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CURSO DE LICENCIATURA EM

ENSINO DE GEOGRAFIA

MANUAL DE PENSAMENTO GEOGRAFICO

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2022


CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO
DE GEOGRAFIA

MANUAL DE PENSAMENTO GEOGRÁFICO

1º ANO

CÓDIGO

TOTAL HORAS/2º SEMESTRE 100

CRÉDITOS (SNATCA) 4

NÚMERO DE TEMAS 4

1
2
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED, e contém todos os direitos. É


proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou
por quaisquer meios (eletrônicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão
expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED).
A não observância do acima estipulado o infrator é passível a aplicação de processos judiciais
em vigor no País.

Universidade Aberta ISCED


Vice-reitoria Acadêmica
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Beira - Moçambique
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Cel: +258 82 3055839

Fax: 23323501
Email: suporte@unisced.edu.mz

Website: www.isced.ac.mz

3
Agradecimentos

Universidade Aberta ISCED e o autor do presente manual agradecem a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor: António dos Anjos Luís, Mestrado em Ciência e Sistemas de


Informação Geográfica

Vice-Reitor Académica do ISCED


Coordenação

Design
Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância (IAPED)
Financiamento e
Logística

Revisão Científica e
Linguística 2017

Ano de Publicação 2022


ISCED – BEIRA
Ano de Revisão

Local de Publicação

4
Índice

Visão geral 1

Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico ........................................... 1


Objetivos do Módulo ........................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo .................................................................... 1
Como está estruturado este módulo ................................................................... 1
Ícones de actividade ........................................................................................... 3
Habilidades de estudo ........................................................................................ 3
Precisa de apoio? ............................................................................................... 5
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .................................................................. 5
Avaliação ............................................................................................................ 6

TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO. 9

UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra ... 9


Introdução ........................................................................................................... 9
Sumário ............................................................................................................. 15
Auto-avaliação .................................................................................................. 15
Avaliação .......................................................................................................... 16
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 17

TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO. 18

Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade ......................................... 18


Introdução ......................................................................................................... 18
Sumário ............................................................................................................. 26
Autoavaliação ................................................................................................... 27
Avaliação .......................................................................................................... 28
Referências. Bibliográficas ............................................................................... 29
UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média ..................................... 29
Introdução ......................................................................................................... 29
Sumário ............................................................................................................. 35
Autoavaliação ................................................................................................... 35
Referências Bibliográficas ................................................................................ 35
UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos ................... 36
Introdução ......................................................................................................... 36
Sumário ............................................................................................................. 43
Autoavaliação ................................................................................................... 44

5
Avaliação .......................................................................................................... 45
Referencias Bibliográficas ................................................................................ 45
UNIDADE Temática 2.4. A Institucionalização da geografia ............................ 46
Introdução ......................................................................................................... 46
Sumário ............................................................................................................. 51
Auto-avaliação .................................................................................................. 51
Avaliação .......................................................................................................... 52
Referências Bibliográficas ................................................................................ 53
Sumário ............................................................................................................. 59
Exercícios de AUTO-AVAL Avaliação .............................................................. 60
Referências Bibliográficas Referências Bibliográficas ...................................... 61

TEMA – III: OUTRAS CONTRIBUICOES GEOGRÁFICAS. 62

Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto ........................ 62


Introdução ......................................................................................................... 62
Sumário ............................................................................................................. 69
Auto-avaliação .................................................................................................. 69
Avaliação .......................................................................................................... 70
Referências Bibliográficas ................................................................................ 71
UNIDADE Temática 3.2. A Geografia Vidaliana e o seu contexto .................... 72
Introdução ......................................................................................................... 72
Sumário ............................................................................................................. 78
Autoavaliação ................................................................................................... 79
Avaliação .......................................................................................................... 80
Referências Bibliográficas ................................................................................ 81
UNIDADE Temática 3.3. A abordagem regional vidaliana ............................... 81
Introdução ......................................................................................................... 81
Sumário ............................................................................................................. 89
Autoavaliação ................................................................................................... 90
Avaliação .......................................................................................................... 91
Referências Bibliográficas ................................................................................ 91
UNIDADE Temática 3.4. Os movimentos de renovação .................................. 92
Introdução ......................................................................................................... 92
Sumário ............................................................................................................ 97
Autoavaliação ................................................................................................... 97
Avaliação .......................................................................................................... 98
Referências Bibliográficas ................................................................................ 99

TEMA – IV: GEOGRAFIA COMO CIENCIA. 100

6
UNIDADE Temática 4.1. Geografia como Ciência ..........................................100
Introdução ....................................................................................................... 100
Sumário ........................................................................................................... 113
Autoavaliação ................................................................................................. 113
Avaliação ........................................................................................................ 114
Referências Bibliográficas .............................................................................. 115

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Visão geral

Bem-vindo à Disciplina de Pensamento Geográfico

Objetivos do Módulo

O objetivo geral da disciplina visa fazer compreender o aluno a


evolução histórica do pensamento geográfico, seus principais
autores e a sistematização desse conhecimento numa área
específica do saber científico.

▪ Analisar as atuais perspetivas da ciência geográfica, enfatizando os


movimentos de renovação do pensamento geográfico.
▪ Conhecer as diferentes escolas da Geografia.

▪ Conhecer os fundamentos da geografia quantitativa


e qualitativa.
Objectivos
Específicos

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


Ensino em Geografia da UnISCED bem como para todos os leitores
que desejam atualizar e consolidar seus conhecimentos nessa
disciplina, adquirindo o manual sem ter que se inscrever na
disciplina.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Pensamento Geográfico, para estudantes do 1º ano


do curso de licenciatura em Ensino de Geografia, à semelhança dos
restantes da UnISCED, está estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspetos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta

1
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

secção com atenção antes de começar o seu estudo, como


componente de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / Módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades, Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de autoavaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e atividades
práticas algumas incluindo estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didáticos adicionais ao seu módulo
para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na biblioteca do
seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o
seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para
além deste material físico ou eletrónico disponível na biblioteca,
pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda
as possibilidades dos seus estudos.

Autoavaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática. As tarefas dos exercícios de auto -
avaliação apresentam exercícios resolvidos com detalhes
(orientação das páginas e ou do parágrafo)

Comentários e sugestões

Este é o principal documento da disciplina. Contudo para cada tema


recomenda-se que os estudantes usem outras fontes,
nomeadamente as que aparecem na lista bibliográfica de cada
unidade temática ou mesmo através da pesquisa na internet.

2
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objetivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas atividades práticas ou as


de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando... estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chamase descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante
o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir

4
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;


Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
SMS, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo) é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central da UnISCED
indicada para acompanhar as suas sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com
um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10% do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Avaliação formativa: Serão observados os trabalhos de campo e as
participações nos fóruns de discussões. Para cada actividade a média
pesa em 40% sobre a avaliação final.
2. Avaliação sumativa: Ao final do semestre haverá uma prova
presencial de avaliação e o valor da prova pesa 60% da pontuação
total. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem
prévia autorização.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).
Algumas atividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação da UnISCED.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – I: O SABER GEOGRÁFICO.

UNIDADE Temática 1.1. O saber geográfico e o seu elemento


UNIDADE Temática 1.2. Exercícios Integrados deste Tema

UNIDADE Temática 1.1. A curiosidade do homem e a sua aventura na Terra

Introdução

Nesta primeira aula da disciplina de Pensamento Geográfico, vamos


aprender o que se entende por saber geográfico. Nesse sentido,
estudaremos: como esse saber é essencial para os homens; de que
maneira os conhecimentos geográficos servem para ordenar a
superfície da Terra, gerir, explorar, organizar e substituir uma
primeira natureza, que chamamos “intocada”, por uma natureza
segunda, entendida como a natureza transformada pelo homem; e
como a Geografia e os saberes geográficos ajudam a compreender
as relações humanas e as inter-relações do homem e do seu
entorno, fazendo brotar, na superfície, os meios humanos, as
paisagens, as regiões, os territórios. Usando elementos do cotidiano
e de nossa formação/informação básica, pretendemos auxiliá-lo na
compreensão de como se estrutura o espaço geográfico e de como
ele é apreendido pela Geografia enquanto ciência.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos
Específicos
Compreender como o saber geográfico se relaciona à aventura humana na
Terra;
Identificar de que maneira as necessidades do homem criam espacialidades
diversas;
Relacionar os elementos que compõem o saber geográfico.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A curiosidade do homem e sua aventura na Terra

Antes de começarmos este estudo, é importante distinguirmos


Geografia (enquanto ciência) de conhecimento ou saber geográfico.
O saber geográfico é algo mais do que a Geografia enquanto ciência
que se institucionaliza no século XIX. Essa institucionalização
significou a sistematização científica do saber geográfico
desenvolvido no processo civilizatório. Nesse sentido, não podemos
confundir ciência geográfica com saber geográfico, uma vez que este
último não se resume às formas instituídas pela academia. O saber
geográfico enquanto conhecimento acerca do mundo está presente
em todos os tempos e em todas as civilizações. Assim, quando
falamos de geografia, antes da sua sistematização, estamos, na
verdade, falando de saber geográfico.

Você sabia que a geografia tem a idade da humanidade? Caso tenha


respondido positivamente, você deve ter entendido que ela é, como
todo saber, a expressão de uma curiosidade e a resposta a essa
curiosidade. Habitante da superfície da Terra, o homem tem, desde
o início dos tempos, procurado saber onde se encontra, conhecer o
que existe além do lugar onde mora, inventariar cada elemento da
extensão terrestre, identificar e nomear os lugares, descrever e
conferir representações.

Poder se situar, de forma absoluta (onde estou?) e relativa (o que


existe aquém e além do lugar onde estou?); poder se deslocar e
construir um itinerário; conhecer as terras longínquas onde jamais
se esteve e a diversidade dos homens que lá vivem, os recursos, as
riquezas para explorar; representar e transmitir saberes: tal é a
longa busca empreendida pelo saber geográfico. Essa aventura
geográfica da humanidade comporta a história da exploração e da
descoberta da Terra, bem como a extraordinária história de sua
representação cartográfica. A seguir, vemos dois exemplos: um da
Antiguidade grega e outro do século XVIII.

a b

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 1- (a) Cópia de mapas gregos antigos representando o


continente Antártico sem gelo; (b) Mapa de Buache desenhado em
1737

O homem jamais se contentou em apenas observar a Terra. Por


meio de uma constante interação com o meio, ele tem deixado as
suas marcas: tira da Terra os elementos essenciais à sua vida. Com
essa intervenção, as sociedades humanas “desnaturam” a superfície
da Terra, o que implica sua transformação.
Com estas palavras, você já deve estar imaginando que o homem é
um agente geográfico quando ele descobre novos lugares, drena,
cultiva, constrói, substitui o meio natural por um meio artificial, ou
melhor, por um meio “humano”.
A ação geográfica dos homens implica inscrição de traços, de linhas,
de superfícies de volume (áreas produtivas, manchas urbanas),
sendo alguns destes visíveis, como rotas, campos, construções, e
outros não diretamente percetíveis, como relações sociais,
fronteiras, fluxos de relações. Pontos, linhas, superfícies, volume,
densidade são, de maneira ampla, escrituras geográficas. As
paisagens atestam a diversidade dessa escritura.
Tomando por base Milton Santos (2006), podemos dizer que a
paisagem é constituída por um conjunto de formas que, num dado
momento, exprime as heranças que representam as sucessivas
relações localizadas entre o homem e a natureza. Conjunto de
elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma
determinada área.
Depois de ter “escutado”, atentamente, o que disse o professor
Milton Santos, você deve estar percebendo que o saber geográfico
está relacionado à análise da paisagem, à compreensão de seus
significados e de seus valores. Veja que o saber geográfico nasce da
forma de olhar que os homens constroem sobre seu meio, das
questões que eles se colocam sobre o sentido de sua presença nesse
meio, sobre as influências que eles sofrem do meio e sobre os efeitos
de suas intervenções.
A partir dessa breve exposição, você deve ter percebido que o saber
geográfico surge da curiosidade humana e das interrogações que os
homens se colocam diante das possibilidades e das limitações de
suas ações frente às condições do meio; e que suas ações implicam
marcas e um perpétuo conflito entre a realização de suas
necessidades e o meio.

10
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Elementos do saber geográfico

Neste item, veremos cinco elementos importantes para a


compreensão do desenvolvimento do saber geográfico, vá se
familiarizando com eles, pois serão importantes para sua formação
como professor de Geografia. Esses elementos variam no tempo,
mas são sempre importantes para a análise geográfica.

Posições e contornos

Os homens desenvolveram esforços consideráveis para poder se


situar e ter uma ideia da forma, dos contornos e da articulação entre
os continentes. De diversas maneiras, o homem enfrentou as difíceis
etapas do reconhecimento da Terra; os navegadores foram os
principais descobridores dos limites das terras e dos litorais. Sobre
seus barcos, guiados pelo fio condutor das costas, impulsionados
pelos ventos e pelas correntes, esses homens empreenderam
viagens e expedições em direção a terras míticas, imaginárias ou
reais. Eles desenharam os contornos das costas; depois, com seus
barcos mediram as distâncias, a duração das navegações,
identificaram as posições topográficas. Deram às terras descobertas
milhares de nomes.

Foi subindo e descendo rios ou acreditando descobrir suas


desembocaduras ou mares interiores que os homens adentraram os
continentes. As viagens de exploração por via terrestre, mais difíceis,
foram raras e tardias.

Veja que a identificação da configuração dos continentes e oceanos


necessitava da resolução de três séries de problemas: 1) o
conhecimento da forma da Terra; 2) o conhecimento de suas
dimensões; e 3) a definição das coordenadas de um lugar. A
esfericidade da Terra foi admitida e suas dimensões foram medidas
desde a Antiguidade. Entretanto, enquanto a latitude e a longitude2
não foram definidas com precisão, os homens não puderam
“dominar” efetivamente o seu Planeta. A partir disso, fica claro que
a atitude de se orientar constitui uma das bases de todo saber
geográfico.

2 Distância em graus de qualquer ponto da Terra tomando como referência a linha do equador e distância em graus de qualquer ponto da Terra
tomando como referência o meridiano de Greenwich, respetivamente. Você verá melhor esses dois
conceitos na disciplina Leitura Cartografia
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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Identificação e Inventário dos Lugares

O conhecimento dos contornos e das posições geográficas depende


de outro conhecimento, aquele do conteúdo de cada lugar da
superfície terrestre. A curiosidade dos homens apenas se satisfaz
quando ele preenche os vazios das cartas e substitui os lugares
míticos e imaginários por lugares “reais”.

Diversas finalidades deram sustentação a esta empreitada: terras a


conquistar, impérios a dominar, riquezas para se apropriar,
populações para descobrir, rios e fontes, montanhas e lagos para
inventariar. Assim, o desejo de conhecer foi sempre orientado e
seletivo em relação às intenções dos homens e das sociedades. Ele
varia com a escala que se deseja atingir, ou seja, varia em função da
distância e do afastamento dos lugares que se quer conhecer.
Conhecer significa criar itinerários que são “memorizados” graças à
observação dos traços da topografia próxima e longínqua, à
memorização das cores da vegetação, das nuances do relevo etc.

Figura 2- Registo dos lugares nas primeiras sociedades

Para melhor inventariar e identificar, primeiramente, fixa-se os


fenômenos mais remarcáveis ou que fornecem os melhores marcos
e sinais: o traçado dos rios, os obstáculos montanhosos, os
desfiladeiros, os vulcões, os lagos, os animais e também as cidades.
Em segundo lugar, elenca-se os fenômenos menos visíveis, relações
de troca, tipos de organização social, religiosidade etc.

Gostaríamos de frisar que um bom inventário leva em consideração


também – e não é menos importante – os lugares habitados, rotas,
construções religiosas, riachos, paradas etc. As cidades, os portos, as
redes de rotas representam nós e linhas de funcionamento das

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

sociedades humanas e são reveladoras de dados essenciais. É


fundamental chamar sua atenção para o fato de que o inventário
dos lugares comporta um outro aspecto essencial: aquele de sua
denominação.

A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da


superfície da Terra.

A Terra torna-se Terra dos homens quando deixa de ser anônima e


é nomeada por eles. Todo lugar nomeado pelo homem torna-se
significativo no sentido forte do termo. Baptizar o terreno e cobri-lo
de uma camada de nomes transforma o conhecimento dos lugares
em saber coletivo. Desde o instante em que os lugares têm um
nome, eles são integrados a uma grade social de localização. Seu
conhecimento geográfico deixa de ser fechado no círculo estreito
das pequenas comunidades e se socializa para além do local.

A gente ouve falar de vilarejos, de cidades, de montanhas, de reinos


que jamais vimos e que não veremos nunca. A existência, além do
que é pessoalmente conhecido, de uma esfera muito mais ampla e
que existe apenas como um universo de palavras tem efeitos
múltiplos: ela suscita, para alguns, uma fascinação por aqueles
lugares dos quais ouviram falar; ela alimenta sua imaginação; ela faz
nascer uma necessidade de evasão.

A camada de nomes que constitui a toponímia alarga a esfera dos


deslocamentos e das trocas para além do que foi percorrido pelo
indivíduo.

Localização e Distribuição

Você já deve estar sabendo que o saber geográfico se particulariza


por sua primazia com os dados de localização.

É importante salientar que, além de coletados através de critérios


rigorosos, é necessário que eles sejam cartografados.

O que o geógrafo procura ver na paisagem não é a simples


localização deste ou daquele objeto geográfico particular (fazenda,
cidade, capela e outros), mas a distribuição de todos os objectos de
uma mesma espécie (as casas, as cidades, as vilas, a vegetação, as
florestas) e as diversas fisionomias de conjunto que revelam o meio.

A relação homem-natureza

Os homens se colocam, desde sempre, questões relativas às


relações entre as sociedades e o seu meio, mesmo antes de ter um
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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

saber geográfico sistematizado. Hipócrates (século V antes de


Cristo), em seu tratado Sobre os Ares, as Águas e os Lugares, já
opunha os povos das regiões elevadas e húmidas a povos de regiões
sem água e de variações climáticas bruscas.

Veja que foi e ainda é normal que, inseridos em meios naturais


diversos, os homens tenham de retirar desses meios o seu sustento,
os materiais para construir suas casas, as matérias-primas para sua
produção, dentre outras coisas. Bem como que se interroguem
sobre as influências desse meio no seu comportamento.

O saber geográfico como totalizador da superfície terrestre

Por sua vez, no século XIX, o nível de descrição da superfície da Terra


já permitia uma visualização de sua totalidade. Além das descrições
de lugares particulares, de inventários sobre as diversas partes da
Terra, o saber geográfico segue na direção de compreender os
conjuntos de elementos naturais e humanos e a solidariedade entre
seus componentes, numa dimensão totalizante.

Sumário

Nesta Unidade temática, aprendemos que a curiosidade do homem


foi e é um importante elemento para a constituição das sociedades
e da Geografia. Vimos também que as necessidades básicas nos
impõem atividades diversas e que, para satisfazê-las, deixamos as
nossas marcas e impressões na superfície da Terra. Aprendemos
ainda que as paisagens são um elemento revelador para a análise da
Geografia.

Auto-Avaliação

1. Ao conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente


caracterizam uma determinada área chama-se:
A. Paisagem
B. Pensamento Geográfico
C. Saber geográfico
D. Todas opções estão correctas.
2. O homem enfrentou as difíceis etapas do reconhecimento da
Terra; os principais descobridores dos limites das terras e dos litorais
foram:
14
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Os geógrafos

B. Os navegadores

C. Os expositores

D. Antropólogos

3. A latitude e a longitude são elementos muito importante para


dominar e delimitar o planeta Terra, mas o que constitui uma das
bases de todo saber geográfico é:

A. Longitude

B. Meridianos

C. Latitude

D. Equador

4. A toponímia é uma etapa indispensável do conhecimento da


superfície da Terra.

5. O que o geógrafo procura ver na paisagem é a simples localização


deste ou daquele objeto geográfico particular, a distribuição de
todos os objectos de uma mesma espécie e as diversas fisionomias
de conjunto que revelam o meio.

Guião de Correcção

1-A; 2-B; 3-C; 4-V; 5-V


Avaliação

1.O conceito de lugar articula-se a partir da relação ou compreensão


do ser diante do espaço geográfico, ou seja, o lugar é o espaço
apropriado ou percebido pelas relações humanas.

2.A respeito do conceito de região, avalie as proposições a seguir a


que esta incorrecta:

A.Uma região pode ser criada com a finalidade de realizar estudos


sobre as características gerais de um território, assim como para
entender determinados aspectos do espaço.

15
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

B.A região resulta de uma elaboração racional e intencional do ser


humano. Tem a finalidade de facilitar a análise, a gestão e a
compreensão de uma determinada área e dos elementos que a
compõem.

C.Em geral, a região pode ser entendida como uma área que foi
dividida obedecendo-se a um critério específico.
D.Algumas regiões surgem de forma natural e são estabelecidas sem
que seja necessária a especificação de um critério que as defina ou
classifique.

3.Onde surgiu o conhecimento Geográfico?

A. No mundo Árabe.
B. Na América.
C. No Brasil.
D. Na Grécia Antiga.

4.A Geografia é a ciência que estuda e analisa o espaço produzido


pelo homem

4.O Espaço Geográfico é um importante conceito para a Geografia,


haja vista que ele é o objeto principal de estudo dessa área do
conhecimento. o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de
objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações
humanas que manejam tais instrumentos no sentido de construir e
transformar o meio, seja ele natural ou social. Essa ideia foi
defendida por:

A. Milton Santos
B. Frederich Engels.
C. André Cholley
D. Alexander Von Humboldt

Guião de Correcção

1-V; 2-D; 3-D; 4-V; 5-A

16
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig: um marco da geografia brasileira.


Porto Alegre: Sulina, 2005.
KAERCHER, Nestor André. A geografia é o nosso dia-a-dia. In:
CASTROGIOVANNI, António Carlos (Org.). Geografia em sala de aula.
Porto Alegre: Editora da Universidade/AGB, 1998.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006.

TEMA – II: O EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO.

Unidade Temática 2.1. Geografia na Antiguidade


Unidade Temática 2.2 Geografia na Idade Média
Unidade Temática 2.3 Geografia na era dos descobrimentos Unidade
Temática 2.4 A Institucionalização da Geografia

Unidade temática 2.5. Exercícios Integrados deste Tema

Unidade Temática 2.1. A Geografia na Antiguidade

Introdução

Como você aprendeu na aula 1 (O saber geográfico) o conhecimento


geográfico está fundado na relação homem/natureza (notadamente
a biosfera), na ação humana e na maneira como estão distribuídos
os fenômenos físicos e humanos na superfície da Terra.
Nesta aula, você irá estudar como se deu a evolução desse
conhecimento na antiguidade, principalmente a influência dos
gregos e romanos na construção das ideias geográficas.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Compreender a evolução do pensamento geográfico na Antiguidade.


Objectivos ▪ Relacionar as necessidades dos povos antigos com a produção e compreensão
específicos do espaço geográfico.
▪ Compreender a influência dos gregos e romanos no desenvolvimento do
conhecimento geográfico.

17
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Perceber como surge a Geografia geral e regional.

A indagação geográfica

Para darmos início ao conteúdo desta aula, poderíamos, antes, nos


fazer a seguinte indagação: qual é a questão específica que se coloca
para a Geografia?

Entre tantas possibilidades de respostas, poderíamos responder da


seguinte maneira: a questão específica da Geografia é entender por
que e como as distribuições espaciais estão estruturadas da maneira
que estão.

Lembramos a você que as distribuições espaciais são estruturadas a


partir das ações humanas individuais e coletivas sobre a extensão
terrestre.

Quando Começam as Indagações Geográficas?

Os primeiros indícios de uma preocupação com a distribuição dos


fenômenos surgiram desde os primórdios da humanidade. Nesse
período, o homem pouco modificava a natureza, uma vez que estava
muito subordinado às condições naturais o que, provavelmente, lhe
impunha uma condição de nômade. Essa condição se exprime no
constante deslocamento à procura de meios de subsistência ou em
atividades guerreiras e condiciona a uma necessidade de conservar
informações sobre os caminhos percorridos e as suas direções.

Dessa maneira, surgem os primeiros esboços representando a


superfície da Terra, isto é, os primeiros mapas. Você pode confirmar
essa informação perguntando a qualquer pessoa, mesmo aquelas
que não sabem ler, qual o melhor caminho para ir a um lugar. Ela
será capaz de fazer um esboço, mostrando o caminho a seguir, os
fatos mais importantes que existem ao longo do percurso e os
principais obstáculos. Há mesmo quem diga que fazer mapas é uma
aptidão inata do ser humano.

Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância. O mapa


mais antigo de que se tem notícia data de 2500 a.C. e é uma
representação de um rio, provavelmente o Eufrates, com uma
montanha de cada lado desaguando por um delta de três braços.

Nesse período, a concepção existente era de uma Terra plana, com


a forma de um disco e constituída por uma massa flutuante na água,
com a abóbada celeste por cima.

18
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A expansão política, comercial e marítima dos povos do


mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de
mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos.
Tais descrições eram denominadas de périplos.

O périplo mais antigo data do século VII a.C. e foi feito por
marinheiros fenícios a serviço do faraó egípcio.

Foi na Grécia antiga que a ciência geográfica recebeu seu nome,


entretanto, outros povos que vieram antes dos gregos, já tinham
conhecimentos geográficos, entre estes, destacamos os egípcios,
babilônios e fenícios.

Os egípcios

•Umas das mais antigas civilizações do mundo: 5 mil anos a.C.;

•Se estabeleceram às margens do Rio Nilo e tiveram na agricultura


a principal atividade;

•Devido às condições climáticas da região essa era a única área que


permitia atividade agrícola, no período de cheias;

•Os egípcios estudaram a periodicidade das estações do ano


observando o movimento do Sol, Lua e estrelas.

Figura 3-Registo dos egípcios

19
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Os fenícios e babilônios

•Povos que habitavam a região do atual Oriente Médio;

•Fenícios ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo, onde


atualmente fica o Líbano;

•Dedicavam-se ao comércio e faziam inúmeras viagens pelo Mar


Mediterrâneo e Mar Vermelho;

•Chegaram a ultrapassar o Estreito de Gibraltar e atingir o Oceano


Atlântico;

•Conheciam muito bem esses litorais, ilhas, golfos e baías.

Figura 4-Rotas comerciais dos fenícios e babilônios

•Os babilônios habitavam a região da Mesopotâmia, entre os rios


Tigre e Eufrates, atual Iraque;
•Esse povo serviu-se de crenças espirituais e mitológicas para
explicar os fenômenos naturais que eram inexplicáveis;
•Os babilônios supunham que a Terra era uma grande montanha
redonda cercada por mares;
•No interior da montanha estava o reino dos Mortos e sobre ela, no
céu, a Morada dos Deuses;

20
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

•O mais antigo mapa que se tem notícia foi elaborado pelos


babilônios.

