Simbolismo no Brasil, todavia o final “definitivo” do Realismo está mais
ligado ao surgimento do Pré-Modernismo e do Modernismo (a partir da
Semana de Arte Moderna, em 1922).

Por fim, o tema VII analisa e discute o Modernismo, um movimento


artístico e literário que se desenvolveu na última década do séc. XIX e
na primeira metade do séc. XX, e surgiu por oposição ao estilo
Tradicional ou Clássico. Destaca os poemas de Dispersão de Sá Carneiro
e Pauis de Fernando Pessoa. Prossegue com o encontro entre Fernando
Pessoa com a sua critica na revista Águia e Almada Negreiros com uma

1
Trata-se de uma imitação de Os Lusíadas, cujo objectivo é louvar Jorge
dˈAlbuquerque Coelho, donatário de Pernambuco

8
Fazer um breve percurso histórico da Literatura Portuguesa e Brasileira
Conhecer as obras/textos literários que marcam os diferentes
momentos da Literatura Portuguesa e Brasileira;
Analisar as obras/textos sob as perspectivas formais e temáticas.
Objectivos Específicos

exposição de caricaturas. Paralelamente, destaca a revista Orpheu e os


seus três números, cujo último número, embora fosse numeroso,

Acabou por não ser publicado. Mas também faz referência a outras
revistas ligadas ao Modernismo, como a Centauro (1916), Exílio (1916),
Portugal Futurista (1917), Atena (1924), mas é a Presença (1927) que
vai fixar a influência do movimento que sacudiu mas não se impôs, o
que agora é possível perceber, em razão do criticismo equilibrado de
João Gaspar Simões, de José Régio e Adolfo Casais Monteiro.

No Brasil, o tema analisa as três fases, nomeadamente: a Primeira Fase


do Modernismo ou Fase Heróica (1922-1930). Esta fase caracteriza-se
por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que
se beneficia pelas estreitas relações com as vanguardas europeias
(cubismo, futurismo, surrealismo, etc.). Segunda Fase do Modernismo
ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é caracterizado pelo
predomínio da prosa de ficção. A Terceira Fase do Modernismo (1945-
até 1960), a prosa dá sequência às três tendências observadas no
período anterior – prosa urbana, prosa intimista e prosa regionalista,
com uma certa renovação formal.

Quem deveria estudar este Manual

Este Manual foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa e outros que se interessem
pelos estudos da Literatura Portuguesa e Brasileira.

Como está estruturado este módulo

Este Manual está estruturado da seguinte maneira:


Páginas introdutórias

Um índice completo.
Uma visão geral detalhada dos conteúdos do manual,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

9
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objetivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características:
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas algunas incluído estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos, mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou manuais, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou eletrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este manual encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam dois niveis: primeiro apresentam
exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios abertos
sem respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir as outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correção e
atribuição da nota. Também algumas tarefas constarão do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.

10
Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova atividade ou tarefa, uma mudança de atividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é de ensinar aprender a aprender.


Aprender aprende-se:

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar


a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer Trabalho de Campo (TC), algumas atividades práticas ou as de


estudo de caso, se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respetivamente como, onde e quando. Estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor
com música/num sítio silencioso/num sítio barulhento!? Preciso de
intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que
já domina bem o anterior.

Privilegie saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor saída é aliar
ambas as opções: Saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no módulo.

11
Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo
superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança
de actividades). Ou seja, durante o intervalo não se deve continuar a
tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório,


pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da
aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de
trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência
entre os conhecimentos, perda da sequência lógica, por fim ao perceber
que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e
desespero, por se achar injustamente incapaz.

Não estude na última da hora, principalmente quando se trata de fazer


alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está
a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define as horas e as matérias


que deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve
decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será
dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso:
A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria
de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e
pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas,
nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus
relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma
primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza de que, por razões de ordem gráfica ou


de conteúdo, o presente material pode suscitar-lhe algumas dúvidas.
Queira, por favor, contactar os serviços de atendimento e apoio ao
estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, atividades e


auto−avaliação), contudo, nem todas deverão ser entregues, mas é

12
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas
semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo
conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo,
os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os
direitos do autor.
N.B: Em todos os casos, evite o plágio.

Avaliação

Caro estudante, você será avaliado durante os estudos à distância que


contam com um mínimo de 90% do total de tempo de que precisa para
estudar os conteúdos do seu módulo. O tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante os estudos e
aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência
para ir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo
60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três) avaliações
e 1 (um) (exame).
Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.
Para mais informações acerca da avaliação, consulte o Regulamento de
Avaliação em uso na Universidade Aberta ISCED

13
TEMA 1: LITERATURA PORTUGUESA. ORIGENS E
PERCURSOS

Introdução

Este tema permitir-lhe-á, caro estudante, entender um pouco da


fisionomia cultural portuguesa, o que, de alguma maneira, terá definido
as características literárias de Portugal. Permitir-lhe-á também
compreender os reflexos da localização do território português sobre
sua produção literária. A relevância da poesia e a prosa no contexto da
literatura portuguesa é outro ponto abordado neste tema. Também
poderá relacionar o Humanismo como processo de superação da
mentalidade medieval (teocêntrica) e com a construção da Idade
Moderna (antropocêntrica).

Ao completar esta tema, você será capaz de:

• Compreender aspetos históricos da formação portuguesa;


Objectivos • Perceber a localização geográfica de Portugal no contexto
da Europa Ocidental;

• Conscientizar-se da periodização da literatura portuguesa


em suas eras e época.

• Identificar as características formais de representação na


poesia trovadoresca;
• Caracterizar as cantigas a nível da morfossintaxe e
da semântica;

• Falar sobre a lírica trovadoresca portuguesa,


expressão poética da Baixa Idade Média, situada no
Trovadorismo.

14
UNIDADE TEMÁTICA I: ASPETOS HISTÓRICOS E
GEOGRÁFICOS DE PORTUGAL

Portugal ocupa uma extenção de terra entre a Espanha e o Oceano


Atlântico. Segundo Vicente (2007) essa localização do território
português define algumas características de seu povo, muitas vezes
reflectidas em sua produção literária. A angústia geográfica é uma
delas. Por causa dessa angústia, o escritor português opta pela fuga ou
pelo apego à terra. A fuga dá-se para o mar, o desconhecido ou,
transcendendo a estreiteza do solo físico, para o plano metafísico.

A Literatura Portuguesa, portanto, oscila entre posições extremas, indo


do lirismo de raiz ao sentimento hipercrítico, que faz dela um espaço de
denúncia e/ou de resistência, na busca da construção de uma sociedade
mais justa.

Portugal tem acompanhado as transformações histórico-literárias


ocorridas no resto da Europa, particularmente na França. Em virtude
disso, sua literatura pode ser dividida em três grandes eras,
nomeadamente: Era Medieval, Era Clássica e Era Romântica ou
Moderna. Essas eras subdividem-se, por sua vez, em fases menores,
denominadas escolas literárias ou estilos literários.

Resumidamente:

ERA MEDIEVAL ERA CLÁSSICA ERA ROMÂNTICA OU


MODERNA

Trovadorismo Quinhentismo ou Romantismo (1825 –


Classicismo 1865)
(1189 – 1434)
(1527 – 1580) Realismo (1865 –
Humanismo 1890)
Seiscentismo ou Barroco
(1434 – 1527) Simbolismo (1890 –
(1580 – 1756) 1915)
Setecentismo ou Modernismo (1915 –
Arcadismo ou aos nossos dias)
Neoclassicismo

15
Observe-se que a Literatura Portuguesa está dividida, portanto, em
nove momentos evolutivos fundamentais. Mas, chama-se atenção ao
facto de que as datas usadas para delimitar esses momentos são
simples pontos de referência, uma vez que nunca se sabe, com precisão,
quando começa ou termina um processo histórico. Elas funcionam
como indício de que algo de novo está acontecendo e não caracterizam
a morte definitiva do padrão estético até aí em voga.

As estéticas literárias sofrem um processo de interpenetração contínuo.


Por isso, somente para efeito didático utilizamos a delimitação por
datas.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

Questões de Escolha Múltipla

1. O que unfluciou a Literatura portuguesa?


a) A Literatura Portuguesa foi influenciada pelos ventos da Europa,
por isso divide-se em Era Medieval, Era Clássica e Era Romântica.

b) A literatura portuguesa foi influenciada pela literatura


clássica de Espanha.
c) A literatura portuguesa teve o seu início na era
Renascentista, pela influência Galego-Espanhola.
d) A literatura portuguesa influenciou a literatura francesa e
inglesa.

2. O que é o trovadorismo?
a) Os textos escritos durante a trovadorismo ficaram conhecidos
como cantigas, pelo facto de o lirismo medieval associar-se
intimamente a música. A poesia era cantada.
b) Nas cantigas do trovadorismo a musicam não esta associada
à pauta musical.
c) Nas cantigas de amigo o trovador escrevia a canção para a
senhora da nobreza.
d) Durante o trovadorismo ocorreu uma separação entre nobres
e vassalos.

3. Os humanistas criticavam a sociedade:


a) Socialista
b) Burguesa
c) Comunista
d) Feudal
16
4. O que aconteceu no renascimento?
a) Foi durante o renascimento que o homem passou a
representar o centro do universo.
b) Foi durante o renascimento que a literatura passou a retractar
o amor entre o homem e a sua doma.
c) Durante o Renascimento as cantigas de amor e mal dizer fora
registadas
d) No período do renascimento os trovadores escreveram a
prosa historiográfica.

5. Quem foi Fernao Lopes?


a) Fernão Lopes Guarda-Mor da Torre do Tombo foi percussor
da historiografia da literatura portuguesa
b) Fernão Lopes e Garcia de Resende escreveram todas as
crónicas da era humanista.
c)Fernão Lopes escreveu os primeiros romances da cavalaria.
d) Fernão Lopes e luís de Camões escreveram um poema épico.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. A Literatura Portuguesa, portanto, oscila entre posições


extremas, indo do lirismo de raiz ao sentimento hipercrítico, que
faz dela um espaço de denúncia e/ou de resistência, na busca da
construção de uma sociedade mais justa.
7. As estéticas literárias sofrem um processo de interpenetração
finita.
8. Segundo Vicente (2007) essa localização do território português
define algumas características de seu povo, muitas vezes
reflectidas em sua produção literária.
9. Trovadorismo (1189 – 1434).
10. A fuga não se da para o mar, o desconhecido ou, transcendendo
a estreiteza do solo físico, para o plano metafísico.

Questões de Reflexão

11. Escreva um texto biográfico de Fernão Lopes.


12. Fale sobre o trovadorismo

Respostas:

1. A

2. A

3. D

4. A

17
5. A

6. Verdadeiro

7. Falso

8. Verdadeiro

9. Verdadeiro

10. Falso

UNIDADE TEMÁTICA: POESIA TROVADORESCA

Introdução

Nesta unidade temática vamos falar das primeiras manifestações


literárias da língua portuguesa. Nesse sentido vamos ver que o
trovadorismo surgiu no século XII, em plena Idade Média, período em
que Portugal estava no processo de formação nacional.

Objectivos da unidade temática

• Adquirir conhecimentos sobre o contexto histórico do


Trovadorismo;

• Conhecer as características e os tipos das cantigas


Trovadorescas;

• Ampliar a competência leitora e escrita, a partir da análise de


textos, imagens, vídeos que retratam a produção literária do
Trovadorismo.

Vários estudos sobre a Literatura Portuguesa concordam que as


cantigas trovadorescas são as primeiras manifestações literárias a se
registar em Portugal. Vicente diz que
18
elas surgem na Baixa Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica imposta pela
Igreja em todo o período medieval.

Por seu turno Moises,(1968), diz que a primeira época da história da


Literatura Portuguesa inicia-se em 1198 (ou 1189), quando o trovador
Paio Soares de Taveirós dedica uma cantiga de amor e escárnio a Maria
Ribeiro, cognominada A Ribeirinha, favorita de D. Sancho I, _e finda em
1418, quando D.Duarte nomeia Fernão Lopes para o cargo de Guarda-
Mor da Torre do Tombo, ou seja, conservador do arquivo do Reino.
Durante esses duzentos anos de actividade literária, cultivaram-se a
poesia, a novela de cavalaria e cronicões e livros de linhagens.

O lirismo trovadoresco instalou-se na península Ibérica por influência


provençal. Na transladação, sofreu o impacto do novo ambiente e
alterou algumas das suas características. Provavelmente, a principal
modificação tenha consistido no recrusdescimento do aspecto
platonizante da confidência amorosa. Dentro do trovadorismo
português, o ponto mais alto do processo sentimental situava-se antes
de a dama atender aos reclamos do apaixonado. Duas eram as espécies
de poesia trovadoresca: a lírico-amorosa, expressa em duas formas, a
cantiga2 de amor e a cantiga de amigo; e a satírica, expressa na cantiga
de escárnio e de maldizer.

Cantiga de Amor
As cantigas de amor têm origem provençal: foi na Provença, sul da
França, entre os séculos XI e XIII, que se desenvolveu a arte dos

2
O poema recebia o nome de “cantiga” pelo facto de o lirismo medieval associar-se
intimamente com a música: a poesia era cantada, ou entoada, e instrumentada. Letra
e pauta musical andavam juntas, de modo a formar um corpo único e indissolúvel.
Dadas as circunstâncias sociais e culturais em que a poesia circulava, perderam-se
numerosas cantigas bem como a maioria das pautas musicais. Destas, somente
restaram sete pertecentes a Martim Codax, trovador da época de Afonso III (fins de
século XIII). O espólio trovadoresco conserva-se em “cancioneiros” (= colectâneas de
cantigas), dos quais os mais valiosos são: (I) o Cancioneiro da ajuda (composto nos fins
do século XIII, durante o reinado de Afonso III, apenas encerra a cantiga de amor), (II)
O cancioneiro da Vaticana (cópia italiana do século XVI sobre original da centúria
anterior, contém duas espécies de poesia trovadoresca) e o cancioneiro da Biblioteca
Nacional (também chamado Colocci-Brancuti, em homenagem a seus dois
possuidores italianos, é cópia italiana do século XVI e D. Dinis e cantigas das duas
espécies). Recebiam o título de trovadores os poetas que compunham, cantavam e
instrumentavam suas próprias cantigas; Jogral assim se chamava o bobo da Corte, o
mímico, o bailarino, às vezes também comunha. Segrel era o trovador profissional e,
via regra geral, andarilho. Menestrel era o músico. O idioma empregado era ogalaico-
português. Veja-se Moises (ibi.idem)

19
trovadores e seu amor cortês. Da Provença, a temática do amor cortês
se espalhou por toda a Europa e chegou à corte portuguesa, mas os
trovadores portugueses não se limitaram a imitar os provençais. Em
Portugal, as cantigas de amor ganharam nova dimensão e maior
sinceridade. D. Dinis, por exemplo, chegou a ironizar a postura artificial
de certo tipo de trovador, por causa da carência de paixão pela mulher
amada.

Nas cantigas de amor, o trovador sempre declara seu amor por uma
dama da corte, chamada senhor (senhora). Trata-a de modo respeitoso
e com cortesia, reproduzindo, em sua servidão amorosa, os mais puros
padrões da vassalagem feudal. O amor trovadoresco, amor cortês,
exigia que a mulher que se cantava fosse casada, porque a donzela não
tinha personalidade jurídica, uma vez que não possuía terras, nem
criados, nem domínios e não era dona, não dispunha de senhorios. O
poeta não vai prestar serviço a uma mulher que não seja senhor (o verbo
servir é extensamente usado nessas cantigas como sinónimo de
namorar, fazer a corte).

A cantiga é varrida, de ponta a ponta, por uma atmosfera suplicante. Os


apelos do trovador, apesar de estarem colocados num plano de
espiritualidade, idealidade ou contemplação platônica, nascem do mais
fundo de seus sentidos, mas o impulso erótico, raiz das súplicas,
purifica-se, sublima-se.

O trovador disfarça, com o véu do espiritualismo, o verdadeiro sentido


das solicitações dirigidas à amada, transformando-os num torturante
sofrimento interior, resultado da inútil súplica e da espera de um bem
que nunca chega. É a coita (= sofrimento) de amor que ele confessa
afinal.

Nessas cantigas, quem usa a palavra é o próprio trovador, que a dirige,


com respeito e subserviência, à dama de seus cuidados (mia senhor ou
mia dona= minha senhora), rendendo-lhe o serviço amoroso, por sua
vez orientado de acordo com o rígido código de comportamento ético,
as regras do amor cortês (vindas da Provença). Segundo essas regras, o
trovador teria de mencionar, comedidamente, o seu sentimento,
submetendo-se, portanto, às exigências da mesura, para não incorrer
em sanha, desagrado da bem-amada. Teria que ocultar o nome dela ou
recorrer a um pseudónimo, uma senhal, e prestar-lhe uma vassalagem
que apresentava quatro fases.

20
A confissão do sentimento amoroso que invade o poeta expressa-se na
cantiga de forma crescente até atingir a última estrofe (ou cobra). A
corrente emocional movimenta- se num círculo vicioso, repetindo-se,
monotonamente, e mudando apenas o grau do lamento que atinge o
apogeu no final da cantiga.

O estribilho ou refrão, com o qual o trovador pode rematar cada estrofe,


revela bem essa angustiante ideia fixa para a qual ele não encontra
formas diversas de expressão. Quando a cantiga possui estribilho, é
chamada cantiga de refrão (por possuir um recurso típico da poesia
popular); quando não há estribilho, chama-se cantiga de maestria (por
possuir um esquema estrófico mais complexo).

Hun tal home sei eu, ai bem talhada,

Que por vós tem a sa morte chegada;

Vede quem é e seed’en nenbrada;

Eu, mia dona

Hun tal home sei eu que preto sente

de si morte chegada certamente;

vede quem é e venha-vos en mente;

eu, mia dona.

Hun tal home sei eu, aquest’oide:

que por vós morr’ e vo-lo en partide,

vede quem ée e non xe vos obride;

eu, mia dona.

Trata-se duma cantiga de refrão, visto que repete-se o mesmo verso


(“eu, mia dona”) no final de cada cobra . Os versos da primeira cobra
recorrem, com alterações formais que não de sentido, nas cobras
seguintes: esse processo repetivo chama-se paralelismo.

Ambos, o refrão e o paralelismo, constituem recursos típicos da poesia


popular. Assim, a reiteração paralelistica decorre do próprio caráter

21
exclusivista da paixão que inunda o poeta. Repare-se que o tormento
sentimental pressupõe incorrespondência amorosa da dona ou/e
despeito do trovador.

Cantiga de Amigo

A cantiga de amigo é escrita pelo trovador que compõe as cantigas de


amor e até mesmo as cantigas de maldizer. Esse tipo de cantiga focaliza
o outro lado da relação amorosa “o fulcro do poema é agora
representado pelo sofrimento amoroso da mulher, via de regra
pertencente às camadas populares (pastoras, camponesas, etc.) ”
Moisés (2004, p. 22).

As cantigas de amigo reflectem o ambiente onde a mulher era vista com


importância social: as comunidades agrícolas. A personagem principal
das cantigas de amigo é, portanto, a mulher. Essas cantigas podem ser
classificadas de acordo com o assunto e a forma.

Quanto ao assunto, podem ser: albas (alvas ou serenas), pastorelas,


barcarolas ou marinhas, bailais ou bailadas, romaria, tenções. Quanto
à forma, as cantigas de amigo podem ser: maestria, refrão,
paralelística.

Os motivos da cantiga de amigo são, portanto, as experiências


amorosas, idílicas ou eróticas, vividas por mulheres pertencentes,
quase sempre, à classe social modesta. O “eu” feminino exterioriza as
suas emoções, aflições, expectativas, encontros e desencontros
amorosos etc.

Esse tipo de canção apresenta formas e objetivos muito peculiares. Por


exemplo: a cantiga é comumente construída em paralelismos, a saber:

• A unidade rítmica não é a estrofe, mas o conjunto de estrofes


ou um par de dísticos (duas estrofes de dois versos), que procura
dizer a mesma ideia.

• O último verso de cada estrofe é o primeiro verso da estrofe


seguinte.

22
Paralelismo e refrão são elementos típicos da cantiga de amigo e
pressupõe a existência de um coro. Organizadas aos pares, as estrofes
sugerem a alternância de dois cantores ou de dois grupos deles.

A técnica de repetir o último verso da estrofe anterior no início da


estrofe seguinte parece ser a mesma da primitiva composição
improvisada dos repentistas. A cantiga de amigo pode ser reduzida a
poucos versos se eliminarmos as repetições que a caracterizam. O
processo paralelístico demonstra que a cantiga, como texto, estava
ligada ao canto e à dança.

Esta cantiga contém a confissão da mulher, geralmente do povo


(pastora, camponesa, etc). Sua coita nasce de entreter amores com um
trovador que a abandonou, demora para chegar, ou está no serviço
militar.
A moça dirige-se à mãe, às amigas, aos pássaros, às fontes, às flores,
etc. mas quem compõe ainda é o trovador. Conforme o lugar ou as
circunstâncias em que transcorre o episódio sentimental, a cantiga
recebe o título de romaria, serranilha, pastorela, marinha ou bacorla,
bailada ou bailia, alba ou alvorada.
Vejamos a cantiga de amigo que escolhemos para integrar o presente
manual pertence a D. Dinis. Esta cantiga, das mais belas de quantas

23
escreveu o Rei-Trovador, pode ser considerada de múltipla
classificação.

___ Ai flores , ai flores do verde pino,

Se sabedes novas do meu amigo?

ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai do verde ramo,

Se sabedes novas do meu amado?

ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu marido,

Aquel que mentiu do que pôs comigo?

ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,

Aquel que mentiu do que mi á jurado?

ai, Deus, e u é?

__ Vós me perguntades polo voss’amigo?

E eu ben vos digo que é san’ e vivo:

ai, Deus, e u é?

[….]

E eu bem vos digo que é viv’e sano

e seerá voscánt’o prazo passado:

ai, Deus, e u é?

Trata-se de uma cantiga de tenção, isto é, cantiga dialogada, porquanto


a moça interroga o “verde pino” nas quatro primeiras cobras, e o “verde
pino” lhe responde nas restantes. Mas seria também uma pastorela,
cantiga protagonizada por uma pastora: a circunstância de o diálogo
estabelecer-se em pleno campo permite supor que a jovem pertence
àquala condição, e a cantiga, portanto, ao tipo das pastorelas. Ao

24
mesmo tempo, o rítmo, a musicalidade acelerada, resultante dos
decassílabos terminados por refrãos em versos redondilhos (de cinco
sílabas), conduz à impressão de que a cantiga pode ser classificada
como bailada.
Estamos a dizer que, dependendo da perspectiva em que o leitor se
coloca, podemos classificar esta cantiga de D. Dinis de tenção, pastorela
e bailada.
Resumidamente:
CANTIGAS DE AMOR CANTIGAS DE AMIGO
Autoria: masculina Autoria: masculina

Sentimento: masculino Sentimento: feminino

Origem: provençal Origem: galego-portuguesa

Ambiente: palaciano Ambiente: rural (popular)


(aristocrático)

O homem presta vassalagem A mulher sofre pelo amigo ausente


amorosa a uma mulher (namorado, amante).
inacessível, porque está casada.

A mulher: um ser idealizado, A mulher: um ser mais real e


superior. concreto.

Sumário

O trovadorismo reflete o ambiente religioso e as relações de poder


típicas da Idade Média caracterizados, principalmente, pela visão
teocêntrica do mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
Teocentrismo – é a teoria sendo a qual DEUS é o cento do universo nada
mais é maior que Ele, tudo foi criado por Ele e dirigido por Ele. Esse
pensamento teria dominado a Idade Média

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Escolha Múltipla

1. A cantiga de amigo é:
a) escrita pelo trovador que compõe as cantigas de amor e até
mesmo as cantigas de maldizer.

25
b) escrita pelo trovador que compõe as cantigas de amor e até
mesmo as cantigas de bemdizer.
c) escrita pelo trovador que não compõe as cantigas de amor
e até mesmo as cantigas de bemdizer.
d) Todas as alternativas estão correctas.

2. O trovadorismo reflete:
a) o ambiente amoroso e as relações de poder típicas da Idade
Média caracterizados, principalmente, pela visão teocêntrica do
mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
b) o ambiente religioso e as relações de poder típicas da Idade
Média caracterizados, principalmente, pela visão teocêntrica do
mundo e a servilidade do homem perante a Igreja.
c) o ambiente religioso e as relações de poder atípicas da
Idade Média caracterizados, principalmente, pela visão
teocêntrica do mundo e a servilidade do homem perante a
Igreja.
d) Todas as alternativas estão correctas.

3. A cantiga de amigo pode ser reduzida a poucos versos se:


a) Eliminarmos as repetições que a caracterizam.
b) Multiplicarmos as repetições que a caracterizam.
c) Multiplicarmos as repetições que não a caracterizam.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Paralelismo e refrão são elementos típicos da cantiga de:


a) Amigo e pressupõe a existência de um coro.
b) Amor e pressupõe a existência de um coro.
c) Escarnio e pressupõe a existência de um coro.
d) Todas as alternativas estão correctas.
5. Os motivos da cantiga de amigo são, portanto, as:
a) experiências amorosas, idílicas ou eróticas, vividas por
mulheres pertencentes, quase sempre, à classe social
modesta.
b) experiências religiosas, idílicas ou eróticas, vividas por
mulheres pertencentes, quase sempre, à classe social
modesta.
c) experiências culturais, idílicas ou eróticas, vividas por
mulheres pertencentes, quase sempre, à classe social
modesta.
d) Todas as alternativas estão correctas.

26
Questões de Verdadeiro e Falso

6. As cantigas de amigo reflectem o ambiente onde a mulher


era vista com importância social: as comunidades agrícolas.
7. O estribilho ou refrão, com o qual o trovador não pode
rematar cada estrofe, revela bem essa angustiante ideia fixa
para a qual ele não encontra formas diversas de expressão.
8. O trovador disfarça, com o véu do espiritualismo, o
verdadeiro sentido das solicitações dirigidas à amada,
transformando-os num torturante sofrimento interior,
resultado da inútil súplica e da espera de um bem que nunca
chega.
9. Nas cantigas de amor, o trovador sempre declara seu amor
por uma dama da corte, chamada senhor (senhora).
10. O lirismo trovadoresco instalou-se na Galiza por influência
provençal.

Questões de Reflexão

11. Fale sobre o teocentrismo.


12. Discorra sobre a temática das cantigas de amigo.

Respostas:

1. A
2. B
3. A
4. A
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Falso

27
UNIDADE TEMÁTICA: CANTIGAS SATÍRICAS (A SÁTIRA)

Introdução

As cantigas de escárnio e de maldizer constituem a primeira experiência


portuguesa na sátira. Elas também são alguns dos mais importantes
registos históricos da sociedade medieval portuguesa, criticando os
costumes de diferentes representantes da época. Nesta unidade
temática, vamos analisar alguns textos dessa tipologia poética.

Objectivos da unidade

• Adquirir conhecimento sobre a poesia satírica

• Ampliar a competência leitora e escrita, a partir da análise de


textos que retratam a sátira.

As cantigas de escárnio e as de maldizer são duas modalidades irmãs da


sátira trovadoresca, mas, segundo a Arte de Trovar, uma obra anónima
do século XIV, que antecede o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, há
diferenças entre elas.

Cantiga de Escárnio

São sátiras indiretas realizadas por intermédio de sarcasmo, de


zombaria e de uma linguagem de sentido ambíguo e nelas não é natural
a revelação do nome da pessoa satirizada. A respeito disso, Lopes
(1994: 96-97) chama atenção para o facto de que o entendimento das
cantigas de escárnio implica um processo complexo de descodificação,
já que todas elas se construíram a partir de um jogo com duplos
sentidos.

Para representar esse tipo de poesia trovadoresca, escolhemos


inicialmente uma composição de Pêro Garcia Burgalês, trovador galego

28
da segunda metade do século XIII, que escreveu numerosas cantigas de
amor, de amigo e de escárnio e maldizer:
Pêro Garcia Burgalês
Rui Queimado morreu com amor

En seus canatares, para Sancta Maria,

Por ua dona que gran bem queria,

E, por se meter por mais trobador,

Porque lh’ela non quis[o] bem fazer,

Mas ressurgir depois ao terceiro dia!

esto fez el por ũa sa senhor

que quer gran bem, e mais vos en diria:

porque cuida que faz i maestria,

e nos canatres que fez a sabor

de morrer i e desi d’ar viver;

mas outr’omen per ren non[n] o faria.

E non há já de sa morte pavor,

senon sa morte mais la temeria,

mas sabe bem, per sa sabedoria,

que viverá, dês quando morto for,

desi ar viver: vede que poder

que lhi Deus deu, mais que non cuidaria.

E, se Deus a min desse poder’

Qual oi’ el há, pois morrer, de viver,

29
Jamais morte temeria.

Esta cantiga enquadra-se entre as de escárnio, visto que Pêro Garcia


procurar satirizar Rui Queimado (trovador dos fins do século XIII e
princínpios do XIV) com “palavras cobertas de dous sentidos”. Quanto
à forma, a cantiga apresenta quatro cobras, uma a mais do que era
frequente.

A última cobra, com estrutura própria (um terceto, enquanto as outras


cobras constituem estrofes de sete versos), mas vinculada ao corpo da
cantiga pela rima __ recebia a denominação de fiinda. As quatro cobras
equiavalem a três fases do percurso satírico: a primeira cobra funciona
como prólogo, ou súmula dos antecedenstes do tema escolhido; as
duas seguintes enceram a perquirição intelectual do quadro insólito
que Rui Queimado oferecia na sua relação com a dama eleita e a morte;
a fiinda, servindo de fecho às cobras restantes, guarda a “moral da
história”, o conceito, a setença moral, que o trovador extrai do caso de
Rui Queimado.

No tocante à matéria da canção, Pêro Garcia, conforme se disse, satiriza


o vezo que tinha esse poeta, e não poucos outros confrades do tempo,
de confessar, nas suas cantigas, que se consumia de amor pela “dona”
dos seus cuidados.

Cantiga de maldizer

Opostamente à cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer encerra uma


sátira directa, agressiva e contundente. Além disso, lança mão de uma
linguagem objetiva, sem disfarce algum e com citação nominal da
pessoa ironizada. Marcadas pela maledicência, seus temas predilectos
são o adultério e os amores interesseiros ou ilícitos (caso dos padres) e
o seu vocabulário é carregado de palavras obscenas e eróticas. Veja-se
Vicente, (p.22). Por ser direta, o entendimento, enquanto sátira, seria
imediato e irrecusável3.

A cantiga satírica, que a seguir se transcreve, pertence a João Garcia de


Guilhadde, trovador do século XIII. A canção que escolhemos para

3
Cf. Lopes, (1994:96).

30
representar o tipo maldizer vem registada no Cancioneiro da Vaticana,
sob o nº 1097, e no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, sob 1º 1399,
segundo Moises, Mussad (p.35):

Ai dona fea! foste-vos queixar

porque vos nunca louv’en meu trobar

eais ora quero fazer un cantar

en que vos loarei toda via;

e vedes como vos quero loar:

dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea!se Deus mi perdo!

e pois havedes tanto gran coraçon

que vos eu loe en esta razon,

vos quero já loar toda via;

e vedes qual será a loaçon:

dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei

en meu trobar, pero muito trobei;

mais ora un bom cantar farei

e direi-vos como vos loarei:

dona fea, velha e sandia!

Trata-se, como se vê, duma cantiga de maldizer, porquanto o trovador


se dirige directamente à “dona fea, velha e sandia”. Sua estrutura revela
o carácter popular desse tipo de cantiga: além de se arquitectarem
segundo o esquema paralelístico, as cobras finalizam em estribilho.
Quanto ao conteudo, é fácil imaginar as causas da invectiva do trovado:

31
com certeza, a mulher a que ele se destina a sátira se julgara
merecedora duma cantiga de amor e, quem sabe, as atenções do poeta.

Resumidamente:

As diferenças entre estas duas modalidades da sátira trovadoresca


residiram no seguinte: a cantiga de escárnio conteria sátira indirecta,
realizada por intermédio do sarcasmo, da zombaria e de uma linguagem
de sentido duplo. Entretanto, a cantiga de maldizer encerra uma sátira
directa, agressiva, condundente e lançaria mão de uma linguagem
objectiva e sem disfarce.

