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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA

EM

CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES


INTERNACIONAIS

1º Ano

Disciplina/Módulo: HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS


Código: ISCED11 – HISCEF002

TOTAL HORAS/1o SEMSTRE: 125

CRÉDITOS (SNATCA): 5

Número de Temas: 14

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

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Website: www.isced.ac.mz
Agradecimentos

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela coordenação Direcção Acadêmica do ISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED


Financiamento e logística Instituto Africano de Promoção da Educação
à Distância (IAPED)

Pela revisão final Dr. Emílio Jovando Zeca

Elaborado Por:

Msc. Nazir Gani – Mestrado em Gestão de Recursos Humanos e Licenciado em Ensino de


História, pelas Universidades Pedagógica e Jean Piaget de Moçambique-Delegação da Beira
ISCED – MANUAL DE HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

Índice

Visão geral ............................................................................................................... 1


Benvindo ao Módulo de Historia das Ideias Politicas .................................... 1
Objectivos do Módulo.................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo .............................................................. 1
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 7
Avaliação ........................................................................................................................... 7

TEMA – I: O PENSAMENTO POLÍTICO NA ANTIGUIDADE 9

INTRODUÇÃO 9
UNIDADE Temática 1.1. GRÉCIA: A DEMOCRACIA ATENIENSE......................................... 9
Introdução ............................................................................................................... 9
Nesta unidade, faz referência da democracia ateniense, na qual ira-se discutir
diferentes pensamentos dos pensadores como, Drácon, Sólon e Clístenes. ......... 9
Ao completar esta unidade, você será capaz de: .................................................... 9
1.1.2. IDEIAS POLÍTICA DE DRÁCON E SÓLON.............................................. 11
1.1.4. A CIDADANIA ENTRE OS GREGOS ...................................................... 17
1.1.5. SOCIEDADE DE ATENAS...................................................................... 19
1.1.5. A REPUBLICA E AS LEIAS-PERSPECTIVAS DE PLATÃO E ARISTÓTELES 22
1.1.5.1. PLATÃO E AS LEIS ............................................................................ 22
1.1.5.2.ARISTÓTELES: A POLÍTICA E A ÉTICA ................................................ 25
Sumário ........................................................................................................................... 27
Exercícios de Avaliação ................................................................................................... 28
Exercícios ........................................................................................................................ 28
UNIDADE Temática 1.2. ROMA NA ANTIGUIDADE ......................................................... 28
Introdução....................................................................................................................... 28
1.2.1. BREVE HISTORIAL DE ROMA NA ANTIGUIDADE ................................ 29
1.2.1.2.1.AS CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO ROMANA ............................ 33
1.2.1.2.3.O SIGNIFICADO DO IUS NA REPÚBLICA ........................................ 37
1.2.1.2.4.MARCO TÚLIO CÍCERO E A REPÚBLICA ......................................... 44
1.2.1.3.1. ALTO IMPÉRIO .............................................................................. 53
1.2.1.3.1.1.A CRISE E A QUEDA DE ROMA ................................................... 53
1.2.1.3.1.1. CONSEQUÊNCIAS DA CRISE IMPERIAL ...................................... 54
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Sumário ........................................................................................................................... 56
Exercícios ........................................................................................................................ 58

TEMA – II: IDEIAS POLITICAS NA IDADE MEDIA 61


UNIDADE Temática 2.1. CARACTERISTICAS GERAIS DA IDADE ....................................... 61
Introdução....................................................................................................................... 61
UNIDADE Temática 2.2. PENSAMENTO POLITICO DE SANTO AGOSTINHO.................... 64
UNIDADE Temática 2.3. PENSAMENTO POLITICO DE SÃO TOMÁS AQUINO ........ 65
UNIDADE Temática 2.4. ESTRUTURA POLÍTICA DA IDADE MEDIA. ................................ 66
UNIDADE Temática 2.5. AS CRUZADAS E O DECLINIO DE FEUDALISMO ........................ 68
UNIDADE Temática 2.6.EMERGÊNCIA DAS MONARQUIAS. ........................................... 69
Sumário ........................................................................................................................... 71
Exercícios ........................................................................................................................ 73

TEMA - III: O RENASCIMENTO 78


UNIDADE Temática 3.1. CONCEITO E QUESTÕES GERAIS. ............................................. 78
Introdução ............................................................................................................. 78
UNIDADE Temática 3.2 A VISÃO DO PODER E DO ESTADO SEGUNDO
PENSAMENTO RENASCENTISTA ............................................................................ 83
3.2.1. O PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL ...................................... 85
3.2.2. O PENSAMENTO POLÍTICO DE DANTE ALIGHIEIRI ............................. 89
3.2.3. O PENSAMENTO POLITICO EM JEAN BODIN...................................... 99
Foto: Jean Bodin .................................................................................................... 99
3.2.3.1. FORMAS DE EXERCÍCIO DA SOBERANIA ....................................... 101
3.2.3.2. LIMITAÇÕES DO PODER SOBERANO ................................... 102
Sumário ......................................................................................................................... 103
Exercícios ...................................................................................................................... 106
EXERCÍCIO FINAIS................................................................................................. 110
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 119
ISCED – MANUAL DE HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

Visão geral
Benvindo ao Módulo de Historia das Ideias Politicas
Objectivos do Módulo
Ao terminar o estudo deste módulo de História das Ideias Políticas
ser capaz de: conhecer as transformações conceptuais
fundamentais da história das ideias e dos pensamentos políticos,
através de uma panorâmica no período histórico que vai da
Antiguidade ao Século XVI.

 Definir conceitos relacionados aos sistemas políticos.

 Relacionar diferentes pensamentos e Ideias políticas da


Antiguidade ao Século XVI.
Objectivos Específicos
 Desenvolver capacidade crítica e de análise das fundamentais
do pensamento politico.

Quem deveria estudar este módulo


Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de
Licenciatura em Ciência Politica e Relações Internacionais do ISCED
e outros como Gestão de Recursos Humanos, Administração, etc.
Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se
actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses
serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas
poderá adquirir o manual.
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Como está estruturado este


módulo
Este módulo de História das Ideias Politicas, para estudantes do 1º
ano do curso de licenciatura em Ciências Politicas, à semelhança
dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos e conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes caracteristicas: Puros
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas algunas incluido estudo de casos.
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Outros recursos

A equipa dos académicoa e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recóndido deste nosso vasto
Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de
aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos
adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED
disponibiliza nas bibliotecas física e virtual do seu centro de
recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso
como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elém deste
material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter
acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as
possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresntam duas caracteristicas:
primeeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes.
Segundo, exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das terefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/doceentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exrcícios de avaliação é uma grande vantagem.
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Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-
pedagógica, etc sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações, o próximo módulo
venha a ser melhorado.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas
margens das folhas. Estes icones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo
O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a
aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).
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4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalhjo intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
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sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões


de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas
trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou admibistrativa.
ISCED – MANUAL DE HISTÓRIA DAS IDEIAS POLÍTICAS

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
o à elaçãoà aosà out osà olegas.à Destaà a ei aàfi a ’aà aà sa e à seà
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação
Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,
estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e concistente.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
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Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de
avaliação.

Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da


cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.
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TEMA – I: O PENSAMENTO POLÍTICO NA ANTIGUIDADE

INTRODUÇÃO
O presente tema ira-se debruçar em torno dos diferentes
pensamentos sociopolíticos decorridos na Grécia Antiga e em
Roma. Dando maior destaque a implantação da democracia
ateniense e a formação da Republica nos respectivos territórios,
sustentando-se de pensadores da época, nomeadamente,
Platão, Aristóteles, Drácon, Sólon, Clístenes, entre outros.

UNIDADE Temática 1.1. GRÉCIA: A DEMOCRACIA ATENIENSE

Introdução

Nesta unidade, faz referência da democracia ateniense, na qual ira-se


discutir diferentes pensamentos dos pensadores como, Drácon, Sólon e
Clístenes.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Explicitar o contributo de Drácon, Sólon e Clístenes para a


construção do regime democrático em atenas;
Objectivos
 Descrever os direitos dos cidadãos atenienses;

 Mostrar o caracter directo da democracia antiga;

 Mostrar a importância da oratória no contexto da


democracia directa;

 Explicitar os mecanismos de protecção da democracia


ateniense;
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 Caracterizar a sociedade ateniense;

 Avaliar os limites da protecção democrática.

1.1.1. BREVE HISTORIAL DE ATENAS

Atenas foi fundada na Ática, península do mar Egeu, pelo jônios,


que ali se estabeleceram de forma pacífica, ao lado de eólios e
aqueus, antigos habitantes da região. No início, o poder político
estava sob o controle dos eupátridas, donos das terras mais
produtivas.

Na cidade, um soberano, chamado basileus, comandava a


guerra, a justiça e a religião. Uma espécie de conselho, o
Areópago, limitava seu poder. Com o tempo, os basileus
perderam a supremacia e se transformaram em simples
membros de um órgão denominado Arcontado.

A partir do século VIII a.C., essa organização política sofreu


profundas mudanças. Após a expansão territorial, ocorrida
durante Segunda Diáspora, os portos naturais e a privilegiada
posição geográfica de Atenas favoreceram o intercâmbio
comercial com as novas colónias.
Como consequência imediata da diversificação das actividades
económicas, houve uma considerável mudança no quadro social.

Assim, comerciantes e artesãos enriquecidos passaram a


pressionar a aristocracia por maior participação no poder. Ao
mesmo tempo, a população mais pobre protestava cada vez mais
contra as desigualdades sociais.

Diante da enorme pressão, os eupátridas viram-se obrigados a


fazer concessões. Com o objectivo de conciliar os conflitos,
passaram a escolher legisladores entre os integrantes da
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aristocracia, homens especialmente indicados para elaborar leis.


Dois desses legisladores foram Drácon e Sólon.

1.1.2. IDEIAS POLÍTICA DE DRÁCON E SÓLON

Drácon tornou-se legislador em 621 a.C. e foi responsável pela


introdução do registro por escrito das leis em Atenas – até então
elas eram orais. A cidade passou a ser governada com base em
uma legislação e não mais conforme os costumes. A mudança
enfraqueceu o poder dos eupátridas, mas não resolveu os
problemas sociais, e os conflitos continuaram.

Em 594 a.C., Sólon deu início a reformas mais profundas. Perdou


as dívidas e as hipotecas que pesavam sobre os pequenos
agricultores, e aboliu a escravidão por motivo de dívida. Criou a
Bulé, um conselho formado a princípio de quatrocentos
membros, responsável pelas funções administrativas e pela
preparação das leis. Tais leis tinham de ser submetidas à
apreciação da Eclésia, ou Assembleia, formada por indivíduos
livres do sexo masculino. Além de votar as propostas de leis, a
Eclésia deliberava sobre assuntos de interesse geral.
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No âmbito político, Sólon limitou o poder da aristocracia e


ampliou o número de participantes da vida pública da cidade.
Sua reforma representou um passo decisivo para o
desenvolvimento da democracia, consolidada posteriormente na
legislação de Clístenes. Os conflitos sociais entre aristocratas,
comerciantes, artesãos e pequenos proprietários de terras,
entretanto, não acabaram. Depois do governo de Sólon, a cidade
foi palco de grandes agitações sociais.

Sólon combateu a escravidão por dívida e outros problemas que,


causavam desigualdade entre os atenienses. Ele também
outorgou maior autoridade à eclésia, uma assembleia popular da
cidade, e criou a bule ou Assembleia dos 500 responsáveis por
organizar a tomada de decisões na assembleia.

Em meio a essas agitações, surgiu um novo tipo de líder político,


oà de agogo ,à ueà o ilizavaàaà assaàpopula àe àoposiçãoàaosà
aristocratas. Ao chegarem ao poder, esses líderes governavam
de forma ditatorial, adoptando medidas de apelo popular. Foram
chamados de tiranos pelos gregos. O mais conhecido deles foi
Psístrato, que, com alguns intervalos, exerceu o poder entre 560
e 527 a.C.
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1.1.3. CLÍSTENES E A DEMOCRACIA ATENIENSE

Alguns antigos atenienses acreditavam que as reformas


de Sólon no começo do século VI a.C. marcaram o início da
democracia na Grécia. No entanto, o termo democracia
(dimokratia) parece ter surgido apenas uma geração após as
reformas de Clístenes, convencionalmente chamado o "pai da
democracia" e principal defensor.

Clístenes ampliou consideravelmente o poder da eclésia, e


permitiu a existência do que os homens da época chamaram de
isonomia, ou seja, igualdade sob a lei, isegoria, os direitos iguais
para falar e isocracia, acesso igualitário aos cargos políticos e
participação directa.

Em 507 a.C., Clístenes assumiu o comando de Atenas e realizou


um vasto programa de reformas, no qual se estendeu os direitos
de participação política a todos os homens livres nascidos em
Atenas: os cidadãos. Desse modo, consolidava-se a democracia
ateniense.
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A participação política, contudo, era restrita a 10% dos


habitantes da cidade. Ficavam excluídos da vida pública, entre
outros, estrangeiros residentes em Atenas (os chamados
metecos), escravos e mulheres, ou seja, a maior parte da
população. Que na época era de 400 000, dividida em 40 000
"cidadãos", 100 000 de metecos (ou estrangeiros), 200 000 de
escravos e 60 000 de mulheres e crianças.

Apesar desses limites, a democracia ateniense foi a forma de


governo que, no mundo antigo, mais direitos políticos estendeu
ao indivíduo. Com as reformas de Clístenes, as funções
administrativas ficaram a cargo da Bulé, ou Conselho dos 500.
Seus integrantes eram sorteados entre os cidadãos.

