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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES


INTERNACIONAIS

2º Ano

Disciplina: OPINIÃO PÚBLICA E COMPORTAMENTO


POLÍTICO
Código: ISCED21-RINCFE003
Total Horas/2o Semestre: 125
Créditos (SNATCA): 5
Número de Temas: 12

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED Curso: Ciência Politica e Relações Internacionais; Disciplina: Opinião Publica e Comportamento Político

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação,
fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de
Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
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ISCED Curso: Ciência Politica e Relações Internacionais; Disciplina: Opinião Publica e Comportamento Político

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos


seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Autor José Francisco Bambo Sumburane – Mestrado em Educação,


Ensino de Histório

Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)

Revisão Científica Dr. Paulo James Fernando Gabinete, Mestrando em Ciência


Política e Estudos Africanos
Revisão Linguística
2016
Ano de Publicação
ISCED – BEIRA
Local de Publicação
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Índice

Visão geral 1
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este modulo .................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 2
Comentários e sugestões ................................................................................................. 4
Ícones de actividade.......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................... 7
Avaliação .......................................................................................................................... 8

TEMA – I: Opinião Pública 11


Unidade Tematica 1.1: Opinião Publica ......................................................................... 11
Introdução ....................................................................................................................... 11
Sumário ........................................................................................................................... 14
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 15

TEMA – II: Comportamento eleitoral 16


Introdução ....................................................................................................................... 16
Unidade Temática 2.1 Comportamento eleitoral ............................................................ 16
Unidade Temática 2.2 A corrente Sociológica de voto .................................................. 17
Unidade Temática 2.3 A Corrente Psicossociológica de voto ........................................ 19
Sumário ........................................................................................................................... 20
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 21

TEMA – III: A Teoria da escolha racional 22


Introdução ....................................................................................................................... 22
Unidade Tematica 3.1: A Teoria da Escolha Racional ................................................... 22
Unidade Tematica 3.2 A escolha racional e o pensamento económico .......................... 26
Sumário ........................................................................................................................... 29
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 29

TEMA – VI: O processo eleitoral e a sociedade 30


Introdução ....................................................................................................................... 30
Unidade Tematica 4.1. O processo eleitoral e a sociedade ............................................. 30
Unidade Tematica 4.2. Modelos de explicação da conduta eleitoral: Racional e
Irracional ......................................................................................................................... 33
Sumário ........................................................................................................................... 37
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 37

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

TEMA – V: Historial das Eleições em Moçambique 39


Introdução ....................................................................................................................... 39
Unidade Tematica 5.1: Historial das Eleições em Moçambique .................................... 39
Sumário ........................................................................................................................... 45
EXERCÍCIOS de auto avaliação .................................................................................... 45

TEMA – VI: Comunicação Politica 46


Introdução ....................................................................................................................... 46
Unidade Tematica 6.1 Definição de Comunicação Politica ........................................... 46
Unidade Tematica 6.2 A Comunicação Política como função de input e sua influência
na opinião pública ........................................................................................................... 47
Unidade Tematica 6.3 A teoria das comunicações ......................................................... 48
Unidade Tematica 6.4 Processos de feedback negativo e de feedback positivo ............ 50
Unidade Tematica 6.5 Os fluxos de comunicação política entre os subsistemas políticos52
Unidade Tematica 6.6 Manipulação da comunicação .................................................... 54
Sumário ........................................................................................................................... 57
Exercícios de auto avaliação ........................................................................................... 57

TEMA – VII: Eleições e Democracia em Moçambique 58


Introdução ....................................................................................................................... 58
Unidade Tematica 6.1 Definição de Comunicação Politica ........................................... 59
Unidade Tematica 6.2 A Comunicação Política como função de input e sua influência
na opinião pública ........................................................................................................... 59
Unidade Tematica 6.3 A teoria das comunicações ......................................................... 61
Unidade Tematica 6.4 Processos de feedback negativo e de feedback positivo ............ 62
Unidade Tematica 6.5 Os fluxos de comunicação política entre os subsistemas políticos65
Unidade Tematica 6.6 Manipulação da comunicação .................................................... 67
Sumário ........................................................................................................................... 70
Exercícios de auto avaliação ........................................................................................... 70

TEMA – VII: Eleições e Democracia em Moçambique 71


Introdução ....................................................................................................................... 71
Unidade Temática 7.1 Eleições e Democracia em Moçambique ................................... 71
Unidade Temática 7.2: Sociedade Civil e Democracia .................................................. 74
Unidade Temática 7.3 Campanha eleitoral, eleições e ausência do eleitorado .............. 76
Sumário ........................................................................................................................... 80
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 80

TEMA – VIII: A teoria da dinâmica da opinião pública de John R. Zaller 82


Introdução ....................................................................................................................... 82
Unidade Temática 8.1. A teoria da dinâmica da opinião pública de John R. Zaller ...... 83
Unidade Temática 8.2. Os factores básicos do Modelo de Zaller .................................. 85
Unidade Temática 8.3. Os Diferentes níveis de exposição à mídia ................................ 87

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Unidade Temática 8.4. As Predisposições políticas e a recepção das mensagens .......... 88


Unidade Temática 8.5. Dois testes iniciais do Modelo de Zaller ................................... 90
Unidade Temática 8.6. Um modelo generalizável .......................................................... 92
Sumário ........................................................................................................................... 94
Exercícios de auto avaliação ........................................................................................... 95

TEMA – IX: Democracia, eleições e mídias: o caso das eleições de 2004 96


Unidade Tematica 9.1: Democracia, eleições e mídias: o caso das eleições de 2004 .... 96
Introdução ....................................................................................................................... 96
Unidade Tematica 9.1. Democracia, eleições e mídia: o caso das eleições de 2004 ...... 96
Sumário ......................................................................................................................... 100
EXERCÍCIOS de auto avaliação .................................................................................. 100

TEMA – X: Abstenções: perspectivas e desafios para a consolidação da democracia 101


Introdução ..................................................................................................................... 101
Unidade Tematica 10.1. Abstenções: perspectivas e desafios para a consolidação da
democracia .................................................................................................................... 101
Sumário ......................................................................................................................... 108
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO............................................................................ 108

TEMA – XI: A imprensa e a Democracia 110


Introdução ..................................................................................................................... 110
Unidade Temática 11.1. Imprensa e democracia .......................................................... 110
Unidade Temática 11.2: Os Meios de comunicação em Moçambique......................... 112
Unidade Temática 11.3: A imprensa e a decisão do Voto nas eleições ........................ 115
Sumário ......................................................................................................................... 117
Exercícios de Auto-Avaliação ...................................................................................... 118

TEMA – XII: A Internet e as Eleições 119


Introdução ..................................................................................................................... 119
Unidade Temática 12.1. Marketing Politico na Internet ............................................... 119
Unidade Temática 12.2: A interactividade ................................................................... 121
Sumário ......................................................................................................................... 121
Exercícios de Auto-Avaliação ...................................................................................... 121
Exercícios Finais ........................................................................................................... 122
Referência Bibliográfica ............................................................................................... 124

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Visão geral
Bem-vindo ao Módulo de Opinião Publica e
Comportamento Politico
Objectivos do Módulo
Ao terminar o estudo deste módulo de Opinião Publica e
Comportamento Politico deverás ser capaz de: Analisar as
principais transformações ocorridas nos dispositivos e
comportamentos eleitorais nos séculos XIX-XX, bem como traçar uma
história intelectual dos estudos eleitorais, no que respeita quer às
consequências políticas dos sistemas eleitorais, quer às mudanças
nos padrões de voto.

 Compreender os principais conceitos que sustentam a


implantação de determinado sistema eleitoral;
 Obter uma visão abrangente dos discursos políticos
fundadores das transformações dos sistemas eleitorais;
Objectivos
Específicos  Adquirir a noção aprofundada da variação histórica dos
comportamentos eleitorais.

Quem deveria estudar este modulo


Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de
licenciatura em Ciência Politica e Relações Internacionais do ISCED.
Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se
actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses
serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas
poderá adquirir o manual.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Como está estruturado este módulo


Este módulo de Opinião Pública e Comportamento Político, para
estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Ciência Politica e
Relações Internacionais, à semelhança dos restantes do ISCED, está
estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo
os aspectos-chaves que você precisa conhecer para melhor
estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por um
sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos e, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros
exercícios teóricos, problemas não resolvidos e actividades práticas
algumas incluído estudo de casos.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique e
cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo
para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do
seu centro de recursos mais materiais de estudos relacionado com o
seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para
além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca,
pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais
ainda as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios
que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do
fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios
de avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Comentários e sugestões
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados
aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico -
Pedagógica, etc deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que
graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas
margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo
O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a
aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados
apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso
é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos
algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante
possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como
se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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Comportamento Política

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo - espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando... estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!?
Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando


interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim
ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas

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Comportamento Política

trocadas ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de


atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, SMS, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante –
CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante,


tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR,
com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada
para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode
apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou
administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficara a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática,
no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades
e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

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Comportamento Política

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es).


Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um
autor, sem o citar considera-se plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,
estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de
avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo


e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da


cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
Cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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Comportamento Política

TEMA – I: Opinião Pública

Unidade Tematica 1.1: Opinião Publica

Introdução
O presente tema pretendemos introduzir sobre “opinião pública” pode ser
identificada com um conjunto de indivíduos de uma comunidade, constitui
uma expressão qualificada da vontade do povo e pode ser vista como
fundamento da democracia liberal, pois não se pode governar, nem
conservar o poder contra a opinião pública.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar o conceito de opinião pública seus


fundamentos de formação e manifestação nos
processos eleitorais;
Objectivos
 Distinguir opinião da opinião pública;
 Descrever o carácter da opinião pública

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

As pessoas, embora dotadas de racionalidade, vivem adoptando


posturas, no meio social em que vivem, baseadas em opiniões
derivadas do senso comum, muito mais do que aquelas embaçadas
teoricamente. A opinião nesse sentido corresponde a um tipo de
acção efectiva que, embora possa ser justificada e conter uma
preposição verdadeira, se trata, na realidade de um sentimento ou
um estado de consciência, bastante subjectivo e carregado de
valor.
Uma opinião contém um juízo que se manifesta numa atitude, ou
seja, uma disposição permanente, mental e física, de reagir de
determinado modo diante de uma situação determinada. A opinião
implica sempre uma atitude, mas para que seja opinião pública,
além de opinião, deve ser pública.
É opinião enquanto manifesta sempre uma atitude, um juízo de
valor, uma avaliação sobre questões políticas, implicando sempre
um processo não necessariamente racional segundo os grupos
sociais que intervêm em sua formulação, promulgação e aceitação,
dependendo, assim, tanto do objecto de que trata a opinião como
do grupo que o sustenta. É pública enquanto se exterioriza,
enquanto se reveste de carácter objectivo, tornando se perceptível
para a observação. Em relação com seu objecto, seu carácter
público provém de sua conexão com o político, com o social, sendo
por essência um fenómeno sociocultural.
A opinião pública, por sua vez, pode ser entendida como a
convergência de opiniões do maior número de pessoas de uma
colectividade, de tal modo que formam um sentimento comum e
dominante e passam a exercer uma pressão difusa. Não se trata,
por tanto, de uma concordância na confirmação dos factos, mas de
um juízo de ordem coercitiva que se manifesta sobre estes factos.
Nas democracia, a opinião pública é a força política em que se
baseia a autoridade e legitimidade de origem e exercício do
poder político, por um lado, por outro, é uma forma de controle
vertical (de baixo para cima) desse pode.
As circunstâncias nas quais a opinião é formada devem ser
determinadas pela sua importância na formação da vontade
popular que é expressa nas urnas. A garantia do funcionamento

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Comportamento Política

do sistema, na verdade, é conferida pelas condições sob as quais


os cidadãos obtêm a informação necessária e são expostos à
pressão dos articuladores da opinião. As eleições são um meio
para um fim determinado, ou seja, a obtenção de um governo
correspondente à opinião pública e perante ela responsável. Nesse
sentido é que não bastam eleições livres, pode não ser o bastante,
porque a opinião deve também ser, em algum sentido básico, livre.

As condições para uma opinião pública auto-suficiente são


proporcionadas por um sistema de centros de influência e
informação, plurais e alternativos pela livre competição entre os
meios de comunicação em massa e entre os líderes de opinião. Ou
seja, uma pluralidade de agentes persuasivos reflecte-se numa
pluralidade de públicos, que é a condição mínima, mas suficiente,
para uma operação no sistema político como todo, de um sistema
em que se pode falar verdadeiramente do poder da opinião
pública.

A opinião pública pode também ser considerada como uma


força política não organizada, que pode actuar como protagonista
da dinâmica política, como os partidos políticos e os grupos de
pressão. Estes, como forças orgânicas, contribuem para o processo
de formação da opinião pública, e actuam também em função
dela, num processo dialéctico.
A opinião pública pode ser considerada um estado de
consciência colectiva sobre questões de interesse público, que se
caracteriza por não se identificar com um grupo humano
determinando, mas formar um conjunto inorgânico e não
institucionalizado.
A opinião pública exterioriza e expressa um consenso
generalizado acerca de questões de interesse geral, não
necessariamente políticas (caso da tragédia de Chitima que vitimou
quase uma centena de pessoas após consumo de álcool de fabrico
caseiro, gerou uma opinião pública sobre as causas da morte). No
entanto, os factos nos quais recai a atenção da opinião pública,
são os de natureza política. A opinião pública surge contra alguma

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

resistência e implica sempre uma opção e uma tomada de posição,


uma atitude de aceitação ou repúdio.

Não se pode dizer que a opinião pública tenha um


carácter racional ou irracional, pois na realidade apresenta
componentes dos dois. Ela se realiza através da actividade
intelectual, mas devido a sua natureza controversa e sujeita a
avaliações, existem em sua formação factores sentimentais e
emocionais. Apresenta um carácter de opinião qualificada, o que a
faz não se identificar com a maioria, mas como o resultado de um
processo que ocorre nas camadas sociais com algum acesso a
informação. A opinião pública apresenta grande mobilidade, varia
enormemente com mudanças na situação e está sujeita a estímulos
externos como educação, propaganda, informação e acção das
forças políticas organizadas.

Os grupos que tem o controle dos meios de comunicação


exercem importante papel de influenciar a opinião pública, pois
através dos mecanismos que controlam, influenciam as forças
políticas e se relacionam com o poder pressionando-o em proveito
próprio. Mas é claro que os seus interesses são particulares, não
são os interesses gerais identificados com a vontade popular.

Os Estado, em defesa dos interesses da comunidade,


intervêm de vários modos para limitar o monopólio dos grupos que
controlam os meios de comunicação, quer através do controle
económico e ideológico bem como através monopólio do Estado
(caso da Rádio Moçambique e Televisão de Moçambique).

Sumário
Nesta Unidade temática são discutidos aspectos ligados a opinião
pública no que diz respeito ao conceito, distinção da opinião e
opinião publica, origem e situação de produção da opinião pública
e, os produtores da opinião pública.

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Comportamento Política

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. Explica quando é que podemos considerar uma opinião como
apenas opinião e como pública.
2. O que é uma opinião pública?
3. Que importância tem a opinião pública nas democracias?
4. O que garante o funcionamento da opinião pública?
5. Apresente as condições para uma opinião pública auto-suficiente.
6. Comente a afirmação: “a opinião pública tem carácter racional e
irracional”.
7. Qual o papel dos grupos que controlam os meios da opinião
pública?
8. Como é que o Estado intervém para evitar o monopólio dos grupos
que controlam os meios de comunicação?

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Comportamento Política

TEMA – II: Comportamento eleitoral


Unidade Tematica 2.1: Comportamento Eleitoral
Unidade Temática 2.2: A corrente Sociológica de voto
Unidade Temática 2.3: A Corrente Psicossociológica de voto

Introdução
Neste item procura-se definir e caracterizar as correntes do
comportamento eleitoral: a corrente sociológica e a
psicossociológica de voto.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar o contexto da origem de estudos sobre o


comportamento político durante os pleitos eleitorais;
 Descrever os elementos que influenciam no comportamento
Objectivos
eleitoral;
 Analisar a correntes de voto quer a sociológica bem como a
psicossociológica e enquadrá-las no contexto nacional;

Unidade Temática 2.1 Comportamento eleitoral


Os primeiros estudos, nos anos 1960, foram dominados
pelas correntes sociológica e psicológica onde a primeira
explicava o resultado de pleitos eleitorais em termos de
alinhamentos de classe social, blocos religiosos, razões étnicas e de
género. A escola sociológica do comportamento eleitoral, se baseia
no holismo metodológico e na influência histórica, portanto, não são
indivíduos e sim colectivos sociais que imprimem dinâmica à
política. A participação política seria fruto das interacções sociais
em determinado contexto. A segunda, a escola psicológica buscam
explicações com base no sistema de personalidade parsoniano
(socialização política) para encontrar as tendências do
comportamento político, pois, para estes, indivíduos semelhantes do
ponto de vista social e de atitudes, tendem a ter comportamentos

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Comportamento Política

políticos semelhantes, a votarem na mesma direcção,


independentemente de contextos históricos.
Para Ruiz (2013), após décadas de sucessivos estudos
sobre comportamento eleitoral, parece óbvia a afirmação de que
são muitos os factores que condicionam o voto. Serão
apresentadas, a seguir, as três grandes teorias clássicas no estudo
do comportamento político -eleitoral (correntes sociológica,
psicossociológica e económica). As teorias sociológicas e
psicossociológicas são reconhecidas por se centrarem em factores
de longo prazo como a classe social, religião, ideologia; enquanto
a última trabalha com factores de curto prazo, itens que podem ser
apontados como conjunturais ou momentâneos tais como avaliação
do desempenho do governo ou do governante incumbente e
avaliação económica.

Unidade Temática 2.2 A corrente Sociológica de voto


A corrente Sociológica coloca como centrais na explicação
do comportamento eleitoral os contextos sociais e políticos e a
interacção social nos quais o indivíduo está inserido, levando em
conta em suas análises factores como: ocupação, região de
residência (urbana ou rural), situação económica e social (classe
trabalhadora, burguesia), religião, sexo, idade, escolaridade,
entre outros. Nessa perspectiva, seria necessário analisar a
natureza das relações, a inserção dos indivíduos em grupos sociais,
bem como o interesse de classe desses grupos.

O modelo sociológico de comportamento eleitoral foi,


inicialmente, apresentado em três trabalhos essenciais: The People’s
Choice (Lazarsfeld, Berelson, & Gaudet, 1944); Voting (Berelson,
Lazarsfeld, & McPhee, 1954) e Personal Influence (Katz &
Lazarsfeld, 1955) desenvolvidos na Universidade de Columbia
(EUA). A pesquisa de painel conduzida por Lazarsfeld et al (1944)
entrevistou sete vezes, ao longo de sete meses, cerca de 600
eleitores que foram então segmentados em três grupos: aqueles

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que decidiram seu voto antes do começo da campanha, aqueles


cuja decisão foi tomada durante as convenções partidárias e os
que tomaram sua decisão já em um estágio avançado das
campanhas. Os resultados sugeriram que o efeito da exposição às
mídias na decisão eleitoral é mínimo; decisivo e significante mesmo
na explicação do voto é o grupo social do qual os eleitores fazem
parte.
Ou, grande parte dos eleitores apresentava uma
predisposição política ou partidária ancorada em sua identidade
social, uma pré-disposição que seria imune aos investimentos e
mensagens das campanhas, por um lado, por outro, a associação
entre o comportamento eleitoral e os grupos sociais aos quais
pertenciam os indivíduos era tão forte que seria possível explicar
as escolhas eleitorais utilizando apenas status socioeconómico,
religião e área de residência. Enquanto algumas características
socioeconómicas, como classe, tornaram-se menos importante ao
longo do tempo, seria impossível compreender as eleições sem
olhar para a região, religião e etnia como importantes
determinantes do comportamento eleitoral.

Diversos estudos entre os anos 1950 e 1960 deram ênfase


à influência que as diferenças sociais exerciam sobre as opções
políticas. Dentre eles a Political Man (LIPSET, 1981) foi um dos mais
influentes, porque explicitou um carácter classista na disputa
eleitoral nas democracias ocidentais. A clivagem social, a diferença
entre ricos e pobres, o status, a renda, o pertencer aos sindicatos
de trabalhadores, a religião, tudo gerava impacto sobre a decisão
sobre aposição política a adoptar. Os trabalhadores, os pobres e
os sindicalizados, entre outros, ficavam ao lado dos partidos
socialistas, trabalhistas economistas, confessionais; a classe média e
alta alinhava-se mais aos partidos liberais e conservadores. A
disputa político partidária tentava enquadrar em moldes
democráticos o embate entre dois pólos que marcavam claramente
suas fronteiras.

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Unidade Temática 2.3 A Corrente Psicossociológica de voto


Esta corrente centra na crença de que o comportamento
eleitoral dos indivíduos é definido pelos valores e motivações
psicológicas que estes carregam consigo. Entender o
comportamento dos eleitores nessa perspectiva psicossociológica é
entender a mente do indivíduo, e nesse sentido, elementos como
socialização, educação, valores adquiridos no âmbito familiar,
entre outros, influenciarão a maneira do indivíduo pensar e,
consequentemente, a sua decisão de voto.

Segundo Veiga (2001), a corrente Psicossociológica assume


que, conforme defende a teoria Sociológica, as características
socioeconómicas influenciam sim o comportamento eleitoral, mas se
propõe a sanar as limitações impostas por essa primeira teoria
(Sociológica), chamando a atenção para a fragilidade dessa
corrente em explicar porque em determinados momentos os
indivíduos acabam por contrariar o que seria esperado deles em
função de seu meio e destacando que a análise puramente externa
tende também a negligenciar o raciocínio desenvolvido pelo
indivíduo em uma tomada de decisão.

Segundo Figueiredo (1988 apud Santos, 2008), Campbell


elaborou uma ideia na qual o voto iria para o partido ou
candidato que melhor estivesse alinhado com valores do eleitor, e
a existência de um pensamento linear por parte dos eleitores
permitiria a possibilidade de se prever a direcção do voto.
Contudo, em estudos realizados na mesma época, Converse
(1964), aponta que seriam poucos aqueles que agem através de
um pensamento linear, com alto grau de adesão política e forte
identificação partidária. A maior parcela do eleitorado seria
composta pelos eleitores com baixo envolvimento político e com
pouco interesse por essas questões.

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Nesse sentido, Figueiredo (1988,apud Santos, 2008)


aponta que a questão que se coloca é a de que se o
comportamento dos indivíduos é função dos sistemas atitudinais
frente ao mundo e se esses sistemas não são coerentemente
estruturados, então não é possível prever nada. Converse (19640,
aponta duas possibilidades para se resolver este dilema: 1º
verificar o grau de centralidade que certas questões ligadas ao
mundo da política têm no dia-a-dia do cidadão, e 2º averiguar o
grau de motivação dos eleitores em relação à política. Ambos os
pontos são colocados por considerar-se que as atitudes dos
cidadãos possuem um grau de elasticidade para a mobilização
política. Assim, os factores e motivações conjunturais, mais do que
os factores estruturais, impactariam no comportamento dos
eleitores em relação às opções políticas.
A corrente psicossociológica propõe uma abordagem
baseada na atitude política dos cidadãos e em sua estruturação
ideológica. A estruturação ideológica é entendido como a relação
que o eleitor faz entre as opiniões sobre diversas questões em
discussão na arena política e a decisão de voto.

Dá-se ênfase à importância das opiniões e atitudes


relativas aos partidos e aos candidatos, como a satisfação maior
ou menor com o desempenho do governo e com a actuação
passada dos candidatos, as opiniões sobre uma série de políticas
concretas propostas pelos partidos ou candidatos, as expectativas
com relação a quem mais tem chance de ganhar, as motivações, o
interesse, o envolvimento político, os graus de informação dos
eleitores.