Trovadorismo e a Prosa

A prosa, na época do trovadorismo, é representada pelas novelas de


cavaleiro, os livros de linhagens, as hagiografias e os cronicões. Os livros
de linhagens eram listas de nomes, estabelecendo nexos genealógicos
entre famílias fidalgas.
Os cronicões, não raros escritos em Latim, apresenta escasso valor
literário, embora constituam os primeiros documentos historiográficos
em portugal. Menor ainda é a valia literária das hagiografias, também
redigidas em Latim.
No conjunto, apesar da existência duma obra-prima como A Demanda
do Santo Graal, a produção prosística dessa época ofuscou-se pelo
brilho da poesia trovadoesca.
As novelas de cavalaria resultaram da prosificação das canções de gesta
(poemas de assunto). Organizavam-se em três ciclos: o ciclo bretão ou
arturiano, em torno do Rei Artur e os seus cavaleiros; o ciclo carolíngio,
protagonizado por Carlos Magno e os doze pares de França; o ciclo
clássico, de temas greco-latinos.
Para terminar esta Unidade, é preciso referir que até aqui, estivemos a
falar do primeiro período da Era Medieval, que caiu em decadência
devido a três causas históricas, nomeadamente: decadência do
mecenatismo real; aburguesamento de Portugal e conflitos entre
Portugal e Espanha.

32
Auto-Avaliação

Questões
de Escolha Múltipla

1. Quais são as duas


modalidades da sátira
trovadoresca

a) As cantigas de escárnio e as de
maldizer são
duas
modalidades
irmãs da sátira
trovadoresca.

b) As cantigas de amigo e as de
amor são duas modalidades
irmãs da sátira trovadoresca.

c) As cantigas de escárnio e as
de maldizer são duas
modalidades primas da sátira
trovadoresca.

d) todas as alternativas estão


correctas.

2.A cantiga de maldizer:

a) Inicia uma sátira directa,


agressiva e contundente.

b) Encerra uma sátira directa,


agressiva e contundente.

c) Encerra uma sátira indirecta,


agressiva e contundente.

d) Todas as alternativas estão


correctas.

3. A prosa, na época do
trovadorismo, é representada:

a) pelas novelas de cavaleiro,


os livros de linhagens, as
hagiografias e os cronicões.

33
b) pelos filmes, novelas de
cavaleiro, os livros de linhagens,
as hagiografias e os cronicões.

c) pelas novelas de cavaleiro, os


livros de linhagens, as canções,
as hagiografias e os cronicões.

d) Todas as alternativas estao


correctas.

4. Era Medieval, que caiu em


decadência devido a causas
históricas, nomeadamente:

a) decadência do mecenatismo real;


b) aburguesamento de Portugal:
c) conflitos entre Portugal e Espanha.
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. As novelas de cavalaria resultaram:

a) da prosificação das canções de gesta (poemas de assunto).

b) da prosificação das canções de gesta (poemas sem assunto).

c) da não prosificação das canções de gesta (poemas de assunto).

d) todas as alternativas estao correctas.

34
Questões de Verdadeiro e Falso

6. A cantiga de maldizer encerra uma sátira directa, agressiva,


condundente e lançaria mão de uma linguagem objectiva e sem
disfarce.

7. A prosa, na época do trovadorismo, é representada pelas novelas de


cavaleiro, os livros de linhagens, as hagiografias e os cronicões.

8. São sátiras indiretas realizadas por intermédio de sarcasmo, de


zombaria e de uma linguagem de sentido ambíguo e nelas não é natural
a revelação do nome da pessoa não satirizada.

9. A última cobra, com estrutura própria (um terceto, enquanto as


outras cobras constituem estrofes de sete versos), mas vinculada ao
corpo da cantiga pela rima __ recebia a denominação de fiinda.

10. O período da Era Medieval, não caiu em decadência devido a três


causas históricas, nomeadamente: decadência do mecenatismo real;
aburguesamento de Portugal e conflitos entre Portugal e Espanha.

Questões de Reflexão

11. Fale sobre os principais acontecimentos da epoca medieval.


12. O que é uma sátira?

Respostas:

35
Respostas:

1. A
2. B
3. A
4. D
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso

UNIDADE TEMÁTICA: SEGUNDA


IDADE MÉDIA OU
HUMANISMO E A PROSA4
EM PORTUGAL

4
A prosa literária é uma manifestação artística que, no mundo todo, acontece sempre
depois da poesia. Em Portugal, não foi diferente. Na segunda época medieval, século
XV, a prosa e o teatro ascenderam ao primeiro plano, e a poesia palaciana, ao
segundo. Essa alteração resulta do novo contexto sócio-político vivido pelo país e
definido pela existência de um Estado, uma língua e uma cultura solidificados. O
crescimento da burguesia comercial no país, que fazia com que os interesses se
voltassem para assuntos mais práticos, como política, navegação e comércio, é outro
facto que deve ser considerado. A imprensa, criada em meados do século XV e
aperfeiçoada por Gutenberg, facilitou a transmissão de textos em prosa. Veja-se
Vicente, (p.27).

36
A época do Humanismo inicia-se em 1418, quando D. Duarte nomeia
Fernão Lopes para as funções de Guarda-Mor da Torre do Tombo, e
termina em 1525, quando Sá de Miranda, retornado da Itália, inicia em
portugal a campanha em prol da cultura clássica. No seu decurso, em
que se opera a implementação das ideias humanísticas, cultivam-se a
historiografia, a prosa doutrinária, a poesia, o teatro e a novela de
cavalaria (Amadis de Galta) .
A actividade historiográfica, que na época do Trovadorismo não passara
da fase embrionária e improvisada, entra agora na sua fase madura,
graças especialmente a Fernão Lopes seguido de Gomes de Azurara e
Rui de Lima.

Fernão Lopes5
Pouco se conhece da sua biografia. Como vimos, em 1418 D. Duarte
nomeia-o Guarda-Mor da Torre do Tombo6, e em 1434 incumbe-o de
escrever a crónica dos reis da primeira dinastia. De suas obras, apenas
três nos restaram, nomeadamente: Crónica d’El-Rei D. Pedro, Crónica
d’El Rei D. Fernando e Crónica d’El –Rei D. João (até 1411).

Além disso, Fernão Lopes procura ser moderno: despreza o relato oral
em favor dos acontecimentos documentados, buscando reconstituir a
verdade histórica e fazer justiça ao interpretar os acontecimentos e as
personagens que neles se envolvem, sempre atento às contradições
internas que a sociedade sua contemporânea começa a manifestar.

5
Na Literatura Portuguesa dos dois primeiros séculos, a actividade historiográfica
adquire relevância com Fernão Lopes, por causa do sentido literário e histórico com
que é praticada. (idem, p.28).

6
Era uma das torres do Castelo de S. Jorge onde estavam guardados os livros, registos
e originais das leis, escrituras públicas, contratos e outros documentos oficiais do
reino.

37
A importância de Fernão Lopes nos quadros da Idade Média portuguesa
deve-se, também, às suas qualidades literárias que levaram sua crónica
à superação do plano descritivo e narrativo, marca distintiva da
historiografia anterior. Ora vejamos:

Crónica d’El-Rei D. Pedro (excerto)

“Em três cousas, assinadamente, achamos, pela mor parte, que el-Rei
D. Pedro de Portugal gastava seu tempo. A saber: em fazer justiça e
desembargos do Reino; em monte e caça, de que era mui querençoso;
e em danças e festas segundo aquele tempo, em que tomava grande
sabor, que adur é agora para ser crido e estas danças eram a som de
umas longas que então usava, sem curando de outro instrumento,
posto que o aí houvesse; e se alguma vez lho queriam tanger, logo se
enfadava dele e dizia que o dessem ao demo, e que lhe chamassem os
trombeiros.

Ora deixemos os jogos e festas que el-Rei ordenava por


desenfadamento, nas quais, de dia e de noite, andava dançando por
mui grande espaço; mas vede se era bem saboroso jogo. Vinha el-Rei
em batéis de Almada para Lisboa, e saíam-no a receber os cidadãos, e
todos os dos mesteres, com danças e trebelhos, segundo então usavam,
e ele saía dos batéis, e metia-se na dança com eles, e assim até paço.

Parai mentes se foi bom sabor: jazia el_Rei em Lisboa uma noite na
cama, e não lhe vinha sono para dormir. E fez os moços, e quantos
dormiam no paço; e mandou chamar João Mateus e Lourenço Palos,
que trouxeram os trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se
pela vila em dança com os outros.

As gentes, que dormiam, saíam às janelas, a ver que festa era aquela,
ou por que se fazia; e quando viram daquela guisa el-Rei, tomaram
prazer de o ver assim ledo. E andou el_Rei gram parte da noite, e
tornou-se paço em dança, e pediu vinho e fruta, e lançou a dormir…”

38
De acordo com Moisés, esta passagem das mais sugestivas de quantas
oferece o retrato de D. Pedro, convida a observar algumas das
características marcantes da obra historiográfica de Fernão Lopes:

1) O cronista concentra a sua atenção no rei: sua concepção da História,


portanto, é regiocêntrica; mas como lhe interessa sobretudo a face
política das ocorrências, sua concepção é também política; e é
igualmente psicológica, visto que se está preocupando com a sondagem
no interior do monarca, ainda que só do ponto de vista de suas
imprevistas e descontroladas manifestações de alegria; pelo flanco
político e egocêntrico, Fernão Lopes revela-se ainda preso à cultura
medieval.

2) Pela primeira vez, e para contrabalançar o regioncentrismo, o


cronista faz comparecer o povo no palco dos acontecimentos, lado a
lado com o rei, duma forma tal que os plebeus “tomaram o prazer o ver
assim ledo”.

3) O historiador descreve as cenas como as visse, num visualismo


dinâmico que lembra o movimento de uma câmara cinematográfica
surpreendendo os pormenores mais flagrantes da personagem central,
por fora e por dentro.

4) Quanto ao estilo e à estrutura narrativa: por herança da novela de


cavalaria e merecê do talento fino prosador que possuía Fernão Lopes,
o estilo caminha com uma naturalidade e vigor realmente avançados
para o tempo, próprios de um ficcionista, corroborados pelo
andamento das cenas, obediente a um típico ritmo novelesco, alguns
arcaísmos, como “trebelho” e outros, cooperam para conceder ao
trecho um sopro de narração viva e espontânea, quase se diria
coloquial. 5) Esse estilo ficcional, porém, não empena, pelo contrário,
emoldura, a propensão inata do cronista para ater-se à verdade
serenidade que assinala um historiador seguro do seu método e infenso
a quaisquer extremos ou paixões desnorteantes. (Moisés, p.22).

A prosa doutrinária
Ao longo do século XV cultiva-se, intensamente, a prosa doutrinária e
moralista, textos que ecoam o surto de humanização da cultura e a
solidificação do absolutismo régio durante o reinado dos Avis. Escrita,
sobretudo por monarcas, essa prosa pedagógica servia à educação da
realeza e da fidalguia, visando a orientá-las para o convívio social e no

39
adestramento físico para a guerra. O culto do desporto,
particularmente o da caça, é a preocupação por excelência dessa
pedagogia pragmática.

As virtudes morais também são lembradas e enaltecidas, mas tendo


sempre em vista alcançar o perfeito equilíbrio entre a saúde do corpo e
a do espírito.

Numerosas obras moralistas apareceram durante o século XV.


Merecem destaque, as seguintes: Livro de Montaria, de D. João I; Leal
conselheiro e o Livro da Ensinança de Bem Cavalgar toda Sela, de D.
Duarte; O Livro da Virtuosa Benfeitoria, do Infante D. Pedro, filho
bastardo de D. João I; Livro da Falcoaria, de Pêro Menino.

O Humanismo prepara o Renascimento na cultura, na arte e na


literatura. Por ser um período de transição entre a Idade Média e o
mundo moderno, sua produção literária é marcada pelo convívio entre
o velho e o novo: a idealização da mulher e a poesia amorosa de fundo
social, respectivamente.

Nesse período, além da produção poética, temos a realização da prosa


por meio da crónica histórica e da prosa doutrinária, a primeira
compreendida como os primeiros momentos da historiografia em
Portugal e a segunda, prosa pedagógica destinada à educação da
realeza e da fidalguia.

Auto-Avaliação
Questões de Reflexão

1. Defina o Humanismo.

2. Fale sobre o Trovadorismo.

Questões de Escolha Mútipla


40
3. O Humanismo prepara o Renascimento na:
a) cultura
b) arte
c) literatura.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Numerosas obras moralistas apareceram durante o século:


a) XV
b) XX
c) VI
d) III

5. As virtudes morais também são lembradas e enaltecidas, mas


tendo sempre em vista:
a) alcançar o perfeito equilíbrio entre a saúde do corpo e a do
espírito.
b) alcançar o imperfeito equilíbrio entre a saúde do corpo e a do
espírito.
c) alcançar o perfeito desequilíbrio entre a saúde do corpo e a do
espírito.
d) alcançar o imperfeito desequilíbrio entre a saúde do corpo e a do
espírito.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. As virtudes morais também são lembradas e enaltecidas, mas


tendo sempre em vista alcançar o perfeito equilíbrio entre a saúde
do corpo e a do espírito.

7. Numerosas obras moralistas apareceram durante o século XIII.

8. O historiador descreve as cenas como as visse, num visualismo


dinâmico que lembra o movimento de uma câmara
cinematográfica surpreendendo os pormenores mais flagrantes
da personagem central, por fora e por dentro.
9. O cronista concentra a sua atenção no rei: sua concepção da
História, portanto, é regiocêntrica.

41
10. As virtudes morais também são lembradas e enaltecidas, mas
tendo sempre em vista alcançar o perfeito equilíbrio entre a saúde
do corpo e a do espírito.

Questões de Reflexão

11. Fale sobre as principais características do humanismo.


12. O que caracteriza o renascimento?

Respostas:

2. D
3. A
4. A
6. Verdadeiro

7. Falso

8. Verdadeiro

9. Verdadeiro

10. Verdadeiro

TEMA 2: RENASCIMENTO

Introdução

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

• Compreender o Renascimento cultural e científico europeu


como crítica ao mundo medieval.
Objectivos
• Compreender o Renascimento cultural e científico como
um momento único na História, no qual a humanidade
olhou para seu passado histórico e, a partir de certas
condições políticas, económicas e sociais, criou um mundo
com novos valores.

42
Foi a efervescência artística e cultural vivida nos séculos XV e XVI na
Europa Ocidental que marca o início da Era Moderna e o nascimento do
universo burguês, especificamente em sua face cultural. No
Renascimento, fica claro o rompimento com a Idade Média em grande
parte de seus elementos. É, sobretudo, a exposição do universo e dos
valores da nova classe emergente, a burguesia.

O Renascimento foi um movimento restrito à Europa Ocidental católica.


Seu epicentro foi certamente a Itália e de modo mais específico, a
cidade de Florença. Desde o meio da Baixa Idade Média já se via um
florescimento das artes e da cultura, mas isso tomou uma forma ampla
mesmo apenas no século XV. A partir deste momento ela sairá da Itália
e ganhará todo o espaço da Europa Ocidental.

Estudo dos clássicos greco-romanos: Um dos elementos que sublinham


o afastamento com a Idade Média é a visitação dos textos e livros
clássicos da Antiga Grécia e do Império Romano. Reliam-se os textos
políticos, admirava-se a arte daqueles povos e os seus conhecimentos
sobre a natureza e o mundo. Inclusive a religião pagã desses povos
antigos traz interesse, mas o catolicismo não chega a perder força
diante disto.

. Humanismo: Ao contrário do extremo peso que tinha a Igreja e Deus


na cultura medieval, agora a atenção é voltada para o homem. Este,
agora, constrói o seu mundo, o homem pode construir o seu
conhecimento, conhecimento que pode modificar o mundo. O próprio
conhecimento e as acções do homem na Terra não se justificam mais
unicamente por Deus. Fala-se de um antropocentrismo – o homem no
centro de tudo – moderno ante um teocentrismo medieval.

. O indivíduo e a razão: A noção individual do mundo passa a ser


valorizada contra uma visão mais comunal ou religiosa, característica da
Idade Média. E esse indivíduo usa a razão para compreender o mundo.
A razão, durante a Idade Média, era menos importante do que a fé, era
submissa a esta.

. Avanço do conhecimento e da técnica: Surge nesse período a origem


do que depois será chamado de ciência. A razão agora será valorizada,
mas ainda não será mais importante do que a fé. O conhecimento
racional das coisas começa a ganhar corpo para depois triunfar no
Iluminismo no século XVIII. Durante o Renascimento e os séculos
seguintes, constata-se um grande avanço de todos os campos do
conhecimento e da técnica.

. As artes: De forma bem ampla, as artes vão ser renovadas. Novas


técnicas, novas formas de se fazer arte e também novos elementos
artísticos serão introduzidos enriquecendo e diversificando bastante o
campo das artes na Europa. As artes
43
vão ser financiadas pelos mecenas, homens ricos – burgueses ou nobres
– que patrocinavam os artistas para que estes fizessem as suas obras de
arte. Com esse financiamento, surgem alguns artistas profissionais, o
que antes não existia. Essa arte, porém, não é voltada para as massas,
mas para uma pequena elite apenas.

. A imprensa, as línguas e as grandes obras literárias: Um grande avanço


técnico do período é a invenção da imprensa. Com ela, as obras
literárias serão difundidas mais rapidamente, haverá um pequeno
impulso para a redução do analfabetismo, mas a maioria da população
européia ainda continuará analfabeta. Nesse momento surgirão as
línguas nacionais, principalmente a partir de grandes obras literárias
nacionais. Cada país que se unifica e ganha a sua língua própria, tendo
também a sua própria obra-mãe. Assim, Os Lusíadas de Luís de Camões
são tidas como a certidão de nascimento da língua portuguesa, junto
dos outros escritos portugueses do mesmo período. Dom Quixote de
Miguel de Cervantes é a principal obra espanhola do período e é um
marco para a fundação do idioma castelhano. A Utopia de Thomas
Morus e as obras de Shakespeare são marcos fundamentais da língua
inglesa e assim por diante.

. O elitismo do Renascimento: Vale lembrar que nessa época poucos


eram os que sabiam ler e também eram poucos os que tinham acesso à
arte. Essa arte que surge no Renascimento era fortemente elitista,
poucos tinham acesso a esta arte e poucos também podiam entendê-
la.

GÉNEROS LITERÁRIOS

Entre os séculos XV e XVI, Portugal tornou-se um dos países mais


importantes da Europa, por causa de seu papel decisivo no processo de
expansão marítima e comercial.

O ano de 1527 marca o início das atividades da Escola Clássica na


Literatura Portuguesa. Nesse ano, Sá de Miranda, depois de uma
ausência de seis anos, regressa da Itália, onde fizera contacto com
estudiosos impregnados das novas ideias. Traz, em sua bagagem, o
verso decassílabo, o terceto, o soneto, a epístola, a elegia, a canção, a
ode, a oitava, a égloga e a comédia clássica, tornando-se, assim, o
principal divulgador da estética clássica.

44
O terreno era fértil. Por isso, o empenho de Sá de Miranda para
contaminar seus confrades com as novidades literárias de origem
italiana demorou pouco para alcançar êxito. Desse modo, os ideais
clássicos predominaram em Portugal até a morte de Camões e à
passagem de Portugal para o domínio espanhol, em 1580 (MOISÉS,
1999, p. 50).

No período clássico, a produção literária se enriqueceu e se diversificou


em géneros e escritores de importância:

POESIA PROSA TEATRO

Lírica: Luís Vaz de - Novela sentimental:


Camões e Sá de Bernardim Ribeiro,
Miranda; com Menina e Moça; Gil Vicente, com teatro
popular
Épica: Camões,
com Os Lusíadas.
- Novela de cavalaria:
João de Barros com António Ferreira, com
Crónica do imperador a tragédia Castro (a
Clarimundo, primeira peça de
e Francisco de Morais, influência clássica em
com Palmeirim da Portugal).
Inglaterra;

- Crónica histórica:
João de Barros;

- Literatura de
viagens:

Fernão Mendes Pinto,


com Peregrinação.

45
Sumário

O desaparecimento dos trovadores conduziu Portugal a quase um


século de estagnação cultural. Depois desse longo período, as cortes
portuguesas revivem, no século XV, um período de reflorescimento, de
transição entre o trovadorismo e o Renascimento do século XVI. O
período da literatura que marca o nascimento científico, abandono do
teocentrismo e o fim do feudalismo possui dois nomes. O movimento
surgiu na Itália, nesse país, o nome é Renascimento. Em Portugal, o
nome do movimento literário é Classicismo. Basicamente os dois tratam
da mesma coisa, o retorno das artes clássicas (greco-romanas).

Em Portugal, o principal nome do Renascimento cultural foi Luís de


Camões; na Espanha, Miguel de Cervantes; na França, François
Rabelais; na Inglaterra, Willian Shakespeare, entre outros,

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de reflexão

1. O que são géneros Literarios?


2. Quais são os géneros literários que conhece.

Questões de Escolha Múltipla

3. O Renascimento foi:
a) um movimento restrito à Europa Ocidental católica.
b) uma corrente extensiva à Europa Oriental católica.
c) uma corrente não extensiva à Europa Ocidental católica.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Em Portugal, o principal nome do Renascimento cultural foi:


a) Luís de Camões
b) Fernando Pessoa
c) Jose Saramago
d) Antonio Lobo Antunes

46
5. O conhecimento racional das coisas começa a ganhar corpo
para depois triunfar no Iluminismo no século:
a) XVIIII.
b) XVIII
c) XVIII.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. Em Portugal, o principal nome do Renascimento cultural foi Luís


de Camões; na Espanha, Miguel de Cervantes; na França,
François Rabelais; na Inglaterra, Willian Shakespeare, entre
outros.

7. No período clássico, a produção literária se enriqueceu e se


diversificou em géneros e escritores de importância.
8. Os ideais clássicos não predominaram em Portugal até a morte
de Camões e à passagem de Portugal para o domínio espanhol,
em 1580 (MOISÉS, 1999, p. 50).
9. O ano de 1527 marca o início das atividades da Escola Clássica
na Literatura Portuguesa.
10. A Utopia de Thomas Morus e as obras de Shakespeare nao são
marcos fundamentais da língua inglesa e assim por diante.

Questões de Reflexão

11. “Em Portugal, o principal nome do Renascimento cultural foi


Luís de Camões; na Espanha, Miguel de Cervantes; na França,
François Rabelais; na Inglaterra, Willian Shakespeare, entre
outros.” Comente.

12. Fale sobre a vida e obra de Luís Vaz de Camões.

Respostas:

2. A
3. A
4. B
5. Verdadeiro
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Falso

47
48
UNIDADE TEMÁTICA: TEATRO POPULAR DE GIL VICENTE

A biografia de Gil Vicente encontra-se envolta em dúvidas: teria nascido


em 1465 ou 1466, talvez em Guimarães, e morrido entre 1536 e 1540.
A primeira data ligada ao poeta de maneira segura é o ano de 1502,
quando, na noite de 7 para 8 de Junho, recitou o Monólogo do
Vaqueiro7, no quarto de D. Maria de Castela, segunda esposa de D.
Manuel e filha dos reis católicos D. Fernando e D. Isabel, para saudar o
nascimento e desejar venturas ao futuro D.João III que acabara de
nascer.

Durante 34 anos, Gil Vicente produziu textos teatrais de temas e


estruturas variados e algumas poesias. Foram 46 peças ao todo. Há,
entre elas, 11 em castelhano e 16 bilíngues. Didacticamente, pode-se
falar em três fases principais do teatro vicentino:

Primeira Fase (de 1502 a 1514) – nessa fase a influência de Juan del
Encina é dominante, sobretudo nos primeiros anos, atenuando-se
depois de 1510.

Segunda Fase (de 1515 a 1527) – começando com Quem tem farelos? e
terminando com o Auto da Fadas. Corresponde ao ápice da carreira
dramática de Gil Vicente, com a encenação de suas melhores peças,
dentre as quais Trilogia da Barca (1517-1518), o Auto da Alma (1518), a
Farsa de Inês Pereira (1523), o Juiz da Beira (1525).

7
Também chamado auto de visitação. Veja-se Massaud, (idem, p.70)

49
Terceira Fase (de 1528 a 1536) – inicia-se com o Auto da Feira e se
encerra com Floresta de Enganos. Nesta fase, o dramaturgo, sob
influência do Classicismo renascentista, intelectualiza seu teatro.

Quanto ao tema, o teatro vicentino pode ser dividido em dois grupos:

O tradicional – contém as peças de caráter litúrgico, ligadas ao teatro


religioso de Juan del Encina, como Auto da Fé (1510) e Auto da Alma
(1518), e remota aos milagres e mistérios franceses; peças de assunto
bucólico, como o Auto Pastoril Castelhano e o Auto Pastoril Português
(1523) e peças de assunto relacionado com as novelas de cavalaria,
como D. Dourados (1522) e o Auto de Amadis de Gaula (1533).

O de actualidade – contém as peças que apresentam o retrato satírico


da sociedade do tempo, envolvendo seus vários segmentos: fidalguia,
burguesia, clero e plebe. Farsa de Inês Pereira e Quem tem farelos? São
exemplos do teatro de actualidade. Assim também, o teatro alegórico
crítico, como a Trilogia da Barca.

Essa classificação não significa que estamos diante de tipos estanques


de peças, pois, além de haver pontos de comunicação entre elas, há
peças de carácter misto, impermeáveis a classificações, como o Auto
dos Quatro Tempos (1511).

O teatro de Gil Vicente, embora tenha surgido e desenvolvido no


ambiente da Corte para entretenimento nos serões oferecidos pelo Rei,
é primitivo, rudimentar e popular, isento das concessões que, ao
mesmo tempo, favorecem e empequenecem, mas sempre orientado
pelas convicções do comediógrafo, que nunca desprezou o bom-senso,
e pelas coerções naturais do meio palaciano.

Teatro rico, denso e variado. Teatro escrito para um público exigente e


detentor das rédeas do poder. Gil Vicente, entretanto, não deixou de
impor-se como teatrólogo e impor seu gosto pessoal, mesmo que para
garantir essa autonomia tivesse que recorrer a disfarces, truques,
símbolos, alegorias ou ao cômico mais radical.

Baseado na espontaneidade e tendo como objectivo divertir a Corte, o


teatro vicentino organizava-se de acordo com a lei do improviso. Por

50
isso, as representações progrediam de acordo com as circunstâncias
criadas pelo momento, em suas relações com o autor e o conteúdo da
peça. Parece que o trabalho de Gil Vicente era apenas esboçar um
roteiro básico com um objectivo: ordenar a encenação numa sequência
verossímil, uma vez que o resto aconteceria ao sabor do momento e de
todas as alterações impostas pelo acaso.

O grande mérito de Gil Vicente consiste no facto de ele ser um poeta, e


poeta dramático. Como poeta, distingue-se pela fluência e elasticidade
expressivas que envolvem os matizes líricos, satíricos, mitológicos,
alegóricos, religiosos, sem perder sua fisionomia específica. Como
comediógrafo, destaca-se como um dos mais importantes autores de
teatro em toda a história da Literatura Portuguesa, tendo o mérito de
ter inaugurado esse gênero nessa literatura, conforme já se falou acima.

Ponte de trânsito, traço de união entre a Idade Média e o


Renascimento, Gil Vicente registou em suas peças o momento em que
as duas formas de cultura se defrontavam: uma para terminar ou
diminuir seu influxo e domínio, a outra para começar. Essa circunstância
define-lhe o caráter: teatro lírico ou cômico (ou lírico-cômico), que tem,
na exacta medida do tempo, os olhos voltados para trás, mergulhados
na contemplação do mundo que morria, e para frente, pressentindo o
novo rumo que o embate das ideias começava a tomar.

Quando o poeta, com os olhos voltados para trás, contempla o mundo


que morre, os temas e uma visão medieval das coisas predominam. Gil
Vicente cria, aqui, um tipo de teatro que se realiza não tanto pelas
qualidades cênicas, mas, sobretudo, pelo aspeto ideológico ou
sentimental: o poeta, cheio de sentimento lírico da vida, suplanta o
teatrólogo, facto que pode ser verificado em D. Dourados e no Auto da
Alma.

O teatro de costumes e o religiosamente alegórico (Inês Pereira e


Trilogia das barcas: da Glória, do Inferno e do Purgatório,
respetivamente) revelam um dramaturgo comprometido: sua poesia e
seus predicados estão a serviço de uma causa, e o poeta, respirando a
atmosfera renascentista e expandindo suas virtualidades pessoais, faz
de suas peças arma de combate, acusação e moralidade.

Trata-se, aqui, do teatro de sátira social, que critica o povo, a fidalguia


ou o clero, sem preocupar-se em proteger qualquer dos segmentos da
sociedade.
51
A sátira vicentina toca fundo nas feridas sociais de seu tempo, mas é
Contra balançada por um elevado pensamento cristão, verificável em
peças como o Auto da Alma e, também, nas de natureza satírica, muito
embora, nesse caso, a perspectiva cristã não tenha grande visibilidade.
A maior concentração de forças do teatro vicentino reside nessa
bipolaridade, que, além de criar uma escola vicentina durante o século
XVI, garantiu sua permanência nos séculos seguintes e sua atualidade
ainda hoje. Camões, Afonso Álvares, Antônio Ribeiro Chiado, Antônio
Prestes e Simão Machado pertencem à escola vicentina.

O vigor e a altura do teatro vicentino não são homogêneos ao longo de


seus 34 anos de produção artística: sua evolução para o Classicismo
implica uma espécie de engessamento da estrutura das peças, facto que
se pode verificar em Cortes de Júpiter (1521) e Jubileu de Amores (1527),
e que se contrapõe à maneira como Gil Vicente compunha suas peças
no início de sua carreira: sob os influxos da inspiração e desobediente a
cânones, o que resultava num teatro primitivo por seus recursos fáceis,
mas de primeira grandeza pela originalidade, verdade e permanência.

Para completar esta unidade, escolhemos a Farsa de Inês Pereira e O


Auto da Alma exemplificando as duas vertentes da produção teatral de
Gil Vicente.

Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente

Como afirma, Massaud, (ib.dem, p.74) esta peça foi representada pela
primeira vez na Corte de D. João III, em 1523, no Convento de Tomar,
este auto vicentino gira em torno dum tema proposto por ‘certos
homem e de bom saber’ que duvidam ‘se o autor fazia de si mesmo
estas obras, ou se as furtava de outros autores’: mais quero asno que
me leve, que cavalo que me derrube’. O dramaturgo focaliza na peça
Inês Pereira, jovem do povo eu, desejando casar com um rico homem
rico, recusa Pêro Marques, filho de rico proprietário rural, para aceitar
Brás de Mata, escudeiro e pelintra. Mas o moço, que a maltrata é
chamado para combater em África e lá morre, cobardemente. Inês
resolve-se casar-se com Pêro Marques e vai ao encontro de um ermitão,
seu ex-namorado. Leia, a seguir, o diálogo (entrevista) entre Inês e o
pretendente:

52
Vem Pêro Marques e diz:

Homem que vai aonde eu vou

não se deve de correr

que eu em meu siso estou.

Não sei onde mora aqui:

Olhai que mesquece a mi!

Eu creio que nesta rua,

E esta parreira é sua,

Já conheço que é aqui.

Chega a casa de Inês Pereira

Digo que esteis muito embora,

Folguei ora de vir cá,

eu vos escrevi de lá

uma cartinha senhora:

e assim que de maneira…

Mãe Tomai aquela cadeira

Pêro E que val uma destas?

Inês Ó Jesus! Que João das bestas!

Olhai aquela canseira!

Assentou-se com as costas para eles, e diz:

Eu cuido que não estou bem:

Mãe Como vos chamais amigo?

53
Pêro Eu Pêro Marques me digo,

Como meu pai que Deus tem:

Faleceu perdoe-lhe Deus,

Que fora bem escusado,

E ficmos dous eréus

Porém meu é morgado

Mãe De morgado é vosso estado!

Isso viria dos ceus!

Pêro Mais gado tenho eu já quanto,

e o maior de todo o gado

digo maior algum tanto.

E desejo ser casdo,

Prouguesse ao espírito Santo,

com Inês, que eu m’espanto

Quem me fez seu namorado.

Parece moça de bem,

e eu de bem, er também,

Ora vós er ride vendo

[…]

Sumário

Nesta unidade temática, vimos que a localização geográfica define


aspectos relevantes não só da cultura, mas também da literatura
portuguesa. As cantigas trovadorescas, primeiras manifestações
literárias portuguesas, surgem na Baixa

54
Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as primeiras tentativas de
libertação da cultura teocêntrica imposta pela Igreja em todo o período
medieval. O modo de produção da Idade Média é o feudalismo, sistema
social em que predominam grupos sociais fechados e impossibilitados
de empreender mobilidade social. Nesse sistema, há uma profunda
ligação de dependência de homem para homem, definida pela relação
entre os senhores, proprietários da terra, e os servos, não-
proprietários, mas presos a ela.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Quem é Gil Vicente?