Clístenes fortaleceu ainda a Eclésia, que passou a se reunir uma


vez por mês para discutir e votar leis, além de outros temas de
interesse geral dos cidadãos. Os assuntos militares ficaram sob a
responsabilidade dos estrategos.
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Atribuiu-se a Clístenes ainda a instituição do Ostracismo, que


consistia na suspensão dos direitos políticos e no exílio por dez
anos dos cidadãos considerados perigosos para o Estado.

A democracia ateniense estava, dessa maneira, no centro de


todas as grandes realizações desse período. O poder era exercido
por Conselhos e Magistrados eleitos anualmente, directamente
ou por sorteio.

O poder mais alto sempre permanecia sendo a Assembleia


popular, o poder directo que surgia das votações realizadas com
o erguimento das mãos, logicamente destinado àqueles que
tinham a habilidade e a oralidade bem desenvolvidos, como no
asoàespe ífi oàdosà Eup t idas à Osà e à as idos àaà lasseàdosà
aristocratas que tinham acesso ao conhecimento.
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Osà geo gói pe ue osà p op iet ios à eà ta à aosà Thetas à


(artesãos e marginalizados) podiam participar das decisões mais
muitas vezes eram manipuladas, como afirma BENOIT:

... Grupos poderosos, defendendo seus interesses


privados, utilizando todo tipo de corrupção,
contratando oradores profissionais (discípulos de
professores de retórica e de sofistas), manipulavam
a escolha de cargos e mesmo a Assembleia popular.
O povo, assim conduzido e enganado, apesar de
decidir e votar, decidia e votava, muitas vezes,
contra os seus próprios interesses reais. (BENOIT,
1996, p. 19).

Havia uma grande contradição no regime democrático dos


atenienses. O poder não era exercido pelo povo como se refere
em sua etimologia e sim para uma pequena percentagem da
população. Os considerados Cidadãos de Atenas eram aqueles
ueàe a à legíti os ,àouàseja,àfilhosàdeàpaisàate ie ses,à aio àdeà
18 anos de idade e do sexo masculino, cerca de 10% da
população que vivia em Atenas na época de Sócrates, Platão e
Aristóteles.

Paradoxalmente, se a democracia ateniense inventou a


liberdade, inventou também o modo-de-produção escravista
clássico, que dominará através de toda a Antiguidade...
O escravo criado por Atenas, e que é base do modo
de produção escravista, é de outro tipo: é o
chamado escravo-mercadoria , vendido e
comprado num mercado internacional de escravos e
que, desvinculado totalmente de sua terra de
origem, de sua família e comunidade, tornava-se
apenas, para usar a expressão célebre de
Aristóteles, u a coisa viva , ou seja, um mero
instrumento de trabalho, uma mera ferramenta de
produção. (BENOIT, 1996, p. 20)

Essa contradição no regime democrático talvez nos explique o


julgamento e execução de Sócrates em 399 a.C. que fora acusado
de corromper a juventude ateniense e de introduzir o culto a
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novos deuses. Conforme relata Platão, Chegou a hora de


separar-me de vós e de irmos, eu a morrer e vós a viver. Quem
leva a melhor parte? Vós ou eu? PLATÃO, col. Os Pensadores, p.
108-109).

Logicamente que Sócrates levou a melhor parte quando


pensamos na produção do pensamento filosófico e, mesmo sem
escrever uma única obra, sua contribuição para o entendimento
do Homem (como ser cognoscível) e seu relacionamento com a
vida política, suas preocupações e a construção de sua
Moralidade, representam para a posteridade a evolução do
pensamento político e da Filosofia.

1.1.4. A CIDADANIA ENTRE OS GREGOS

A cidadania era muito mais imediata e tangível para um


ateniense do que para o cidadão de uma nação moderna. O
ateniense vivia numa cidade cujo corpo de cidadãos nunca
passou de 50 mil (aproximadamente a oitava parte da população
total, por volta do ano 400 a.C.).

Todo ano havia para o cidadão ateniense a expectativa de servir


no exército ou na frota, poderia reunir-se com outros milhares
na Eclésia ou ser colocado na lista anual de 6 mil pessoas entre
as quais, segundo as necessidades, eram sorteados os jurados
para os tribunais populares. No mundo grego antigo, porém, isso
significava que Atenas tinha uma população de cidadãos bem
maior do que a de qualquer outro das centenas de Estados
gregos espalhados desde a Espanha até o sul da Rússia de hoje.

Além disso, Atenas era uma cidade extraordinariamente


cosmopolitana. Um ateniense podia observar milhares de
imigrantes temporários ou permanentes de outras cidades
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gregas ou terras não gregas trabalhando à sua volta, muitas


vezes fazendo o mesmo trabalho que ele sem, contudo,
compartilhar de nenhum de seus direitos de cidadão. A
característica mais marcante da cidadania do ateniense é que,
quando viajava para além dos limites de sua própria polis, era
imediatamente privado de seus direitos políticos.

As póleis gregas mantiveram seu sentido de comunidade política


através de leis de cidadania escritas e geralmente exclusivas.
Atenas tinha leis de cidadania que eram escritas até pelos
padrões gregos. Após a lei de cidadania promulgada por Péricles
em 451, só os homens que tivessem a mãe e o pai atenienses
podiam ser cidadãos.

A democracia ateniense era formada com a participação de


cidadãos atenienses (adultos, filhos de pai e mãe ateniense) que
correspondiam a uma minoria, pois eram excluídos os
estrangeiros, escravos e mulheres.

A Democracia de Atenas não satisfaz os critérios modernos, já


que não havia eleições: os magistrados eram sorteados, uma vez
que segundo a crença democrática, a eleição leva à aristocracia,
e as decisões políticas eram tomadas em assembleias em que
todos os cidadãos podiam participar, tanto com a palavra quanto
com o voto.

Reuniam-se os cidadãos – adultos masculinos nascidos em


Atenas em praça pública ágora, formando a Eclésia (Assembleia
política) para ouvir os demagogos (orientadores do povo) e para
decidir os destinos da Pólis.
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1.1.5. SOCIEDADE DE ATENAS

O prestígio de Atenas, no século V a.C., não derivava apenas do


poderio que atingira no mundo helénico. A sua forma de
organização social e política, a democracia, tornou-se um modelo
imitado por muitas outras cidades. Constituíam-se como grupos
sociais os cidadãos, metecos, escravos e mulheres.

Cidadãos - A este grupo pertenciam os homens residentes em


atenas e filhos de pais atenienses, com maior de 20 anos (ou
mais) e com serviço militar cumprido.
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Metecos (estrangeiros) - sem privilégios políticos. Podiam,


entretanto, exercer actividades sociais e intelectuais, eram
obrigados a pagar impostos e prestar serviços militares.

Escravos, praticamente era a mão de obra barata, trabalhavam


na agricultura, no artesanato, nas minas e exerciam também as
tarefas domesticas. Tinham a origem por descendência,
capturados nas guerras ou eram adquiridos nos mercados da asia
menor.
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Mulheres- Muitas ocuparam posição de destaque na educação


do jovem ateniense, nas realizações intelectuais e domesticas

A democracia ateniense privilegiava apenas seus cidadãos


(homens livres, nascidos em Atenas e maiores de idade) com o
direito de participar activamente da Assembleia e também de
fazer a magistratura.