Sumário
Nesta Unidade temática, discutiu-se aspectos ligados a
comportamento eleitoral e suas correntes ligadas a processos de votação
tais como a corrente Sociológica de voto; corrente psicossociológica de
voto.

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. Localize no tempo, o início de estudos sobre o comportamento
eleitoral e descreve as correntes dominantes.
2. Qual é a base do comportamento eleitoral segundo a teoria
sociológica?
3. Explica por que é que a região, religião e a etnia são
determinantes para compreender o comportamento eleitoral?
4. Que elementos influenciam a decisão sobre a posição política a
adoptar?
5. Identifique os partidos de preferência para os pobres, classe
média, classe alta.
6. Postule a corrente psicossociológica de voto e refira-se aos
elementos que influenciam no voto.
7. Mostre através de exemplos que a corrente sociológica busca um
eleitorado linear e a corrente psicossociológica o eleitorado não é
linear.
8. O que entendes por estrutura ideológica?
9. Apresente os elementos importantes para a decisão do voto
segundo a corrente psicossociológica.

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TEMA – III: A Teoria da escolha racional


Unidade Tematica 3.1: A Teoria da Escolha Racional
Unidade Temática 3.2: A escolha racional e o pensamento
económico

Introdução
Os resultados obtidos durante as eleições são construídos dentro
de um contexto em que o eleitorado se encontra, pois estes tendem
a manter o mesmo partido no poder quando mostra benefícios no
presente e apresenta uma perspectiva futura promissora.
Nesta unidade faz-se uma abordagem sobre a escolha
racional e o comportamento económico. Sobre este recai, segundo
teóricos o comportamento eleitoral durante o período de votação.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a teoria racional do voto enquadrando-a com a


realidade nacional.

Objectivos  Explicar a escolha racional e o pensamento económico


durante os pleitos eleitorais.

Unidade Tematica 3.1: A Teoria da Escolha Racional


Baseada no individualismo metodológico, a perspectiva da
teoria da escolha racional aponta que os indivíduos são racionais e
agem intencionalmente, procurando, antes de tudo, maximizar ou
optimizar seus ganhos. Sendo expoente de uma lógica na qual a
tomada de decisão política decorre do fato de que eleitor é
movido por razões egoístas e vota no partido que ele acredita que
lhe proporcionará mais benefícios do que qualquer outro. É no
âmbito desta terceira Corrente que se encontram os estudos que
buscam associar a percepção do eleitor em relação à economia e
a direcção do seu voto, o chamado voto económico. De acordo com
a Teoria da Escolha Racional, os eleitores buscam reduzir os custos

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(no sentido de esforços) da tomada de decisão político-eleitoral


usando atalhos informacionais, para tomar decisões racionais. No
caso do voto económico, os assuntos e dados referentes à economia
seriam então o atalho escolhido pelo eleitor para decidir seu voto.

A teoria do voto económico defende que um dos factores


que certamente explicam a decisão do voto é a avaliação que os
eleitores fazem do governo actual, e que esta avaliação está
fortemente associada à avaliação que estes mesmos cidadãos
fazem da economia. Essa teoria, em sua descrição mais simples e
seminal por ser aquela que considera que os eleitores agirão
sempre como juízes, independentemente das situações institucionais
ou económicas sob as quais estejam vivendo, fazendo o seguinte
cálculo: se a avaliação do governante é positiva, vota na situação;
sendo negativa, vota na oposição. A ideia básica do voto
económico é a lógica de punição-recompensa, pois quando a
economia vai bem, os eleitores premiam o incumbente com o seu
voto e quando a económica está mal, os eleitores punem o
incumbente conferindo seu voto ao candidato da oposição.

Segundo Fernandes e Fernandes (2012), os factores


económicos podem influenciar o comportamento eleitoral de três
maneiras: 1º uma melhora nas condições económicas aumentam a
possibilidades de voto no partido que é percebido como
responsável pela mudança; 2º um melhor desempenho económico
tende a indicar uma capacidade administrativa do partido no
poder e; 3º uma economia que vai bem tende a afectar
positivamente os votos de eleitores que não se identificam
partidariamente.

Um factor importante a ser averiguado na abordagem do


voto económico é a capacidade do governo influenciar de facto o
desempenho da economia, pois existe uma importante relação
entre percepção económica e a escolha do voto, sobretudo em
sistemas que concentram o poder de decisão política.

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Fair (1978 apud Fernandes e Fernandes, 2012) desenvolveu um


estudo para predizer o resultado das eleições presidenciais nos
EUA, através do qual constatou que a decisão do voto dependia
principalmente dos eventos económicos do último ano. O estudo
aponta que os presidentes dos EUA são reeleitos quando há
crescimento económico.

Embora haja convergência na crença e afirmação de que


factores económicos influem fortemente no resultado eleitoral,
alguns aspectos são alvo de discordância sobre o voto económico.
O primeiro diz respeito à direcção do cálculo feito pelos eleitores:
o voto económico é retrospectivo uma vez que os eleitores pensam
no desempenho económico do actual governo nos últimos anos, ou
prospectivo quando os eleitores olham para o futuro projectando
suas expectativas económicas entre crença na prosperidade ou no
declínio. O eleitorado julga a economia retrospectivamente para
decidir seu voto ou seja, os eleitores usam a lógica de que
precisam mirar o futuro, escolhendo o candidato que irá governá-
lo nos próximos anos, e comparando as performances que espera
dos partidos competidores.

O segundo aspecto de desavença entre pesquisadores do


voto económico é a dimensão e abrangência do cenário económico
que os cidadãos consideram para decidir seu voto: os eleitores
votam pensando em seu próprio bolso ou considerando a situação
económica no país? A teoria do próprio bolso acredita que se a
situação económica pessoal ou da família piorou ou se crêem que
ela estará pior, os eleitores irão punir o incumbente; mas se essa
situação melhorou ou consideram que irá melhorar, irão premiar,
através do voto o actual governante.

O eleitor se comporta como um consumidor, pois age


racionalmente, buscando aumentar benefícios e diminuir custos.
Assim, dado o custo em se buscar informação, o votante delega a
outrem o processo decisório ou se vale de informação subsidiada

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advinda desde o contacto face a face até a transmissão feita por


governos, partidos e grupos de interesse.

O factor ideologia pode ser simplificador do universo


político, facilitando a tomada de decisão, pois o eleitor
(consumidor) trabalharia com a avaliação de desempenho apenas
como segunda categoria, caso julgasse semelhantes as plataformas
de propostas dos concorrentes. Como uma abstracção retirada da
personalidade humana completa, o homem, dadas as incertezas da
vida encara cada situação com um olho nos ganhos a serem
obtidos, o outro, nos custos e um forte desejo de seguir para onde
a racionalidade o oriente.

O homem racional, baseia-se em uma lógica determinada a


partir do seguinte modelo: organiza as alternativas de decisão em
ordem de preferência; o seu ordenamento preferencial é transitivo;
sempre pode decidir por uma das alternativas; entre as
alternativas definidas, escolhe a que prefere mais; em condições
semelhantes, toma sempre a mesma decisão.

Agir racionalmente, portanto, requer o mínimo de


previsibilidade. No caso do comportamento político, os partidos
servem como facilitadores das decisões, uma vez que o eleitor
pode nortear sua preferência a partir das bandeiras defendidas
pelas legendas. Assim, neste pensamento, económico-liberais
tenderiam a ter apoio de empresários e trabalhistas tendem a ser
apoiados por classes mais baixas, ainda que haja excepções. Para
Downs (1957), os partidos são referenciais e muitos eleitores usam
tal referencial por longo tempo: frequentemente são observadas
relações estáveis entre grupos sociais, classes, etnias e outras
identidades sociais e resultados eleitorais.

Baseando-se na estabilidade, Downs (1957), justifica a


contingência ao apostar que, em caso de mudança no perfil das
legendas, o eleitorado se estabiliza na identificação partidária. Se
os partidos jogarem o jogo da ambiguidade, se multiplicarem em

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busca de diferenciações ou, ainda, expandirem suas bases, isso


gera imprevisibilidade e, consequentemente, o eleitorado se
volatiliza. Se o eleitor duvida que a prática política pós-eleições
seja fiel ao compromisso das urnas, isso fará decrescer o valor da
eficiência do voto.

Os teóricos racionalistas apontam como resposta a noção


de racionalidade adaptativa. Na primeira, consideram o
comportamento racional como fronteiriço ao tradicional. Nessa
noção, os indivíduos optam com a suposição de que, pela
experiência, possuem informação completa para a decisão. Na
segunda, o indivíduo é satisfacionista, pois adapta suas
preferências às condições políticas: um desejo racional é aquele
que é ajustado optimamente ao conjunto dos realizáveis. A
relativização incorpora a contingência e a instabilidade ao
pensamento económico. Elster (1986) encontra falhas na teoria da
escolha racional, quando as opções de decisão são igualmente
óptimas. Primeiro, sendo normativa, ela não indica o que é racional
decidir. Segundo, sendo explicativa, ela não garante a
previsibilidade do comportamento.

Unidade Tematica 3.2 A escolha racional e o


pensamento económico
A teoria económica do comportamento político se altera, o
pensamento económico sofre mudanças a partir dos anos 1980,
com uma maior busca pela interdisciplinaridade. Apesar de ambas
as áreas apontarem para uma abordagem interdisciplinar, a
investigação do comportamento político e a investigação do
comportamento económico parecem ter seguido caminhos inversos
em linha temporal, que levaram a um fim semelhante. Conforme
Baquero, nos estudos do comportamento político, as linhas psico e
sociológicas são mais fortes entre os anos 1950 e 1970. No
pensamento económico, para Steiner, a incorporação de factores

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sociais foi inserida a partir da perspectiva da Nova Sociologia e


económica. Antes, o pensamento económico neoclássico, mesmo
diante das contingências e incertezas, valia-se de modelos teóricos
simplificadores, amparados pelo equilíbrio e pela estabilidade.
Conforme Bourdieu, a ciência que se chama economia repousa sob
uma abstracção originária, que consiste em dissociar uma
categoria particular de práticas, ou uma dimensão particular de
toda prática, da ordem social na qual toda prática humana está
imersa.

A ciência económica nasce no século XVIII, com a


emergência do mercado de trocas. Três são os principais teóricos
do pensamento económico neoclássico, que predispunham a noção
de economia como esfera autónoma: Adam Smith, John Stuart Mill
e Léon Walras. Stuart Mill atesta que ohomo economicus tem
predisposição utilitarista e egoísta, revelada na pressuposição de
que o homem é um ser que é determinado, pela necessidade de
sua natureza, a preferir uma maior porção de riqueza ao invés de
uma menor, em todos os casos. Smith, relaciona os benefícios do
individualismo à medida que o indivíduo busca seus interesses,
contribui para a realização do interesse geral dos demais
indivíduos.

Leon Walras é o autor da teoria do equilíbrio geral,


formada pela curva da demanda e da oferta em diversos
mercados, influenciando na definição do preço. Pela teoria, em
síntese, uma oscilação de preço em determinado mercado
influenciaria mudanças na oferta e na demanda nos demais
mercados a ele associados; desta alteração no comportamento,
seguem-se novas alterações dos preços até o momento em que,
simultaneamente, em todos os mercados, um novo equilíbrio é
encontrado, ou seja, a preços correntes, nenhuma transacção é
mutuamente vantajosa para os dois agentes.

Para Steiner, a teoria da escolha racional tem mudanças


significativas a partir de Lionel Robbins, que aponta a falta de

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tempo para a tomada de decisão como factor potencial de


aplicação da teoria económica, a partir do custo oportunidade da
acção. Ou seja, diante de uma situação em que precisa decidir
rapidamente, o indivíduo age objectiva e racionalmente. Se a
maior parte dos indivíduos, da mesma forma, tem pouco tempo
para agir, fá-lo-ão da mesma forma. Ainda assim, Steiner atesta
que a teoria económica é importante para aplicação em modelos
simples: Que o resultado obtido mantenha uma relação delicada e
controversa com a explicação dos comportamentos empíricos
oferecida por outras abordagens é uma coisa, que não autoriza
que se rejeite ou trate com indiferença a teoria económica, desde
que ela não cometa o erro de tomar seus modelos pela realidade.

Ao contrário de Steiner, por ser hipotética e limitada,


Monsma (2000), aponta que a escolha racional tende a ofuscar as
diferenças entre escolhas racionais (uso do raciocínio para decidir
entre alternativas) e a acção racional (acção eficaz, que leva a
resultados desejados) ” Ou seja, acções não necessariamente
racionais podem ter consequência desejada e acabam parecendo
racionais, se levarmos em conta o resultado. Entre a limitação que
coloca, Monsma (2000) lembra que o conceito de habitus de
Bourdieu possibilita a improvisação de práticas eficazes em uma
infinidade de situações específicas e o ajustamento constante do
comportamento na interacção com os outros, sem escolhas
deliberadas, que muitas vezes só complicariam a realização de
resultados apreciados.

Na teoria sócio trópica a crença é a de que se os eleitores


acham que a economia do país cresceu ou irá melhorar nos
próximos anos, votarão na continuidade, mas se a economia
nacional está pior ou o cenário é de declínio económico, os
cidadãos irão punir o incumbente dando seu voto para o candidato
da oposição que apresenta propostas de recuperação económica
viáveis para a situação actual.

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Comportamento Política

Sumário
Nesta Unidade temática são discutidos aspectos ligados a uma
apreciação sobre a teoria da Escolha Racional e a escolha racional
ligada ao pensamento económico na decisão do voto.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. Explica por que é que o eleitor racional é movido por razões
egoístas na decisão do voto.
2. Como se explica a decisão do voto do eleitorado.
3. Qual é a lógica da votação? Justifica a tua resposta.
4. Apresente as formas nas quais os factores económicos podem
influenciar o comportamento eleitoral.
5. Comente a afirmação: “a reeleição em muitos países é
condicionada pelos factores económicos”.
6. Refira-se aos aspectos alvos de discordância no voto económico.
7. Comente a afirmação: “um eleitor comporta-se como um
consumidor”
8. Caracterize um eleitor racional durante os pleitos eleitorais.
9. Em que circunstâncias o eleitorado torna-se volátil?
10. Identifique os teóricos do pensamento económico e as respectivas
ideias.
11. Enuncie a teoria sócio trópica.

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Comportamento Política

TEMA – VI: O processo eleitoral e a sociedade


Unidade Tematica 4.1: O processo eleitoral e a sociedade
Unidade Temática 4.2: Modelos de explicação da conduta
eleitoral: Racional e irracional

Introdução
Esta lição aborda sobre processo eleitoral e a sociedade,
um tema que se reveste de grande importância no comportamento
político na medida em que trata de dois pólos que unem-se para
proceder-se a realização das eleições.

O voto é um acto de participação política mais frequente, e muitas


vezes o único da maioria dos cidadãos para eleger os
governantes, mas este, por uns é feito de forma racional e por
outros irracionalmente. O processo eleitoral é antecedido por uma
fase de manipulações (jogo) impostas-às.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a teoria racional do voto


enquadrando-a com a realidade
Objectivos nacional.

 Explicar a escolha racional e o


pensamento económico durante os pleitos
eleitorais.

Unidade Tematica 4.1. O processo eleitoral e a sociedade


O processo eleitoral, num sentido mais amplo, diz respeito
às fases organizativas das eleições, compreendendo também um
breve período posterior. Eleição é todo processo pelo qual, um
grupo designa um ou mais de um dos seus integrantes para ocupar
um cargo por meio de votação. O sistema político, á medida que
se vai estruturando, adquire a sua lógica interna e transforma-se
em instrumento de regulação e de reprodução sociais.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

A política pode ser entendida como um espectáculo, como


um fórum comunicativo ou como um mercado, pois o seu decurso
não reflecte fielmente as contradições e interrogações da
sociedade civil, ao construir e ocultar algumas realidades da vida
social, transpõe ou reescreve os conflitos, propõe valores
separados do quotidiano e reenvia-os para referentes que lhes
são próprios, isto é, o discurso eleitoral nunca é realista, inscreve-se
no imaginário.

A espectacularidade da política da política explora a vida


da sedução nomeadamente o entretenimento e o encantamento
capazes de produzirem processos de identificação com o líder e
adesão partidária. Assim, podemos considerar a política como um
jogo onde o motor do mesmo jogo é o prazer em o jogador se
manter no jogo e em aniquilar o outro com que compete para a
conquista do poder. Mentir faz parte do jogo e quem se recusa a
mentir será eliminado da acção. A ideologia, no jogo político, é
manipulação e dissimulação. O jogo consiste em agir sobre o
imaginário dos indiferentes, tenta-los seduzir ou desvia-los.

As pessoas dentro da política não agem movidas pela


ambição ou por insatisfações, mas por impulsos inconscientes, pelos
seus desejos e fantasmas e pela força das contradições em que se
encontram. Por isso, a política é uma realidade móvel e precária
porque a política é um campo de desejos, de sentimentos e
afectividade de emoções e paixões, por um lado, por outro, não
podemos esquecer que as revoluções começam com a festa e
acabam com as cerimónias onde a festa oferece algo de
espontâneo e a cerimónia é típica de regimes consolidados.

O espaço político contemporâneo aparece atravessado por


uma crise da capacidade de valoração e de julgamento, enquanto
deficiência da prática democrática devido a perda de sentido e
uma perda de liberdade como um fenómeno patológico do seu
desenvolvimento. Assim, o espaço político se transforma num fórum
comunicacional.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Os novos conflitos nascem da resistência às tentativas de


colonização do mundo vivido, nos pontos de junção entre sistemas e
mundo vivido. As formas de pretexto são a recusa da colonização
do mundo vivido geradas pela conduta social e política.

A actividade racional é própria de pessoas responsáveis.


Acção social opera-se no interior de um campo formado pelas
imagens do mundo. O agir dramaturgo, o agir comunicacional
envolve ao menos dois sujeitos capazes de falar e de agir numa
interacção que empenha uma relação interpessoal. Assim, a teoria
da actividade comunicacional coloca no centro de interesse a
intercompreensão falante enquanto mecanismo de orientação da
acção. Por isso, quanto maior é a medida de racionalidade
comunicacional, mais larga é, no interior de uma comunidade de
comunicação, a margem de jogo que permite a coordenação não
violenta das acções e a conciliação dos conflitos por consenso.

A teoria da comunicação serve deste modo como teoria


sociológica da acção. Mais do que a teatralização, revela-se o
contexto que confere aos actores sociais o sentido das suas
próprias acções. A conduta política assim, como a social, pode ser
entendida como reacção à colonização do mundo vivido. Algo é
como legítimo na base do suposto que possa ser reconhecido pelos
indivíduos interessados na sua acção, ou na sua aplicação no termo
de uma discussão onde todos livre e equitativamente poderem
fazer valer o seu ponto de vista. O mundo vivido é interpretado
através de um conjunto de modelos transmitidos pela cultura e
organizados pela linguagem. As estruturas do mundo vivido fixam
as formas de intersubjectividade e de intercompreensão. Tais
estruturas simbólicas, enquanto imagens do mundo, estão na base
da explicação da conduta.

As funções principais da eleição consistem em designar os


governantes, na verificação das tendências políticas existentes, e
em retirar ou em conferir legitimidade dos poderes públicos.

Os partidos políticos constituem-se em organizações que


buscam o máximo de sufrágios, dado que a sua representação

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depende da capitalização de votos. Coma introdução do


parlamentarismo na vida política, formam-se mercados políticos
que apelam á técnica de marketing.

Segundo Mosca, quando se diz que os eleitores escolhem o


seu deputado usa-se uma linguagem muito imprópria; a verdade é
que o deputado se faz escolher pelos eleitores. A verdade é que o
deputado designado pela direcção do partido necessita apenas
de se tornar depois credível perante a sociedade. A sua imagem é
fabricada de acordo com a sensibilidade que revela ter a
população.

Unidade Tematica 4.2. Modelos de


explicação da conduta eleitoral: Racional e
Irracional
Existe dois esquemas de explicação da conduta eleitoral: o
modelo da racionalidade e o modelo da irracionalidade. Os votos,
segundo tais modelos, obedecem ou á lógica racional do mercado
político, ou á lógica das condutas estabelecidas e arreigadas.

De acordo com o modelo da racionalidade, as pessoas ao


votarem, escolhem os candidatos que se mostrem capazes de
defenderem os seus interesses. Na base desta teoria, encontra-se
uma dupla suposição; todos agem racionalmente nas suas opções,
e que lhes são oferecidas diversas alternativas políticas.

Na conduta racional, haverá uma estratégia pessoal.


Pressupõe-se que os partidos são claros na apresentação dos seus
objectivos, que defendem opções em contraste e que os eleitores
têm perfeita consciência do que convém nos diversos domínios da
vida humana. Porque possuem conhecimentos do sistema política,
em que cada partido define os interesses a que quer dar
prioritariamente resposta, e conhece bem os seus interesses
económicos, sociais e culturais, agem em consequência de forma
racional. O indivíduo racional distingue e hierarquiza as

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alternativas de acção e elege sempre a mais útil para si. A


racionalidade é referida aos processos de acção e aos meios, não
aos objectivos nem ao êxito obtido. Trata-se de racionalidade
política, não psicológica. Esta racionalidade significa
essencialmente eficácia. Deste modo, “ um partido que faz
continuamente promessas falsas pode ganhar votos, se convencer
os votantes com as suas mentiras. O racional para este partido é
levar os votantes a comportar-se irracionalmente.

Estudos da racionalidade política do ponto de vista


económico abordam a actividade política a partir do
comportamento racional. Ao princípio da racionalidade, junta
ainda o “axioma do egoísmo”. A conduta racional é orientada por
finalidades egoístas. De harmonia com esta óptica, os cidadãos
actuam racionalmente em política, isto é, cada cidadão vota no
partido que, em seu entender lhe proporcionará maiores
benefícios.

O importante é que não ganhe o partido tido como pior.


Parte do suposto que os votantes dispõem de uma total
informação. Segundo o modelo da racionalidade, os cidadãos
agem de forma consciente na procura da sua maior utilidade. O
processo eleitoral actua como um mecanismo de regulação
democrática, permitindo a correcção de políticas, a substituição de
governantes e o controle contínuo do poder. De acordo com esta
orientação racional e consciente, os factores explicativos do voto
são procuradas na exploração de algumas variáveis com as quais
se relacionam as preferências.

No modelo da irracionalidade, pretende-se apresentar


uma resposta alternativa, ora fornecer uma explicação
complementar à dada pelo modelo da racionalidade. Os autores
que recorrem a tal esquema analítica consideram a campanha
eleitoral em termos de ritualização capaz de despertar
inconsciente colectivo e promover o contágio da sensibilidade. O
empenhamento político não se explica unicamente, nem pela visão
clara e lúcida das realidades, pelo conhecimento que se tem delas,

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pela lenta e sábia reflexão que se pode delas fazer, mas pelas
pulsões profundas, indiscerníveis, e muito frequentemente
irracionais, do nosso temperamento. As pessoas votam mais por
reflexo do que por reflexão, por fidelidade a uma vulgata a que
continuam a aderir mesmo que não acreditem mais nela. Tudo se
passa como se os eleitores, mobilizados pela acção mágica,
nomeadamente dos comícios, pusessem em acção, seus desejos mais
profundos que nem sequer controlam e se comportassem no acto do
sufrágio sem atenderem a princípios racionais.

A explicação apresenta-se de forma bastante simples. Se


no primeiro caso, a campanha eleitoral, pela informação que
fornece, prepara a melhor escolha racional, aqui, através da
magia que desencadeia, desperta a paixão do eleitorado.
Aliando ao encanto do poder às aspirações da sociedade, os ritos
da campanha e acto de eleição orientam os cidadãos na sua
opção partidária.

A propaganda não é mais do que uma busca de sufrágio,


operada mediante a proclamação da igualdade democrática,
ideologia que pretende esquecer as clivagens sociais, que estão na
origem e nos fundamentos do poder, no interior da sociedade
global.