2. Que textos Gil Vicente Produziu?

3. Questões de Escolha Múltipla


4. A biografia de Gil Vicente encontra-se envolta em dúvidas:
a) teria nascido em 1465 ou 1466, talvez em Guimarães, e morrido
entre 1536 e 1540.
b) teria nascido em 1455 ou 1466, talvez em Guimarães, e
morrido entre 1536 e 1540.
c) teria nascido em 1465 ou 1466, talvez em Guimarães, e
morrido entre 1536 e 1545.
d) teria nascido em 1465 ou 1465, talvez em Guimarães, e morrido
entre 1536 e 1540.
5. As cantigas trovadorescas, primeiras manifestações literárias
portuguesas, surgem:
a) na alta Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
b) na Baixa Idade Média (séculos XII e XIII) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica

55
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
c) na Baixa Idade Média (séculos XIIIIe XIIIV) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
a) na Baixa Idade Média (séculos XIIX e XIII) e representam as
primeiras tentativas de libertação da cultura teocêntrica
imposta pela Igreja em todo o período medieval.
6. O modo de produção da Idade Média é:
a) o feudalismo
b) o socialismo
c) o fmonopartidarismo
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso


6.. O vigor e a altura do teatro vicentino não são homogêneos ao longo
de seus 34 anos de produção artística.
7. Quando o poeta, com os olhos voltados para trás, contempla o
mundo que morre, os temas e uma visão medieval das coisas
predominam.
8. As cantigas não trovadorescas, primeiras manifestações literárias
portuguesas, surgem na Baixa Idade Média (séculos XII e XIII) e
representam as primeiras tentativas de libertação da cultura
teocêntrica imposta pela Igreja em todo o período medieval.
9. O dramaturgo não focaliza na peça Inês Pereira, jovem do povo eu,
desejando casar com um rico homem rico, recusa Pêro Marques, filho
de rico proprietário rural, para aceitar Brás de Mata, escudeiro e
pelintra.
10. O dramaturgo focaliza na peça Inês Pereira, jovem do povo eu,
desejando casar com um rico homem pobre, recusa Pêro Marques, filho
de rico proprietário rural, para aceitar Brás de Mata, escudeiro e
pelintra.

Questões de Reflexão
10. “Quando o poeta, com os olhos voltados para trás, contempla o
mundo que morre, os temas e uma visão medieval das coisas
predominam.” Comente.
11. Fale sobre a idade Média.

56
Respostas:
3.. A
4. B
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Falso.

UNIDADE TEMÁTICA: LÍRICA CAMONIANA

Luís de Camões é o poeta que melhor traduziu os anseios do homem


português renascentista. Provavelmente nascido em 1525, em Lisboa,
Camões lutou por Portugal no norte da África, onde perdeu um olho.
Em 1550 foi preso e exilado durante 17 anos em África e na Ásia. Voltou
a Portugal em 1570 e morreu 10 anos depois em total miséria. Homem
vivido e culto, Camões soube conciliar os seus estudos de cultura
clássica com a sua experiência no Oriente. Esta vivência permitiu-lhe
escrever a principal expressão da literatura renascentista portuguesa:
Os Lusíadas.

Porém, ao lado épico, a lírica camoniana também é uma das mais


importantes da língua portuguesa. Nestas obras, Camões mostra-se ter
sabido aproveitar tanto as influências da lírica medieval (redondilhas)
portuguesa como da lírica renascentista (sonetos, oitavas, sextinas,
églonas, canções, elegias), e o teatro popular e clássico (Auro de
Filodemo, El-Rei Seleco e Anfitriões).

57
Falando dos sonetos, os mais perfeitos de quantos produzidos por
Camões e dos mais belos da Língua Portuguesa apresentam pontos em
comum naquilo que diz respeito à estética clássica. Em primeiro lugar,
pelo facto de obedecerem ao princípio de imitação, quer dizer, da
aceitação de modelos preexistentes à elaboração da obra de arte, sejam
eles escritores greco-latinos, sejam os quinhentistas que lhes seguiram
as pegadas.

E, o acatamento de moldes pressupunha, inclusive o empréstimo de


versos inteiros ou temas. Camões praticou o princípio de imitação com
toda a liberdade de seu génio poético, e não raro suplantou os mestres,
alguns dos sonetos ter-se-ia, camões inspirado nos sonetos de Petrarca.
Em segundo lugar, observe-se, o racionalismo presente nos sonetos:
embora se trate de soneto lírico-amorosos, percebe-se que o poeta
irriga os poemas desde a primeira à última palavra, mas aparece
controlado, guiado pela Razão, que repele os extravasamentos
desnecessários. Moisés, (ibi.idem).

Com efeito, vigiado que os clássicos erigiam em faculdade matriz no


conhecimento do mundo, o sentimento ou a emoção contém-se nos
limites do equilíbrio e harmonia, que, por seu turno, constituem outras
características da estética clássica presente nos sonetos. Ora, o
equilíbrio e a harmonia conduzem à impressão de absoluto e
universalidade.

O soneto que a seguir se vai ler, mostra claramente o que acima ficou
dito: versos ou temas imitados, mas misturados com a genialidade do
seu autor.

Alma minha gentil, que te partiste

tão cedo desta vida, descontente,

repousa lá no céu eternamente

e viva eu cá na terra sempre triste.


58
Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente,

não te esqueças daquele amor ardente

que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que podes merecer-te

alguma cousa a dor que me ficou

da mágoa, sem remédio, de perder-te,

roga a Deus, que teus anos encurtou,

que tão cedo de cá me leve a ver-te

quão cedo de meus olhos te levou.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Quem é Luis Vaz de Camoes?
2. O que são sonetos?

Questões de Escolha Múltipla


3. A lírica camoniana também é uma das mais importantes:
a) da língua portuguesa.
b) da língua Inglesa.

59
c) da língua Francesa.
d) da língua franca.

4. Em que ano Camoes foi preso?


a) Em 1555 foi preso e exilado durante 17 anos em África e na Ásia.
b) Em 1550 foi preso e exilado durante 17 anos em África e na Ásia.
c) Em 1556 foi preso e exilado durante 17 anos em África e na Ásia.
d) Em 1550 foi preso e exilado durante 18 anos em África e na Ásia.

5. Quando é que camoes volta a Portugal?


a) Voltou a Portugal em 1570 e morreu 12 anos depois em total
miséria.
b) Voltou a Portugal em 1570 e morreu 14 anos depois em total
miséria.
c) Voltou a Portugal em 1580 e morreu 10 anos depois em total
miséria.
d) Voltou a Portugal em 1570 e morreu 10 anos depois em total
miséria.

Questões de Verdadeiro e Falso


6. Camões praticou o princípio de imitação com toda a liberdade de
seu génio poético, e não raro suplantou os mestres, alguns dos
sonetos ter-se-ia, camões inspirado nos sonetos de Petrarca.
7. Sobre camoes, afirma-se que provavelmente tenha nascido em
1525, em Lisboa, Camões lutou por Portugal no norte da África,
onde perdeu um olho. Em 1550 foi preso e exilado durante 17 anos
em África e na Ásia.
8. Camoes não voltou a Portugal em 1570 e morreu 10 anos depois em
total miséria.

9. A lírica camoniana também é uma das mais importantes da língua


portuguesa.

10. Vemos abaixo o exemplo de uma prosa.

Alma minha gentil, que te partiste

tão cedo desta vida, descontente,

60
repousa lá no céu eternamente

e viva eu cá na terra sempre triste.

Questões de Reflexão

11. “A lírica camoniana também é uma das mais importantes da língua


portuguesa.” Comente.
12. Fale sobre a prisão de Camões.

Respostas:
3. A
4. B
5. D
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso

61
UNIDADE TEMÁTICA: OS LUSÍADAS DE LUIS VAZ DE
CAMÕES

Os Lusíadas foram publicados em 1572. Por essa obra, o poeta recebe


uma pensão anual de 15.000 réis, que não o tira da miséria que o
persegue até o fim de sua vida. Morre pobre a 10 de junho de 1580.
Esta obra revela uma variedade de formas que expressa uma variedade
de temas: da tradição popular dos trovadores medievais “evolui” para
formas diretamente influenciadas pelo Classicismo, como as canções,
sonetos, epopeia etc. O conflito cultural de uma época em que valores
medievais se unem a valores renascentistas é outro traço marcante da
obra camoniana.

A acção do poema, que tem como núcleo narrativo a viagem de Vasco


da Gama, inicia-se in media res (no meio da viagem), com a frota de
Gama percorrendo a costa ocidental da África. Às personagens
históricas, cabe relatar os acontecimentos passados; aos deuses, os
acontecimentos futuros: deuses e deusas dividem a responsabilidade
da acção futura dos portugueses no Oriente. Episódios heroicos,
trágicos e gloriosos alternam-se nas vozes de Júpiter, Vênus, Tétis ou
Adamastor.

Os Lusíadas contêm 10 cantos, 1.102 estrofes ou instâncias e 8.816


versos. As instâncias estão organizadas em oitava rima, oito versos com
o esquema rítmico abababcc. Os versos são decassílabos heroicos, com
cesura na 6ª e na 10ª sílaba, salvo variantes. Divide-se em três partes:
Introdução, que ocupa as 18 estâncias, reparte-se em Proposição
(estâncias 1-3), ou seja, o assunto do poema “ as armas e os barões
assinalados”, “Cantando, espalharei por toda parte”; Invocação
(estâncias 4-5) às Tágides, musas do Rio Tejo; e Oferecimento (estâncias
6-18) ao Rei D. Sebastião, que subconvenciou a publicação da obra; a
Narração (canto I, estâncias 19 – Canto X, estância 144) e Epílogo (Canto
X 145 – 156).

A acção do poema é o desenvolvimento do facto heroico. Na obra, há


uma dupla acção histórica e uma ação mitológica. A primeira ação
histórica, nós já conversamos sobre ela: trata-se da narração da viagem
de Vasco da Gama à Índia e o seu regresso (1497-1499). A segunda ação
histórica é a exposição da história de Portugal, desde as origens do
Condado Portucalense, feita por Vasco da Gama ao rei de Melinde e por
seu irmão, Paulo da Gama, ao catual. A ação mitológica compreende a
luta travada entre Vênus, que protege os portugueses, e Baco, que os
combatia.
62
Os episódios são, portanto, históricos e mitológicos. Os históricos
contam a história de Portugal: A Batalha de Ourique, no canto III, e a
Batalha de Aljubarrota, no canto IV. Os episódios mitológicos se
fundamentam na mitologia pagã: O Concílio dos Deuses no Olimpo, no
canto I; ou o episódio em que Vênus pede a Júpiter proteção para os
portugueses, no canto II. Há, no entanto, outros tipos de episódio: os
líricos. No canto III, instâncias 118-135, temos o episódio de Inês de
Castro. No canto IV, instâncias 88-104, o episódio do Velho do Restelo.
No canto V, instâncias 37-61, o episódio do Gigante Adamastor. No
canto IX, instâncias 64-83, o episódio da Ilha dos Amores.

Segundo Moisés (p. 58) assim como, em outras épocas, eram outras as
passagens do poema as preferidas pelos leitores, os episódios mais
consagrados pela sensibilidade actual são o de Inês de Castro (Canto III,
118-135), o do Velho do Restelo (Canto IV, 88-104), o do Gigante
Adamastor (Canto V, 37-61) e o da Ilha dos Amores (Canto IX, 64-83):

O episódio de Inês de Castro

Camões, como poeta Clássico, estudava o efeito que pretendia


despertar nos leitores. No caso do episódio de Inês de Castro, os efeitos
mais importantes, entre os almejados, são a piedade e o terror. Essa
mulher se uniu ao príncipe D. Pedro por causa do amor e em busca da
felicidade, mas foi surpreendida pela dor, pela ira, pelo abandono e
sofrimento, culminados com a morte. Isso provoca piedade, que se
confunde com compaixão; e terror. Ao lado da piedade e do terror, a
indignação e ódio associados a D. Afonso IV e a seus conselheiros,
também são explorados. Vejamos, agora, duas estrofes desse episódio:

[Episódio de Inês de Castro]

Passada esta tão próspera vitória,

Tornado Afonso à Lusitana terra,

A se lograr da paz com tanta glória

Quanta soube ganhar na dura guerra,

63
O caso triste, e dino da memória

Que do sepulcro os homens desenterra,

Aconteceu da mísera e mesquinha

Que depois de ser morta foi Rainha.

119

Tu só, tu, puro Amor, com força crua,

Que os corações humanos tanto obriga,

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano.

Episódio do Velho do Restelo

Restelo é o nome de uma praia. Dessa praia, no dia 8 de julho de 1497,


Vasco da Gama partiu com sua frota, em busca do caminho marítimo
para a Índia: a chegada ao Extremo Oriente só era possível pelo Mar
Mediterrâneo e pelas terras do Oriente Médio; a rota mediterrânea
estava agora sob o domínio árabe e era essencialmente medieval, com
vantagens parciais para os países ibéricos. Convinha a Portugal,
portanto, evitar a tradição e instaurar um novo caminho. D. Manuel, o
Venturoso, representado por Vasco da Gama, toma a iniciativa de
enfrentar o Mar Tenebroso.

O episódio do Velho do Restelo é um fragmento da sequência conhecida


como a Partida das Naus. Nele, narra-se o embarque oficial dos
navegantes, que se faz anteceder de procissão solene e despedidas
espontâneas. O Velho do Restelo é uma entre as inúmeras pessoas que
se amontoaram na praia para se despedir dos navegantes: mães,
esposas, filhas, crianças, meninos e velhos.

64
Por não concordar com a viagem, por entendê-la desnecessária à
segurança do povo, esse Velho era contrário à expansão geográfica:
julgava que a estabilidade devia decorrer não do comércio exterior, mas
do fortalecimento interno da nação. Em face disso, só podia
compreender aquela aventura como fruto do desejo de mando e da
ambição de glória.

O Episódio do Gigante Adamastor

O Adamastor é um episódio simbólico e representa as dificuldades que


se apresentam ao homem que sente o impulso de conhecer e descobrir.
É, portanto, uma figura mitológica criada por Camões como forma de
concentrar todos os perigos e dificuldades a transpor pelos
portugueses. O episódio do Adamastor é narrado por Vasco de Gama
na 1ª pessoa. Vejamos, agora, algumas estrofes desse episódio:

Porém já cinco Sóis eram passados

Que dali nos paríramos, cortando

Os mares nunca de outrem navegados

Prosperamente os ventos assoprando,

Quando uma noite, estando descuidados

Na cortadora proa vigiando,

Uma nuvem, que os ares escurecem

Sobre nossas cabeças aparece

Tão temerosa vinha e carregada,

Que pôs nos corações um grande medo

Bramido, o negro mar de longe brada,

Como se desse em vão nalgum rochedo.

“Ó Potestade (disse) sublimada:


65
Que ameaço divino ou que segredo

Este clima e este mar nos apresenta,

Que mor cousa parece que tormenta?

Não acabava, quando uma figura

Se nos mostra no ar, robusta e válida,

De disforme e grandíssima estatura;

O rosto carregado, a barba suja esquálida,

Medonha e má e a cor terrena e pálida;

Cheios de terra e crespos os cabelos,

A boca negra, os dentes amarelos.

Porocure ler outros epsódios contidos na obra.

Sumário

Nesta unidade temática estudamos Os Lusíadas, publicados em 1572,


uma obra por meio da qual, o poeta recebe uma pensão anual de 15.000
réis, que não o tira da miséria que o persegue até o fim de sua vida.
Realçamos a questão da sua estrutura, contem 10 cantos, 1.102
estrofes ou instâncias e 8.816 versos, dentro da qual tratamos de
referenciar alguns epsódios marcantes, nomeadamente: O episódio de
Inês de Castro, O episódio do Velho do Restelo e O Episódio do Gigante
Adamastor. E, em cada um dos epsódios tratamos da simbologia neles
contidos.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Cobre Os Lusíadas – Luís de Camões – comente a afirmação: O
episódio “Velho Restelo” contrasta a certas concepções

66
dominantes na sociedade portuguesa da época dos grandes
descobrimentos.

2. Transcreva dois versos, do poema, que evidenciem a causa do


seu descontentamento.

3. Ainda que existisse a possibilidade de se afastar de si mesmo, o


poeta não ficaria feliz. Usando palavras suas, explica porquê.

4. Aponta a conclusão a que o sujeito poético chega sobre a sua


vida.

5. Que imagem de si próprio nos apresenta o sujeito poético?

Questões de Escolha Múltipla


6. O Adamastor é um episódio simbólico e representa:

67
a) as dificuldades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
b) as possiblidades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
c) as impossiblidades que se apresentam ao homem que sente o
impulso de conhecer e descobrir.
d) Todas as alternativas estão correctas.

7. O episódio do Velho do Restelo é um fragmento da sequência


conhecida como:
a) a Partida das Naus.
a) a chegada das Naus
b) a Paragem das Naus
c) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso


8. O episódio do Adamastor é narrado por Vasco de Gama na 1ª
pessoa.
9. A chegada ao Extremo Oriente só era possível pelo Mar
Mediterrâneo e pelas terras do Oriente Médio
10. A acção do poema não é o desenvolvimento do facto heroico.

Questões de Reflexão
11. Fale sobre Vasco da Gama (Vida e Obra).
12. Que diferença existe entre o autor do texto e o sujeito poético?

Respostas:
6.. A
7. A
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Falso

68
TEMA 3. LITERATURA BRASILEIRA

Introdução

A literatura brasileira, desde as suas origens até meados do século XVII


foi reflexo e prolongamento da Literatura Portuguesa, pois as condições
do Brasil impediram que se desenvolvesse um processo literário
autónomo. Não houve, pelo menos até meados do século XVIII, um
grupo de escritores que assegurassem a continuidade literária; grupo
de recetores ativos que pudessem influenciar e galvanizar a produção
literária no Brasil.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

✓ Caracterizar o contexto político e histórico-cultur


se gerou e se desenvolveu o Romantismo Brasile
Objectivos
✓ Caracterizar os diferentes momentos do Roman
Brasil.

UNIDADE TEMÁTICA:
FORMAÇÃO E PERCURSOS DA
LITERATURA BRASILEIRA

De acordo com vários estudos, a situação acima descrita perdurou até


o momento em que, em função do ciclo de mineração, começaram a
surgir não só as cidades, como também escritores unidos pelo
sentimento de independência da Colónia e comprometidos com a
Inconfidência Mineira. No entanto, a literatura desse país, tendo-se
esboçado na primeira metade do século XVIII, só adquiriu plena nitidez
e autonomia no século XIX, quando, efectivamente, deixou de ser
Colónia.

69
Em função desse quadro, muitos críticos têm dividido a literatura do
Brasil em duas Eras separadas por um período de transição.

ERA COLONIAL PERÍODO DE TRANSIÇÃO ERA NACIONAL

[1500 – 1808] [1808 – 1836] [a partir de 1836]

Quenhentismo Romantismo – 1836 –


– 1500 – 1601 1881

Seiscentismo Realismo/Naturalismo
ou “ecos do /Parnasianismo – 1881
Barroco – 1601 – 1893
– 1768
Simbolismo – 1893 –
Setecentismo 1902
ou Arcadismo –
1708 -1808 Modernismo – 1922
até…

Quinhentismo, essa expressão é a denominação genérica de todas as


manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI. Não
se pode falar em literatura “do” Brasil, como característica do país
naquele período, mas sim em literatura “no” Brasil, uma literatura
ligada ao Brasil mas que denota as ambições do homem europeu.

Nesse período, o que se demonstrava era o momento histórico vivido


pela península Ibérica, que abrangia uma literatura informativa e uma
literatura dos jesuítas, como principais manifestações literárias do
século XVI. Quem produzia literatura naquela Era estava com olhos
voltados para as riquezas, enquanto a literatura dos jesuítas
preocupava-se com o trabalho da catequese.

Com a excepção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o


primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crónicas da
literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, facto
compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de
1530. Por seu lado, a literatura jesuítica também caracteriza o final do
Quinhentismo, tendo esses religiosos chegados a Brasil somente em

70
1549, comandados pelo Padre Manuel da Nóbrega. Quem mais se
destacou entre os jesuítas foi Padre José de Anchieta.

A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes


ou dos cronistas, reflexo das grandes navegações empenha-se em fazer
um levantamento da terra nova, de sua flora, fauna, de sua gente.
Trata-se, portanto, de uma literatura descritiva, sem grande valor
literário.

Entende-se, desde logo que a principal característica dessa literatura é


a exaltação da terra. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece
no uso exagerado de adjectivos, quase sempre empregados no
superlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo.

Como vimos, a literatura jesuítica estava preocupada com o trabalho de


catequese, objectivo que determinou toda a sua produção literária,
desde a poesia ao teatro. Mesmo assim do ponto de vista estético, foi a
melhor produção do quinhentismo brasileiro. Além da poesia, os
jesuítas cultivaram o teatro de carácter pedagógico, baseado em
trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos superiores na Europa
sobre o andamento dos trabalhos na Colónia.

Sumário

Estudamos, nesta unidade temática que a literatura brasileira, desde as


suas origens até meados do século XVII foi reflexo e prolongamento da
Portuguesa, pois as condições do Brasil impediram que se
desenvolvesse um processo literário autónomo. Vimos também que a
literatura do Brasil divide-se em duas eras e, no entanto, separadas por
um período de transição. Para terminar, estudamos que com a
excepção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerado o primeiro
documento da literatura no Brasil, as principais crónicas da literatura
informativa datam da segunda metade do século XVI, facto
compreensível, já que a colonização só pode ser contada a partir de
1530.

71
AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Por que se diz que o Romantismo brasileiro acentuou o


nacionalismo brasileiro?
2. Explique por que motivo se afirma que a “ literatura colonial
manteve-se no Brasil tão viva quanto lhe era possível a tradição
portuguesa?
3. Faça um levantamento dos autores desta primeira geração
Romântica.
4. Desenvolva os conceitos indianismo/indigenismo.

Questões de Escolha Mutipla

5. Além da poesia, os jesuítas cultivaram o:


a) teatro de carácter pedagógico baseado em trechos bíblicos, e as
cartas que informavam aos superiores na Europa sobre o
andamento dos trabalhos na Colónia.
b) teatro de carácter religioso baseado em trechos bíblicos, e as
cartas que informavam aos superiores na Europa sobre o
andamento dos trabalhos na Colónia.
c) teatro de carácter religioso baseado em trechos bíblicos, e as
cartas que informavam aos inferiores na Europa sobre o
andamento dos trabalhos na Colónia
d) teatro de carácter religioso baseado em trechos bíblicos, e as
cartas que informavam aos superiores na africa sobre o
andamento dos trabalhos na Colónia.

6. A literatura brasileira, desde as suas origens até meados do


século:
a) XVIII foi reflexo e prolongamento da Portuguesa, pois as
condições do Brasil impediram que se desenvolvesse um
processo literário autónomo.
b) XVII foi reflexo e prolongamento da Portuguesa, pois as
condições do Brasil impediram que se desenvolvesse um
processo literário autónomo.

c) XVIIX foi reflexo e prolongamento da Portuguesa, pois as


condições do Brasil impediram que se desenvolvesse um
processo literário autónomo.

72
d) XVIIV foi reflexo e prolongamento da Portuguesa, pois as
condições do Brasil impediram que se desenvolvesse um
processo literário autónomo.

Questões de Verdadeiro e Falso


7. Com relação à linguagem, o louvor à terra aparece no uso
exagerado de adjectivos, quase sempre empregados no
superlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo.
8. Quem mais se destacou entre os jesuítas foi Padre José de
Anchieta.
9. A literatura informativa, também chamada de literatura dos
viajantes ou dos cronistas, não reflete das grandes navegações
empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua
flora, fauna, de sua gente. Trata-se, portanto, de uma literatura
descritiva, sem grande valor literário.

10. Quem produzia literatura naquela Era estava com olhos


voltados para as pobrezas, enquanto a literatura dos jesuítas
preocupava-se com o trabalho da catequese.

Questões de Reflexão

11. Fale sobre a génese da Literatura Brasileira.


12. Que papel desempenha a obra Iracema na literatura Brasileira?

Respostas:

5.A

6. B

7. Verdadeiro

8. Verdadeiro

9. Falso

10. Falso

73
TEMA 4. O BARROCO

Introdução

A literatura brasileira, desde as suas origens até meados do século XVII


foi reflexo e prolongamento da Literatura Portuguesa, pois as condições
do Brasil impediram que se desenvolvesse um processo literário
autónomo. Não houve, pelo menos até meados do século XVIII, um
grupo de escritores que assegurassem a continuidade literária; grupo
de recetores ativos que pudessem influenciar e galvanizar a produção
literária no Brasil.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

• Compreender as características do teatro popular de


no contexto da transição da Idade Média para o Ren
Objectivos

UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍSTICAS GERAIS DO


BARROCO

O vocábulo “barroco” tem etimologia duvidosa: originalmente,


designava um tipo de pérola de formato irregular; de acordo com a
filosofia escolástica, um esquema mnemónico, próprio para facilitar a
memorização. Com o tempo, passou a significar todo sinal de mau
gosto; finalmente, a cultura do século XVII e princípios do século XVIII.

O Barroco origina-se da Itália (Roma), no século XVII, e rapidamente se


expandiu para outros países europeus, atingindo mais tarde (finais do
séc. XVIII) as colónias espanholas e portuguesas da América Latina e da
Ásia. O termo surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-
Reforma - Os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito
divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado Absolutista)
eram frequentes.

74
O Barroco é um fenómeno artístico cronologicamente delimitado: sua
génese remonta a meados do século XVI e enraiza-se na crise espiritual,
moral e cultural desencadeada pelo progresso e pela decomposição dos
valores da Renascença. Essa crise envolve os dois meios de
conhecimento da realidade visceralmente antagônicos: de um lado, o
avanço e desenvolvimento das ciências; do outro, o imobilismo e o
retrocesso da religião. Em face disso, pode-se dizer que, nesse
momento, a Cruz e o Telescópio – leia-se: a Fé e a Ciência – disputavam
o domínio do mundo.

Características fundamentais da estética barroca

Tem o intuito de despertar emoções no espectador e como elementos


geradores de emoções intensas, serve-se:

• Do uso das curvas e contracurvas, das espirais (colunas retorcidas) e


dos movimentos ascendentes com predomínio das linhas diagonais.
(procura do movimento e do infinito)

• Da utilização de fortes contrastes de claro e escuro para enfatizar a


luz e a cor;

• Da dramaticidade e êxtases dos santos.

• Da arquitectura - totalmente integrada com a pintura e a escultura –


que recorre às colunas torsas acrescidas de elementos escultóricos e à
pintura ilusionista dos tectos, dando-nos a impressão de ver o céu, tal a
aparência de profundidade conseguida;

• Da exagerada riqueza ornamental, ausência de espaços vazios e o


gosto pela teatralidade.

• Do esforço para conciliar o claro e o escuro, a matéria e o espírito, a


luz e a sombra, visando a anular, pela unificação, a dualidade do ser
humano, dividido entre os apelos do corpo e os da alma.

Segundo, esse embate entre os dois polos fundamenta-se no problema


do conhecimento da realidade: a dicotomia barroca (corpo e alma, luz
e sombra etc.) corresponde a dois modos de conhecimento:

O conhecimento far-se-ia pela descrição dos objectos, num estado de


delírio cromático, em que se procurava saber o “como” das coisas.
Conhecer seria, portanto, descrever. Essa tendência, por utilizar
metáforas e imagens para todos os sentidos (sinestesia), manifesta-se
principalmente na poesia e recebe o nome de Gongorismo (Gôngora,

75
poeta espanhol, é seu primeiro representante). Os adeptos do cultismo
(outro nome que recebe esta forma de produção do conhecimento)
optam por uma linguagem rebuscada, especiosa e rica, alcançada pelo
uso de neologismos, hipérbatos, trocadilhos,

dubiedades e todas as outras figuras de sintaxe que tornam o estilo


pesado, tortuoso e alambicado;

O segundo modo pressupõe a análise dos objectos para lhes conhecer


a essência, saber o que são, conceituá-los. A inteligência e a Razão, sem
prejuízo dos sentidos, são as armas utilizadas para atingir esse
objectivo.

A ordem racionalista, lógica, discursiva substitui o caos plástico da


descrição gongórica. Trata-se, portanto, de uma corrente expressiva
apropriada à prosa: a logicidade não constitui atributo inerente à
poesia. Esse modo recebeu a denominação de Conceptismo.

Para facilitar sua compreensão sobre a Estética Barroca, apresenta-se


no quadro abaixo, uma pequena comparação do modo como é vista a
realidade no Renascimento e no Barroco.

NO RENASCIMENTO A NO BARROCO A REALIDADE É:


REALIDADE É:

1) linear – sentida pela mão; 1) pictória – seguida pela vista;

2) composta em plano, de jeito a 2) composta em profundidade,


ser sentida; de jeito a ser seguida;

3) partes coordenadas de igual 3) partes subordinadas a um


valor; conjunto;

4) fechada, deixando fora o 4) aberta, colocando dentro o


observador; observador;

5) claridade absoluta. 5) claridade relativa.

76
Sumário

O Barroco é originário da Itália (Roma), no século XVII, e rapidamente


se expandiu para outros países europeus, atingindo mais tarde (finais
do séc. XVIII) as colónias espanholas e portuguesas da América Latina e
da Ásia. O termo surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-
Reforma - Os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito
divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado Absolutista)
eram frequentes.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Fale sobre o Barroco.


2. Redija um texto sobre as características de um texto.
3. Apresente as direncas entre o Barroco e o Renascimento.

Questões de Escolha Múltipla

4. Qual é a origem do barroco?


a) O Barroco é originário da Itália (Roma), no século XVII, e
rapidamente se expandiu para outros países europeus,
atingindo mais tarde (finais do séc. XVIII).

b) O Barroco é originário da espanha no século XVII, e rapidamente


se expandiu para outros países europeus, atingindo mais tarde
(finais do séc. XVIII).

c) O Barroco é originário da Itália (Roma), no século XVII, e


rapidamente se expandiu para outros países europeus,
atingindo mais tarde (finais do séc. XVIIV).
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. O termo Barroco surgiu:


77
a) O termo surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-
Reforma-Os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito
divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado
Absolutista) eram frequentes.

b) O termo surgiu desassociado às cortes absolutistas e à Contra-


Reforma-Os temas mitológicos e a pintura que exaltava o direito
divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo Estado
Absolutista) eram frequentes.

c) O termo surgiu associado às cortes absolutistas e à Contra-


Reforma-Os temas mitológicos e a música que exaltava o
direito divino dos reis (teoria defendida pela Igreja e pelo
Estado Absolutista) eram frequentes.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. A inteligência e a Razão, sem prejuízo dos sentidos, são as armas


utilizadas para atingir esse objectivo.
7. Os adeptos do cultismo (outro nome que recebe esta forma de
produção do conhecimento) optam por uma linguagem
rebuscada, especiosa e rica, alcançada pelo uso de neologismos,
hipérbatos, trocadilhos, dubiedades e todas as outras figuras de
sintaxe que tornam o estilo pesado, tortuoso e alambicado.

8. O Barroco não é um fenómeno artístico cronologicamente


delimitado: sua génese remonta a meados do século XVI e
enraiza-se na crise espiritual, moral e cultural desencadeada
pelo progresso e pela decomposição dos valores da Renascença.

9. O Barroco é originário da espanha no século XVII, e rapidamente


se expandiu para outros países europeus, atingindo mais tarde
(finais do séc. XVIII).

10. O vocábulo “barroco” tem etimologia duvidosa: originalmente,


designava um tipo de pérola de formato irregular; de acordo
com a filosofia escolástica, um esquema mnemónico, próprio
para facilitar a memorização.

Questões de Reflexão

11. Fale sobre as Principais características do Barroco.


12. Indique os principais nomes do Gongorismo.

78
Respostas:

4.. A
5.B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro.

UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO


BARROCO PORTUGUÊS

Dois factos importantes ocorridos em 1580, quando se inicia o Barroco


em Portugal, marcam a vida cultural e política do país, a morte de
Camões e a de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir na África. Com
o desaparecimento do rei, o trono português é passado para Felipe II,
da Espanha, sendo Portugal anexado à Espanha e permanecendo sob
seu domínio durante 60 anos.

Esses dois factos, já considerados acima, foram os responsáveis directos


pelo clima de abatimento e pessimismo que levou Portugal a voltar-se
para o seu passado, suas raízes, sua cultura. Nasce daí a exaltação
patriótica que vai limitar-se com o fanatismo religioso.

O anseio de libertação resultou num rol de obras engajadas e


patrióticas, com o objectivo de consagrar e ressaltar a superioridade
portuguesa sobre os castelhanos usurpadores do trono. Essa resistência
lusitana que tinha como foco a restauração e o erguimento do reino,
serviu-se de géneros literários, tais como: a epopeia, a historiografia, a
epistolografia, o sermão e os escritos proféticos.

Os escritores mais importantes do Barroco português são: Padre


António Vieira (cartas, sermões e profecias); Francisco Rodrigues Lobo
(Arte de furtar e Fênix Renascida); D. Francisco Manuel de Melo (Auto
do Fidalgo Aprendiz, Cartas Familiares e Carta de Guia de Casados); Pe.
Manuel Bernardes (Nova Floresta); Manuel de Sousa Coutinho ou Frei
Luís de Sousa (Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires); António José da
Silva, “o Judeu” (Vida do Grande D.
79
Quixote de La Mancha e do gordo Sancho Pança e Guerras do Alecrim e
da Manjerona) e Sóror Mariana Alcoforado (Cartas Portuguesas).