Figura 5- Localização geográfica do império da Babilónia

A Sistematização do Conhecimento Geográfico

A palavra geografia (descrever a Terra) foi criada pelos gregos, povos


que originalmente vão se preocupar com a sistematização desse
conhecimento.

Para Nelson Werneck Sodré (1987), talvez a Geografia seja a ciência


de história mais longa entre todas que conhecemos.

Ela começa com as descrições, nas comunidades de tradição oral,


das migrações e das diferenciações dos lugares. Isso mostra que é
importante que o conhecimento seja registado e transmitido. É na
Grécia, já com o domínio da escrita e em decorrência de sua posição
geográfica no Mediterrâneo, em relação às outras partes do mundo
conhecido, que cabe (aos gregos) coletar e sistematizar os
conhecimentos de natureza geográfica.

O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por


Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.), que viajou e escreveu relatos
das suas viagens. Discípulo de Tales de Mileto é provável que
21
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Anaximandro de Mileto tenha sido o inventor do gnómon,


instrumento que serve para medir a altura do Sol (Figura 2).

Figura 6-Gnomon

O segundo mapa da Antiguidade foi elaborado por Hecateu de


Mileto (560-480 a.C.). Viajou por toda parte do mundo conhecido,
escreveu a Descrição da Terra, obra ilustrada por um mapa onde a
Terra é representada por um disco com água em sua volta.
Outros documentos importantes dessa época são os poemas épicos
Ilíada e Odisseia, de Homero, conhecidos e apreciados por seu valor
literário e pelas informações geográficas contidas na descrição dos
lugares distantes e das longas viagens marítimas.

Os dois pontos de vista da Geografia

Você deve ter percebido, até aqui, que duas são as preocupações
que fundamentam os conhecimentos geográficos desse período. Um
está relacionado com a física terrestre – forma, dimensão, posição
sideral. A outra, com a descrição das diferenças da constituição da
superfície terrestre e com as diversas culturas que nela se instalam.
Essas duas dimensões dão origem a dois pontos de vistas: o da
Geografia Geral e o da Geografia Regional.

Dois “geógrafos” gregos

• Erastóstenes (276-194 a.C.) – Além de demonstrar a


existência da curvatura da Terra e calcular suas dimensões

22
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

com notável precisão, também localizou mares, terras,


montanhas, rios e cidades no primeiro sistema de
coordenadas geográficas, no qual estavam presentes as
latitudes e as longitudes.

Estudou, ainda, questões relativas à hidrografia e à climatologia, às


zonas climáticas e às cheias dos rios, notadamente aquelas relativas
ao Nilo. Contudo, os níveis de generalização traziam consigo
margens de erros consideráveis, fortalecendo a abordagem regional.

Matemático, filósofo e astrónomo grego da escola de Alexandria.


Graças a medição ingeniosa de um arco de meridiano, foi o primeiro
a medir corretamente a circunferência da terra (em 40 000 Km.
aproximadamente).

Figura 7-Erastostenes

• Heródoto (484-425 a.C.) – Filósofo e historiador,


considerado o pai da História e da Geografia, inseriu a
história dos povos no contexto geográfico. Suas crônicas
registam a gênese da Geografia Regional e retratam os mais
diferentes e distantes países. São conhecidas suas viagens à
Fenícia, ao Egipto e à Babilônia. Ao estudar as cheias do rio
Nilo, Heródoto associou a sua desembocadura à letra grega
delta, razão pela qual é encontrada até os dias atuais a foz
em delta nos livros escolares.

23
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 8- Mapa de Eratóstenes

Dois “geógrafos” romanos

• Estrabão (64 a.C – 20 d. C) – Grande enciclopedista destaca


o caráter filosófico e transdisciplinar da Geografia. Em sua
obra, afirmava que o amplo conhecimento, necessário ao
empreendimento de qualquer trabalho geográfico, deve
estar relacionado tanto com as coisas humanas como
divinas, conhecimento que constitui a Filosofia.

Ao contrário dos gregos, interessava-se por uma abordagem mais


humana, cujos ensinamentos destinavam-se às ações de governo.
Além do mais, ensinava que os geógrafos não deviam preocupar-se
com o que estava fora do mundo habitado. Assim como Heródoto,
Estrabão foi um grande viajante, tendo descrito no seu livro várias
partes do mundo daquela época. Por tal feito, é, ainda hoje,
considerado um dos mais importantes geógrafos da Antiguidade.
Estrabão tinha como metodologia geográfica a localização e
delimitação dos aspetos físicos de uma região seguidas da descrição
da população, com suas lendas, costumes e atividades econômicas.

• Ptolomeu (90 – 168 d.C.) – É o último grande geógrafo da


antiguidade, foi também astrônomo e matemático.
Interessouse pelas técnicas de projeção cartográfica e
elaboração de mapas. Em sua obra Geographia, de 8
volumes, traz os princípios de construção de globos e
projeções de mapas, indica os princípios da Geografia,
Matemática e da cartografia, além de organizar um grande
vocabulário com todos os nomes de 8000 lugares que
conhecia, localizando-os por meio da latitude e da longitude.
24
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Em sua obra “el Almagesto” descreve os princípios da Teoria


Geocêntrica, o movimento circular uniforme e a divisão do Universo
em dois domínios) o Cosmos e o mundo sub lunar), que estiveram
vigentes até ao final da idade media e o Renascimento; imaginou a
terra imóvel no centro do universo. Foi o primeiro a fazer mapas com
coordenadas.

Figura 9-Representação da teoria Geocêntrica de Ptolomeu

Sumário

Nesta Unidade temática, aprendemos que o saber geográfico não é


algo que começou a ser produzido recentemente. Chega-se mesmo
a afirmar que o seu início remonta às primeiras comunidades
gentílicas. O rótulo geografia, por outro lado, somente passou a ser
utilizado na antiguidade clássica e é fruto direto do pensamento
grego.

No processo histórico de construção desta especificidade do saber


humano, os (as) gregos (as) são considerados (as) os (as) primeiros
(as) a registar de forma sistematizada os conhecimentos
geográficos. Tais contribuições decorrem do posicionamento
geográfico da Grécia, que possibilitou a navegação, o comércio e o
domínio sobre os povos do mediterrâneo, além do desenvolvimento
social, político, econômico e cultural.

Os (as) romanos (as), partindo dos conhecimentos herdados dos (as)


gregos (as), ampliaram significativamente estes conhecimentos,
tornando-se os (as) responsáveis pelas grandes contribuições que
passariam ser, mais tarde, fundamentais no desenvolvimento da
Geografia enquanto ciência (Um dos grandes problemas
enfrentados pelos que pretendem desenvolver uma pesquisa mais

25
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

aprofundada acerca da história da Geografia, é a ausência quase que


total de informações sobre as produções teórico-metodológicas dos
povos orientais, sobretudo os da Antiguidade, fato que nos obriga,
neste processo de construção, a citar apenas os feitos dos geógrafos
ocidentais, e, mais particularmente, os dos greco-romanos).

Autores como Eratóstenes, Tales de Mileto, Anaximandro,


Heródoto,
Hipócrates, Hiparco, além de outros, produziram os conhecimentos

alicerçadores do que mais tarde seria a geografia científica, fato que


justifica alguns comentários sobre eles.

Apesar da imensa contribuição destes autores citados, foram, sem


dúvida, Estrabão e Cláudio Ptolomeu os maiores responsáveis pela
sistematização dos conhecimentos geográficos na Antiguidades
Clássica. Suas obras, ressaltamos, serviram de modelo para os
geógrafos responsáveis pela grande retomada da produção de
conhecimentos geográficos, ocorrida a partir do século XV.

Auto-avaliação

1. Desde a Antiguidade, a cartografia tem grande importância para


representar os contornos do planeta terra. O mapa mais antigo foi
em:

A. 2500 a.C. B. 2500 d. C

C. 2000 a. C D. 2000 d.C

2. A expansão política, comercial e marítima dos povos do


mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia, Egipto) levou à elaboração de
mapas marítimos e, sobretudo, à descrição de lugares e de povos.
Essas descrições eram chamados de:

A. terráqueo B. périplos.
C. Trilho D. todas opções estão correctas.

3. Atende as características: antigas civilizações do mundo: 5 mil


anos a.C. e situada as margens do Rio Nilo com a principal actividade
agricultura. Esta particularidade refere-se aos:
A. Os fenícios B. Os babilônios

26
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

C. Os egípcios D. Todos

4. Ocupavam uma faixa do litoral do Mar Mediterrâneo,


dedicavam-se ao comércio e faziam viagens pelo Mar
Mediterrâneo e Mar Vermelho e litorais, ilhas, golfos e baías. São
características típicas de:

A. Os babilônios B. Os egípcios

C. Gregos D. Fenícios

5. A Geografia é uma ciência que tem por objetivo o estudo da


superfície terrestre e a distribuição

espacial de fenômenos significativos na paisagem. Os primeiro que


coletar e sistematizar os conhecimentos de natureza geográfica
foram:

A. Gregos B. Egípcios

C. Babilónicos D. Todos

Guião de Correcção
1-A; 2-B; 3-C; 4-D; 5-A

Avaliação

1. O primeiro mapa grego de que se tem notícia foi elaborado por:

A. Eratóstenes (276-194 a.C.)

B. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.)

C. Heródoto (484-425 a.C.)

D. Ptolomeu (90 – 168 d.C.)

2. O segundo mapa da Antiguidade que fazia a Descrição da Terra,


obra ilustrada por um mapa onde a Terra é representada por um
disco com água em sua volta, foi elaborado por:

A. Anaximandro de Mileto (650-615 a.C.)

27
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

B. Heródoto (484-425 a.C.)


C. Ptolomeu (90 – 168 d.C.)
D. Hecateu de Mileto (560-480 a.C.)

3.No processo histórico de construção desta especificidade do saber


humano, os gregos são considerados os primeiros a registar de
forma sistematizada os conhecimentos geográficos.

4.Eratóstenes foi ele que localizou mares, terras, montanhas, rios e


cidades no primeiro sistema de coordenadas geográficas.

5.Qual o objeto de estudo da Geografia?

A. Interpretação de Mapas.
B. Descrição dos Lugares.
C. Observação da Paisagem.
D. Estudo do Espaço Geográfico.
Guião de Correcção

1-B; 2-D; 3-V; 4-V; 5-D

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade.


Recife:
Editora Universitária/UFPE, 2006.
BAILLY, A. FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.
Paris: Armand Colin, 1997.
CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.
SANTOS, Milton. O país distorcido. São Paulo: Publi folha, 2002. p.
82.

UNIDADE Temática 2.2. A Geografia na idade Média

Introdução

Esta aula discute a influência das mudanças ocorridas na passagem


da Antiguidade para o medievo e suas repercussões no

28
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

conhecimento geográfico, assim como a influência árabe no


desenvolvimento da Geografia. Período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
Objectivos Específicos

✔ Compreender a evolução do pensamento geográfico na Idade Média.


✔ Entender que as mudanças ocorridas na sociedade com a queda do
Império.
✔ Romano e ascensão Medieval repercutem no desenvolvimento do
conhecimento geográfico.
✔ Compreender a influência dos árabes no desenvolvimento da
Geografia.

Quadro geral do Sistema Feudal

A obra de Ptolomeu, que vimos no final da aula sobre a Geografia na


Antiguidade, encerra a primeira etapa da Geografia. A própria
riqueza que essa obra produziu por meio de uma ampla
sistematização e o método de documentação que preconizou
mantiveram-se durante muitos séculos presentes no pensamento
geográfico. Como Aristóteles para a Filosofia, Ptolomeu será, até o
Renascimento, a autoridade inconteste em matéria do
conhecimento da Terra e do sistema Mundo. E, desse modo, a Idade
Média é, para a Geografia, um período de estagnação e mesmo de
retrocesso do conhecimento produzido por essa ciência.

A queda do Império Romano e a difusão do Cristianismo dão início a


esse novo momento da história da humanidade, instalando um
processo de fragmentação na produção do conhecimento científico
e geográfico. As causas para essa fragmentação podem ser
encontradas no contexto social, econômico e religioso daquela
época.

As invasões bárbaras vão provocar uma situação de guerra


generalizada em boa parte do espaço europeu ocupado pelo
Império Romano. Tal situação irá provocar na Europa consequências
importantes que levaram ao isolacionismo espacial das sociedades e
à instauração do sistema feudal, conforme você pode perceber na
passagem a seguir.
29
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O fervor intelectual que havia favorecido a reflexão sobre a forma e a


configuração da Terra desapareceu. O Estoicismo deixou de apoiar-se na
hipótese geocêntrica e na imagem de um mundo harmonioso que daí emanava.
A deslocação progressiva da administração tornou inúteis os levantamentos de
informações tão procuradas na época de Augusto. As formas de construção
social que triunfaram na Idade Média assentam em relações pessoais: é através
de notáveis locais que o poder se exerce à distância; como tal, não é necessário
formalizar o saber geográfico nesta sociedade: o conhecimento das pessoas é
sufi ciente. (CLAVAL, 1996, p. 17-8).

A Europa que daí surge está dividida em uma série de pequenas


áreas politicamente diferenciadas, deixando de existir uma política
uniforme sobre todo o território. Veja que a desarticulação dos
sistemas de comunicação ligada ao fato de a Europa se encontrar
relativamente despovoada dificultava o deslocamento de pessoas e
a troca de ideias e de bens entre suas diferentes áreas.

O sistema que se constitui é essencialmente isolacionista e tenta


resolver seus problemas a partir do auto – subsistência do próprio
feudo, prejudicando a mobilidade de pessoas, as trocas e a
ampliação do horizonte geográfico que se verificou na Antiguidade.

A influência da Igreja

Nesse período, a Igreja Católica representa o maior poder europeu


associada às diversas aristocracias, uma vez que se constitui na única
instituição com influência sobre todos os feudos. Dessa maneira, as
respostas para as questões da vida cotidiana, individual, social e
políticas passaram a ser dadas a partir de interpretações bíblicas. É
claro que o homem continua se perguntando sobre as questões
geográficas. Entretanto, indagações sobre “como” e “onde”
continuam a ser feitas, só que agora as respostas são buscadas nas
ordens religiosas e não nas cosmologias, como era mais comum
anteriormente.

A Bíblia era um instrumento que continha referências cosmológicas


e geográficas, as quais davam respostas a tais perguntas. Veja que,
no fundo, é a Igreja e não a ciência que busca respostas para
indagações da realidade sócio espacial.

Vale destacar que nesse período ocorre certo imobilismo


populacional e uma diminuição dos eventos das viagens e, com isso,
30
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

um maior desconhecimento do mundo real. Esses fatores aliados ao


poder da Igreja provocam a diminuição da busca de respostas nas
ciências. “Era natural que em um período de lutas constantes
houvesse grande dificuldade de comunicação e uma queda no ritmo
do comércio e nas preocupações filosóficas e, consequentemente,
um retrocesso do conhecimento na Europa Ocidental”. (ANDRADE,
2006, p. 46).

Depois de Ptolomeu houve um declínio evidente na exatidão dos


mapas do mundo, declínio que perdurou até ao século XIV. Portanto,
durante a Idade Média, período que se estendeu da queda do
Império Romano (476 d.C.) a tomada de Constantinopla (1453 d.C.),
a Cartografia experimentou uma fase de estagnação, onde todas as
conquistas científicas realizadas anteriormente foram substituídas
por uma representação simbólica, de caráter religioso.

Isodoro (570-636 d.C.), bispo de Sevilha, criou o mapa etimologias,


também conhecido como mapa T-0 (Figura 5). Este mapa
esquemático tinha o seguinte significado: o "T" representava os três
cursos d'água que dividiam o ecúmero, o Mediterrâneo, que separa
a Europa da África; o Nilo, separando a África da Ásia; e o Don, entre
a Ásia e a Europa. O ecúmero teria sido dividido por Noé entre seus
três filhos após o Dilúvio. Além disso, o "T" também simbolizava a
cruz e na sua junção estaria localizada Jerusalém, centro do mundo.
Esses mapas, em sua maioria, eram circulares e emoldurados por um
grande oceano.

Figura 10- Mapa T em O, típico da era medieval

Neste mapa a Ásia ocupava sempre a metade superior do”, com a


Europa e a África ocupando, cada uma, a metade da parte inferior.
O mediterrânico uma posição meridiana entre os dois continentes.
31
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Jerusalém estava no centro do círculo, segundo o texto bíblico «esta


Jerusalém; no meio das nações eu a coloquei e suas terras ao redor
dela». O paraíso aparecia localizado a leste na parte superior do
mapa. Nestes mapas foram incluídos elementos teológicos, perdeu-
se a noção de localização rigorosa dos lugares e não existia sistemas
de projeção.
Considerava-se a terra de forma plana representada circularmente.

Nem tudo foi sombra na Idade Média

Se por um lado o conhecimento declinava no mundo ocidental “em


outras áreas, porém, a formação de Estados fortes e a intensificação
das viagens e do comércio permitiram que as tradições culturais
gregas e latinas se integrassem com a de povos do Oriente e
houvesse maior difusão cultural” (ANDRADE, 2006, p.46). Aqui um
fator merece destaque: a expansão Árabe-Muçulmana.

A expansão Árabe-Muçulmana

A civilização Árabe-Muçulmana emerge depois da queda de Roma e


se baseia na nova e vigorosa religião do Islã. Surgida no século VII,
seu fundador foi Maomé (570-632), um próspero mercador da
cidade de Meca.

Maomé acreditava ter visto o anjo Gabriel que lhe ordenou “recitar
em nome do Senhor”. Tomado por essa visão, Maomé se considera
o escolhido e se transforma em profeta.

Nesse período, a maioria do povo árabe acreditava em deuses


tribais, entretanto, nos grandes centros, a maioria da população já
havia tomado conhecimento do Judaísmo e do Cristianismo, o que
facilitou a aceitação de um Deus único anunciado por Maomé. Os
padrões islâmicos de moralidade e as normas que regulam a vida
cotidiana são fixados pelo Alcorão, que os muçulmanos acreditam
conter a palavra de
Alá, revelada a Maomé. Para eles, o Islã é o aperfeiçoamento do
Judaísmo e do Cristianismo e reconhecem Jesus como um grande
profeta, mas não divino. Maomé unifica as tribos árabes, envolvidas
em constantes disputas, através da difusão da fé islâmica.

Entre os séculos VIII e IX, a civilização muçulmana conhece o seu


apogeu. Enquanto o conhecimento estava em baixa na Europa
ocidental, os muçulmanos desenvolviam grandes conhecimentos
32
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

embasados nas realizações dos gregos antigos através da tradução


de obras gregas para o árabe. Com as suas conquistas, o império
árabe estende-se desde a Espanha até a Índia e foi unificado,
principalmente, pela fé. Por volta do século XI, começam a perder
seu domínio.

Os árabes encontravam-se assim extraordinariamente bem


colocados para realizarem a exploração do domínio da Antiguidade
clássica. O interesse pelas viagens e pelo conhecimento de outros
lugares era grande.

As peregrinações a Meca, exigência do Corão, significavam também


grandes distâncias a percorrer. Assistiu-se assim a um período de
desenvolvimento do conhecimento de muitos lugares.

Os árabes procuravam também estabelecer relações com outros


povos distantes. No século XII, Edrisi enriqueceu os seus
conhecimentos geográficos com longas viagens e, ao serviço do rei
da Sicília, elaborou e 1154 um mapa-múndi, que é considerado a
obra mais importante da cartografia árabe. No século XIV, Ibn
Batutah percorreu o Egipto, a Arábia, a Palestina, a Rússia, o Iraque,
o Irão, o Afeganistão, a Índia e a China. Ultrapassou o Equador,
demonstrando que a zona tórrida era habitada. O relato das suas
viagens, rico de observações e de informações pessoais, é,
sobretudo, uma descrição da sociedade muçulmana da 1ª metade
do século XIV.

Figura 11- Itinerários e expansão árabe na idade media

Os árabes mantiveram, deste modo, as tradições da geografia


descritiva. Foram também eles que traduziram no século IX a

33
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

geografia de Ptolomeu, com o nome de Almagesto. Desenvolveram


a astronomia, a matemática, a geometria. Aperfeiçoaram o
astrolábio e a bússola.

E enquanto a cartografia ocidental ia pouco além de uma ilustração


decorativa de textos teológicos, o mundo muçulmano recolheu e
desenvolveu a antiguidade clássica.

As suas cartas são no entanto esquemáticas: não há nem projetado,


nem coordenadas, e a configuração real das várias regiões é
inteiramente ignorada. A latitude e a longitude foram utilizadas
pelos astrónomos nas suas observações, mas geógrafos, ao
elaborarem os mapas, não se serviam desses dados. Existia no
mundo árabe uma separação entre os geógrafos e astrónomos, que
não aconteceu na antiguidade.

Figura 12-Cartogramas usados pelos árabes na idade média

Sumário

Na aula 1 (O saber geográfico), você observou a diferença existente


entre o conhecimento geral e o geográfico.

Agora, você terá visto como esses conhecimentos e, em particular,


o geográfico, recrudesceu no início da Idade Média. A partir desse
período, a influência do Cristianismo passa a ocorrer, também, no
cerne do conhecimento e as respostas para as indagações do
homem passam a ser pautadas nos conhecimentos da Bíblia e no
desenvolvimento do conhecimento humano, como o incremento de
tecnologias que viabilizassem os empreendimentos da Igreja
Católica – as cruzadas, por exemplo. Viu ainda que a influência dos
árabes é grande nesse período e que ela foi fundamental para o
desenvolvimento geográfico dessa época.

34
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Autoavaliação

1. A Europa, da Idade Média, é uma sociedade relativamente


estável e fechada. Mas, esse período inicia grande processo
de abertura e expansão comercial e marítima.
2. Qual das alternativas abaixo aponta características da
religião na Idade Média?

A - Várias igrejas cristãs e protestantes atuavam na Europa Medieval.


B - A Igreja Católica dominava na Europa Medieval, controlando a
produção cultural e tendo grande influência sobre a vida espiritual
das pessoas.
C- As pessoas não davam importância à religião na Idade Média,
sendo que grande parte da população era composta por ateus.
C- Embora monopolizasse a vida religiosa na Idade Média, a Igreja
Católica era muito aberta aos avanços científicos e manifestações
culturais diversas.

Guião de Correcção
1-V; 2-B

Referencias Bibliograficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade.


Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006.

BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.


Paris: Armand Colin, 1997.

CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução


do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1990. (Panfl etos
Gradiva, 5).

MARCO Pólo. Direção de Giuliano Montaldo. São Paulo: Versátil,


1982.

35
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

AS MONTANHAS da lua. Direção de Bob Rafelson. [S. l.]: Tel


Vídeo/20.20 Vision, 1990.

O NOME da rosa. Direção de Jean-Jacques Annaud. São Paulo:


Warner Bros, 1986.

UNIDADE Temática 2.3. A Geografia na era dos Descobrimentos

Introdução

Nesta aula, veremos as mudanças ocorridas no período de transição


entre a Idade Média e os Tempos Modernos, destacando os
acontecimentos que deram origem à chamada Renascença e ao
Iluminismo e a forma como essas mudanças influenciaram e
demandaram uma nova ordem espacial.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos Específicos
✔Compreender a importância da Renascença e do Iluminismo para os tempos
modernos.
✔Mostrar a relação entre mudanças sociais e estruturas espaciais ocorridas na
transição do Feudalismo para o Capitalismo.
✔Relacionar mudanças ocorridas na estrutura social com a estruturação espacial.

O Renascimento

O Renascimento3 foi um dos mais importantes momentos de inflexão


(mudança de direção) da história do ocidente e significa uma rotura entre o mundo
medieval, caracterizado como uma sociedade agrária, esta mental, teocrática e
fundiária, e o mundo moderno, caracterizado pela urbanização, pelo modo burguês
de pensar e, principalmente, por se caracterizar como uma sociedade de trocas.

3 Segundo o dicionário Michaelis, o Renascimento pode ser definido como o movimento literário, científico e artístico surgido na

Itália, no século XV, e difundindo-se pelos outros países da Europa, no século XVI; sua
característica principal foi a imitação dos modelos da civilização grega e latina.
36
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O Renascimento vai do século XV ao XVII. Neste momento ocorrem


significativas mudanças. Na Europa, estas mudanças estão na
origem do que viria a ser o mundo contemporâneo.

Como vimos na aula anterior, a Europa, da Idade Média, é uma


sociedade relativamente estável e fechada. Mas, esse período inicia
grande processo de abertura e expansão comercial e marítima.

A identidade das pessoas, de forte vinculação com o clã (tribo


constituída de varias famílias subordinadas a um chefe hereditário)
com a propriedade fundiária, passa a ter como referência o
nacionalismo e o cultivo da própria individualidade.

O homem vai tornando-se, aos poucos, o centro das preocupações,


possibilitando paulatinamente a instalação de mentalidade laica (o
que se opõe à eclesiástica), a qual vai se desligando do sagrado e das
questões transcendentais tão características da Idade Média. Essas
mudanças afetaram todas as esferas sociais:

Na esfera econômica, o comércio e a manufatura tiveram grande


expansão e o capitalismo substitui amplamente as formas medievais
de organização econômica.

Na esfera política, o governo central torna-se mais forte e viabiliza a


consolidação do Estado, nova forma de governar. Na esfera religiosa,
veremos a ascensão do protestantismo.

Na esfera social, surge o que hoje chamamos de classe média, que


assume um papel importante no campo da política e da cultura. Na
esfera cultural, o clero perde o monopólio do ensino e a teologia
cede lugar à ciência na explicação do mundo.

A sociedade renascentista é uma sociedade fascinada pela vida da


cidade, pelo comércio e pelos prazeres terrenos. A ideia de viver
bem neste mundo passa a rivalizar com a promessa do paraíso.

Ao se afastarem da orientação religiosa predominante na Idade


Média, a sociedade que daí emerge vai discutir a condição humana
na sua relação com o mundo, abrindo, assim, novas possibilidades
de reflexão sobre questões políticas e morais.

Note que nesse processo de transição do medieval para a


modernidade o mundo vai tornando-se cada vez mais laico e
independente da tutela da religião e o homem vai sendo levado a
pensar e analisar a realidade que o cerca em toda a sua objetividade
e não como resultado da vontade divina.
37
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Perceba que neste momento aparecem novas instituições políticas


e sociais – nações, estados, novas legislações, novas classes sociais,
exércitos etc. – o que implica também numa nova maneira de pensar
a vida social, a história e a geografia. As cidades ganham vida,
atraindo pessoas de diferentes lugares dispostas a conquistar um
espaço no mundo, a competir e a enriquecer.

A cidade vai transformar-se também no lócus de sustentação do


desenvolvimento do capitalismo, inaugurando também uma nova
divisão social e territorial do trabalho (trataremos melhor desse
assunto na aula seguinte, na qual veremos as consequências
espaciais de toda essa transformação).

O Iluminismo

Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar.


Falando de modo geral, foi uma consequência da “revolução
científica” do final do século XVII, que havia transformado a
concepção que a maior parte das pessoas instruídas tinha a respeito
do mundo habitado.