A cena eleitoral apresenta-se como uma transgressão


ritualizada da ordem e, como toda a festa, é dominada pela
lógica do excesso, excesso da palavra e da promessa. O que a
vida normal em sociedade não permite consente-o a propaganda
eleitoral. A demagogia do discurso eleitoral produz a sedução e
desenvolve a identificação. O processo democrático tem sido
considerado por alguns autores como a forma de manter o
equilíbrio entre a oferta e a procura dos produtos políticos.

Os problemas de uma cidade assemelham-se em muitos


aspectos, aos de uma empresa industrial. Segundo esta óptica, um
partido é um grupo cujos membros se propõem agir de acordo na
luta concorrencial pelo poder político. A democracia é concebida
como uma luta concorrencial, com um mercado político nacional que

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pouco a pouco destrói os mercados regionais, entendida, desde


então, como um método de designação dos governantes.

Os partidos políticos, concorrentes na cena eleitoral,


oferecem produtos alternativos que os cidadãos se limitam a
escolher. Os eleitores agem racionalmente e conservam a
possibilidade de substituir os titulares dos órgãos do Estado. A
democracia passa a regular-se por um mecanismo idêntico ao do
mercado, em que os eleitores são reduzidos ao papel de simples
consumidores.

Cada partido elabora o seu programa e desenvolve a sua


actividade em ordem á maximização do número de votos,
modelando-se segundo o seu eleitorado real ou potencial. O voto
é considerado como uma disposição e uma transacção
historicamente constituídas nos mercados políticos. Os candidatos
apresentam mais interesses do que ideias apresentados em
concorrência nos mercados censitários.

O sufrágio universal, ao alargar o número dos potenciais


consumidores, levanta problemas novos aos políticos. A afirmação
dos direitos políticos não é acompanhada, de facto das práticas
correspondentes. Foi necessário habituar ao voto camadas
sucessivas da população. Apenas em meados deste século, o
direito ao voto é concedido às mulheres, mas somente algumas
décadas depois elas fazerem uso dele em percentagens idênticas
às dos homens. O mesmo já tinha acontecido com a sua extensão a
todos os indivíduos adultos, fenómeno que viria a suceder também,
mais recentemente, quando ele é estendido á juventude a partir
dos 18 anos. Sem uma adequada habitação, verifica-se um
abstencionismo ou uma prática política

Os partidos devem à semelhança de empresas oferecer um


conjunto diversificado de produtos, de forma a possibilitar uma
escolha livre. Segundo Bourdieu, “o que faz com que a politica ser
descrita na lógica da oferta e da procura é a desigual distribuição
dos instrumentos da produção de uma representação do mundo
social explicitamente formulado; o campo político é o lugar que se

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geram, na concorrência entre os agentes que nele acham-se


envolvidos, produtos políticos, problemas, programas análises,
comentários acontecimentos entre os quais os cidadãos comuns,
reproduzidos aos estatutos de consumidores devem escolher, com
probidade de mal entendidos tanto maior quanto mais afastados
estão do lugar de produção”.

Os políticos são forçados, num primeiro momento a


converter as capitais pessoais em capitais políticos. Isso ocorre
nomeadamente com a constituição das facções, que antecedem o
aparecimento dos partidos políticos. A conduta política varia em
função da diferente inserção no mundo social; o voto expressa-se
de acordo com a posição social, a idade, o sexo e outras variáveis.
Da correspondência e do jogo destes dois campos, (mundo Social e
mundo politico) resultam as posições e as manifestações concretas
do voto.

Sumário
Finda a unidade, discutimos fundamentalmente sobre processo
eleitoral e sociedade abordando aspecto como a irrealidade do
discurso eleitoral, a política como um jogo e as características de
eleitores racionais e irracionais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. A política reflecte as interrogações da sociedade civil?

2. O que é eleição?

3. O que é conduta política e social?

4. Quais os elementos que explicam a conduta política?

5. Comente: “o discurso eleitoral não é nunca realista, inscreve-se no


imaginário”.

6. A política é um jogo. Que aspectos a política como um jogo


explora e qual a finalidade desse jogo na política.

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7. Como agem as pessoas na política.

8. Comente: “A política é uma realidade móvel e precária”.

9. Enuncie a teoria sociológica de comunicação.

10. Mencione as funções das eleições.

11. Apresente os elementos que caracterizam a conduta de um eleitor


racional.

12. Apresente os elementos que caracterizam a conduta de um eleitor


irracional.

13. Por que é que a política é descrita na lógica de oferta e da procura?

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TEMA – V: Historial das Eleições em Moçambique

Introdução
O texto faz um olhar sobre o observatório eleitoral durante
os pleitos eleitorais realizados em Moçambique. Falar das eleições
gerais em Moçambique é o mesmo que falar dos processos
democráticos, onde uma das formas de expressar esse poder é
através das eleições.

Em Moçambique o modelo de democracia implantado é do tipo


ocidental, por isso mesmo são chamadas de democracia de
terceira vaga ou democracias emergentes em que o ocidente
impõe as formas de governação.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Caracterizar o processo eleitoral


em Moçambique.
Objectivos  Descrever o papel do observatório
eleitoral durante as eleições em
Moçambique.

Unidade Tematica 5.1: Historial das Eleições


em Moçambique
As eleições como um poder democrático em Moçambique
tiveram inicio com a constituição de 1990, e concretizado com a
realização das primeiras eleições gerais e multipartidárias em
1994, foi neste momento que se assumiu no cenário político
nacional a importância das instituições democráticas como
reguladoras das expressões de liberdade e igualdade de cada
cidadão assim como de práticas democráticas reais.

Para um país que acabava de adoptar o multipartidarismo


deixando para traz o mono partidarismo, as eleições ofereceram
em princípio uma variedade de valores e escolha para os cidadãos

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ao apontarem o caminho que queriam na governação do país e


isto foi acompanhado de eleições gerais, livres secretas tendo como
elemento chave a questão secreta para o processo democrático.
Assim, a sociedade Moçambicana com um sistema representativo,
as eleições foram um elemento essencial, que organizou de forma
democrática, a legitimidade e a tomada de exercício democrático,
tratou-se de uma legitimidade combinada da conquista do poder e
do exercício do poder cabendo a sociedade, aos cidadãos, validar
a governação, o funcionamento das suas instituições.

Desta forma o processo eleitoral constituiu uma base legal e


legitima para assumir o poder e permitiu o eleitor acompanhar o
seu exercício onde a própria legitimação do poder tornou-se um
processo que era assumido por delegações dos cidadãos, sujeitos
eleitores. O sistema representativo implicava certa participação
dos cidadãos na gestão da coisa pública que se exerceu sob a
forma e na medida da eleição.

A eleição está incorporada num conjunto de regras, de


procedimentos, de práticas com a sua coerência e a sua lógica
interna que se denomina sistema eleitoral, em que vêm dos
procedimentos que perfazem o sistema eleitoral é a lei eleitoral
que é um instrumento que estrutura e explica o âmbito de cada um.
Assim dentre vários momentos esperado na eleição destaca-se:
Recenseamento ou a actualização eleitoral; a apresentação,
verificação e publicação de candidaturas; a campanha eleitoral; o
sufrágio ou acto de votação e; o apuramento dos resultados
eleitorais, validação e publicação;

Olhando para a evolução do processo eleitoral


Moçambicano, o acordo geral de paz entre o governo e a Renamo
em 4 de Outubro de 1992 pôs fim a guerra dos 16 anos, e deu
abertura as primeiras eleições gerais e multipartidárias apesar de
que com a nova constituição de 30 de Novembro de 1990 tenha
consubstanciado progressos assinaláveis em relação aos direitos
dos cidadãos cujo aprofundamento vem sendo expresso nos artigos
30, 31 e 32 que postulam o sufrágio universal, o pluralismo

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politico, e a liberdade de associação em que o acordo geral de


paz através do protocolo III do princípios da lei eleitoral tem o
mérito de ter trazido um novo ordenamento jurídico eleitoral
Moçambicano que de acordo com o jornalista Tomás Vieira Mário
citado no artigo, o consenso do protocolo III, o exercício da
harmonização das posições do governo e da Renamo foi um dos
mais delicados e complexos do processo pelo seu papel decisivo
na regulação jurídica das primeira eleições gerais e
pluripartidárias.

Em relação a evolução da legislação eleitoral, a lei


eleitoral foi adoptada para valer por um tempo e eleições
determinadas, ou seja foi feita para regular as eleições legislativas
e presidenciais de 1994,tratava-se de uma lei prazo como
conforme a vontade expressa no art.ᵒ 1 da mesma lei. A evolução
da legislação eleitoral teve de atender ao carácter específico do
contexto político que rodeou o acordo geral de paz cujas marcas
tenderão a manter-se presentes por tempo considerável.

Enquanto o governo quer que o terceiro protocolo contenha


apenas princípios gerais para deixar ao parlamento a elaboração
da nova lei eleitoral, a Renamo quer que o protocolo em discussão
especifique, com todos os pormenores todos os aspectos do sistema
eleitoral e enquanto para o presidente Renamo há uma
necessidade de se usar negociações para conseguir estabelecer a
democracia através de eleições genuínas e democráticas a Frelimo
estaria a negociar em defesa do seu poder desta forma o artigo
denota que a lei deveria ser elaborada pelo governo com a
Renamo e com os outros partidos.

Com a lei nᵒ3 ⁄99,de 2 de Fevereiro de 1999, há um


carácter duradouro permitindo uma estabilidade política e
institucional maior embora na sua essência não signifique uma
ruptura com a lei anterior. Nesta lei já estão ultrapassadas e
dissipadas as principais preocupações que dominaram as
negociações de Roma neste caso o fim da guerra e incerteza da
implantação das instituições democráticas no pais e já se pode

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considerar que a lei de 93 já é uma fonte preciosa e primaria


para futuras iniciativas no âmbito do direito eleitoral moçambicano.

A lei de 7⁄04 de 17 de Junho de 2004 apresenta


semelhanças temporais com a lei eleitoral nᵒ3⁄99 ou seja apresenta
um quadro jurídico similar se distingue da última na medida em que
propõe mecanismos para a consolidação da democracia no país.

Um elemento essencial na evolução da lei eleitoral diz


respeito a estrutura, cada lei em a sua estrutura e fazendo um
olhar comparativo as três leis tem aspectos comuns que distintivos.
Em relação as eleições e as práticas de democracia interna o
artigo mostra que um dos momentos ais interessantes olhando numa
perspectiva comparativa das eleições multipartidárias foi no
momento da escolha e o registo de candidaturas para a
assembleia da República bem mesmo para o cargo presidente da
república no seio dos partidos políticos, pois a escolha não tem sido
transparente por isso mesmo não contribui para o aprofundamento
da democracia inter e interpartidária, uma vez que varias vezes
são os órgãos centrais dos partidos políticos que procedem a
nomeação nacional de candidatos e alguns partidos consideram
que esse mecanismo desqualifica candidatos legitimamente
escolhidos nos círculos eleitorais respectivos.

A não transparência das candidaturas das eleições dos


partidos políticos em Moçambique para os mais altos órgãos do
poder político faz com que as bases sociais se tornem ineficazes no
papel alimentar as suas lideranças.

As relações para as candidaturas no seio dos partidos


políticos 2004, foram um novo marco politico diferentemente do
processo das candidaturas para as eleições de 1994 e 1999, pois
o processo reconheceu algumas reformas embora ainda com alguns
defeitos pois se por um lado nota-se o crescimento na democracia
interna, por outro lado a formula de democratização interna dos
partidos adoptado tende a ser um factor gerador de tensões entre
os militantes nas bases e nas figuras das estruturas centrais onde
podemos encontrar as seguintes tensões a ausência de um espaço

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regular para a critica interna e para o debate dos partidos


políticos, a discussão sobre a problemática das nomeações centrais
de candidatos levanta outra questão da eleição de candidatos
agrupados em listas de partidos ou coligação de partido e a
ultima questão relaciona-se com o clientelismo politico existente no
seio dos partidos políticos.

Em relação a autoridade de gestão eleitoral, considera-se


mostra que uma das vantagens do sistema de gestão de
Moçambique foi o facto de bipolarizo político assumido pelas duas
principais forças na constituição e no funcionamento dos órgãos
eleitorais ter contribuído para amenizar o ambiente de
desconfiança e ter servido de garantia de um certo grau de
competição política dentro de limites não destrutivos do processo
de reconciliação social.

Olhando para os termos eleitorais acordados em Roma é


uma gritante contradição com os requisitos então alçados segundo
os quais a comissão eleitoral nacional será composta por pessoas
que ofereçam garantia de equilíbrio, objectividade e
independência. A pretensão dos políticos em se fazer representar
nos órgãos eleitorais não para um simples exercício técnico visa um
envolvimento directo e com força de decisão nos moldes de Roma
com elementos imbuídos de poderes e capacidade de desenvolver
uma autêntica actividade messiânica de conciliar interesses políticos
partidários o disposto nas regras de direcção e administração
eleitoral.

Na oposição ou complementaridade mostra se que do


principio no estado democrático em construção no país, um dos
mais audaciosos desafios com que se debateram as organizações
da sociedade civil foi a necessidade de garantia de um pacto
social e inclusão assente na cidadania, uma das características da
democracia pré que o papel do estado e da sociedade civil em
algumas situações convergem ou se confundem. Ou seja nem
sempre o estado se apresenta com exclusividade de intervenção na

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regulação da vida pública embora seja essa a sua função


primordial.

A sociedade civil tem um papel educativo onde tem como


base de coexistência a inclusão social com propensão de exclusão
com virtude de se equacionar que ao intervir no campo político a
sociedade civil só pode aspirar a criar o ganhar o poder.

O observatório eleitoral pretende ser um contributo de


algumas organizações da sociedade civil moçambicana na
observação eleitoral, fundamentalmente na aceitação e
credibilidade dos resultados eleitorais quando se mostrem
transparentes. Este envolvimento tem um conjunto de princípios
normas e regras jurídicas contidos nos seguintes documentos lei nᵒ7
⁄2004 de 17 de Junho; regulamento de observação do processo
eleitoral nas eleições gerais de 2004; princípios e linha gerais da
SADC que regem eleições democráticas. Estes instrumentos
priorizam que a observação, e monitorização eleitoral tornou-se
parte integrante dos processos democráticos e eleitorais em África.

Em Moçambique a lei nᵒ 7⁄2004 de 17 de Junho apresentou


como sendo a sede central de toda a regulação jurídica das
eleições, no seu artigo 9, estabeleceu o quadro jurídico para as
eleições presidenciais e legislativas, fixando que os actos
referentes ao sufrágio eleitoral podem ser objecto de observação
por entidades nacionais ou internacionais nos termos a
regulamentar pela comissão nacional de eleições. Assim o processo
de criação do observatório eleitoral revelou-se um desafio para a
sociedade civil porque resultou da comunhão de interesses e
propósitos entre organizações que nunca antes haviam interagido
no âmbito de uma intervenção sistemática e de longo prazo para
alcançar resultados concretos de impacto da vida política nacional,
e que apesar de o governo demonstrar abertura a participação
da sociedade civil nos processos nacionais de democratização e
desenvolvimento o que não esta claro pré o conjunto dos
mecanismos para essa participação.

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Olhando para os pressupostos acima supra citados, as


eleições gerais em Moçambique são invenções pensadas
internamente, mas sim uma politica ocidental implantada pelo nosso
país com o objectivo de garantir que os moçambicanos participem
na vida política onde as eleições são uma forma de se exercer a
democracia o que antes dos anos 1992 não acontecia.

Desta forma apesar da implantação da democracia


multipartidária em detrimento do mono partidarismo nem todos os
problemas foram solucionados pois votar não é o elemento
primordial para o exercício pleno da cidadania, mas sim é
necessário que haja uma relação entre os cidadãos, instituições
sociais e estado neste caso deve caber a sociedade legitimar a
conquista e a tomada de poder.

Sumário
Na presente unidade, discutimos fundamentalmente a sobre
Historial das eleições em Moçambique, a lei eleitoral e o papel do
observatório eleitoral durante as eleições.

EXERCÍCIOS de auto avaliação


1. Apresente os valores que foram introduzidos pelas eleições.

2. Refira-se aos momentos esperados na eleição.

3. Qual é o carácter da lei eleitoral?

4. Descreve a evolução da lei eleitoral;

5. Qual é o papel da sociedade civil nas eleições.

6. Refira-se ao contexto e finalidade da criação do observatório


eleitoral;

7. Explica por que é que a criação do observatório eleitoral se


constitui como um desafio da sociedade civil.

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TEMA – VI: Comunicação Politica


Unidade Tematica 6.1: definição de Comunicação Politica
Unidade Temática 6.2: A Comunicação Política como função de
input e sua influência na opinião pública
6.3 A teoria das comunicações
6.4 Processos de feedback negativo e de feedback positivo
6.5 Os fluxos de comunicação política entre os subsistemas
políticos
6.6 Manipulação da comunicação

Introdução
Nesta unidade aborda sobre a Comunicação Politica, que é a
relação entre a política e a comunicação. A mídia exerce um papel
fundamental, tanto em épocas de campanha política ou outros
eventos que tenham objectivos de alcançar uma dimensão maior
em seus propósitos de convencimento do público.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir comunicação Politica


 Teorizar as comunicações;

Objectivos  Descrever a manipulação da


comunicação.

Unidade Tematica 6.1 Definição de


Comunicação Politica
A Comunicação política pode ser definida como o conjunto das
mensagens que circulam dentro de um sistema político,
condicionando-lhe toda a atividade, desde a formação das
demandas e dos processos de conversão às próprias respostas do
sistema.
Metaforicamente, pode-se conceber a Comunicação política como
o "sistema nervoso" de toda a unidade política. São três as
orientações principais relativas a esta matéria.

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A primeira, elaborada pela escola estrutural-funcionalista, é a que


ti ata a comunicação como um aspecto importante, mas não
essencial para a compreensão dos processos políticos.
A segunda é a dos autores que aplicam modelos cibernéticos ao
estudo da política e que fazem, por isso, da comunicação a
unidade de análise decisiva das suas teorias.
A terceira, enfim, que está ligada, por um lado, às pesquisas de
sociolinguística e, por outro, à sociologia das comunicações de
massa, é própria das teorias que se concentram nos efeitos de um
acesso desigual aos recursos de comunicação sobre a distribuição
do poder político dentro dos diversos grupos organizados.

Unidade Tematica 6.2 A Comunicação


Política como função de input e sua
influência na opinião pública
A Comunicação política é entendida, à luz da análise estrutural-
funcional de Almond, por exemplo, como uma função de irtput,
cujo desenvolvimento constitui um requisito indispensável para a
realização de todas as atividades relevantes do sistema político.
Nesta perspectiva, a par de todas as demais funções, ela atende,
portanto, aos fins de manutenção e adaptação do mesmo sistema
político. Assim compreendida, a Comunicação política está implícita
em toda a forma de contacto humano.
Os contactos informais de pessoa a pessoa são seu veículo mais
comum. Como salientaram os estudiosos da formação da opinião
pública, esse tipo de canais de comunicação, particularmente o que
é constituído pelos líderes de opinião, é fundamental na
transmissão das mensagens aos membros do sistema político e,
consequentemente, na formação das opiniões políticas. Nos sistemas
políticos modernos, a Comunicação política passa, além disso,
através de canais especializados: os meios de comunicação de
massa.

A qualidade dos mass media, o tipo de mensagens transmitidas e a


frequência das próprias mensagens são decisivos para a formação

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das atitudes da opinião pública e, consequentemente, para o tipo


de pressões que ela exerce sobre os centros decisórios do sistema
político.

Segundo Richard Fagen (1966), as diferenças mais relevantes nos


fluxos de comunicação estão ligadas sobretudo ao tipo de regime
político. Nos regimes democráticos, a comunicação tende a ser
constante entre a elite a opinião pública. As mensagens vão, quer
da elite às massas para lhes solicitar apoio, quer, se bem que com
maior dificuldade, das massas à elite através dos múltiplos canais
que transmitem a instância política.
Nos regimes autoritários, o fluxo de comunicação é constante entre
as elites e os círculos governativos; é igualmente constante entre a
elite e a massa dos cidadãos; mas são raros os canais que
transmitem as mensagens na direcção oposta. Finalmente, nos
regimes totalitários, a característica principal é a comunicação
maciça fluindo da elite para as massas. "Todos os mecanismos
humanos e tecnológicos controlados pela leadership são usados
para obter o máximo de apoio popular e de eficiência.

O esforço é constante, coerente e eficaz. É claro que existem aqui


outros fluxos importantes: verticalmente, da base para o vértice,
sob a forma de informações e de críticas moderadas;
horizontalmente, entre a elite e os centros decisórios, no modo
típico de todos os sistemas burocráticos complexos. Mas o fluxo
dominante é o descendente" (Fagen, 1966).

Unidade Tematica 6.3 A teoria das


comunicações
A Comunicação política, entendida como instrumento analítico, é
central numa teoria, ad hoc, a teoria das comunicações. À luz deste
particular esquema de interpretação dos fenómenos políticos, a
política é entendida como conjunto de processos de guia e
coordenação das atividades de um sistema social, em ordem à

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consecução dos fins a que tende o sistema. O processo de decision-


making é, por isso, o mais importante. A Comunicação política é,
pois, para a cibernética, o conjunto de mensagens capaz de gerar
decisões políticas. A luz do conceito de comunicação, qualquer
sistema dotado "de um considerável grau de organização, de
comunicação e de controle, independentemente da diversidade dos
processos particulares de transmissão das mensagens e dos modos
de desempenho das suas funções" (K. W. Deutsch, 1972), é
concebido como uma rede de comunicação, ou melhor, como uma
rede de conhecimento. Do mesmo modo é entendido também o
sistema político.
Um modelo de comunicação é composto, em sua forma mais
simples, de um conjunto de dispositivos receptores, através dos
quais são introduzidas as informações do ambiente externo (inputs)
e aos quais competem, além disso, as operações de selecção das
informações e de sua interpretação, com base num código
apropriado, ou conjunto de regras interpretativas, que varia de
sistema para sistema e depende dos valores predominantes, da
qualidade e tipo de canais de comunicação e, principalmente, dos
fins que o sistema político pretende atingir. A seguir, a informação
assim elaborada chega ao centro decisório, que a confronta com
os dados anteriormente memorizados — valores, expectativas,
lembranças de experiências análogas, etc. A este processo segue-
se o ato fundamental para a vida do sistema político, a decisão.

Na óptica da teoria das comunicações, a decisão é entendida


como uma manifestação do poder político. É essencialmente o
poder político que permite à vontade do centro decisório pôr em
execução as decisões estimuladas pela informação vinda de fora.
Esta perspectiva permite, em particular, de acordo com seu mais
importante teórico, Karl Deutsch, uma redefinição, em termos
probabilísticos, do poder político, feita uma distinção entre poder
bruto e poder líquido. O poder bruto é "a probabilidade que um
sistema tem de realizar seu programa interno, impondo um certo
número de mudanças ao ambiente".

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

O poder líquido, ao invés, deriva do poder bruto "como diferença


entre a probabilidade dessas mudanças impostas ao mundo
externo e a probabilidade de um número crítico ou relevante de
mudanças verificadas na estrutura interna" (Deutsch, 1972).

Unidade Tematica 6.4 Processos de feedback


negativo e de feedback positivo
A interpretação do processo político não pode, porém, ficar por
aqui. O modelo até agora proposto é, de fato, uma representação
estática do tipo E-R (estímulo-resposta), incapaz de explicar os
fenómenos de mudança do sistema político. O conceito de feedback
(negativo e positivo) é o instrumento analítico fundamental,
oferecido pela teoria das comunicações, para a compreensão da
dinâmica do processo político.

O feedback negativo diz respeito aos processos mediante os quais


chegam até ao centro decisório as informações relativas às
consequências de decisões anteriores, permitindo-lhe avaliar se
essas mesmas decisões o aproximaram ou o afastaram dos
objectivos almejados, e modificar, em consequência. O processo de
feedback negativo constitui, portanto, para o sistema político, um
instrumento de controle sobre o ambiente externo. Como diz
Deutsch, o feedback negativo "é o controle do comportamento,
passo a passo, estádio por estádio, não baseado nas boas
intenções, mas nos resultados reais do estádio precedente"
(Deutsch, 1970).