Os principais defeitos da democracia ateniense eram: a


existência de escravos, só uma minoria dos habitantes, os
cidadãos, tinham todos os direitos e Atenas exercia imperialismo
sobre as outras cidades da liga de Dellos.
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1.1.5. A REPUBLICA E AS LEIAS-PERSPECTIVAS DE


PLATÃO E ARISTÓTELES

1.1.5.1. PLATÃO E AS LEIS

Platão nasceu um ano após a morte do estadista Péricles. Seu


pai, Aristão, tinha como ancestral o rei Codros e sua mãe,
Perictíone, tinha Sólon entre seus antepassados. Inicialmente,
Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo, um seguidor de
Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o
filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste.
Pouco depois de 399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns
outros discípulos de Sócrates, hospedando-se na casa de
Euclides.

Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão viajou


para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto
comunidades pitagóricas.

Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda


durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir à
Siracusa, na Sicília. Platão partiu para Siracusa com a esperança
de lá implantar seus ideais políticos. No entanto, acabou se
desentendendo com o tirano local e retornou para Atenas.

Em seu retorno, fundou a Academia. A instituição logo adquiriu


prestígio e a ela acorriam inúmeros jovens em busca de instrução
e até mesmo homens ilustres a fim de debater ideias. Em 367
a.C., Dionísio I morreu, e Platão retornou à Siracusa a fim de mais
uma vez tentar implementar suas ideias políticas na corte de
Dionísio II. No entanto, o desejo do filósofo foi novamente
frustrado. Em 361 a.C. voltou pela última vez à Siracusa com o
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mesmo objectivo e pela terceira vez fracassa. De volta para


Atenas em 360 a.C., Platão permaneceu na direcção da
Academia até sua morte, em 347 a.C.

Para Platão, o conhecimento (que para ele era fruto da reflexão


do homem), dependia, para ser atingido, da argumentação e da
discussão que eram forma de se validar cada passo da reflexão.
Platão acreditava que a obtenção de conhecimento e a sua
transmissão não eram tarefas de e para todos os homens, mas
apenas daqueles que, por natureza (por sua alma), tinham as
condições para tanto. Estes, por meio de conhecimento,
transformavam-se em homens melhores e preparavam-se para o
governo da cidade. O conhecimento verdadeiro – ou
reconhecimento – exigia um metódico esforço do homem para
que sua alma se lembrasse, para que o saber fosse, finalmente
adquirido. Nas palavras de Finley:

Para Platão (...) os homens são criados desiguais;


não meramente no sentido superficial da
desigualdade no físico, na riqueza ou posição social,
mas desiguais na alma, moralmente desiguais.
Alguns homens são potencialmente capazes de uma
conduta completamente racional e, por
conseguinte, de juízo moral correcto; a maior parte
não o é. Por conseguinte, a governação deveria ser
entregue à minoria moralmente superior –
idealmente, nas mãos dos filósofos autênticos.
... . (FINLEY, 1963, p. 113)

Esse saber real era o conhecimento da ideia, da essência que era


universal e não particular, imutável e não efémera, necessária e
não contingente. Platão buscava, por exemplo, a Justiça e não as
qualidades que definem este ou aquele homem justo, e buscava,
acima de tudo, o Bem, aquilo que a tudo une e a tudo dá sentido.

O verdadeiro conhecimento, para Platão, ao mesmo tempo que


iluminava o homem, permitindo-lhe melhor conhecer, era, ele
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próprio, iluminador, o conhecimento esclarecia, dava


transparência à realidade. No entanto, esse conhecimento não
era dado ao homem e, para ele chegar, era necessário galgar
vários degraus. Esse percurso iniciava-se no mundo sensível e
terminava quando se atingia o mundo das ideias:
... o conhecimento começava com as imagens
dos objectos sensíveis, às quais correspondia só
uma represe tação co fusa . Passava-se a seguir
aos próprios objectos do mundo sensível, aos
quais correspondia uma represe tação ítida ,
que levava à crença; tanto a representação
confusa como a representação nítida referiam-se
ao mundo sensível, mundo esse passível apenas de
um conhecimento no nível da opi ião . (ANDERY
e MICHELLETO – orgs., 2007, p. 75).

Nesse sentido, elaborou um sistema filosófico e um método de


investigação que objectivavam o que considerava o verdadeiro
saber. Era esse saber que, para ele, permitiria aos homens
construírem uma cidade justa e mais perfeita. A política, a
transformação da sociedade e o governo constituíam-se, assim,
na pedra de toque de seu sistema.

A concepção que Platão tem de conhecimento está relacionada a


sua concepção de sociedade; mais do que isso, prepara e justifica
para aquilo que Platão defendia para a sociedade na qual vivia –
a cidade grega. Platão pretendia organizar a cidade de forma a
mantê-la estável, ordenada; essa organização e estabilidade –
distintas pela razão – dependiam basicamente da divisão do
trabalho e do estabelecimento de leis:
... Platão estabelecia três actividades
fundamentais para a cidade: a produção,
garantida pelos artesãos; a defesa, garantida
pelos soldados; e a administração interna pelos
guardiães (...), defendia que era preciso descobrir,
em cada indivíduo, sua predisposição dominante
para que se lhe pudesse atribuir sua função, seu
papel na polis e, assim, garantir sua felicidade, o
bem-estar e a justiça da polis. (ANDERY e
MICHELLETO – orgs., 2007 p. 77)
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Para Platão a polis perfeita era aquela que visava o bem de todos
e não de grupos, isso seria possível se os seus governantes
conhecessem o Bem e se cada cidadão realizasse a função para a
qual era, por natureza, mais apto e para qual tivesse sido
educado. Assim, cada homem deveria trabalhar para o benefício
da cidade, segundo suas aptidões e, desse modo, a cidade se
manteria íntegra e justa, atendendo a todos.

A Democracia que ressaltava a importância do homem, como


indivíduo que era capaz de governar a si e aos demais, como
cidadão capaz de construir a sociedade por meio do
encaminhamento de propostas e de soluções aos problemas
enfrentados, sem dúvida alguma, marcaram o pensamento de
Platão.

1.1.5.2.ARISTÓTELES: A POLÍTICA E A ÉTICA

A maneira de pensar de Aristóteles diferia de Platão no que se


refere à política. Para Platão, além do objecto de conhecimento,
a política era também objecto de acção, já para Aristóteles, a
política era também objecto de estudo, o que poderia estar
relacionado ao facto de ser um estrangeiro e, portanto, sem
estatuto de cidadão ateniense.