Saiba mais sobre António Vieira:

Padre António Vieira. Os Sermões

Para compreender os sermões do Padre Vieira é preciso ter em mente


as características fundamentais do movimento barroco, de que falamos
atrás. De contorno dilemático contraditório, feito de antítese e
oposições, os sermões do Padre António Vieira correspondem à
preocupação de anular a dicotomia radical existente ser humano,
formado que é de corpo e alma. Padre Vieira, em suas obras, parte
sempre de um facto, observado ou de flagrante presença para de
pronto, galvanizar o ouvinte, chamando-o ao dever de pensar e de
reagir. A impressão que deve causar o peso da escritura, faz-se
acompanhar das consequências de o problema ser colocado de modo
claro, directo, lógico e contundente. Num jogo dialéctico que cessa,
enredando os ouvintes, mas atingido o objectivo: impressioná-los,
traumatizá-los, para levá-los à acção evidenciadora de virtudes. A tensa
dialéctica, com descortinar paradoxos, ambiguidades, sentidos ocultos,
mistérios, ingredientes sobrenaturais, leva às conclusões implícitas nas
premissas. Tendo sempre objectivos morais, como declara no prólogo
do Autor, o Padre Vieira procura convencer para ensinar e orientar,
excitando os fiéis no entendimento das mensagens evangélicas que
pretende transmitir. Examinando as ideias feitas ou dogmáticas diante
do auditório, o Padre enfrenta dificuldades incríveis de raciocínio, que
o poderiam levar a becos sem saída, mas vence-os brilhantemente,
atingidos seus alvos com invulgar eloquência e força de persuasão.

A linguagem, de recorte clássico, apoia-o eficazmente, graças a um


vocabulário bem selecionado e a uma sintaxe riquíssima, aliada ao
poder de revelar insuspeitadas conotações ou afectivas no interior das
palavras. Por esta razão, o Padre tornou-se o verdadeiro modelo de
purismo de linguagem e fonte de conhecimento dum conjunto de
expressões que pôs em uso. Representa, desta forma, o melhor do

80
Barroco português, numa época em que a prosa dava sinais de
maturidade.

Os sermões de Padre António Vieira seguem a estrutura clássica


tripartida: (I) Intróito (exórdio), em que o orador declara o plano a
utilizar na análise do tema em pauta; (II) desenvolvimento (argumento),
em que se apresentam os prós e os contras da proposição e os exemplos
que os abonam; (III) Peroração, em que o orador finaliza a prédica
conclamado os ouvintes à prática das virtudes que nela se enaltecem.

Resumidamente:

1. Exórdio Apresentação do
tema e captação da
atenção do auditório

2. Desenvolviment Narração Narração/explanaçã


o (Exposição) o dos factos

Confirmação Defesa da tese com


(problematização argumentos
, levantar os
problemas)

3. Peroração (discurso final em que se Resumo do que foi


recomenda qualquer coisa) dito e apelo à adesão
dos ouvintes

Os principais sermões referem às questões sociais que discutiu: questão


dos escravos (sermões da série “Rosa Mística); a questão da reacção
contra o invasor holandês (Sermão de Santo António, também chamado
Sermão dos Peixes); a questão dos indígenas (Sermão da Primeira
Dominga da Quaresma, Sermão da Quinta Dominga da Quaresma).

Análise do sermão “Santo António aos Peixes” do Padre António


Vieira8:

8
Cf.
http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/portugues/11_sermao_s_a_peixes_d.htm

81
O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São
Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa com os
colonos portugueses no Brasil. O Sermão de Santo António aos Peixes
constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade
oratória e poder satírico do Padre António Vieira, que toma vários
peixes (o roncador, o pegador, o voador e o polvo) como símbolos dos
vícios daqueles colonos. Com uma construção literária e
argumentativa notável, o sermão tem como objectivo louvar algumas
virtudes humanas e, principalmente, censurar com severidade alguns
vícios dos colonos. Este sermão foi pregado três dias antes de o Padre
António Vieira embarcar ocultamente para Portugal, onde pretendia
obter uma legislação mais justa para os índios, prejudicando assim os
interesses dos colonos europeus. Pode-se especular que a sua saída
precipitada do Brasil se devia, pelo menos em parte, ao receio de
represálias por parte dos colonos.

Exórdio - capítulo I - apresentação do tema que vai ser tratado no


sermão, a partir do conceito predicável (vós sois o sal da terra) e das
ideias a defender e que, geralmente, termina com uma breve
oração, invocando a Virgem. Esta parte reveste-se de grande
importância dado que é o primeiro passo para captar a atenção e
benevolência dos ouvintes.
Exposição e confirmação - capítulos II a V - Retoma a explicitação do
assunto, com uma breve explicação da organização do discurso;
desenvolvimento e enumeração dos argumentos, contra-
argumentos, seguidos de exemplos e/ou citações. A exposição situa-
se desde o início do capítulo II até … Santo António abria a sua [boca]
contra os que não se queriam lavar. No capítulo III; e a confirmação
começa a partir de Ah moradores do Maranhão, enquanto eu vos
pudera agora dizer neste caso! e termina no final do capítulo V.
Peroração/epílogo - capítulo VI - conclusão do raciocínio com
destaque para os argumentos mais importantes. Saliente-se que
esta é a parte que a memória dos ouvintes melhor retém, pelo que
deverá conter os aspectos principais desenvolvidos no sermão, de
modo a deixar clara a mensagem veiculada e a levar os ouvintes a
pôr em prática os seus ensinamentos.
Estrutura interna do sermão
Exórdio: o Padre António Vieira apresenta o conceito predicável,
“Vós sois o sal da Terra” e explica as razões pelas quais a terra está
tão corrupta. Ou a culpa está no sal (pregadores), ou na terra
(ouvintes). Se a culpa está no sal, é porque os pregadores não
pregam a verdadeira doutrina, ou porque dizem uma coisa e fazem
outra ou porque se pregam a si e não a Cristo. Se a culpa está na
terra, é porque os ouvintes não querem receber a doutrina, ou antes
imitam os pregadores e não o que eles dizem, ou porque servem os
seus apetites e não os de Cristo.

82
Exposição e confirmação
Capítulo II - contempla os louvores aos peixes de carácter geral, que
são os seguintes:
. Ouvem e não falam;
. Foram os primeiros seres que Deus criou (vós fostes os primeiros
que Deus criou);
. São melhores que os homens (e nas provisões (...) os primeiros
nomeados foram os peixes);
. Existem em maior número (entre todos os animais do mundo,
os peixes são os mais e os maiores);
. Revelam obediência (aquela obediência, com que chamados
acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor);
. Revelam respeito e devoção (aquela ordem, quietação e atenção
com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo
António. (...) Os homens perseguindo a António (...) e no mesmo
tempo os peixes (...) acudindo a sua voz, atentos e suspensos às
suas palavras, escutando com silêncio (...) o que não entendiam.);
. Não se deixam domesticar (só eles entre todos os animais se não
domam nem domesticam)
Estas qualidades são, por antítese, os defeitos dos homens.
Capítulo III – contempla igualmente os louvores aos peixes, mas
agora de carácter particular e apenas dos seguintes peixes:
do peixe de tobias: cura a cegueira [(...) sendo o pai do Tobias cego,
aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou
inteiramente a vista] e seu coração expulsa os demónios [(...) tendo
um demónio chamado Asmodeu morto sete maridos a Sara, casou
com ela o mesmo Tobias; e queimando na casa parte do coração,
fugiu dali o demónio e nunca mais tornou];
da rémora: é pequena no corpo mas grande na força e no poder
[“(...) se se pega ao leme de uma nau da índia (...) a prende e amarra
mais que as mesmas âncoras, sem se poder mover, nem ir por
diante.”; “Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta
força como a do mar, que menos perigos haveria na vida, e que
menos naufrágios no mundo!”; “(...) a virtude da rémora, a qual,
pegada ao leme da nau, é freio da nau e leme do leme”];
do torpedo: faz descargas eléctricas para se defender e,
consequentemente, faz passar o bom e a virgindade do Espírito
Santo (Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a bóia
sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe
tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável
efeito? De maneira que, num momento, passa a virtude do
peixezinho, da boca ao anzol, do anzol, à linha, da linha à cana e da
cana ao braço do pescador);

83
do quatro-olhos: vê para cima e para baixo – dois olhos voltados
para cima para vigiarem as aves e dois olhos voltados para baixo para
vigiarem os peixes – e representa a capacidade de distinguir o bem
do mal (céu/inferno) ["Esta é a pregação que me fez aquele
peixezinho, ensinando-me que, se tenho fé e uso da razão, só devo
olhar direitamente para cima, e só direitamente para baixo: para
cima, considerando que há Céu, e para baixo, lembrando-me que há
Inferno"].
Todos estes louvores que Padre António Vieira faz aos peixes são
antíteses aos defeitos dos homens, assim simbolizando os seus
vícios.
Capítulo IV – repreensão dos peixes em geral:
. Comem-se uns aos outros [(...) é que vos comedes uns aos
outros];
. Os peixes grandes comem os mais pequenos (não só vos comeis
uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos);
. “Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para
muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos,
não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande”.
Capítulo V – repreensão em particular
dos roncadores: embora tão pequenos, roncam bastante,
simbolizando assim os arrogantes (É possível que sendo vós uns
peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);
dos pegadores: sendo pequenos, pregam-se nos maiores, não os
largando mais e simbolizando os oportunistas e os parasitas
(Pegadores se chamam estes de que agora falo, e com grande
propriedade, porque sendo pequenos não só se chegam a outros
maiores, mas de tal sorte se lhe pegam aos costados, que jamais os
desferram);
dos voadores: sendo peixes, também se metem a ser aves,
simbolizando os vaidosos [Dizei-me, voadores, não vos fez Deus para
peixes? Pois porque vos metei a ser aves? (...) Contentai-vos com o
mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes];
dos polvos: tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo,
mas na essência é traiçoeiro, maldoso e hipócrita e faz-se de amigo
dos outros e no fim, representando assim os traidores e os hipócritas
“abraça-os” [E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta
hipocrisia tão santa (...) o dito polvo é o maior traidor do mar].
Peroração: o orador retoma os pregadores de que falava no conceito
predicável, servindo-se dele próprio como exemplo alegando que
não estava a cumprir a sua função. Alega também que ele (homens)
e os peixes, nunca vão chegar ao sacrifício final, uma vez que os
peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito. Padre
António Vieira diz que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto
dos peixes, são melhores do que a
84
racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a
vontade do homem.
Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a
Deus, tornando esta última parte do sermão um pouco mais familiar,
para que se estabeleça de novo a proximidade entre os ouvintes e o
orador.
Recursos estilísticos predominantes
O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida
em que os peixes são a personificação dos homens. O Padre António
Vieira toma como ponto de partida uma frase bíblica
irrefutavelmente aplicável às condições políticas e sociais da sua
época. A pessoa gramatical privilegiada é, obviamente, a segunda,
visto que o seu objectivo é persuadir e contar com a adesão dos
ouvintes.
Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem
grande coesão e coerência textual graças à utilização de recursos
estilísticos, nomeadamente: a anadiplose, a antítese, a apóstrofe, a
comparação, o paralelismo, a anáfora, a enumeração, a exclamação
retórica, a gradação crescente, a interrogação retórica, a ironia, a
metáfora, o paradoxo, o quiasmo e o trocadilho.

Sumário

Nesta unidade temática, vimos que o início do Barroco em Portugal é


marcado por dois factos importantes que modificam a vida cultural e
política do país, a morte de Camões e a de D. Sebastião na Batalha de
Alcácer-Quibir na África. Este último evento acarreta a incorporação de
Portugal ao domínio espanhol, sob o qual permanece durante 60 anos.
Desse modo, o Barroco acontece em meio ao fracasso económico,
estagnação cultural, recrudescimento da inquisição, Sebastianismo e
patriotismo, além de uma crise de identidade do povo português que
se esforça em preservar sua cultura e sua língua, embora perceba a
impossibilidade de ignorar as influências culturais espanholas. Quanto
às principais características, destacamos o seguinte dualismo: razão e
emoção; o medievalismo e renascimento; o conceptismo e cultismo.
Dentre os vários desse movimento literário, apontamos o principal, que
é o Padre António Vieira que se dedicou a uma actividade literária
bastante diversificada, compreendendo sermões, cartas e obras
proféticas. Considerado o maior prosador barroco, pertence tanto à
literatura portuguesa quanto à brasileira, era conceptista e não apenas
religioso, mas político e profético. E, por fim apresentamos as principais
características do sermão de Santo António aos Peixes proferido na
cidade de São Luís do Maranhão em 1654, na sequência de uma disputa
com os colonos portugueses no Brasil.

85
AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Escolha Múltipla

1. Padre António Viera é o autor de:


a) Sermão de Santo António aos Peixes.
b) Niketche
c) O Último Voo do Flamingo
d) Babalaza.
2. O Barroco acontece em meio:
a) ao sucesso económico, estagnação cultural, recrudescimento da
inquisição, Sebastianismo e patriotismo, além de uma crise de
identidade do povo português que se esforça em preservar sua
cultura e sua língua, embora perceba a impossibilidade de ignorar as
influências culturais espanholas.
b) ao fracasso económico, estagnação cultural, recrudescimento da
inquisição, Sebastianismo e patriotismo, além de uma crise de
identidade do povo português que se esforça em preservar sua
cultura e sua língua, embora perceba a impossibilidade de ignorar as
influências culturais espanholas.
c) ao fracasso económico, dinâmica cultural, recrudescimento da
inquisição, Sebastianismo e patriotismo, além de uma crise de
identidade do povo português que se esforça em preservar sua
cultura e sua língua, embora perceba a impossibilidade de ignorar as
influências culturais espanholas.
d) Todas as alternativas estão Correctas.

3. O Sermão de Santo António aos peixes é uma alegoria, na medida


em:
a) que os peixes são a personificação dos homens.
b) que os peixes são a personificação dos macacos.
c) que os peixes são a personificação das flores.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Em o Sermão de Santo António aos Peixes,A pessoa gramatical


privilegiada é, obviamente, a:
a) segunda, visto que o seu objectivo é persuadir e contar com a
adesão dos falantes.
b) terceira, visto que o seu objectivo é persuadir e contar com a
adesão dos ouvintes.
c) segunda, visto que o seu objectivo é persuadir e contar com a
adesão dos ouvintes.

86
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de


São Luís do Maranhão em:
a) 1654, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no
Brasil.
b) 1655, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no
Brasil.
c) 1656, na sequência de uma disputa com os colonos portugueses no
Brasil.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso


6. Dois factos importantes ocorridos em 1580, quando se inicia o
Barroco em Portugal, marcam a vida cultural e política do país, a
morte de Camões e a de D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir na
África.
7. Esses dois factos, já considerados acima, foram os responsáveis
indirectos pelo clima de abatimento e pessimismo que levou Portugal
a voltar-se para o seu passado, suas raízes, sua cultura. Nasce daí a
exaltação patriótica que vai limitar-se com o fanatismo religioso.

8. O anseio de libertação resultou num rol de obras engajadas e


patrióticas, com o objectivo de consagrar e ressaltar a superioridade
portuguesa sobre os castelhanos usurpadores do trono.

Questões de Reflexão

9. Fale da Vida e Obra de Padre António Viera.


10. Identifique o exordio no texto apresentado.

Respostas:

1. A
2. B
3. A
4. C
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro

87
88
UNIDADE TEMÁTICA: A PRODUÇÃO LITERÁRIA NO
BARROCO BRASILEIRO

As manifestações literárias do Barroco iniciaram-se com a publicação do


Poema Prosopopeia9, de Bento Teixeira, em 1601, e encerram-se,
teórica e oficialmente, em 1768, com a fundação da arcádia
Ultramarina e a publicação de Obras de Poéticas, de Cláudio Manuel da
Costa.

No Brasil, o Barroco apresenta uma forma mais exuberante, tanto que


nas artes plásticas como na arquitectura, só ocorreu no século XVIII,
com as igrejas baianas e mineiras, as esculturas de Aleijadinho, pinturas
de Ataíde e a música de Lobo Mesquita e José Maurício Nunes Garcia.
Observe-se que o Barroco literário não coincidiu, portanto com outras
manifestações culturais.

No tocante à produção literária, o Barroco brasileiro foi fruto de


manifestações isoladas, visto que a Colónia ainda não dispunha de
grupo intercomunicativo de escritores, nem de um público leitor
influente, nem de vida cultural intensa, situação agravada pela
proibição da imprensa e pela falta de Liberdade de Expressão. Reflexo
da literatura na Península Ibérica, a produção dessa época também
revela a crise do homem do século XVII, dividido entre os valores
antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento
medievo reabilitado pela Contra-Reforma. Essa tensão manifesta-se no
confronto pecado/perdão, terreno/celestial, vida/morte, amor
platónico/amor carnal, fé/razão, céu/inferno.

Como as outras artes, a literatura empregou uma linguagem adequada


à monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento
formal, ao abusar da:

(I) antítese, que reflectem a contradição do homem barroco,


seu dualismo;

(II) metáforas, que revelam as semelhanças subjectivas que o


poeta descobre na realidade e a tentativa de apreendê-la
pelos sentidos;

9
Trata-se de uma imitação de Os Lusíadas, cujo objectivo é louvar Jorge
d’Albuquerque Coelho, donatário de Pernambuco

89
(III) hipérboles, que traduzem a pompa, a grandiosidade do
Barroco;

(IV) a utilização frequente de interrogações, que revelam a


incerteza e inconsistência.

Há duas correntes barrocas na literatura, nomeadamente:

Cultismo: estilo marcado pelo rebuscamento formal que abusa de


antíteses, paradoxos, hipérboles, jogos de palavras, ordem inversa. Essa
tendência é também chamada de gongorismo, devido à influência do
poeta espanhol Luís de Gôngoras.

Cepticismo – estilo desenvolvido sobretudo na prosa, preocupado em


expor ideias e conceitos por meio de raciocínio lógico.

No Barroco literário destacam-se Gregório de Matos Guerra e Padre


António Vieira (também estudado em Barroco português), entre outros.

Gregório de Matos guerra é natural de Bahia, Brasil. Escreve sátiras, que


lhe valeram o apelido de “Boca do inferno” e foram responsáveis da sua
expulsão de Portugal, onde se formara. Sua obra não foi publicada na
época, estava proibido de o fazer, só veio a ser depois, no final do século
XIX, pela Academia Brasileira de Letras. Sobre as pegadas europeias,
Guerra escreveu uma lírica que engloba poesias amorosas, religiosas,
satíricas e filosóficas. Nas amorosas está presente o dualismo
corpo/alma, mulher-anjo/mulher-demónio. Nas filosóficas discute-se
os temas da transitoriedade de vida, da passagem do tempo, da
instabilidade das coisas e do desconcerto do mundo. Nas sacras
manifesta-se o conflito pecado/perdão, vida mundana/busca da
pureza. Em suas poesias satíricas, encontram-se termos indígenas e
africanos, gírias, palavrões e expressões locais. Nelas, Gregório satiriza
o clero, os administradores portugueses, a sociedade baiana da época
e até o rei.

No período barroco, apareceram no Brasil as primeiras academias


literárias centralizadas na Bahia. Em 1724, funda-se a Academia
Brasílica dos Esquecidos e, em 1759, a Academia Brasílica dos
Renascidos. Elas foram muito importantes porque, além de
intensificarem o sentimento nativista, representam a primeira tentativa
de intercomunicabilidade literária (reuniram intelectuais e escritores e
estabeleceram uma aproximação cultural entre os principais centros
urbanos de então) e de contacto com o público.

90
Sumário

Nesta unidade temática, vimos que as manifestações literárias do


Barroco iniciaram-se com a publicação do Poema Prosopopeia, de
Bento Teixeira, em 1601, e encerram-se, teórica e oficialmente, em
1768, com a fundação da arcádia Ultramarina e a publicação de Obras
de Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa. Mas também, como as outras
artes, a literatura empregou uma linguagem adequada à
monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento
formal, ao abusar da antítese, metáforas, hipérboles e utilização
frequente de interrogações. Vimos ainda que há duas correntes
barrocas na literatura, nomeadamente: Cultismo e o Cepticismo. Para
terminar, dissemos que no Barroco brasileiro destacam-se os nomes
como Gregório de Matos Guerra e Padre António Vieira (também
estudado no Barroco português), entre outros.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Quando é que iniciaram as manifestações literárias?


2. Como se manifesta o barroco no brasil?
3. Qual é a liguangem que a literatura adoptou?

Questões de Escolha Múltipla

4. Gregório de Matos Guerra é natural de:


a) Bahia, Brasil.
b) Beira Mocambique.
c) Acores, Portugal.
d) Rio de janeiro, Brasil.

5. Sobre as pegadas europeias, Guerra escreveu:


a) uma lírica que não engloba poesias amorosas, religiosas,
satíricas e filosóficas.
b) uma lírica que engloba poesias amorosas, religiosas, satíricas e
filosóficas.
c) uma lírica que engloba poesias amorosas, religiosas, satíricas e
matemáticas.
d) Todas as alternativas estão correctas.

91
Questões de Verdadeiro e Falso

6. No Barroco brasileiro destacam-se os nomes como Gregório de


Matos Guerra e Padre António Vieira (também estudado no
Barroco português), entre outros.
7. No período barroco, apareceram no Brasil as primeiras
academias literárias centralizadas na Bahia.
8. Cepticismo não é estilo desenvolvido sobretudo na prosa,
preocupado em expor ideias e conceitos por meio de raciocínio
lógico.
9. Gregório de Matos Guerra é natural de Bahia, Brasil.
10. Nas sacras manifesta-se a paz pecado/perdão, vida
mundana/busca da pureza.

Respostas:

4.. A

5. B

6. Verdadeiro

7. Verdadeiro

8. Falso

9. Verdadeiro

10. Falso

92
UNIDADE TEMÁTICA: O ARCADISMO OU
NEOCLASSICISMO NO BRASIL

Didacticamente, o Arcadismo iniciou-se em 1768 com a publicação de


obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, e com a fundação da
Arcádia Ultramarima, em Vila Rica. Esse Período encerrou-se com a
chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando
se iniciou o período de transição para o Romantismo.

O Neoclassicismo foi uma reacção ao estilo extravagante do Barroco e


representou um retorno à simplicidade, sobriedade e equilíbrio
clássicos, que se refletiram na arquitetura e na escultura. A pintura
inspirou-se em temas históricos e na mitologia clássica.

Na literatura, o arcadismo insurgiu-se contra os exageros do Barroco,


produzindo uma poesia que retornar à simplicidade clássica e
renascentistas. No Brasil, ocorreu um entrosamento acentuado entre a
vida intelectual e preocupações político-sociais: o selvagem foi
valorizado, houve uma visão crítica da política colonial e um crescente
nativismo. Dois, pelo menos, foram os princípios do Arcadismo,
nomeadamente:

(I) Fuga da cidade em busca do lugar


ameno, aprazível: o poeta voltava-se
para a natureza, para o campo à
procura de uma vida simples,
bucólica, longe dos centros urbanos;

(II) Os árcades queriam eliminar todos os


excessos barrocos, por isso usavam
simples, períodos curtos e mais
comparações metafóricas.

Entre os escritores árcades, encontramos Tomás António Gonzaga,


Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa. Este último, a sua obra é
a que melhor se ajustou aos padrões do Arcadismo europeu. O poeta
cultivou a poesia Lírica e a Épica.

Na Lírica, tem destaque o tema de Desilusão Amorosa. A situação mais


comum em seus sonetos é Glauceste, o eu-Lírico pastor, lamentar-se
por não ter correspondido por uma musa inspiradora, Nisa10. Ou, então,

10
Nisa é uma mulher personagem fictícia, incorpórea, presente apenas pela situação
nominal. Não se manifesta na relação amorosa, não é descrita fisicamente, nem da
qualquer mostra de corresponder alguém de verdade. Apenas representa o ideal da
mulher amada inalcançável – nítido traço de reaproveitamento do neoplatonismo
renascentista.

93
lastima-se por se encontrar num lugar de grande beleza natural, mas
não estar acompanhado pela mulher amada.

Também conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste


Satúrnio, seu pseudónimo, Cláudio Manuel da Costa traz os temas que
giram em torno das reflexões morais e das contradições da vida com
forte inspiração nos modelos barrocos.

Posteriormente, dedicou-se à poesia bucólica e pastoril na qual a


natureza funciona como um refúgio para o poeta que busca a vida longe
da cidade e reflete o as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa
inacessível Nise. Estes poemas fazem parte do conjunto intitulado
Obras (1768).

Cláudio Manoel da Costa também se dedicou à exaltação dos


bandeirantes, fundadores de inúmeras cidades da região mineradora e
desbravadores do interior do país e de contar a história da cidade de
Ouro Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).

Veja um exemplo de sua poesia bucólica

Eu ponho esta sanfona, tu, Palemo,


Porás a ovelha branca, e o cajado;
E ambos ao som da flauta magoado
Podemos competir de extremo a extremo.

Principia, pastor; que eu te não temo;


Inda que sejas tão avantajado
No cântico amebeu: para louvado
Escolhamos embora o velho Alcemo.

Que esperas? Toma a flauta, principia;


Eu quero acompanhar-te; os horizontes
Já se enchem de prazer, e de alegria:

Parece, que estes prados, e estas fontes


Já sabem, que é o assunto da porfia
Nise, a melhor pastora destes montes.

Pouco importa, formosa Daliana,


Que fugindo de ouvir-me, o fuso tomes;
Se quanto mais me afliges, e consomes,
Tanto te adoro mais, bela serrana.

94
Nisa? Nisa? Onde estás? Aonde espera

Achar-te uma alma, que por ti suspira;

Se quanto a vista se dilata, e gira,

Tanto mais de encontrar-te desespera.

Formoso e manso gado, que pascendo

A relva andais por entre o verde prado,

Venturoso rebanho, feliz gado,

Que à bela Antandra estás obedecendo.

Sim, que para lisonja do cuidado

Testemunhas serão de meu gemido

este monte, este vale, aquele prado.

Na épica, Cláudio escreveu Vila Rica, poema inspirado nas europeias


clássicas, que se trata da penetração bandeirante, de descoberta das
minas.

Vila Rica
Canto VI

Levados de fervor, que o peito encerra


Vês os Paulistas, animosa gente,
Que ao Rei procuram do metal luzente
Co'as próprias mãos enriquecer o erário.
Arzão é este, é Este, o temerário,
Que da Casca os sertões tentou primeiro:
Vê qual despreza o nobre aventureiro,
Os laços e as traições, que lhe prepara
Do cruento gentio a fome avara.

95
Sumário

O Arcadismo iniciou-se em 1768 com a publicação de obras Poéticas, de


Cláudio Manuel da Costa, e com a fundação da Arcádia Ultramarima,
em Vila Rica. Esse Período encerrou-se com a chegada da Família Real
portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando se iniciou o período de
transição para o Romantismo.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Reflita sobre o conceito de do Arcadismo.


2. Quais são os temas mais recotrrentes na lírica?

Questões de Escolha Múltipla

3. O Arcadismo iniciou-se em:


a) 1768 com a publicação de obras Poéticas, de Cláudio
Manuel da Costa, e com a fundação da Arcádia
Ultramarima, em Vila Rica.
b) 1770 com a publicação de obras Poéticas, de Cláudio
Manuel da Costa, e com a fundação da Arcádia
Ultramarima, em Vila Rica.
c) 1789 com a publicação de obras Poéticas, de Cláudio
Manuel da Costa, e com a fundação da Arcádia
Ultramarima, em Vila Rica.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. O arcadismo encerrou-se coma:


a) a ida da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em
1808, quando se iniciou o período de transição para o
Romantismo.
b) a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro,
em 1808, quando se iniciou o período de transição para
o Romantismo.
c) a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro,
em 1808, quando se iniciou o período de intransição
para o Romantismo.

96
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. Cláudio Manoel da Costa também se dedicou à:

a) exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras


cidades da região mineradora e desbravadores do
interior do país e de contar a história da cidade de Ouro
Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).

a) exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras


cidades da região mineradora e desbravadores do
interior do país e de contar a história da cidade de Ouro
Preto no poemeto épico Vila Rica (1770).
b) exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras
cidades da região mineradora e desbravadores do
interior do país e de contar a história da cidade de Ouro
Preto no poemeto épico Vila Rica (1775).
c) exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras
cidades da região mineradora e desbravadores do
interior do país e de contar a história da cidade de Ouro
Preto no poemeto épico Vila Rica (1707).
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. O Arcadismo iniciou-se em 1768 com a publicação de


obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, e com a
fundação da Arcádia Ultramarima, em Vila Rica.
7. O Arcadismo encerrou-se com a chegada da Família Real
portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando se
iniciou o período de transição para o Romantismo.
8. Entre os escritores árcades, encontramos Tomás António
Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Almeida Gaguerret e
Cláudio Manuel da Costa.
9. Cláudio Manoel da Costa também não se dedicou à
exaltação dos bandeirantes, fundadores de inúmeras
cidades da região mineradora e desbravadores do
interior do país e de contar a história da cidade de Ouro
Preto no poemeto épico Vila Rica (1773).
10. Na literatura, o arcadismo insurgiu-se contra os exageros
do Barroco, produzindo uma poesia que retornar à
simplicidade clássica e renascentistas.

97
Respostas:
3.A
4. B
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso

10.. Verdadeiro

TEMA 5. O ROMANTISMO

Introdução

O período da literatura marca o nascimento científico, abandono do


teocentrismo e o fim do feudalismo possui dois nomes. O movimento
surgiu na Itália, nesse país, o nome é Renascimento. Em Portugal, o
nome do movimento literário é Classicismo. Basicamente os dois tratam
da mesma coisa, o retorno das artes clássicas (greco-romanas).

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

✓ Caracterizar o contexto político e


histórico-cultural em que se gerou e se
Objectivos desenvolveu o Romantismo.

✓ Comentar o tratamento dado à paisagem


brasileira no Romantismo;
✓ Caracterizar os diferentes momentos do
Romantismo.

98
UNIDADE TEMÁTICA: CARACTERÍTICAS GERAIS DO ROMANTISMO

O Romantismo é a expressão literária e plástica da consciência


burguesa. Acredita no progresso, porque o progresso foi a mola
económica da burguesia; entoa o canto da liberdade, porque para o
burguês parece evidente que a liberdade não é senão o exercício do
poder por ele próprio; exalta o sentimento contra a barreira das
convenções, porque o sentimento é ele e as convenções são as
sobrevivências das barreiras sociais que ainda se opõem à sua
caminhada triunfal; inventa a alma do povo, ou o espírito nacional,
porque se considera o legítimo representante desses mitos; reinventa a
história porque a história lhe permite reconstituir um pergaminho
colectivo e apresentar-se como sendo ele o verdadeiro nobre, o
representante das gerações que, durante séculos, desbravaram o
caminho da liberdade.

A vida cultural do Ocidente sofreu grande transformação na segunda


metade do século XVIII com o surgimento da burguesia moderna, do
individualismo e da valorização da originalidade, factos que
destronaram a concepção de estilo como comunidade espiritual.

A burguesia, rica e influente, ascende ao poder com a Revolução


Francesa de 1789. A partir dessa ascensão, manifesta um padrão
artístico próprio, opõe à aristocracia sua peculiaridade e afirma sua
própria linguagem, que se impõe, por oposição, aos padrões
aristocráticos. Essa linguagem contrapõe à frieza da inteligência, a
emoção e o sentimento; à opressão das regras artísticas, a
insubordinação do génio criador.

Em 1774, Goethe publica, na Alemanha, Werther, lançando, assim, as


bases definitivas do sentimentalismo romântico e do escapismo pelo
suicídio. Schiller, em 1781, publica Os Salteadores e inaugura a volta ao
passado histórico. Na Inglaterra, o Romantismo se manifesta nos
primeiros anos do século XIX. Lord Byron e sua poesia ultra-romântica
e Walter Scott, com seu romance histórico são os autores que marcam
o surgimento da nova estética. A Alemanha e a Inglaterra foram as
pioneiras da nova tendência, mas coube à França o papel de
divulgadora do Romantismo, que rompe com a tradição clássica e busca
inspiração no nacionalismo, no liberalismo e nas tradições da cultura
popular.

99
No plano das teorias, das ideias e de temas literários, os românticos,
repudiando os clássicos ou neoclássicos, revoltam-se contra as regras,
os modelos, as normas, lutam pela total liberdade na criação artística e
defendem a mistura e a impureza dos gêneros literários: a aventura no
lugar da ordem clássica; o caos no lugar do cosmos, como sinônimo de
equilíbrio; um conceito de arte extremamente individualista no lugar do
universalismo clássico; a visão microscópica, centrada no “eu” interior
de cada um, no lugar da visão macroscópica que os clássicos possuíam
da vida e da arte. O “eu” é o centro do universo.