Como vimos a pouco, o Renascimento inicia o movimento de


transição da sociedade medieval para o capitalismo moderno.
Sistema econômico voltado para a produção concentrada de bens,
para a troca, para a expansão comercial, para a circulação crescente
de mercadorias e para o adensamento populacional. Perceba que é
um sistema que demanda constantemente ajustes e ordenamento
espacial.

Essa sociedade que emerge é individualista e financista. Voltada


para expansão comercial e busca do lucro, ela engendra novos
valores e atitudes que passam a reger o comportamento social. Veja
que a nova sociedade mexe de maneira radical com a estruturação
espacial: expansão significa busca e dominação de novos territórios;
produção concentrada exige deslocamento de população e novo
papel para as cidades; circulação demanda vias de comunicação e de
fluxos, dando origem a redes urbanas hierarquizadas.

O Desenvolvimento Científico

Essas novas condições fizeram do comércio a principal atividade


motora da sociedade que daí emergia. Para esse fim, organizavam-
se viagens internacionais e faziam-se guerras nas quais eram
disputadas as melhores rotas comerciais, as fontes de produtos e
matérias-primas e a clientela. As grandes navegações ocorreram
nesse cenário.

38
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A valorização e intensificação das trocas, a descoberta de novas


rotas e do desenvolvimento das redes urbanas, e a possibilidade,
cada vez maior, de se auferir lucro repercutiram no estímulo à
produção. Tornava-se urgente produzir mais e em condições
capazes de responder à demanda que se tornava cada vez mais
intensa.

Esse quadro passa a exigir dos produtores uma outra racionalidade


e, principalmente, planeamento. Além disso, a intensificação e
ampliação dos mercados requerem um desenvolvimento
tecnológico que acompanhe os novos ritmos da produção em larga
escala para um mercado que já se reveste de tendências mundiais.

Perceba que nesse caso estão dadas as condições para o


desenvolvimento tecnológico voltado para a invenção e produção
de máquinas que potencializasse a produção e o barateamento dos
produtos. Isso provoca um verdadeiro corre-corre por engenhos
tecnológicos.

O planeamento, a racionalidade e o desenvolvimento da pesquisa


científica vão, aos poucos, sendo disseminados visando à produção,
e também vão se disseminando na vida cotidiana.

Essa turbulência provoca a curiosidade dos homens no sentido da


busca do entendimento dos mecanismos que regulam o mundo
circundante, ou seja, o homem da modernidade procura
compreender os mecanismos da vida e da natureza.

Com a saída sistemática de populações do campo em direção à


cidade, o interesse pela produção agrícola tornou-se iminente dado
que, pela primeira vez na história, dever-se-ia produzir para um
contingente de produtores não primários. Essa preocupação
manifesta-se numa verdadeira revolução agrícola que buscava
aumentar a produção e a produtividade de alimentos. E esse
movimento somente foi possível porque junto com a revolução
agrícola vieram também a revolução científica, tecnológica e
industrial.

As Grandes Navegações

Imagine que, diante do quadro apresentado até aqui, os interesses


econômicos e de expansão manifestavam-se de forma nunca vista
na história. São esses interesses que vão provocar, entre os séculos

39
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

XVI e VXII, o ingresso da Europa Ocidental numa era de agressiva


exploração ultramarina e expansão econômica que transformará em
definitivo o mundo em que vivemos. Os exploradores europeus
descobriram um novo caminho para a Índia, fazendo o

contorno do continente Africano. Conquistaram, colonizaram e


exploraram a América, o que provocou um extraordinário aumento
nas atividades mercantis e no suprimento monetário, promovendo
o desenvolvimento do capitalismo.

As Grandes Navegações levaram ao progresso da Cartografia, além


de inúmeras invenções como a bússola, a caravela e o astrolábio.

Figura 13- bússola, a caravela e o astrolábio.

▪ Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo


com as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais
por onde passavam, deixando de lado a descrição do interior dos
continentes.
40
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

▪ Esses mapas eram denominados portulanos.

Figura 14- mapas portulanos


As grandes navegações (ou os grandes descobrimentos) foram
fundamentais para o alargamento do horizonte geográfico a partir
da Europa. Para superar as dificuldades na busca de novas terras, os
navegadores tiveram que aprimorar seus instrumentos de
observação da natureza. Alguns instrumentos serviram, portanto,
como potencializadores da capacidade de observação e de registo
do que os homens conseguiam ver e conhecer. A combinação dos
usos de instrumentos, resultado das invenções do ser humano, foi
fundamental para que as navegações ocorressem muito além das
proximidades dos continentes. Depois de ultrapassar o Cabo
Bojador, no Marrocos, os portugueses foram além, acompanhando
a costa oeste da África, até chegarem ao Oceano Índico depois de
ultrapassarem o Cabo da Boa
Esperança

41
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Figura 15- Cabo da Boa Esperança, África do Sul

Daí, chegar à Índia, acertar o rumo para a América, ir além do


Estreito de Magalhães, foi resultado de um passo arrojado e
corajoso que os navegadores portugueses, depois os espanhóis,
desafiando as condições naturais e adversas de correntes marítimas
e de ventos, puderam chegar a terras antes desconhecidas por eles.

Para que isso ocorresse, no entanto, foi necessário o


desenvolvimento de outros conhecimentos. A elaboração de mapas
com o domínio da linguagem matemática e das projeções
cartográficas foi necessária para que as rotas fossem, ao longo do
tempo, definidas com mais precisão.

Um novo desafio se colocava: a Terra, de formato esférico, precisava


ser representada em um plano constituído pela folha que se
colocava sobre a mesa dos cartógrafos. As medidas de latitude e
longitude precisavam ser respeitadas e, para isso, a precisão
matemática se tornava cada vez mais necessária.

A linguagem da ciência, no Renascimento, consolidava-se como


sendo a matemática. Por meio de pontos, retas e ângulos, poder-se-
ia localizar qualquer ponto, pessoa, lugar etc., num sistema
tridimensional de coordenadas. Cabia, com as mudanças
paradigmáticas do Renascimento, compreender como o mundo
funcionava, muito mais do que compreender por que ele foi criado.
O ser humano emerge como centro do universo e sua posição nesse
universo, mesmo tendo como referência a Terra, era importante
para se ampliar os horizontes da ciência.

42
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Para que isso ocorresse, os europeus foram responsáveis pela


conquista de novas terras, associando-se ou dizimando outras
populações que já aí viviam. Sua capacidade de conquista foi
potencializada por alguns elementos: a caravela, mais leve e ágil e
que podia ultrapassar, por causa das suas velas, cabos com ventos
contrários; a pólvora, elemento básico para a demonstração do
poderio bélico, que possibilitou o avanço dos conquistadores sem se
arriscarem no corpo-a-corpo das batalhas; e a bússola, instrumento
que permitiu a orientação dia e noite nos deslocamentos pelos
mares e pelas terras.

A esses elementos, acrescenta-se a imprensa, invenção que permitiu


o registo dos conhecimentos e sua divulgação em diferentes línguas
para todos aqueles que pudessem decifrar os códigos das letras e
sílabas, e das representações cartográficas.

Atitudes como a observação, a anotação, o uso de instrumentos, a


descrição e a explicação foram incorporados pela Geografia e, ainda
hoje, são importantes para a abordagem do temário geográfico.
Para completar esse quadro, é importante lembrar o papel do
método científico, que serviu para que os cientistas se orientassem,
registassem e transformassem a observação dos fatos em elementos
científicos.

O método científico, como ele foi organizado no Renascimento,


continha alguns princípios que, quando seguidos, davam o estatuto
de ciência ao que era enunciado. Observar sempre, experimentar,
utilizar a linguagem matemática, decompor o facto estudado, não
deixar de lado nenhum aspecto do facto para que ele tivesse todas
as suas possibilidades esgotadas, eram os princípios que deviam ser
seguidos por todos aqueles que tinham, como objectivo, fazer
ciência.

Sumário

Nesta aula, mostramos as principais mudanças ocorridas à época da


Renascença e do Iluminismo, dois momentos que significaram o
período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.

Destacamos ainda as relações entre o clima intelectual, o


desenvolvimento político, cultural, social e econômico e a relação
recíproca entre essas mudanças e as mudanças de ordem espacial.

43
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Este período significou para a geografia, como para quase todo os


sectores do saber humano, uma época de renovação e de fabril
actividade.

Foi o tempo das grandes viagens, que revelaram mundos


desconhecidos, e das grandes descobertas científicas, que
forneceram novas bases a todos os conhecimentos.

Três factos importantes caracterizaram este momento único:


— Um prodígio alargamento do horizonte geográfico;

— O grande desenvolvimento da cartografia;


— Os progressos das ciências físicas auxiliares da geografia.

Autoavaliação

1.O Renascimento inicia o movimento de transição da sociedade


medieval para o capitalismo moderno

2.Os desenvolvimentos da pesquisa científica vão, aos poucos,


sendo disseminados visando à produção, e também vão se
disseminando na vida cotidiana. Foi no desenvolvimento científico
que:
A. Ocorreram as grandes navegações
B. Queda do império Romano
C. Descoberta da Geografia
D. Todas opções estão correctas.
3.Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo
com as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais
por onde passavam

4.Os primeiros mapas desse período eram elaborados de acordo


com as necessidades dos navegadores, que descreviam os litorais
por onde passavam. Esses tipos de mapa eram denominados por:

A. Bússola
B. caravela
C. astrolábio
D. portulanos.
5. Os grandes descobrimentos foram fundamentais para o
alargamento do horizonte geográfico a partir da:

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Africa B. Ásia
C. Europa D. América

Guião de Correcção
1-V; 2-A; 3-V; 4-D; 5-C
Avaliação

1.A elaboração de mapas com o domínio da linguagem matemática


e das projeções cartográficas foi necessária para que as rotas
fossem, ao longo do tempo, definidas com menor precisão.
2.O método científico, como ele foi organizado no Renascimento,
continha alguns princípios que, quando seguidos, não davam o
estatuto de ciência.
3.As principais mudanças ocorridas à época da Renascença e do
Iluminismo, são dois momentos que significaram o período de
transição entre:
A. A Idade Moderna e a Idade Média
B. a Idade Média e a Idade Moderna.
C. Contemporânea e a Idade Moderna.
D. Contemporânea e a Idade Média
4. Nas grandes navegações, podemos destacar um dos factos muito
importantes para contributo do sucesso da Geografia:
A. O grande desenvolvimento da cartografia
B. Revolução Industrial
C. Avanço Tecnológico
D. Todas opções estão correctas.
5. Os progressos das ciências físicas auxiliares da geografia foram
marcados na era de descobrimentos.

Guião de Correcção
1-F; 2-F; 3-B; 4-A; 5-V

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia: ciência da sociedade.


Recife: Editora Universitária/UFPE, 2006.

BAILLY, A.; FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.

45
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Paris: Armand Colin, 1997.


CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

PERRY, Marvin. Civilização ocidental. São Paulo: Martins Fontes,


2002.

TARNAS, Richard. A epopéia do pensamento ocidental. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

UNIDADE Temática 2.4. A Institucionalização da geografia

Introdução

A Geografia moderna surge na Alemanha, a então Prússia, no século


XIX, marcada pelas particularidades desse país. Mostrar isso é um
dos intuitos desta aula. Mostraremos também que os contextos
culturais, políticos e filosóficos devem estar relacionados quando se
trata de entender o desenvolvimento de qualquer ciência.
Você verá ainda como se dá o processo de sistematização e
institucionalização da Geografia, quais foram os pressupostos
materiais e históricos que deram sustentação a essa sistematização
e quais os pressupostos imateriais/subjectivos. Esta aula tenta
responder às seguintes questões: por que a geografia, um
conhecimento de longa data, vai se transformar em um saber
sistematizado e científico apenas no século XIX e por que é na
Alemanha que isso acontece? Quais as relações entre o contexto da
modernidade4 e o surgimento dessa ciência? Desse período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos específicos

✔Compreender como as transformações ocorridas na modernidade


influenciaram o processo de desenvolvimento das ciências em geral e da Geografia
em particular.

4 Estilo e costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que vai, paulatinamente,

influenciando todo o mundo.

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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

✔Identificar as mudanças ocorridas nesse período que influenciaram, especificamente,


o pensamento geográfico.
✔Relacionar os processos históricos, sociais, econômicos e políticos com o
desenvolvimento e sistematização do conhecimento geográfico.
✔Articular a especificidade da Alemanha no século XIX com o surgimento da Geografia
moderna.

Contexto geral

Como você viu na aula sobre Geografia na Antiguidade, as primeiras


indagações geográficas sobre a localização e distribuição dos
fenômenos remontam às origens da humanidade.
Entretanto, de forma mais rigorosa, a Geografia como
conhecimento mais sistematizado nasce na Grécia, onde
Anaximandro de Mileto (650615 a.C.) constrói o primeiro “mapa do
mundo” e Hecateu de Mileto (560-480 a.C.) constrói o segundo. Por
outro lado, a Geografia enquanto ciência autônoma e sua
institucionalização ocorrerão somente no século XIX.

Perceba que desde o início o conhecimento geográfico apresentou-


se polarizado entre duas tendências opostas e complementares. De
um lado, os geômetras (versados em Geometria) e os astrônomos,
com uma visão mais geral; de outro, os desbravadores, os
aventureiros e curiosos, os historiadores, os filósofos e os políticos
que, preocupados com os aspectos diferenciados da superfície
terrestre, das diversas formas de produção, dos povos e de seus
costumes, refletem sobre as relações entre os diferentes territórios
e as várias sociedades humanas.

Vimos também que no decorrer da história da humanidade os


périplos e conquistas se multiplicam, os contactos com os povos
“bárbaros” vão pari passu (simultaneamente) alargando o
horizonte geográfico.

A gênese da Geografia moderna

A constituição da Geografia enquanto saber científico sistematizado


e institucionalizado é fruto de um processo lento que tem por base
factores diversos no que se refere aos fenômenos históricos e
estruturais relacionados a determinado grau de desenvolvimento
material das sociedades e às ideias a eles vinculadas, ou seja, o
desenvolvimento da geografia (assim como de todas as outras

47
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

ciências) prescinde do desenvolvimento da vida material e do


pensamento filosófico-científico.

Dessa forma, a geografia moderna, em seu nascedouro, necessitou


de uma série de condições históricas para poder se tornar realidade.
Essas condições históricas a que nos referimos dizem respeito ao
processo de transição do Feudalismo para o Capitalismo.

Podemos dizer que a grande revolução para o conhecimento


geográfico começa a ser preparada a partir da extraordinária
expansão do espaço conhecido, do domínio da configuração da
Terra e do desprezo às ideias e crenças a respeito da superfície
terrestre que vem com a Idade Moderna.

Mas, para que a geografia desponte como um saber autônomo,


particular, faz-se necessárias ainda certas condições que só estarão
suficientemente amadurecidas no século XIX.

Pressupostos para o surgimento da Geografia moderna

Como vimos anteriormente, a institucionalização da Geografia


dependeu tanto de factores externos quanto de factores de ordem
interna à lógica do conhecimento científico em geral. Vimos também
que o desenvolvimento dessa lógica está intimamente ligada ao
processo mais amplo de desenvolvimento histórico da humanidade.

Em se tratando especificamente da institucionalização do


conhecimento geográfico moderno, que é o nosso caso, podemos
dizer que quatro ordens de factores ou pressupostos fundamentais
contribuíram para a erupção da sistematização da Geografia como
ciência:

a. O efetivo conhecimento do planeta (alargamento do


horizonte geográfico, ampliação do ecúmeno – áreas da
Terra habitadas pelo homem);
b. Acúmulo de informações sobre os diferentes lugares;
c. Aperfeiçoamento das técnicas cartográficas;
d. Desenvolvimento do conhecimento científico-filosófico.

O conhecimento do planeta

O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto


fundamental para a emergência da Geografia moderna e as
condições materiais para a realização de tal conhecimento
encontram se na expansão europeia que se concretiza através das

48
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

grandes navegações e descobertas e na constituição de um espaço


mundial de relações.
No século XIX, a constituição de um espaço mundial já é uma
realidade efectiva e consolida definitivamente aquele processo que
se inicia com as primeiras evidências de decadência do sistema
feudal, ou seja, no século XIX, com a Revolução Industrial, o
Capitalismo está consolidado. Essa consolidação atua de forma
decisiva no processo de reafirmação das relações mercantis de
produção que, ao se articular em escala planetária, estende a
influência das sociedades europeias em todo o globo.
Preste atenção, também, ao facto de que a constituição de uma
economia mundial desembocou numa exploração colonial, pois esse
processo de expansão econômica exigiu uma necessária apropriação
e submissão de novos territórios e sua incorporação ao sistema
produtivo.

Este processo se baseia, pelo menos, em dois elementos fundantes


da Geografia: apropriação e exploração. A apropriação desses novos
territórios ocorre de forma lenta e vai, paulatinamente,
fragmentando os modos de vida locais, promovendo novos
ordenamentos e “ajustes espaciais”. Além disso, coloca o europeu
expansionista em contacto com realidades espaciais bastante
diversas da sua.

Para ter o conhecimento dessas novas realidades particulares e de


suas localizações (lembre-se de que localização e nomeação dos
lugares são elementos constitutivos do saber geográfico, veja aula
1), o levantamento de informações sobre esses lugares singulares
torna-se imprescindível.

O acúmulo de informações

Como vimos, os grandes descobrimentos dão origem a um


conhecimento cada vez mais apurado da realidade do planeta,
factor primordial para o surgimento de uma Geografia moderna.
Junto a esse conhecimento, faz-se necessária a sistematização de
informações sobre os diferentes pontos da Terra, ou seja, sobre os
diferentes territórios que vão sendo incorporados às relações
mercantis.

A descoberta de novas terras torna possível a expansão das


relações capitalistas. A apropriação e incorporação de novos
territórios exigem, como já foi dito, o conhecimento de realidades
distintas entre si e distintas do quadro europeu de referência.

49
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Assim, a exploração colonial demanda o levantamento constante de


informações que vai sendo feito de forma criteriosa, dando origem
a grande acervo de dados. O acúmulo de informações é primordial
nesse momento de expansão, uma vez que o “mundo”, tal qual o
conhecemos hoje, está sendo descoberto e apropriado (dominado)
e do qual se tem poucas informações. Além disso, conhecer e
localizar detalhadamente os diferentes lugares é uma tarefa
demandada pela própria necessidade de realização da expansão
capitalista que, para aumentar seu domínio e fortalecer suas
atividades nos territórios colônias, necessita de informação.

A cartografia

O avanço e aprimoramento da cartografia (instrumento por


excelência geográfico) se constituem efetivamente num outro
pressuposto da Geografia moderna. Esse avanço na linguagem
cartográfica é uma demanda primária e uma exigência prática para
o pleno desenvolvimento das relações comerciais que requer o
estabelecimento preciso de rotas de navegação, assim como a
localização exata dos lugares e portos.

O tráfego terrestre também se amplia em função da regularidade


crescente das trocas e do atendimento de distâncias maiores a
serem percorridas.

É a economia “global” que emerge, articulando regiões diferentes e


distantes e demandando a confeção, cada vez mais detalhada, de
mapas confiáveis que facilitem o deslocamento mais rápido e seguro
dos meios de transporte, os quais também sofrem grande
desenvolvimento nesse período. Mapas mais confiáveis propiciam
ainda o conhecimento e a extensão real das colônias.

A técnica de impressão, recém-descoberta nesse período,


populariza o instrumental cartográfico que vai se juntar às
descrições dos viajantes naturalistas do século XVII, dando-lhes
cunho mais geográfico.

Alemanha: berço da institucionalização da Geografia moderna

Na Alemanha, emergem questões da prática social e da sua


particularidade histórica que irão estimular a sistematização e
institucionalização da geografia no seio da sociedade germânica.

50
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O repertório geográfico e os interesses sociais e políticos


engendrados na sociedade alemã formam um par indissociável para
a discussão dos problemas colocados para os alemães e seu contexto
histórico frente às mudanças e transformações por que passavam as
diferentes sociedades europeias.

Um dos elementos fundamentais para a tessitura do “ajuste


espacial”, demandado pelo processo de modernização, é a
constituição do Estado. Enquanto outros países constituem seu
Estado Nacional, a Alemanha encontra dificuldade para sua
unificação frente à extrema diversidade entre as várias unidades
germânicas, a ausência de relações mais duradouras entre elas e a
falta de um centro organizador do espaço que faça convergir as
relações econômicas e amenizem as disputas de fronteiras.

A Alemanha é, nesse período, um país em situação de atraso em


relação às demais nações europeias e tal situação parece ser um
aspecto fundamental para fazer da discussão geográfica um tema
da maior importância para a sociedade alemã.
Essas singularidades germânicas vão marcar profundamente todos
os planos da história da Alemanha, das relações econômicas,
passando pela organização política, até as formas de pensamento. É
nele inclusive que residem as determinações históricas específicas
explicativas do afloramento pioneiro do processo de sistematização
do pensamento geográfico nesse país (MORAES, 2002, p.26).

Como você deve estar percebendo, a maior parte dos temas


colocados pelo processo de sistematização da Geografia constitui
dificuldades vividas pela sociedade alemã ainda não unificada. A
geografia nasce nesse contexto específico da Alemanha para dar
respostas a duas questões fundamentais: resolver uma questão
territorial premente para a constituição de um Estado Nacional e a
conquista de um lugar de destaque para a Alemanha no cenário
apresentado pela realidade europeia do século XIX.

Os acontecimentos históricos e as necessidades práticas da


sociedade alemã são pontos importantes para a compreensão do
surgimento da Geografia moderna, mas não são suficientes. O
nascimento de uma ciência ou de uma ideia depende de factores
históricos, mas também de homens concretos. E em se tratando de
Geografia alemã, esses homens são Humboldt e Ritter, que teremos
oportunidade de conhecer na próxima unidade.

51
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Sumário

Esta aula mostra a relação entre o desenvolvimento da ciência


geográfica e o das condições materiais da vida social dentro do
contexto histórico da modernidade. Analisa os pressupostos para a
sistematização da Geografia e a especificidade da Alemanha no
século XIX, país que primeiro fará a sistematização do conhecimento
geográfico, dando-lhe estatuto científico e institucional.

Auto-Avaliação

1. A Geografia enquanto ciência autônoma e sua institucionalização


ocorrerão somente no século:
A. XIX B. XX C. XVII D. XV
2.A constituição da Geografia enquanto saber científico
sistematizado e institucionalizado é fruto de um processo rápido que
tem por base factores diversos como aos fenômenos históricos e
estruturais. (F)
3.A constituição da Geografia enquanto saber científico
sistematizado e institucionalizado é fruto de um processo que
envolve fenômenos históricos. Essas condições históricas a que nos
referimos dizem respeito ao processo de transição do:
A. Capitalismo para o Socialismo
B. Feudalismo para o Capitalismo.

C. Feudalismo para o Socialismo


D. Socialismo para o Marxismo

4. O conhecimento geográfico começa a ser preparada a partir da


extraordinária expansão do espaço conhecido, do domínio da
configuração da Terra e do desprezo às ideias e crenças a respeito
da superfície terrestre que apareceu com a:
A. Idade Media

B. Idade Antiga

C. Idade Moderna

D. Todas as idades

O conhecimento efetivo da extensão real da Terra é um pressuposto


fundamental para a emergência da Geografia moderna.
52
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Guião de Correcção
1-A; 2-F; 3-B; 4-C; 5-V
Avaliação

1. Os grandes descobrimentos dão origem a um conhecimento cada


vez mais apurado da realidade do planeta, factor primordial para o
surgimento de uma Geografia moderna. A institucionalização da
Geografia foi na:
A. França
B. Itália
C. América
D. Alemanha
2.O nascimento de uma ciência ou de uma ideia depende de factores
económicos, mas também de seres homens concretos.
3.As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia
sistematizada, vão ser a obra de dois autores prussianos ligados à
aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia,
e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros.

A. Verdade

B. Falso

Guião de Correcção
1-D; 2-F; 3-V

Referencias Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia: ciência da sociedade. Recife: Editora


Universitária/UFPE, 2006.
MORAES, António Carlos Robert. A gênese da geografia moderna. São Paulo:
ANNABLUME/HUCITEC, 2002.
MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São
Paulo:
HUCITEC, 1983.
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2007.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: EDUSP, 2006.
53
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

UNIDADE Temática 2.5. A geografia de Humboldt e Ritter

Introdução

No período que analisaremos nesta aula, você verá que a geografia vai
deixando de ser apenas uma obra de erudição a serviço de outras ciências, no
papel de auxiliar; que ela deixa de ser um amontoado de conhecimentos, uma
enumeração mais ou menos ordenada de nomes de rios, montanhas ou
cidades; e que deixa também de ser um agregado de nomes e de números.
Você verá ainda que a geografia se beneficia dos acontecimentos gerais e do
desenvolvimento de outras ciências.

Ligados a essas mudanças, encontraremos os pais da geografia moderna:


Humboldt e Ritter. São esses dois sábios geógrafos os primeiros a se
preocuparem com a Geografia enquanto ciência e como um saber
sistematizado. Viveram na mesma época, caminharam por vias diversas, mas
suas ideias convergiam significativamente para os mesmos princípios.
De modo geral, podemos dizer que o conjunto da obra desses dois alemães
respondia ao desafio da sociedade europeia em que viviam: desenvolvimento
do Capitalismo, colonização e a formação específica da Alemanha.

Desse período.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

✔ Compreender como o panorama de ampliação do


Objectivos horizonte geográfico contribuiu para o alargamento
das ciências em geral e da Geografia em particular.

54
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Específicos
✔ Identificar as mudanças ocorridas nesse período que
influenciaram, especificamente, o pensamento de
Humboldt e de Ritter,
✔ Relacionar os processos históricos, sociais,
econômicos e políticos com o desenvolvimento e a
sistematização do conhecimento geográfico elaborado
por Humboldt e Ritter,
✔ Refletir geograficamente, utilizando-se da relação
entre forças locais e gerais na explicação dos
fenômenos.

Panorama geográfico Séculos XVIII e XIX

O século XVIII foi o século da exploração dos oceanos e da elaboração do


material cartográfico, o que preparou as vias para o desenvolvimento da
Geografia moderna.
A navegação à vela aperfeiçoa-se. As caravelas dão lugar a navios mais longos,
mais largos e mais pesados, chamadas galeotas. Os navios aumentam a sua
capacidade de tonelagem e de calado (distância vertical entre a superfície da
água e a parte mais baixa do navio naquele ponto). São navios que andam mais
rápido e bem armados, e que vão munidos de aparelhos de bordo que
permitem uma navegação mais segura pela determinação exata, não apenas
em termos de latitudes, mas das longitudes.

Com o desenvolvimento de técnicas que tornaram as medições de longitude


mais precisas foi possível fazer medições, cada vez mais rigorosas, das
dimensões da Terra que vão possibilitar a precisão da forma do globo terrestre.