Aristóteles nasceu em 384 a.C. e morreu em 322 a.C., foi viver


em Atenas aos 17 anos, onde conheceu Platão, tornando seu
discípulo. Passou o ano de 343 a.C. como preceptor do
imperador Alexandre, o Grande, da Macedónia. Fundou em
Atenas, no ano de 335 a.C, a escola Liceu, voltada para o estudo
das ciências naturais. Seus estudos filosóficos baseavam-se em
experimentações para comprovar fenómenos da natureza.
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O filósofo valorizava a inteligência humana, única forma de


alcançar a verdade. Fez escola e seus pensamentos foram
seguidos e propagados pelos discípulos. Pensou e escreveu sobre
diversas áreas do conhecimento: política, lógica, moral, ética,
pedagogia, metafísica, didáctica, poética, retórica, física,
antropologia, psicologia e biologia. Publicou muitas obras de
cunho didáctico, principalmente para o público geral. Valorizava
a educação e a considerava uma das formas de crescimento
intelectual e humano.

Na filosofia aristotélica a política é um desdobramento natural


da ética. Ambas, na verdade, compõem a unidade do que
Aristóteles chamava de filosofia prática. Se a ética está
preocupada com a felicidade individual do homem, a política se
preocupa com a felicidade colectiva da Pólis. Desse modo, é
tarefa da política investigar e descobrir quais são as formas de
governo e as instituições capazes de assegurar a felicidade
colectiva. Trata-se, portanto, de investigar a constituição do
Estado:
As propostas políticas de Aristóteles parecem
reflectir o momento histórico em que viveu, um
momento de muita conturbação e em que a defesa
da ordem poderia significar a conservação de toda
uma sociedade; mas, indubitavelmente, reflectem
também sua concepção mais geral de mundo e de
co heci e to (ANDERY e MICHELLETO –
orgs., 2007, p. 96).

Aristóteles discordava, entre outras coisas, da organização


económica da cidade-Estado ateniense do seu tempo, voltada
para o comércio e intercâmbio com o exterior, que, segundo ele,
mantinha a cidade dependente e levava às guerras. Discordava,
ainda, das concepções mais alargadas de cidadania e propunha
restringir o estatuto de cidadão àqueles indivíduos
completamente liberados de todo trabalho manual, não
entrando nessa categoria os artesãos e os lavradores. Apenas
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aos cidadãos estaria reservada a prática da virtude, que


precisava ser exercida para que se desenvolvesse a política.

Sumário

A política, como arte, ciência, ideologia ou como filosofia da


administração do Estado surgiu na antiga Grécia, numa altura em
que as cidades estavam organizadas como estados
independentes (cidades - estado). Nestas todos os cidadãos
livres eram iguais e tinham a estrita obrigação de participarem
na organização e governo da sua cidade (Democracia).

Os sofistas (professores estrangeiros) desenvolverem uma


concepção instrumental da política: o objectivo de qualquer
cidadão é atingir o poder, para poder obter todos os benefícios
que o mesmo lhe pode dar (prazer, riquezas, etc). Nesta
concepção todos os meios são legítimos para um cidadão
alcançar e manter o poder.

Sócrates protagoniza a luta contra a concepção política dos


sofistas. A política só pode ter uma única finalidade: melhorar os
cidadãos, nomeadamente em termos éticos. Se isto não
acontecer, o estado está condenado a desagregar-se. Ética e
política estão indissoluvelmente ligadas.

Platão coloca a questão da política em termos ideais. Qual a


melhor organização de um estado? Qual o melhor governo?
Neste plano ideal acaba por construir a primeira utopia política
que irá inspirar muitas outras ao longo dos séculos.

Aristóteles concebe a política não como algo ideal, mas como o


possível num dado lugar (topos), contexto, tradição, etc. Prefere
a democracia, mas tem duvidas se a mesma pode ser aplicada
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em qualquer lugar. A finalidade mais elevada de política é a


procura de um bem comum - a felicidade. O princípio de
governação é a justa medida, ou seja, o meio-termo.

Exercícios de Avaliação
Resumir em uma página, as ideias políticas da Grécia antiga,
relacionando os diferentes pensamentos dos teóricos da época.

Exercícios
1.Explique por que motivo é importante que as leis estejam
escritas.

2.Escolha entre os factos apresentados na cronologia, três que


pareça importante para o aparecimento do sistema
democrático. Fundamenta a sua escolha.

3.Considera que o processo de formação da democracia foi


rápido ou longo? Justifique

4.Sintetize os princípios de igualdade entre os cidadãos em que


se baseava a democracia ateniense.

5.Refira as assembleias que asseguravam a elaboração das leis.

6.Explique por que razão na escolha dos estrategos, se preferia


o sistema de eleição.

UNIDADE Temática 1.2. ROMA NA ANTIGUIDADE

Introdução
Nesta unidade temática faz uma abordagem em torno das ideias
políticas salientes na antiga Roma, que é caracterizada por
intensos conflitos militares, situação conhecida por pax romana,
que ciclicamente condicionou a alternância do poder e permitiu
a expansão do território.
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Foi também durante o Império que o cristianismo se fortaleceu e


passou a ser um perigo para a ordem social romana, já que os
cristãos se recusavam a cultuar as divindades romanas. A
liberdade de culto instituído por Constantino era uma concessão
aos cristãos.

Outro problema enfrentado pelos romanos foram as invasões


dos povos bárbaros que habitavam as regiões fronteiriças do
Império. Essas invasões iniciaram-se com os germanos no século
III d.C., levando à posterior crise que ocasionaria o fim do
Império.

 Descrever a periodização da História Romana;

Objectivos  Identificar as consequências da expansão Romana;

 Descrever os factores que conduziram a crise da Republica;

 Relacionar o Ius com a Republica;

 Caracterizar as fases do Imperio.

1.2.1. BREVE HISTORIAL DE ROMA NA ANTIGUIDADE

Roma foi o grande império da antiguidade, caracterizada por sua


expansão territorial. A história romana tem a seguinte
periodização:

 Monarquia - de 753 a.C. à 509 a.C.


 República - de 509 a.C. à 27 a.C.
 Império - de 27 a.C. à 476 d.C.
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1.2.1.1.MONARQUIA

A própria fundação da cidade no ano de 753 a.C. está ligada à


uma tradição e pelas lendas, provavelmente surgiu como uma
fortificação militar por volta do século VIII a.C. para defender-se
das invasões estrangeiras. A evolução militar romana foi
excepcional e, ao longo da Monarquia e início da República, os
romanos já haviam conquistado toda a península Itálica. Com
estas conquistas, Roma passa a exercer uma política imperialista
(de carácter expansionista), entrando em choque com CARTAGO
-importante colónia fenícia que controlava o comércio marítimo
no Mediterrâneo.