Sumário
Estudamos, nesta unidade, que o Romantismo é a expressão literária e
plástica da consciência burguesa. Acredita no progresso, porque o
progresso foi a mola económica da burguesia; entoa o canto da
liberdade; exalta o sentimento contra a barreira das convenções;
inventa a alma do povo, ou o espírito nacional e, reinventa a história.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Discorra sobre o romantismo.


2. Fale sobre a influncia da revolução francesa no romantismo.
Questões de Escolha Múltipla

3. O que é o Romantismo?
a) É a expressão literária e plástica da consciência burguesa.
b) É a expressão literária e plástica da consciência romana.
c) É a expressão literária da consciência burguesa.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Quando é que se manifesta o romantismo?


a) Romantismo se manifesta nos primeiros anos do século XIX.
b) Romantismo se manifesta nos primeiros anos do século XX.
c) Romantismo se manifesta nos primeiros anos do século XIV.
d) Todas as alternativas estão correctas.

100
5. A Alemanha e a Inglaterra foram as pioneiras da nova
tendência, mas coube à:
a) Portugal o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe
com a tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
b) França o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe com
a tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
c) Iltalia o papel de divulgadora do Romantismo, que rompe com a
tradição clássica e busca inspiração no nacionalismo, no
liberalismo e nas tradições da cultura popular.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. Em 1774, Goethe publica, na Alemanha, Werther, lançando,


assim, as bases definitivas do sentimentalismo romântico e do
escapismo pelo suicídio.
7. A Alemanha e a Inglaterra não foram as pioneiras da nova
tendência, mas coube à França o papel de divulgadora do
Romantismo, que rompe com a tradição clássica e busca
inspiração no nacionalismo, no liberalismo e nas tradições da
cultura popular.
8. Em 1774, Goethe publica, na Alemanha, Werther, lançando,
assim, as bases definitivas do sentimentalismo romântico e do
escapismo pelo suicídio.
9. O Romantismo é a expressão literária e plástica da consciência
burguesa.
10. Na Inglaterra, o Romantismo se manifesta nos primeiros anos
do século XIX.

Respostas:
3.. A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
101
10. Verdadeiro

102
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO EM PORTUGAL

Objectivos
• Destacar a importância do Romantismo na sociedade portuguesa;

• Reconhecer no Romantismo a inovação dos escritos de Garrett.

O Romantismo português normalmente é associado à revolução liberal


de 1834. Essa revolução representa um corte com a tradição, pois
confiscou os bens da nobreza, da Igreja e aboliu as ordens religiosas. Era
necessário criar uma nova literatura, com novas formas e novos temas,
para uma nova sociedade, uma vez que os românticos da primeira
geração ainda estavam muito ligados aos árcades. Didacticamente,
costuma-se dividir o romantismo em três fases:

a) 1ª Fase (de 1825 a 1838): momento, ainda, em que actuam os valores


neoclássicos. São representantes dessa fase Almeida Garret, Alexandre
Herculano e António Feliciano de Castilho.

b) 2ª Fase (de 1838 a 1860): há, então, a incorporação do chamado


movimento ultra-romântico. Camilo Castelo Branco é seu principal
representante.

c) 3ª Fase (de 1860 a 1865): fase de transição para o Realismo. Tem


como representantes Júlio Dinis e João de Deus.

Os escritores portugueses procuram ambientar seus romances na Idade


Média, tentando recuperar ideais de honra e coragem. Esta tendência
dá forte cunho nacionalista às obras do Romantismo português, pois ao
evocar o passado, exalta-se a Pátria, cultuam-se as tradições lusitanas.
Trata-se da evocação saudosista de um passado de glórias.

O primeiro "momento" romântico, que se desenvolve mais ou menos


entre 1825 a 1838, foi encabeçado, em Portugal, por Almeida Garret,
com a publicação, em 1825, do poema Camões, obra que, apesar de não
representar fielmente os ideais românticos, traz consigo algumas
características deste movimento literário.

103
João Batista Leitão de

Almeida Garrett

(1799-1854)

Suas produções literárias revelam, na forma e no conteúdo, as


contradições ideológicas em que se debateu e, também, as
contradições de sua personalidade, particularmente no que ela possuía
de conservadora e de revolucionária. Garrett formou-se dentro do
Arcadismo. O Arcadismo, para ele, era um movimento revolucionário
em oposição ao gongorismo barroco.

A partir do exílio, na Inglaterra e posteriormente na França, Garrett,


através destas circunstâncias, parece ter compreendido a necessidade
de existir um novo género de relações entre o escritor romântico e o
novo público, isto é, os espectadores do escritor passam a ser o povo e
burguesia, e a sua obra a maneira de chegar até este. Segundo Garrett,
o novo público desejava assuntos sentimentais e focados na
recuperação do nacionalismo posto de lado pela cultura clássica. O seu
principal modelo literário é Filinto Elísio.

Após os vendavais da política portuguesa, Garrett torna-se um dos


intelectuais do regime liberal e, em 1836, é encarregado de fundar e
organizar um teatro nacional. Sua obra constitui-se de poesia, prosa de
ficção e teatro. Na poesia destacam-se: O Retrato de Vênus (1821); A
lírica de João Mínimo (1829); Camões (1825); Dona Branca (1826);
Flores sem fruto (1845) e Folhas Caídas (1853). Na prosa de fi cção: O
Arco de Santana (1845-1850); Viagens na Minha Terra (1846) e Helena
(1871). No teatro: Catão (1822), Mérope (1841), Um Auto de Gil Vicente
(1842); D. Filipa de Vilhena (1846), O Alfageme de Santarém (1842) e a
obra-prima do teatro romântico português: Frei Luis de Sousa (1844).

Este poema está dividido em Dez cantos, cada um composto por um


número irregular de estrofes. O verso dá preponderância ao

104
decassílabo branco, mas alguns deles mal disfarçam redondilhas. Não
obedecera, pois, aparentemente a nenhuma das formas fixas
determinadas nos tratados tradicionais, embora comece com uma
invocação a saudade como Musa, que um pouco adiante é chamada de
“deusa”

CARACTERÍSTICAS DAS PERSONAGENS EM FREI LUÍS DE SOUSA

Madalena de Vilhena
É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo
passado. Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõem-se à razão e é
uma mulher em constante sofrimento. Crê em agoiros, superstições e
dias fatais (a sexta-feira). É uma sofredora, tem um amor intenso e uma
preocupação constante com a filha Maria, contudo, coloca acima de
tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel de Sousa, mesmo o seu
amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel. No final da obra,
aceita o convento como solução, mas fá-lo seguindo Manuel (ele foi?
Eu vou)

Manuel de Sousa Coutinho


É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por
valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade; é um patriota,
um velho português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio),
bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em
agoiros. O incêndio e a decisão violenta de o concretizar é um traço
romântico.

Contudo, esta personagem evolui de uma atitude interior de força e de


coragem e segurança para um comportamento de medo, de dor,
sofrimento, insegurança e piedosa mentira no acto III quando teme pela
saúde da filha e pela sua condição social.

No final da obra, mostra-se tão decidido como noutros momentos:


abandona tudo (bens, vida, mundo) e refugia-se no convento.

Maria de Noronha
É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil;
psicologicamente é muito forte). Nobre, de inteligência precoce, é
muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É
uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa,
patriota, crente em agoiros e uma
105
sebastianista. É a vítima inocente de toda a situação e acaba por morrer
fisicamente, tocada pela vergonha de se sentir filha ilegítima (está
tuberculosa).

D. João de Portugal
Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II acto da peça.
Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na
consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de
Maria.

É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei;
quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa
um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade,
mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então
a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos
mortos (é “ninguém”; madalena não o reconhece; Telmo preferia que
ele não tivesse voltado pois Maria ocupou o seu lugar no coração do
velho escudeiro):

D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa


dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e
sem identidade na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.

Telmo Pais

É o velho aio, não é nobre, contudo a sua convivência com as famílias


nobres, “deu-lhe” todas as características de um nobre (postura, fala,
educação, cultura...).

É o confidente de Madalena e de Maria. Fiel, dedicado, é o elo entre


as duas famílias (os dois maridos de Madalena), é a chama viva do
passado que alimenta os terrores de Madalena.

É muito crítico, cria juízos de valor e é através dele que consciência das
personagens fragmentada que vive num profundo conflito interior pois
sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer. É um
sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.

106
Frei Jorge
Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja. É
também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu
“Terrível” pecado: amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo. É uma
figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os
sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador,
pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o
equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.

Vale a pena ler esta estrofe.

Canto I

Saudade! Gosto, amargo de infelizes,

Delicioso pungir de acerbo espinho,

Que me estás repassando o íntimo peito

Com dor que os selos d’alma dilacera,

_Mas dor que tem prazeres _ saudade!

Misterioso númen, que aviventas

Corações que estalaram, e gotejam

Não já sangue de vida, mas delgado

Soro de estanques lágrimas _ saudade!

Mavioso nome que tão meigo soas

Nos lusitanos lábios, não sabido

Das orgulhosas bocas dos Sicambros

Destas alheias terras _ Oh saudade!

Mágico númen que transportas a alma

Do amigo ausente ao solitário amigo

Do vago amante à amada inconsolável,

E até ao triste ao infeliz proscrito

107
_dos entes o misérrimo na terra _

Ao regaço da pátria em sonhos levas,

Cruel é o despertar! _ Celeste ninguém

Se já teus dons cantai e os teus rigores

Em sentidas endechas, se piedoso

Em teus altares húmidos de pranto

Depus o coração que inda arquejava

Quando o arranquei do peito malsofrido

À foz do Tejo _ ao Tejo, ó deusa, ao Tejo

Me leva o pensamento que esvoaça

Tímido e acovardado entre os olmedos

Que as pobres águas deste Sena regam,

Do outrora ovante Sena. Vem, no carro

Que pardas rolas gemedoras tiram,

A alma buscar-me que por ti suspira.

Garrett inovou também na poesia. Em “Flores sem fruto” e “Folhas


caídas”, introduz a espontaneidade e a simplicidade como em
"Pescador da barca bela", pela proximidade com a poesia popular ou
das cantigas medievais. A liberdade métrica, o vocabulário corrente, o
ritmo e a pontuação são marcas de sua obra.

Garrett empenhou-se intensamente na renovação do teatro em


Portugal, objetivando uma produção de qualidade que elevasse o gosto
e a cultura do povo. Sua vocação pela dramaturgia está representada
pelas obras: Um Auto de Gil Vicente, O Alfageme de Santarém, Frei Luís
de Sousa, D. Filipa de Vilhena, além das comédias, Falar verdade a
mentir, Profecias do Bandarra, Um Noivado no Dafundo, entre outras.
Frei Luís de Sousa é indubitavelmente o que melhor realiza o seu ideal
de sobriedade artística, combinando o facto da tragédia clássica e a
atualidade do drama familiar, permanece ainda hoje um texto modelar
da literatura dramática nacional.

108
Sumário
Nesta unidade temática estudamos que o Romantismo português
normalmente é associado à revolução liberal de 1834. Essa revolução
representa um corte com a tradição, pois confiscou os bens da nobreza,
da Igreja e aboliu as ordens religiosas. Era necessário criar uma nova
literatura, com novas formas e novos temas, para uma nova sociedade,
uma vez que os românticos da primeira geração ainda estavam muito
ligados aos árcades. Didacticamente, costuma-se dividir o romantismo
em três momentos, nomeadamente: o de vigência de valores
neoclássicos, o da incorporação do chamado movimento ultra-
romântico e o da transição ao Realismo.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Reflita em torno do Romantismo Português.


2. Fale sobre a mancha gráfica dos textos do romantismo
português.

Questões de Escolha Mútipla

3. Romantismo português normalmente é associado à:


a) Revolução liberal de 1834.
b) Revolução francesa de 1834.
c) Revolução francesa 1880
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. Didacticamente, costuma-se dividir o romantismo em três


momentos, nomeadamente:
a) o de vigência de valores neoclássicos
b) o da incorporação do chamado movimento ultra-romântico
c) o da transição ao Realismo
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. D. João é uma figura simbólica:


a) representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos;
representa também o presente, a pátria morta e sem identidade
na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.

109
b) representa o presente, a época gloriosa dos descobrimentos;
representa também o presente, a pátria morta e sem identidade
na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.
c) representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos;
representa também o futuro, a pátria morta e sem identidade
na mão dos espanhóis / e é a imagem da pátria cativa.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. O Romantismo português normalmente é associado à revolução


liberal de 1834.
7. Os escritores portugueses procuram ambientar seus romances
na Idade Média, tentando recuperar ideais de honra e coragem.
8. Romantismo português normalmente é associado à Revolução
Inglesa de 1834.
9. Garrett não se impenhou intensamente na renovação do teatro
em Portugal, objetivando uma produção de qualidade que
elevasse o gosto e a cultura do povo.
10. Garrett inovou também na poesia. Em “Flores sem fruto” e
“Folhas caídas”, introduz a espontaneidade e a simplicidade
como em "Pescador da barca bela", pela proximidade com a
poesia popular ou das cantigas medievais.

Respostas:

3.. A

4. D

5. A

6. Verdadeiro

7. Verdadeiro

8. Falso

9. Falso

10. Verdadeiro

110
111
UNIDADE TEMÁTICA: O ROMANTISMO BRASILEIRO

Objectivos

No Brasil o Romantismo inicia-se em 1836, quando Gonçalves de


Magalhães publica na França a "Niterói - Revista Brasiliense", e, no
mesmo ano, lança um livro de poesias românticas intitulado "Suspiros
poéticos e saudades".

Em 1822, Dom Pedro I concretiza um movimento que se fazia sentir, de


forma mais imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A partir
desse momento, o novo país necessita inserir-se no modelo moderno,
acompanhando as nações independentes da Europa e América.
A imagem do português conquistador deveria ser varrida. Há a
necessidade de auto-afirmação da pátria que se formava. O ciclo da
mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas
mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra,
onde buscavam soluções para os problemas brasileiros.

O Brasil, de então, nem chegava perto da formação social dos países


industrializados da Europa (burguesia/proletariado). A estrutura social
do passado próximo (aristocracia/escravo) ainda prevalecia.

Marco final - Nesse período, Gonçalves de Magalhães viajava pela


Europa. Em 1836, ele funda a revista Niterói, da qual circularam apenas
dois números, em Paris. Nela, ele publica o "Ensaio sobre a história da
literatura brasileira", considerado, então, o primeiro manifesto
romântico. Essa escola literária só teve seu marco final no ano de 1881,
quando foram lançados os primeiros romances de tendência naturalista
e realista, como "O mulato", de Aluízio Azevedo, e "Memórias
póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis.

Manifestações do movimento realista, aliás, já vinham ocorrendo bem


antes do início da decadência do Romantismo, como, por exemplo, o
liderado por Tobias Barreto desde 1870, na Escola de Recife.
O Romantismo, como se sabe, define-se como modismo nas letras
universais a partir dos últimos 25 anos do século XVIII. A segunda
metade daquele século, com a industrialização modificando as antigas
relações econômicas, leva a Europa a uma nova composição do quadro
político e social, que tanto influenciaria os tempos modernos. Daí a
importância que os modernistas deram à Revolução Francesa, tão
exaltada por Gonçalves de Magalhães. Em seu "Discurso sobre a
história da literatura do Brasil", ele diz: "...Eis aqui como o Brasil deixou
de ser colónia e foi depois elevado à
112
categoria de Reino Unido. Sem a Revolução Francesa, que tanto
esclareceu os povos, esse passo tão cedo se não daria.
A classe social delineia-se em duas classes distintas e antagônicas,
embora atuassem paralelas durante a Revolução Francesa: a classe
dominante, agora representada pela burguesia capitalista industrial, e
a classe dominada, representada pelo proletariado. O Romantismo foi
uma escola burguesa de caráter ideológico, a favor da classe
dominante. Daí porque o nacionalismo, o sentimentalismo, o
subjetivismo e o irracionalismo - características marcantes do
Romantismo inicial - não podem ser analisados isoladamente, sem se
fazer menção à sua carga ideológica.
Novas influências - No Brasil, o momento histórico em que ocorre o
Romantismo tem que ser visto a partir das últimas produções árcades,
caracterizadas pela sátira política de Gonzaga e Silva Alvarenga. Com a
chegada da Corte, o Rio de Janeiro passa por um processo de
urbanização, tornando-se um campo propício à divulgação das novas
influências europeias. A colónia caminhava rumo à independência.

Após 1822, cresce no Brasil independente o sentimento de


nacionalismo, busca-se o passado histórico, exalta-se a natureza pátria.
Na realidade, características já cultivadas na Europa, e que se
encaixaram perfeitamente à necessidade brasileira de ofuscar
profundas crises sociais, financeiras e económicas.
De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado, como reflexo do
autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a
Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono
português contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado
assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a abolição da escravatura.
Segue-se o período regencial e a maioridade prematura de Pedro II.

É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo


brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.

No final do Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transformações


económicas, políticas e sociais levam a uma literatura mais próxima da
realidade; a poesia reflete as grandes agitações, como a luta
abolicionista, a Guerra do Paraguai, o ideal de República. É a decadência
do regime monárquico e o aparecimento da poesia social de Castro
Alves. No fundo, uma transição para o Realismo.
O Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela
nitidamente uma evolução no comportamento dos autores românticos.
A comparação entre os primeiros e os últimos representantes dessa
escola mostra traços peculiares a cada fase, mas discrepantes entre si.

No caso brasileiro, por exemplo, há uma distância considerável entre a


poesia de Gonçalves Dias e a de Castro
113
Alves. Daí a necessidade de dividir-se o Romantismo em fases ou
gerações. No romantismo brasileiro podemos reconhecer três
gerações: Geração Nacionalista ou indianista; geração do "mal do
século" e a "geração condoreira".

(I) A primeira Geração (nacionalista ou indianista) é marcada


pela exaltação da natureza, volta ao passado histórico,
medievalismo, criação do herói nacional na figura do índio,
de onde surgiu a denominação "geração indianista". O
sentimentalismo e a religiosidade são as outras
características presentes. Entre os principais autores,
destacam-se Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e
Araújo Porto.

(II) A segunda Geração é impregnada de egocentrismo,


negativismo boémio, pessimismo, dúvida, desilusão
adolescente e tédio constante. Seu tema preferido é a fuga
da realidade, que se manifesta na idealização da infância,
nas virgens sonhadas e na exaltação da morte. Os principais
poetas dessa geração foram Álvares de Azevedo, Casimiro
de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.
(III) A terceira Geração, também chamada de geração
condoreira, caracterizada pela poesia social e libertária,
reflecte as lutas internas da segunda metade do reinado de
D. Pedro II. Essa geração sofreu intensamente a influência de
Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí ser conhecida
como geração hugoana. O termo condoreirismo é
consequência do símbolo de liberdade adotado pelos jovens
românticos: o condor, águia que habita o alto da cordilheira
dos Andes. Seu principal representante foi Castro Alves,
seguido por Tobias Barreto e Sousândrade.
Duas outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a
prosa e o teatro romântico.

Os romances respondiam às exigências daquele público leitor; giravam


em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das
zonas rurais, ou de imponentes selvagens, apresentando personagens
idealizados pela imaginação e ideologia românticas com os quais o
leitor se identificava, vivendo uma realidade que lhe convinha. Algumas
poucas obras, porém, fugiram desse esquema, como "Memórias de um
Sargento de Milícias", de Manuel António de Almeida, e até
"Inocência", do Visconde de Taunay.

Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance brasileiro foi


"O filho do pescador", publicado em 1843, de autoria de Teixeira de
Souza (1812-1881). Mas se tratava de um romance sentimental de
trama confusa e que não serve para
114
definir as linhas que o romance romântico seguiria na literatura
brasileira.

Por esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor,
justamente por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às
suas expectativas, convencionou-se adotar o romance "A Moreninha",
de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844, como o primeiro
romance brasileiro.

Dentro das características básicas da prosa romântica, destacam-se,


além de Joaquim Manuel de Macedo, Manuel António de Almeida e
José de Alencar. Almeida, por sinal, com as "Memórias de um Sargento
de Milícias" realizou uma obra totalmente inovadora para sua época,
exactamente quando Macedo dominava o ambiente literário.

As peripécias de um sargento descritas por ele podem ser consideradas


como o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro,
pois abandona a visão da burguesia urbana, para retratar o povo com
toda a sua simplicidade.

"Casamento" - José de Alencar, por sua vez, aparece na literatura


brasileira como o consolidador do romance, um ficcionista que cai no
gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e
sociais. Ele defendia o "casamento" entre o nativo e o europeu
colonizador, numa troca de favores: uns ofereciam a natureza virgem,
um solo esplêndido; outros a cultura. Da soma desses factores
resultaria um Brasil independente. "O guarani" é o melhor exemplo, ao
se observar a relação do principal personagem da obra, o índio Peri,
com a família de D. António de Mariz.

Esse jogo de interesses entre o índio e o europeu, proposto por Alencar,


aparece também em Iracema (um anagrama da palavra América), na
relação da índia com o Português Martim. Moacir, filho de Iracema e
Martim, é o primeiro brasileiro fruto desse casamento.

José de Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou possível uma
classificação por modalidades:
(i) Romances urbanos ou de costumes (retratando a sociedade
carioca de sua época - o Rio do II Reinado);
(ii) Romances históricos (dois, na verdade, voltados para o
período colonial brasileiro “As minas de prata" e "A guerra
dos mascates");
(iii) Romances regionais ("O sertanejo" e "O gaúcho" são as duas
obras regionais de Alencar);
(iv) Romances rurais (como "Til" e "O tronco do ipê");

115
(v) Romances indianistas (que trouxeram maior popularidade
para o escritor, como "O Guarani", "Iracema11" e
"Ubirajara").

Sumário
Nesta unidade temática estudamos que o Romantismo se inicia no
Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro de
poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e saudades". Vimos
também que no romantismo brasileiro podemos reconhecer três
gerações: Geração Nacionalista ou indianista; geração do "mal do
século" e a "geração condoreira". Porém, vimos que além da poesia, há
duas outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a
prosa e o teatro romântico.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Ligue a coluna da esquerda, de acordo com a coluna da direita,
tendo em vista a poesia romântica brasileira:

A B
• Primeira geração • Abolicionismo

11
O nome “Iracema” significa em tupi “lábios de mel”. É também um anagrama da
palavra. América. O livro foi escrito no século 19 e a história é ambientada no início
do século 17. A partir dessa constatação, podemos interpretar a relação amorosa
entre Martim e Iracema como uma metáfora da história da colonização da América: o
índio (representado por Iracema) se une ao colonizador português (representado por
Martim) e dessa miscigenação surge o primeiro cearense (representado por Moacir)

116
• Segunda geração • Condoreirismo
• Terceira geração • Autocomiseração exacerbada
• Obsessão pela morte
• Indianismo
• Nacionalismo

2. Além de indianista, Iracema é também um romance histórico.


Comente.
Questões de Escolha Múltipla
3. O Romantismo se inicia no Brasil em:
a) 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro
de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e
saudades".
b) 1837, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro
de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e
saudades".
c) 1838, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro
de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e
saudades".
d) 1839, quando Gonçalves de Magalhães publica na França a
"Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança um livro
de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e
saudades".

4. Além da poesia, há duas outras variações literárias do


Romantismo merecem destaque:
a) a prosa e o teatro romântico.
b) a prosa e a novela.
c) a prosa e a cronica
d) Todas as alternativas estão correctas.
5. O Brasil, de então, nem chegava perto da formação social dos
países industrializados da:
a) Asia (burguesia/proletariado).
b) Europa (burguesia/proletariado).
c) America (burguesia/proletariado).

117
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro
6. Os romances respondiam às exigências daquele público leitor;
giravam em torno da descrição dos costumes urbanos, ou de
amenidades das zonas rurais, ou de imponentes selvagens,
apresentando personagens idealizados pela imaginação e
ideologia românticas com os quais o leitor se identificava,
vivendo uma realidade que lhe convinha.
7. José de Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou possível
uma classificação por modalidades.
8. O termo condoreirismo não é consequência do símbolo de
liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que
habita o alto da cordilheira dos Andes. Seu principal
representante foi Castro Alves, seguido por Tobias Barreto e
Sousândrade.
9. "O guarani" não é o melhor exemplo, ao se observar a relação
do principal personagem da obra, o índio Peri, com a família de
D. António de Mariz.
10. Ao se considerar a mera cronologia, o primeiro romance
brasileiro foi "O filho do pescador", publicado em 1843, de
autoria de Teixeira de Souza (1812-1881).
Respostas:
3.. A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro

118
TEMA 6: O REALISMO/ NATURALISMO

Introdução

Nesta unidade temática, é necessáio compreender que a segunda


metade do século XIX foi marcada por um grande avanço nas ciências
naturais, na filosofia, na política e na economia. Não havia mais espaço
para as idealizações românticas, por isso a literatura que surgiu no
período procurou expressar “objetivamente” a realidade, descrevendo
o mundo de maneira, por vezes, distanciada e racional.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

• Relacionar o conceito de Realismo do Naturalismo;


Objectivos • Relacionar o realismo/naturalismo com o avanço
nas ciências naturais, na filosofia, na política e
economia;

• Caracterizar o Realismo como uma corrente


literária na Europa, em Portugal e no Brasil.

UNIDADE TEMÁTICA:
CARACTERÍTICAS GERAIS DO
REALISMO/ NATURALISMO

Objectivos

• Definir o conceito de Realismo e relacionar com o


Naturalismo

As escolas Realista-naturalista e parnasiana combateram o Romantismo


e propuseram uma nova forma de análise da sociedade. Na França,

119
surgiu o Realismo, inaugurado pela publicação de Madame Bovary, de
Gustave Flaubert, em 1857;

O Naturalismo foi uma tendência do Realismo que procurou analisar o


homem a partir de uma perspetiva determinista, materialista e reduziu
os fenómenos sociais aos fatores biológicos, principalmente. Dessa
forma, toda a obra naturalista é realista, mas nem toda obra realista é
naturalista. Os naturalistas se inspiraram fortemente na teoria da
evolução de Darwin para compor sua arte, por isso acreditavam que os
seres humanos estavam aprisionados às leis que regem a natureza. Os
artistas naturalistas colocaram sua obra a serviço da ciência. O escritor
francês Émile Zola, por exemplo, criou os chamados romances
experimentais, por meio dos quais pretendia transformar a sociedade.
Diferentemente dos realistas, que enfocavam os aspetos psicológicos
individuais dos personagens (na maior parte, burgueses), os
naturalistas privilegiaram os fenómenos colectivos e o proletariado,
classe social pouco enfocada na literatura até então.

Os termos "Realismo" e "Naturalismo" frequentemente se confundem


e alguns autores falam, então, de "Realismo-Naturalismo"

Diferenças entre Realismo e Naturalismo


Realismo Naturalismo
Forte influência da literatura de Forte influência da literatura de
Gustave Flaubert (França). Émile Zola (França).
Romance documental, apoiado Romance experimental, apoiado
na observação e na análise. na experimentação e observação
científica
A investigação da sociedade e A investigação da sociedade e dos
dos caracteres individuais é feita caracteres individuais ocorre “de
“de dentro para fora”, por meio fora para dentro”, os
de análise psicológica capaz de personagens tendem a se
abranger sua complexidade, simplificar, pois são vistos como
utilizando a ironia, que sugere e joguetes, pacientes dos factores
aponta, em vez de afirmar. biológicos, históricos e sociais
que determinam suas acções,
pensamentos e sentimento
As obras retratam e criticam as As obras retratam as camadas
classes dominantes, a alta inferiores, o proletariado, os
burguesia urbana e, marginalizados e, normalmente,
normalmente, os personagens os personagens são oriundos
pertencem a esta classe social dessas classes sociais mais baixas.

120
Volta-se para a psicologia, Volta-se para a biologia e a
centrando-se mais no indivíduo patologia, centrando-se mais no
social.
O tratamento imparcial e O tratamento dos temas com
objetivo dos temas garantem ao base em uma visão determinista
leitor um espaço de conduz e direciona as conclusões
interpretação, de elaboração de do leitor e empobrece
suas próprias conclusões a literariamente os textos.
respeito das obras

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Reflita em torno do realismo /naturalismo.
2. Quais são as principais marcas do realismo /naturalismo?
Questões de Escolha Múltipla
3. Os termos "Realismo" e "Naturalismo" frequentemente se
confundem e alguns autores falam, então, de:
a) “Realismo-Naturalismo"
b) “Realismo-natureza"
c) Realismo-barroquismo"
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. O escritor francês Émile Zola criou os chamados:


a) romances experimentais
b) romances coloquiais
c) romances policiais.
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. Os naturalistas se inspiraram fortemente na:


a) teoria da evolução de Darwin para compor sua arte, por isso
acreditavam que os seres humanos estavam aprisionados às leis
que regem a natureza.
b) teoria da evolução de Darwin para compor sua arte, por isso não
acreditavam que os seres humanos estavam aprisionados às leis
que regem a natureza.
c) teoria da evolução de Darwin para compor sua arte, por isso
acreditavam que os animais estavam aprisionados às leis que
regem a natureza.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

121
6. Toda a obra naturalista é realista, mas nem toda obra realista é
naturalista.
7. As escolas Realista-naturalista e parnasiana combateram o
Romantismo e propuseram uma nova forma de análise da
sociedade.
8. Os naturalistas se inspiraram fortemente na teoria da evolução
de Darwin para não compor sua arte, por isso acreditavam que
os seres humanos estavam aprisionados às leis que regem a
natureza.
9. O Naturalismo foi uma tendência do Realismo que não procurou
analisar o homem a partir de uma perspetiva determinista,
materialista e reduziu os fenómenos sociais aos fatores
biológicos, principalmente.
10. Os naturalistas privilegiaram os fenómenos colectivos e o
proletariado, classe social pouco enfocada na literatura até
então.

Respostas:
3..A
4. A
5. B
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Falso
10. Verdadeiro

122
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO

Surgidos quase concomitantemente, o Parnasianismo e o Simbolismo


estão ligados às transformações decorrentes da afirmação da
Revolução Industrial.

O Parnasianismo apareceu como um movimento opositor ao


Romantismo, tentando lutar contra o descuido textual e o
sentimentalismo exagerado. O interesse pela beleza trouxe a arte pela
arte, com textos rebuscados e o culto à forma. O próprio nome dado
remete à Parnasos, o lar das musas na mitologia grega, e o estilo
retomou conceitos da Antiguidade Clássica como o racionalismo. A
perfeição na escrita e a inspiração da arte, sendo a principal
característica parnasiana a valorização do soneto, da métrica, da rima,
foram os pontos mais importantes dessa escola literária.

Parnasianismo: contexto histórico e cultural


A segunda metade do século XIX é marcada pela consolidação da
Segunda Revolução Industrial, que, entre outras mudanças, traz
grande prosperidade económica a uma parcela da burguesia. Nas
últimas décadas do século, tal prosperidade dá origem à Belle Époque
(“bela época”) – uma era de optimismo e aumento do conforto material
–, berço da Art Nouveau (“arte nova”), movimento artístico que pratica
o gosto pela ornamentação.

O Parnasianismo partilha de muitos ideais da Art Nouveau, buscando


uma poesia que supervaloriza o aspecto formal. Mas, ao contrário da
Art Nouveau, rejeita a adaptação da arte à vida quotidiana. A proposta
do movimento, que combate o lirismo romântico, é uma criação poética
que retoma o modelo estético clássico, com sua busca pela beleza e
precisão, a “arte pela arte” – sem finalidades práticas ou crítica social e
com extremo preciosismo linguístico. Cria-se a imagem do “poeta
artesão”.

A poética parnasiana baseia-se no binómio culto da forma/objetividade


temática, em uma postura totalmente anti-romântica. A objetividade
temática surge como uma negação ao sentimentalismo romântico,
tentando atingir a impessoalidade e impassibilidade.

123
Trata-se de uma poesia carregada de descrições objetivas e impessoais,
se opondo ao subjetivismo decadente do universalismo francês. É uma
poesia de meditação filosófica, no entanto artificial.

Retoma os conceitos da Idade Antiga Clássica: o racionalismo e formas


perfeitas. Sua poesia tem uma perfeição formal, com forma fixa dos
sonetos, métrica dos versos alexandrinos (doze sílabas poéticas) e
decassílabos perfeitos, rima rica, rara e perfeita. O poeta evita utilizar
as palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando
tornar as rimas mais ricas na estética.

Simbolismo: contexto histórico e cultural


Com os efeitos negativos da industrialização vindo à tona, a passagem
do século XIX para o século XX suscita questionamentos do modelo
socioeconómico vigente e da visão de mundo materialista e
racionalista, dando origem a uma poesia repleta de elementos
transcendentais.

Charles Baudelaire, autor de As flores do mal (1857), é considerado


fundador do Simbolismo. Em torno dele, reúne-se um grupo de artistas
e intelectuais, os chamados decadentistas, que explora o mórbido, o
gosto pelo artificial e extravagante, além do culto à dor.