Em 1617, o holandês Snellius criou o método das medições geodésicas. Mas a


primeira medição exata do arco do meridiano foi do francês Picard em 1669- 1670. De
1638 a 1712, por instigação da Academia das Ciências, Cassini e Lahire determinaram

55
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

as medidas geométricas da França. Em 1735, Claivaut e Maupertuis eram enviados à


Lapónia para medirem o arco do meridiano, enquanto Bouguer e La Condamine iam
ao Peru a fim de realizarem uma operação semelhante; achou-se que as dimensões
do arco eram maiores no equador do que perto dos pólos; estas missões forneceram
assim prova do achatamento da terra junto dos pólos (CLOZIER, [1974?], p.73).

Com essas medições, os erros das cartas vão sendo paulatinamente


eliminados, dando uma precisão cada vez maior à cartografia, que culmina
com a publicação em 1780 do Atlas Universal de Bourguignon d’Anville, no qual
foram suprimidas indicações errôneas e as deformações de representação que
existiam desde Ptolomeu.

Esse desenvolvimento da cartografia permitiu a exploração dos oceanos. No


século XVIII, são feitas grandes e ousadas missões de reconhecimentos das
localizações e descobertas dos continentes. É graças a essa ousadia que se
descobre que o hemisfério Sul é oceânico, se estabelece a carta do Pacífico em
suas grandes linhas e se pode afirmar que os mares cobrem um espaço duas
vezes maior do que as terras.

Esse período é decisivo para o conhecimento geográfico da Terra. Os


continentes se revelam; as regiões mais hostis, como os desertos e as regiões
polares, são exploradas; e são feitas sondagens sobre o relevo submarino e a
alta atmosfera.

Se o século XVIII foi de grande desenvolvimento para as descobertas


marítimas, o século XIX é o século, por excelência, da penetração dos
continentes. Por volta de 1800, a África, excepto algumas regiões, é ainda um
continente incógnito; a Austrália é totalmente desconhecida; a Ásia Central e
o interior do continente americano mal começaram a ser conhecidos.

O avanço para o interior dos continentes e a ocupação colonial que daí


resultam vão colocar “frente a frente” povos, costumes, histórias e sociedades
diferentes. O europeu explorador deparar-se-á com novos climas, novas
paisagens, novos gêneros de vida. O desenvolvimento dos meios de transporte
intensifica as viagens de mapeamento do interior dos continentes, pois a
mobilidade se torna mais eficaz com o advento da máquina a vapor e, por
terra, o desenvolvimento da rede de estradas de ferro vai se tornando uma
realidade concreta, o que permite um extraordinário progresso na circulação
de bens e pessoas. Com a expansão colonial, o mundo vai se revelando e as
relações de apropriação, exploração e dominação vão sendo tecidas em
conjunto com a incorporação territorial e as grandes vias de circulação
demandadas pela expansão industrial.
56
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A Revolução Industrial, que começa a partir do fim do século XVIII, promove


também uma revolução nas técnicas de produção, nas formas de
transformação da natureza, demandando progressivamente matérias-primas
e mercado. Tais revoluções, industrial e técnica, que ocorreram
principalmente na França, Bélgica e Holanda, modificam irreversivelmente o
equilíbrio dos continentes e das sociedades. Graças a essas revoluções, a
Europa vai exercer, no século XIX, hegemonia política e econômica sobre o
mundo através dos Estados, das companhias de navegação e das sociedades
capitalistas.

Panorama intelectual e científico

Como vimos em aulas passadas, as transformações materiais que se iniciaram


com o fim da Idade Média formam um par inseparável com as
transformações no mundo das ideias.

A extraordinária expansão do conhecimento sobre o horizonte geográfico e


sobre a configuração da Terra, a dessacralização da natureza e a quebra de
algumas crenças a respeito da superfície terrestre marcam as transformações
das ideias nos tempos modernos.

Algumas descobertas da Física e da Astronomia têm grande repercussão nos


conhecimentos geográficos. Newton descobre a lei da gravitação universal;
Copérnico, com o seu sistema heliocêntrico, joga por “água abaixo” a crença
de que a Terra era o centro do sistema planetário; Kepler descreve as leis dos
movimentos planetários. Das explicações teológicas de origem divina, passa-
se para a sistematização com base na observação e experimentação.

As indagações das ciências nascentes vão incidir sobre os fenômenos naturais,


daí o desenvolvimento fantástico que ocorre nos estudos sobre a natureza nos
séculos XVII e XVIII. É desse período a sistematização da Zoologia, da Botânica
e da Geologia, que tiveram como combustível principal as informações
oriundas das grandes expedições que se tornaram também missões científicas.

Movida pelos avanços de outras ciências, a Geografia deixa de ser obra de


erudição, deixa de ser um conjunto de conhecimentos práticos, uma
enumeração mais ou menos ordenada de montanhas, rios ou cidades. Deixa
der ser um agregado de nomes e números. À Geografia cabe não apenas
descrever, mas também explicar.

O século XIX, do ponto de vista do desenvolvimento da ciência, é


especialmente importante para a sistematização e institucionalização da
Geografia. É no final do século XVIII e início do XIX que se instala um novo

57
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

sistema de positividades, apoiado nas observações dos factos, sobretudo a


partir dos estudos da Física por parte de Newton. Para Newton, o
conhecimento deve resultar da observação, do cálculo e da comparação dos
resultados, o que permitiria a elaboração de leis.

Dois factos marcam as ciências, em geral, e a Geografia em particular, no


século XIX: o reconhecimento de que a história dos homens, seu passado e seu
futuro dependem dos próprios homens; e, a partir disso, o homem poderá
manter uma outra relação com a natureza. O homem agora depende de si
mesmo e da relação que estabelece em sociedade e com a natureza,
abandonando assim os desígnios divinos.

Quatro grandes aportes (teorias de explicação), que já se esboçavam em


tempos anteriores, vão se consolidar no ideário científico do século XIX:

1) A racionalidade que dava primazia à experiência, a explicação científica


concerne sempre à razão pura;

2) A dessacralização e banalização da natureza, o que possibilitará a intervenção


humana na ordem natural e na valorização da positividade do trabalho;

3) A fé na ciência;

4) A fé no progresso.

Datam também do final do século XVIII e início do XIX os primeiros censos, o


que vai incrementar os dados de outros fenômenos que já vinham sendo
levantados.

O interesse em cartografar os fenômenos aumenta e, assim, surgem os


primeiros mapas temáticos, em que são representadas as distribuições de
populações, os climas, a vegetação, o relevo, a hidrografia etc.

Como já vimos, o século XIX é o século das grandes explorações ao interior dos
continentes e, ligadas a estas, surgem as sociedades de Geografia que vão
organizar expedições, conferências, exposições, elaborar mapas, instalar
estações meteorológicas e editar revistas.

As sociedades geográficas são financiadas e apoiadas pelas políticas


expansionistas dos Estados colonialistas e essa ligação com as estruturas de
poder levou a uma expansão do ensino de Geografia nas universidades e ao
reconhecimento oficial da geografia como ciência.

Outra marca que decorre do expansionismo e da formação dos Estados


Nacionais é a presença da Geografia no ensino primário e secundário. Para
melhor conhecer a pátria, é preciso saber Geografia.
58
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Humboldt (1769-1859)

Humboldt é considerado, juntamente com Ritter, o pai da Geografia moderna.


Nascido em 1769, pertencia a uma família aristocrática prussiana. Seu pai
preocupou-se desde cedo em dar uma esmerada educação aos filhos através
de preceptores. Alexandre de Humboldt recebeu precocemente uma boa
formação em Economia Política, Matemática, Ciências Naturais, Botânica,
Física e Mineralogia.

Viaja para a Venezuela, onde sobe o rio Orenoco até o Cassiquiare que faz
parte da bacia do rio Negro, afluente do Amazonas. A etapa seguinte leva-o
através da Colômbia até o Equador e ao Peru. Esse deslocamento lhe dá a
oportunidade de escalar alguns dos picos mais altos dos Andes e de medir as
suas altitudes. Através desse procedimento, observa a variação do clima com
a altitude, tendo introduzido a terminologia de quente, temperado e frio,
ainda hoje utilizada. Segue para o México e depois para Cuba. Volta à Europa
após passar pelos Estados Unidos. Essa viagem durou quatro anos e com ela
recolhe uma riqueza tão grande de dados que sua publicação leva vários anos.

Os trabalhos que decorrem de suas viagens estão voltados para a explicação


daquilo que diferencia as diversas áreas do globo, tentando encontrar as
relações que se estabelecem entre os diversos fenômenos da superfície da
Terra, de modo a produzir espaços com características diferentes. Ou seja,
interessou-se pela diferenciação espacial e considerou a paisagem resultante
da interação de vários fenômenos.

Comparou as formações vegetais de regiões diversas entre si, como foi o caso
da América Latina e da Sibéria. Tentou encontrar semelhanças entre as
culturas dos povos asiáticos e dos índios americanos. Das suas investigações
feitas em escalas diferentes (mundial, continental ou regional) resultou uma
sistematização do conhecimento geográfico. Assim, com Humboldt, a
Geografia passa a ser uma ciência sistemática. Os fenômenos poderiam ser
estudados tanto no nível mundial quanto no regional.

A utilização de comparações universais foi talvez a sua contribuição mais


importante. Ele comparava sistematicamente as paisagens das áreas que
estudava com outras partes da Terra. O seu método era empírico e indutivo.
Partia dos casos particulares para os gerais, tentando obter uma lei geral,
válida também para os casos não observados.

Humboldt foi essencialmente um grande viajante naturalista de sua época. Ao


contrário de boa parte de seus colegas geógrafos, que permaneceram nos
gabinetes, ele entende que a pesquisa deve se iniciar no campo. Os seus
59
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

conhecimentos de Mineralogia, Geologia e Botânica permitem-lhe desvendar


muitos traços interessantes nas paisagens e relacioná-los. Em lugar de justapor
informações, procura compreender como os fenômenos se condicionam. No
caso dos Andes, visto há pouco, a partir da altitude, ele introduz um
escalonamento das formas de vegetação e tipos de agricultura, passando das
terras quentes para as terras temperadas e, em seguida, para as terras frias.
Nas pesquisas de biogeografia, introduz o conceito de meio.

Para melhor compreender a distribuição dos fenômenos geográficos,


Humboldt utilizasse das observações que faz em diferentes escalas,
inaugurando a ideia de que os lugares não se explicam em si mesmos. Foi ele
o primeiro a perceber a influência das correntes marítimas sobre os climas.
Percebe isso especialmente nas costas do Peru, onde empresta o nome a uma
corrente fria que se origina no polo Sul e ameniza a temperatura nas costas
desse país. Foi ele também o primeiro a perceber os mecanismos que regem
tais correntes. Humboldt igualmente sabe fazer uso dos dados estatísticos, que
as administrações coloniais acumulavam, para tratar das realidades humanas
da América hispânica. Em um de seus livros (Ensaio político sobre o reino de
Nova Espanha, 1811), analisa a situação calamitosa da escravidão em Cuba.

Para Humboldt a explicação dos fenômenos deve partir do meio, mas


devemos ter sempre em mente que este reflete realidades em outras
escalas: outra marca de Humboldt.

Ritter (1779-1859)

Ritter nasce dez anos depois de Humboldt e morre no mesmo ano em que
este; teve uma vida pouco movimentada. Enquanto Humboldt foi um grande
viajante, Ritter foi um homem que se dedicou mais à reflexão, ao magistério e
ao intuito explícito de sistematização da Geografia. Sua obra é explicitamente
metodológica, vemos isso, por exemplo, no título de seu livro mais importante:
Geografia comparada.

A formação de Ritter em História e Filosofia também difere daquela de


Humboldt. Mas, a ideia de unidade terrestre e da relação entre o lugar, a
região e o todo terrestre está presente nos dois autores. Ritter propõe o
método descritivo regional e utiliza comparação para fazer compreender as
especificidades de cada país e as configurações de sua história. Com Ritter, a
geografia deixa de ser uma modesta descrição da Terra e torna-se
indispensável para quem quer compreender a cena mundial, a dinâmica das
civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu ambiente.

O problema essencial estudado por Ritter é o das relações, das conexões que
se estabeleciam entre os factos físicos e humanos. Para ele, a Terra e seus
60
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

habitantes desenvolvem mútuas e estreitas relações onde um elemento não


pode ser considerado em sua plenitude sem que se considerem tais relações.
Nesse sentido, a História e a Geografia devem estar sempre juntas.

Dessa forma, foi um observador atento do devir histórico dos povos que
habitavam em cada uma das regiões que estudava. Entendia o espaço terrestre
como o teatro da história e considerava que quanto maior o desenvolvimento
cultural maior harmonia seria estabelecida entre o homem e a natureza.

Após a morte de Humboldt e de Ritter, a geografia sofre certo declínio. No


entanto, mantém-se como disciplina com grande dinamismo e se expressa por
duas vias: através das inúmeras sociedades de Geografia e a permanência
como disciplina lecionada no ensino primário e secundário. Do ponto de vista
da institucionalização, os impactos de seus ensinamentos não foram
imediatos: as cátedras de Geografia permanecem raras nas universidades e os
estudantes que frequentam as suas aulas seguem carreiras variadas.

Sumário

Esta aula mostra a partir de que elementos Humboldt e Ritter partem para se
tornar os primeiros sistematizadores da Geografia moderna. Mostra também
que existe uma íntima relação entre o desenvolvimento da ciência geográfica
e a expansão colonial de desenvolvimento do Capitalismo, assim como o
desenvolvimento da vida material e aquele das ideias.

____________________________
Auto-Avaliação
1. Na causalidade, o geógrafo, ao observar um fato, deve identificar as causas
que levam à sua existência, procurando estabelecer as relações de causa e
efeito.

2. Com o desenvolvimento da cartografia permitiu a exploração dos oceanos.


As descobertas dos continentes foi precisamente no:

A. Século XVIII
B. Século XVII
C. Século XVI
D. Século XV

61
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

3. Apos grande desenvolvimento para as descobertas dos continentes. O


século a seguir é conhecido de penetração dos continentes. O referido século
é:
A. Século XVIII
B. Século XIX
C. Século XVII
D. Século XVI
4. O desenvolvimento dos meios de transporte intensifica as viagens de
mapeamento do interior dos continentes, pois a mobilidade se torna mais
eficaz com o advento da máquina a vapor.
5. A Revolução Industrial, que começa a partir do fim do século XVIII, promove
também uma revolução nas técnicas de produção, nas formas de
transformação da natureza, demandando progressivamente matérias-primas
e mercado. As principais revoluções, industrial e técnica, ocorreram
principalmente na:
A. Alemanha, China e Holanda
B. China, Japão e França
C. França, Bélgica e Holanda
D. Alemanha, China e Bélgica

Guião de Correcção
1-V; 2- B; 3- B; 4-V; 5-C
Avaliação

1. Por motivos de avanços de outras ciências, a Geografia deixa de ser obra de


erudição, deixa de ser um conjunto de conhecimentos práticos, uma
enumeração mais ou menos ordenada de montanhas, rios ou cidades. Até hoje
é considerado o pai da Geografia moderna o geógrafa: A. A. Frederich Engels.
B. André
Cholley C.
Frederico
Ratzel.
D. Alexander Von Humboldt

2. Foi através de Ritter, a geografia deixa de ser uma modesta descrição da Terra
e torna-se indispensável para quem quer compreender a cena mundial, a
dinâmica das civilizações e a maneira através da qual os povos exploram o seu
ambiente.

62
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

3. Foi nos séculos XVIII e XIX que a sistematização do conhecimento geográfico.


O interesse em cartografar os fenômenos aumenta e, assim, surgem os
primeiros mapas temáticos, em que são representadas as distribuições de
populações, os climas, a vegetação, o relevo, a hidrografia. A geografia sofre
certo declínio, por causa da morte de:

A. Alexander Von Humboldt e Karl Ritter


B. André Cholley e Frederich Engels
C. Frederico Ratzel e Karl Ritter
D. Frederich Engels e Alexander Von Humboldt

4. Karl Ritter: Geógrafo alemão; foi o primeiro a relacionar clima, solo e


vegetação, onde em sua obra Kosmos, mostrou que tudo funciona em plena
interação.

5. Alexandre Von Humboldt: Geógrafo alemão; descreve a relação entre


natureza e o Homem, ou seja, a influência dos fenômenos físicos na atividade
humana.

Guião de Correcção
1-D; 2-V; 3-A; 4-F; 5-F

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografi a ciência da sociedade. Recife: Editora


Universitária/UFPE, 2006.
CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.
CLOZIER, René. História da geografi a. Lisboa: Publicação Geral da América,
[1974?].
MORAES, Antonio Carlos Robert. A gênese da geografi a moderna. São
Paulo: ANNABLUME/HUCITEC, 2002.
______. Geografi a: pequena história crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

TEMA – III: OUTRAS CONTRIBUICOES GEOGRÁFICAS.

63
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto

Unidade Temática 3.2 Geografia Vidaliana e o seu contexto


Unidade Temática 3.3 Abordagem Regional Vidaliana

Unidade Temática 3.4 A Os movimentos de Renovação

Unidade temática 3.5. Exercícios Integrados deste Tema

Unidade Temática 3.1. Geografia Ratzeliana e o seu contexto

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia
moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um
estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos
problemas humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu
projecto teórico, com forte carácter interdisciplinar, teve a
preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos povos
sobre a superfície da Terra; as diversas formas de circulação de
pessoas e bens materiais; a influência das condições naturais sobre
o comportamento humano; as formações territoriais e, intimamente
vinculada a estas, a dimensão política da relação homem-natureza.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos Específicos
✔ Entender em que contexto histórico se desenvolve o pensamento
ratzeliano.
✔ Compreender a dimensão determinista da obra de Ratzel para a
sistematização da Geografia.

Contexto histórico

Após o falecimento, em 1859, dos dois principais pioneiros da


Geografia moderna, Ritter e Humboldt, o desenvolvimento dos
estudos geográficos acelerou-se, uma vez que esses dois estudiosos
colocaram, por assim dizer, a pedra fundamental para a construção
e evolução da Geografia como ciência. A seguir, estudaremos três
aspetos gerais do desenvolvimento dessa ciência: o contexto político

64
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

econômico; a Geografia como ciência; e o ensino da Geografia.


Contexto político-económico

Com o processo de expansão colonial, os conflitos entre populações


nativas e o elemento europeu são cada vez mais intensos e
demandam intervenções. O domínio político aparece como garantia
de abertura real dos espaços ao comércio mundial e impõe o
respeito aos interesses ocidentais.

A independência da América espanhola e portuguesa reduz


fortemente o domínio ocidental sobre o mundo no século XIX. É
nesse momento que surge o que os historiadores chamam de novo
imperialismo (diferente do colonialismo de povoamento e comércio
que floresceu entre os séculos XVI e XVIII) e que foi o resultado
direto da industrialização. Com isso, intensificam-se a actividade e a
competição econômica, os europeus disputam matérias-primas,
mercados para seus produtos manufaturados e lugares onde investir
seu capital. Para tanto, os políticos e industriais vão entender que
somente garantirão as suas necessidades econômicas e de suas
nações através da aquisição de territórios ultramarinos. 1870 é um
ano que marca um novo avanço ultramarino dos europeus, não mais
apenas sob a égide de Portugal e Espanha. Percebemos que no
século XIX progride rapidamente a constituição de um espaço
econômico mundial influenciado pelo desenvolvimento da
navegação a vapor, o que provoca uma reviravolta na relação dos
homens com as distâncias.

A construção do Canal de Suez – ligando o mar Mediterrâneo ao mar


Vermelho – terminada em 1869, promove a aproximação entre a
Europa, a Ásia Meridional e Oriental e a Austrália; as estradas de
ferro já haviam alterado o ordenamento espacial da Europa; a
primeira estrada de ferro transcontinental é inaugurada nos Estados
Unidos em 1866. Como já estudamos, a integração dos espaços
continentais, após os oceânicos, intensificam-se no século XIX e
integram esses espaços às relações internacionais: as imensidões
interiores da Ásia e da África são finalmente integradas às redes
mundiais de troca.

Em 1860, somente a Grã-Bretanha e os Países Baixos dispunham de


verdadeiros impérios colônias. Entretanto, no espaço de uma
geração, França, Portugal, Bélgica e Espanha dotam-se de colônias
mais ou menos extensas. Por volta de 1900, o movimento se alastra
para outros países, como é o caso da Itália e Alemanha que
procuram aumentar o seu império ainda modesto. Um novo ator
entra em cena, os Estados Unidos, e retira da Espanha as suas

65
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

possessões no Pacífico e nas Antilhas, o Japão começa sua expansão


sobre Coreia e China; e a Rússia anexa-se à Ásia Central.

A Geografia como ciência

Essas alterações provocam um reordenamento e uma necessidade


cada vez maior da formalização dos saberes geográficos. Veja que,
inicialmente, as práticas comerciais demandam conhecimento
apenas das redes de portos, que permanecem em certa estabilidade,
relacionadas às áreas produtivas e aos mercados que encontravam
de modo geral, próximos ao litoral.

As novas possibilidades de troca exigem outras formas de


organização. É nesse contexto que vamos assistir à substituição das
casas de comércio familiares por grandes firmas de exportação e
importação que demandam cada vez mais conhecimentos ligados à
Geografia para a formação de seus agentes deslocados para regiões
remotas. É aí que as sociedades de Geografia comercial, marítima e
colonial se multiplicam e dão respostas a essas necessidades.

A História e a Geografia que eram as ciências que vinham abordando


os fatos humanos deixam de ser exclusivas nesse aspecto à medida
que a Sociologia, a Etnologia, a Antropologia e as Ciências Políticas
vão surgindo. É o período também de desenvolvimento da economia
política. Com o aparecimento de outras ciências no campo dos
estudos humanos e sociais os geógrafos são confrontados com o
problema da delimitação face aos novos campos científicos, os quais
evidentemente não ignoram a dimensão espacial dos seus domínios.

Em 1859, Charles Darwin (1809-1882) publica o que seria o seu mais


importante livro, Origem das Espécies. Tal facto tem significado
particular para a Geografia. A ideia de que os seres vivos evoluem já
estava formulada desde meados do século XVIII e início do século
XIX.

Lamarck (1744-1829) será o primeiro a fazer uma sistematização


dessa ideia concluindo que o organismo se adapta ao meio onde está
inserido e acaba por se modificar. É durante a viagem de circum-
navegação que realiza entre 1831 e 1836 a bordo do famoso Beagle
que Charles Darwin formula a sua teoria. Darwin se depara, nas ilhas
Galápagos com uma flora e fauna muito ricas e que não se
assemelham às dos espaços continentais próximos. Para ele, essas
diferenças explicam-se por meio da diferenciação no lugar e a partir
de uma origem comum longínqua, e o único factor que pode explicar
as diferenças das formas encontrase no meio.

66
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O evolucionismo darwinista leva à Geografia uma tarefa


fundamental: a de identificar a diferenciação das formas vivas.
Lembre-se de que a ideia de que a Geografia deve ter vocação
explicativa e analisar os fenômenos em diversas escalas vem desde
as obras de Humboldt e
Ritter.

A explicação geográfica estaria na relação entre os fenômenos


locais, regionais e gerais e na relação do homem com o meio: o
darwinismo é uma apelação ao desenvolvimento de uma ciência das
relações dos seres vivos com o ambiente. Outro nome que vai
influenciar os estudos da Geografia nesse período (e continua a
influenciar ainda hoje vários ramos da ciência) é o do biólogo alemão
Ernest Haeckel (1834- 1919) que propõe em 1866, em seu livro
Morfologia Geral dos Organismos, o termo ecologia para designar o
novo campo de estudo: aquele que investigará as relações dos seres
vivos com o ambiente.

O ensino de Geografia

O interesse por conhecimentos geográficos úteis à vida comercial


internacional nunca havia sido tão grande como nas últimas três
décadas do século XIX. Nesse mesmo período, a engenharia política
dos estados europeus apontava em direção aos nacionalismos e essa
tarefa recai, entre outros, sobre o ensino da Geografia na escola
elementar, que teria a função de dar aos cidadãos uma consciência
clara sobre o espaço em que se desenvolve a sua existência. Por
outro lado, as elites tinham a necessidade de um bom conhecimento
dos mapas e das rotas do comércio.

Na França, por exemplo, após a derrota de 1870 (derrota da França


frente à Prússia), é confiado a Emile Levasseur um estudo (Relatório
Levasseur) sobre as causas da inferioridade dos oficiais franceses
frente aos prussianos. Esse relatório conclui que a inferioridade
francesa recai no baixo nível dos oficias quanto ao conhecimento das
línguas e da Geografia. O relatório recomenda que seja feita uma
reforma do ensino, particularmente do ensino de Geografia.

O essencial das recomendações desse relatório está presente, ainda


hoje, nos programas do ensino primário e secundário da França (nas
próximas aulas vocês estudarão como se deu o desenvolvimento da
Geografia na França). Nos outros países da Europa Ocidental ocorre
o mesmo com o ensino da Geografia, pouco tempo antes na
Alemanha e um pouco mais tarde na Inglaterra.

67
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Como estamos vendo, em todo o nosso curso, o contexto intelectual


no qual se desenvolve a Geografia modifica-se par e passo com as
mudanças econômicas, políticas e culturais. E você deve estar
lembrado que à medida que o Capitalismo se desenvolve exige mais
racionalidade e respostas da ciência; é a fé na ciência e no progresso.
Esse cientificismo que vai se firmando tem também a ambição de
abarcar as realidades sociais tal como fez anteriormente com as
realidades do mundo físico e biológico.

Ratzel e a Antropogeografia

Ao longo do século XIX, a Geografia vai se desenvolver mais


rapidamente na Alemanha do que na Grã-Bretanha. Nesta, a
Geografia permanece vinculada aos modelos do século XVIII, no qual
se privilegia a exploração das pesquisas históricas em detrimento do
estudo das relações que estabelecem entre os grupos humanos e os
meios em que vivem. Dessa forma, o impacto do evolucionismo de
Darwin foi mais directo na Alemanha que em sua pátria.

Friedrich Ratzel (1844-1904) é filho de uma modesta família do


Sudoeste da Alemanha. Na universidade, estuda Zoologia. Tem
contacto com o darwinismo através de Moritz Wagner que
introduziu as teses do cientista inglês na Alemanha e se distingue
pelo papel que dava às migrações para explicar a diferenciação das
espécies. A primeira obra de Ratzel (Essência e Destino do Mundo
orgânico, 1869) é inspirada nesse mestre.

Ratzel participa ativamente, como militar, da guerra de 1870 contra


a França e em seguida a sua carreira toma novos rumos, mas sua
ligação com a política e com a conquista de território continua
através das análises científicas que irá fazer criando mesmo um novo
ramo da Geografia, a Geopolítica. Depois da guerra, Ratzel parte
para os Estados Unidos, como jornalista, onde passa vários anos.
Nesse período, visita também o México. De volta à Alemanha,
defende uma tese sobre a imigração chinesa na Califórnia.