O conflito entre Roma e Cartago, as Guerra Púnicas, inicia-se em


264 a.C., quando Roma anexou a Sicília, e estende-se até o ano
de 146 a.C. quando o exército romano, comandado por Cipião
Emiliano destruiu Cartago. Atraídos pelas riquezas do oriente,
Roma conquista a Macedónia, a Grécia, o Egipto e o Oriente
Médio. A parte ocidental da Europa, a Gália e a península Ibérica
também foram conquistadas.
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1.2.1.2. A REPÚBLICA

A principal instituição de República Romana será o Senado,


responsável pela direcção de toda política romana. Formado por
patrícios, que ocupavam a função de forma vitalícia, o Senado
era o responsável pela condução da política interna e da política
externa.
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Escolhia os magistrados anualmente, que exerciam cargos de


natureza judiciária e executivos, tais como:

 Consulado: magistratura mais importante, ocupado por


dois militares. Um agia em Roma e outro fora de Roma.
Em casos de extrema gravidade interna ou externa, esta
magistratura - como de resto, as outras também - era
substituída pela DITADURA uma magistratura legal com
duração de seis meses.
 Tribunos da plebe: representantes da plebe junto ao
Senado. Possuíam o poder de vetar as decisões do
Senado que afectassem os plebeus, assegurando assim
seus direitos.
 Questor: responsável pela arrecadação de impostos.
 Pretor: encarregado da justiça civil.
 Censor: zelava pela moral pública ( a censura) e realizava
a contagem da população ( o censo ).
 Edil: cuidava da manutenção pública -obras, festas,
policiamento, abastecimento.

Para completar a organização política, restam as Assembleias


que eram em número de três:
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 Assembleia Centuriata: a mais importante da República.


Responsável pela votação de todas as leis. Monopolizada
pelos patrícios.
 Assembleia Tribunícia: composta pelas tribos de Roma.
Aqui a votação era colectiva, pela tribo. O número de
tribos de patrícios era maior do que de plebeus.
 Assembleia da Plebe: uma conquista dos plebeus. Tinha
por finalidade escolher os tribunos da plebe. As leis
votadas nesta assembleia serão válidas a todos os
cidadãos, trata-se do plesbicito.

1.2.1.2.1.AS CONSEQUÊNCIAS DA EXPANSÃO


ROMANA

A expansão territorial trouxe profundas mudanças na estrutura


social, política, económica e cultural de Roma.

1. Houve um enorme aumento da escravidão, já que os


prisioneiros de guerra eram transformados em escravos.

2. O surgimento dos latifúndios e a falência dos pequenos


proprietários. As terras anexadas ao Estado, através das
conquistas possuíam o status de "ager publicus", destinadas aos
camponeses. No entanto o patriciado acaba apossando-se destas
terras e ampliando seu poder.

3. Processo de marginalização dos plebeus, resultado do


empobrecimento dos pequenos proprietários e da expansão do
escravismo, deixando esta classe sem terras e sem emprego.

4. O surgimento de uma nova classe social - os Cavaleiros ou


Homens-novos enriquecidos pelo comércio e pela prestação de
serviços ao Estado: explorar minas, construir estradas, cobrar
impostos etc...
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5. Aumento do luxo e surgimento de novos costume, em


decorrência da conquista do Império Helenístico. Como exemplo,
o culto do Mitraísmo.

6. Como resultado da marginalização dos plebeus e do


desenvolvimento do escravismo, houve um enorme êxodo rural,
tornando as cidades superpovoadas, contribuindo para uma
onda de fome, epidemias e violência. Para controlar esta massa
urbana, o Estado inicia a Política do Pão e Circo - a distribuição
de alimentos e diversão gratuita. Com isto, o Estado romano
impedia as manifestações em favor de uma reforma agrária.

7. No plano militar, o cidadão soldado foi substituído pelo


soldado profissional, que passou a ser fiel não ao Estado mas sim
ao seu general. O fortalecimento dos generais contribuiu para as
guerras civis em Roma.

1.2.1.2.2. A CRISE REPUBLICANA

A Crise na República foi marcada em três momentos, que


levaram ao fortalecimento e enfraquecimento das ordens
políticos militares, a se destacar:

A) Os irmãos Graco

A situação de marginalidade dos plebeus, o aparecimento dos


latifúndios; levaram alguns tribunos da plebe a proporem uma
reforma agrária: foram os irmãos Tibério e Caio Graco.

Os irmãos Graco tentaram melhorar as condições de vida dos


plebeus por meio de uma reforma agrária e de uma lei
frumentária. As terras públicas (o Ager publicus) seriam
utilizadas para transformar o pobre urbano em camponês, bem
como a ampliação da distribuição de alimentos. Mediante estas
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reformas, acreditavam os tribunos, as tensões sociais


diminuiriam. Os dois irmãos foram assassinados...

B) Os generais Mário e Sila.

O desaparecimento do cidadão soldado veio fortalecer o poder


individual de alguns generais, que se utilizavam da popularidade
diante de seus soldados para manterem-se no poder.

Destaque para o general Mário e o general Sila que levam seus


exércitos a conflitos pela disputa do poder político. Estes
conflitos políticos, com fortes conotações sociais estão na origem
das chamadas guerras civis.

Durante estas guerras internas, outros generais destacaram-se


como Pompeu e Júlio César.

C) Triunvirato

Período em que o governo de Roma estava dividido entre três


generais.
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O primeiro Triunvirato foi composto por César, Pompeu e Crasso.


Com a morte de Crasso, César e Pompeu travam uma disputa
pelo poder, resultando na vitória de Júlio César e no início de seu
poder pessoal, que dura até o ano de 44 a.C., ano de seu
assassinato.

O segundo Triunvirato era formado por Caio Octávio (sobrinho


de Júlio César), Marco António e Lépido. Aqui também haverá
uma intensa disputa pelo poder pessoal. No ano de 31 a.C., com
a vitória de Caio Octávio sobre Marco António tem início o poder
pessoal de Octávio, que se tornará o primeiro imperador
romano.
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1.2.1.2.3.O SIGNIFICADO DO IUS NA REPÚBLICA

Durante os primeiros séculos da História de Roma, a construção


do direito esteve nas mãos dos sacerdotes, ou seja, dos
pontífices. Eles foram os responsáveis por definir o
comportamento social dos patres, isto é, dos chefes das gentes,
das famílias extensas que formaram os primeiros núcleos sociais
da Roma Antiga.

Deste modo, a pronúncia do ius, do direito, foi atribuída


inicialmente a um círculo de sacerdotes, o chamado colégio dos
pontífices, componente essencial da religião romana arcaica
(Schiavone, 1991:76).

Estes sacerdotes eram os responsáveis por guardar e interpretar


as mais importantes reservas de conhecimentos da
colectividade, controlando socialmente o tempo (pela definição
dos dias fastos e nefastos para a realização dos negócios públicos
e privados), das orações e das invocações aos deuses (para
garantir a sua protecção às acções empreendidas pelos
romanos), da escrita nascente e dos costumes dos ancestrais, os
chamados mores maiorum.

Como as decisões deveriam estar plenamente de acordo com os


costumes dos ancestrais, para serem vistas como correctas e
eficazes, os sacerdotes, por conhecerem estes costumes e serem
responsáveis pela sua divulgação e manutenção, ficaram
também encarregados de ditarem as leis para a comunidade e de
julgarem os litígios de acordo com as tradições dos
antepassados.

As leis e as sentenças ditadas por estes sacerdotes regulavam as


relações sociais travadas entre os homens e as relações rituais
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desenvolvidas entre os homens e os deuses, visando a conquista


de uma estabilidade duradoura e de uma segurança infinita. Pela
criação de regras de conduta e de preceitos fixos, baseados em
normas morais e éticas, buscava-se uma organização social
garantida pela lei e pela ordem.