Aos processos do feedback negativo estão estreitamente ligados os


conceitos de carga, demora, vantagem e antecipação. A carga
indica a velocidade e a quantidade da mudança que intervém na
posição do objectivo que o sistema tenta alcançar. A demora é o
espaço de tempo existente entre o momento em que se põe em
execução uma ação e o momento em que a informação sobre as
suas consequências refluem ao centro decisório. A vantagem é a

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

quantidade de mudança efectivamente introduzida pela ação do


sistema. A antecipação, enfim, indica a capacidade de distinguir a
posição exacta do objectivo em movimento, no momento em que a
decisão se transforma em ação.

Deutsch observa, em especial, que "as probabilidades de sucesso


na consecução do objectivo são sempre inversamente proporcionais
ao grau de carga e de demora. Até um certo ponto, podem ser
positivamente correlatas à medida da vantagem, se bem que a
relação possa inverter-se quando a vantagem atinge altos níveis;
são sempre positivamente correlatas à medida da antecipação"
(Deutsch, 1972).

Na óptica da teoria das comunicações, o mau funcionamento do


processo de feedback é a razão principal da ineficiência, ou
incapacidade de criar decisões políticas capazes de favorecer a
consecução dos objectivos, de muitos sistemas políticos.
O feedback positivo é um processo oposto ao que acabamos de
descrever. Agora a informação sobre as consequências de uma
decisão política anterior provoca o fortalecimento do
comportamento do sistema na mesma direcção. As situações de
conflito são geralmente explicáveis nos limites do feedback positivo
(ou retroacção amplificante). Igualmente, são os fenómenos de
desabe e mudança dos sistemas políticos. O ponto crucial, que é
preciso verificar a tal propósito, é se o sucessivo revigoramento do
comportamento, provocado pelo feedback positivo, é crescente ou
decrescente.

No primeiro caso, "... a reacção total está destinada a crescer até


os limites do sistema, acabando, de algum modo, em ruína"
(Deutsch, 1972); a reacção é assimilável a um processo de
escalation. No segundo caso, estaremos, pelo contrário, em
presença de um processo de de-escala-tion, porquanto todo o
sucessivo reforço do comportamento será menos intenso que o
precedente e o sistema tenderá a avizinhar-se do seu nível máximo
de rendimento e eficiência.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

O feedback é, além disso, um conceito fundamental para a


compreensão dos fenómenos de mudança dos sistemas políticos. A
mudança é, com efeito, provocada, em geral, por um feedback
modificador de objectivos, isto é, por um fenómeno de retroacção,
que intervém modificando os fins intentados por um certo sistema
político até um determinado momento da sua história. Isto pode
acontecer, ou porque o fim anteriormente almejado foi alcançado
e o sistema político tem de procurar um novo fim, ou porque
sobrevieram mudanças nos valores do sistema, na estrutura dos
seus canais de comunicação, ou nos elementos constitutivos do
centro decisório. É justamente o processo de feedback que, neste
caso, fazendo afluir novas informações do ambiente externo,
provoca a redefinição dos objectivos do sistema.

Unidade Tematica 6.5 Os fluxos de


comunicação política entre os subsistemas
políticos
O funcionamento e a própria natureza dos canais de comunicação,
a que estão ligados os processos de feedback, dependem, segundo
Fagen (1966), de quatro tipos diferentes de factores:
1) Económicos;
2) Sócio-culturais;
3) Políticos;
4) Históricos.

O nível de desenvolvimento económico influi de diversos modos na


Comunicação política, determinando sobretudo a maior ou menor
difusão dos mass media. Nas sociedades tradicionais, onde os meios
de comunicação de massa são inexistentes ou raros e predominam
os contactos cara a cara, os processos de feedback revelam
diferenças significativas, por exemplo, quanto ao "tempo"
necessário para os ajustamentos impostos pelas novas informações,
em relação às sociedades modernas onde, tanto as massas, quanto

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

as elites, estão completamente expostas à influência dos mass


media.

Analogamente, no que toca aos fatores sócio-culturais, o nível de


alfabetização, o grau de instrução e o tipo de cultura política
implicam diferenças significativas nos canais de comunicação, na
estrutura das mensagens, etc. O mecanismo dos processos de
Comunicação política varia também, se é a elite que controla
directamente os meios de comunicação, ou se os seus adversários
têm possibilidade de formular críticas públicas capazes de
influenciar, a opinião pública e, por isso, de provocar reacções por
parte da elite.
Finalmente, o mecanismo dos processos de comunicação é
influenciado pelas tradições históricas da sociedade, variando, por
exemplo, nos países há pouco independentes, se a rede de
comunicações é ainda a criada pela potência colonial ou não, e,
num sistema político moderno, se as "regras do jogo" que presidem
aos contactos entre as diversas estruturas políticas, historicamente
consolidadas, se protraem no tempo ou são substituídas por outras
regras.

Segundo Fagen, o que importa verificar para se avaliar a


eficiência dos sistemas políticos é se a rede de comunicações é
funcional para o sistema, especialmente se o mecanismo dos
processos de comunicação que ocorrem nos subsistemas, ou
unidades singulares de comunicação, facilita ou dificulta o
funcionamento de qualquer subsistema e do sistema político global.
Para verificá-lo, é preciso não só considerar a distribuição e o tipo
de canais de comunicação presentes em cada subsistema, mas
também levar em conta o fato de que todo subsistema tende a ser
condicionado em sua atividade mais por umas comunicações do
que por outras, isto é, torna-se necessário ter presente o tipo de
especialização dos subsistemas.

Depois, analisam-se as características dos vínculos que unem os


diversos subsistemas, porque o modo e frequência com que a

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

comunicação atravessa os seus limites ajudam a determinar as


características do sistema político global. Em parte, isto está ligado
ao grau de controle e coordenação que possui o subsistema
decisório em relação aos outros subsistemas, já que "todos os
sistemas políticos podem ser concebidos como sistemas que
possuem estruturas mais ou menos apropriadas de comunicação-
coordenação-controle, que unem entre si, não o conseguindo por
vezes, os subsistemas" (Fagen, 1966).
Os grupos étnicos ou tribais apresentam, amiúde, exemplos de
subsistemas em que a comunicação interna circula facilmente, mas a
externa só a custo consegue penetrar e, o mais das vezes, através
de dispositivos receptores que contribuem para a distorcer e para
oferecer dela uma "imagem" deformada aos membros do
subsistema.

Quando tal acontece, os processos de feedback são negativamente


influenciados e a capacidade de controle e coordenação por parte
do subsistema decisório fica reduzida ao mínimo, com
consequências nocivas para o funcionamento de todo o sistema
político, bem como para a consecução dos seus fins fundamentais.

Unidade Tematica 6.6 Manipulação da


comunicação
Uma abordagem alternativa das até aqui analisadas é a dos
autores que estudam os efeitos da manipulação dos sistemas de
Comunicação política operantes nas várias sociedades, a serviço
de grupos politicamente privilegiados. É em Mueller que
encontramos uma das melhores formulações de tal abordagem.
Para Mueller, as condições de integração e conflito nas sociedades
de capitalismo avançado são o resultado da combinação de um
desenvolvimento diferenciado dos sistemas linguísticos e da
capacidade cognitiva dos vários grupos sociais — o que favorece
a articulação de certas demandas e a exclusão de outras —, com
a manipulação centralizada das mensagens políticas.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
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O ponto de partida de Mueller é o papel dos sistemas linguísticos


na determinação das formas de comunicação política, bem como
na determinação, daí decorrente, do processo político mais geral
dentro de qualquer sociedade. Existe uma relação íntima entre o
tipo de linguagem que os indivíduos interiorizam nos processos de
socialização e a capacidade cognitiva que esse tipo de linguagem
permite desenvolver: o indivíduo só poderá se empenhar
eficazmente na Comunicação política quando sua capacidade
linguística e cognitiva estiver suficientemente desenvolvida. Mas a
efectiva comunicação, para ser realmente tal, também requer, por
seu turno, estar suficientemente livre de embaraços e distorções.

A tese de Mueller é que, nas sociedades de capitalismo avançado,


em que se concentra a sua análise, a persistência de fortes
desigualdades políticas (de acesso ao poder e de seu controle) é
devida à impossibilidade/incapacidade de os grupos não
privilegiados se empenharem numa Comunicação política eficaz,
por via da ação de um conjunto de mecanismos de distorção. Ele
estuda três tipos de comunicação distorcida: a directamente
manipulada, a bloqueada e a indirectamente manipulada.

O primeiro caso é próprio dos regimes totalitários, onde tanto o


sistema de comunicação de massa como as políticas educativas
postas em prática pelo Governo estão totalmente permeados pela
propaganda e a ela subordinados. O segundo caso, o da
comunicação bloqueada, é mais complexo; ocorre principalmente
nos processos de socialização primária. Há aqui uma decisiva
diferenciação entre os indivíduos, segundo a classe a que
pertençam: o ambiente social em que se dá a socialização regula o
desenvolvimento do sistema linguístico e, em consequência, o da
capacidade cognitiva dos indivíduos.

Como o demonstraram diversas pesquisas empíricas, existe uma


estratificação social da linguagem, pela qual, à medida que se vai
descendo a pirâmide social, a linguagem vai se tornando menos
rica e menos articulada. Isso predispõe à interiorização de valores

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

diversos, em vinculação com as diferenças de código linguístico e


de capacidade cognitiva: maior predisposição à aceitação da
autoridade, ao conformismo de grupo, etc. (heterodireção), nas
classes inferiores, maior predisposição ao desenvolvimento de uma
personalidade mais autónoma e mais concentrada sobre si mesma
(autodireção), nas classes média-altas.

A estrutura dos valores tende, pois, a vincular-se à estrutura dos


sistemas linguísticos, desigualmente desenvolvidos, e, desse modo, í.
Robustecer e a reproduzir as desigualdades Económicas e políticas
fundamentais.

O terceiro tipo de distorção é o devido à manipulação indirecta


da comunicação de massa por parte do Governo e dos grupos
privados que a controlam. Nas sociedades de capitalismo
avançado, esta manipulação implica o tratamento dos diversos
problemas em termos de uma "paraideo-logia" científica
(Habermas) que reduz as questões da distribuição do poder a
problemas técnicos de maximização da eficiência, com uma
linguagem concentrada exclusivamente nos meios e não nos fins
(com uma passagem definitiva, nos termos de Weber, da
racionalidade substancial à racionalidade formal).

Retomando uma tese inicialmente apresentada por Mannheim


sobre o papel dos intelectuais, e aproximando-se das mais
recentes teorizações sobre a "nova classe" (Daniel Bell; Alvin Gould
ner), Mueller crê que, enquanto se assiste hoje à integração política
das classes inferiores, particularmente do proletariado, já
conquistadas para a causa do status quo, a oposição a um sistema
distorcido de Comunicação política, sobre o qual se apoiaria
inteiramente a estrutura de domínio, só pode surgir, nos países de
capitalismo maduro, do "estrato cultural", da área de profissionais
da comunicação cujo papel político é hoje ampliado, quer pelo
desenvolvimento da instrução, quer pela expansão dos mass media.
É à atitude deste estrato cultural, que se recusa a legitimar
ideologicamente as novas formas de domínio, que se deveria

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

atribuir, segundo Mueller, a crise de autoridade de que sofrem os


regimes políticos ocidentais e a sua incapacidade de tirar total
proveito do uso da moderna tecnologia das Comunicações políticas
na defesa do status quo.

Sumário
Findo o tema “ Comunicação Politica” procuramos analisar o
mesmo, e trazer os pontos convergentes e divergentes de vários
autores. Na óptica da teoria das comunicações, a decisão é
entendida como uma manifestação do poder político. É
essencialmente o poder político que permite à vontade do centro
decisório pôr em execução as decisões estimuladas pela
informação vinda de fora.

Exercícios de auto avaliação


1. Procure os aspectos convergentes e divergentes da definição de Comunicação
Politica.
2. Refira as funções da Comunicação Politica.
3. Como tem sido a comunicação nos países de regimes democráticos.
4. Refira as teorias de comunicação que conheces.
5. Como é que o nível de desenvolvimento económico influi de diversos modos na
Comunicação política.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

TEMA – VII: Eleições e Democracia em Moçambique


Unidade Tematica 7.1: Eleições e Democracia em Moçambique:
Um eleitorado ausente
Unidade Temática 7.2: Sociedade civil e Democracia
Unidade Temática 7.3: Campanha eleitoral, eleições e ausência
do eleitorado

Introdução
As eleições constituem um exercício democrático que vem
caracterizando Moçambique desde 1994, quando tiveram lugar as
primeiras eleições multipartidárias.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar os conceitos de democracia e sociedade civil;


 Caracterizar estado democrático;

Objectivos  Identificar a relação entre a sociedade civil e o Estado


 Descrever os factores que contribuem na ausência do
eleitorado moçambicano nos pleitos eleitorais;

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Unidade Tematica 6.1 Definição de Comunicação Politica


A Comunicação política pode ser definida como o conjunto das
mensagens que circulam dentro de um sistema político,
condicionando-lhe toda a atividade, desde a formação das
demandas e dos processos de conversão às próprias respostas
do sistema.

Metaforicamente, pode-se conceber a Comunicação política


como o "sistema nervoso" de toda a unidade política. São três
as orientações principais relativas a esta matéria.
A primeira, elaborada pela escola estrutural-funcionalista, é a
que ti ata a comunicação como um aspecto importante, mas não
essencial para a compreensão dos processos políticos.
A segunda é a dos autores que aplicam modelos cibernéticos ao
estudo da política e que fazem, por isso, da comunicação a
unidade de análise decisiva das suas teorias.

A terceira, enfim, que está ligada, por um lado, às pesquisas de


sociolinguística e, por outro, à sociologia das comunicações de
massa, é própria das teorias que se concentram nos efeitos de
um acesso desigual aos recursos de comunicação sobre a
distribuição do poder político dentro dos diversos grupos
organizados.

Unidade Tematica 6.2 A Comunicação Política como função de


input e sua influência na opinião pública
A Comunicação política é entendida, à luz da análise
estrutural-funcional de Almond, por exemplo, como uma função
de irtput, cujo desenvolvimento constitui um requisito
indispensável para a realização de todas as atividades
relevantes do sistema político. Nesta perspectiva, a par de
todas as demais funções, ela atende, portanto, aos fins de
manutenção e adaptação do mesmo sistema político. Assim

59
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

compreendida, a Comunicação política está implícita em toda a


forma de contacto humano. Os contactos informais de pessoa a
pessoa são seu veículo mais comum. Como salientaram os
estudiosos da formação da opinião pública, esse tipo de canais
de comunicação, particularmente o que é constituído pelos
líderes de opinião, é fundamental na transmissão das
mensagens aos membros do sistema político e,
consequentemente, na formação das opiniões políticas. Nos
sistemas políticos modernos, a Comunicação política passa, além
disso, através de canais especializados: os meios de
comunicação de massa.

A qualidade dos mass media, o tipo de mensagens transmitidas


e a frequência das próprias mensagens são decisivos para a
formação das atitudes da opinião pública e, consequentemente,
para o tipo de pressões que ela exerce sobre os centros
decisórios do sistema político.

Segundo Richard Fagen (1966), as diferenças mais relevantes


nos fluxos de comunicação estão ligadas sobretudo ao tipo de
regime político. Nos regimes democráticos, a comunicação tende
a ser constante entre a elite a opinião pública. As mensagens
vão, quer da elite às massas para lhes solicitar apoio, quer, se
bem que com maior dificuldade, das massas à elite através dos
múltiplos canais que transmitem a instância política. Nos regimes
autoritários, o fluxo de comunicação é constante entre as elites e
os círculos governativos; é igualmente constante entre a elite e a
massa dos cidadãos; mas são raros os canais que transmitem as
mensagens na direcção oposta.

Finalmente, nos regimes totalitários, a característica principal é


a comunicação maciça fluindo da elite para as massas. "Todos
os mecanismos humanos e tecnológicos controlados pela
leadership são usados para obter o máximo de apoio popular e
de eficiência. O esforço é constante, coerente e eficaz. É claro
que existem aqui outros fluxos importantes: verticalmente, da

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base para o vértice, sob a forma de informações e de críticas


moderadas; horizontalmente, entre a elite e os centros
decisórios, no modo típico de todos os sistemas burocráticos
complexos. Mas o fluxo dominante é o descendente" (Fagen,
1966).

Unidade Tematica 6.3 A teoria das


comunicações
A Comunicação política, entendida como instrumento analítico, é
central numa teoria, ad hoc, a teoria das comunicações. À luz
deste particular esquema de interpretação dos fenómenos
políticos, a política é entendida como conjunto de processos de
guia e coordenação das atividades de um sistema social, em
ordem à consecução dos fins a que tende o sistema. O processo
de decision-making é, por isso, o mais importante.

A Comunicação política é, pois, para a cibernética, o conjunto


de mensagens capaz de gerar decisões políticas. A luz do
conceito de comunicação, qualquer sistema dotado "de um
considerável grau de organização, de comunicação e de
controle, independentemente da diversidade dos processos
particulares de transmissão das mensagens e dos modos de
desempenho das suas funções" (K. W. Deutsch, 1972), é
concebido como uma rede de comunicação, ou melhor, como uma
rede de conhecimento. Do mesmo modo é entendido também o
sistema político.

Um modelo de comunicação é composto, em sua forma mais


simples, de um conjunto de dispositivos receptores, através dos
quais são introduzidas as informações do ambiente externo
(inputs) e aos quais competem, além disso, as operações de
selecção das informações e de sua interpretação, com base num
código apropriado, ou conjunto de regras interpretativas, que
varia de sistema para sistema e depende dos valores

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
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predominantes, da qualidade e tipo de canais de comunicação


e, principalmente, dos fins que o sistema político pretende
atingir. A seguir, a informação assim elaborada chega ao
centro decisório, que a confronta com os dados anteriormente
memorizados — valores, expectativas, lembranças de
experiências análogas, etc. A este processo segue-se o ato
fundamental para a vida do sistema político, a decisão.

Na óptica da teoria das comunicações, a decisão é entendida


como uma manifestação do poder político. É essencialmente o
poder político que permite à vontade do centro decisório pôr
em execução as decisões estimuladas pela informação vinda de
fora.
Esta perspectiva permite, em particular, de acordo com seu mais
importante teórico, Karl Deutsch, uma redefinição, em termos
probabilísticos, do poder político, feita uma distinção entre
poder bruto e poder líquido. O poder bruto é "a probabilidade
que um sistema tem de realizar seu programa interno, impondo
um certo número de mudanças ao ambiente".

O poder líquido, ao invés, deriva do poder bruto "como


diferença entre a probabilidade dessas mudanças impostas ao
mundo externo e a probabilidade de um número crítico ou
relevante de mudanças verificadas na estrutura interna"
(Deutsch, 1972).

Unidade Tematica 6.4 Processos de feedback negativo e de


feedback positivo
A interpretação do processo político não pode, porém, ficar por
aqui. O modelo até agora proposto é, de fato, uma
representação estática do tipo E-R (estímulo-resposta), incapaz
de explicar os fenómenos de mudança do sistema político. O
conceito de feedback (negativo e positivo) é o instrumento
analítico fundamental, oferecido pela teoria das comunicações,

62
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

para a compreensão da dinâmica do processo político.


O feedback negativo diz respeito aos processos mediante os
quais chegam até ao centro decisório as informações relativas
às consequências de decisões anteriores, permitindo-lhe avaliar
se essas mesmas decisões o aproximaram ou o afastaram dos
objectivos almejados, e modificar, em consequência.

O processo de feedback negativo constitui, portanto, para o


sistema político, um instrumento de controle sobre o ambiente
externo. Como diz Deutsch, o feedback negativo "é o controle do
comportamento, passo a passo, estádio por estádio, não
baseado nas boas intenções, mas nos resultados reais do
estádio precedente" (Deutsch, 1970).

Aos processos do feedback negativo estão estreitamente ligados


os conceitos de carga, demora, vantagem e antecipação. A carga
indica a velocidade e a quantidade da mudança que intervém
na posição do objectivo que o sistema tenta alcançar. A demora
é o espaço de tempo existente entre o momento em que se põe
em execução uma ação e o momento em que a informação
sobre as suas consequências refluem ao centro decisório. A
vantagem é a quantidade de mudança efectivamente
introduzida pela ação do sistema. A antecipação, enfim, indica a
capacidade de distinguir a posição exacta do objectivo em
movimento, no momento em que a decisão se transforma em
ação.
Deutsch observa, em especial, que "as probabilidades de
sucesso na consecução do objectivo são sempre inversamente
proporcionais ao grau de carga e de demora. Até um certo
ponto, podem ser positivamente correlatas à medida da
vantagem, se bem que a relação possa inverter-se quando a
vantagem atinge altos níveis; são sempre positivamente
correlatas à medida da antecipação" (Deutsch, 1972).
Na óptica da teoria das comunicações, o mau funcionamento do
processo de feedback é a razão principal da ineficiência, ou
incapacidade de criar decisões políticas capazes de favorecer

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Comportamento Política

a consecução dos objetivos, de muitos sistemas políticos.


O feedback positivo é um processo oposto ao que acabamos de
descrever. Agora a informação sobre as consequências de uma
decisão política anterior provoca o fortalecimento do
comportamento do sistema na mesma direcção. As situações de
conflito são geralmente explicáveis nos limites do feedback
positivo (ou retroacção amplificante). Igualmente, são os
fenómenos de desabe e mudança dos sistemas políticos. O
ponto crucial, que é preciso verificar a tal propósito, é se o
sucessivo revigoramento do comportamento, provocado pelo
feedback positivo, é crescente ou decrescente.

No primeiro caso, "... a reacção total está destinada a crescer


até os limites do sistema, acabando, de algum modo, em ruína"
(Deutsch, 1972); a reacção é assimilável a um processo de
escalation. No segundo caso, estaremos, pelo contrário, em
presença de um processo de de-escala-tion, porquanto todo o
sucessivo reforço do comportamento será menos intenso que o
precedente e o sistema tenderá a avizinhar-se do seu nível
máximo de rendimento e eficiência.

O feedback é, além disso, um conceito fundamental para a


compreensão dos fenómenos de mudança dos sistemas políticos.
A mudança é, com efeito, provocada, em geral, por um
feedback modificador de objectivos, isto é, por um fenómeno de
retroacção, que intervém modificando os fins intentados por um
certo sistema político até um determinado momento da sua
história. Isto pode acontecer, ou porque o fim anteriormente
almejado foi alcançado e o sistema político tem de procurar um
novo fim, ou porque sobrevieram mudanças nos valores do
sistema, na estrutura dos seus canais de comunicação, ou nos
elementos constitutivos do centro decisório. É justamente o
processo de feedback que, neste caso, fazendo afluir novas
informações do ambiente externo, provoca a redefinição dos
objectivos do sistema.

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Comportamento Política

Unidade Tematica 6.5 Os fluxos de comunicação política entre


os subsistemas políticos
O funcionamento e a própria natureza dos canais de
comunicação, a que estão ligados os processos de feedback,
dependem, segundo Fagen (1966), de quatro tipos diferentes
de factores:
1) Económicos;
2) Sócio-culturais;
3) Políticos;
4) Históricos.

O nível de desenvolvimento económico influi de diversos modos


na Comunicação política, determinando sobretudo a maior ou
menor difusão dos mass media. Nas sociedades tradicionais,
onde os meios de comunicação de massa são inexistentes ou
raros e predominam os contactos cara a cara, os processos de
feedback revelam diferenças significativas, por exemplo, quanto
ao "tempo" necessário para os ajustamentos impostos pelas
novas informações, em relação às sociedades modernas onde,
tanto as massas, quanto as elites, estão completamente expostas
à influência dos mass media.