Os pressupostos do movimento são claramente antinaturalistas e


antiparnasianos:

• Busca pelo mundo impalpável;

• Uso de símbolos para evocar o inefável;

• Musicalidade e sinestesia para estimular os sentidos;

• Temáticas religiosas e místicas;

• Valorização da subjetividade sem o sentimentalismo romântico.

Sumário
Percebemos, nesta unidade temática, que o Realismo constitui-se como
o movimento artístico dominante na época, com maior incidência a
nível literário, revelando claramente influências políticas e ideológicas
ao defender uma visão objectiva da realidade, tendo em conta as
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a descrição da

124
vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais cuidadosamente
observados. Mas também vimos que os termos "Realismo" e
"Naturalismo" frequentemente se confundem e alguns autores falam,
então, de "Realismo-Naturalismo".

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Discorra sobre as diferenças e semelhanças entre o
parnasianismo e o simbolismo.
2. Reflita em torno do contexto histórico do parnasianismo.
3. Reflita sobre o contexto histórico do simbolismo.

Questões de Escolha Múltipla


4. O Realismo constitui-se como:
a) o movimento artístico dominante na época, com maior
incidência a nível literário, revelando claramente influências
políticas e ideológicas ao defender uma visão objectiva da
realidade, tendo em conta as condições políticas, económicas e
sociais, e ao privilegiar a descrição da vida quotidiana e o retrato
de ambientes sociais cuidadosamente observados.
b) o movimento artístico menos dominante na época, com maior
incidência a nível literário, revelando claramente influências
políticas e ideológicas ao defender uma visão objectiva da
realidade, tendo em conta as condições políticas, económicas e
sociais, e ao privilegiar a descrição da vida quotidiana e o retrato
de ambientes sociais cuidadosamente observados.
c) o movimento artístico dominante na época, com maior
incidência a nível literário, revelando claramente influências
políticas e ideológicas ao defender uma visão objectiva da
realidade, tendo em conta as condições políticas, económicas e
sociais, e ao privilegiar a descrição da vida quotidiana e o retrato
de ambientes religiosos cuidadosamente observados.
d) Todas as alternativas estão correctas.

125
5. Charles Baudelaire, autor de As flores do mal (1857), é
considerado fundador do:
a) Simbolismo
b) Parnasianismo
c) Romantismo
d) barroco
Questões de Verdadeiro e Falso
6. Com os efeitos negativos da industrialização vindo à tona, a
passagem do século XIX para o século XX suscita
questionamentos do modelo socioeconómico vigente e da visão
de mundo materialista e racionalista, dando origem a uma
poesia repleta de elementos transcendentais.
7. O poeta evita utilizar as palavras da mesma classe gramatical em
suas poesias, buscando tornar as rimas mais ricas na estética.
8. A poética parnasiana baseia-se no binómio inculto da
forma/objetividade temática, em uma postura totalmente anti-
romântica.
9. A objetividade temática surge como uma negação ao
sentimentalismo romântico, tentando atingir a impessoalidade
e impassibilidade.
10. O próprio nome dado remete à Parnasos, o lar das musas na
mitologia grega, e o estilo retomou conceitos da Antiguidade
Clássica como o racionalismo.

126
Respostas:

4.. A
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro

UNIDADE TEMÁTICA: O REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL

Objectivos

• Definir o conceito de Realismo;

• Caracterizar o Realismo como uma corrente literária na Europa,


em Portugal

Nos anos seguintes a 1860, o Romantismo entra em declínio e sofre os


primeiros ataques por parte da nova geração que surge, os rebeldes
estudantes de Coimbra.

Em 1861, Antero de Quental funda a Sociedade do Raio, com cerca de


duzentos estudantes de Coimbra, com o objetivo de instaurar a
aventura do espírito no seio do convencionalismo académico e político.

Num gesto de ousadia, Antero em 1862, escolhido para saudar o


Príncipe Humberto da Itália, exalta a Itália livre e Garibaldi, então ferido
em combate. Empolgados pelas novas ideias revolucionárias, Teófilo
Braga publica dois volumes de versos, a Visão dos Tempos e as
Tempestades Sonoras, e Antero edita as Odes Modernas.

Enquanto isso, no ultra-romantismo, Pinheiro Chagas escreve o Poema


da Mocidade e Castilho, seu mestre nas Letras, escreve num posfácio
onde exalta o fiel discípulo e critica os jovens de Coimbra, em especial
Antero e Teófilo, afirmando que lhes falta talento e gosto refinado.

127
Estava armada a polémica, que passou a chamar-se Questão Coimbrã:
uma intensa polémica em torno do confronto literário entre os ultra-
românticos liderados por Castilho e os jovens estudantes de Coimbra,
cujo líder era Antero de Quental, iniciada após a publicação do livro
Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas, onde Castilho escreve um
posfácio ironizando os jovens de Coimbra com o título "Bom senso e
Bom gosto".

Os jovens reagem: Antero escreve o folheto "A Dignidade das Letras e


as Literaturas Oficiais", Teófilo de Braga escreve o folheto "Teocracias
Literárias". Ramalho Ortigão e Camilo Castelo Branco destacam-se na
defesa de Castilho. Esta polémica durou meses, com frequentes
publicações críticas de ambos os lados, terminou com a vitória dos
ideais da Geração de 1870, o que provocou uma autêntica renovação
cultural e a afirmação do realismo.

Mais tarde, este grupo com alguns acréscimos promove, em 1871, As


Conferências Democráticas do Casino Lisbonense, objetivando colocar
Portugal na modernidade, “estudando as condições de transformação
política, económica e religiosa da sociedade portuguesa".

Com a Questão Coimbrã, estava definida a crise de cultura que inicia o


Realismo em Portugal.

POESIA DA ÉPOCA DO REALISMO


A poesia do Realismo retoma o prestígio lírico de Bocage e Camões
seguindo várias direções: a poesia "realista", a poesia do quotidiano, a
poesia metafísica e a poesia de aspiração parnasiana. Sem se confundir
com o Parnasianismo, teve caráter revolucionário, serviu como arma de
combate, de ação, em suma, poesia "a serviço" da causa realista.

Entre os poetas destacam-se Guerra Junqueiro, Gomes Leal, Antero de


Quental, Teófilo Braga e outros.

A POESIA DE ANTERO DE QUENTAL

128
Quental, publica em 1865 uma obra intitulada Odes Modernas, em cujo prefácio
declara que “a Poesia é a voz da Revolução” e o poeta é o arauto do futuro que,
juntamente com as Tempestades Sonoras e a Visão dos Tempos, de Teófilo Braga,
publicadas no ano anterior, desencadeiam a revolução literária chamada Questão
Coimbrã. Antero cultivou a poesia e a prosa polêmica e filosófica.

No primeiro caso, temos: Odes Modernas (1865), Primaveras Românticas.


Versos dos Vinte Anos (1871), Sonetos Completos (1886), Raios de
Extinta Lux (1892). No segundo, seus escritos estão coligidos em três volumes:
Prosas (1923, 1926,1931).

Linhas Temáticas dos Sonetos de Antero de Quental


Interessa ter em conta as linhas temáticas dos sonetos de Antero que
se podem reduzir a quatro:

1. A expressão do amor: o amor espiritual

Nestes, Antero canta os seus amores, espiritualizados, à semelhança de


Petrarca. Há nestes poemas a adoração abnegada do Eterno Feminino.
O poema, a seguir inscreve-se nesta linha temática.

ABNEGAÇÃO

Chovam lírios e rosas no teu colo!


Chovam hinos de glória na tua alma!
Hinos de glória e adoração e calma,
Meu amor, minha pomba e meu consolo!

Dê-te estrelas o céu, flores o solo,


Cantos e aroma o ar e sombra a palma,
E quando surge a lua e o mar se acalma,
Sonhos sem fim seu preguiçoso rolo!

E nem sequer te lembres de que eu choro…


Esquece até, esquece, que te adoro…
E ao passares por mim, sem que me olhes,

Possam das minhas lágrimas cruéis


Nascer sob os teus pés flores fiéis,
Que pises distraída ou rindo esfolhes

Antero de Quental

2. As preocupações sociais, as ideias revolucionárias


A degeneração da burguesia num capitalismo de especulação que nada
produzia faz com que Antero apele para: a Justiça, o Pensamento, a
Ideia (que será a luz do mundo), a
129
revolta e a luta (até tudo estar no seu lugar), o trabalho (de que alguma
coisa ficará), o Cristo (avô da plebe), a liberdade (sob o império da
Razão). Sob esta égide encontra-se os sonetos, por exemplo, o poema:

HINO À RAZÃO

Razão, irmã do Amor e da Justiça,


Mais uma vez escuta a minha prece,
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça


De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações


Buscam a liberdade, entre clarões;
E os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti, podem sofrer e não se abatem,


Mãe de filhos robustos, que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!

(1874-1880)

Antero de Quental

3. O pessimismo e a evasão
O pessimismo manifesta-se em 1874 e desenvolve-se desde 1876 a
1882; extingue-se nos anos imediatos e em 1886 deixava o poeta, sem
nostalgia, numa região espiritual já percorrida.

Nos sonetos deste ciclo vê-se a dor em todo o lado e ouve-se


continuamente dizer que é preferível o «não ser» ao «ser como é».
Vêem-se já influências de Hartmann e do budismo.

É o pessimismo que leva Antero a evadir-se, a fugir para-além de tudo


o que existe e o faz sofrer. Procura refugiar-se num mundo indefinido,
longínquo e vago, na ação material, absorvente e enérgica, num sono
no colo da mãe, no desprendimento do sensível, na aspiração a um
Deus clemente, que o leve para o Céu. Estes conteúdos são visíveis na
composição poética seguinte:

130
O PALÁCIO DA VENTURA

Sonho que sou um cavaleiro andante,


Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante3
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante


Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante4
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:


Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...5


Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Antero de Quental

4. A metafísica, Deus e a morte


A leitura de Proudhon e Hegel, o falecimento de pessoas queridas e a
sua enfermidade levaram-no a meditar na morte, que é considerada
sob vários aspetos: morte - liberdade; morte - fim de todos os
sofrimentos; morte - irmã do amor e da verdade; morte - consoladora
das tribulações; morte - berço onde se pode dormir; morte - paz santa
e inefável. Reportados a esta quarta linha temática encontra-se, por
exemplo, o soneto:

NA MÃO DE DEUS

Na mão de Deus, na sua mão direita,


Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
131
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita


A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbrega jornada,


Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,

Selvas, mares, areias do deserto...


Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Antero de Quental

A PROSA REALISTA O ROMANCE

No Realismo, o romance abandona o esquema do Romantismo,


segundo o qual a prosa de ficção era baseada na intriga e visava ao
entretenimento, e passa a ser obra de combate e arma de acção
reformadora da sociedade burguesa dos fins do século XIX, ressurgindo
como instrumento de ataque e demolição. Procurando mostrar os erros
básicos da mentalidade romântica, o romance realista (e o naturalista)
propõe-se a desmascarar que os três poderes sobre os quais se apoiava
o estilo de vida em moda no Romantismo, não tinham mais consistência
e força suficientes para resistir ao impacto das novas descobertas
científicas e filosóficas da segunda metade do século XIX. Em síntese, a
Burguesia, como classe social dominante, a Monarquia, como classe
imperante e reinante, e o Clero, como força ideológica desse organismo
social, não eram capazes de transformar-se e adaptar-se aos novos
tempos. A esse intento reformador se juntava a preocupação de criar
obra artística, o que implicava em considerar o romance com muita
seriedade.

A criação artística não se fazia mais em clima de febre ou de fogosa


inspiração. O trabalho estético passa a ser encarado como sendo tão
demorado e paciente quanto o científico, nos laboratórios ou nas
pesquisas de campo. Por isso, o entrecho, a intriga, é sempre, ou quase
sempre, comum, trivial, girando em torno do casamento frustrado e do
consequente adultério. O valor do romance está nessa análise e na
intriga e na preocupação com o estilo. O grande expoente foi Eça de

132
Queirós.

José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim, estuda Direito


em Coimbra, liga-se a uma ruidosa geração acadêmica, conhece Antero
e inicia sua carreira literária com a publicação de folhetins, mais tarde
reunidos sob o título de Prosas Bárbaras. Não participa diretamente da
Questão Coimbrã, porém mais tarde liga-se ao grupo do Cenáculo e
participa das Conferências do Casino Lisbonense em 1871.

Eça de Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua


Portuguesa, sendo considerado por Massaud Moisés um divisor de
águas linguístico entre a tradição e a modernidade. Cultivou o romance,
o conto, o jornalismo, a literatura de viagens.

A produção de Eça de Queirós12 divide-se em três fases, a saber:

A primeira fase, de indecisão, preparação e procura, traz um escritor


ainda jovem e romântico, começa com Prosas Bárbaras, e termina em
1875, com a publicação de O Crime do Padre Amaro. Pertencem ainda
a essa fase: Prosas Bárbaras, O Mistério da Estrada de Sintra, As Farpas.

A segunda fase onde o autor adere às teorias do Realismo passa a

12
Em 1871 Eça de queirós Participa das Conferências do Casino, apresentando um
estudo sobre "O realismo como nova expressão de arte". Dentro da linha definida
nesse estudo, é em Leiria que dá inicio à redacção de "O crime do Padre Amaro",
analisando a sociedade portuguesa, focando principalmente o clero e a pequena
burguesia dos meios provincianos. Para além, desse romance escreve também a obra
“O Primo Basílio”, fortemente influenciado pela obra “Madame Bovary”, tem por
enredo uma família supostamente típica de Lisboa: a mulher casada, “sem formação
moral e sem outra cultura além da leitura de romances românticos, que lhe abrem
uma fuga para o tédio da vida conjugal”. A obra critica a deficiente educação feminina
e uma literatura que exalta os valores romanescos e pinta com cores atraentes o
adultério. Em “Os Maias”, o enredo trata de uma elite capaz de diagnosticar os males
da pátria. O grupo que convive no palácio do Ramalhete é, provavelmente, um auto-
retrato da geração de 70 na fase da desilusão: dois irmãos que não se conhecem, filhos
de uma paixão romântica e fatal, acabam por encontrar-se em Lisboa e por ter amores
incestuosos. É uma variante da história de Édipo.

133
escrever obras de combate às instituições vigentes (Monarquia, Igreja,
Burguesia). São romances comprometidos com a geração de 1870 e
traçam um retrato da sociedade Portuguesa contemporânea, erguido
em linguagem original, plástica, já impregnada daquelas qualidades
características de seu estilo: naturalidade, fluência, vigor narrativo,
precisão, "oralidade" além de certo lirismo melancólico, da sátira e a
ironia. Pertencem a esta fase: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio,
A Relíquia e Os Maias.

A terceira e última fase da carreira de Eça de Queirós em que o escritor


resolve erguer uma obra de sentido construtivo, fruto da dolorosa
consciência de ter investido inutilmente contra o burguês e a família.
Ao derrotismo e pessimismo analítico da etapa anterior, sucede um
momento de otimismo, de esperança e fé, mas tendo por base o culto
dos valores da Alma e do Espírito. A Ilustre Casa de Ramires, A
Correspondência de Fradique Mendes e A Cidade e as serras.

“Prosas Bárbaras” exibe o mais fantasmagórico romantismo, em que os


seres da Natureza se transfiguram e antropomorfizam. Eça faz um
levantamento, uma análise crítica da sociedade portuguesa do seu
tempo.

Em “O Crime do Padre Amaro”, o foco é a vida de uma cidade


provinciana e a influência clerical.

Algumas notas sobre o enredo do romance

Após perder os pais, que serviram à marquesa de Alegros, Amaro cai


nas graças da mulher, que o toma como agregado, planificando criá-lo
para o sacerdócio. Isso acaba se efetivando, apesar da ausência de
vocação e de interesse do jovem, que, desde cedo, possuía uma índole
libidinosa. Triste e resignado, Amaro se ordena padre, sempre tentando
conter os fortes impulsos sexuais que sente. Embora temesse a Deus e
fosse devoto, odeia a vida eclesiástica que lhe fora imposta. Depois de
exercer seu ofício em uma província do interior, consegue, por
influência da condessa de Ribamar – filha de sua protetora, a marquesa
–, mudar-se para Leiria.

Em Leiria, o jovem padre aceita a sugestão do cônego Dias para morar


num quarto alugado na casa da

134
senhora Joaneira – com quem Dias mantinha um caso –, auxiliando, em
troca, nas despesas da casa. O quarto de Amaro fica exatamente em
baixo do de Amélia, filha da dona da casa. Já no primeiro contato,
Amaro e Amélia sentem forte atração mútua, que se desenvolve aos
poucos e provoca o desinteresse da moça por João Eduardo, de quem
era noiva.

João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal local um


artigo em que denuncia a imoralidade de alguns padres de Leiria,
especialmente de Amaro. Esse fica indignado e passa a evitar Amélia —
pensa até mesmo em abandonar o sacerdócio. No entanto, os padres
descobrem o autor do texto polêmico e levam João Eduardo a deixar a
cidade.

É nesse momento que, no auge do desejo, Amaro e Amélia trocam o


primeiro beijo. Para facilitar a sedução, Amaro se torna o confessor de
Amélia, o que revolta João Eduardo, levando-o a dar um soco no pároco
na rua. Após retirar a queixa contra seu agressor e ser visto como um
santo pelas beatas (entre as quais Amélia), Amaro conduz a jovem para
seu quarto e os dois têm a primeira relação sexual.

A nova criada do padre, Dionísia, alerta para o perigo dessa exposição e


lhe recomenda que ache um local secreto para os encontros amorosos.
A solução é a casa do sineiro da igreja, o Tio Esguelhas, deficiente que
vive com uma filha, Antônia, a Totó. A desculpa para os encontros é a
preparação de Amélia para se tornar freira e também ler textos
religiosos a Totó.

O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até que ela
começa a ter crises de consciência. A pedido da senhora Joaneira, o
cônego Dias investiga o caso e fica sabendo, por meio de Totó, o que
ocorria entre seu instruendo e a moça. Após uma discussão e trocas de
acusações entre os dois, porém, o cônego e o padre passam a se tratar
como sogro e genro.

Amélia então engravida, o que leva Amaro ao desespero. Com o cônego


Dias, decidem casá-la com João Eduardo quanto antes. Ela se revolta
com a ideia, mas acaba aceitando, o que faz com que o padre amante
sinta ciúme. Para consolá-lo, decidem, então, continuar os encontros
amorosos após o casamento.

O ex-noivo de Amélia, contudo, não é encontrado, o que os leva a


buscar outra solução, já que fica cada vez mais difícil ocultar a gravidez.
A histeria da moça aumenta, até que optam por enviá-la ao subúrbio
para cuidar de dona Josefa, beata enferma irmã do cônego, enquanto
os outros passam uma temporada na praia.

135
Entristecida por se separar da mãe e pelo abandono de Amaro, que
permanece em Leiria, Amélia fica angustiada e entra em profunda crise.
A situação é agravada pela censura de dona Josefa. A jovem encontra
consolo então no bom abade Ferrão, um dos poucos personagens
apresentados como íntegros na narrativa. Ele ouve a confissão de
Amélia e a aconselha a superar a atração que ainda sente pelo padre.
Amaro, ao saber disso, cego de desejo e ciúme, procura mais uma vez
Amélia, que não resiste e se entrega novamente. O abade, por outro
lado, tenta inutilmente unir a moça com o reaparecido João Eduardo,
ainda apaixonado por ela.

O momento do parto se aproxima, e Amaro é aconselhado por Dionísia


a enviar o bebê a uma “tecedeira de anjos”, mulher que mata recém-
nascidos indesejados. Nasce a criança, que o pai leva à ama encarregada
de fazer com que desapareça, em troca de pagamento.

Amélia não resiste e, pouco tempo depois, sofre de convulsões e morre.


Amaro, triste por causa da morte da amante, tenta recuperar o filho,
mas é tarde. A criança já havia sido morta. Traumatizado, ele sai de
Leiria e é transferido. Em Lisboa, buscando de novo a ajuda do conde
de Ribamar, reencontra o cônego Dias. Ambos concluem que o remorso
sentido pelo caso havia sido superado. Afinal, “tudo passa”.

Para uma visão da relação amorosa Amaro e Amélia, leia o seguinte


trecho

IV

Mas tinham dado onze horas; e depois da tumba final as velhas


começaram a agasalhar-se. Amélia sentou-se ao piano, tocando ao de
leve uma polca. João Eduardo aproximou-se dela, e baixando a voz:

- Muitos parabéns por ter quinado com o senhor pároco. Que


entusiasmo! - E como ela ia responder: - Boa noite! disse ele secamente,
embrulhando-se no seu xale-manta com despeito.

A Ruça alumiava. As velhas, pela escada, empacotadas nos abafos, iam


ganindo adeusinhos. O Sr. Artur harpejava a guitarra, cantarolando o
Descrido.

Amaro foi para o seu quarto, começou a rezar no Breviário; mas distraia-
se, lembravam-lhe as figuras das velhas, os dentes podres de Artur,
sobretudo o perfil de Amélia. Sentado à beira da cama, com o Breviário
aberto, fitando a luz, via o seu penteado, as suas mãos pequenas com
os dedos um pouco trigueiros picados da agulha, o seu buçozinho
gracioso...

136
Sentia a cabeça pesada do jantar do cônego e da monotonia do quino,
com uma grande sede além disso das lulas e do vinhito do Porto. Quis
beber, mas não tinha água no quarto. Lembrou-se então que na sala de
jantar havia uma bilha de Extremoz com água fresca, muito boa, da
nascente do Morenal. Calçou as chinelas, tomou o castiçal, subiu
devagarinho. Havia luz na sala, estava o reposteiro corrido; ergueu-o e
recuou com um ah! Vira num relance Amélia, em saia branca a desfazer
o atacador do colete; estava junto do candeeiro e as mangas curtas, o
decote da camisa deixavam ver os seus braços brancos, o seio delicioso.
Ela deu um pequeno grito, correu para o quarto.

Amaro ficou imóvel, com um suor à raiz dos cabelos. Poderiam suspeitar
uma ofensa! Palavras indignadas iam sair decerto através do reposteiro
do quarto, que ainda se balouçava agitado!

Mas a voz de Amélia, serena, perguntou de dentro:

- Que queria, senhor pároco?

- Vinha buscar água, balbuciou ele.

- Aquela Ruça! aquela desleixada! Desculpe, senhor pároco, desculpe.


Olhe aí ao pé da mesa, a bilha. Achou?

- Achei! achei!

Desceu devagar com o copo cheio: a mão tremia-lhe, a água escorria-


lhe pelos dedos.

Deitou-se sem rezar. Alta noite Amélia sentiu por baixo passos nervosos
pisarem o soalho: era Amaro que, com o capote aos ombros e em
chinelas, fumava, excitado, pelo quarto.

Ela, em cima, não dormia também. Sobre a cômoda, dentro de uma


bacia, a lamparina extinguia-se, com um mau cheiro de morrão de
azeite; brancuras de saias caídas no chão destacavam; e os olhos do
gato, que não sossegava, reluziam pela escuridão do quarto com uma
claridade fosfórica e verde.

Na casa vizinha, uma criança chorava sem cessar. Amélia sentia a mãe
embalar-lhe o berço, cantar-lhe baixo:

Dorme, dorme, meu menino,

Que a tua mãe foi à fonte!

137
Era a pobre Catarina engomadeira, que o tenente Sousa deixara com
um filho no berço, e grávida de outro - para ir casar a Extremoz! Tão
bonita era, tão loura - e mirrada agora, tão chupada!

Dorme, dorme, meu menino,

Que a tua mãe foi à fonte!

Como ela conhecia aquela cantiga! Quando tinha sete anos sua mãe
dizia-a, nas longas noites de Inverno, ao irmãozinho que morrera!

Lembrava-se bem! moravam então noutra casa, ao pé da estrada de


Lisboa; à janela do seu quarto havia um limoeiro e a mãe punha, na sua
ramagem luzidia, os cueiros do Joãozinho, a secarem ao sol. Não
conhecera o papá. Fora militar, morrera novo; e a mãe ainda suspirava
ao falar da sua bela figura com o uniforme de cavalaria. Aos oito anos
ela foi para a mestra. Como se lembrava! A mestra era uma velhita
roliça e branca, que fora tacho das freiras de Santa Joana de Aveiro; com
os seus óculos redondos, junto à janela, empurrando a agulha, morria-
se por contar histórias do convento: as perrices da escrivã, sempre a
escabichar os dentes furados; a madre rodeira, preguiçosa e pacata,
com uma pronúncia minhota; a mestra de cantochão, admiradora de
Bocage e que se dizia descendente dos Távoras; e a legenda de uma
freira que morrera de amor, e cuja alma ainda em certas noites
percorria os corredores, soltando gemidos dolorosos e clamando: -
Augusto! Augusto!

Amélia ouvia aquelas histórias, encantada. Gostava então tanto de


festas de igreja e da convivência dos santos, que desejava ser uma
"freirinha, muito bonita, com um veuzinho muito branco". A mamã era
muito visitada por padres. O chantre Carvalhosa, um homem velho e
robusto, que soprava de asma ao subir a escada e tinha uma voz
fanhosa, vinha todos os dias, como amigo da casa. Amélia chamava-lhe
padrinho. Quando ela voltava da mestra, à tarde, encontrava-o sempre
a palestrar com a mãe, na sala, de batina desabotoada, deixando ver o
longo colete de veludo preto com raminhos bordados a amarelo. O
senhor chantre perguntava-lhe pelas lições e fazia-a dizer a tabuada.

Á noite havia reuniões: vinha o padre Valente; o cônego Cruz; e um


velhito calvo, de perfil de pássaro, com óculos azuis, que fora frade
franciscano e a quem chamavam frei André. Vinham as amigas da mãe,
com as suas meias; e um capitão Couceiro, de caçadores, que tinha os
dedos negros do cigarro e trazia sempre a sua viola. Mas às nove horas
mandavam-na deitar; pela frincha do quarto ela via a luz, ouvia as vozes;
depois fazia-se um silêncio, e o capitão, repenicando a guitarra, cantava
o lundum da Figueira.

Foi assim crescendo entre padres. Mas alguns eram-lhe antipáticos:


sobretudo o padre Valente, tão gordo,

138
tão suado, com umas mãos papudas e moles, de unhas pequenas!
Gostava de a ter entre os joelhos, torcer-lhe devagarinho a orelha, e ela
sentia o seu hálito impregnado de cebola e de cigarro. O seu amiguinho
era o cônego Cruz, magro, com o cabelo todo branco, a volta sempre
asseada, as fivelas luzidias; entrava devagarinho, cumprimentando com
a mão sobre o peito, e uma voz suave cheia de ss.

Sumário
Entendemos, nesta unidade temática, que o Realismo se constitui como
o movimento artístico dominante na época, com maior incidência a
nível literário, revelando claramente influências políticas e ideológicas
ao defender uma visão objectiva da realidade, tendo em conta as
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a descrição da
vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais cuidadosamente
observados. Mas também vimos que os termos "Realismo" e
"Naturalismo" frequentemente se confundem e alguns autores falam,
então, de "Realismo-Naturalismo".

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão
1. Fale sobre o papel de Antero de Quental para a Literatura
Portuguesa.
2. Discorra sobre a temática e o contexto da obra “O crime do
Padre Maro”.

Questões de Escolha Múltipla


3. Em “O Crime do Padre Amaro” O fascínio que Amaro exerce
sobre Amélia é cada vez maior, até que:
a) ela começa a ter crises de consciência.
b) ele começa a ter crises de consciência.
c) ela começa a ter crises de inconsciência.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Verdadeiro e Falso
4. João Eduardo, enciumado, publica anonimamente no jornal
local um artigo em que denuncia a imoralidade de alguns padres
de Leiria, especialmente de Amaro.
5. O Realismo não se constitui como o movimento artístico
dominante na época, com maior incidência a nível literário,
revelando claramente influências políticas e ideológicas ao
defender uma visão objectiva da realidade, tendo em conta as

139
condições políticas, económicas e sociais, e ao privilegiar a
descrição da vida quotidiana e o retrato de ambientes sociais
cuidadosamente observados.
6. Em “O Crime do Padre Amaro” Eça faz um levantamento, uma
análise crítica da sociedade portuguesa do seu tempo.
7. O fascínio que Amaro exerce sobre Amélia é cada vez maior, até
que ela começa a ter crises de consciência.
8. Eça de Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua
Portuguesa, sendo considerado por Massaud Moisés um divisor
de águas linguístico entre a tradição e a modernidade.
9. Eça de Queirós cultivou apenas uma tipologia textual.
10. Eça de Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua
Inglesa.

Respostas:
3.. A
4. Verdadeiro
5. Falso
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Falso

140
UNIDADE TEMÁTICA. PARNASIANISMO E SIMBOLISMO EM PORTUGAL

PARNASIANISMO EM PORTUGAL
Termo de origem grega segundo o qual Parnaso seria uma terra
abençoada onde os poetas iam buscar a inspiração poética.

Esta vertente realista particularizou-se sobretudo no culto de formas


poéticas fixas como as odes, os sonetos, etc., no apuro bem como no
conteúdo poético.

A elegância formal deveria condizer com a eloquência. O


Parnasianismo, por outro lado, utilizou-se muito o simbolismo erótico
prevalecente nas imagens da estátua da mulher nua ou do vaso
eroticamente erigido, que foram os objectos preferidos na poética
parnasianista.

Para este último assunto podem ser confrontados:

• A estátua e o vaso chinês entre outras, de Alberto de Oliveira,


para apenas figurar como alguns exemplos.

Exercícios da unidade temática

1. Procure um texto de Cesário Verde e, sendo este um exemplo


de uma obra parnasiana, faz uma análise de forma e conteúdo
de modo que faça referência a essa corrente.

Tanto o Parnasianismo como o Realismo surgem em reacção ao


Romantismo, apesar de manisfestarem de formas diferentes: enquanto
o parnasianismo se preocupa com a mera reprodução da realidade em
forma e cores, o Realismo defendia a existência de uma arte útil,
comprometida.

O parnasianismo apresenta, dentre várias, as seguintes características


fundamentais:

(i) A objectividade dos temas;


(ii) Exactidão e correcção na expressão literária.
Os poetas inspiram-se no mundo exterior, procurando descrevê-lo com
objectividade. Escolhem temas objectivos e concretos, retirados da
História da vida e da Natureza, rejeitando tudo o que é subjectivo e
sentimental. A objectividade da temática liga-se a preocupação com os
aspectos formais, como a correcção, a nitidez, a adequação e a
perfeição.
141
Sob influência do parnasianismo surgem figuras como: Cesário Verde,
em Portugal. Pela sua tensão entre a prática e as cocepções literárias e
pela construção da poesia a partir de perspectivas múltiplas, a obra
poética de Cesário Verde aproxima-se dos movimentos de vanguarda,
influenciando grande parte dos escritores portugueses do século XX.

Reflexo da vida de Cesário – ora na cidade, em Lisboa, ora no campo,


em Linda-a-Velha -, a dicotomia Cidade/Campo constitui-se como eixo
em torno do qual a sua poesia se organiza, traduzindo as profundas
transformações sociais e urbanas da época.

Com o binómio Cidade/Campo articula-se a oposição entre: a mulher


fatal; e a mulher angélica. Para os parnasianos brasileiros, embora
procurem a perfeição e recusem o sentimentalismo romântico não se
preocupam com a objectividade e a descrição.

SIMBOLISMO EM PORTUGAL
Na passagem do século XIX para o XX, o país vive uma grande
turbulência política e económica. A monarquia portuguesa está em
franca decadência, provocada principalmente pelos recentes fracassos
em sua campanha expansionista – situação que determina a queda do
sistema monárquico em 1910. No Simbolismo português, tais conflitos
inspiram obras negativas e saudosistas.

Eugénio de Castro (1869-1944) e António Nobre (1867-1900) estão


entre os pioneiros.

Outro nome de destaque é Camilo Pessanha (1867-1926), cujo livro


Clepsidra (1920) privilegia a musicalidade. Sua lírica alterna instantes
de consciência e inconsciência. Para o eu lírico, a dor é a experiência
mais vital, por meio da qual se alcança o êxtase.

Sumário
Nesta unidade temática vimos que nos anos seguintes a 1860, o
Romantismo entra em declínio e sofre os primeiros ataques por parte
da nova geração que surge, os rebeldes estudantes de Coimbra.

Tanto o Parnasianismo como o Realismo surgem em reacção ao


Romantismo, apesar de manisfestarem de formas diferentes: enquanto
o parnasianismo se preocupa com a mera reproduação da realidade em
forma e cores, o Realismo defendia a existência de uma arte útil,
comprometida.