Nas palavras dos pontífices e no seu talento interpretativo


estava depositado o segredo da adesão da cidade e de seus
moradores ao mundo do sagrado e do mágico, que se imaginava
empenhado em proteger e tornar invencível quem sabia
entender a sua linguagem e conformar-se com a vontade dos
deuses que o habitavam (Schiavone, 1991:77).

Para os antigos romanos, os deuses não eram potências


distantes, mas, ao contrário, eram entidades presentes, que se
manifestavam a todo momento sua aprovação ou desaprovação
com relação aos actos humanos, mediante sinais manifestados
na natureza e através dos sonhos (Cramer, 1954:52). Era
fundamental para os romanos entender e agir de acordo com as
vontades das divindades, por isso os sacerdotes que tinham
acesso a esse conhecimento eram os responsáveis por
regulamentar a vida social.

Nesta ordem de ideia, os litígios resolvidos por estes primeiros


legisladores-sacerdotes tinham a intenção de resolver a querela
não apenas no mundo humano, mas também no mundo divino.

Para o romano, qualquer crime ou desavença ocorrida no meio


dos homens afectava directamente sua relação com o cosmos, a
habitação das divindades. Devido a esse pensamento, o direito
apresentou origens tão religiosas. O castigo ou punição dados a
um crime eram responsáveis por restabelecerem não somente a
paz entre os homens, mas principalmente a pax deorum.
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Assim, era fundamental que se garantisse a cada um os seus


direitos e que cada membro da comunidade garantisse o que é
seu, e no caso de desavenças sobre propriedades, as reparações
deveriam ser definidas rapidamente. Foram estas noções que
iniciaram o próprio princípio da justiça na Antiguidade Romana.

A não reparação de uma injustiça ou a não punição de um crime


abalavam toda a sociedade e se transformavam em verdadeiros
sacrilégios. Por isso, todos os julgamentos deveriam ser feitos em
recintos abertos, para a admiração de todos, e na presença da
estátua de uma divindade, que, de certa forma, presidia e
verificava o julgamento realizado pelos homens (Grimal,
1988:91-95).

O carácter prescritível das indicações visava sempre assegurar


um benefício imediato para os usufruidores do saber que nelas
estava contido, regulando através da pronúncia do ius as
relações entre os vários grupos familiares no seio da
comunidade. Os pontífices criavam as leis a partir de problemas
imediatos, gerando a constituição de um direito prático e útil ao
momento em que era engendrado.

Os chefes de família procuravam saber com os pontífices qual


era a conduta gestual e verbal conveniente para que as acções
de cada um, em relação aos outros chefes de família e em
relação aos deuses, levassem à consecução de determinados
objectivos nas relações desenvolvidas entre os grupos
(Schiavone, 1991:78).

Portanto, as primeiras leis romanas foram criadas a partir da


interpretação dada pelos pontífices a problemas imediatos e
concretos criados no dia-a-dia da sociedade romana arcaica.
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Nos séculos V e IV a. C., após o golpe aristocrático que deu


origem ao sistema político da República, em substituição ao
sistema da Realeza, a cidade de Roma foi abalada pelas
chamadas secessões da plebe, isto é, movimentos de sedição
engendrados pelas famílias menos tradicionais de Roma, que
chamadas a ajudar no pagamento dos tributos, para garantir a
organização financeira da cidade, e na defesa da mesma, pela
convocação para o exército, se viram impedidas de fazer e
interpretar as leis, por não conseguirem ter seus membros
indicados para o colégio dos pontífices, visto que, por serem
famílias de chegada relativamente recente ao território da urbe,
não conheciam os costumes ancestrais, e desta forma não
podiam lidar com as leis, que eram, como vimos, baseadas
nestas tradições, só compartilhadas pelos membros das famílias
mais antigas.

Com o tempo, vendo-se na iminência de ter que defender o


território da urbe frente a outras cidades, que ameaçavam a
hegemonia de Roma no Lácio e depois na Península Itálica, os
membros das famílias mais antigas, os patrícios, foram impelidos
a cederem às pressões e requisições dos membros das famílias
menos tradicionais, os plebeus. Deste modo, admitiram escrever
e divulgar algumas leis existentes somente na oralidade e
permitir a entrada de plebeus nas funções públicas, inclusive no
colégio dos pontífices.

Os homens mais ricos da comunidade, que podiam participar da


condução dos destinos do Estado, se uniram num grupo social,
que se convencionou chamar de nobilitas, que passou a
controlar todas as magistraturas republicanas e a formulação das
leis (Alfoldy, 1989:28-35).
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Em meados do século V a. C., os plebeus conquistaram a


codificação do direito pela chamada formulação das Leis das XII
Tábuas, realizada e outorgada pelos Decênviros.

Como nos lembra Geza Alföldy, não se tratava de modo algum de


uma nova legislação favorável aos plebeus, mas apenas de uma
fixação escrita do direito em vigência e da sua exposição no
Fórum, para o conhecimento de todos os cidadãos. Daí em
diante, qualquer cidadão podia apelar contra injustiças e
arbitrariedades dos poderosos, não já simplesmente a partir de
um direito consuetudinário, geralmente respeitado mas não
muito claro em todos os seus aspectos, mas também para
prescrições e penalizações bem definidas.

O princípio de que todo o cidadão podia comparecer perante a


justiça e tinha direito a um defensor (vindex) era garantia até
para os mais pobres e fracos da protecção da lei (Alföldy,
1989:32).

A partir do III século A.C., a imagem do sacerdote-legislador foi


sendo abandonada em prol da imagem de um nobre-legislador,
em crescente ascensão. Os comentários jurídicos e o
conhecimento das tradições passaram a interessar não apenas
aos pontífices, mas a todos os aristocratas. Os nobres recebiam
desde criança, como parte de sua educação, noções a respeito
da formulação e da interpretação das leis.

O aristocrata era, quase por definição, o homem que conhecia o


direito, que sabia a fundo as leis e os costumes, as regras
processuais, o repertório da jurisprudência, o conjunto dos
precedentes a que em determinados casos se podia referir para
invocar a autoridade da analogia, da tradição.
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O aristocrata usava de sua erudição e de sua memória para


propor soluções sobre a ambiguidade das leis existentes. Pelo
menos no nível da idealização, os prudentes, isto é, os
aristocratas que se dedicavam ao estudo do direito, apoiavam-se
sobre o elevado sentido da justiça, do bem e da ordem (Marrou,
1990:443-446), visando obviamente a manutenção do status
quo, que lhes garantia a permanência e a inquestionabilidade de
seus privilégios.

A interpretação do direito continuou a ser uma função de quem


exercia poder na cidade. Só que com o tempo este poder havia
se laicizado um pouco mais. Não que a relação com as divindades
tivesse sido relegada a um segundo plano, mas a lei ganhava a
função de ser também uma forma de se garantir a ordem interna
na urbe, constituindo-se num veículo para a manutenção da
ordem dentro dos limites da cidade, e posteriormente do
Império conquistado, a partir exactamente deste III século A.C.