Analogamente, no que toca aos fatores sócio-culturais, o nível


de alfabetização, o grau de instrução e o tipo de cultura
política implicam diferenças significativas nos canais de
comunicação, na estrutura das mensagens, etc. O mecanismo dos
processos de Comunicação política varia também, se é a elite
que controla directamente os meios de comunicação, ou se os
seus adversários têm possibilidade de formular críticas públicas
capazes de influenciar, a opinião pública e, por isso, de
provocar reacções por parte da elite. Finalmente, o mecanismo
dos processos de comunicação é influenciado pelas tradições
históricas da sociedade, variando, por exemplo, nos países há
pouco independentes, se a rede de comunicações é ainda a

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

criada pela potência colonial ou não, e, num sistema político


moderno, se as "regras do jogo" que presidem aos contactos
entre as diversas estruturas políticas, historicamente
consolidadas, se protraem no tempo ou são substituídas por
outras regras.

Segundo Fagen, o que importa verificar para se avaliar a


eficiência dos sistemas políticos é se a rede de comunicações é
funcional para o sistema, especialmente se o mecanismo dos
processos de comunicação que ocorrem nos subsistemas, ou
unidades singulares de comunicação, facilita ou dificulta o
funcionamento de qualquer subsistema e do sistema político
global. Para verificá-lo, é preciso não só considerar a
distribuição e o tipo de canais de comunicação presentes em
cada subsistema, mas também levar em conta o fato de que
todo subsistema tende a ser condicionado em sua atividade
mais por umas comunicações do que por outras, isto é, torna-se
necessário ter presente o tipo de especialização dos subsistemas.

Depois, analisam-se as características dos vínculos que unem os


diversos subsistemas, porque o modo e frequência com que a
comunicação atravessa os seus limites ajudam a determinar as
características do sistema político global. Em parte, isto está
ligado ao grau de controle e coordenação que possui o
subsistema decisório em relação aos outros subsistemas, já que
"todos os sistemas políticos podem ser concebidos como sistemas
que possuem estruturas mais ou menos apropriadas de
comunicação-coordenação-controle, que unem entre si, não o
conseguindo por vezes, os subsistemas" (Fagen, 1966). Os
grupos étnicos ou tribais apresentam, amiúde, exemplos de
subsistemas em que a comunicação interna circula facilmente,
mas a externa só a custo consegue penetrar e, o mais das
vezes, através de dispositivos receptores que contribuem para a
distorcer e para oferecer dela uma "imagem" deformada aos
membros do subsistema.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Quando tal acontece, os processos de feedback são


negativamente influenciados e a capacidade de controle e
coordenação por parte do subsistema decisório fica reduzida
ao mínimo, com consequências nocivas para o funcionamento de
todo o sistema político, bem como para a consecução dos seus
fins fundamentais.

Unidade Tematica 6.6 Manipulação da


comunicação
Uma abordagem alternativa das até aqui analisadas é a dos
autores que estudam os efeitos da manipulação dos sistemas de
Comunicação política operantes nas várias sociedades, a serviço
de grupos politicamente privilegiados. É em Mueller que
encontramos uma das melhores formulações de tal abordagem.

Para Mueller, as condições de integração e conflito nas


sociedades de capitalismo avançado são o resultado da
combinação de um desenvolvimento diferenciado dos sistemas
linguísticos e da capacidade cognitiva dos vários grupos sociais
— o que favorece a articulação de certas demandas e a
exclusão de outras —, com a manipulação centralizada das
mensagens políticas.

O ponto de partida de Mueller é o papel dos sistemas


linguísticos na determinação das formas de comunicação
política, bem como na determinação, daí decorrente, do
processo político mais geral dentro de qualquer sociedade.
Existe uma relação íntima entre o tipo de linguagem que os
indivíduos interiorizam nos processos de socialização e a
capacidade cognitiva que esse tipo de linguagem permite
desenvolver: o indivíduo só poderá se empenhar eficazmente na
Comunicação política quando sua capacidade linguística e
cognitiva estiver suficientemente desenvolvida. Mas a efectiva
comunicação, para ser realmente tal, também requer, por seu

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Comportamento Política

turno, estar suficientemente livre de embaraços e distorções.

A tese de Mueller é que, nas sociedades de capitalismo


avançado, em que se concentra a sua análise, a persistência de
fortes desigualdades políticas (de acesso ao poder e de seu
controle) é devida à impossibilidade/incapacidade de os
grupos não privilegiados se empenharem numa Comunicação
política eficaz, por via da ação de um conjunto de mecanismos
de distorção. Ele estuda três tipos de comunicação distorcida: a
directamente manipulada, a bloqueada e a indirectamente
manipulada.

O primeiro caso é próprio dos regimes totalitários, onde tanto o


sistema de comunicação de massa como as políticas educativas
postas em prática pelo Governo estão totalmente permeados
pela propaganda e a ela subordinados. O segundo caso, o da
comunicação bloqueada, é mais complexo; ocorre
principalmente nos processos de socialização primária. Há aqui
uma decisiva diferenciação entre os indivíduos, segundo a classe
a que pertençam: o ambiente social em que se dá a
socialização regula o desenvolvimento do sistema linguístico e,
em consequência, o da capacidade cognitiva dos indivíduos.

Como o demonstraram diversas pesquisas empíricas, existe uma


estratificação social da linguagem, pela qual, à medida que se
vai descendo a pirâmide social, a linguagem vai se tornando
menos rica e menos articulada. Isso predispõe à interiorização
de valores diversos, em vinculação com as diferenças de código
linguístico e de capacidade cognitiva: maior predisposição à
aceitação da autoridade, ao conformismo de grupo, etc.
(heterodireção), nas classes inferiores, maior predisposição ao
desenvolvimento de uma personalidade mais autónoma e mais
concentrada sobre si mesma (autodireção), nas classes média-
altas.
A estrutura dos valores tende, pois, a vincular-se à estrutura dos
sistemas linguísticos, desigualmente desenvolvidos, e, desse

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modo, í. Robustecer e a reproduzir as desigualdades


Económicas e políticas fundamentais.

O terceiro tipo de distorção é o devido à manipulação indirecta


da comunicação de massa por parte do Governo e dos grupos
privados que a controlam. Nas sociedades de capitalismo
avançado, esta manipulação implica o tratamento dos diversos
problemas em termos de uma "paraideo-logia" científica
(Habermas) que reduz as questões da distribuição do poder a
problemas técnicos de maximização da eficiência, com uma
linguagem concentrada exclusivamente nos meios e não nos fins
(com uma passagem definitiva, nos termos de Weber, da
racionalidade substancial à racionalidade formal).

Retomando uma tese inicialmente apresentada por Mannheim


sobre o papel dos intelectuais, e aproximando-se das mais
recentes teorizações sobre a "nova classe" (Daniel Bell; Alvin
Gould ner), Mueller crê que, enquanto se assiste hoje à
integração política das classes inferiores, particularmente do
proletariado, já conquistadas para a causa do status quo, a
oposição a um sistema distorcido de Comunicação política,
sobre o qual se apoiaria inteiramente a estrutura de domínio, só
pode surgir, nos países de capitalismo maduro, do "estrato
cultural", da área de profissionais da comunicação cujo papel
político é hoje ampliado, quer pelo desenvolvimento da
instrução, quer pela expansão dos mass media.
É à atitude deste estrato cultural, que se recusa a legitimar
ideologicamente as novas formas de domínio, que se deveria
atribuir, segundo Mueller, a crise de autoridade de que sofrem
os regimes políticos ocidentais e a sua incapacidade de tirar
total proveito do uso da moderna tecnologia das Comunicações
políticas na defesa do status quo.

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Sumário
Findo o tema “ Comunicação Politica” procuramos analisar o
mesmo, e trazer os pontos convergentes e divergentes de vários
autores. Na óptica da teoria das comunicações, a decisão é
entendida como uma manifestação do poder político. É
essencialmente o poder político que permite à vontade do
centro decisório pôr em execução as decisões estimuladas pela
informação vinda de fora.

Exercícios de auto avaliação


1. Procure os aspectos convergentes e divergentes da definição de Com
Politica.
2. Refira as funções da Comunicação Politica.
3. Como tem sido a comunicação nos países de regimes democráticos.
4. Refira as teorias de comunicação que conheces.
5. Como é que o nível de desenvolvimento económico influi de diversos mod
Comunicação política.

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TEMA – VII: Eleições e Democracia em Moçambique


Unidade Tematica 7.1: Eleições e Democracia em
Moçambique: Um eleitorado ausente
Unidade Temática 7.2: Sociedade civil e Democracia
Unidade Temática 7.3: Campanha eleitoral, eleições e
ausência do eleitorado

Introdução
As eleições constituem um exercício democrático que vem
caracterizando Moçambique desde 1994, quando tiveram lugar
as primeiras eleições multipartidárias.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar os conceitos de democracia e sociedade civil;


 Caracterizar estado democrático;

Objectivos  Identificar a relação entre a sociedade civil e o Estado


 Descrever os factores que contribuem na ausência do eleito
moçambicano nos pleitos eleitorais;

Unidade Temática 7.1 Eleições e


Democracia em Moçambique
A democracia é identificada com a presença do
pluralismo de ideias e de um sistema funcional de justiça. Sendo
assim, um Estado democrático pode ser observado directamente
pela existência de uma constituição funcional rezando a
separação de poderes e instituições do Estado, oferecendo
serviços sociais e legais e provendo a segurança em termos
gerais. As eleições constituem parte do pacote democrático,
sendo realizadas regularmente segundo regras acordadas,
respeitadas e seguidas pelas partes envolvidas: o governo e a
oposição, os civis e os militantes, que são requisitos que se
consideram adjacentes a definição de democracia, sem

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questionar a extensão da funcionalidade das instituições do


Estado para oferecer serviços de acordo com as necessidades
do povo e a segurança que o cidadão requer.

Para (Ludin 2001:36) é necessário ir-se mais alem, pois


a definição de democracia não deve ser aceite como um
princípio estático, julgando-a pelo que deve existir e não por
como as instituições devem funcionar. Shivji (1991:255)
identificou três perspectivas de sobre democracia: a liberal, a
estatista e a populista. A liberal é inspirada pelo liberalismo
ocidental, gravitando ao redor de noções do governo limitado,
direitos individuais, parlamentares e partidárias, um lugar para
os empresários na economia do mercado.

A estatista foca as questões do desenvolvimento, abraça


as bases da democracia clássica mas preocupa-se com o bem-
estar dentro do princípio que a democracia é um instrumento de
desenvolvimento. A populista desafia a universalidade dos
valores liberais e o autoritarismo das posições estatistas. Face
ao alto nível de pobreza em Moçambique e a sensação de
exclusão da vida política e do desenvolvimento sentida por uma
grande parte de grupos sociais e regiões no País agravado
pela situação de reconstrução pós guerra civil rumo a
reconciliação, a percepção é de que, em Moçambique,
democracia deve combinar as três perspectivas.

Bobbio (1992) levanta a questão dos ideais e natureza


pura da democracia. Enfatiza o hiato existente no contraste entre o
que foi prometido pelos políticos e o que efectivamente acontece.
Para o caso de Moçambique as promessas não são compridas, pois
depois das eleições de 1994 e 1999 permitiram aos eleitores
concluírem que os políticos somente beneficiam a si próprios: agem
com baixo grau de transparência na coisa pública, criando e
aumentando o espaço para o tráfico de influências e corrupção
contribuindo, consequentemente pouco para criar o desejado
desenvolvimento. Contudo a enorme dependência do País em
relação aos doadores internacionais também pode explicar as

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promessas eleitorais não cumpridas. Considera-se aqui que o


ajustamento macroeconómico, que as instituições financeiras
internacionais têm como modelo de macroeconomia, tem criado
crescimento, mas ainda não trouxeram o desenvolvimento inclusivo
que o cidadão gostaria de ver. Assim, os programas de ordem
macroeconómica constituem um factor a ser considerado na leitura
da democracia porque as condições nele impostas contribuem para
enfraquecer o Estado, tirando dos decisores políticos o seu papel
de tomar decisões de maneira soberana como os eleitores
gostariam de ver.

A comunidade internacional argumenta que a democracia


deveria ser uma e virtude não um constrangimento para
pavimentar o caminho do desenvolvimento, não constrangendo a
criação do bem-estar para a maioria e não excluindo cidadãos de
participar na coisa pública. A elite política percebe a democracia
ligando-a à valorização das instituições estatais, o sistema legal e
os procedimentos eleitorais ao longo das linhas da comunidade
internacional e o cidadão percebe-a ligando o bem-estar aos
elementos clássicos do conceito e ao alívio da pobreza,
adicionando novos elementos para a substância fundamental da
prática democrática. Para os cidadãos, a democracia deve
também abraçar conteúdos feitos concretos nas práticas das
instituições democráticas e nos actos de elite.

Para o caso de sociedade em processo de curar-se depois


de um conflito armado, as práticas democráticas devem implicar
também a reconciliação e a participação da sociedade civil na
coisa pública. Participação a fazer-se real na forma de fóruns
populares de consulta para questões de maior importância para a
maioria, tais como questão da terra para o caso de Moçambique
que produziu uma lei em 1977 amplamente debatida.

Para o caso de Moçambique, os valores democráticos não


estão ligados somente as urnas onde se depositam votos, mas
também duma sociedade civil vibrante, exigente e participativa.
De facto, um movimento social surgiu e esta a se consolidar

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gradualmente em Moçambique reivindicar o seu lugar para


participar na coisa pública e para dialogar com a comunidade
internacional. A questão que se pode levantar em relação a
Moçambique é: Será que são as eleições que estão a derramar
valores democráticos sobre a sociedade ou será a sociedade civil
organizada que está a exigir um comportamento mais democrático
da parte dos partidos políticos e dos órgãos eleitorais? Sobre esta
questão a resposta é positiva do ponto de vista da democracia
clássica formal, regulando o processo do ponto de vista legal
administrativo, criando instituições e fazendo-as funcionar a
contento.

Contudo, o processo eleitoral em Moçambique é tão


polarizado entre duas forças políticas que se opõem, o que leva o
cidadão comum a se distanciar do processo e ficar a assisti-lo de
fora, transformando-o num jogo quase privado para alguns
membros dos partidos políticos que representam cerca de 30% do
eleitorado que votou nas eleições de 2004.

A dimensão global do desenvolvimento económico


constrange a democracia, pois, enquanto a África tem que se
democratizar, os seus esforços são atrofiados por um sistema
económico internacional não democrático, no qual o continente
opera. Considerando a alta dependência económica de Países
como Moçambique em relação ao sistema económico internacional,
independentemente da habilidade de institucionalizar as
armadilhas da democracia, como argumentou Lamarchand
(1992:179), os Africanos ainda vão ter pouco a dizer sobre
formato do seu destino económico durante muito tempo.

Unidade Temática 7.2: Sociedade Civil e


Democracia
Bobbio (1995) identifica um aspecto de relevância para a
questão moçambicana no debate corrente sobre a sociedade civil
e democracia, principalmente quando o cidadão se afasta de

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actos cívicos de relevância para a consolidação de um processo de


reconciliação que teve início em 1992 com o Acordo Geral de Paz.
Trata-se da contraposição do Estado e da sociedade civil que
continua a ser de uso corrente, sinal de que reflecte uma situação
real, pois sociedade e Estado actual são como dois momentos
necessários, separados, mas contíguos, distintos mas
interdependentes, do sistema social na sua complexidade e na sua
articulação interna. Isto prescindido da consideração de que é o
Estado que faz a sociedade e da sociedade que se faz Estado são
contraditórios, pois a conclusão do primeiro conduziria ao Estado
sem sociedade, o Estado totalitário, e do segundo, a sociedade
sem Estado, isto é, a extinção do Estado. Entretanto, considerando
que os Estados em África cobrem mais do que os grupos
formalmente educados dos circuitos urbanos, o conceito de
sociedade civil tem que ser operacionalizado considerando este
contexto.

No contexto pós colonial em África o Estado precedeu a


Nação (o território onde existe um sentido um sentido comum de
pertença a uma cultura comum, ou cultura dominante). Esta
realidade leva que a sociedade civil seja determinada primeiro e
acima de tudo na sua relação com a construção do Estado.
(Chabal, 1994) oferece uma definição de sociedade civil que se
coaduna com este contexto. Ela consiste não somente do que não é
obviamente parte do Estado, mas também de todos os que se
tornaram sem poder por terem sido privados dos seus direitos civis.
O conceito de sociedade civil operacional para Moçambique, tanto
para o meio urbano como rural, mesmo se os actos de participação
cívica realizados pela sociedade civil urbana aparecem mais
visíveis aos olhos da comunidade internacional, que os da
sociedade civil de base rural (Lundin, 2001). De facto:

1. A elite tradicional e activa nas áreas rurais é parte de


sociedade civil em Moçambique, um grupo social vibrante em
forma de participação em movimentos sociais e associações criadas
para lutar pelos direitos cívicos ligados a questão da terra, por

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exemplo, e aos recursos florestais e pesqueiros, e comercio nas


áreas rurais.

2. A sociedade civil é activa nas áreas urbanas, em


pequenas vilas e povoações, onde movimentos de carácter étnico
local têm sido criados visando o local.

3. Nos centros urbanos os movimentos sociais são também


activos em Moçambique como sociedade civil. Grupos de cidadãos
congregados por interesses comuns e um programa político
desenhado para o efeito apresentarem-se as eleições municipais
em 1998 e 2003.

4. A consciência da fragilidade das situações de pós-


conflito levou a que movimentos da sociedade civil estejam a
desempenhar um papel pró-activo na vida política moçambicana,
no sentido de prevenir conflitos ao nível comunitário e nacional,
monitorando os actos do governo e acompanhado de perto mais
especificamente os processos eleitorais.

Sendo assim, a sociedade civil é um corpo que congrega


cidadãos que se faz mais forte em interacção com o Estado, um
conjunto de indivíduos para solidificar a democracia. E, neste
estado de coisas, a percepção é a de que quanto mais forte é a
sociedade civil mais forte se faz o Estado, mas quando o individuo
se ausenta dos actos cívicos, ele enfraquece a cidadania e a
sociedade civil fica mais débil, uma equação negativa que chega a
por em cheque as instituições estatais.

Unidade Temática 7.3 Campanha eleitoral,


eleições e ausência do eleitorado
A campanha política eleitoral inicia com uma pré-
campanha, antes de entrar na campanha propriamente dita. Os
candidatos iniciam visitando as províncias do País depois de
nomeado oficialmente como candidato com a finalidade de se
fazer conhecer ao público como líder do partido e mostrando a
sua face a população. A construção e divulgação da imagem no

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período pré eleitoral depende das condições materiais do Partido


do candidato, por isso esta actividade pode ser desenvolvida em
mais tempo ou menos tempo.

Durante a campanha eleitoral, os partidos e coligações de


partidos recebem fundos do orçamento do Estado de acordo com a
Lei e os canais públicos de comunicação (TVM e RM)
disponibilizaram o espaço eleitoral conforme a Lei. Geralmente
este período é marcado por violência por parte dos militantes a
envolverem-se em escaramuças, principalmente para as principais
forcas política (Frelimo e Renamo).

Em Moçambique, os processos eleitorais têm sido marcadas pela


resignação ao processo caracterizada por uma abstenção massiva
que chega a atingir 80% (caso das eleições de 2004) fazendo do
candidato vencedor representativo somente em 20% da
população eleitoral do País. É certo que não existe provisão na lei
eleitoral para validar ou não resultados eleitorais consoante a
percentagem de votantes, dai os resultados validos
independentemente da percentagem que comparece ao acto
eleitoral.

Entretanto, do ponto de vista da democracia representativa, o


facto constitui um problema a ser tratado no futuro por reflexão
participativa congregando os órgãos eleitorais, o legislativo e o
judiciário, e a sociedade civil no geral, porque numa democracia o
vencedor deve representar a vontade de uma maioria que se faz
presente no acto eleitoral e não ser expressão da ausência desta
alta taxa de abstenção. De salientar que os eleitores registados
não votaram em áreas onde a Renamo foi tradicionalmente mais
forte em 1994 e 1999. No entanto esta abstenção pode tanto ser
imputada aos órgãos eleitorais por não terem organizado bem o
processo eleitoral, criando as condições necessárias para o eleitor
votar, como a Renamo-UE, por não ter conseguido mobilizar o seu
eleitorado para votar.

Podemos ler a razão de alta taxa de abstenção sob um prisma


normativo e prisma político económico. Sob o primo normativo,

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conforme sublinhado pelo Conselho Constitucional, as normas e


procedimentos da lei eleitoral não facilitaram o processo; a
questão da documentação exigida para o voto constitui um
constrangimento, nota se que para se registar um eleitor poderia
se identificar se pelo bilhete de identidade ou passaporte; a
imprecisão da informação contida nos cadernos eleitorais e sua
deslocação para fora de onde deveria originalmente estar
posicionado; a distância entre as mesas de voto nas áreas rurais se
constitui como uma razão para não participação na votação; não
está claro para todos os funcionários de mesa e para todos os
jornalistas que podem votar onde estejam a cumprir as suas
tarefas laborais durante o acto eleitoral; há falta de um código de
ética e conduta estrito para os órgãos eleitorais, para cumprirem
prazos e para tratar todos os candidatos e forças políticas de
maneira igual; há falta de boas práticas para regular o
comportamento das forças policiais durante o processo eleitoral;
há falta de boas práticas no sentido de sancionar o erro do actor
infractor (politico, funcionário público administrativo, órgão
eleitoral, força policial) durante o processo e; não há protecção
maior ao cidadão eleitor durante o acto eleitoral.

Olhando as abstenções do ponto de vista económico pode resultar


da existência em Moçambique de uma incongruência entre
crescimento e desenvolvimento e, o cidadão comum ressente-se do
facto do primeiro não estar a levar ao segundo como seria de
desejar, tudo porque Moçambique deixou-se flutuar ao longo
tempo das leis do mercado.

Olhando sob o prima político-económico constata-se que as


eleições democráticas estão a ter lugar em Moçambique
regularmente desde 1994; entretanto, o grande público não
consegue ver mudanças positivas no comportamento do político,
pelo contrário. Os que tem o poder tornam-se corruptos tão cedo
quando atingem um cargo político de relevo e o cidadão comum
não vê medidas legais a serem adaptadas para explicar esta
riqueza, alguma dela de proveniência questionável e duvidosa; O
perfil dos candidatos não oferece alternativas aos olhos de muitos,

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pois estes atingem o poder e não vemos nada a melhor se não a


vida deles próprios; O uso abusivo dos meios de Estado,
principalmente em zonas muito pobres, onde por exemplo uma
ambulância chega a não ter combustível para levar doentes a um
hospital provincial porque a mesma viatura esteve com o chefe
durante o final de semana. As longas distancias que a população
continua a percorrer para encontrar um posto de saúde que os
salve vida ou traga uma vida ao mundo. Isto tudo gera resignação
no povo levando às abstenções.

Sob o prisma político de governação nota-se uma prática


governativa pouco satisfatória aos olhos do cidadão e a corrupção
crescente que no imaginário colectivo envolve principalmente os
políticos e os governantes contribuem para distanciar o cidadão do
exercício do direito cívico do voto. Existe um fosso entre o que o
cidadão gostaria de ver na governação e o que acontece de facto
no seu contacto, quando existe com o Estado. De facto, o processo
democrático ainda não observou o indivíduo comum como este
gostaria nos actos da governação. O desencanto com a prática
governativa, por esta estar ligada a corrupção no imaginário
colectivo, é notório no seguinte argumento: “eu não vou votar para
não estar a contribuir para criar mais corruptos.”

Do ponto de vista sócio-antropológico mostra que tudo indica que


votaram os militantes e poucos simpatizantes partidários. De facto,
a cultura guia a vida dos indivíduos, seja o homem comum, seja o
intelectual que no seu dia-a-dia é tão ou mais dos comuns. Sendo
assim, quando o discurso político não toca o âmago da cultura local
torna-se difícil levar o indivíduo a engajar-se na acção,
independentemente, se esta mesma acção pode mudar a sua vida.
Sob o primo dos slogans usados pelos principais partidos, tudo
indica que o conceito de mudança, usado tanto pela Frelimo como
pela Renamo, confundiu o eleitor. A “força da mudança “e a
mudança tranquila”, respectivamente, parece não ter sido
devidamente entendidas pelos eleitores, levando a ausência pelo
questionamento, com alguma base filosófica.