142
UNIDADE TEMÁTICA: O REALISMO/NATURALISMO NO BRASIL

Objectivos:
• Explicar o que foi o Realismo brasileiro, quais suas principais
características que fazem parte deste movimento,

As raízes do Realismo brasileiro remontam a Memórias de um sargento


de milícias, de Manuel António de Almeida. Lentamente, os escritores
abandonam o verso condoreiro ou grandiloquente de Castro Alves e o
idealismo de José de Alencar, com sua tendência a enaltecer o índio,
transformando-o na figura do “bom selvagem” de Rousseau. Passa a
ocorrer uma tentativa de reconhecimento da realidade brasileira,
acompanhada da reelaboração da linguagem. Há uma diversificação das
técnicas narrativas, seja na utilização do material regional como base da
ficção, seja no estudo de individualidades e seus relacionamentos
sociais.

O texto literário ganha autonomia. Não há mais um projeto nacional a


lhe determinar o conteúdo ou a forma. O texto passa a ser obra de arte
autónoma, cujo objectivo é, antes de tudo, exactamente esse: ser obra
literária.

Este cenário passa-se em conexão com intensa transformação que


Brasil passa na segunda metade do século XIX. Em 1850, foi extinto o
tráfico negreiro, intensificando a luta pela abolição da escravatura;
devido ao crescimento da produção agrícola, sobretudo cafeeira, houve
o deslocamento do eixo económico para a região sul; em 1853, surgiu o
Banco do Brasil; entre 1864 e 1870, houve a Guerra da Tríplice Aliança
(ou Guerra do Paraguai). Como um observador agudo desse cenário
conturbado do Segundo Império, surge o escritor Machado de Assis.

A obra machadiana estilhaça os esquemas literários da época,


aprofunda as experimentações com a linguagem, torna mais complexa
a sondagem do drama humano e demonstra preocupação inusitada
com os elementos da própria narrativa (tempo, espaço, personagens,
etc. se distanciam dos chavões da época). Pretende, em sua essência,
analisar o espírito humano e reflectir sobre os valores que não
pertencem apenas aos brasileiros, mas são património de todos os
homens. E Machado o faz sem perder de vista a realidade brasileira,
antecipando-se ao Modernismo e criando um texto ácido, no qual a
ironia e a paródia são extremamente refinadas.

143
Além de Machado, destacam-se no cenário do Realismo/Naturalismo
brasileiro: Aluísio Azevedo, autor bastante influenciado pelo
Naturalismo de Émile Zola e pelo Realismo de Eça de Queirós, e Raul
Pompéia, escritor que inaugurou a tendência impressionista nas letras.

Vamos, em breve, dar a conhecer alguns marcos importantes do


realismo brasileiro e seus representantes, mas voltamos a falar de
Machado de Assis e a sua obra inaugural do realismo no brasil.

Marcos literários do Realismo/Naturalismo brasileiro


Início: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis
e O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo.

Final: em 1893, são publicados Missal e Broquéis, de Cruz e Sousa, obras


consideradas iniciadoras do Simbolismo no Brasil, todavia o final
“definitivo” do Realismo está mais ligado ao surgimento do Pré-
Modernismo e do Modernismo (a partir da Semana de Arte Moderna,
em 1922).

Aluísio Azevedo (1857-1913)

O autor maranhense foi um dos iniciadores do Realismo/Naturalismo


no Brasil, em 1881, com a publicação de O mulato. Sua principal
realização, entretanto, é O cortiço (1890), obra naturalista marcada pela
defesa da tese de que o ser humano é fruto do meio em que está
inserido. No romance, João Romão é um ambicioso comerciante que
constrói um cortiço em que vive uma série de famílias trabalhadoras de
uma pedreira do qual o personagem também é proprietário. Para o
degradado cortiço se muda Jerônimo, imigrante português de bem,
casado com Piedade e pai de uma filha. Jerónimo envolve-se pela
sensualidade de Rita Baiana e sua vida honesta começa a ruir.

O ambiente degradado do cortiço vai, aos poucos, degenerando o


português e mergulhando o personagem num caminho sem volta.

Raul Pompéia (1863-1895)

144
Pompéia se imortalizou por ter escrito o romance O Ateneu – Crónica
de saudades (1888). Nele, Sérgio narra sua trajetória no internato
Ateneu, dirigido pelo inescrupuloso Aristarco, em tom impressionista,
particularidade que destoa das narrativas realistas/naturalistas. A
instituição é retratada como uma espécie de metonímia da sociedade.

Como já tinhámos dito, aqui vamos falar especificamente de Machado


de Assis (1839-1908). Este escritor “múltiplo,” escreveu romances,
contos, poemas, crónicas, peças teatrais, crítica literária e artigos
jornalísticos. Embora sua infância tenha sido bastante humilde, o autor
alcançou posição de destaque como funcionário público e intelectual
em sua época. Em 1896, fundou a Academia Brasileira de Letras, da qual
foi eleito primeiro presidente e perpétuo.

O autor carioca iniciou sua carreira literária produzindo romances ainda


bastante influenciados pelo Romantismo, mais tarde, após 1881, suas
narrativas foram se modificando e os jogos de interesse presentes nas
relações sociais, os contrastes entre as máscaras e os reais desejos das
personagens, a ironia, a intertextualidade, o adultério se colocaram em
primeiro plano na obra do autor.

É difícil enquadrar Machado de Assis como um autor realista típico. De


maneira diferente de seus contemporâneos Eça de Queirós, Raul
Pompéia ou Aluísio Azevedo, o autor reflectiu insistentemente sobre a
questão: até que ponto a ética e os valores morais resistem aos
interesses individuais? Machado investigou o homem do século XIX de
maneira não-esquemática (bastante comum no
Realismo/Naturalismo), com humor fino e subtil, em enredos não-
lineares, utilizando-se da metalinguagem.

Fases de Machado de Assis


De maneira didáctica, a obra de Machado de Assis pode ser dividida em
duas fases:

1ª. Fase/romântica: nessa fase, embora já trabalhe muitos de seus


temas da fase realista, como a hipocrisia, as aparências, os interesses
financeiros, Machado de Assis apresenta em seus romances traços
típicos da estética romântica, sobretudo em relação à estrutura formal
deles. Pertencem a essa fase: Ressureição (1872), A mão e a luva (1874),
Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878);

145
2ª. Fase/realista: nessa fase, o autor centra sua análise pessimista e
irónica nos interesses obscuros que marcam as relações humanas, na
vaidade, no convencionalismo e na prevalência do poder financeiro. Os
romances realistas de Machado, em geral, inovam também na ruptura
que promovem com a ordem cronológica da narrativa, nas digressões
feitas pelo narrador e na análise psicológica das personagens.
Pertencem a essa fase: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881),
Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e
Memorial de Aires (1908).

Brás Cubas é um homem rico e solteiro que, depois de morto, resolve


se dedicar à tarefa de narrar sua própria vida. Dessa perspectiva, emite
opiniões sem se preocupar com o julgamento que os vivos podem fazer
dele. De sua infância, regista apenas o contato com um colega de
escola, Quincas Borba, e o comportamento de menino endiabrado, que
o fazia maltratar o escravo Prudêncio e atrapalhar os amores adúlteros
de uma amiga da família, D. Eusébia. Da juventude, resgata o
envolvimento com uma prostituta de luxo, Marcela.

Depois de retornar de uma temporada de estudos na Europa, vive uma


existência de moço rico, despreocupado e fútil. Conhece a filha de D.
Eusébia, Eugênia, e a despreza por ser manca. Envolve-se com Virgília,
uma namorada da juventude, agora casada com o político Lobo Neves.
O adultério dura muitos anos e se desfaz de maneira fria. Brás ainda se
aproxima de Nhã Loló, parenta de seu cunhado Cotrim, mas a morte da
moça interrompe o projecto de casamento.

Desse ponto até o fim da vida, Brás se dedica à carreira política, que
exerce sem talento, e a acções beneficentes, que pratica sem nenhuma
paixão. O balanço final, tão melancólico quanto a própria existência,
arremata a narrativa de forma pessimista: “Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

Para compreender a genealogia de Brás Cubas, leia os dois excertos


seguintes:

CAPÍTULO PRIMEIRO / ÓBITO DO AUTOR


Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou
pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a
minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas
considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que
eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor,
para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria
assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua

146
morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este
livro e o Pentateuco.

Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de


agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta
e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos
contos e fui acompanhado ao cemitério por onze

amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e
constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da
última hora a intercalar esta engenhosa idéia no discurso que proferiu
à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós
podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda
irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a
humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens
escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor
crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é
um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”

Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe
deixei. E foi assim que cheguei à cláusula dos meus dias; foi assim que
me encaminhei para o undiscovered country de Hamlet, sem as ânsias
nem as dúvidas do moço príncipe, mas pausado e trôpego como quem
se retira tarde do espetáculo. Tarde e aborrecido. Viramme ir umas
nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina,
casada com o Cotrim, a filha, — um lírio do vale, — e...

Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira


senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não
parenta, padeceu mais do que as parentas. É verdade, padeceu mais.

Não digo que se carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão,
convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática... Um
solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúna
em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos
convinha a essa anónima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama,
com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia
crer na minha extinção.

— “Morto! morto!” dizia consigo.

147
E a imaginação dela, como as cegonhas que um ilustre viajante viu
desferirem o vôo desde o Ilisso às ribas africanas, sem embargo das
ruínas e dos tempos, — a imaginação dessa senhora também voou por
sobre os destroços presentes até às ribas de uma África juvenil...

Deixá-la ir; lá iremos mais tarde; lá iremos quando eu me restituir aos


primeiros anos. Agora, quero morrer tranqüilamente, metodicamente,
ouvindo os soluços das damas, as falas baixas dos homens, a chuva que
tamborila nas folhas de tinhorão da chácara, e o som estrídulo de uma
navalha que um amolador está afiando lá fora, à porta de um correeiro.
Juro-lhes que essa orquestra da morte foi muito menos triste do que
podia parecer. De certo ponto em diante chegou a ser deliciosa. A vida
estrebuchava-me no peito, com uns ímpetos de vaga marinha, esvaía-
se-me a consciência, eu descia à imobilidade física e moral, e o corpo
fazia-se-me planta, e pedra e lodo, e coisa nenhuma.

Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a


pneumonia, do que uma idéia grandiosa e útil, a causa da minha morte,
é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe
sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.

[…]

CAPÍTULO III / GENEALOGIA


Mas, já que falei nos meus dois tios, deixem-me fazer aqui um curto
esboço genealógico.

O fundador da minha família foi um certo Damião Cubas, que floresceu


na primeira metade do século XVIII. Era tanoeiro de ofício, natural do
Rio de Janeiro, onde teria morrido na penúria e na obscuridade, se
somente exercesse a tanoaria. Mas não; fez-se lavrador, plantou,
colheu, permutou o seu produto por boas e honradas patacas, até que
morreu, deixando grosso cabedal a um filho, licenciado Luís Cubas.
Neste rapaz é que verdadeiramente começa a série de meus avós — dos
avós que a minha família sempre

confessou, — porque o Damião Cubas era afinal de contas um tanoeiro,


e talvez mau tanoeiro, ao passo que o Luís Cubas estudou em Coimbra,
primou no Estado, e foi um dos amigos particulares do vice-rei Conde
da Cunha.

148
Como este apelido de Cubas lhe cheirasse excessivamente a tanoaria,
alegava meu pai, bisneto de Damião, que o dito apelido fora dado a um
cavaleiro, herói nas jornadas da África, em prémio da façanha que
praticou, arrebatando trezentas cubas aos mouros. Meu pai era homem
de imaginação; escapou à tanoaria nas asas de um calembour. Era um
bom caráter, meu pai, varão digno e leal como poucos. Tinha, é
verdade, uns fumos de pacholice; mas quem não é um pouco pachola
nesse mundo? Releva notar que ele não recorreu à inventiva senão
depois de experimentar a falsificação; primeiramente, entroncou-se na
família daquele meu famoso homônimo, o capitão-mor, Brás Cubas,
que fundou a vila de São Vicente, onde morreu em 1592, e por esse
motivo é que me deu o nome de Brás. Opôs-se-lhe, porém, a família do
capitão-mor, e foi então que ele imaginou as trezentas cubas mouriscas.

Vivem ainda alguns membros de minha família, minha sobrinha


Venância, por exemplo, o lírio do vale, que é a flor das damas do seu
tempo; vive o pai, o Cotrim, um sujeito que... Mas não antecipemos os
sucessos; acabemos de uma vez com o nosso emplasto.

Sumário

Numa nota final, interessa dizer que o Realismo brasileiro remonta a


Memórias de um sargento de milícias, de Manuel António de Almeida.
Lentamente, os escritores abandonam o verso condoreiro ou
grandiloquente de Castro Alves e o idealismo de José de Alencar, com
sua tendência a enaltecer o índio, transformando-o na figura do “bom
selvagem” de Rousseau. Passa a ocorrer uma tentativa de
reconhecimento da realidade brasileira, acompanhada da reelaboração
da linguagem. Há uma diversificação das técnicas narrativas, seja na
utilização do material regional como base da ficção, seja no estudo de
individualidades e seus relacionamentos sociais. O texto literário ganha
autonomia. Não há mais um projeto nacional a lhe determinar o
conteúdo ou a forma. O texto passa a ser obra de arte autónoma, cujo
objectivo é, antes de tudo, exactamente esse: ser obra literária.

Didacticamente, a obra de Machado de Assis pode ser dividida em duas


fases: a romântica e a realista. E, a esta última fase pertencem as
seguintes obras: Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas
Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de
Aires (1908).

149
AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Reflita em torno do parnasianismo Brasileiro.


2. Encontre os aspectos comuns e divergentes no parnasianismo
português e brasileiro.
3. Discorra sobre o Papel de Machadoi de Assis na Literatura.
4. Reflita sobre o Papel de Manuel António de Almeida na
literatura Brasileira.

Questões de Escolha Múltipla


5. Didaticamente, a obra de Machado de Assis pode ser dividida
nas seguintes fases:
a) romântica
b) realista
c) Todas as alternativas estão correctas.

6. Estão indicadas abaixo algumas das obras de Machado de


Assis:
a) Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
b) Quincas Borba (1891)
c) Dom Casmurro (1899)
d) Todas as alternativas estão correctas.

7. É difícil enquadrar Machado de Assis como um:


a) autor realista típico.
b) ator famoso.
c) Autor português
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

8. Didacticamente, a obra de Machado de Assis pode ser dividida


em duas fases: a romântica e a realista. E, a esta última fase
pertencem as seguintes obras: Memórias póstumas de Brás
Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899),
Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).
9. De maneira didáctica, a obra de Machado de Assis pode ser
dividida em 3 fases:
150
10. As raízes do Realismo brasileiro remontam a Memórias de um
sargento de milícias, de Manuel António de Almeida.
Respostas:

5.. C

6. D

7. A

8. Verdadeiro

9. Falso

10. Verdadeiro

UNIDADE TEMÁTICA: PARNASIANISMO E SIMBOLISMO NO BRASIL

Objectivos
Analisar o contexto do surgimento do parnasianismo no Brasil

Relacionar o parnasianismo e o simbolismo

Analisar marcos e textos do parnasianismo e simbolismo brasileiros

• PARNASIANISMO NO BRASIL

O surgimento do Parnasianismo no Brasil foi marcado pela publicação


da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1882, embora tenha ganhado
força com os nomes Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo
Correia. O Parnasianismo foi um movimento de estilo poético que
marcou bastante a elite brasileira no final do século XIX. No começo do
movimento, ele apresentava nítida influência francesa, valorizando a
forma e o culto à arte sempre. Com o passar dos tempos, os parnasianos
brasileiros não seguiram todos os acordos propostos pelos franceses,
pois muitos dos poemas apresentavam subjetividade e preferências
voltadas ao que acontecia de fato no Brasil, algo que contrariava o
“universalismo”, característica do Parnasianismo francês. Os temas
universais que apareciam na França se
151
opunham ao individualismo romântico que mostrava os aspectos
pessoais, os desejos, sentimentos e aflições do autor.

Olavo Bilac (1865-1918) é o maior nome do Parnasianismo brasileiro.


Sua obra se situa entre Poesias (1888), Crónicas e novelas (1894), Crítica
e fantasia (1904), Conferências literárias (1906), Dicionário de rimas
(1913), Tratado de versificação (1910), Ironia e piedade, Crônicas
(1916), Tarde (1919).

Em Poesias, seu primeiro livro poético, adota o princípio da “arte pela


arte”, esvaziando a temática, ao máximo, de qualquer subjetividade,
em favor do rigor estético. Nos versos de um de seus mais conhecidos
poemas, “Profissão de fé”, anuncia a eleição da forma como objetivo
maior da poesia.

E horas sem conta passo, mudo,

A olhar atento,

A trabalhar longe de tudo

O pensamento.

Porque o escrever – tanta perícia,

Tanta requer,

Que ofício tal... Nem há notícia

De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena

Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,

Serena Forma!

Bilac, Olavo. Antologia da poesia parnasiana brasileira. São Paulo:


Companhia Editora Nacional: Lazuli Editora, 2007. p. 151.

152
O eu lírico destaca, nesses versos, a concentração necessária ao fazer
poético, que deve evitar tanto questões sociais quanto manifestações
de qualquer estado de espírito. O poeta dedica-se ao objectivo maior
de atingir a perfeição formal.

Não obstante, vê-se, principalmente nos sonetos da seção “Via Láctea”,


certo sentimentalismo contido. Tais resquícios da subjetividade
romântica, presentes também nos quadros naturais da poesia de
Vicente de Carvalho (1866-1924), marcam a especificidade do
Parnasianismo brasileiro em oposição ao que se cultivou
principalmente na França.

Ao lado de Bilac, completavam a chamada “tríade parnasiana” os


poetas Raimundo Correia (1859-1911), que conquistou maior prestígio
pela fluência formal de sua obra e pela criação de imagens cuja força
poética é inquestionável, e Alberto de Oliveira (1859-1937), cujos
versos revelam a excelência na combinação entre a descrição e o rigor
formal.

Curiosamente, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia


formaram a chamada “Tríade Parnasiana”

SIMBOLISMO NO BRASIL
A poesia parnasiana tem destaque no início da República, quando a elite
brasileira, entusiasmada com o progresso nacional e indiferente às
condições de vida da população, busca um modelo de “civilidade” e de
distanciamento da realidade nacional.

Na década de 1890, no entanto, poetas de várias partes do país


identificam-se com a estética simbolista, desenvolvendo-a, embora sem
conquistar a crítica e os leitores da época.

Cruz e Sousa (1861-1898), inaugura o Simbolismo no Brasil com os livros


Missal e Broquéis (1893). Sua obra demonstra um rigor formal típico do
Parnasianismo, porém explora o

153
subjetivo, o espiritual e o sinestésico. Destaca-se também uma
dualidade constante, representada pelo conflito entre o plano material
e o desejo de alcançar o plano transcendental em busca da purificação,
como exemplifica a estrofe a seguir.

Para as Estrelas de cristais gelados

As ânsias e os desejos vão subindo,

Galgando azuis e siderais noivados

De nuvens brancas a amplidão vestindo...

Cruz e Sousa, João da. Missal Broquéis. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
p. 139.

Outro expoente é Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), em cuja


poesia o tema mais recorrente é a morte da amada.

Ismália

Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...

Guimaraens, Alphonsus de. In: Ricieri, F. (Org.). Antologia da poesia


simbolista e decadente brasileira. São Paulo:

Companhia Editora Nacional/Lazuli, 2007. p. 99.

Sumário
Estudamos, nesta unidade o surgimento do Parnasianismo no Brasil,
marcado pela publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1882,
embora tenha ganhado força com os
154
nomes Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e Raimundo Correia. O
Parnasianismo foi um movimento de estilo poético que marcou
bastante a elite brasileira no final do século XIX. No começo do
movimento, ele apresentava nítida influência francesa, valorizando a
forma e o culto à arte sempre. Com o passar dos tempos, os parnasianos
brasileiros não seguiram todos os acordos propostos pelos franceses,
pois muitos dos poemas apresentavam subjetividade e preferências
voltadas ao que acontecia de facto no Brasil, algo que contrariava o
“universalismo”, característica do Parnasianismo francês. Os temas
universais que apareciam na França se opunham ao individualismo
romântico que mostrava os aspectos pessoais, os desejos, sentimentos
e aflições do autor.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Reflita em torno da personalidade de Olavo Bilac.


2. Em linhas gerais, o que se pode dizer sobre o simbolismo no
Brasil?

Questões de Escolha Múltipla

3. O Parnasianismo foi um movimento de estilo poético que


marcou bastante a elite brasileira no:
a) final do século XIX.
b) final do século XIIX
c) final do século XIXV
d) todas as alternativas estão correctas.

4. A poesia parnasiana tem destaque no início da República,


quando:
a) a elite portuguesa, entusiasmada com o progresso nacional e
indiferente às condições de vida da população, busca um
modelo de “civilidade” e de distanciamento da realidade
nacional.
b) a elite brasileira, entusiasmada com o progresso nacional e
indiferente às condições de vida da população, busca um
modelo de “civilidade” e de distanciamento da realidade
nacional.
c) a elite alemã, entusiasmada com o progresso nacional e
indiferente às condições de vida da população, busca um
modelo de “civilidade” e de distanciamento da realidade
nacional.
155
d) Todas as alternativas estão correctas.

5. Parnasianismo no Brasil foi marcado pela:


a) publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1884,
embora tenha ganhado força com os nomes Alberto de Oliveira,
Olavo Bilac e Raimundo Correia.
b) publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1883,
embora tenha ganhado força com os nomes Alberto de Oliveira,
Olavo Bilac e Raimundo Correia.
c) publicação da obra “Fanfarras”, de Teófilo Dias, em 1882,
embora tenha ganhado força com os nomes Alberto de Oliveira,
Olavo Bilac e Raimundo Correia.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. O Parnasianismo foi um movimento de estilo poético que


marcou bastante a elite brasileira no final do século XIX.
7. Cruz e Sousa (1861-1898), inaugura o Simbolismo no Brasil com
os livros Missal e Broquéis (1893).
8. Com o passar dos tempos, os parnasianos brasileiros não
seguiram todos os acordos propostos pelos franceses, pois
muitos dos poemas apresentavam subjetividade e preferências
voltadas ao que acontecia de facto no Brasil, algo que
contrariava o “universalismo”, característica do Parnasianismo
francês.
9. No começo do movimento, o parnasianismo não apresentava
nítida influência francesa, valorizando a forma e o culto à arte
sempre.
10. Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Fernando Pessoa formaram a
chamada “Tríade Parnasiana”

Respostas:

3.. A

4. B

5. C

6. Verdadeiro

7. Verdadeiro

8. Verdadeiro

156
9. Falso

10. Falso

157
TEMA 7: O MODERNISMO

Introdução

Nesta unidade temática, vamos falar do movimento artístico e literário


que se desenvolveu na última década do séc. XIX e na primeira metade
do séc. XX, que surgiu por oposição ao tradicional ou clássico – O
Modernismo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Compreender as características do movimento


modernista
Objectivos

UNIDADE TEMÁTICA:
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO
MODERNISMO

Como sabemos, o modernismo caracterizou-se fundamental pelo


progresso, da aceleração das inovações e experiências conduzidas pelos
movimentos da vanguarda13, em função da ideologia do novo como

13
As principais vanguardas europeias

Cubismo (1907): reconstrói as imagens rompendo com os conceitos tradicionais de


perspectiva e proporção, atribuindo ao observador o papel de decodificá-las.

Futurismo (1909): inspirado pelas inovações técnicas, rejeita agressivamente as


tradições e convenções.

Expressionismo (1910): deforma a realidade para fazer uma leitura trágica e crítica do
contexto social e político.

Dadaísmo (1916): utiliza o nonsense (falta de sentido; absurdo) para criticar


radicalmente a sociedade, propondo uma ruptura com a lógica e com a realidade e
opondo-se a uma arte reflectida e premeditada.

158
valor ético e estético, da autonomia da arte, e da recusa da realidade
como modelo para esta última.

Do ponto de vista literário, o modernismo apresenta várias correntes


ou subcorrentes, de inspiração ideológica profundamente divergente:
do saudosismo e decadentismo ao futurismo, ao paulismo e ao
interseccionismo, passando pelo simbolismo e existencialismo. Razão
pela qual é comum afirmar que o modernismo é uma corrente com
muitos “ismos”.

No início da década de 1890, pensou-se que seria necessário mudar


completamente as normas, e em vez de apenas rever o conhecimento
passado à luz das novas técnicas, seria necessário fazer mudanças
profundas. Paralelamente surgiram desenvolvimentos como a Teoria da
Relatividade na física, o aumento da integração do combustível interno
na industrialização.

Nos primeiros quinze anos do século vinte uma série de escritores,


pensadores, e artistas, fez um corte os meios tradicionais de organizar
a literatura, pintura e música. Outra vez, em paralelo com a modificação
dos métodos de organização noutros campos. O argumento era que se
a natureza da realidade nela mesmo estava em questão, e as restrições
que nela se sentiam, assim na arte também, teria de haver uma
mudança radical.

As teorias de Freud foram influenciadas pelo modernismo, que


argumentou que a mente tinha uma estrutura básica e fundamental, e
que essa experiência subjectiva fora baseada na interação das partes do
cérebro. Isto representou o corte com o passado, antes acreditava-se
que a realidade externa e absoluta podia imprimir ela mesmo no
indivíduo, como, por exemplo, na doutrina da tábua rasa de John Locke.

A influência da comunicação, transportes e do rápido desenvolvimento


científico começaram a melhorar os estilos arquiteturais, nos quais a
construção era mais barata e menos ornamentada.

A escrita era mais curta, mais clara, e fácil de ler. A origem do cinema
na primeira década do século vinte deu ao modernismo uma forma de
arte que era unicamente dele. A escrita era mais curta, mais clara, e fácil
de ler. A origem do cinema na primeira década do século vinte deu ao
modernismo uma forma de arte que mais peculiar.

Esta onda de modernismo rompeu com o passado na primeira década


vinte, e tentou redefinir as várias formas de arte de uma forma radical.
À frente do movimento na literatura incluíam-se nomes como Marcel
Proust, Guillaume Apollinaire, Virgínia Woolf, James Joyce, T.S. Eliot,

Surrealismo (1924): surge no pós-guerra e, assim como o dadaísmo, rebela-se contra


a lógica, porém, voltando-se para o inconsciente, a loucura, os sonhos e os impulsos,
motivado pelo advento da psicanálise.

159
Ezra Pound, Wallace Stevens, entre muitos outros. Compositores como
Schoenberg e Stravinsky representam o modernismo na música.

Artistas como Gustav Klimt, Picasso, Matisse, Mondrian representam o


modernismo na pintura. Na véspera da Primeira Guerra Mundial, uma
tensão crescente de ordem social começou a abalar – vista na
Revolução Russa de 1905.

Isto levou ao desenvolvimento do que mais tarde foi chamado


modernismo, e que é, a rejeição do realismo na literatura e na arte, e a
rejeição da alteração da tonalidade na música. No século dezanove, os
artistas tinham tendência para acreditar no progresso, e na importância
do contributo dos artistas positivamente para os valores da sociedade.
No entanto, desde de 1870, esta visão foi gradualmente posta em
questão. Começou-se a ver que os valores dos artistas não coincidiam
com os da sociedade, eram até mesmo opostos. Nietzsche defendeu
uma filosofia progressista, em que o progresso e as forças eram mais
importantes que os factos ou as coisas. Isto também coincidiu com uma
nova onda de interesse no oculto, espiritualismo e na rejeição geral da
visão científica.

Sumário
Nesta unidade temática estudamos basicamente as principais
vanguardas da Europa, nomeadamente: Cubismo (1907): reconstrói as
imagens rompendo com os conceitos tradicionais de perspectiva e
proporção, atribuindo ao observador o papel de decodificá-las.
Futurismo (1909): inspirado pelas inovações técnicas, rejeita
agressivamente as tradições e convenções. Expressionismo (1910):
deforma a realidade para fazer uma leitura trágica e crítica do contexto
social e político. Dadaísmo (1916): utiliza o nonsense (falta de sentido;
absurdo) para criticar radicalmente a sociedade, propondo uma ruptura
com a lógica e com a realidade e opondo-se a uma arte reflectida e
premeditada. Surrealismo (1924): surge no pós-guerra e, assim como o
dadaísmo, rebela-se contra a lógica, porém, voltando-se para o
inconsciente, a loucura, os sonhos e os impulsos, motivado pelo
advento da psicanálise.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

160
1. Explique por que razão o modernismo é corrente dos
“ismos”?
2. Indique os referidos “ismos”.
3. Apresente as características de cada um dos “ismos”
4. No advento do movimento modernista, nomes sonantes
estiveram a ele associados. Indique e enquadre-os nos
respectivos campos, cultural, literário.

Questões de Escolha Múltipla

5. Artistas como Gustav Klimt, Picasso, Matisse, Mondrian


representam o modernismo na:
a) Pintura.
b) Arquitetura
c) Música
d) Todas as alternativas estão correctas.

6. Nietzsche defendeu uma filosofia progressista, em que:


a) o regresso e as forças eram mais importantes que os
factos ou as coisas.
b) o progresso e as forças eram mais importantes que os
factos ou as coisas.
c) o progresso e as forças eram menos importantes que os
factos ou as coisas.
d) Todas as alternativas estão correctas.

7. Na véspera da Primeira Guerra Mundial, uma tensão


crescente de ordem social começou a abalar – vista na
Revolução Russa de 1905.
8. As teorias de Freud foram influenciadas pelo
modernismo, que argumentou que a mente tinha uma
estrutura básica e fundamental, e que essa experiência
subjectiva fora baseada na interacção das partes do
cérebro.
9. A influência da comunicação, transportes e do rápido
desenvolvimento científico não melhoraram os estilos
arquitecturais, nos quais a construção era mais barata e
menos ornamentada.
10. No início da década de 1890, pensou-se que não seria
necessário mudar completamente as normas, e em vez
de apenas rever o conhecimento passado à luz das novas
técnicas, seria necessário fazer mudanças profundas.

Respostas:

161
5.. A

6. B

7. Verdadeiro

8. Verdadeiro

9. Falso

10. Falso

162
UNIDADE TEMÁTICA: O MODERNISMO EM PORTUGAL

Objectivos

• Conceituar o Modernismo historicamente;

• Analisar a importância do contexto histórico para a compreensão


do fenómeno literário;

• Identificar autores representativos;

Em Portugal, o modernismo surge no segundo decénio do século XX,


este movimento artístico que filosoficamente assenta em Ficht e Hegel,
é a assimilação de dois movimentos literários. O simbolismo e o
futurismo.

O modernismo ensaia-se em 1913 com os poemas de Dispersão de Sá


Carneiro e Pauis de Fernando Pessoa. Progride com o encontro de
Pessoa e Almada Negreiros depois da crítica de Pessoa, em Águia, de
uma exposição de caricaturas de Negreiros.

Do paulismo, Pessoa passa rapidamente para o interseccionismo da


Chuva Oblíqua e para o sensacionismo em busca de tal arte europeia
cosmopolita. Álvaro de campos apresenta-o adulto, tendo escrito ao
gosto de Almada Negreiros e com o poema exuberante à euforia do
progresso industrial, do triunfo da máquina

Pessoa e Sá carneiro, que foram saudosistas do grupo d’Águia e da


Renascença Portuguesa, separam-se e vão dar origem ao grupo
d’Orpheu, com Luís de Montalvor e Ronald de Carvalho. A sua rajada de
futurismo vem impulsionar o aparecimento do primeiro número da
Revista Orpheu, publicada em 25 de Marco de 1915, assinala a
introdução do modernismo em Portugal) que provocou um impacto
extraordinário.

A revista respondia ao desejo do grupo de artistas formado por Luís


Montalvor, Mário de Sá Carneiro, Ronald de carvalho, Almada
Negreiros, Fernando Pessoa (Ortónimo e Álvaro de campos), Ângelo de
Lima, entre outros, influenciados pelo cosmopolitismo e pelas
vanguardas europeias, de escandalizar a sociedade burguesa, agitando
o meio cultural português – o que foi conseguido, tornando os autores
objecto de troça geral. O segundo número da revista foi publicado em
Junho do mesmo ano, enquanto o terceiro, embora já numeroso,
acabou por não ser publicado.

O grupo d’Orpheu entra abertamente em oposição com o saudosismo.


O academismo, o nacionalismo e o parnasianismo. O paulismo, o
interseccionismo, o sensacionismo, tudo é outra coisa neste mundo
onde tudo se sente, aparecem sucessivamente.

163
No rumo da revista Orpheu estiveram outras revistas ligadas ao
modernismo, como O Centauro (1916), Portugal (1917), Atena (1924),
mas a Presença (1927) que vai fixar a influência do movimento que
sacudiu mas não se impôs, o que agora, doze anos mais tarde, é
possível, em razão do criticismo equilibrado de João Gaspar simões, de
José Régio e Adolfo casais Monteiro.