Ao doutor Ratzel é designada, em 1876, uma cátedra de Geografia


na Universidade de Munique. Em 1886, ele troca essa universidade
pela Universidade de Leipzig, considerada de maior prestígio.

A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das


formulações de Humboldt e Ritter, autores que estudou
detidamente. Mas essa concepção é estruturada também sob forte
influência de Darwin. Ratzel procura estabelecer leis gerais que
rejam a influência do meio sobre os grupos humanos, dedicando-se
68
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

ao estudo das relações que se desenvolvem entre as sociedades e o


ambiente em que vivem, mas introduz uma outra ideia: o
movimento é uma das características centrais do mundo vivo, em
especial do homem. Essa ideia leva-o a interessar-se pelos
fenômenos de circulação que as sociedades desenvolvem de um
ponto da Terra a outro.

Veja no texto a seguir o que diz Antônio Carlos Robert de Moraes


sobre a importância da obra de Ratzel.

A obra de Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo


de sistematização da geografia moderna. Ela contém a primeira proposta
explícita de um estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos
problemas humanos. Foi, assim, de sua autoria uma das pioneiras
formulações – sem dúvida a mais trabalhada – de uma geografia do
homem. A importância de sua obra também emerge por ela ter sido uma das
originárias manifestações do positivismo nesse campo do conhecimento
científico. Ratzel foi um dos
introdutores desse método – que posteriormente se assentou
como dominante – no âmbito do pensamento geográfico. O significado de
sua produção para o desenvolvimento da geografia pode ainda ser
apontado no facto de ele ter aclarado aquela que viria a ser a principal via
de ind agação dos geógrafos, ou seja, a questão da relação entre a
sociedade e as condições ambientais (MORAES, 1990, p. 7).

Ratzel dividiu a Geografia em três grandes ramos: Geografia Física,


Biogeografia e a Antropogeografia. Vai dedicar seus estudos
fundamentalmente a esta última.

A Antropogeografia

Para Ratzel, a Antropogeografia seria dedicada a três questões


básicas. A mais fundamental seria aquela voltada para a indagação
da influência que as condições naturais exercem sobre os homens,
sobre a sociedade e sobre a história. Para ele, a diversidade das
condições naturais deveria também ser considerada na explicação
para a diversidade dos povos “pois o substrato da humanidade seria
a Terra, onde as sociedades se desenvolvem em íntimo
relacionamento com os elementos naturais. O estudo da acção de
tais elementos sobre a evolução das sociedades seria o objecto
primordial da pesquisa antropogeográfica”. (MORAES, 1990, p. 9).

A segunda questão colocada por Ratzel para os estudos da


69
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Antropogeografia é relativa à circulação e distribuição das


sociedades humanas. Para ele, a localização dos grupos humanos
estaria relacionada à mobilidade de seu passado, assim sendo, os
estudos antropogeográficos deveriam se interessar em levantar
dados sobre as áreas de origem de cada povo e os seus itinerários.
Esse procedimento de pesquisa deveria fornecer elementos para se
entender os condicionantes pretéritos, os quais migrariam com os
povos.

A terceira questão de interesse da Antropogeografia deveria ser o


estudo da formação dos territórios.

Além de ser o fundador da moderna Geografia humana, ao


introduzir esta terceira questão, Ratzel será também o primeiro
geógrafo a trazer para essa ciência a discussão sobre os elementos
políticos na relação entre o homem e a natureza, tratados
anteriormente apenas sob o ponto de vista técnico e econômico.
Para ele, há na relação homemnatureza uma dimensão política
essencial que se expressa e se materializa na propriedade e no
Estado.

Positivismo e Determinismo na obra de Ratzel

Você já deve ter lido ou ouvido alguém fazer relação entre o nome
de Ratzel e o Determinismo geográfico e/ou contrapondo este ao
possibilismo de Vidal de la Blache (assunto que estudaremos na
próxima aula). Iremos, então, tentar entender o que é o
Determinismo e qual a ligação deste com a obra de Ratzel.

Como já vimos nas aulas anteriores, o período de transição da Idade


Média para a Moderna e a consequente consolidação do
Capitalismo foi um período de grandes transformações sociais,
econômicas, políticas, espaciais, culturais e também de grandes
mudanças nas ciências e nas formas de pensar o mundo. Vimos
ainda que as formas de pensar o mundo, originárias desse período,
têm forte relação com o desenvolvimento das Ciências Naturais,
principalmente a partir dos estudos de Física de Newton. Para este,
o conhecimento deveria ser o resultado da observação, do cálculo e
da comparação dos resultados, de modo a permitir a elaboração de
leis.

Essa ideia de que a ciência deveria ser positiva se espalhou para


todos os ramos das ciências, inclusive das chamadas ciências
humanas e sociais, entre elas a Geografia. Mas, é somente em
meados do século XIX que surge o Positivismo. Embasado nas
elaborações de Auguste Comte (1791-1857), o Positivismo
70
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

fundamenta-se no palpável, no que é passível de comparação e de


experimentação. Na concepção positivista, para se alcançar o
conhecimento, a observação é imprescindível.

O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo,


principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base
fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o
homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.

O Determinismo considerava o homem com um produto do meio,


logo, deveria adaptar-se ao meio ambiente para que pudesse
sobreviver. Para seus defensores, as condições naturais,
especialmente a climática, determinam o comportamento do
homem, interferindo inclusive na sua capacidade de progredir.
Assim sendo, em áreas climáticas mais propícias (as zonas climáticas
temperadas) floresceriam povos mais desenvolvidos. Tais ideias
foram adotadas por alguns estudiosos da Geografia, e fora dela, que
viam nelas a possibilidade de explicar a sociedade através de
mecanismos que ocorrem na natureza.

É comum, nos manuais e nas obras de vulgarização e/ou divulgação,


a associação do nome e da obra de Ratzel ao Determinismo
geográfico. Como podemos ver nos trechos que se seguem.

Sumário

A aula contextualiza o período em que Ratzel, fundador da moderna


Geografia humana, vive, assim como a influência que sofreu do
desenvolvimento das ciências naturais, principalmente aquelas
oriundas do evolucionismo darwinista. Discute as relações entre as
elaborações ratzelianas e o positivismo, bem como a pecha de que
seria ele o maior representante e elaborador do Determinismo
geográfico. Mostra ainda que não se pode de forma simplista acusar
esse pensador de se utilizar de um Determinismo absoluto.
Auto-Avaliação

1. O princípio da Extensão foi enunciado por Frederico Ratzel e, de


acordo com o mesmo, o geógrafo, ao estudar uma determinada área,
deve, primeiramente, utilizando-se de um mapa, localizá-la,
identificando os seus limites.

2. “Esse autor, porém, traria a grande contribuição para a formulação


esquemática do conhecimento geográfico, com
71
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

seu livro Antropogeografia e com a propagação das idéias


deterministas, que consideravam a existência de uma grande influência
do meio natural sobre o homem. De formação antropológica, ele foi
bastante influenciado pelas idéias evolucionistas de Charles Darwin e
Ernest Haeckel, admitindo que, na luta pela vida, venceriam sempre os
mais fortes e que a vitória dos mais fortes, dos mais aptos sobre os mais
fracos era o resultado lógico da luta pela vida.

O texto está se referindo ao seguinte pensador da Geografia


A. Frederich Engels.
B. André Cholley
C. Alexander Von Humboldt
D. Frederico Ratzel.
3. Os dois principais pioneiros da Geografia moderna, que
colocaram, alicerce para a construção e evolução da Geografia como
ciência são:
A. Ritter e Humboldt
B. Cholley e Engels
C. Ratzel e Ritter
D. Engels e Humboldt

4. A Geografia Humana é a ciência que estuda o espaço


geográfico, concebendo-o não tão-somente como um meio,
mas também como um agente e um produto das atividades
humanas, sendo também visto como um organismo vivo e
dinâmico. Assim, podemos dizer que os estudos dessa área
do conhecimento resumem-se:
A.Às sociedades em geral
B.À relação entre homem e espaço
C.À distribuição das práticas culturais
D.À dinâmica dos conhecimentos abstratos humanos
5. A História e a Geografia que eram as ciências que vinham
abordando os fatos humanos deixam de ser exclusivas nesse
aspecto à medida que a Sociologia, a Etnologia, a Antropologia
e as Ciências Políticas vão surgindo.

Guião de Correcção
1-V; 2-D; 3- A; 4-B; 5-V
Avaliação

72
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

1. O evolucionismo darwinista leva à Geografia uma tarefa


fundamental: a de identificar a diferenciação das formas vivas.
O livro de Charles Darwin “Origem das Espécies” foi publicado
em:
A. 1985
B.1895
C. 1859
D. 1598
2. O primeiro cientista a fazer uma sistematização das ideias
que o organismo se adapta ao meio onde está inserido e acaba
por se modificar é:

A. Ernest Haeckel
B. Charles Darwin
C. Emile Levasseur
D. Jean-Baptiste Lamarck
3.O nome que vai influenciar os estudos da Geografia nesse
período (e continua a influenciar ainda hoje vários ramos da
ciência) é o grande biólogo alemão que propõe em 1866, em
seu livro Morfologia Geral dos Organismos, o termo ecologia
para designar o novo campo de estudo que investigará as
relações dos seres vivos com o ambiente. O nome que se
refere acima é: A. Ernest Haeckel
B. Charles Darwin
C. Emile Levasseur
D. Jean-Baptiste Lamarck
4.A concepção de Geografia de Ratzel tem forte influência das
formulações de Humboldt e Ritter. Ratzel dividiu a Geografia
em três grandes ramos:

A. Geografia Regional, Geomorfologia e Antropogeografia


B. Geografia Física, Biogeografia e a Antropogeografia.

C. Geografia Económica, Geofísica e Geomorfologia


D. Geodesia, Geografia Económica e Geoprocessamento.
5.Geografia verifica que os fatores físicos e humanos não
agem de forma isolada na formação de uma paisagem,

73
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

existindo, pois, uma interrelação entre eles. Estes fatores


agem de maneira integrada.

Guião de Correcção
1-C; 2-D; 3-A; 4-B; 5-V

Referências Bibliográficas

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.


CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial.
São Paulo: Ática, 1991.

MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade


de uma geografia. Revista Brasileira de Geografia, Rio de
Janeiro, v. 54, n. 3, p. 105-113, jul./set. 1992.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história


crítica. São Paulo: HUCITEC, 1983.

______. Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. (Coleção Grandes


Cientistas Sociais).

MOREIRA, Ruy. O que é geografia. São Paulo:


Brasiliense,1989.

PINCHEMEL, Philippe; PINCHEMEL, Geneviève. La face de


la Terre. Paris:
Armand Colin, 1997.

RATZEL, F. Las razas humanas. Barcelona: Montaner y


Simon, 1906. v 1.

UNIDADE Temática 3.2. A Geografia Vidaliana e o seu contexto

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia
moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações
de um estudo geográfico especificamente dedicado à
discussão dos problemas humanos, o qual denominou de
antropogeografia. Seu projecto teórico, com forte carácter
interdisciplinar, teve a preocupação central de entender: a
difusão e distribuição dos povos sobre a superfície da Terra;
as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais;
74
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

a influência das condições naturais sobre o comportamento


humano; as formações territoriais e, intimamente vinculada a
estas, a dimensão política da relação homem-natureza.

Em meados do século XIX, a disputa entre a Prússia e a


França se acelera, culminando na guerra de 1870. Dessa
guerra, a França sai derrotada e perde o controlo da Alsácia e
da Lorena. Nesse período, a geografia obtém grande
desenvolvimento e, apoiada pelo Estado, é implantada em
todo o Ensino Básico, surgindo as primeiras cátedras e os
institutos de Geografia.

Até o advento da guerra, os estudos geográficos eram muito


negligenciados pelos franceses, ao contrário da Prússia, que
já contava com grandes nomes no ramo da ciência geográfica.
Após terem sido derrotados, os franceses perceberam a
importância do ensino da geografia e do desenvolvimento da
pesquisa geográfica, como mostraremos no decorrer desta
aula. Mesmo sendo derrotados pelos alemães, os franceses
esforçaram-se para transferir para seu país o modelo de
ensino adotado na Alemanha.

Caberá a Paul Vidal de la Blache a tarefa maior de implantação


e institucionalização da Geografia francesa. Tomando como
referência, as formulações de sábios alemães (Humboldt,
Ritter, Ratzel), Vidal de la Blache elabora com originalidade a
sua geografia e dá sustentação para a criação de Escola
Francesa de Geografia, que irá, durante muito tempo,
influenciar o desenvolvimento dessa área em várias partes do
mundo.

Para construir o edifício teórico e metodológico da Geografia,


Vidal de la Blache se embasará na ideia de totalidade, de
“possibilismo”, de mapeamento das densidades e de gênero
de vida.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos específicos

● Compreender o contexto em que a Geografia surge como ciência na


França, influenciada pelo pensamento geográfico alemão.
● Perceber a partir de que fenômenos Vidal de la Blache constrói os
conceitos fundamentais para o desenvolvimento da Geografia
francesa.

75
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

● Apreender qual a importância de elementos e conceitos como


totalidade, densidade, gênero de vida e possibilismo para a análise
geográfica.

Contexto geral

Para Vincent Berdoulay (grande especialista francês em


história do pensamento geográfico), a Escola Francesa de
Geografia, formada nas últimas décadas do século XIX e início
do século XX, teve em Vidal de la Blache (1845-1918) o seu
maior elaborador e ocupa um lugar importante na história das
ideias e das ciências. A formação dessa escola, como
veremos, corresponde a um momento crucial do
desenvolvimento do pensamento geográfico.

Um dado importante é o facto da Geografia se desenvolver


tanto como ciência como disciplina escolar no Ensino Básico,
Médio e Superior. A escola de Vidal de la Blache vai ter grande
influência e considerável notoriedade no mundo até por volta
dos anos 1950. Como veremos na próxima aula (Pierre
Monbeig: o nascimento da Geografia científica no Brasil), o
pensamento geográfico de Vidal de la Blache terá grande
influência na implantação da Geografia no Brasil.

Como estamos fazendo até aqui, é importante elucidar,


minimamente, o contexto geral em que se dá a implantação da
Geografia na França. Para começar, esse é um período
situado entre duas grandes crises: a guerra de 1870 (guerra
franco-prussiana) e a primeira guerra mundial. É também um
dos períodos cruciais na história da França, que corresponde
à implantação de um novo regime político, a Terceira
República, o qual implicará em novos ajustamentos de base
ideológica e social.

É uma época em que o interesse por questões geográficas se


dissemina entre os círculos cultos e a população em geral.
Ocorre aí um clamor generalizado a favor da acumulação de
uma massa de informações sobre o globo e sobre o território
nacional. A Geografia se instala de forma impressionante na
universidade e nos programas de ensino primário e
secundário.

76
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

O desafio alemão

Na segunda metade do século XIX, a França e a Alemanha,


no caso ainda a Prússia, disputam a hegemonia, no controle
continental da Europa. Havia, entre estes dois países, um
choque de interesses nacionais, uma disputa entre
imperialismos. Tal situação culminou com a guerra franco-
prussiana, em 1870, na qual a Prússia saiu vencedora. A
França perde os territórios de Alsácia e Lorena, vitais para sua
industrialização, pois neles se localizavam suas principais
reservas de carvão.

No contexto da guerra, caiu o Segundo Império de Luís


Bonaparte, ocorreu o levante da Comuna de Paris, e, sob as
suas ruínas, ergueu se, com o beneplácito prussiano, a
Terceira República francesa. Foi nesse período que a
Geografia se desenvolveu. E se desenvolveu com apoio
deliberado do Estado francês. Esta disciplina foi colocada em
todas as séries do ensino básico, na reforma efetuada pela
Terceira República. Foram criadas, nessa época, as cátedras
e os institutos de Geografia.
(MORAES, 1983, p. 63-64).

O resultado da guerra, ou seja, a derrota humilha


profundamente grande parte da população francesa. A partir
dessa derrota, a Alemanha aparece para os franceses como
um desafio nos domínios político, intelectual e econômico.
Após a guerra, os franceses tomam, dolorosamente, a
consciência da negligência com os conhecimentos geográficos
que tinham até então. Constataram que o inimigo estava mais
bem preparado no tocante ao conhecimento do território e
descobriram, a duras penas, sua ignorância geográfica. Para
eles, a superioridade militar e econômica da Alemanha
derivara de seu grande desenvolvimento científico. Dessa
forma, a Alemanha se constituía, ao mesmo tempo, em inimigo
e exemplo a ser seguido.

O professor Vidal de La Blache

Vidal nasce no sul da França. Membro de uma família de


professores e militares, seu pai, professor, deseja para o filho
a mesma profissão, por isso o envia para um colégio interno
em Paris onde teria melhores condições para fazer uma
carreira brilhante. Na Escola Normal Superior, onde estuda, se
dedica, principalmente, aos estudos de história. Vai para
Escola de Atenas, onde fica por três anos, e prepara sua tese
sobre a Ásia Menor. Percorrendo a Turquia para preparação
77
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

de seu trabalho, toma como guia a obra que Carl Ritter havia
escrito sobre esse país. A partir desse contacto inicial, passa
a se dedicar aos estudos geográficos, tornando-se um dos
grandes nomes dessa ciência.

Como vimos a pouco, a derrota de 1870 leva a França a uma


política de promoção da Geografia que começa pelo ensino
primário e secundário, seguido pelo seu desenvolvimento nas
universidades e pela política de incentivo à criação de
instituições geográficas. Vidal vai saber tirar proveito dessa
situação.

Em 1875, é nomeado conferencista de Geografia da


Universidade de Nancy; em 1880, torna-se subdiretor da
Escola Normal Superior onde fica até 1898, ano em que vai
para a Sorbonne.

Vidal foi um professor irrepreensível e um viajante incansável.


Conheceu muito bem a França e a Europa, assim como boa
parte do norte da África e da América do Norte. Produziu uma
obra pouco volumosa, mas muito densa. Formou e incentivou
os jovens que estavam à sua volta e que em boa parte se
transformaram em grandes geógrafos.

Vidal, mesmo sendo original, nunca escondeu o quanto foi


devedor aos mestres alemães, sobretudo Ritter e Ratzel.

Para ele, a geografia deveria partir de uma ideia simples:


explicar a desigual repartição dos homens sobre a superfície
da Terra e suas densidades. Para tanto, deveríamos dar um
tratamento cartográfico aos dados e considerar na análise os
sinais expressos pela paisagem e a relação dos
assentamentos humanos com o solo.

A geografia de Vidal de la Blache

Veremos aqui quatros aspetos importantes da Geografia


Vidaliana – a ideia de totalidade, a questão das densidades e
do trabalho de campo, os gêneros de vida e o possibilismo. Na
aula seguinte, veremos especificamente a sua noção de
região.

A influência de Ritter: a ideia de totalidade

Vidal toma como ponto de partida para as suas reflexões


geográficas a ideia de totalidade desenvolvida por Ritter,
entretanto, ele vê nessa ideia um convite para a análise de

78
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

relações complexas e das conexões entre os diversos fenômenos e


não um chamamento à reflexão sobre o destino do mundo e da
humanidade, como era a preocupação de Ritrter. Veja no texto a
seguir um trecho do próprio Vidal sobre esse ponto.

“A ideia de que a Terra é um todo, cujas partes estão coordenadas,


fornece à Geografia um princípio de método cuja fecundidade
aparece melhor à medida que amplia a sua aplicação. Se nada existe
isoladamente no organismo terrestre, se por toda parte repercute
leis gerais de modo que não se pode tocar em uma parte sem
provocar encadeamentos de causa e efeito, a tarefa do geógrafo
toma um carácter diferente daquele que lhe é atribuído. Qualquer
que seja a fração da Terra que ele estude, ele não pode aí se fechar.
Um elemento geral se introduz em toda pesquisa local. Não existe,
efetivamente, região cuja fisionomia não dependa de influências
múltiplas e longínquas da qual importa determinar o foco. Cada
região age imediatamente sobre sua vizinha e é influenciada por
ela”. (VIDAL DE LA BLACHE, 1896, p. 122).

Os mapas de densidade e o trabalho de campo

Um dos pontos importantes para os estudos da Geografia vidaliana


eram as cartas de densidade. Para ele, essas cartas colocavam o
problema fundamental de toda a Geografia humana: aquele das
relações que os grupos humanos estabelecem com os lugares onde
vivem e com o seu entorno.

Figura 16-Exemplo de um mapa de densidade


79
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Dessa forma, a Geografia deve analisar e explicar as relações entre


os grupos humanos e o meio ambiente onde moram. Nesse sentido,
a tarefa mais importante dela é estudar e explicar os mapas de
densidades, porque eles dão uma ideia clara dessas relações.

A prática vidaliana do trabalho de campo é indissociável de suas


pesquisas e de sua compreensão de Geografia. O campo, em certa
medida, deve substituir o livro, o texto e, até mesmo, o arquivo
histórico. Ele adquire um valor heurístico fundamental, visto que
constitui o substrato no qual se lê a relação homem/meio e que vai
se transformar na problemática explícita

da Geografia humana francesa. Assim sendo, as manifestações


elementares da vida, as formas de trabalho, de deslocamentos, de
habitat, de vestuário, observados no campo, são consideradas como
sinais das interações entre as sociedades locais e o meio.

O gênero de vida

Ao abordar a relação entre o meio e a acção humana, Vidal de la


Blache, considerava que o meio é uma força viva, que tem
movimento próprio e regras de conexão que escapam à intervenção
humana. Por outro lado, a acção do homem tem grande capacidade
de transformação.

O conjunto das acções e as formas através das quais os homens


tiram proveito das possibilidades oferecidas pela natureza é dada
pela diversidade dos gêneros de vida. A noção de gênero de vida
permite à análise geográfica vidaliana compreender as relações que
os homens tecem com o seu meio. Relações que são estabelecidas
pelas técnicas, pelas formas de trabalho, pelas formas de habitação,
pela cultura etc.

No seu entendimento, como os grupos humanos, necessariamente,


têm que se adaptarem (se defrontarem, estabelecerem relações
com as condições ambientais), essa adaptação se traduz na adoção
de um modo de vida, de um gênero de vida: caça, pesca, criação de
bovinos, ovelhas, suínos, cavalos, agricultura etc. O estabelecimento
do gênero de vida seria a acção humana destinada a extrair do meio
ambiente o que se necessita para comer, vestir-se, proteger-se do
vento, da chuva, do frio e a forma como dispor de ferramentas
diversas. O gênero de vida aparece como um conjunto de técnicas e
hábitos.

80
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Para o mestre francês, a adaptação de um grupo humano a um meio


ambiente específico dependia:
1. Das técnicas produtivas e da possibilidade de inventar novas
técnicas;
2. Da capacidade da tradição em transmitir, para gerações
futuras, as técnicas produtivas;
3. Das técnicas de transporte e da possibilidade de desenvolver
trocas com grupos de localidade diversa;
4. Da força do hábito.

O Possibilismo

O possibilismo é comumente reduzido à seguinte ideia: a natureza


propõe, o homem dispõe. Esta é, sem dúvida, a noção mais
conhecida para definir a abordagem das relações homem/meio da
escola francesa de Geografia e, em particular, de seu fundador Paul
Vidal de la Blache. No entanto, o autor desse neologismo não é Vidal
de la Blache e sim o historiador Lucien Febvre, em seu livro “A terra
e a evolução humana”.

Nesse livro, Febvre, inspirado nas elaborações de Vidal de la Blache,


faz deste a referência para os “possibilistas” em oposição aos
“deterministas” e se arroga o papel de encarnar o espírito da escola
francesa de Geografia.

O possibilismo constituiria se, assim, numa alternativa ao


determinismo do meio físico na análise das relações que o homem
mantém com esse meio. O possibilismo é a rejeição à ideia de que o
homem é, antes de tudo, passivo, submisso às condições locais e
constrangido a se adaptar.

Na análise de Vidal, a compreensão das relações homem/meio se dá


em toda sua complexidade, dando relevante atenção às iniciativas
humanas transformadoras da natureza.

Sua posição é frontalmente anti determinista, ou seja, contrário ao


determinismo, mas considera que o homem sofre influências do
meio no sentido de que existe uma diferenciação natural frente à
qual o homem se depara e que em cada meio dado a natureza
apresenta um conjunto de possibilidades, com limites próprios e que
é em função dos dados históricos, culturais e técnicos que algumas
dessas possibilidades serão exploradas pelos seus habitantes.

81
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

“Uma individualidade geográfica não resulta da simples


consideração da geologia e do clima. Isso não é uma coisa dada de
antemão pela natureza. É preciso partir da ideia de que uma região
é um reservatório onde dormem energias na qual a natureza
depositou o germe, mas cujo emprego depende do homem. É ele
quem, ao submetê-las ao seu uso, traz à luz sua individualidade. Ele
estabelece uma conexão entre os traços dispersos; aos efeitos
incoerentes de circunstâncias locais ele substitui um concurso
sistemático de forças. É só então que uma região se precisa e se
diferencia e transforma-se, por extensão, numa medalha cunhada à
esfinge de um povo”. (VIDAL DE LA BLACHE, 1979, p.8).

Sumário

Esta aula mostra como, a partir da derrota sofrida pela França frente
à Alemanha em 1870, a Geografia obtém grande impulso no ensino
francês. Mostra também que Paul Vidal de La Blache é o grande
nome da Geografia francesa desse período e é quem desenvolverá
os elementos constitutivos da análise geográfica da Escola Francesa
de Geografia. Para esse mestre francês, a Geografia deveria ter
como base para sua análise noções como totalidade, densidade,
gênero de vida e possibilismo.

Auto-Avaliação

1. Apos a derrota da França a geografia obtém grande


desenvolvimento e, apoiada pelo Estado, é implantada em todo o
Ensino Básico, surgindo as primeiras cátedras e os institutos de
Geografia. A implantação e institucionalização da Geografia
francesa foi ao cargo de:

A. Charles Darwin

B. Emile Levasseur

C. Paul Vidal de la Blache

D. Jean-Baptiste Lamarck

2. A partir do conceito de REGIÃO, assinale a opção CORRETA:

A. O Conceito de Região na Geografia refere-se à porção do espaço


que agrupa elementos diferentes.

82
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

B. Por regionalização pode-se entender a divisão de um grande


espaço em regiões, sem nenhum critério anteriormente
estabelecido.
C. Para estudar todos os países do mundo não precisamos
regionalizar as informações, podemos estudar todos os dados
geográficos juntos.
D. Cada região se diferencia das outras por apresentar
particularidades próprias, ou seja, semelhança entre seus
elementos

3. A relação entre o meio e a acção humana, o meio é uma força viva,


que tem movimento próprio e regras de conexão que escapam à
intervenção humana. Por outro lado, a acção do homem tem
grande capacidade de transformação. Essas ideias são atribuídas
ao:
A. Ernest Haeckel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste Lamarck
D. Paul Vidal de la Blache
4. O estabelecimento do gênero de vida seria a acção humana
destinada a extrair do meio ambiente o que se necessita para comer,
vestir-se, proteger-se do vento, da chuva, do frio e a forma como
dispor de ferramentas diversas.