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Sob o prisma do excesso de (des) confiança constata-se que o


excesso de confiança e de desconfiança também contribuiu para
abstenção, convidando a uma reflexão tanto para os partidos
políticos como para os órgãos eleitorais, pois alguns eleitores têm
uma confiança de que o candidato ira vencer o pleito eleitoral.
Para os militantes da oposição já sentem-se fartos de votar num
candidato que nunca vence as eleições. Muitos eleitores têm baixa
confiança nos órgãos eleitorais, independentemente de terem mais
inclinação para o partido no poder ou para oposição.

Sumário
Na Unidade temática 7, discutimos fundamentalmente sobre
eleições e democracia em Moçambique: Um eleitorado ausente
onde são focados aspectos como Democracia e Sociedade civil e
Democracia do ponto de vista conceitual e características gerais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. Apresente os elementos que caracterizam um Estado democrático.
2. Descreve as perspectivas democráticas segundo Shiviji
3. Comente a afirmação: “Em Moçambique, as promessas eleitorais não
são cumpridas
4. Que percepções tem os políticos e cidadãos sobre a democracia?
5. O processo eleitoral em Moçambique está polarizado. Que
consequência advém da polarização do processo eleitoral em
Moçambique?
6. Explica como é que o desenvolvimento económico constitui um
elemento constrangedor do processo democrático.
7. Apresente as manifestações da sociedade civil no meio urbano e rural.
8. O que entendes por sociedade civil?
9. Explique a relação existente entre sociedade civil e o Estado.
10. Que finalidade tem a campanha pré-eleitoral?
11. O que caracteriza o período da campanha eleitoral?

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12. Identifique os prováveis responsáveis pelas abstenções nas eleições de


1999.
13. De forma resumida, apresente os factores das abstenções nos pleitos
eleitorais nacionais. Destes, enquadre-os com a realidade da sua
comunidade de origem.

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TEMA – VIII: A teoria da dinâmica da opinião pública de


John R. Zaller
Unidade Tematica 8.1: A teoria da dinâmica da opinião pública
de John R. Zaller
Unidade Temática 8.2: Os factores básicos do Modelo de Zaller
Unidade Temática 8.3: Os Diferentes níveis de exposição à
mídia
Unidade Temática 8.4: As Predisposições políticas e a recepção
das mensagens
Unidade Temática 8.5: Dois testes iniciais do Modelo de Zaller
Unidade Temática 8.6: Um modelo generalizável

Introdução
Esta unidade procura explicar o contributo de John R. Zaller no
campo político, pois ele desenvolveu uma teoria da dinâmica da
opinião pública formalizada em um modelo estatístico para o
estudo dos efeitos da mídia sobre o comportamento e as atitudes
políticas. Zaller pretendia discutir como as elites políticas,
jornalistas e políticos em especial, moldavam as pessoas, mas
posteriormente, ele redefiniu a sua análise para uma
demonstração de como os meios de comunicação de massa
afectavam e causavam mudanças nas preferências dos eleitores.
As suas ideias hoje constituem uma referência obrigatória para os
pesquisadores do campo de estudos de comunicação política,
especialmente os interessados nos efeitos da mídia durante as
eleições.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Descrever a teoria da dinâmica da opinião pública de John R. Zaller


 Explicar os factores básicos do Modelo de Zaller e os Diferentes
níveis de exposição à mídia.
Objectivos
 Analisar as Predisposições políticas e a recepção das mensagens

 Analisar a aplicabilidade da teoria de Zaller a partir de dois


testes iniciais do Modelo

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Unidade Temática 8.1. A teoria da dinâmica


da opinião pública de John R. Zaller
Em 1993, Bartels escreveu um artigo em que chamou a
atenção para a grande dificuldade empírica que, até então, os
cientistas sociais vinham encontrando para demonstrar a existência
e a extensão dos efeitos da mídia. Isso representava uma fonte de
grande constrangimento para os pesquisadores interessados no
assunto, além da impossibilidade de se derrubar definitivamente a
tese dos efeitos limitados (Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, 1948
[1944]).
Segundo ele, as principais causas desse problema eram os
desenhos de pesquisa inadequados e os modelos estatísticos
limitados. Para sair desse dilema, seria preciso rever alguns
pressupostos teóricos e desenvolver novos modelos capazes de
realmente medir a influência da mídia sobre os eleitores (Bartels,
1993).
É neste contexto que John R. Zaller desenvolve uma teoria
da dinâmica da opinião pública, formalizada em um modelo
estatístico, para o estudo dos efeitos da mídia sobre o
comportamento e as atitudes políticas. Inicialmente, seu objectivo
era discutir como as “elites políticas”, jornalistas e políticos em
especial, moldavam a “cabeça das pessoas”. Posteriormente, ele
redefiniu a sua análise para uma demonstração de como os meios
de comunicação de massa afectam e causam mudanças nas
preferências dos eleitores: “mas essa diferença é de certa forma
estilística, uma vez que políticos e jornalista se comunicam com o
público principalmente pelos meios de comunicação de massa”
(Zaller, 1996).
A partir dessa teoria, Zaller introduz uma ambiciosa
tentativa de “quebrar”, quiçá definitivamente, com a “velha”
tradição dos efeitos limitados: “ao menos nos domínios da
comunicação política, [argumento que] a verdadeira magnitude

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dos efeitos persuasivos dos meios de comunicação é mais próxima


de 'massivo' do que de 'pequenos e negligenciáveis' e que a
frequência com tais efeitos ocorrem é 'sempre'” (Zaller, 1996).
O objectivo deste artigo é apresentar os pressupostos
fundamentais da teoria da opinião pública de Zaller. Espero, com
isso, suprir uma lacuna teórica importante dos estudos sobre
opinião pública e mídia e eleições. Considero este um
procedimento de suma importância por, pelo menos, quatro razões.
Em primeiro lugar, porque Zaller apresenta uma teoria que
realmente explica por que a opinião pública muda, seguindo
principalmente os fluxos de mensagens provenientes da mídia.

Como o próprio autor (1992) escreveu: “o elemento


dinâmico do meu argumento (...) é a cobertura que os meios de
comunicação fazem dos assuntos públicos”, e “o que importa para
a formação das opiniões de massa é o relativo equilíbrio e a
quantidade geral da atenção da mídia a posições políticas
opostas”. Em segundo lugar, a teoria de Zaller tem um enfoque
integrativo. Embora seja, essencialmente, um trabalho de Ciência
Política, na sua última fase o autor buscou colocá-la em contacto
com uma “importante e relativamente diferente tradição
intelectual, a dos estudos de Comunicação” (Zaller, 1996). Com
isso, ele constrói uma ligação entre dois campos de pesquisa, os do
comportamento eleitoral e mídias.

Consequentemente, e essa é uma terceira vantagem, Zaller


traz os meios de comunicação para a análise dos processos de
decisões políticas, entre eles o voto, com resultados analíticos e
interpretativos muito positivos, como pode ser visto, por exemplo,
nos artigos de Zaller e Hunt (1994, 1995) sobre Ross Perot,
candidato independente à presidência dos EUA, nas eleições de
1992. Finalmente, a teoria de Zaller também oferece uma resposta
à pergunta de Gelman e King (1993): “se as eleições são tão
previsíveis, por que as intenções de voto variam tanto”? Elas
variam porque o conteúdo e a forma dos fluxos de informação
provenientes da mídia acompanham, e ajudam a interpretar, as

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Comportamento Política

mudanças das condições económicas, sociais e políticas que


ocorrem de tempos em tempos. Às vezes, como no caso dos
escândalos políticos, a mídia é um componente fundamental dessas
transformações. Por isso, ao responderem se aprovam ou não o
desempenho de um governante, ou em quem votariam se as
eleições fossem hoje, os eleitores levam em conta não apenas a
avaliação das condições do país, e de suas próprias condições
pessoais, mas também as informações e interpretações que eles
receberam da mídia e que os ajudaram a formar suas opiniões.

A teoria da dinâmica da opinião pública de Zaller esta


ligada à formalização um modelo estatístico, testado
empiricamente. Por isso, a partir de agora irei me referir a ela
como “modelo de Zaller”. Mas, em benefício da simplicidade, não
irei introduzir as suas deduções algébricas, presentes em
basicamente todos os textos do autor. Isso não diminui em nada a
complexidade da discussão.

Unidade Temática 8.2. Os factores básicos


do Modelo de Zaller
A premissa básica do modelo de Zaller (1996) é que “as
pessoas são influenciadas pela mídia na proporção da quantidade
de conteúdo que recebem”. Contudo, ao menos três factores
interferem na relação entre as mensagens mediáticas e os
indivíduos (Zaller, 1992): (1) os fluxos de informação, ou seja,
variações, no nível agregado, das informações presentes nos
discursos das elites políticas, contendo, inclusive, pistas sobre como
essas informações devem ser avaliadas; (2) os diferentes níveis de
exposição à mídia dos eleitores; e (3) suas predisposições políticas,
que funcionam como mecanismos de resistência às mensagens. A
seguir, apresento cada um desses factores em detalhe, para
depois discutir como, tomados em conjunto, eles determinam a
extensão e a forma dos efeitos mediáticos.

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Comportamento Política

Sobre a Dinâmica dos Fluxos de Informação Zaller utiliza o


termo fluxos de informação para se referir ao elemento dinâmico
do seu modelo: o conteúdo dos meios noticiosos sobre temas
políticos ou de interesse público. Ele é dinâmico porque essa é uma
característica da cobertura diária que a imprensa faz dos assuntos
e acontecimentos de um dado país ou do mundo. Outro factor de
dinamismo tem a ver com interpretação das questões julgadas de
interesse público pelos jornalistas. A informação nunca é pura
(Zaller, 1992).
Mesmo que haja a tentativa de imparcialidade, quase
sempre existe um viés na cobertura. Certos eventos ou
acontecimentos podem não ser enquadrados de maneira neutra,
como por exemplo escândalos ou conflitos internacionais. E alguns
temas podem apresentar diferentes níveis de controvérsias entre as
elites políticas.
Os fluxos de informação geralmente não são homogéneos,
mas multifacetados, pois trazem mensagens que competem entre si,
mesmo que, em certos momentos, umas sejam ou mais fortes, ou
mais enfatizadas, ou mais difundidas do que outras (Zaller). Se a
intensidade das mensagens sobre certos temas ou assuntos for
equilibrada, provavelmente não haverá mudança substantiva na
opinião pública. Ou, pelo menos, a mudança não poderá ser
observada empiricamente. Os efeitos das mensagens irão anular
uns aos outros, “de modo a produzir ilusão de impactos modestos”
(Zaller, 1996) ou inexistentes.
Contudo, dependendo do momento político e do assunto
que está em evidência, a intensidade dos fluxos de informação
pode ser bastante diferente. Ela pode, por exemplo, pender
positivamente para um lado e negativamente para o outro, ou dar
mais espaço para uma posição política do que outra, ou
apresentar um alto nível de consenso entre as elites políticas.
Nessas situações, em que uma mensagem é “repetida com mais
frequência ou em mais lugares ou com maior saliência do que a
outra” (Zaller, 1996, p.22), aquela com maior força (loudness)
tende a prevalecer. É justamente nesses momentos que se espera
observar algum tipo de influência damídia. Essas observações

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gerais sobre os fluxos de informação são facilmente aplicáveis aos


casos mais específicos das eleições, já que estas são uma disputa
comunicacional entre partidos e/ou candidatos que acontece
principalmente através da cobertura da imprensa (Shaw, 1999 e
Shaw e Roberts, 2000).
Os fluxos de informação e a sua dinâmica são importantes
porque determinam quais mensagens estarão disponíveis, em que
quantidade, tom e enquadramento, além de como os eleitores
poderão responder a elas. Dito de outro modo, ao cobrir a disputa
eleitoral, exercer o papel vigilância das acções dos governos e
realizar o escrutínio dos candidatos, os meios noticiosos oferecem
informações que poderão ser utilizadas pelos eleitores para
formar opiniões e tomar decisões (Patterson, 1994). Desse modo,
qualquer análise sobre o papel da influência da cobertura da
imprensa, numa eleição, deve começar com uma descrição da
dinâmica dos seus fluxos informacionais.

Unidade Temática 8.3. Os Diferentes níveis


de exposição à mídia
A extensão e a forma dos efeitos dos fluxos de informação
são condicionadas pelo nível de exposição dos eleitores à mídia.
Dito de maneira simples, como as pessoas não se expõem aos
meios de comunicação da mesma maneira (Converse, 1962 e
McKuen, 1984), não podem ser, e nem são, igualmente
influenciados por eles (Zaller, 1991).
Mas tal condição é geralmente deixada de lado nas
pesquisas sobre efeitos da mídia: “quando tentam explicar os
comportamentos e as atitudes políticas, os pesquisadores constroem
modelos que implicitamente assumem que todos os cidadãos são
adequados e igualmente informados sobre política (...). Em outras
palavras, eles constroem modelos que ignoram os efeitos da
atenção política” (Zaller, 1992). Zaller e Price (1993) argumentam,
convincentemente, que o melhor indicador para exposição, seguida
da recepção, à mídia é um índice de atenção política construído a

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partir de perguntas neutras como qual é o nome do governador da


província” ou qual o partido do presidente da República. Eles
mostram, inclusive, que este índice funciona melhor do que os níveis
de exposição auto declarados aos meios de comunicação –
quantas vezes por semana o Sr. (a) lê jornal, etc.

Deve-se ressaltar que a escolaridade é o segundo melhor


indicador de exposição, seguida da recepção, à mídia (Zaller e
Price, 1993). É importante ter em mente que são os fluxos de
informação sobre assuntos públicos e políticos que estão em pauta.
E estes são pouco atraentes para a grande parcela da população,
seja por desinteresse (Lazarsfeld, Berelson e Gaudet, 1948), seja
pelos custos cognitivos (Downs, 1999). Por isso, a exposição aos
meios noticiosos cresce, à medida que aumentam o nível atenção
política ou escolaridade dos eleitores.
Essa associação tende a diminuir à medida que essas
características demográficas também diminuem. Portanto, a forma
e a extensão dos efeitos da mídia são condicionados, não apenas
pela natureza dos fluxos de informação, mas também pelos
diferentes níveis de exposição das pessoas ao conteúdo dos meios
de comunicação.

Unidade Temática 8.4. As Predisposições


políticas e a recepção das mensagens
Como argumentou Zaller (1992), os diferentes níveis de
exposição à mídia explicam apenas uma parte da variação das
opiniões dos eleitores. Isso porque “os cidadãos são mais do que
receptores passivos, pois eles possuem uma variedade de
interesses, valores, e experiências que podem afectar
grandemente suas disposições em aceitar ou resistir às mensagens
persuasivas”.
As predisposições políticas dos eleitores, como por exemplo
identidades partidárias e ideologias, regulam a aceitação, ou não,
das informações que recebem dos meios de comunicação. De que
maneira os diferentes níveis de exposição dos eleitores e suas

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predisposições políticas estão interligadas, gerando, ou não, a


diferentes efeitos da mídia? Seguindo a tradição de pesquisas
anteriores segundo Zaller (1991) argumenta que as pessoas mais
expostas à mídia são, em geral, as menos influenciáveis, pois
possuem tanto o conhecimento contextual suficiente para perceber
a relação entre o conteúdo das mensagens e seus próprios valores,
interesses e crenças, quanto estão expostas a fluxos de informação
que competem entre si.

Em todo caso, elas podem aderir fortemente a um fluxo de


informação, caso suas predisposições políticas não funcionem como
uma espécie de muro de contenção, ou quando não existe
divergência entre as elites políticas.
Os eleitores com baixo nível de atenção política ou
escolaridade possuem mecanismos de resistência pouco
desenvolvidos, e por isso são, de fato, mais vulneráveis à influência
da mídia. Contudo, eles são influenciados com menos frequência
porque, como sabemos, têm baixa exposição às informações
políticas. Apenas nas situações em que os fluxos informacionais são
fortes o suficiente para alcançá-los, como nas eleições
presidenciais, é que se torna possível observar efeitos mediáticos
substantivos junto a esse grupo de pessoas (Zaller, 1991).

Os eleitores mais propensos à influência da mídia são


aqueles que, justamente, a utilizam como instrumento de obtenção
de informações políticas, mas cujos mecanismos de resistência são
mais frágeis. Este grupo é melhor caracterizado pelas pessoas com
nível moderado de atenção política ou escolaridade (Zaller, 1991,
p.1216).
Efeitos de mídia substantivos podem ser observados junto a
esses eleitores, mesmo quando os fluxos de informação disponíveis
na sociedade não são intensos. Tomados em conjunto, os fluxos de
informação, os diferentes níveis de exposição à mídia e as
predisposições políticas determinam a extensão e a forma dos
efeitos mediáticos. Por exemplo, quando a cobertura da imprensa
sobre um determinado assunto possui indicadores claros de viés

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ideológico esquerda-direita, o efeito esperado é o de


“polarização”, especialmente à medida que aumentam a atenção
política ou a escolaridade dos eleitores. O efeito contrário, ou um
efeito de “convergência”, acontece quando há um consenso no
discurso das elites políticas (Zaller, 1992). Os efeitos práticos da
interacção entre esses três factores ficam mais claros na discussão
a seguir, em que o modelo de Zaller, e/ou alguns de seus insights
foram utilizados na analise de casos concretos.

Unidade Temática 8.5. Dois testes iniciais do


Modelo de Zaller
Zaller apresenta diversas demonstrações empíricas
convincentes de seu modelo. O apoio inicial da imprensa à Guerra
do Vietnã, entre 1965-1970, fez com que mesmo eleitores de
matizes ideológicas diferentes (falcões e pombos) concordassem
com a intervenção americana. Como esperado, esse apoio da
opinião pública crescia à medida que aumentava o nível de
atenção política. Esse é um claro exemplo de um “efeito de
convergência” da mídia sobre os eleitores. As predisposições
políticas não funcionaram como barreiras de contenção e apenas
seguiram a natureza dos fluxos de informação que predominavam
no momento.

Após 1970, o aumento do número de mensagens contrárias


à guerra não apenas fez com que uma parcela dos eleitores mais
informados passasse para a oposição, como também gerou um
“efeito de polarização” entre as pessoas de posicionamentos
ideológicos distintos: agora, o apoio dos “falcões” continuava alto
e ainda crescia substantivamente à medida que também crescia a
atenção política. Justamente o contrário ocorria com os “pombos”,
que passaram a não concordar com o conflito entre os EUA e o
Vietnã. Essa divergência era mais forte entre os americanos com
maiores níveis de atenção política.

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Em relação às eleições, é ilustrativo o excelente trabalho de


Zaller e Hunt (1994, 1995) sobre a trajectória de Ross Perot nas
eleições presidenciais americanas de 1992. Em um determinado
período da campanha, ele chegou a ter 37% das intenções de
voto. Seu sucesso inicial deveu-se, sobretudo, à eficiência de suas
comunicações políticas e ao fluxo positivo de notícias que recebeu
da imprensa no primeiro semestre do ano.
Isso aconteceu porque os jornalistas estavam mais
interessados em explicar como um candidato até então
desconhecido, e que não pertencia a nenhum dos dois partidos
tradicionais, conseguiu tornar-se eleitoralmente competitivo. Assim
que se tornou realmente competitivo, Perot passou a ser alvo do
mesmo escrutínio da imprensa que os outros candidatos. Como não
soube responder bem a esse novo momento, demonstrando,
inclusive, irritação com muitas perguntas e dando a entender que
tinha uma personalidade explosiva e arrogante, os fluxos de
informação a seu respeito passaram a ser predominantemente
negativos.
No fim das contas, ele perdeu votos suficientes para fazê-lo
desistir da disputa e retirar a sua candidatura. O argumento
central, portanto, é que os sucessos e fracassos da candidatura de
Perot estiveram directamente ligados aos fluxos de informação da
cobertura da imprensa.
Se, em um primeiro momento, ela ajudou-o a obter votos,
em um segundo fez com que ele os perdesse. Mas um fator
importante contribuiu para tornar os efeitos da mídia ainda mais
salientes em relação a Perot. Como ele era um candidato
independente, alguns dos mecanismos de resistência tradicionais
não actuaram como fonte de resistência junto aos eleitores,
especialmente entre de maior escolaridade, que foram mais
afectadas pelas informações disponibilizadas nos meios noticiosos.

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Unidade Temática 8.6. Um modelo


generalizável
Os dois exemplos acima dizem respeito ao cenário político
americano. Uma dúvida bastante plausível é se o modelo de
Zaller, e seus insights interpretativos aplicam-se a outros contextos?
A resposta de Zaller é positiva: “não há razão para acreditar que
o modelo se aplica somente aos Estados Unidos. Ele é um modelo
totalmente generalizável e desse modo, deveria se aplicar em
qualquer situação em que a opinião pública se forma e muda em
resposta à difusão das comunicações políticas” (Zaller, 1992).
O próprio Zaller buscou apresentar evidências que
sustentassem essa afirmação. Geddes e Zaller (1989) utilizaram o
mesmo modelo para explicar o apoio a algumas políticas do
governo militar no Brasil. Em meados dos anos 1970, no auge da
repressão, tal apoio era mais alto entre os brasileiros com um nível
moderado de atenção política, e caía quando esta aumentava. Isso
era reflexo do controle das notícias ao público, exercido pelas
autoridades.
Contudo, mesmo com a censura dos meios de comunicação,
seja de informações políticas ou de entretenimento, as pessoas com
maior exposição à mídia ainda tinham possibilidade de contacto
com fluxos de informação contrários e críticos ao regime. Essas
mesmas pessoas também eram mais propícias a resistirem às
mensagens hegemónicas do período, graças à actuação de suas
predisposições políticas: “no Brasil autoritário, muitos cidadãos
mantiveram o acesso a livros e a publicações de menor circulação
como a imprensa clandestina que continham valores alternativos ao
governo ditatorial; alguns também se lembravam dos valores
democráticos dos regimes anteriores”.
Vreese e Boomgaarden (2006), “seguindo as ideias de
Zaller”, analisaram o efeito da cobertura dos jornais e telejornais
sobre o debate em torno da ampliação da União Europeia. O
interessante desse estudo é sua base comparativa dos contextos
políticos da Holanda e da Dinamarca. Enquanto, no primeiro país,

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a cobertura foi equilibrada, no segundo ela teve um viés a favor


da ampliação. Onde houve equilíbrio, não se encontraram
evidências de efeito da mídia. Onde a cobertura foi enviesada,
dois tipos de efeito foram identificados: a opinião dos eleitores de
menor sofisticação política foi afectada apenas pelos fluxos de
informação da mídia; e a opinião dos eleitores de maior
sofisticação política foi afectada somente pelas comunicações
interpessoais. Esses achados levaram os autores a concluírem o
seguinte: “nosso estudo aponta para a importância de integrar
comunicações de massa e interpessoais e de diferenciar os efeitos
da mídia em diferentesgrupos de cidadãos”.

Esse segundo ponto é de suma importância porque, a partir


do modelo de Zaller, tornou-se básico distinguir o modo como
diferentes tipos de eleitores se relacionam com a mídia. Dito de
outro modo, tornou-se básico estabelecer controlos para o tipo de
exposição (alta, média, baixa) dos eleitores, ou que tipo de jornais
eles lêem (conservador, liberal, independente), que rede de
televisão (pública, privada) eles assistem, se eles tiveram interesse
(muito, pouco, nenhum) em acompanhar a campanha política, etc.
Do ponto de vista empírico, isso é importante porque a separação
do eleitorado – ou da audiência – por grupos leva ao
aparecimento de efeitos mediáticos que não seriam encontrados se
ele fosse analisado de maneira agregada.