A Nouvell Revue Française vai permitir a esta geração continuar a


aprofundar as sementes lançadas em Orpheu. José Régio apresenta as
linhas programáticas do segundo modernismo: uma arte renovada,
desligada de intenções religiosas, nacionalistas, filosóficas, voltada para
a busca, a descoberta do mundo interior do homem. André Gide e Paul
Valéy são padrões de estética do movimento. Os princípios do
modernismo vão se afirmar expressivamente no Novo cancioneiro –
publicado por um grupo de jovens entre 1941 e 1942.

Fernando Pessoa14 – Ortónimo

14
Fernando António Nogueira Pessoa Mais conhecido por Fernando Pessoa, nasceu
em Lisboa a 13 de Junho de 1888. Foi baptizado a 21 de Julho de 1888 na Basílica dos
Mártires que se encontra no Chiado Lisboa. O nome Fernando António tem a ver com
o Santo António de Lisboa, dado que o seu nome de baptismo era Fernando de
Bulhões. O dia de Santo António comemora-se a 13 de Junho, que por coincidência é
o dia de nascimento de Fernando Pessoa. Faleceu na mesma cidade a 30 de Novembro
de 1953. Era filho de Joaquim Seabra Pessoa e Maria Madalena Pinheiro Nogueira
Pessoa. O seu pai faleceu a 24 de Julho de 1893 com uma tuberculose, e o seu irmão
falecera um ano mais tarde. A sua juventude foi passada em Durban – África do Sul,
por motivos da sua mãe ter casado novamente com o Cônsul de Portugal em Durban
– África do Sul. A língua Inglesa foi muito importante na vida de Fernando Pessoa, pois
teve alguns contactos com vários autores Ingleses. Fernando Pessoa foi poeta e
escritor, tendo-se dedicado ao jornalismo e á literatura. Os críticos literários, um do
século XIX Harold Bloom (Nova Iorque, 11 de Julho de 1930), e Pablo Neruda do
século XX (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973),
consideraram Fernando Pessoa como um dos poetas mais representativos do século
XX. E reconhecido com um dos maiores poetas Portugueses a seguir a Camões. Na
literatura criou diversas personalidades sendo conhecidas como heterónimos.

164
Ortónimo significa basicamente: real, verdadeiro. É quando um autor
assina com seu nome verídico a obra, ou seja, quando não se faz o uso
de pseudónimo (heterónimo).

Fernando Pessoa faz o uso de diversos heterónimos em suas obras,


desenvolvendo assim múltiplas personalidades estilísticas
diferenciadas, porém há um único livro publicado pelo próprio
Fernando Pessoa em vida em língua portuguesa assinado como ele
mesmo, trata-se de "Mensagem" de 1934, coletânea e poemas
históricos relacionados principalmente aos "heróis" lusitanos15

Fernando Pessoa é uma figura cimeira da literatura portuguesa e da


poesia europeia do século XX. O seu virtuosismo foi, sobretudo, uma
forma de abalar a sociedade e a literatura burguesas gasta
(nomeadamente através dos seus «ismos»: paulismo,
interseccionismo, sensacionismo), ele fundamentou a resposta
revolucionária à concepção romântica, sentimentalmente
metafísica, da literatura. O apagamento da sua vida pessoal não se
opôs ao exercício activo da crítica e da polémica em vida, e sobretudo
a uma grande influência na literatura portuguesa do século XX.
Fernando Pessoa ortónimo, seguia, formalmente, os modelos da
poesia tradicional portuguesa, em textos de grande suavidade
rítmica e musical. Poeta introvertido e meditativo, anti-sentimental,
reflectia inquietações e estranhezas que questionavam os limites da
realidade da sua existência e do mundo. O poema “Mensagem”,
exaltação sebastiânica que se cruza com um certo desalento, uma
expectativa ansiosa de ressurgimento nacional, revela uma faceta
misteriosa e espiritual do poeta, manifestada também nas suas
incursões pelas ciências ocultas e pelo rosa-crucianismo.
Vejamos agora algumas características:
O Estilo de Fernando Pessoa

A. Características Temáticas

Ø Identidade perdida;

Ø Consciência do absurdo da existência;

Ø Tensão sinceridade/fingimento,
consciência/inconsciência, sonho/realidade;

Ø Oposição sentir/pensar, pensamento/vontade,


esperança/desilusão;

Ø Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção;

15
Veja-se http://www.dicionarioinformal.com.br/ortónimo

165
Ø Estados negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia,
cansaço, desespero, frustração;

Ø Inquietação metafísica, dor de viver;

Ø Auto-análise.

Características Estilísticas
Ø Musicalidade: aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom
nasal (que conotam o prolongamento da dor e do
sofrimento);

Ø Verso geralmente curto (2 a 7 sílabas métricas);

Ø Predomínio da quadra e da quintilha (utilização de


elementos formais tradicionais);

Ø Adjectivação expressiva;

Ø Linguagem simples mas muito expressiva (cheia de


significados escondidos);

Ø Pontuação emotiva;

Ø Comparações, metáforas originais, oxímoros (vários


paradoxos – pôr lado a lado duas realidades completamente
opostas);

Ø Uso de símbolos (por vezes tradicionais, como o rio, a


água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas, o azul; ou modernos,
como o andaime ou o cais);

Ø É fiel à tradição poética “lusitana” e não longe, muitas


vezes, da quadra popular;

Ø Uso de vários tempos verbais, cada um com o seu


significado expressivo consoante a situação.

As temáticas de Fernando Pessoa


A. O fingimento artístico;

Crendo na afirmação de que o significado das palavras está em


quem as lê e não em quem as escreve, Fernando Pessoa
aborda a temática do “fingimento”; o poeta baseia--se em
experiências vividas, mas transcreve apenas o que lhe vai na
imaginação e não o real, não está a sentir o que não é real. O
leitor é que ao ler, vai sentir o poema.

166
B. A dor de pensar;

O poeta não quer intelectualizar as emoções, quer


permanecer ao nível do sensível para poder desfrutar dos
momentos, a constante intelectualização não o permite.
Sente-se como enclausurado numa cela pois sabe que não
consegue deixar de raciocinar. Sente-se mal porque, assim
que sente, automaticamente intelectualiza essa emoção e,
através disso, tudo fica distante, confuso e negro. Ele nunca
teve prazer na realidade porque para ele tudo é perda,
quando ele observa a realidade parece que tudo se evaporou.

C. A fragmentação do eu/Resignação dorida;

O poeta é múltiplo: dentro dele encerram-se vários “eus” e ele


não se consegue encontrar nem definir em nenhum deles, é
incapaz de se reconhecer a si próprio – é um observador de si
próprio. Sofre a vida sendo incapaz de a viver.

A Obra

Ø Poesias de «Cancioneiro» ;

Ø Poesias de «Fernando Pessoa - Poesia Lírica & Épica»;

Ø Poesias Coligidas;

Ø Mensagem;

Ø Poesias Inéditas (1919 - 1930);

Ø Poesias Inéditas (1930 - 1935);

Ø Poemas Para Lili;

Ø excertos de «Fausto: Tragédia Subjectiva»;

Ø Chuva Oblíqua;

Ø Passos da Cruz;

Ø Poesias de Orpheu;

Ø «Quadras ao Gosto Popular»;

Ø «Canções de Beber»;

Ø «Poesia Inglesa I»;

Ø «Poesias Dispersas».

167
Vejamos analisar agora o poema “Não sei quantas almas
tenho”, de Fernando Pessoa Ortónimo.

Como podemos ver, o poeta confessa a sua desfragmentação em


múltiplos “eus”, revelando a sua dor de pensar, porque esta divisão
provém do facto de ele intelectualizar as emoções; a sucessiva mudança
leva-o a ser estranho de si mesmo (não reconhece aquilo que escreveu);
metáfora da vida como um livro: lê a sua própria história.

Fernando Pessoa – Heterónimo

168
Os heterónimos são concebidos como individualidades distintas da
do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios.
Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a
unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade
e a estranheza da existência. Traduzem a consciência da
fragmentação do eu, reduzindo o eu “real” de Pessoa a um papel que
não é maior que o de qualquer um dos seus heterónimos na
existência literária do poeta. São a mentalização de certas emoções
e perspectivas, a sua representação irónica. De entre os vários
heterónimos de Pessoa destacam-se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e
Álvaro de Campos.
Segundo a carta de Fernando Pessoa sobre a génese dos seus
heterónimos, Caeiro (1885-1915) é o Mestre, inclusive do próprio
Pessoa ortónimo. Nasceu em Lisboa e aí morreu, tuberculoso,
embora a maior parte da sua vida tenha decorrido numa quinta no
Ribatejo, onde foram escritos quase todos os seus poemas, sendo os
do último período da sua vida escritos em Lisboa, quando se
encontrava já gravemente doente (daí, segundo Pessoa, a “novidade
um pouco estranha ao carácter geral da obra”).
Não desempenhava qualquer profissão e era pouco instruído (teria
apenas a instrução primária) e, por isso, “escrevendo mal o
português”. Era órfão desde muito cedo e vivia de pequenos
rendimentos, com uma tia-avó.
Caeiro era, segundo ele próprio, «o único poeta da natureza»,
procurando viver a exterioridade das sensações e recusando a
metafísica, isto é, recusando saber como eram as coisas na realidade,
conhecendo-as apenas pelas sensações, pelo que pareciam ser. Era
assim caracterizado pelo seu panteísmo, ou seja, adoração pela
natureza e sensacionismo. Era mestre de Ricardo Reis e Álvaro de
Campos, tendo-lhes ensinado esta “filosofia do não filosofar, a
aprendizagem do desaprender”.
São da sua autoria as obras O Guardador de Rebanhos, O Pastor
Amoroso e os Poemas Inconjuntos.
Ricardo Reis nasceu no Porto, em 1887. Foi educado num colégio de
jesuítas, tendo recebido, por isso, uma educação clássica (latina).
Estudou (por vontade própria) o helenismo, isto é, o conjunto das
ideias e costumes da Grécia antiga (sendo Horácio o seu modelo
literário). A referida formação clássica reflecte-se, quer a nível
formal, quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem
utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado.
Apesar de ser formado em medicina, não exercia. Dotado de
convicções monárquicas, emigrou para o Brasil após a implantação
da República. Caracterizava-se por ser um pagão intelectual lúcido e
consciente (concebia os deuses como um ideal humano), reflectia
uma moral estoico-epicurista, ou seja, limitava-se a viver o momento

169
presente, evitando o sofrimento (“Carpe Diem”) e aceitando o
carácter efémero da vida.
Álvaro de Campos, nasceu em Tavira em 1890. Era um homem
viajado. Depois de uma educação vulgar de liceu formou-se em
engenharia mecânica e naval na Escócia e, numas férias, fez uma
viagem ao Oriente (de que resultou o poema “Opiário”). Viveu depois
em Lisboa, sem exercer a sua profissão. Dedicou-se à literatura,
intervindo em polémicas literárias e políticas.
É da sua autoria o “Ultimatum”, manifesto contra os literatos
instalados da época. Apesar dos pontos de contacto entre ambos,
travou com Pessoa ortónimo uma polémica aberta. Protótipo da
defesa do modernismo, era um cultivador da energia bruta e da
velocidade, da vertigem agressiva do progresso, de que a Ode
Triunfal é um dos melhores exemplos, evoluindo depois no sentido
de um tédio, de um desencanto e de um cansaço da vida,
progressivos e auto-irónicos.
Representa a parte mais audaciosa a que Pessoa se permitiu, através
das experiências mais “barulhentas” do futurismo português,
inclusive com algumas investidas no campo da ação político-social.

Vejamos agora três estrofes do poema Óde triunfal:

Óde Triunfal" de Álvaro de Campos

À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com o que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –


Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro.
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das
170
máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século
cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por
estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.

Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!


Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes e óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!

Repare-se que o título “Ode” remete-nos para um canto de


exaltação. Neste caso o “eu” exalta a máquina, a vida mecânica e
industrial, a civilização industrial, o quotidiano das gentes, ou melhor,
as sensações que defluem do amor à vida moderna em toda a sua
variedade. Com o epíteto triunfal pretende-se vincar, mas também
hiperbolizar o sentido de ode. Dá-nos deste modo logo a sensação de
qualquer coisa de grandioso, não apenas no conteúdo, mas também
na forma.
A trajetória poética de Álvaro de Campos está compreendida em três
fases: a primeira, da morbidez e do torpor, é a fase do "Opiário"
(oferecido a Mário de Sá-Carneiro e escrito enquanto navegava pelo
Canal do Suez, em março de 1914), a segunda fase, mais mecanicista,
é onde o Futurismo italiano mais transparece, é nesta fase que a
sensação é mais intelectualizada. A terceira fase, do sono e do
cansaço, aquela que, apesar de parecer um pouco surrealista, é a que
se apresenta mais moderna e equilibrada. É nessa fase em que se
enquadram: "Lisbon Revisited" (l923), "Apontamento", "Poema em
Linha Reta" e "Aniversário", que trazem, respetivamente, como
características, o inconformismo, a consciência da fragilidade
humana, o desprezo ao suposto mito do heroísmo e o
enternecimento memorialista.
Destaca-se ainda o semi-heterónimo Bernardo Soares (semi "porque
- como afirma o seu próprio criador - não sendo a personalidade a
minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela.
Sou eu menos o raciocínio e afectividade."), ajudante de guarda-
livros que sempre viveu sozinho em Lisboa. Desde 1914 que Pessoa
ia escrevendo fragmentos de cariz confessional, diarístico e
memorialista aos quais, já a partir dessa data, deu o título de Livro do

171
Desassossego - obra que o ocupou até ao fim. É neste livro que revela
uma lucidez extrema na análise e na capacidade de exploração da
alma humana.

Sumário
Nesta unidade temática, foi-nos importante ver que em Portugal, o
modernismo surge no segundo decénio do século XX, este movimento
artístico que filosoficamente assenta em Ficht e Hegel, é a assimilação
de dois movimentos literários. O simbolismo e o futurismo. O
modernismo ensaia-se em 1913, com os poemas de Dispersão de Sá
Carneiro e Pauis de Fernando Pessoa. Prossegue com o encontro de
Pessoa e Almada Negreiros depois da crítica de Pessoa, em Águia, de
uma exposição de caricaturas de Negreiros.

AUTO-AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. “Em Portugal, o modernismo surge no segundo decénio do


século XX, este movimento artístico que filosoficamente assenta
em Ficht e Hegel, é a assimilação de dois movimentos literários”.
De que movimentos se trata?
2. Fale sobre as principais características dos movimentos a que se
faz menção no número anterior.
3. A trajetória poética de Álvaro de Campos está compreendida em
três fases: a primeira, da morbidez e do torpor. Em que consite
cada uma das fases?

Questões de Escolha Múltipla

Questões de Verdadeiro e Falso

UNIDADE TEMÁTICA: O MODERNISMO NO BRASIL

Objectivos

• Compreender o contexto histórico do Modernismo Brasil.

172
• Identificar as fases do Modernismo brasileiro, bem como
textos e seus autores

As manifestações do período conhecido como Pré-modernismo, foram


marcadas por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves
operárias. Nesse clima, Minas e São Paulo iam repartindo o poder,
desfavorecendo as camadas empobrecidas da classe média e as classes
trabalhadoras urbanas e rurais.

À época da Semana de Arte Moderna, o quadro geral brasileiro era de


crises sucessivas, que acabaram por gerar a Revolução de 1930. O
governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) fora combatido pela própria
classe dominante, contrariada por sua negação em continuar
subsidiando o café, preferindo favorecer a indústria. Em 1922, por ser
“a vez” de Minas, Arthur Bernardes é indicado e eleito para presidir a
República, vivendo o país, a partir de então, em estado de sítio sob
regime policial. No mesmo ano, oficiais e militares rebelaram-se contra
o governo, dando origem ao episódio dos 18 “do Forte”, quando quatro
tenentes e catorze soldados do Forte de Copacabana enfrentaram as
tropas governistas na praia de Copacabana, com a morte do civil, de
dois tenentes e dos catorze soldados.

Em 1924, ocorre outra manifestação militar, continuidade do


tenentismo. Cria-se a Coluna Prestes, que, entre abril de 1925 e
fevereiro de 1927, percorreu 24 mil quilómetros, travando combates
com forças governistas e jagunços contratados pelos “coronéis”.

Em 1929, seus principais líderes exilaram-se na Bolívia, e Luís Carlos


Prestes declarou que a luta não tinha mais sentido, pois Arthur
Bernardes já não governava.

Em 1930, uma revolução conduz Getúlio Vargas ao poder, substituindo


Washington Luís e dando início a uma nova fase da história do Brasil.
Entre 1922 e 1930, temos a primeira fase do Modernismo brasileiro. É
claro que essa divisão obedece a critérios apenas didáticos. Os
escritores desse período continuariam a produzir depois de 1930, e nos
anos da primeira fase convivem em tendências opostas, algumas já
manifestadas anteriormente e que se prolonga depois de 30.

173
6.2.2. Modernismo literário do Brasil

Como nos referimos, a Semana de Arte Moderna marca a Primeira Fase


do Modernismo ou Fase Heróica (1922-1930). Esta fase caracteriza-se
por um maior compromisso dos artistas com a renovação estética que
se beneficia pelas estreitas relações com as vanguardas europeias
(cubismo, futurismo, surrealismo, etc.).

Na literatura há a criação de uma forma de linguagem, que rompe com


o tradicional, transformando a forma como até então se escrevia;
algumas dessas mudanças são: a Liberdade Formal (utilização do verso
livre, quase abandono das formas fixas – como o soneto, a fala
coloquial, ausência de pontuação, etc.), a valorização do quotidiano, a
reescritura de textos do passado, e diversas outras.

Este período caracteriza-se também pela formação de grupos do


movimento modernista: Pau-Brasil, Antropófago, Verde-Amarelo,
Grupo de Porto Alegre e Grupo Modernista-Regionalista de Recife.

Entre os escritores desta fase destacamos: Mário de Andrade16:


Paulicéia Desvairada; Lira Paulistana; Contos Novos; Amar, Verbo
Intransitivo; Macunaíma; A Escrava que não é Isaura; Os Filhos da
Candinha.

Na década de 30, temos o início do período conhecido como Segunda


Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é
caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção. A partir deste
período, os ideais difundidos em 1922 se espalham e se normalizam os

16
Mário Raul de Morais Andrade nasceu na cidade de São Paulo em 9 de outubro de
1893. Seu pai era de origem humilde, mas conseguiu alcançar uma situação financeira
estável através de muito trabalho e esforço. Sua mãe, apesar de ser descendente de
bandeirantes, também não era rica. Quando pequeno tinha baixo rendimento na
escola, ao contrário de seus irmãos, que eram muito elogiados. Porém, em dado
momento Mário começou a estudar, ler muito e passava até nove horas por dia
estudando música. Assim, em 1917, ele conclui o curso de piano no Conservatório
Dramático e Musical de São Paulo, publica seu livro de estreia, Há uma gota de sangue
em cada poema. Além disso, conhece Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Como um
dos principais organizadores, participa da Semana de Arte Moderna, que foi realizada
em 1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Neste mesmo ano, publica o livro de
poesia Paulicéia Desvairada. Em 1927 publica o polêmico Amar, verbo intransitivo,
criticando a hipocrisia sexual da alta sociedade paulistana. Em 1934 é nomeado diretor
do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, onde fica até 1938, quando
se muda para o Rio de Janeiro. Em 1940 resolve voltar para São Paulo, vindo a
trabalhar no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1942, publica O
Movimento Modernista, onde faz o balanço e a crítica de sua geração. A partir dessa
época, seu estado de saúde, que já era frágil, piora. Em 25 de fevereiro de 1945, Mário
de Andrade sofre um ataque cardíaco e morre. Além de romances, poemas e contos,
Mário deixou uma grande coleção como crítico literário ("O movimento modernista"
(1942), "Aspectos da literatura brasileira" (1943) e outros livros). Seus principais
romances são: "Paulicéia Desvairada" (1922), "Amar, verbo intransitivo" (1927) e
"Macunaíma" (1928).

174
esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a um
forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um
amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase, que
continuam produzindo.

Dentre escritores dessa fase, destacamos: Carlos Drummond de


Andrade: Alguma Poesia; Sentimento do Mundo; A Rosa do Povo; Claro
Enigma; Fazendeiro do Ar e Poesia até Agora; A Bolsa e a Vida (crónicas
e poemas); Cadeira de Balanço (crónicas e poemas); Contos de
Aprendiz; Fala, Amendoeira.

Temos ainda a Terceira Fase do Modernismo (1945- até 1960); alguns


estudiosos consideram a fase de 1945 até os dias de hoje como Pós-
Modernista, no entanto, as fontes utilizadas para a confecção deste
Manual, tratam como Terceira Fase do Modernismo o período
compreendido entre 1945 e 1960 e como Tendências Contemporâneas
o período de 1960 até os dias de hoje.

Nesta fase, a prosa dá sequência às três tendências observadas no


período anterior – prosa urbana, prosa intimista e prosa regionalista,
com uma certa renovação formal; na poesia temos a permanência de
poetas da fase anterior, que se encontram em constante renovação, e
a criação de um grupo de escritores que se autodenomina “geração de
45”, e que buscam uma poesia mais equilibrada e séria, sendo
chamados de neo-parnasianos.

Dentre escritores dessa fase, destacamos: Clarice Lispector17

17
Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, mas seus pais imigraram para o Brasil pouco
depois. Chegou a Maceió com dois meses de idade, com seus pais e duas irmãs. Em
1924 a família mudou-se para o Recife, e Clarice passou a freqüentar o grupo escolar
João Barbalho. Aos oito anos, perdeu a mãe. Três anos depois, transferiu-se com seu
pai e suas irmãs para o Rio de Janeiro. Em 1939 Clarice Lispector ingressou na
faculdade de direito, formando-se em 1943. Trabalhou como redatora para a Agência
Nacional e como jornalista no jornal "A Noite". Casou-se em 1943 com o diplomata
Maury Gurgel Valente, com quem viveria muitos anos fora do Brasil. O casal teve dois
filhos, Pedro e Paulo, este último afilhado do escritor Érico Veríssimo. Seu primeiro
romance foi publicado em 1944, "Perto do Coração Selvagem". No ano seguinte a
escritora ganhou o Prêmio Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras. Dois anos
depois publicou "O Lustre". Em 1954 saiu a primeira edição francesa de "Perto do
Coração Selvagem", com capa ilustrada por Henri Matisse. Em 1956, Clarice Lispector
escreveu o romance "A Maçã no Escuro" e começou a colaborar com a Revista Senhor,
publicando contos. Separada de seu marido, radicou-se no Rio de Janeiro. Em 1960
publicou seu primeiro livro de contos, "Laços de Família", seguido de "A Legião
Estrangeira" e de "A Paixão Segundo G. H.", considerado um marco na literatura
brasileira. Em 1967 Clarice Lispector feriu-se gravemente num incêndio em sua casa,
provocado por um cigarro. Sua carreira literária prosseguiu com os contos infantis de
"A Mulher que matou os Peixes", "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres" e

175
A seguir, vai ter a oportunidade de ler o trecho do livro: “A Mulher que
matou os Peixes”:

“Essa mulher que matou os peixes infelizmente sou eu. Mas juro
a vocês que foi sem querer. Logo eu! Que não tenho coragem de matar
uma coisa viva! Até deixo de matar uma barata ou outra.

Dou minha palavra de honra que sou pessoa de confiança e meu


coração é doce: perto de mim nunca deixo criança ou bicho sofrer.

Pois logo eu matei dois peixinhos vermelhos que não fazem mal a
ninguém e que não são ambiciosos: só querem mesmo é viver.

Pessoas também querem viver, mas infelizmente também


aproveitar a vida para fazer alguma coisa de bom.

Não tenho coragem ainda de contar agora mesmo como


aconteceu. Mas prometo que no fim deste livro contarei e vocês, que
vão ler essa história triste, me perdoarão ou não.

Vocês hão de perguntar: por que só no fim do livro?

E eu respondo:

- É porque no começo e no meio vou contar algumas histórias de


bichos que eu tive, só para vocês verem que eu só poderia ter matado
os peixinhos sem querer.

Estou com esperança de que, no fim do livro, vocês já me conheçam


melhor e me dêem o perdão que eu peço a propósito da morte de dois
“vermelhinhos” – em casa chamávamos os peixes de “vermelhinhos”.

Eu sempre gostei de bichos. Tive uma infância rodeada de gatos. Eu


tinha uma gata que de vez em quando paria uma ninhada de gatos. E
eu não deixava se desfazerem de nenhum dos gatinhos.

O resultado é que a casa ficou alegre para mim, mas infernal para as
pessoas grandes. Afinal, não agüentando mais os meus gatos, deram
escondido de mim a gata com sua última ninhada.

"Felicidade Clandestina". Nos anos 1970 Clarice Lispector ainda publicou "Água Viva",
"A Imitação da Rosa", "Via Crucis do Corpo" e "Onde Estivestes de Noite?".
Reconhecida pelo público e pela crítica, em 1976 recebeu o prêmio da Fundação
Cultural do Distrito Federal, pelo conjunto de sua obra. No ano seguinte publicou "A
Hora da Estrela", seu ultimo romance, que foi adpatado para o cinema, em 1985.
Clarice Lispector morreu de câncer, na véspera de seu aniversário de 57 anos.

176
Eu fiquei tão infeliz que adoeci com muita febre.

Então me deram um gato de pano para eu brincar.

Eu não liguei para ele, pois estava habituada a gatos vivos.

A febre só passou muito tempo depois.

[...]
Tenho esperanças de que até o fim do livro vocês possam me perdoar.
Antes de começar, quero que vocês saibam que meu nome é Clarice. E
vocês, como se chamam? Digam baixinho o nome de vocês e meu
coração vai ouvir.

[...]

Vocês ficaram tristes com a história? Vou fazer um pedido para vocês:
todas as vezes que vocês sentirem solitários, isto é, sozinhos, procurem
uma pessoa para conversar. Escolham uma pessoa grande que seja
muito boa para crianças e que entenda que às vezes um menino ou uma
menina estão sofrendo. Às vezes de pura saudade, como os periquitos
australianos. Conheço uma moça que toca piano muito bem nos teatros.
Essa moça ganhou de presente no dia do seu aniversário um periquito
australiano. Só ganhou a fêmea. O pior é que as pessoas que dão um
periquito australiano têm que comprar dois: um macho e uma fêmea
que, por causa da raça deles, são tão amorosos que passam o dia se
beijando e não podem ser separados. A periquita até adoeceu de tanta
saudade do macho dela.

[...]
Bem, agora chegou a hora de falar sobre o meu crime: matei dois
peixinhos. Juro que não foi de propósito. Juro que não foi muito culpa
minha. Se fosse, eu dizia.

Meu filho foi viajar por um mês e mandou-me tomar conta de dois
peixinhos vermelhos dentro do aquário.

Mas era tempo demais para deixarem os peixes comigo. Não é que eu
não seja de confiança. Mas é que sou muito ocupada, porque também
escrevo histórias para gente grande.

E assim como a mãe ou a empregada esquecem uma panela no fogo, e


quando vão ver já se queimou toda a comida – eu estava também
ocupada escrevendo história. E simplesmente fiz uma coisa parecida co
deixar a comida queimar no fogo: esqueci três dias de dar comida aos
peixes! Logo aqueles que eram tão comilões, coitados.

Além de dar comida, eu devia sempre trocar a água do aquário, para


eles nadarem em água limpa.

E a comida não era qualquer uma: era comprada em lojas especiais.

177
A comida parecia um pozinho horrível, mas devia ser gostoso para peixe
porque eles comiam tudo.

Devem ter passado fome, igual gente. Mas nós falamos e reclamamos,
o cachorro late, o gato mia, todos os animais falam por sons. Mas peixe
é tão mudo como uma árvore e não tinha voz para reclamar e me
chamar.

E, quando fui ver, estavam parados, magros, vermelhinhos – e


infelizmente já mortos de fome.

Vocês ficaram muito zangados comigo porque eu fiz isso? Então me


dêem perdão. Eu também fiquei muito zangada com a minha distração.
Mas era tarde demais para eu lamentar.

Eu peço muito que vocês me desculpem. Da gora em diante nunca mais


ficarei distraída.

Vocês me perdoam?”

É importante salientar que há tendência de se criar frases introspectivas


originais, metáforas extravagantes e enredos muito diferentes dos que
os romancistas regionalistas (Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano
Ramos, José Lins do Rego) criavam na época, cujas obras engajadas
politicamente todos gostavam. Neste sentido, Clarice vai introduzindo
na literatura brasileira um novo modo de narrar, semelhante ao das
escritoras de língua inglesa Katherine Mansfield e Virginia Woolf: o
romance introspectivo, cujo enredo (a história) importa bem menos
que o "mergulho" do narrador no fluxo de pensamento do personagem.

Sumário

Ficamos a saber que, nesta unidade, o modernismo no Brasil tem como


marco simbólico a semana de Arte moderna realizada em São Paulo, no
ano de 1922, essa semana foi considerada um divisor de águas na
história da cultura brasileira.

Didacticamente, divide-se o modernismo em três fases: a primeira fase,


mais radical e fortemente oposta a tudo que foi anterior, cheia de
irreverência e escândalo; uma segunda, mais amena, que formou
grandes romancistas e poetas; e uma terceira, também chamada Pós-
Modernismo, por vários autores, que se opunha de certo modo a
primeira e era por isso ridicularizada com o apelido de neo-
parnasianismo.
178
AUTO- AVALIAÇÃO

Questões de Reflexão

1. Fale sobre o Parnasianismo.


2. Fale sobre os principais nomes do parnasianismo.

Questões de Escolha Múltipla

3. Na década de 30, temos o início do período conhecido como:


a) Segunda Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-
1945), que é caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção.
b) Primeira Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-
1945), que é caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção.
c) Terceira Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-
1945), que é caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção.
d) Todas as alternativas estão correctas.

4. A partir da década de 30:


a) os ideais difundidos em 1923 se espalham e se normalizam os
esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a
um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se um
amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase, que
continuam produzindo.
b) os ideais difundidos em 1922 se espalham e se normalizam os
esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a
um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se
um amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase,
que continuam produzindo.
c) os ideais difundidos em 1924 se espalham e se normalizam os
esforços anteriores para redefinir a linguagem artística se une a
um forte interesse pelas temáticas nacionalistas, percebe-se
um amadurecimento nas obras dos autores da primeira fase,
que continuam produzindo.
d) Todas as alternativas estão correctas.

Questões de Verdadeiro e Falso

6. As manifestações do período conhecido como Pré-modernismo,


foram marcadas por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves
operárias.

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7. As manifestações do período conhecido como Pré-modernismo, não
foram marcadas por revoltas, intervenções militares e inúmeras greves
operárias.

8. Na década de 30, temos o início do período conhecido como Segunda


Fase do Modernismo ou Fase de Consolidação (1930-1945), que é
caracterizado pelo predomínio da prosa de ficção.

9. o modernismo no Brasil não tem como marco simbólico a semana de


Arte moderna realizada em São Paulo, no ano de 1922, essa semana foi
considerada um divisor de águas na história da cultura brasileira.

10.. É importante salientar que há tendência de se criar frases


introspectivas originais, metáforas extravagantes e enredos muito
diferentes dos que os romancistas regionalistas (Jorge Amado, Érico
Veríssimo, Graciliano Ramos, José Lins do Rego) criavam na época, cujas
obras engajadas politicamente todos gostavam.

Respostas:

4.. A

5. B
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Falso
10. Verdadeiro

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
AMORA, António Soares, Teoria da Literatura. São Paulo, Editora
Clássica-Científica, 1969.

BARREIROS, António José, História da Literatura Portuguesa. Lisboa,


13ª ed. (vol. II), Pax, 1992.

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BOSSI, Alfredo, História Concisa da Literatura Brasileira. 3ª Ed., São
Paulo, Cultrix Lda, 1990.

BRASIL, Reis, História da Literatura Portuguesa. Lisboa, Plátano


Editora, 1958.

BUESCU, Helena Carvalhão, Dicionário do Romantismo Literário


Português. Lisboa, Caminho, 1997.

CÂNDIDO, António, Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte,


Ed. Italaia Lda, 1959.

CÂNDIDO, António, Vários Escritos. São Paulo L.V.C., s/d.

COELHO, Nelly Novaes, Literatura e Língua: A Obra Literária e a


Expressão Linguística. Rio de Janeiro, José Olímpio Editora, 1974.

COUTINHO, Afrânio, A Literatura no Brasil. (vol II), Rio de Janeiro, J.O


Editora, 1970.

FIGUEIREDO, Fidelino, História Literária de Portugal. São Paulo, Editora


Nacional, 1966.

FRANÇA, José Augusto, O romantismo em Portugal. s/l: Livros


Horizonte (Vol. I), s/d.

MOISÉS, Massaud, A Literatura Brasileira através dos Textos. São


Paulo, Cultrix, Lda, 1971.

MONTEIRO, A. Casais, Figuras e Problemas da Literatura


Contemporânea. Instituto de Estudos Brasileiros-USP, 1972.

181
182

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