5. O determinismo geográfico colocava o homem numa


condição de submissão aos aspectos naturais (a natureza é que
determina a ação humana), ou seja, sugeria que é o meio ambiente
em que uma pessoa vive que define suas características físicas e
psicológicas. Esta corrente surgiu na Alemanha foi idealizado por:

A. Friedrich Ratzel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste Lamarck

D. Paul Vidal de la Blache

Guião de Correcção
1-C; 2-D; 3-D; 4V; 5-A
Avaliação

1. O possibilismo é comumente reduzido à seguinte ideia: a natureza


propõe, o homem dispõe ou seja afirmava que a relação
homemnatureza é percebida a partir da interpretação da paisagem.
Esta corrente foi idealizado por:
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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Friedrich Ratzel
B. Emile Levasseur
C. Jean-Baptiste amarck
D. Paul Vidal de la Blache
2. Qual é a ideologia da corrente determinista:

A. O homem é dependente dos aspectos e fenômenos naturais, não


sendo capaz de superá-los.
B. O homem não é dependente dos aspectos e fenômenos naturais.
C. Que o homem que habitam as regiões mais quentes são mais
inteligentes do que os das áreas mais frias.
D. Que o homem consegue prever e evitar os fenômenos naturais
(ex: terremoto)

3. Qual é a ideologia da corrente do possibilismo:


A. O homem é dependente dos aspectos e fenômenos naturais, não
sendo capaz de superá-los.
B. O homem não consegue transformar a natureza para o seu
próprio benefício.
C. O homem tem as condições necessárias para se adaptar à
natureza e transformá-la para o seu próprio benefício.
D. Que o homem que habitam as regiões mais quentes são mais
inteligentes do que os das áreas mais frias.
4. Assinale, a seguir, a alternativa que melhor indica o conceito atual
de espaço geográfico:

A. Compreende o substrato superficial onde habitam os seres vivos


terrestres.
B. Abrange o meio físico da Terra e suas dinâmicas naturais, tais
como o clima, o relevo e a vegetação.
C. É o resultado da interação mediada pelas técnicas entre as
práticas humanas e suas sociedades com a superfície terrestre e
seus elementos.
D. É tudo aquilo que pode ser contemplado pela visão em um
ambiente imediatamente próximo.
Assinale a opção INCORRETA em relação as características do Espaço
Geográfico:

A. Espaço geográfico é que predominam os aspectos originais da


natureza.
B. Lugar é a parte do espaço geográfico onde vivemos e
interagimos com a paisagem.

84
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

C. O espaço geográfico é a natureza transformada pelos seres


humanos, por meio de seu trabalho ao longo da história.
D. Para entendermos o espaço geográfico faz-se necessário
compreender a sociedade que o criou e continua a transformá-
lo ao longo do tempo.

Guião de Correcção

1-D; 2-A; 3-C; 4- C; 5- A

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia, ciência da sociedade: uma


introdução à análise do pensamento geográfico. Recife: Editora
Universitária/UFPE, 2006.

CLAVAL, Paul. Histoire de la Gèogaphie. Paris: PUF, 1995.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC,1983.

VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Le principe de la géographie générale.


Annales de Géographie, v. 5, n. 20, p. 122-142, 1896.

VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Tableau de la géographie de la France.


Paris: Tallandier, 1979.

UNIDADE Temática 3.3. A abordagem regional vidaliana

Introdução

A questão regional é uma das mais tradicionais em Geografia, sendo


a região um conceito chave dessa ciência. Entretanto, trataremos,
nesta aula, apenas da concepção de região elaborada por Vidal de la
Blache. Isso porque é esse geógrafo a maior expressão da chamada
Geografia regional. Como vimos na aula sobre a Geografia vidaliana
e o seu contexto, até Vidal de la Blache, a Geografia não se constituía
num ramo autônomo do conhecimento, é com ele que atinge status
de ciência na França. Ele é um pensador do possível, das diversas
possibilidades que o homem tem diante do imperativo de habitar a
Terra. Procurou salientar a importância da vinculação entre o geral
e o particular e a complexidade das entidades (regiões) geográficas,

85
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

para tanto, desenvolve a ideia de unidade terrestre. Considerava


fundamental para análise geográfica a diferenciação da superfície
terrestre, das sociedades e a compreensão de como estão
articuladas, ou seja, como as diversidades dos lugares se expressam
numa determinada organização espacial.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos Específicos
▪ Compreender a noção de região para Vidal de la Blache.
▪ Entender a importância do conceito de região para a análise geográfica.
▪ Perceber, na análise regional, a dialética das escalas.

A evolução do pensamento regional Vidaliano

Apoiando-se, por um lado, nos resultados obtidos pelos geólogos e,


por outro, em sua formação essencialmente de historiador, Vidal
concebe o espaço dos países como sendo a combinação da história
do solo e a história dos homens.

Partindo de quadros naturais – geologia, geomorfologia, vegetação


relevo, clima, hidrografia –, ele mostra como a geologia e o clima
oferecem uma série de possibilidades, cujo emprego depende dos
homens, e que é o grupo humano que, ao fazer uso da natureza,
diferencia uma região “transformando a sua extensão numa
medalha cunhada como a esfinge de um povo” (VIDAL DE LA
BLACHE, 1979, p.8). Para Vidal, cabe ao geógrafo explicar e
compreender a lógica interna de cada fragmento da superfície
terrestre revelando sua individualidade, cuja réplica exata não se
encontra em nenhuma outra parte. É atribuição do geógrafo estudar
a organização de cada espaço diferenciado e individualizado.

Desde 1889, Vidal propõe uma primeira concepção das “divisões


fundamentais do solo francês”. Quinze anos de reflexão sobre o
tema o levam à elaboração de seu mais famoso livro Tableau de la
géographie de la France (Quadro da Geografia da França), em 1903,
no qual ele apresenta um espaço hierarquizado em graus
diferenciados. No entanto, o ponto de partida permanece sendo a
“região natural”, apoiada na geologia, no relevo ou no clima – Bassin
parisien, Massif
Central, Midi océanique. Essas regiões se diversificam em unidades

86
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

mais reduzidas e são compreendidas segundo aspectos históricos,


em função de elementos políticos e de desenvolvimento econômico
– as rotas – ou em função de elementos oriundos do raio de
influência de uma cidade.

Por sua vez, tais regiões se revestem de aspectos e traços bastante


diferenciados, cuja originalidade se exprime numa certa fisionomia,
num estilo particular de organização espacial engendrada pelo
casamento entre a natureza e a história. Essa fisionomia é o que nós
chamamos hoje de paisagem.

Compreendendo o Tableau e o papel das cidades

Para compreendermos o espírito do Tableau de la France, é


necessário lembrarmos que foi encomendado a Vidal por Ernest
Lavisse para servir de introdução a uma “História da França” e que
deveria tratar da geografia francesa até 1789. É em função desse
aspecto que encontramos no Tableau elementos fixos e
permanentes inseridos em quadros que remontam aos aspectos
mais antigos e tradicionais daquele país. Mas, Vidal não ignora as
transformações que o desenvolvimento urbano e a concentração
industrial promoveram, no início do século XX, na estrutura regional
da França. Ele demonstra isso em artigos que escreve entre 1910 e
1917.

Mostrou como algumas cidades, Lyon em particular, passavam a ser


grandes geradoras de unidade regional e organizavam em torno de
si uma região de tipo novo, que ele qualificou de nodal, termo
tomado emprestado ao geógrafo inglês Mackinder. Essas regiões
definiram-se em função do seu centro.

Num artigo escrito em 1917 e intitulado “A renovação da vida


regional”, diz Vidal: “Quando se trata de região, não é necessário
procurar os limites. É necessário conceber a região como uma
espécie de auréola que se estende sem limites bem determinados,
que circunda e que avança” (VIDAL DE LA BLACHE,1917, p. 104).

A cidade não é uma novidade para os geógrafos dessa época, uma


vez que, em vários momentos do desenvolvimento da humanidade,
a cidade aparece como organizadora de um espaço que a circunda.
A novidade reside na amplitude do fenômeno, no raio de influência
das cidades, viabilizado pelo desenvolvimento das comunicações e
das estradas de ferro. Essa “renovação regional” Vidal sente
perfeitamente – de forma mais marcante no final de sua vida – e
exprime, cabalmente, em sua obra La France de l’Est (1917). Ele se
torna mesmo um defensor de uma reforma administrativa do país,
87
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

propondo, em 1910, um recorte em 17 regiões geográficas,


concebidas a partir de espaços organizados pelas maiores cidades.

Entre os geógrafos de seu tempo, é Vidal quem coloca a reflexão e a


análise regional no centro de sua obra. Ele se interessa pela história
da exploração do mundo, pelas formas de povoamento, pelos
gêneros de vida, pela demografia etc. No entanto, a preocupação
regional, que se esboça por volta de 1880, permanece central e
evolui bastante até os seus últimos trabalhos, dentre eles La France
de l’Est, publicado às vésperas de sua morte, no ano de 1918, em
plena guerra mundial. Ao finalizar essa obra e deixar inacabados os
Príncipes de Géographie humaine, Vidal indica o peso que tem a
démarche regional em suas elaborações.

É num artigo escrito em 1888, Des divisions fondamentales du sol


français, que Vidal inicia sua reflexão sobre a questão regional da
França: questão capital em seu pensamento, que o acompanhará
até o fim de sua vida.

Região e Ensino

O texto de 1888 destina-se aos professores de geografia do ensino


médio e pretende dar algumas indicações de método apoiadas em
exemplos da realidade francesa. A ideia é que os alunos percebam
que a Geografia é uma coisa viva. Segundo o próprio Vidal, o texto
deveria, sobretudo, inspirar o desejo de ver. Ver com os próprios
olhos e compreender as diferenças das regiões.

Diferenças que escapam à observação superficial, mas que se


descobrem de imediato quando se tem um olhar atento e se
associam a ele lembranças e impressões. Para Vidal de La Blache,
isso é o que de melhor poder-se-ia desejar para o estudo da escola
da França. Uma das dificuldades, apontadas por esse geógrafo no
ensino de Geografia é a incerteza sobre as divisões que melhor
convém para a descrição das regiões. Para ele, essa incerteza implica
a própria concepção que se tem da Geografia. Os factos, diz Vidal, se
esclarecem segundo a ordem na qual nós os agrupamos. A Geografia
não seria uma nomenclatura à qual se juntam outros conhecimentos
práticos do mesmo gênero. Se se separa o que deve ser relacionado,
se se une o que deve ser separado, toda a ligação natural está
quebrada.

A noção que Vidal de la Blache tem de região é uma noção fundada


no princípio da “unidade terrestre”, segundo o qual a região se
constituiria enquanto parte de um todo e ela mesma se constituiria
numa unidade, em que, havendo a quebra das ligações naturais,
88
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

seria impossível reconhecer o encadeamento que religa os


fenômenos dos quais se ocupa a Geografia e que é sua razão de ser
científica.

Vidal de la Blache insiste no facto de que a Geografia deve ser


tratada como ciência e não como uma simples nomenclatura. A
região, para ele, não é a descrição de um mosaico de paisagens.
Existe, na sua noção de região, uma visão de movimento, de
imbricações dos seres regionais. As regiões de um país são peças que
mantêm relações entre si, formando um todo.

Vidal mostra que existem regiões naturais, mas para a Geografia,


interessa a relação entre essa região natural e as regiões históricas,
e essa unidade natural/histórica não se realiza sem implicações
complexas. Não existe uma superposição automática entre elas. A
ideia é que existe uma base geográfica no desenvolvimento histórico
de um povo. Não nos parece haver dúvidas de que a região é um
tema central no pensamento de Vidal de la Blache, que é um
pensamento que evolui. Segundo Sanguin (1993, p. 327).

Há primeiro a região versão 1888 (a do artigo Des divisions


fondamentales du sol français), onde ele tenta encontrar um
princípio integrador suscetível de clarificar o conceito em geografia.
Em outras palavras, esse artigo é um exercício para dar uma
definição funcional à palavra região. Passamos em seguida à região
versão 1903 (a do Tableau de la géographie de la France).

Paul fez sua a ideia central desenvolvida por Michelet. Existe uma
base geográfica na história de um povo: tal é a pátria, tal é o homem,
segundo Michelet. Enfim, chegamos à região vidaliana versão 1910
(a do artigo Régions françaises), no qual, de uma forma visionária,
Paul propõe, 80 anos antes, uma França constituída de regiões
concebidas pela Europa do Mercado único e pela Comunidade saída
do Tratado de Maastricht!

Sem sombra de dúvida, a ideia de região evolui no pensamento


vidaliano, no entanto, parece-nos que toda essa evolução tem um
fio condutor que acompanhou esse grande geógrafo durante toda a
sua carreira: aquele que se funda sobre a concepção da relação
homem/natureza.

Em seu Principes de géographie humaine, e em outros escritos, Vidal


expõe a sua concepção geral da relação homem/natureza. Para ele,
o homem participa da natureza. Homem e natureza não são termos
opostos: o homem faz parte da criação e é o seu colaborador mais
89
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

ativo. “Ele não age sobre a natureza senão nela e por ela” (VIDAL DE
LA BLACHE, 1896, p.122).

Em função da realização de suas necessidades vitais – respiração,


alimentação, habitação etc. –, o homem, segundo Vidal,
permaneceria, assim como os outros animais, embebido nas
influências do meio ambiente. Essa influência estabeleceria uma
“ligação” entre as condições naturais e os factos geográficos.

No entanto, considera o autor, essa ligação não seria absoluta e


sofreria as influências do tempo, pois os homens são dotados de
capacidade criadora, o que faria com que essas influências do meio
se modificassem com a evolução técnica das sociedades e o homem
tiraria cada vez mais partido das possibilidades oferecidas pela
natureza. O poder de ação do homem sobre a natureza está ligado,
na concepção vidaliana, ao grau de evolução das sociedades
humanas.

Vidal reconhece que é “verdadeiramente muito difícil desvendar,


nas grandes sociedades civilizadas, a influência do meio local”, mas
elas “são resultado infinitamente complicados de uma longa
acumulação da actividade humana” (VIDAL DE LA BLACHE, 1896, p.
123). Nesse ponto, Vidal de La Blache concebe a actividade humana
como mediatizadora entre a influência do meio e as formas de
organização espacial das sociedades.

Em Vidal, existe uma concepção que explicaria, ao mesmo tempo, a


dependência e a liberdade do homem em relação à natureza. Para
ele, o homem é definido como um ser saído da natureza e que não
pode e jamais poderá desligar-se dessa entidade, que o contém e à
qual deve sua existência.

Na sua ideia mesma de região, está a marca dessa tensão entre as


sociedades e a natureza, entre liberdade e dependência.

Região e Estado

Mesmo o Estado tem, na concepção vidaliana, um componente


regional ligado às condições naturais. Segundo Mercier (1995, p.
220/221), tanto Ratzel quanto Vidal:

Sustentam que a diferenciação regional e a solidariedade inter-


regional subjacente à criação do Estado resultam de uma dinâmica
geográfica determinada, ao mesmo tempo, pela capacidade técnica
das sociedades humanas, as condições naturais nas quais elas

90
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

evoluem e a intensidade das trocas entre uma sociedade e suas


vizinhas.

O papel das trocas

As trocas ocupam um lugar significativo na análise de Vidal, uma vez


que estão diretamente ligadas à geração de uma rede de circulação
que é ao mesmo tempo fruto e causa da intensificação dessas
mesmas trocas e que transformam e alteram profundamente as
formas de ocupação do espaço.

A intensificação das trocas geraria o que Vidal chama de


solidariedade regional. Isso deslocaria o foco da análise regional do
princípio da homogeneidade para a da solidariedade regional. Vidal
de la Blache é um homem atento às mudanças de seu tempo, essa
ideia de solidariedade regional tem em seu cerne o desenvolvimento
das cidades. Para Vidal de la Blache (1993, p. 309), “Cidades e rotas
são as grandes iniciadoras da unidade; elas criam a solidariedade das
regiões. [...]. Esse papel nas condições econômicas do mundo atual,
se precisa e se define”.

As monografias regionais

Vidal de la Blache é, sem dúvida, a maior expressão da Geografia


francesa, principalmente, em se tratando de Geografia regional.
Para ele, uma monografia regional, ou seja, um trabalho científico
em Geografia, deveria estar atenta para os elementos que compõem
a região: os elementos do meio físico, sobretudo, o solo; formas de
habitação, actividades humanas, e como as comunidades se
integram com o meio físico e com outras comunidades; além de
estar atenta para elementos solidários que pudessem parecer
estranhos à região estudada.

Vidal e o Movimento Regionalista

Por volta de 1860, por influência das ideias de Proudhon (1809-


1865), Mistral (1830 - 1914) e Barres (1862 – 1923), desenvolveu-se
na França um movimento regionalista, que se articula em torno da
revista L’Acion Régionaliste e da Federação Regionalista Francesa.
Entre 1890 e 1910, esse movimento defendeu uma reforma
territorial na França. A partir de 1910, Vidal se insere nesse
movimento.

A primeira tomada de posição regionalista de Vidal foi muito


discreta. Manifestou-se em um comentário que ele fez, em 1898,
sobre o livro de Pierre Foncin “Les Pays de France. Projet de
91
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

fédéralisme administratif. (Compte rendu du livre de Pierre Foncin:


Les pays de France) Annales de Geographie, 1898). Nesse livro,
Foncin propõe ao movimento regionalista uma doutrina e um
programa. Em seu comentário, Vidal subscreve a ideia de “livrar a
França da opressão da centralização”. Como Foncin, ele lamenta a
ineficácia da organização territorial em vigor na França e concorda
que seria necessário dotar a França de uma circunscrição
administrativa melhor adaptada às “unidades locais naturais”.

Esse breve comentário revela duas orientações que Vidal, nessa


época, dava à sua reflexão sobre a região. De um lado, ele queria
dotar a Geografia de uma definição do conceito de região e de um
método de análise regional. Ele sustenta, como vários outros, que a
realidade regional não corresponde necessariamente a divisões
administrativas. Por outro lado, ele revela a sua sensibilidade
política e faz elogios às vantagens de Estados onde a diversidade
regional se exprime. Ao descrever a Suíça, deixa transparecer o valor
moral que ele atribui à autonomia dos organismos locais. Para ele, a
Suíça havia atingido um alto nível de civilização porque cada região
era dotada de uma identidade política própria.

Se, por um lado, Vidal, ao comentar Foncin, concorda com a


reforma regional, ele não se torna efetivamente um advogado do
movimento regionalista. No entanto, dá um passo nessa direção
quando publica, em 1903, o seu célebre Tableau de la géographie
de la France.

Nesse trabalho, ele adopta uma posição regionalista, sem se referir


diretamente a nenhuma posição política ou debate partidário. Ele se
situa “acima” de qualquer querela doutrinária ou política e reclama
para si tão-somente a análise científica. Restringe-se a dizer, no final
de sua obra, que a reforma regional emana da própria Geografia e
que uma regionalização está verdadeiramente inscrita na história do
solo e do povo francês, que somente “o esquecimento” ou “a
complacência” poderiam contrariar tal reforma. Ele explica que a
centralização é uma herança do século XVIII e que nessa época uma
coação política externa havia favorecido essa centralização.

A França precisava rivalizar com os outros Estados europeus e esse


esforço de afirmação e de resistência exigia que a unidade do país
fosse incontestável. Entretanto, essa centralização havia, segundo
Vidal, sufocado o pleno desenvolvimento e a manifestação da
Geografia francesa e no século XIX o dinamismo local começava a se
manifestar, mostrando que a Geografia regional da França iniciava a
retomada de seus direitos.

92
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Alguns anos mais tarde, Vidal decide defender mais abertamente o


movimento regionalista. Sua atitude se manifesta, primeiramente,
(VIDAL DE LA BLACHE, 1909), quando comenta o livro de Lucien
Gallois, Régions naturelles et noms de pays, no qual denuncia
abertamente e sem rodeios “o despotismo” que mantém a França
num “excesso de centralização”. Essa nova coloração é o prelúdio de
um outro artigo, publicado em 1910, Regions françaises.

Nesse artigo, Vidal ultrapassa, sem hesitação, os horizontes


científicos, para elaborar e legitimar um autêntico programa
regionalista. Desde a primeira linha, ele denuncia a inércia da classe
política e se congratula com a clarividência dos partidários da
reforma regional. Com essa amostra, manifesta a sua intenção de
tomar partido em um debate político de sua época. Aliás, ele critica
“a insuficiência das divisões administrativas atuais”.

Mesmo reconhecendo um certo valor nas divisões departamentais,


lamenta a ausência de entidades regionais mais amplas. Para ele, o
departamento, criado no rasto da Revolução, trazia uma forte
marca de uma França largamente rural.

Contudo, a geografia da França havia mudado bastante no século


XIX. A grande indústria havia ampliado consideravelmente a escala
dos fenômenos econômicos e isso simultaneamente à formação de
centros urbanos que drenavam grandes hinterlândias.

O Método Regional

Vidal se interessa muito pelas realidades geográficas extensas:


nações ou grandes zonas geográficas, como o Mediterrâneo. Se ele
efetua recortes regionais, é para melhor compreender a natureza
das entidades que lhe interessam. Seu método repousa sobre uma
incessante dialética das escalas. Para ele, essa dialética se realiza
quando analisa a situação dos lugares ou de pequenos conjuntos
territoriais: pontos ou áreas mais ou menos extensos. A outra
vertente dessa dialética das escalas procede de modo inverso, indo
das grandes áreas naturais, das nações, das grandes regiões em
direção aos “pays”, ao local. Essas operações de regionalização que
“revelam” componentes que existem no seio de um grande espaço
o apaixonam.

Quando os critérios de partição são mudados, a forma do recorte


toma toda sua amplitude. É o que torna a démarche regional
insubstituível no pensamento vidaliano. Ela revela, assim, a
complexidade dos objectos estudados quer se trate de nações, de
grandes espaços, ou do estudo do local.
93
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Para descrever a França, Vidal utiliza sucessivamente várias


perspetivas: ele a recorta em regiões naturais (1988); analisa
conjuntos onde se desenvolvem formas de sociabilidade originais,
mas que têm na França a particularidade de se completar (VIDAL DE
LA BLACHE, 1979); faz um inventário dos pequenos “pays” e das
paisagens agrárias (VIDAL DE LA BLACHE, 1904). Retornando dos
Estados Unidos, se volta para a análise com base nas grandes
cidades, nas zonas de influência que elas talham no seio do território
nacional (VIDAL DE LA BLACHE, 1993).

Nesse sentido, a démarche regional vidaliana não pode ser


concebida de maneira estática, uma vez que é dinâmica. Abrindo
vários flancos, ela permite envolver na análise a natureza, a natureza
humana, a cultura e todo o conjunto complexo de “objectos e de
acções” que constituem a estrutura do território.

Sumário

Nesta unidade, discutimos a evolução do pensamento regional de


Paul Vidal de la Blache. Você percebeu que, para esse autor, a região
é um recorte espacial relacionado à diferenciação natural e cultural
dos lugares. Mostramos também que elementos como clima,
geologia, cultura, história e técnica se imbricam e dão singularidades
ao local e que o advento das cidades promovem um novo
reordenamento regional.
AAuto-Avaliação

1. Uma região pode ser criada com a finalidade de realizar estudos


sobre as características gerais de um território, assim como para
entender determinados aspectos do espaço.
2. A região resulta de uma elaboração racional e intencional do ser
humano. Tem a finalidade de facilitar a análise, a gestão e a
compreensão de uma determinada área e dos elementos que a
compõem.
3. Em geral, a região pode ser entendida como uma área que foi
dividida obedecendo-se a um critério específico.

94
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

4. Algumas regiões surgem de forma natural e são estabelecidas sem


que seja necessária a especificação de um critério que as defina ou
classifique. Elas são chamadas de regiões naturais.
5. O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao
longo da história. Nele estão contidos alguns elementos.
I Um dos principais da geografia, está ligado a espaços que nos são
familiar e que fazem parte da nossa vida. Desde a infância,
começamos a construir e organizar nosso próprio espaço e a
conhecer o espaço das pessoas com as quais convivemos.
II Refere-se às configurações externas do espaço. Por muitas vezes, ela
foi definida como “aquilo que a visão alcança”.
III É classicamente definido como sendo um espaço delimitado. Tal
delimitação se dá através de fronteiras, sejam elas definidas pelo
homem ou pela natureza.
IV É uma área ou espaço que foi dividido obedecendo a um critério
específico. Trata-se de uma elaboração racional humana para melhor
compreender uma determinada área ou um aspecto dela. Pela
análise realizada a sequência correta é:

A. Lugar, paisagem, território, região.


B. Paisagem, território, lugar, região.
C. Território, lugar, paisagem, região.
D. Região, paisagem, lugar, território.

Guião de Correcção
1-F; 2-F; 3-V; 4-F; 5-A
Avaliação

1. A partir do conceito de REGIÃO, assinale a opção CORRETA:


A. O Conceito de Região na Geografia refere-se à porção do espaço que
agrupa elementos diferentes.
B. Cada região se diferencia das outras por apresentar particularidades
próprias, ou seja, semelhança entre seus elementos.
C. Para estudar todos os países do mundo não precisamos regionalizar
as informações, podemos estudar todos os dados geográficos
juntos.
D. O conceito de região é menor que a escala local, e maior que a escala
nacional.

95
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Correlacione a segunda coluna de acordo com a primeira:


Espaço Conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, que
2. geográfico procura revelar as práticas sociais dos diferentes grupos.

3. Paisagem É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação


dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos que, reagindo dialeticamente, uns sobre os outros, fazem
da paisagem um conjunto indissociável, em perpétua evolução.

4. Território Para algumas correntes da geografia, pode ser entendido(a) como uma
classe de área, que pode apresentar grande uniformidade interna e
grandes diferenças quando comparada a outras áreas.

5. Lugar É marcado(a) pelas relações de consenso, conflito, dominação e


resistência, onde se cria identidade e onde se vive.

6. Região As relações de poder construídas e estabelecidas são determinantes


para a sua definição e delimitação.

Guião de Correcção
1-B;

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia. Geografia, ciência da sociedade. Recife:


Editora Universitária/ UFPE, 2006.

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995.

CLAVAL, Paul. Histoire de la Géographie française de 1870 à nos jour.


Paris: NATAN, 1998.

DANTAS, Aldo. Pierre Monbeig: um marco da geografi a brasileira.


Porto Alegre: Sulina, 2005.

MERCIER, Guy. La région e l´’état selon Friedrich Ratzel et Paul Vidal


de la Blache. Annales de Géographie, Paris, v. 583, p. 211-235, 1995.

MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC, 1983.

SANGUIN, André-Louis. Vidal de la Blache: un génie de la


géographie. Paris: Belin, 1993. VIDAL DE LA BLACHE, Paul. Le principe
de la géographie générale. Annales de Géographie, v. 5, n. 20, p. 122-
142, 1896.
96
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

______. Régions naturelles et noms de pays. Journal des Savants, p.


389-401, sept./oct. 1909.