Muitos estudos que levaram em conta essas diferenças


apresentaram resultados substantivos. Dobrzynska, Blais e Nadeau
(2003, p.38) mostraram que a cobertura da mídia nas eleições
canadenses de 1997 teve um efeito “directo e significativo nas
intenções de voto (...) daqueles indivíduos altamente atentos [à
mídia] e que decidiram em quem votar durante a campanha”.
Gavin e Sanders (2003) descobriram que os jornais tradicionais
afectavam apenas as expectativas económicas dos eleitores das
classes mais altas, enquanto os tablóides somente interferiam nas
dos eleitores das classes mais baixas. Newton e Brynin (2001)
demonstraram que ser leitor de um jornal de inclinações

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trabalhistas era um dos factores que diminuía as chances de se


votar nos conservadores, e vice-versa, nas eleições britânicas de
1992 e 1997. Dalton, Beck e Huckfeldt (1998) identificaram o
efeito das reportagens e dos editoriais dos jornais americanos no
voto dos eleitores com um nível de interesse médio sobre a
campanha.
Em relação à televisão, Vreese e Semetko (2004)
obtiveram associações estatísticas significativas entre o voto dos
eleitores e o tipo de fontes de informação a que eles estavam
expostos, no caso um canal público e um privado de televisão,
durante o plebiscito do Euro na Dinamarca em 2000. Com base
nos dados de um painel realizado para a eleição presidencial
mexicana de 1997, Lawson (2002) encontrou evidências
substantivas de que a cobertura mais equilibrada da Televisa,
principal emissora de televisão do país, teve um impacto
importante na avaliação negativa dos eleitores sobre o partido da
situação, o Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Em um painel realizado durante as eleições mexicanas de
2000, Lawson e McCann (2005) identificaram que os eleitores
expostos à TV Azteca tinham mais chances de votar e de avaliar
positivamente os candidatos da oposição, especialmente Vicente
Fox (PAN), do Partido Acção Nacional (PAN), em relação aos
telespectadores da Televisa. Todos esses trabalhos mostram que o
modelo de Zaller e seus três factores fundamentais aplicam-se a
contextos políticos de outros países.

Sumário
Nesta unidade temática, discutimos fundamentalmente sobre o
contexto e objectivo de desenvolvimento da teoria de Zaller,
vantagens de estudar a teoria da opinião pública em Zaller, os
factores que interferem na relação entre mensagens mediáticas e
os indivíduos, os factores da dinâmica do fluxo de informação de
forma multifacetada, os indicadores de exposição aos fluxos de

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informação, testes da teoria de Zaller para sua aplicação e a


demonstração da aplicação desta teoria.

Exercícios de auto avaliação


1. Refira-se ao contexto em que se desenvolveu a teoria da
dinâmica da opinião pública para estudo dos efeitos da média
no comportamento eleitoral.
2. Apresente os objectivos da análise de Zaller.
3. Quais as vantagens de estudar a teoria da opinião pública em
Zaller.
4. Descreve os factores que interferem na relação as mensagens
mediáticas e os indivíduos.
5. Mencione os factores da dinâmica dos fluxos de informação.
6. Explica por que é que os fluxos de informação são
multifacetados e não homogéneos.
7. Explica por que é que os fluxos de informação podem ser
bastante diferentes.
8. Que importância tem os fluxos de informação.
9. De que depende a extensão e a forma dos efeitos dos fluxos
de informação.
10. Refira-se aos indicadores de exposição aos fluxos de
informação.
11. O que condiciona a forma e a extensão dos efeitos da mídia?
12. Explica por que é que os diferentes níveis de exposição á
mídia explicam somente parte da variação da opinião pública?
13. De que depende a aceitação da informações recebidas dos
mídia?
14. Por que é que as pessoas mais expostas à mídia são as menos
influenciáveis.
15. Identifique os eleitores propensos e não propensos a mídia.
Justifique a tua resposta.

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TEMA – IX: Democracia, eleições e mídias: o caso das eleições de 2004

Unidade Tematica 9.1: Democracia, eleições


e mídias: o caso das eleições de 2004

Introdução
Esta unidade pretende dotar aos estudantes ferramentas sobre o
processo democrático em Moçambique, especificamente com as
eleições de 2004 e a relação desta com mídias.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar as causas de déficite da democracia em alguns


países;

Objectivos  Descrever o papel da mídia nas eleições e as consequências


da sua utilização;

 Analisar a tendência da mídia durante as eleições.

Unidade Tematica 9.1. Democracia, eleições


e mídia: o caso das eleições de 2004
A democracia é a construção contínua da liberdade. Por isso, ela
exige de todos nós um costume ou até uma espiritualidade da
liberdade, que se realiza no amor, na solidariedade e no costume
profissional, e, ultimamente, no patriotismo da liberdade.
De acordo com o autor citando (Carothers, 2002:127), disse que a
onda de democratização, que se estendeu por todo o mundo foi
assumida por muitos como sendo um paradigma universal de
transição de regimes autoritários para os pluralistas e sua
consolidação.

Com efeito, apesar de haver indícios importantes dum regime


democrático, tais como um espaço político para os partidos de

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Comportamento Política

oposição, uma sociedade civil relativamente independente, bem


como eleições regulares e uma constituição democrática,
Moçambique parece apresentar ainda um sério défice democrático
transparente numa fraca representação dos interesses dos
cidadãos, baixos níveis de participação política, baixo nível de
confiança dos cidadãos nas instituições do Estado e constante fraco
desempenho das instituições do Estado.

O processo de transição política em Moçambique, o país conseguiu


fazer a passagem não só da guerra para a paz, como também do
autoritarismo para a democracia.

A mídia tem um papel importante não só na promoção da


transparência e participação na vida política, elementos essenciais
à democracia mas também foram importantes no mercado que
passa pela aprovação de formas dinâmicas de produção da
notícia e da sua consolidação como porta-vozes provável da
realidade; moldar a opinião pública, usando as formas que
mudam o pensamento da autoridade suprema.

De acordo com o autor citando Negreiro (2003:131) chamava


atenção ao facto de os mídia não serem apenas um poder auxiliar,
conforme se assume quando são denominados de quarto poder.
Era papel dos media fornecer os temas sobre os quais o
público/eleitor deviam pensar mas também serviam de
mediadores entre os poderes e por último o funcionamento do
próprio ambiente politico.

Neste contexto os media concebidas como actores politico e


ideológico, funcionava como instrumento de manipulação de
interesses e de intervenção na vida social, pois representava, por
meio de seus órgãos de informação, uma das instituições mais
eficazes quanto a recomendação de ideias em relação a grupos
estrategicamente reprodutores de opinião caracterizando se como
centro de poder manipulador de processos democráticos.

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Isto reflecte a herança que o Estado colonial português deixou a


Moçambique com uma rede de órgãos de informação muito fraca.
Embora o país tenha agora um maior pluralismo nos órgãos de
informação do que antes, poucas pessoas têm acesso aos jornais.

Em torno disto, uma grande parte dos órgãos de informação de


transmissão electrónica e impressa estava sob o controlo do Estado
tais como a Rádio Moçambique, a principal estação de televisão
de Moçambique e os maiores jornais noticias como “Notícias, Diário
de Moçambique” e “Semanário Domingo” também eram
controlados pelo Estado. No entanto, existem alguns jornais
independentes tais como o Savana, Zambeze e o País com uma
circulação significativa.

Durante o processo eleitoral os midia como instrumento da opinião


pública acabaram por seguirem o caminho da difusão de assuntos
encomendados, com fins comerciais para agradar os seus
anunciantes e ter mais eleitores, forçando a sua entrada na
agenda pública, o que reduz o seu papel da democratização da
esfera pública e consequentemente influência as escolhas dos
cidadãos.

O tempo de antena no período das terceiras eleições estabelecia


que todos os candidatos tinham o mesmo tempo disponível nos
órgãos de comunicação do sector público. Determinava também
que os candidatos à Presidência, os partidos e coligação
concorrentes às eleições legislativas deviam ter um tempo
disponível de 15 minutos por semana na Televisão de
Moçambique, 5 minutos diários na Rádio Moçambique e 5 minutos
por dia nas estações provinciais da rádio.

Nestas eleições, que eram as terceiras no novo contexto


multipartidário, o partido no poder apresentou um novo candidato,
Armando Guebuza. A Frelimo também tinha mudado de slogan,
“Juntos por um futuro melhor” passou para “Frelimo, a força da
mudança”. Por razões estratégicas, Guebuza foi apresentado
como candidato do Norte, mais precisamente de Nampula, a
província mais populosa de Moçambique.

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Estas eleições foram novamente ganhas pela Frelimo e pelo seu


candidato. Uma vez mais, a Renamo contestou os resultados das
eleições, alegando a existência de inúmeras irregularidades e
apresentou queixa na Comissão Nacional de Eleições. A Comissão
Nacional de Eleições rejeitou a queixa da Renamo, confirmando a
vitória da Frelimo e seu candidato.

Argumentando a situação actuante dos partidos notou-se que havia


uma reprodução do pluralismo débil nos espaços públicos, o que
não favorecia a inclusão e participação de diferentes actores
(singulares e colectivos) no processo de tomada de decisão a nível
da população. Embora a existência da oposição política seja
constitucionalmente reconhecida, na prática, os partidos da
oposição pareciam ter espaço de manobra limitado, em virtude da
acentuada intolerância e exclusão política.

Porque os sistemas de representação proporcional em listas


provinciais colocavam um grande poder nas mãos dos dirigentes
partidários, que controlavam as listas, os legisladores sentiam-se
muito mais incentivados a agradar aos patrões do seu partido do
que a qualquer grupo identificável de eleitores. Portanto, tanto os
deputados como os cidadãos tinham pouca motivação para se
procurarem activamente uns pelos outros, para trocarem
informações e aprenderem uns com os outros, quer através da
expressão de preferências políticas, quer pela partilha de
experiência de problemas.

Em termos de alinhamento nos órgãos de informação, as


percepções que os media públicos exerciam eram favoráveis ao
partido no poder com clareza para os jornais Domingo e Noticias,
onde as diferenças de cobertura eram mais pronunciadas. A Rádio
Terra Verde, da Renamo apresentou a mais marcante diferença
entre os dois partidos, que por razões claras dava maior
vantagem a Renamo.

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Comportamento Política

Sumário
Na Unidade temática 9, discutimos fundamentalmente sobre a
democracia e a mídia. Sobre esta temática analisamos os apelos
dos eleitores para justificar o seu voto, os elementos que marcam a
democracia como uma actividade contínua, as causas do déficite
democrático em Moçambique e o papel da mídia nas eleições.

EXERCÍCIOS de auto avaliação


1. Mostre através de exemplos que ser político não é apenas participar
no poder estatal.
2. Que apelos os eleitores fazem para justificar o seu voto.
3. Refira-se aos elementos que caracterizam a democracia como
actividade contínua.
4. Explica por que é que Moçambique apresenta um déficite
democrático.
5. Comente a afirmação: “Moçambique entrou numa zona de política
cinzenta e, por conseguinte, sofre de sindroma de multipartidarismo
débil”.
6. Descreve o papel da mídia nas eleições.
7. Explica por que é que a utilização da mídia pode causar danos a
pessoas, instituições ou grupos.
8. Qual o tempo da antena na mídia para os partidos e como a Frelimo
consegue abocanhar o mesmo tempo de antena.
9. Qual a tendência da mídia durante o período eleitoral?

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TEMA – X: Abstenções: perspectivas e desafios para a


consolidação da democracia

Unidade Tematica 10.1: Abstenções: perspectivas e desafios


para a consolidação da democracia

Introdução
Esta unidade pretende dotar aos estudantes ferramentas sobre o
processo eleitoral. É o momento que os candidatos estabelecem
uma relação mútua com os eleitores. Neste texto se apresenta um
debate sobre as perspectivas e desafios para consolidação da
democracia.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicar os conceitos de democracia e sociedade civil;


 Caracterizar um estado democrático;

Objectivos  Identificar os factores que contribuem na ausência do


eleitorado moçambicano nos pleitos eleitorais;
 Identificar a relação entre a sociedade civil e o Estado

Unidade Tematica 10.1. Abstenções: perspectivas e desafios


para a consolidação da democracia
Nesta unidade sobre as abstenções: perspectivas e desafios
para a consolidação da democracia, procuráramos compreender a
democracia em vigor no país, com base nos pressupostos teóricos
da ciência política, tendo como preocupação central a
problemática da participação e escolha política.

As suas inquietações para a elaboração deste trabalho


foram suscitadas pela constatação de que no espaço de uma só
década – 1994 a 2004 – ter se verificado no país uma tendência
notavelmente decrescente da participação política dos cidadãos

101
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Comportamento Política

nos momentos eleitorais designadamente da ordem 77% em 1994


para cerca de 36% em 2004.

Como pontapé de saída, o autor, refere que a acção


política dos cidadãos é sempre determinada por uma
multiplicidade de factores que são: As vertentes de socialização
política; factores de índole ideológica; A lógica da cultura política
dominante na sociedade; A dimensão de mobilização político-
partidário;

A configuração de oportunidades político-constitucionais;


dentre outros. Levantando, portanto, os seguintes questionamentos:
Qual dos factores citadas, ou qual a combinação desses factores,
pode explicar esta tendência? Se a democracia moderna constitui-
se, essencialmente, num mecanismo através do qual o povo decide
quem deve governar, o que acontece quando esse povo cada vez
menos comparece nos momentos decisivos dessa decisão? Não será
esta tendência apenas o reflexo da consolidação da estabilidade
política no país, e, por isso, um sinal da própria consolidação da
democracia? Quais as experiencias das democracias consolidadas
nesse domínio? Estas são as principais dúvidas, inquietação e
hipótese são exploradas nesta reflexão sobre as terceiras eleições
gerais realizadas em 2004.

O fenómeno voto tem sido enquadrado, pelos cientistas


sociais, em quatro categorias de problemática: A questão da
participação política; as determinantes da escolha política; a
indagação sobre o resultado de actos eleitorais e; a questão do
contexto democrático.

A conclusão preliminar é a de que Moçambique não é


propriamente uma democracia nos termos em que a teoria política
entende a democracia moderna, e, por isso, o significado do voto,
e de participação política em geral, que a teoria apresenta pode
não ter muita relevância no contexto moçambicano. O conteúdo da
democracia em Moçambique se circunscreve aos valores da
reconciliação nacional, paz social e estabilidade política, então é a
estes valores que se deve reconhecer primazia e não as vicissitudes

102
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

do voto. E Sugere igualmente que as abstenções podem ser


sintoma de ineficácia no contexto moçambicano de uma variável
importante do regime democrático, designadamente os partidos
políticos.

A democracia pluripartidária no contexto de Moçambique


é tida como veículo para a paz e para a reconciliação nacional.
Assim como refere: “A democracia pluripartidário assumiu o sentido
quase linear de sinónimo de reconciliação nacional, estabilidade
social, politica, ou seja paz efectua”. (Sitõe, 2006). As evidências
encontram-se na campanha cívica da comissão Nacional de
Eleições, na qual o objectivo era de atiçar o dever cívico do
cidadão tido como esforço e determinação de assegurar o triunfo
da democracia pluripartidária como garante final da paz e da
reconstrução nacional.

A partir do constatado em Dezembro de 1994, levanta-se


como uma das hipóteses da explicação do fenómeno crescente das
abstenções, a ideia segundo a qual na medida em que a
consolidação de reconciliação nacional, estabilidade social e
política, portanto da paz efectiva, acontecia também uma relativa
diminuição do uso da democracia pluripartidária como veiculo
para a garantia daqueles bens e valores sócias e,
consequentemente menor recurso ao exercício do voto. Sobre os
pré-requisitos da democracia, na ciência política.

Apresenta o autor, uma abordagem de Samuel Huntington,


que escreveu em 1984, onde refere que a emergência da
democracia (pluripartidária) numa determinada sociedade é
facilitada pelas seguintes condições: Alto nível bem-estar
económico; Ausência de desigualdades extremas de rendimento e
riqueza; Alto grau de pluralismo social, particularmente na
presença da burguesia forte e autónoma; Uma economia baseada
nas forcas do mercado; Grande influencia nessa sociedade dos
actuas Estados de democracia pluripartidária; e Uma cultura
política caracterizada pelo compromisso e tolerância pela
diversidade. Portanto como considera o Sitoe (2006: 157), é

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Comportamento Política

notável que na sociedade moçambicana estão claramente ausentes


as condições de pendor económico, dados aos níveis de pobreza
prevalecentes na sociedade e as fortes desigualdades entre os
poucos moçambicanos que tem alguns recurso e a maioria que vive
abaixo da linha de pobreza.

A falta deste requisito torna-se problemática na medida


em que para muitos estudiosos são precisamente estas condições
que determinam as oportunidades para o estabelecimento e
consolidação deste tipo de sistema político. O desenvolvimento
económico e a legitimidade política são as condições básicas para
que este tipo de sistema exista. Ou seja a democracia
pluripartidária tem mais oportunidades de funcionar onde exista a
combinação do desenvolvimento económico e eficácia política
erguidos da base do avanço da modernização viabilizada pelo
desenvolvimento capitalista.

A lógica do desenvolvimento global do capitalismo radica


na reprodução de uma situação de subdesenvolvimento nos países
do Terceiro Mundo. O sistema capitalista gera subdesenvolvimento
nos países da periferia, na medida em que se apropria do seu
excedente económico e galvaniza o desenvolvimento económico
nos países do centro. Por isso, se é verdade que o desenvolvimento
económico engendra condições favoráveis para o estabelecimento
de democracias pluripartidárias, então é verdade que o
subdesenvolvimento causado pela condição de dependência dos
países do SUL é a causa da falta de democracia – ou da falta de
condições para o funcionamento ideal deste tipo de sistema, nestes
países.

Numa linha de abordagem que questiona sobre a auto


sustentação da democracia, Raymond D. Gastl (1987 apud Sitoe
2006) argumentou que nas circunstância históricas da segunda
metade do século XX, as pré-condições socioeconómicas são
factores secundários para o estabelecimento e consolidação da
democracia relativamente ao que se esta tornando cada vez mais

104
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

importante, designadamente o processo de difusão das ideias


democráticas.

E associado a este processo de difusão de ideia


democráticas esta precisamente o argumento de que nos países
subdesenvolvidos será a implantação de democracia
pluripartidária que devera conduzir a boa governação e ao
desenvolvimento económico. Tornando assim, o argumento sobre as
pré-condições sócio económicas totalmente virada ao avesso.
Portanto, segundo Sitoe, Moçambique é um caso paradigmático
onde esta crença foi largamente difundida, tanto por actores
externos como pelos próprios moçambicanos.

Mazula (1995) conceitua num contexto moçambicano, como


capacidade e oportunidade de convivência sócio-politico-
economico, na diversidade de ideias, opiniões e cultura, para a
realização de desenvolvimento real, em cada tempo e lugar. Os
requisitos para que esta democracia se manifeste são,
essencialmente, a presença de uma sociedade emancipada, onde
se cultiva o método de diálogo. (Mazula, 2006) propondo deste
modo o paradigma dialógico.

O mesmo paradigma parece exigir não apenas actores


políticos o adoptem, mas que também estabeleçam elos de
representação relevantes com o conjunto dos membros da
sociedade, o que certamente exige outras premissas, para além do
leque de liberdade que aborda. Questionando Sitoe (2006), Em
que medida, pois, é que a discussão sobre as abstenções pode
dar-nos alguma indicação sobre o grau em que a democracia
pluripartidária no país esta a produzir os bens, eficácia politica e
desenvolvimento económico, que afinal, são as condições básicas
para sua própria consolidação? E, se estas abstenções, não são
elas próprias indicação de que as expectativas colocadas quanto
aos frutos da democracia pluripartidária não estavam largamente
justificadas, para alem, da circunstancia historicamente
determinada de consolidação da paz?

105
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Comportamento Política

Assim, seguindo uma abordagem que se insere na Segunda


categoria de problemáticas, que o fenómeno voto sustenta, do
ponto de vista da teoria politica. Sitõe (2006) vai lançar uma
análise crítica sobre os determinantes da escolha política e
implicações para a democracia em Moçambique. Onde debruça-se
de conceitos fundamentais para o a compreensão deste fenómeno
nesse moldes. O conceito de Clivagem politica, traduzido num tipo
de divisão social concreta. Especificando, no entanto, todos aqueles
conflitos políticos que se localizam numa terminada estrutura social
ou esfera social, originando valores e interesses característicos e
que encontram expressão numa determinada organização politica.

Socialização política percebido, como processo através do


qual a sociedade garante a manutenção do sistema de valores
fundamentais que defende nas novas gerações através de uma
aprendizagem social.

Constata-se ainda que a prevalência da pobreza, do


analfabetismo, a fraca cobertura dos meios de comunicação social
e a orientação basicamente rural de grande parte da sociedade
moçambicana são factores que retiram a escola e a comunicação
social a oportunidade de se relevarem como agentes de
socialização política do país.

Partindo do argumento segundo o qual a qualidade da


democracia no pais dependera da acção de partidos políticos,
mas sobretudo de partidos que estejam enraizados, e por isso,
exprimam os interesses fundamentais da sociedades detectáveis a
partir da configuração dos diferentes grupos que habitam o
espaço da sociedade civil. Os partidos políticos constituem uma
peça fundamental no processo do desenvolvimento da democracia
pluripartidária. Porém,os partidos políticos em Moçambique ainda
se debatem com tremendas fragilidades.

No conjunto dessas fragilidades destaca-se a dificuldade


dos actuais partidos políticos de articularem e expressarem de
forma coerente e consistente o interesse ou interesses pelos quais
pugnam. Ou seja falta aos partidos políticos a enunciação de um

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Comportamento Política

elo de ligação coerente que aglutine em seu torno todos os grupos


de interesses ou de pressão que comungam da forca desse elo.

Ou ainda a capacidade dos partidos políticos assumirem


uma posição intermédia entre os chamados grupos da sociedade
civil e as instituições políticas, pois são eles que impõem ao Estado
dos interesses dos grupos da sociedade civil que constituem a sua
própria razão da existência. Considera ainda que a fragilidade
do elo mais o grau de sofisticação politica prevalente na
sociedade moçambicana fazem com que o segmento da população
que vota pelo critério de identificação partidária seja minúsculo.

Existe certa noção de democracia em Moçambique, que


não preenche os requisitos para que a mesma funcione no país tal
como a teoria política tentou demonstrar quando abordava acerca
dos pressupostos da democracia moderna. Assim para Sitoe (2006)
a questão fundamental do problema em Moçambique pode der
explicada através da análise dos requisitos básicos que Seymour
Lepset apresenta: designadamente, a questão da eficácia e
eficiência nos planos económico e político. E este problema é
acrescido, nas circunstâncias de Moçambique, pela fragilidade dos
principais actores deste tipo de sistema político, designadamente
os partidos políticos.

Derradeiramente, como forma de conclusão, sobre a


questão o que explica o fenómeno crescente das abstenções em
Moçambique, Sitõe (2006) acaba vendo nas configurações de
valores e interesses políticos no país, a atitude dominante nos
cidadãos e as características dos partidos políticos como factores
que geram a participação política, em muitos aspectos, e não são
captadas pela essência dos vários pressupostos teóricos do domínio
da ciência política. Por exemplo, a oscilação da tendência de
abstenções, tantos nas eleições gerais como nas autarquias, sugere
que há uma racionalidade no eleitorado moçambicano mas qual a
natureza desta racionalidade?

Para responder a esta questão parte do pressuposto de


que o eleitorado tende a participar politicamente se perceber que

107
ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

dessa participação decorrem ganhos específicos para a natureza


de valores e bens sociais que pretende ver assegurados no pais, e
que giram em torno da garantia da estabilidade social e politica e
da reconciliação nacional. As eleições de 1998 e 2004, embora a
níveis diferentes, dão uma indicação interessante a este respeito:
enquanto em 1998 as pessoas abstêm-se das eleições para não
legitimarem a situação de clivagem que apresentava entre a
Frelimo e o bloco da oposição, em 2004 as pessoas ficam em casa
porque não via grande perigo no que consideram de essencial
decorrente dessa opção. (Sitõe 2006: 179)

Sobre a abstenção eleitoral, o comportamento eleitoral dos


cidadãos não constitui em si um problema, mas sim sintoma de
ineficácia política do sistema e, mais especificamente, dos
principais actores políticos que habitam nele, designadamente os
partidos políticos. Assim, ainda como ele vai salientar, parece
óbvio que 10 anos depois das primeiras eleições gerais
multipartidárias não será o voto pela paz que mais galvanize o
cidadão, mas quiçá, o voto por uma alternativa governativa
credível, e esta só pode ser oferecida pelos partidos políticos.
(idem, 2006).

Sumário
Na Unidade temática 10, discutimos fundamentalmente sobre os
factores que determinam a acção política dos indivíduos, as
categorias problemáticas do voto, o conteúdo da democracia
moçambicana e condições para emergência da democracia numa
sociedade, a democracia e o subdesenvolvimento e, os problemas
da democracia moçambicana e a natureza da racionalidade do
seu eleitorado.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
1. Apresente os factores que determinam a acção política dos
indivíduos;

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Comportamento Política

2. Apresente as categorias da problemática do voto;


3. Refira-as às condições para emergência da democracia
numa sociedade.
4. Olhando as condições acima referidas, Moçambique reúne-
as para uma democracia efectiva?
5. Descreve a lógica do capitalismo.
6. Apresente o conceito de democracia segundo Mazula.
7. Que elementos retiram a escola e a comunicação social
como agentes de socialização política?
8. Os partidos são peças fundamentais no desenvolvimento da
democracia pluripartidária, mas estes, em Moçambique
debatem-se com tremendas fragilidades. Identifique-as.
9. Refira os constrangimentos da democracia moçambicana.
10. Refira-se as causas das abstenções nos pleitos eleitorais
nacionais.
11. Qual a natureza da racionalidade que leva o eleitorado a
se abster? Cite exemplos.
12. O que significa o comportamento do eleitoral e o voto do
cidadão moçambicano?

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

TEMA – XI: A imprensa e a Democracia


Unidade Tematica 11.1: Imprensa e democracia
Unidade Temática 11.2: Os Meios de comunicação em
Moçambique
Unidade Temática 11.3: A imprensa e a decisão do Voto nas
eleições

Introdução
Esta unidade pretende dotar aos estudantes ferramentas sobre o
papel da imprensa na democracia, sobretudo na democracia
Moçambicana. Sua finalidade, suas características.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Analisar o papel do jornalismo de entretenimento durante as


eleições;
 Analisar o contributo mídia durante as eleições;
 Diferenciar a mídia pública e privada quanto aos conteúdos
Objectivos
publicados;
 Caracterizar as actividades da mídia nas eleições;

Unidade Temática 11.1. Imprensa e democracia


Antes de falarmos da imprensa e votos nas eleições
presidenciais em Moçambique urge a necessidade de trazermos
alguns debates sobre a importância da mídia e decisão de voto de
forma geral. Não é recente a preocupação e o interesse de
pesquisadores e analistas sobre a influência dos meios de
comunicação no comportamento político das pessoas.
Já na primeira metade do século 20, autores como Laswell
(1971) E Lippman (1997) escreveram trabalhos seminais sobre esse
tema. Mas é apenas com a publicação do clássico The People's
Choice (Lazarsfeld, et al, 1948) que os estudos sobre efeitos da
mídia encontraram sua faceta mais empírica, com análise de dados
quantitativos e testes de associação entre variáveis mediáticas

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

e de comportamento (Czitrom, 1982).

Além de criarem uma teoria sociológica do voto, Figueiredo


(1991), mostra que Lazarsfeld e seus colaboradores construíram
uma teoria sobre os efeitos dos meios de comunicação junto aos
eleitores. Esta ficou conhecida como teoria dos efeitos “mínimos” ou
“limitados. Ao analisarem o poder de persuasão das campanhas
eleitorais, da rádio e dos jornais e revistas eles encontraram,
principalmente, activação ou reforço das predisposições político-
partidárias, e muito pouca conversão dos votos.

A partir dos anos 1980, os estudos sobre efeitos da mídia


começaram a ganhar força. Gomes (2004) mostrou que, a
influência política dos programas de jornalismo de entretenimento
também pode ser classificado como uma superação da teoria dos
efeitos limitados, pois toca em um dos limites encontrados por
vários pesquisadores para a ocorrência de grandes efeitos da
mídia: a existência de uma parcela considerável de eleitores
desinteressados em política e que não se expunham directamente
aos meios de comunicação e às campanhas. Se as mensagens não
os alcançam, eles não podem ser persuadidos. Mas este cenário
muda com a proliferação de programas de jornalismo de
entretenimento que cobrem temas políticos, ainda que de modo
diferente dos veículos mais tradicionais.

Gomes E Rousiley (2008) mostraram que, os anos 2000


também trouxeram um conjunto de pesquisas inovadoras sobre
efeitos da mídia. Essas inovações têm a ver, principalmente, com o
uso de “experimentos naturais”, induzidos ou não, de grandes
bases de dados e de análises estatísticas com testes de robustez.

Leituras críticas sobre o papel que os meios de comunicação


exercem sobre a participação política levantaram dúvidas sobre
como eles afectariam os eleitores e a própria democracia em
relação a esse ponto (Gomes, 2004). Por conta disso, diversos
pesquisadores buscaram analisar a relação entre variáveis

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Comportamento Política

mediáticas e o acto de sair de casa para votar. Mas os achados


dessas pesquisas nem sempre convergem. Alguns apontaram para
uma correlação negativa entre a participação eleitoral e a
exposição à televisão. Outros sugeriram que as propagandas
negativas dos candidatos teriam efeitos deletérios sobre o
comparecimento. Assim, se encontram evidências de que a crítica
“legítima” incentiva o comparecimento, como a cobertura da
imprensa, mesmo que esta apresente certo criticismo. Apenas as
críticas “difamatórias” impactariam negativamente no acto de sair
de casa para votar. Em todo caso, ambos os efeitos aconteceriam
principalmente entre eleitores independentes, com baixo
interesse por política ou jovens na política.

O que toda essa discussão mostra é que os estudos sobre


efeitos da mídia na literatura internacional, principalmente nos
EUA, caminharam em um círculo: dos efeitos massivos para os
efeitos limitados, e de volta aos efeitos massivos. Esse percurso não
foi aleatório, mas motivado principalmente pela necessidade do
avanço de teorias, evidências e provas que caracteriza a Ciência
Social de natureza mais empírica e quantitativa, onde os estudos
sobre efeitos da mídia tradicionalmente floresceram e se
encontram.

Unidade Temática 11.2: Os Meios de comunicação


em Moçambique
Mazula (2006) mostra que, com o advento da mídia
electrónica nos anos 50, o texto escrito, sobretudo a imprensa,
foram eclipsados pelo rádio e TV, ocupando nos dias actuais uma
posição de marcada subalternidade como instrumentos de
propaganda eleitoral. Os jornais carecem de algumas
características importantes para a campanha eleitoral, que
abundam nos meios electrónicos: a instantaneidade, a
flexibilidade, o potencial de dramatização, o acompanhamento "in
loco" do evento, e mais que tudo, o seu imenso poder de
penetração na população.

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ISCED CURSO: Ciência Política e Relações Internacionais; 20 Ano Disciplina/Módulo: Opinião Pública e
Comportamento Política

Somente a televisão, principalmente nos períodos eleitorais,


desenha a figura do político na sua plena generalidade, só ela faz
de sua imagem algo mais denso do que sua própria pessoa. Desde
os tempos da democracia ateniense, sabemos que a política está
ligada a um balanço de aparências, o político se dirigindo agora
mais para convencer do que para depurar a verdade. Nos
momentos de crise, o poder podia ser delegado a um ditador, mas
sempre com poderes definidos e por tempo determinado.

A imprensa liberal em Moçambique nasceu no início de


1990, no momento em que o país estava a abrir-se para um
sistema pluralista. A primeira Constituição multi-partidária (1990),
artigo 74, consagra a liberdade de imprensa e o direito à
informação. Com base nessas alterações, a primeira lei de
imprensa (Lei no18/91, de 10 de Agosto) que buscava a
liberalização e o pluralismo de expressão nos meios de
comunicação de massa, foi aprovada em 1991. Com essas
transformações políticas e jurídicas, Mazula (2006) mostra que,
novas mídias surgiram com uma gestão independente do Estado.

Entre estas, destacam-se os jornais Savana, Zambeze,


Magazine Independente, Canal de Moçambique, Público, Sol do
Indico, e estações de rádio comunitária e privada e televisão. Estes
novos jornais se juntaram aos já operacionais durante o estado de
partido único, como o Notícias e Domingo, que, apesar de terem
adquirido o estatuto de jornais privados, ainda estão ligados a e
são controlados pelo governo, tanto em termos do seu conteúdo
como da sua estrutura accionaria, uma vez que o accionista
maioritário é o Banco de Moçambique.

Um dos problemas que afectam o papel dos jornais na


promoção da cidadania em Moçambique diz respeito as suas
fraquezas tanto em termos de sustentabilidade das empresas de
comunicação como dos leitores dos próprios jornais. Por exemplo, a
maioria dos jornais nacionais são distribuídos nos principais centros

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Comportamento Política

urbanos, com a capital, Maputo, a consumir mais da metade dos


jornais distribuídos no país. Além do problema de distribuição,
altos níveis de analfabetismo e o fraco poder de compra estão
entre os principais problemas enfrentados pela imprensa escrita
em Moçambique. (Nhanale, 2014).

Olhando para as características similares de países com


uma imprensa fraca, estudado por Hallin e Mancini (2010),
algumas explicações podem ser encontradas para uma imprensa
altamente politizada em Moçambique, que é muito utilizada como
um espaço de disputas políticas.
Esse cenário levou à polarização do espaço da mídia em
Moçambique, com alguns meios de comunicação, especialmente os
meios de comunicação de propriedade pública, com tendência a
relatar as conquistas do governo, buscando oferecer uma imagem
positiva dos principais actores do governo da Frelimo; enquanto,
por outro lado, existem meios de comunicação, muitos deles de
propriedade privada, que buscam denunciar escândalos de
corrupção, abusos de poder, exercendo a sua função de vigilância,
dando mais espaço para os partidos de oposição e activistas de
organizações da sociedade civil. (Nhanale, 2014).

O facto de a imprensa escrita ser fraca implica que, em


Moçambique, a mídia electrónica (rádio, televisão e as redes
sociais) assume um papel importante na transmissão de informação.
Destes meios, a Rádio Moçambique (RM) e a Televisão de
Moçambique (TVM) são particularmente notáveis em termos da sua
cobertura territorial. Em 2005, foi estimado que a RM atingiu cerca
de 80% da população.
Um estudo realizado sobre o comportamento eleitoral em
Moçambique citou a rádio como uma das principais fontes de
informação eleitoral, com a RM atingindo 91% dos eleitores (De
Brito, 1996). Apesar de mais abrangentes em termos de cobertura,
esses meios de comunicação tiveram fortes limitações no seu
trabalho editorial, especialmente devido a restrições legais e

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Comportamento Política

pressão política.
Embora a Constituição a República de Moçambique (2004) no seu
artigo 48, parágrafos 4 e 5 afirme que os meios de comunicação
públicos são independentes do governo, a administração e os
demais poderes públicos, a forma em que operam é distorcida
pelo facto de que a nomeação dos seus directores e seus
orçamentos dependem do governo, cujo este governo tem sua
filiação partidária e no caso concreto de Moçambique fala-se da
hegemonia da Frelimo, partido que se encontra no poder desde as
primeiras eleições gerais e presidenciais.

Unidade Temática 11.3: A imprensa e a decisão do


Voto nas eleições
A imprensa representa uma forma de poder que, nas
sociedades “de massa”, possui papéis extremamente significativos,
tais como: influenciar na formação das agendas públicas e
governamentais; intermediar relações sociais entre grupos distintos
(Capelato, 1988 apud Fonseca, 2011, p. 41), influenciar a opinião
de inúmeras pessoas sobre temas específicos; participar das
realizações políticas, em sentido lato (defesa ou invento de uma
causa, por exemplo) e estrito (apoio a governos, partidos ou
candidatos); e actuando como um sistema ideológicos capazes de
organizar interesses.
Na perspectiva de Coutinho (1994), em determinadas
circunstâncias a imprensa actua sob tutela ou vigia de partidos
políticos ou intelectuais colectivos e orgânicos de grupos específicos,
isto é, ela pode funcionar sob uma orientação partidária, podendo
esta não dando as caras na arena social em causa, no sentido de
não manchar a sua reputação. Esses papéis por vezes são
ocultados sob o lema do dever da informação, na qual a imprensa
deve ser neutra, independente, apartidária e a-ideológica,
características invariavelmente alegadas pelos órgãos da
informação ao retratar da forma sua actuação.
Nesta ordem de ideia, a imprensa, ao participar da esfera

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Comportamento Política

pública como prestadora de serviços, isto é, como entidade de


comunicação social ela teria uma função imprescindível na
democracia, que consiste em informar sobre acontecimentos reais,
levando a sociedade a ter uma gama de dados que sem esse
serviço, não teria condição de conhecer outras realidades que não
as vivenciadas ou relatadas por pessoas próximas. Salientar que
os órgãos da informação deveriam funcionar na fiscalização do
estado, exercendo assim a forma mais bem acabada de “controlo
social” em relação ao dinheiro público, as acções públicas (bens
públicos), ou seja, a diversas áreas da função pública.

Contudo, os órgãos de informação (emissoras de Tv.,


Rádios, Jornais, Revistas, entre outros) que actuantes na esfera
pública são em larga medida empresas privadas que, como tal,
objectivam o lucro e agem segundo a lógica e os interesses
privados dos grupos que representam.
Embora, a acção da imprensa seja complexa, as
características cruciais para uma definição inicial da relação entre
agentes privados e esfera pública assim como a relação entre
políticos e sociedades está embutida nela. Se a actuação dos
órgãos de informação tem como pressuposto a lógica privada, a
questão que se coloca é: como compreender a sua actuação na
esfera publica, em que a democracia e elemento-chave?
A cobertura da mídia nas eleições anteriores foi
caracterizada por restrições à liberdade de imprensa, em grande
parte devido ao controle de espaços para mídia pelo Partido
FRELIMO. Em 2012 foram relatadas diversas acções discretas com
a intenção de restringir a liberdade de imprensa.

Essas acções foram tomadas expressamente por líderes


políticos ou por iniciativa de alguns editores, especialmente nos
meios de comunicação de propriedade pública que usam as suas
posições para transformar os seus meios de comunicação em
espaços de propaganda política, bem como a existência de grupos
de formadores de opinião, estrategicamente orientado para
defender os interesses e a imagem do partido no poder.

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Além disso, tem havido uma tendência nos partidos políticos para
buscar figuras ligadas aos meios de comunicação e entretenimento
para ampliar a imagem das suas campanhas eleitorais. Além disso,
ajudam na mobilização do eleitorado. Por exemplo, o MDM
recrutou o jornalista e locutor da Soico Televisão, Fernando
Bismarque, ao passo que a Frelimo recrutou um popular
apresentador de programas de entretenimento, Gabriel Júnior.
Este recrutamento poderia representar um risco para a qualidade
do debate político e eleitoral, uma vez que a selecção dessas
personalidades é feita, simplesmente, pelo facto de que fazerem
parte da mídia e do interesse em explorar a sua imagem pública.
Não é possível encontrar uma base sólida para a contratação de
tais indivíduos, tendo em conta o seu capital político ou papel
relevante no seio dos partidos políticos.

Os últimos estudos sobre o comportamento da mídia na


cobertura da campanha eleitoral presidencial, parlamentar e
provincial de 2009, fornecem evidência substancial de uma falha
para abrir espaço na mídia para a participação dos cidadãos no
debate público, causado pela predominância dos actores políticos
e a fraca inclusão das preocupações públicas (MISA, 2009).
O acompanhamento da cobertura da mídia sobre as
eleições de 2009 pelo MISA-Moçambique (2010), por exemplo,
mostra a prevalência de notícias produzidas a partir das
actividades de rotina dos actores políticos (os partidos e seus
candidatos). Há pouca cobertura sobre o envolvimento dos
cidadãos nos processos eleitorais e as suas vozes serem ouvidas.

Sumário
Na Unidade temática 11, estudamos e discutimos
fundamentalmente sobre o contexto do início de estudos sobre
papel da mídia nas eleições, o poder da Rádio e Jornais durante
as eleições, as potencialidades da mídia electrónica, a contribuição
positiva e negativa da mídia durante as eleições, problemas da

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Comportamento Política

imprensa escrita no país, características da mídia nas eleições


anteriores em Moçambique.

Exercícios de Auto-Avaliação
1. Refira ao contexto em que iniciaram estudos sobre o papel da
mídia nas eleições.
2. Qual é o poder da Rádio e dos Jornais durante as eleições?
3. Que papel desempenha o jornalismo de entretenimento durante
as eleições?
4. Em que circunstâncias a mídia contribui positivamente e ou
negativamente para as eleições.
5. Apresente as potencialidades da mídia electrónica.
6. Apresente o contexto do surgimento da mídia independente.
7. Apresente os problemas ligados a imprensa escrita no país.
8. Distingue a mídia pública e privada quanto aos conteúdos
publicados.
9. O que caracterizou a mídia na eleições anteriores? Dê exemplos
da sua actuação.

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Comportamento Política

TEMA – XII: A Internet e as Eleições


Unidade Tematica 12.1: Marketing Politico na Internet
Unidade Temática 12.2: A interactividade

Introdução
Esta unidade pretende dotar aos estudantes ferramentas sobre a
relação da internet e as eleições. Visto que com as eleições nos EUA
de 2012 muitos países ganharam a experiencia da mesma.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Analisar o papel da internet nas eleições;


 Caracterizar o marketing político;

Objectivos

Unidade Temática 12.1. Marketing Politico na Internet


O marketing político na Internet já está na pauta de vários países.
Tiveram como espelho, o sucesso de Barack Obama na campanha de
2012. Porém, quando se entra na discussão sobre marketing político
na Internet, surgem dúvidas em relação a como implementar uma
estratégia de marketing político digital. Que recursos digitais usar?
Que tipo de profissional contratar? Quanto isso irá custar?

As perguntas procedem, entretanto, mais importante que isso é


entender o conceito que está por trás de uma campanha
de marketing político digital. Sem entender esse conceito básico, não
há como ter sucesso em qualquer tipo de ação de marketing eleitoral
online. Esse é um ponto fundamental a ser entendido pelos candidatos.
Quando tratamos de marketing político digital estamos traçando uma
estratégia macro. A propaganda política é o resultado final de todo
um planejamento estratégico de actuação, é a ação final de um
processo. O marketing político na Internet é bem mais complexo.
Marketing político eleitoral envolve todo um processo pesquisa,

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Comportamento Política

definição de perfis, criação das Personas de Marketing, ambiente de


campanha, selecção de ferramentas e monitoramento de resultados.

O marketing político é muito mais um processo de definição de ações


de inteligência estratégica e construção de argumentos do que a
ação em si. É por isso que ao debatermos a questão do marketing
político digital, sempre colocamos esta estratégia como ferramenta de
longo prazo e nunca como solução imediatista visando apenas as
próximas eleições. Quando jogamos o cenário da campanha para o
ambiente da Internet esse processo ganha o rótulo de marketing
político digital e é nesse ponto que muita coisa muda. Seria um
grande erro tentar levar para Internet o formato e estrutura de uma
campanha eleitoral no ambiente físico. Simplesmente não funcionaria.

A Internet tem regras próprias e por isso, quando falamos de


marketing político na Internet estamos falando de uma campanha
totalmente diferente daquela que estamos acostumados a ver no
ambiente físico. Na web o processo de convencimento é muito mais
sutil e elaborado. É necessário criar um engajamento e ter um
diferencial real em relação aos outros candidatos.

O marketing político na Internet exige muito mais do que declarações


nas mídias sociais, ele exige engajamento do público e interacção.
Quando se leva a campanha política para a web, leva-se todo um
trabalho de convencimento para um ambiente bidireccional e
altamente interactivo. Essa é a grande diferença do marketing político
digital em relação ao bom e velho marketing político convencional.
No marketing político digital, principalmente o feito através das redes
sociais, o eleitor também tem voz ativa no processo de comunicação.

Ao contrário das ferramentas de marketing eleitoral do ambiente


físico o marketing eleitoral na internet possibilita a interacção dos
usuários, o que faz toda a diferença. Os eleitores têm na Internet, a
possibilidade de dialogar com os candidatos e por isso as campanhas
precisam focar no engajamento e não somente na exposição da

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Comportamento Política

imagem do candidato, como no marketing político convencional. Não


se pode usar a Internet como palanque eleitoral com um conteúdo
unicamente declaratório e não sujeito à argumentação. A
interactividade é a ferramenta chave do marketing político digital e é
cobrada pelo eleitor digital.

Unidade Temática 12.2: A interactividade


O pilar de uma campanha de marketing político na Internet está na
interactividade e é a partir dela que se alcançará o objectivo
principal da campanha, o convencimento. As redes sociais são
conhecidamente espaços de interacção entre as pessoas e por isso,
uma campanha em mídias sociais obrigatoriamente deve levar esse
ponto em consideração.

No nosso curso de marketing político digital, é justamente no módulo


que falamos sobre redes sociais que colocamos o ponto máximo dessa
interacção candidato/eleitor. Ao cogitar sobre a adopção de um
planejamento de marketing político na Internet tenha em mente que a
essência do assunto é a questão do engajamento e interacção com o
eleitor, sem os quais não vale nem a pena pensar em marketing
político digital.

Sumário
Ao longo desta unidade temática, vimos que internet actualmente um
instrumento preponderante na divulgação do marketing politico
eleitoral. Os partidos políticos usam as redes sociais para divulgar os
seus manifestos eleitorais. E influenciam o eleitor na tomada de
decisão.

Exercícios de Auto-Avaliação
 Que processos envolve o Marketing político eleitoral.
 Refira a diferença do marketing político digital e marketing político
convencional.
 Como as redes sociais pode constituir uma ferramenta fundamental na

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Comportamento Política

divulgação de um candidato e manifesto eleitoral?


 Que analises fazes em relação ao contexto moçambicano de uso da
internet na divulgação da imagem do candidato e manifesto politico.

Exercícios Finais
1. O que é uma opinião pública?
2. Que importância tem a opinião pública nas democracias?
3. O que garante o funcionamento da opinião pública?
4. Qual é a base do comportamento eleitoral segundo a teoria
sociológica?
5. Apresente os elementos importantes para a decisão do voto
segundo a corrente psicossociológica.
6. Apresente as formas nas quais os factores económicos podem
influenciar o comportamento eleitoral.
7. Caracterize um eleitor racional durante os pleitos eleitorais.

8. Enuncie a teoria sociológica de comunicação.

9. Apresente os elementos que caracterizam a conduta de um eleitor


racional.

10. Qual é o carácter da lei eleitoral?

11. Descreve a evolução da lei eleitoral;

12. Refira o papel da sociedade civil nas eleições.

13. Procure os aspectos convergentes e divergentes da definição de


Comunicação
Politica.
14. Refira as funções da Comunicação Politica.
15. Refira as teorias de comunicação que conheces.
16. Apresente os elementos que caracterizam um Estado democrático.
17. Explique a relação existente entre sociedade civil e o Estado.
18. De forma resumida, apresente os factores das abstenções nos
pleitos eleitorais nacionais. Destes, enquadre-os com a realidade
da sua comunidade de origem.
19. Refira a teoria da opinião pública de Zaller.

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20. Descreva o papel da mídia nas eleições.


21. Qual a tendência da mídia durante o período eleitoral?
22. Qual é o poder da Rádio e dos Jornais durante as eleições?
23. Distingue a mídia pública e privada quanto aos conteúdos
publicados.

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Comportamento Política

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