______. De la signifi cations populaire des noms pays. Roma


Tipografia Della R. Academia dei Lincei, 1904.
______. La rénovaion de la vie régionale: foi et vie. Cheir, 1917.
______. Tableau de la géographie de la France. Paris: Tallandier,
1979. ______. Régions françaises. In: SANGUIN, André-Louis. Vidal
de la Blache: un génie de la géographie. Paris: Belin, 1993.

UNIDADE Temática 3.4. Os movimentos de renovação

Introdução

A Geografia começa a viver a partir da década de 1950, em todo o


mundo, uma dramática crise de transição. Essa crise adveio do
rompimento de grande parte dos geógrafos em relação à perspetiva
tradicional, aquela que se fundamentava no positivismo. Esse
rompimento ensejou a busca de novos caminhos, de nova
linguagem, de novas propostas, enfim, de uma maior liberdade para
reflexão e criação. Com o movimento de renovação, a Geografia
passa a trabalhar a partir de críticas e propostas; abrem-se novas
discussões e buscam-se caminhos até então desconhecidos. Instala-
se, de maneira sólida, um tempo de críticas e de propostas no
âmbito dessa ciência. As principais propostas geradas a partir desse
momento são os movimentos que deram origem às geografias
quantitativa, radial e da perceção. São esses três movimentos que
analisaremos nesta aula.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos Específicos

97
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

● Compreender a realidade colocada para o mundo nos pós Segunda Guerra


Mundial.
● Entender a relação entre realidade social e histórica do período estudado e
suas vinculações com os movimentos de renovação da Geografia.
● Perceber as especificidades que compõe as propostas da geografia
quantitativa, radical e da perceção.

Contexto geral

O contexto dos pós Segunda Guerra Mundial modifica


profundamente a maneira de se conceber os problemas da
sociedade. O mundo que se reconstitui, depois da guerra, é um
mundo dominado por dois blocos antagônicos, no qual se firma um
Terceiro Mundo confrontado com grande explosão demográfica e
miséria.

Um crescimento espetacular dos fluxos de homens, mercadorias,


informações e finanças se estabelecem fortemente nesse período e
acirram as rivalidades geopolíticas: é o tempo da Guerra Fria. A
evolução das técnicas e os processos históricos modificam
profundamente as relações econômicas e políticas até então
estabelecidas. Começa a se estabelecer o período que Milton Santos
denominou de técnico científico-informacional (Milton Santos: o
filósofo da técnica).

Os meios de aquisição de dados também tornam-se mais


sofisticados. A fotografia aérea, desenvolvida desde a Primeira
Guerra Mundial, toma novo impulso. As imagens de radar
atravessam as coberturas nebulosas. O aperfeiçoamento de satélites
de observação possibilita uma cobertura cada vez mais regular da
Terra, com uma resolução cada vez melhor, chegando à ordem de
metro.

O progresso das técnicas de modelação e de cálculo encontra grande


eco nas ciências. Ocorre nesse momento grande expansão do
Capitalismo, que vai permitir o desenvolvimento das corporações
transnacionais, as quais ampliam seus programas de acção, visando
controlar as matérias-primas e o mercado consumidor em escala
mundial. Os métodos matemático-estatísticos, para a confeção de
modelos abstratos a serem aplicados em realidades diversas, são a
febre desse momento. É nesse ambiente que surgem as correntes
de renovação da geografia.

98
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A Geografia Quantitativa

Denominada também como Nova Geografia, Geografia Pragmática


ou
Geografia Teorética, essa nova corrente de pensamento rompe com
a chamada Geografia Clássica.

De modo geral, podemos dizer que essa corrente vai se apoiar no


uso maciço da estatística, com o emprego de diagramas, matrizes,
análise fatorial e equações matemáticas. Dá pouca importância aos
trabalhos de campo, que é substituído pelo laboratório, onde seriam
feitas medições matemáticas e traçados gráficos estatísticos,
procurando visualizar a problemática da paisagem através de
modelos sistêmicos.

Para os autores filiados a esta corrente, o temário geográfico


poderia ser explicado totalmente com o uso de métodos
matemáticos. Todas as questões aí tratadas – as relações e
interações de fenômenos de elementos, as variações locais da
paisagem, a acção da natureza sobre os homens etc. – seriam
passíveis de ser expressas em termos numéricos (pela mediação de
suas manifestações) e compreendidas na forma de cálculos. Para
eles, os avanços da estatística e da computação propiciam uma
explicação geográfica. Por exemplo, ao se estudar uma determinada
região, a análise deveria começar pela contagem dos elementos
presentes (número de estabelecimentos agrícolas, total de
população, extensão, número e tamanho das vilas e cidades etc.);
este procedimento forneceria tabelas numéricas de cada dado, as
quais seriam trabalhadas estatisticamente pelo computador
(médias, variâncias, desvio-padrão, medianas etc.) e relacionadas
(correlação simples e múltipla, regressão linear, covariação, análise
de agrupamento etc.); ao final, surgiriam resultados numéricos, cuja
interpretação daria a explicação da região estudada. Poder-se-iam
formular juízos do seguinte tipo: a estrutura fundiária é explicável
pela topografia, em relação ao tipo de produto na razão de 70%; o
tamanho das cidades relaciona-se com o sistema viário em 0,6 numa
escala de 0 a 1; variando a produtividade agrícola, variará o volume
de estradas asfaltadas, na proporção de 7.0 numa escala de 1 a 10;
e assim por diante. A relação de várias destas constatações
permitiria chegar à explicação geral da área estudada. (MORAES,
1983, p.103).

99
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A Geografia crítica ou radical

Como já mencionamos no início desta aula, o mundo passa por


grandes transformações a partir do final da Segunda Guerra
Mundial, tais como:
▪ Início e fim da Guerra Fria, através da política de
coexistência pacífica que amortece as tensões entre
os dois blocos hegemônicos, o que permite o
florescimento da reflexão marxista no ocidente;
▪ Mudanças nos países do Terceiro Mundo;

▪ Crise do sistema de dominação ocidental.

O processo de descolonização, ocorrido após a Segunda Guerra


Mundial, de muitos países da África, como a Guiné e a Argélia, é
fruto dessas mudanças e contribuiu para alterar de modo
significativo as relações internacionais.

Vêm a baila os problemas do chamado mundo subdesenvolvido, o


que dá origem a movimentos com o dos Países não-alinhados –
conjunto de países que tinham a pretensão de não se alinharem nem
ao bloco capitalista nem ao bloco comunista – e também à
Conferência Mundial de Comércio e Desenvolvimento, realizada em
Bruxelas em 1964, que permitiu levantar muitos dos problemas
sociais e econômicos do subdesenvolvimento e influenciou não só a
economia como também as outras ciências sociais.

Toma-se consciência que, em boa medida, os problemas do


subdesenvolvimento são consequência da dominação capitalista e
se reconhece as relações entre o atraso econômico, a dependência
e a relações comerciais internacionais. Entra em crise o sistema de
dominação levado a cabo pela Europa e Estados Unidos da América
(EUA). Essas mudanças refletem-se nas ciências sociais, que vão
buscar uma nova compreensão para os países dependentes e para o
papel das potências ocidentais e do próprio sistema capitalista.

No campo da Geografia, os procedimentos metodológicos


descritivos da Geografia Tradicional e o tecnicismo quantitativo da
Geografia Teorética começam a ser criticados por não conseguirem
explicar a nova realidade posta. Esse movimento de crítica é
denominado de radical. Tem sua origem nos Estados Unidos, em
meio à turbulência social originada pela intervenção americana no
Vietnam.

100
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Para além da pesquisa sobre a produção e organização do espaço,


das causalidades estruturais e históricas ligadas às formações
sociais, essa corrente acrescentava, às suas formulações, forte
contestação à realidade social, notadamente à sociedade capitalista
americana, onde se exacerbavam os problemas sociais, com
destaque aos das grandes cidades.

Esse movimento era composto, basicamente, de jovens geógrafos


que criticavam a inoperância das barreiras disciplinares, a falta de
pertinência da Geografia social e sua frequente associação com os
interesses e instituições dominantes e de todos aqueles que
contribuíam para a manutenção do status quo, ou seja, acreditavam
que a Geografia de então contribuía mais para o controle do que
para a resolução dos problemas sociais tal como eles se expressavam
no território, tanto em escala mundial, das relações entre centro e
periferia, como em escala urbana. Assim sendo, suas pesquisas, com
base teórico-marxista, se voltaram para temas como a produção do
espaço, a pobreza, a fome, a saúde, a criminalidade, os problemas
urbanos, o imperialismo e a geopolítica.

O designativo de crítica diz respeito, principalmente, a uma postura


frente à realidade, frente à ordem constituída. São os autores que
se posicionam por uma transformação da realidade social, pensando
o seu saber como uma arma desse processo. São, assim, os que
assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo
uma Geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa. São
os que pensam a análise geográfica como instrumento de libertação
do homem.

Os autores da geografia crítica vão fazer uma avaliação profunda das


razões da crise; são os que acham fundamental evidenciá-la. Vão
além de um questionamento puramente acadêmico do pensamento
tradicional, buscando suas raízes sociais. Ao nível acadêmico
criticam o empirismo exacerbado da Geografia Tradicional, que
manteve suas análises presas ao mundo das aparências [...].

A vanguarda desse processo crítico renovador vai ainda mais além,


apontando o conteúdo de classe da Geografia tradicional. Seus
autores mostram as vinculações entre as teorias geográficas e o
imperialismo, a ideia de progresso veiculando sempre uma apologia
da expansão. Mostram o trabalho dos geógrafos, como articulado às
razões do Estado. Desmistificam a pseudo “objectividade” desse
processo, especificando como o discurso geográfico escamoteou as
contradições sociais. (MORAES, 1983, 112-113).

101
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A Geografia da Perceção

Também conhecida com Geografia comportamental, a Geografia da


perceção surge como uma corrente de pensamento que se aproxima
da psicologia e tem nas formulações fenomenológicas de Edmund
Husserl (1859-1938) o seu suporte teórico. A fenomenologia coloca
importância primordial no indivíduo para o processo de construção
do conhecimento.

Para esta corrente, o mundo deve ser descrito segundo a maneira


como é visto, sentido e percebido pelo indivíduo. Desenvolvida nos
Estados Unidos por Yifu Tuan, esta corrente ficou também conhecida
como Topofilia. Topofilia quer dizer, literalmente, amor aos lugares
(Topo, lugar, e filia, amor). Esse termo foi utilizado pelo pela primeira
vez pelo filósofo Gaston Bachelard, no seu livro “A poética do
espaço”.

Para ele, tratava-se de considerar os “espaços felizes” e os espaços


vividos. Para Tuan, Topofilia designa a ligação afetiva que existe
entre cada indivíduo e os lugares. Nesse caso, trata-se de um
sentimento extremamente particular. Sabemos que os indivíduos
estabelecem relações significativas com os lugares e que os lugares
significam sempre “alguma coisa” para os seres humanos. Assim
sendo, caberia ao geógrafo (da perceção) pesquisar essa “alguma
coisa”, levando em consideração que os seres humanos interpretam
os lugares e, simultaneamente, lhes dão sentido. Trata-se, então, de
compreender as modalidades segundo as quais os seres humanos
constroem suas relações com os lugares, quer eles seja simbólicos,
constitutivos de identidade, ou mais banais e familiares. Entretanto,
devemos chamar a atenção para o facto de que a ligação dos seres
humanos com os lugares é intermediada por factores culturais,
sociais, econômicos e, mesmo, de origem biológica. Nesse sentido,
para se compreender as preferências, afetividades e atitudes de
cada indivíduo ou grupo, é necessário levar em consideração
aqueles factores.

Para compreender a preferência ambiental de uma pessoa,


necessitaríamos examinar sua herança biológica, criação, educação,
trabalho e arredores físicos. No nível de atitudes e preferências de
grupo, é necessário conhecer a história cultural e a experiência de
um grupo no contexto de seu ambiente físico. Em nenhum dos casos
é possível distinguir nitidamente entre factores culturais e o papel
do meio ambiente físico. Os conceitos de “cultura” e “meio

102
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

ambiente” se superpõem do mesmo modo que os conceitos de


“homem” e “natureza” [...].

Na sociedade ocidental o mapa mental da dona de casa com crianças


pequenas, provavelmente, é diferente do de seu esposo. Os
caminhos de circulação do casal, durante os dias de trabalho,
dificilmente coincidem, exceto dentro de casa. Quando saem às
compras, o homem e a mulher vão querer olhar lojas diferentes. Eles
podem ir de braço dado, mas com isso não vão ver ou escutar as
mesmas coisas.

Ocasionalmente, são arrancados de seus próprios mundos


preceptivos para atender cortesmente ao pedido do outro, como
por exemplo, quando o marido pede à esposa que admire os tacos
de golfe na vitrina. Pense em uma rua movimentada e procure
lembrar as suas lojas: certas lojas aparecerão nitidamente, enquanto
outras se dissolverão em uma névoa como um sonho. Os papéis dos
sexos têm muita a ver com as diferenças nos padrões (TUAN, 1980
p. 68-70).

Sumário

Considerando as transformações ocorridas com o final da Segunda


Guerra Mundial, você estudou os movimentos de renovação da
Geografia, denominados de quantitativo, radical e da perceção, os
quais foram influenciados por essas mudanças.

Autoavaliação

1. A Geografia começa a viver em todo o mundo, uma dramática crise


de transição. Essa crise Adveio do rompimento de
grande parte dos geógrafos em relação à perspetiva tradicional,
aquela que se fundamentava no positivismo. Esta crise foi:

A. A partir da década de 1950


B. A partir da década de 1590
C. A partir da década de 1920
D. Todas opções estão erradas

2. A Nova Geografia defende que o subdesenvolvimento é um estágio


para se chegar ao desenvolvimento.

3. A Nova Geografia defende que Todo o conhecimento apoia-se na


experiência (empirismo).
103
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

4. A Geografia Crítica apóia-se em dados estatísticos e planos para


explicar a espacialidade social.

5. Uma das grandes metas conceituadas da geografia foi justamente de


um lado, esconder o papel do Estado bem como o das classes sociais
na organização da sociedade e do espaço. A justificativa da obra
colonial fio um outro aspecto do mesmo programa (M. Santos) ”. As
nações teórico-metodológicas que invertem essas metas
conceituadas estão contidas na:
A. Geografia teórica
B. Geografia descritiva
C. Geografia crítica
D. Geografia de perceção

Guião de Correcção
1-A; 2-V; 3-V; 4-V; 5-C

Avaliação

1. A Geografia comportamental, a Geografia da perceção surge como


uma corrente de pensamento que se aproxima da psicologia e tem
nas formulações fenomenológicas. Para esta corrente, o mundo
deve ser descrito segundo a maneira como é visto, sentido e
percebido pelo indivíduo. Esta corrente foi desenvolvida por:

A. Friedrich Ratzel
B. Gaston Bachelard
C. Milton Santos
D. Yifu Tuan

2. A geografia crítica desmascara a geografia tradicional e a nova


geografia ao demostrar o papel da geografia na legitimação dos
interesses das classes hegemônicas.

3. Segundo o princípio da causalidade, o geógrafo só realiza a


Geografia plenamente como ciência quando demonstra, comprove
e explica o fenômeno estudado, evidenciando suas causas e
consequências.
4. A geografia crítica sucede a corrente do pensamento geográfico
denominada nova geografia ou geografia quantitativa.
O Determinismo Geográfico de Ratzel, surge como resposta ao
Possibilismo de Vidal de la Blache.
104
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Guião de Correcção
1-D; 2-V; 3-V; 4-V; 5-F

Referências Bibliográficas

BACHELARD, G. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes,


1998.

BAILLY, A. FERRAS, R. Élements d’éspistemoligie de la géographie.


Paris: Armand Colin, 1997.

CLAVAL, Paul. Histoire de la géopgraphie. Paris: PUF, 1996.

MORAES, António Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica.


São Paulo: HUCITEC, 1983.

MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? São Paulo:


Contexto, 2006.

TUAN, Yi-fi . Topofilaia. São Paulo: Difel, 1980.

105
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

TEMA – IV: GEOGRAFIA COMO CIENCIA.

Unidade Temática 4.1. Geografia como Ciência

UNIDADE Temática 4.1. Geografia como Ciência

Introdução

Friedrich Ratzel (1844-1904) e sua obra foram de fundamental


importância para o processo de sistematização da Geografia
moderna. Foi de sua autoria uma das pioneiras formulações de um
estudo geográfico especificamente dedicado à discussão dos
problemas humanos, o qual denominou de antropogeografia. Seu
projecto teórico, com forte carácter interdisciplinar, teve a
preocupação central de entender: a difusão e distribuição dos povos
sobre a superfície da Terra; as diversas formas de circulação de
pessoas e bens materiais; a influência das condições naturais sobre
o comportamento humano; as formações territoriais e, intimamente
vinculada a estas, a dimensão política da relação homem-natureza.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Objectivos Específicos

Entender em que contexto histórico se desenvolve o pensamento ratzeliano.


Compreender a dimensão determinista da obra de Ratzel para a
sistematização da Geografia.

106
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Geografia como Ciência


A geografia é um dos saberes mais antigos que existem. De forma
resumida, podemos dizer que ela é o estudo do espaço que os seres
humanos habitam. Assim sendo, seu início coincide com o advento
dos primeiros mapas, na Antiguidade, pois a elaboração de um mapa
- para mostrar o caminho para um lugar, para localizar cada objecto
ou fenômeno numa determinada região, etc. - já pressupõe um
estudo geográfico. O mapa é um excelente instrumento para a
geografia e, normalmente, os estudos ou trabalhos dessa disciplina
são acompanhados por mapas.

A palavra Geografia (geo, “Terra”; grafia, “descrição”, “escrita”) foi


criada pelo filósofo grego Eratóstenes no século III a.C. Esse filósofo
foi um estudioso da geografia, algo muito comum na época, quando
praticamente todos os sábios ou estudiosos eram filósofos (filo,
“amigo”; Sofia, “saber”, “sabedoria”) e, com frequência, se
ocupavam de quase todos os temas ou assuntos que hoje dividimos
entre várias disciplinas distintas. Foi somente nos séculos XVII, XVIII
e XIX, dependendo de cada caso, que as ciências modernas (química,
física, geologia, geografia, astronomia, sociologia, economia, etc.) se
definiram mais precisamente, isto é, tornaram-se autônomas ou
independentes da filosofia e adquiriram os seus conceitos e
métodos próprios e específicos.

Para que uma disciplina torne-se ciência é necessário que a mesma


tenha um objecto de estudo e um objectivo que a diferencie das
demais, que seja peculiar, própria, particular a ela.

Foi somente no século XIX que a geografia se tornou uma ciência


específica, tendo-se separado da filosofia, da astronomia, da
geologia e de outros saberes que, até então, eram mais ou menos
integrados com ela. Isso ocorreu como consequência da
especialização dos saberes, isto é, de uma maior delimitação de cada
objecto ou campo de estudos.

Os Aspectos teórico e prático da geografia

A geografia sempre apresentou dois aspectos: um teórico e outro


prático ou estratégico. O aspecto teórico da disciplina refere-se aos
conhecimentos sobre o mundo como um todo, ou seja, a geografia
geral, e também aos estudos sobre um determinado lugar ou região,
a geografia regional. Por exemplo: as densidades demográficas no
mundo, o comércio internacional, os climas do nosso planeta, etc.

107
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

(geografia geral); ou o estudo da Europa ocidental, da Grécia ou da


Amazônia (geografia regional).

O aspecto estratégico da geografia diz respeito à sua utilidade


prática para o Estado (isto é, para o poder público), para os militares
(para fazer a guerra), para as empresas e indivíduos em geral (para
conhecer o mundo e os lugares a fim de neles poder atuar mais
eficazmente). Afinal, todos os povos, todas as sociedades humanas,
habitam um determinado espaço, que é o seu território. E não é
possível que exista um governo (isto é, a cúpula ou comando do
Estado) que administre uma sociedade, cobrando impostos e
garantindo a lei e a ordem, sem dispor de informações geográficas a
respeito dessa sociedade e do seu território: conhecimentos e
mapas sobre os recursos naturais (solos, minérios, recursos hídricos,
etc.), sobre a população (número de habitantes e suas
características - sexo, idade, faixas de rendimentos -, locais onde eles
se concentram), etc.

Durante muito tempo a Geografia se caracterizou por ser uma


disciplina meramente descritiva e voltada para memorização, tendo
como objecto principal o fornecimento de conhecimento de carácter
informativo (catalogando nome de continentes, países, Estados,
montanhas, rios, etc.).

Nos dias atuais a Geografia mudou sua imagem e passou a


caracterizar-se por interpretativa, ou seja, procura estudar como os
homens organizam o espaço que habita e nele age, reage, interage
e transforma.

A geografia estuda tudo aquilo necessário à manutenção da vida


humana neste espaço organizado. Etimologicamente a Geografia
teria a função de explicar todos os fenômenos apresentados no
globo, porém, o seu objecto de estudo e objectivo define a Geografia
como o estudo da manutenção do homem no meio. A Geografia é
uma ciência porque tem um objecto de estudo (a Terra, apesar de
ser esta objecto de estudo de outras ciências). Porém, seu objectivo
(estudar a organização do espaço humano) é específico, próprio,
singular.

Surge a Geografia moderna com Humboldt e Ritter

Dois estudiosos germânicos do século XIX são considerados os


criadores da geografia moderna ou científica: Alexandre Von
Humboldt (17691859) e Karl Ritter (1779-1859). Eles produziram
importantes trabalhos de pesquisa no estudo da geografia física
(climas e suas relações com a vegetação, às águas e o relevo,
108
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

interação entre os elementos naturais de uma paisagem), como foi


o caso principalmente de Humboldt, ou então da geografia humana
(os povos e seus territórios, os Estados e suas relações políticas,
econômicas, etc.), como foi o caso de Ritter.

Figura 17- Alexander von Humboldt (1769- 1859)

Alexander von Humboldt foi um viajante incansável, que conheceu


todos os continentes. Em suas viagens, fazia anotações, ilustrações,
mapas, e recolhia dados para estabelecer as relações entre os
fenômenos da geografia física. Ao contrário de inúmeros estudos
anteriores, que apenas recolhiam factos isolados, ele procurou
integrálos, formando um conjunto ou um sistema de fenômenos
interligados e que se influenciam mutuamente. Procurou também
deixar de lado os conhecimentos ou crenças especulativos e se ater
somente àquilo que pode ser comprovado cientificamente, por meio
da observação e do raciocínio.

Um dos grandes méritos de Humboldt foi ter percebido que a


natureza não é algo estático ou "eterno", como se pensava até
então. Ele assinalou a dinamicidade da natureza, as suas alterações
com o decorrer do tempo. Observou que ocorreram modificações
climáticas e geológicas na superfície terrestre e que todos os aspetos
da natureza - inclusive os seres vivos - não existiram sempre da
mesma forma.

Karl Ritter não foi um viajante pertinaz (persistente), tal como


Humboldt. Trabalhou muito mais com pesquisas bibliográficas do
que com pesquisas de campo, procurando sempre verificar o que era
fantasia e separá-la dos factos ou conhecimentos comprováveis ou
aceitáveis.

Ritter também insistiu nas inter-relações entre fenômenos (não


apenas entre os naturais, mas também entre os humanos e,
principalmente, entre a humanidade e a natureza) que ocorrem no
espaço geográfico. Contrariando a maioria dos estudiosos do
período, que pensavam que o homem fosse um produto do meio
109
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

natural, ele assinalou o domínio progressivo (embora problemático)


que a humanidade exerce sobre a natureza graças à tecnologia.
Ritter também percebeu que o mundo estava ficando pequeno, isto
cada vez mais integrado, com uma multiplicação (intercâmbios entre
todas as regiões do globo.

Figura 18- KARL RITTER 1779-1859

Podemos ainda relacionar o advento da geografia moderna com o


seu momento histórico, o século XIX. Nessa época, a humanidade já
tinha unificado todo espaço planetário, processo que se iniciou no
século XV, com a expansão marítimo-comercial europeia, e se
prolongou nos séculos posteriores, com a conquista da Oceânia e um
melhor conhecimento da África, a o século XIX, com o estudo das
regiões polares, as últimas a serem exploradas pelos povos
europeus.

Não foi por acaso que os trabalhos desses de geógrafos, Humboldt


e Ritter, surgiram nesse período em que o conhecimento geográfico
acumulado sob o mundo já permitia separar a realidade da fantasia
dos mitos. A construção da geografia moderna, portanto, só pôde
ocorrer num momento em que praticamente toda a superfície
terrestre havia sido conhecida, estudada e mapeada.

As concepções, correntes ou escolas geográficas

Na tentativa de formular as leis que regem as relações entre o


homem e a natureza, surgiram duas importantes correntes
geográficas no século XIX que foram:

A Escola Determinista ou Ambientalista


Teoria formulada no século XIX pelo geógrafo alemão Friedrich
Ratzel que fala das influências que as condições naturais exerceriam

110
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

sobre o ser humano, sustentando a tese de que o meio natural


determinaria o homem.
O determinismo geográfico sustentava que as condições ambientais,
em especial o clima, são capazes de influenciar o desenvolvimento
intelectual e cultural das pessoas. Esta teoria afirmava que nas áreas
temperadas a humanidade teria um desenvolvimento mais elevado
do que nas áreas tropicais, quente e húmidas.
As afirmações de Ratzel estavam fortemente ligadas ao momento
histórico que vivia, durante a unificação da alemã. O expansionismo
do Império Alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia
Otto von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais
correntes de pensamento ratzeliano, o determinismo geográfico e o
espaço vital (espaço necessário à sobrevivência de uma dada
comunidade). A primeira explicaria a superioridade de algumas raças
- nesse caso, a alemã -, que naturalmente se desenvolveriam mais
do que outras, e a segunda justificaria a conquista de novos
territórios para suprir a maior demanda de recursos para seu
desenvolvimento, ou seja, ou expansionismo.

Os discípulos do determinismo foram além das proposições


ratzelianas, chegando a afirmar que o homem seria um produto do
meio. Defendiam que um meio natural mais hostil proporcionaria
um maior nível de desenvolvimento ao exigir um alto grau de
organização social para suportar todas as contrariedades impostas
pelo meio. Ex: O inverno justificaria o desenvolvimento das
sociedades europeias, que não tiveram grandes dificuldades em
subjugar os povos tropicais, mais indolentes e atrasados. Essa ideia
justificou o expansionismo neocolonial na África e na Ásia entre o
fim do século XIX e o início do século XX. Pensamentos que, mais
tarde, foram aproveitadas pelos cientistas e políticos da Alemanha
Nazista.

A Escola Possibilista

Fundada na França pelo francês Vidal De La Blache (1845-1918), esta


contesta a teoria anterior defendendo a ideia de que a natureza
exerce influências sobre o homem, mas este pode escolher e
modificar o meio físico, conforme sua capacidade de
desenvolvimento técnico, visto que as novas técnicas possibilitaram
que a humanidade tivesse a capacidade de dominar o meio de
acordo com suas necessidades.

Enquadrado no pensamento político dominante, num momento em


que a França tornou-se uma grande soberania, ele realizou estudos
111
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

regionais procurando provar que a natureza exercia influências


sobre o homem, mas que homem tinha possibilidades de modificar
e de melhorar o meio, dando origem ao possibilismo. A natureza
passou a ser considerada fornecedora de possibilidades e o homem
o principal agente geográfico.

Geografia Regional ou Método Regional

Representou a reafirmação de que os aspectos próprios da


Geografia eram o espaço e os lugares. O método era comparar
regiões, segundo critérios de similaridade e diferenciação.

Os geógrafos regionais dedicaram-se à coleta de informações


descritivas sobre lugares, dividir a Terra em regiões.

As bases filosóficas foram desenvolvidas por Vidal de La Blache e


Richard Hartshorne. Hartshorne não utilizava o termo região: para
ele os espaços eram divididos em classes de área, nas quais os
elementos mais homogêneos determinariam cada classe, e assim as
descontinuidades destes trariam as divisões das áreas. Este
pensamento geográfico ficou conhecido como método regional.

Geografia Pragmática (Nova Geografia, Geografia Teorética ou


Quantitativa)

Corrente de pensamento da década de 1950 que surgiu da


necessidade de exatidão, através de conceitos mais teóricos e
apoiados em uma explicação matemático-estatística.

As principais características dessa corrente geográfica são:

-Todo o conhecimento apoia-se na experiência (empirismo);

- Deve existir uma linguagem comum entre todas as ciências;

- Recusa de um dualismo científico entre as ciências naturais e as


ciências sociais.

-Maior rigor na aplicação da metodologia científica;

- O uso de técnicas estatísticas e matemáticas;

- A investigação científica e os seus resultados devem ser expressos


de uma forma clara, o que exige o uso da linguagem matemática e
da lógica.

112
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Foi usada como um forte instrumento de poder estatal, pois


manipulava dados através de resultados estatísticos.

Predominou na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, principalmente


na década de 1960 a meados de 1970. A partir da década de 1960, a
Geografia Pragmática começou a sofrer duras críticas. Uma das
principais críticas é o facto de não considerar as peculiaridades dos
fenômenos, pois o método matemático explica o que acontece em
determinados momentos, mas não explica os intervalos entre eles,
além de apresentar dados considerando o “todo” de forma
homogênea, desconsiderando, portanto, as particularidades.

Geografia Crítica ou Geografia Marxista

A referência a uma geografia crítica é feita com muita ênfase na obra


"A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra", do
francês Yves Lacoste.

Essa corrente de pensamento geográfico surgiu na França, em 1970,


e depois na Alemanha, Brasil, Itália, Espanha, Suíça, México e outros
países.

Ganhou mais força na Alemanha, Espanha, França e Brasil, com um


grande movimento de renovação da geografia na década de 80.

No Brasil, o grande nome da Geografia Crítica foi Milton Santos, que


publicou os primeiros trabalhos da nova escola nesse país.

A Geografia crítica estabelece o rompimento da neutralidade no


estudo da geografia e propõe engajamento e criticidade junto a toda
a conjuntura social, econômica e política do mundo. Estabelece
também uma leitura crítica frente aos problemas e interesses que
envolvem as relações de poder e pró-atividade frente as causas
sociais, defendendo a diminuição das disparidades sócio-
econômicas e diferenças regionais. Defendia ainda a mudança do
ensino da geografia nas escolas, ao estabelecer uma educação que
estimulasse a inteligência e o espírito crítico.

O pensamento crítico na geografia significou, principalmente, uma


aproximação com os movimentos sociais, principalmente na busca
da ampliação dos direitos civis e sociais, como o acesso a educação
de boa qualidade, a moradia, pelo acesso à terra, o combate à
pobreza, entre outras temáticas.

113
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Geografia Humanística ou Cultural

Tem como base os trabalhos realizados por Yi-Fu Tuan, Anne


Buttimer, Edward Relph e Mercer e Powell.

A Geografia Humanística ou Cultural procura valorizar a experiência


do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento
e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares, ou
seja, a cultura dos grupos sociais.

Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão do
mundo, que se expressa através das suas atitudes e valores para com
o ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu
espaço e o seu mundo, e nele se relaciona.

Os geógrafos culturais argumentam que sua abordagem merece o


rótulo de "humanística", pois estudam os aspectos do homem que
são mais distintamente humanos: significações, valores, metas e
propósitos (Entrikin, 1976).

O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado no qual


está integrado, tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo
de pessoas.

O espaço envolve um complexo de ideias. A perceção visual, o tato,


o movimento e o pensamento se combinam para dar o sentido
característico de espaço, possibilitando a capacidade para
reconhecer e estruturar a disposição dos objectos.

A integração espacial faz-se mais pela dimensão afetiva que pela


métrica. Estar junto, estar próximo, significa o relacionamento
afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. Lugares e pessoas
fisicamente distantes podem estar afetivamente muito próximos.

O estudo do espaço é a análise dos sentimentos e ideias espaciais


das pessoas e grupos de pessoas. Valoriza-se o contexto ambiental
e os aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na
sua personalidade e distinção.

Geografia Ambiental

Ramo da geografia que descreve os aspectos espaciais da interação


entre humanos e o mundo natural. Requer o entendimento dos
aspectos tradicionais da geografia física e humana, assim como os
modos que as sociedades conceitualizam o ambiente.

114
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Emergiu como um ponto de ligação entre a geografia física e


humana como resultado do aumento da especialização destes dois
campos de estudo.

Como a relação do homem com o ambiente tem mudado em


consequência da globalização e mudança tecnológica, uma nova
aproximação é necessária para entender esta relação dinâmica e
mutável.

Exemplos de áreas de pesquisa em geografia ambiental incluem


administração de emergência, gestão ambiental, sustentabilidade e
ecologia política.

Os princípios metodológicos

Princípios normas que regem o estudo permitindo realizar uma


investigação eficiente dos fenómenos geográficos. Em geografia
estes foram de grande importância para a construção de
competências e habilidades do conhecimento geográfico, pois
deram a forma e o sentido à ciência geográfica. Tais princípios são:

O Princípio da Extensão

Criado pelo alemão Friedrich Ratzel. Neste, o geógrafo deve


localizar o facto geográfico e determinar sua área de ocorrência e a
Cartografia é indispensável;

O Princípio da Analogia

Seus defensores foram o alemão Karl Ritter e o francês Paul Vidal De


La Blache. Neste, o estudo de um fenômeno geográfico supõe a
preocupação constante em estabelecer semelhanças e as diferenças
dos fenômenos ocorridos em outras partes do globo;

O Princípio da Causalidade
Criado por Alexander Von Humboldt, entende que toda causa tem
seu efeito; todo efeito tem sua causa; todas as coisas acontecem de
acordo com a Lei; o acaso é simplesmente um nome dado a uma lei
não reconhecida; existem muitos planos de causalidade, mas nada
escapa à Lei. Tudo o que você faz, pensa, sente toda ação e reação
desencadeada por esses pensamentos, atitudes e sentimentos,
provocam uma resposta consequente e subsequente.
Este estabelece que se deve sempre buscar as causas e determinar
as consequências do facto geográfico, pois nada acontece por acaso;
Há uma estreita relação em todas as coisas. O simples facto de eu estar
escrevendo esta matéria trará algumas consequências em minha vida, e
115
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

provavelmente trará algumas consequências na sua. Essas consequências


podem ser pequenas, grandes ou enormes, depende da reação de cada um
a esta matéria. Ela poderá não atingi-lo em absolutamente nada, mas pode
gerar um sentimento de necessidade por algum motivo, seja este consciente
ou inconsciente. O Princípio da Conexão ou Coexistência ou ainda
Interação
Formulado pelo francês Jean Brunhes. Este estabelece que os factos
geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados e estão
sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo é
identificar e analisar as relações existentes.

O Princípio da Actividade

Formulado também por Brunhes, estabelece o carácter dinâmico do


facto geográfico que deve ser estudado em seu passado para poder
ser compreendido no presente para se ter uma imagem de seu
futuro.

Categorias Geográficas

Originalmente, as categorias são formas, modos de ser (...) É algo


que se sobrepõe ao conceito, dando – lhe conteúdo, e esse conteúdo
deve ser concreto. O conceito define a ideia ou conjunto de ideias a
respeito do objecto pelo pensamento, por suas características
gerais. Assim, o conjunto de categoria de uma ciência está
relacionado ao objecto de conhecimento dessa ciência. Por
exemplo, a física trabalha com as categorias massa, corpo, luz
energia, átomo, etc.; As categoria fundamentais do conhecimento
geográfico são, entre, outras espaço, lugar, área, região, território,
paisagem e população que definem o objecto da Geografia em seu
relacionamento.

Paisagem

A paisagem é um conjunto heterogêneo de formas naturais e


artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho,
volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério. A paisagem é
sempre heterogênea. A vida em sociedade supõe uma
multiplicidade de funções, e quanto maior o número destas, maior
a diversidade de formas e de factores. Quanto mais complexa a vida
social, tanto mais nos distanciamos de um modo natural e nos
endereçamos a um mundo artificial.

A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem,


enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é
aquela que ainda não foi mudada pelo esforço humano. Se no
116
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de


paisagem praticamente não existe mais.

Se um lugar não é fisicamente tocado pela força do homem, ele,


todavia, é objecto de preocupação e de intenções econômicas ou
políticas, tudo hoje se situa no campo de interesses da História,
sendo desse modo, social.

Para Milton Santos, paisagem é tudo aquilo que nós vemos, o que
nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o
domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formado apenas
por volume, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.

Território

O território é a base geográfica de uma nação. De tamanho variável,


essa porção da superfície terrestre deve incorporar os solos e
subsolos, os rios e lagos, as águas marítimas contíguas e o espaço
aéreo. Daí a inegável importância estratégica do território, razão das
lutas empreendidas por todas as espécies do mundo animal e todas
as sociedades humanas.

Lugar

Lugar é a porção ou parte do espaço onde vivemos. Ele é palco de


nossa existência real, é nele que ocorre o nosso cotidiano, as nossas
experiências de vida. Todos nós criamos uma identidade com o lugar
no qual vivemos; Isto quer dizer que ele significa algo para nós, que
a nossa memória guarda sobre eles determinadas perceções e
vivências com as quais nos identificamos. Portanto, estabelecemos
com o lugar uma relação de afetividade. Quando mudamos, por
exemplo, de uma cidade para outra ou mesmo de um bairro ou rua
para outra, dentro de uma mesma cidade, temos de nos adaptar às
novas condições não só materiais, mas também de significados, de
vínculos.

Região

A região é uma determinada posição do espaço terrestre (de


dimensão variável), passível de ser individualizada, em função de um
carácter próprio ou homogêneo arbitrado para fins de
territorização. Com relação à globalização dos anos 1990, a conceito
regional perde importância em virtude da mundialização da
economia, dos hábitos culturais e dos problemas ambientais. A
ordem mundial provocou a queda de fronteiras produzindo uma
única região, o mundo.

117
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Espaço geográfico

Segundo Melhem Adas, o espaço geográfico somente surge após o


território ser trabalhado, modificado ou transformado pelo homem,
ou quando, ele imprime na paisagem as marcas de sua atuação e
organização social. Possuí, além de uma dinâmica natural, uma
dinâmica social exercida pelas formações sociais que nele atuam.

A medida que se apropria da natureza (espaço natural) e a


transforma, o homem (a sociedade) cria ou produz o espaço
geográfico, e o faz através do trabalho. Utiliza, para tanto as técnicas
de que dispõe segundo o momento histórico e segundo suas
representações, ou seja, crenças, valores, normas e interesses
econômicos, factores que orientam suas intervenções e relações
com os elementos naturais ou físicos do espaço.

Assim, no processo de produção do espaço geográfico, o homem se


apropria do espaço natural, que pode ser chamado de primeira
natureza, e o transforma em uma segunda natureza, segundo suas
necessidades e interesses. A segunda natureza, portanto, nada mais
é do que a natureza humanizada.

A importância do estudo da Geografia

▪ Em um mundo marcado por desigualdades socioeconômicas,


étnicas e religiosas além de inúmeros problemas ambientais, a
Geografia assume cada vez um papel de maior importância.
▪ A Geografia estimula a exploração racional dos recursos além de
levar ao conhecimento das pluralidades culturais, evitando
preconceitos e predisposições contra os diversos grupos sociais.
▪ Em uma época em que as informações são transmitidas pelos
meios de comunicação em grande volume e com grande rapidez,
é impossível compreender o mundo sem conhecimentos
geográficos.
▪ É preciso compreender a organização e transformações do
espaço geográfico para entender o mundo em que vivemos.

Perspetivas e desafios da Geografia para o século XXI

Em pesquisa e desenvolvimento científico é sempre arriscado


trabalhar com as previsões dos avanços. Não se pode falar do futuro
sem se cair no mundo da imaginação e da crença.

118
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

As tendências podem apenas abrir frestas em janelas, mas não


mostrar tudo que se aproxima. Os factos que não escaparão de
nenhum pesquisador é o uso da tecnologia que avança no campo do
mapeamento genético e sua manipulação, da química inteligente,
da nanotecnologia, das redes virtuais em todos os sentidos e
dinâmicas, da computação quântica e, talvez, a imbricação de todos
esses conjuntos de agrupados tecnológicos embutidos em
artefactos, produtos e até novas formas de vida artificializada.

A Geografia é uma ciência do espaço e toda essa dimensão


tecnológica que ora parece ameaçadora, ora libertadora, será a
força motriz da transformação, uso e abandono de espaços, de
países e de parcelas da sociedade. Nisso nada há de diferente, mas
da mesma forma que se pode avaliar a transformação do espaço
como uma fatalidade de expropriação contínua e acelerada do
empobrecimento da maior parte da população mundial, é
impossível afirmar que a sociedade se manterá como espectadora
de acontecimentos tão radicais.

Não sabemos que desafios deverão surgir, mas a fome e


alimentação inadequada, falta de acesso aos recursos naturais de
qualidade, desemprego estrutural e conjuntural, perda de direitos e
conquistas sociais, conflitos étnicos religiosos e destruição por crises
econômicas, por exemplo, estarão em pauta em todas as frentes que
a Geografia vai atuar nas próximas décadas.

Entretanto, não há qualquer certeza sobre o agravamento, mudança


ou desaparecimento de problemas que hoje são tão vigorosos.

A geopolítica, os modelos econômicos, a evolução dos eixos de


mercado e poder estão sendo transformados e países líderes nos
últimos três séculos estão dividindo sua preponderância de forma
muito acelerada. A matriz energética que sustentou o século XX está
sendo questionada, substituída ou consorciada por outras matrizes.
Ações globais estão sendo tomadas para conter processos de
destruição ambiental e seus impactos sociais e polemicamente
tratados no campo da climatologia, recursos hídricos e dos bens
comuns naturais.

Delongar nas variáveis não irá servir a muita coisa. O correto parece,
é assumir uma posição responsável sobre a óbvia esgotabilidade da
natureza e da sociedade diante da força da vida humana e da
natureza em moldes que não comprometam os limites das
virtualidades espaciais.

119
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

Habilitar a sociedade em bases políticas, técnicas, científicas e


informacionais, resguardada pelos valores democráticos, é o desafio
central das várias ciências e não será diferente para Geografia.

Sumário

A aula faz um resumo da história do pensamento geográfico dando


enfase aos aspectos que dão cientificidade a geografia,
nomeadamente as escolas ou doutrinas geográficas, os princípios
bem como a metodologia.
Auto-Avaliação

1. São várias as Correntes de Pensamentos Geográficos ou Paradigmas


da Geografia a última corrente a ser incorporada que passou a existir
conflitualmente com as anteriores foi:

A. Geografia teórica
B. Determinismo Ambientalismo
C. Método Regional
D. Geografia cultural.

2. A GEOGRAFIA é uma das ciências humanas que tem por objecto o


estudo do espaço, é concebida também como o estudo da superfície
terrestre e a distribuição espacial de fenômenos geográficos, frutos
da relação recíproca entre homem e meio ambiente que podemos
chamar de ecologia, mas também pode ser uma prática humana de
conhecer o espaço onde se vive para compreender e planejar onde
se vive. A palavra Geografia (geo, “Terra”; grafia, “descrição”,
“escrita”) foi criada pelo filósofo grego:

A. Eratóstenes no século III a.C.


B. Tales de Mileto século IV a.C
C. Anaximandro seculo V. d.C D. Todas opções estão correctas.

3. Assinale a opção CORRETA em relação ao conceito de Paisagem.


A. Paisagem representa o que ouvimos de um determinado lugar.
B. Paisagem é uma fotografia de um lugar só com características
naturais.
C. Paisagem é o que vemos e observamos de um lugar.
D. Paisagem geográfica é apenas um quadro bonito de um lugar.

120
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

4. A paisagem em que predominam os aspectos originais da natureza


como a vegetação, o relevo e a hidrografia é chamada de paisagem
natural. Assinale a alternativa abaixo que contenha apenas paisagens
naturais.

A. Rodovia, edifícios e represa.


B. Geleira, floresta e conjunto de montanhas.
C. Hidrelétrica, cidade e lago.
D. Ruas avenidas, florestas.

5. A Geopolítica é o ramo da Geografia Econômica que busca explicar a


expansão peIa superfície terrestre, da influência dos grandes grupos
econômicos e dos países a eles ligados, em função dos recursos
naturais existentes.
Guião de Correcção
1-D; 2-A; 3-C; 4- B;5-F

Avaliação

1.A Geografia, como ciência, possui um método próprio de análise,


o chamado método geográfico, que se baseia em cinco princípios.

2.Toda paisagem que reflete uma porção do espaço ostenta marcas


de um passado mais ou menos remoto, apagado ou modificado de
maneira desigual, mas sempre presente”. (Olivier Dolfus, 1991). De
acordo com o texto, é correcto afirmar que:

3.A paisagem é um conjunto de formas heterogêneas de idades


diferentes.
A.A paisagem é estática, ao passo que o espaço é dinâmico.
B.As paisagens refletem, sempre, as marcas das desigualdades
sociais, por serem produzidas sob o modo de produção capitalista.
C.A paisagem é uma representação do espaço, mas não é espaço,
portanto, exibe as formas, mas esconde a essência de sua produção.

3. A paisagem é um dos conceitos básicos da ciência geográfica e


suas modificações ocorreram ao longo da História. Sobre as
paisagens, é INCORRETO afirmar que:

A. Após a Revolução Industrial, os crescimentos econômico e


demográfico reordenaram e deram à paisagem geográfica novos
significados sócios - culturais em vários países europeus.
B. Durante a introdução da cultura no interior de Moçambique no
período colonial, a paisagem ficou inalterada.

121
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

C. No final da Idade Média, as Ligas Hanseáticas, o comércio e a


formação dos burgos contribuíram para a elaboração de novas
paisagens culturais na Europa.
D. Na Idade Moderna, a prática político-social dos cercamentos dos
campos ou “enclosures”, contribuiu para a modificação das
paisagens rural e urbana.

4. Assinale a opção INCORRETA em relação às características da Paisagem:

A. As paisagens representam apenas elementos naturais de um


determinado lugar.
B. A Paisagem é tudo o que os nossos olhos vêem de um
determinado local.
C. As paisagens mudam.
D. As paisagens podem ser bonitas ou feias.

5. O espaço geográfico é composto por “formas visíveis” e “formas


invisíveis”. Assinale a alternativa abaixo que contenha apenas
“formas invisíveis” do espaço geográfico.
A. Rodovias e legislação
B. Hidrelétricas e praias
C. Fluxo de comunicação e fluxo de informação
D. Fábricas e fluxo de informação

Guião de Correcção
1-V; 2-D; 3-B; 4-A; 5-C

Referências Bibliográficas

CLAVAL, Paul. Histoire de la gèogaphie. Paris: PUF, 1995. CORRÊA,


Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática,
1991.
MARTINS, Luciana de Lima. Friedrich Ratzel hoje: a alteridade de
uma geografia. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro, v. 54,
n. 3, p. 105-113, jul./set. 1992.
ALMEIDA, Lucia Marina Alves de & RIGOLIN, Tércio. Fronteiras da
Globalização – O mundo natural e o espaço humanizado. São
Paulo: Ática. 2011. p. 08 – 16. Vol. 1.
PENA, Rodolfo Alves. Friedrich Ratzel. Disponível em <
http://www.brasilescola.com/geografia/friedrich-ratzel.htm >.

122
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

EXÉRCÍCIOS FINAIS PARA PREPARAÇÃO DE EXAMES DO MÓDULO


1. Vidal de La Blache criou uma doutrina, o Possibilismo, e fundou a
escola francesa de Geografia. E, mais, trouxe para a França o eixo da
discussão geográfica, situação que se manteve durante todo o
primeiro quartel do século XX.

2. O que significa “determinismo geográfico”?

A. Trata-se de um princípio geográfico que leva em consideração


apenas a ação do homem sobre o meio natural.
B. Trata-se de uma escola geográfica que defende a ideia de que o
crescimento da população deve ser controlado pelo Estado.
C. Trata-se de uma corrente da Geografia que considera as
condições naturais como determinantes do desenvolvimento ou não
do espaço geográfico.
D.Trata-se de um princípio da chamada Geografia Marxista que vê
na natureza a causa principal do desenvolvimento econômico do
espaço geográfico.

3. O determinismo geográfico deve ser entendido como a corrente da


Geografia que defende a possibilidade de a ação humana vencer as
determinações do meio natural.
4. A Analogia foi o princípio enunciado por Vidal de la Blache.
5. Determinismo, Trata-se de uma tendência da Geografia que
considera que a sociedade pode vencer as adversidades naturais.
6. O Determinismo geográfico tem suas raízes fincadas no Positivismo,
principalmente em sua fase evolucionista. Essa fase tem como base
fundamental a teoria darwinista da evolução das espécies, na qual o
homem nada mais é que um ser dependente dos processos naturais.
7. O Determinismo não considerava o homem com um produto do
meio, logo não deveria adaptar-se ao meio ambiente para que
pudesse sobreviver.
8. Frederico Ratzel admitiu o determinismo geográfico no
relacionamento do meio com o homem, como se o meio fosse a
causa e o homem a consequência. Para Ratzel, o homem é um
produto do meio em que vive, subordinado, condicionado e
fatalizado pelos imperativos fatores do meio natural.
9. Paul Vidal de La Blache, defensor do princípio de extensão e do
determinismo geográfico, é considerado o Pai da Antropogeografia.
10. A ideologia segundo a qual os povos mais inteligente e os mais
cultos são os das zonas temperadas, enquanto os da zona trópica, em
função do clima quente, são os mais indolentes, resultando disso o
desenvolvimento e o subdesenvolvimento, essa postura é defendida
pelo (a):

123
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

A. Geografia crítica
B. Darwinismo geográfico
C. Determinismo geográfico
D. Possibilismo geográfico
11. Vidal de la Blache é, sem dúvida, a maior expressão da Geografia
francesa, principalmente, em se tratando de Geografia regional.
12. Vidal se interessa muito pelas realidades geográficas extensas:
nações ou grandes zonas geográficas, como o Nilo.
13. A démarche regional vidaliana não pode ser concebida de maneira
estática, uma vez que é dinâmica.
14. Jean Brunhes formulou o princípio da Atividade, no qual assinala que
a paisagem não é estática mas está em constante transformação e
é, portanto, dinâmica.
15. A nova geografia (geografia quantitativista), no pó 45, escamoteia a
realidade vivência pelos países subdesenvolvidos, ao afirmar que a
situação de pobreza de miséria existente é um estágio superável da
adoção de política de planeamento eficaz.
16. A geografia crítica segue os mesmos postulados da geografia
tradicional e d e nova geografia. Essa corrente de pensamento
geográfico surgiu na França em:
A. 1970
B.1980
C. 1960
D. 1990

17. A Geografia é uma ciência do espaço e toda essa dimensão


tecnológica que ora parece ameaçadora, ora libertadora, será a
força motriz da transformação, uso e abandono de espaços, de
países e de parcelas da sociedade.

18. A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem,


enquanto grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é
aquela que ainda não foi mudada pelo esforço humano.
19. A paisagem é um conjunto homogéneo de formas naturais e
artificiais; é formada por frações de ambas, seja quanto ao tamanho,
volume, cor, utilidade, ou por qualquer outro critério.

20. Os factos geográficos devem ser estudado em seu passado para


poder ser compreendido no presente para se ter uma imagem de
seu futuro. Este princípio chama-se de:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão

124
UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

D. Princípio da Actividade

21. Os factos geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados


e estão sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo
é identificar e analisar as relações existentes, refere-se ao:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade

22. Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa; todas as coisas
acontecem de acordo com a Lei ou seja tudo o que você faz, pensa,
sente toda ação e reação desencadeada por esses pensamentos,
atitudes e sentimentos, provocam uma resposta consequente e
subsequente, esta relacionado à:

A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade
23. O estudo de um fenômeno geográfico supõe a preocupação
constante em estabelecer semelhanças e as diferenças dos
fenômenos ocorridos em outras partes do globo. Esta associado ao:
A. Princípio da Analogia
B. Princípio da Causalidade
C. Princípio da Conexão
D. Princípio da Actividade
24. Toda causa tem seu efeito; todo efeito tem sua causa; todas as coisas
acontecem de acordo com a Lei ou seja tudo o que você faz, pensa,
sente toda ação e reação desencadeada por esses pensamentos,
atitudes e sentimentos, provocam uma resposta consequente e
subsequente, foi criado por: A. Eratóstenes no século
B. Alexander Von Humboldt,
C. Tales de Mileto século
D. Anaximandro século
25. O estudo de um fenômeno geográfico supõe a preocupação
constante em estabelecer semelhanças e as diferenças dos
fenômenos ocorridos em outras partes do globo. Este principio
foram defendido por:
A. Karl Ritter e La Blache
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UNISCED CURSO: GEOGRAFIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: Pensamento Geográfico

B. Ritter e Von Humboldt,


C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Todos

26. Os factos geográficos físicos ou humanos nunca aparecem isolados


e estão sempre interligados por elos de relacionamento, o objectivo
é identificar e analisar as relações existentes. Formulado pelo:
A. Karl Ritter e La Blache
B. Ritter e Von Humboldt,
C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Jean Brunhes

27. Os factos geográficos devem ser estudado em seu passado para


poder ser compreendido no presente para se ter uma imagem de
seu futuro. Este princípio foi criado por:
A. Karl Ritter e La Blache
B. Ritter e Von Humboldt,
C. Friedrich Ratzel e La Blache
D. Jean Brunhes

Guião de Correcção
1-V; 2- C; 3-F; 4-V; 5-F; 6-V; 7-F; 8-V; 9-F; 10-C; 11-V; 12-F; 13-V; 14-
V; 15-V; 16-A; 17-V; 18-V;19-F; 20-D; 21-C; 22-B; 23-A; 24-B; 25-A;
26-D; 27-D.

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