No II século A.C., com a continuidade das conquistas territoriais


romanas, a aristocracia se viu abalada pela divisão de seus
membros entre as facções dos optimates e dos populares. As
conquistas tinham trazido grandes mudanças para a cidade-
Estado romana, algumas boas e outras más para a República.

Da mesma forma que os aristocratas se viram liberados do


pagamento de impostos, devido à grande afluência de tributos
das províncias para o centro do Império, os senadores tiveram
que enfrentar o descontentamento da plebe com a inflação, o
crescente êxodo rural, o aumento da utilização do trabalho
escravo, a proletarização dos cidadãos, os pedidos de reforma
agrária, entre tantos outros problemas gerados a partir do
destino dado às terras conquistadas (ager publicus) e às riquezas
que afluíram para o território romano. Os optimates não
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queriam ceder às pressões da plebe, para que as riquezas fossem


melhor distribuídas entre os cidadãos, já os populares
acreditavam que algumas reformas precisavam ser feitas, para se
evitar a guerra civil eminente.

Nesta situação de stasis, a lei era uma das garantias possíveis


para se tentar manter a ordem. Buscava-se na fabricação das leis
a retomada de uma persuasão pela moral. Seguir as leis era uma
garantia da manutenção da ética no seio da República. Por isso,
no final da República assistiu-se a elaboração de uma autêntica
literatura jurídica, que buscava comentar e justificar as leis
existentes, que advinham principalmente de três fontes: os
plebiscitos votados na Assembleia Tributa, os Éditos anuais dos
Pretores e os Senatus Consulta do Senado.

Foi, por exemplo, na Assembleia Tributa que os irmãos Gracos


tentaram aprovar suas famosas leis agrárias, na tentativa de
redistribuir as terras públicas, e que acabaram por levá-los à
morte. De igual maneira, cada Pretor eleito costumava reeditar
as medidas tomadas pelos magistrados anteriores, reformulando
o que achasse necessário, para se adaptar aos novos problemas
que apareciam com as conquistas de novos povos e territórios.

Estas medidas eram publicadas num documento chamado Édito


do Pretor, que era feito com o auxílio de jurisconsultos, que
foram se profissionalizando, no intento de auxiliar e aconselhar
estes magistrados (Grimal, 1988:96).

Assim, foram surgindo os juristas romanos, ou seja, homens que


se especializavam no conhecimento e na discussão das leis. O
Senado, por sua vez, passou a publicar as suas discussões e
decisões (sententia) com carácter de lei (Talbert, 1984:303-
308).
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1.2.1.2.4.MARCO TÚLIO CÍCERO E A REPÚBLICA

Marco Túlio Cícero, conhecido político, magistrado e orador


romano, surgiu no final da República. Ele aproveitou seus exílios
e períodos de otium para reflectir sobre as instituições e
costumes romanos, a partir de seu ponto de vista de homem
novo aristocrata, publicando inúmeras obras.

Sua família não era muito antiga nos negócios públicos, mas ele
aprendeu desde cedo que se quisesse ascender no cursus
honorum senatorial, precisaria conhecer e aceitar as antigas
tradições, e entre elas, destacavam-se as leis romanas. Cícero foi
mais um vindex do que um prudens, ou seja, foi mais um
defensor público do que um jurista, mas sem dúvida um grande
defensor das leis tradicionais.

Cícero nasceu em 106 a . C. na cidade de Arpino. Como sua


família pertencia à ordem equestre, para ascender à ordem
senatorial, além de conquistar o censo necessário, ele e seu
irmão, Quinto, tiveram acesso a uma cuidadosa educação, da
qual fazia parte o estudo das leis e da jurisprudência. Foi Questor
na Sicília em 76 a . C. e Edil Curul em 70 a . C. Chegou ao
Consulado, mas foi exilado em 58 a . C. Anistiado por Júlio César,
Cícero voltou a Roma e durante a Ditadura de César, ele produziu
várias de suas obras. Foi morto pelos soldados de Marco Antônio
em 43 a . C., ao defender os direitos de Otávio Augusto após o
assassinato de César.

A partir de uma influência das obras de Platão, Cícero criou sua


obra Da República, entre os anos de 54 e 52 a. C., na qual ele
defendeu o modo republicano adoptado em Roma, onde os
aristocratas mais educados, ricos e dispostos a defenderem as
conquistas detinha todo o poder político. Como um
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complemento a esta obra, Cícero escreveu entre 51 e 43 a . C. a


obra De Legibus (cuja tradução pode ser Das Leis ou Sobre as
Leis), na qual ele apresentou sua noção de lei e justificativas para
algumas leis existentes e praticadas em Roma.

Diferindo do idealismo platónico, que criou leis ideais para uma


República imaginária, Cícero propôs para a sua República real leis
práticas, positivas e de inspiração racional (Brito, 1967:19).
Quase todas as leis citadas já eram conhecidas e postas em
prática na Roma Republicana. Portanto, Cícero não propôs uma
nova legislação nesta sua obra, mas sim defendeu abertamente o
que já existia. Trata-se de uma obra que buscou justificar o que
existia, tentando desestimular mudanças, bem ao gosto dos
aristocratas optimates do final do período republicano.

Na sua noção de lei e as leis, ele acreditava mais importantes


para manterem a religião e o poder dos magistrados em Roma,
frente às mudanças que tinham sido impostas pela conquista de
tantos povos e territórios novos. Pós com o aparecimento do ius
gentium, ou seja, de leis para controlarem os conflitos e
manterem a ordem entre os cidadãos romanos e os peregrinos,
os estrangeiros, as leis romanas tradicionais se viram afectadas
pela necessidade de serem adaptadas aos novos tempos e Cícero
queria garantir a permanência de algumas delas, para que a
República como forma de governo também pudesse ser mantida.

áàleià àaà azãoàsup e aàdaàNatu eza,à ueào de aà


o que se deve fazer e proíbe o contrário. Esta
mesma razão, uma vez confirmada e desenvolvida
pela mente humana, se transforma em lei. Por isso,
afirmam que a razão prática é uma lei cuja missão
consiste em exigir as boas acções e vetar as más.
(...) A lei é a força da natureza, é o espírito e a
razão do homem dotado de sabedoria prática, é o
critério do justo e do injusto. (...) Sem dúvida, para
definir Direito, nosso ponto de partida será a lei
suprema que pertence a todos os séculos e já era
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vigente quando não havia lei escrita nem Estado


o stituído à De Legibus, I, 6-7) in Gonçalves.

A lei não era para Cícero uma simples convenção dos homens,
mas uma exigência racional de se seguir o modelo da natureza.
Antes de conhecerem as leis, os homens tinham que conhecer a
eles mesmos e a sua relação com o meio natural que os cercava,
no qual as divindades se manifestavam e indicavam os melhores
caminhos para as acções humanas, dependendo da
interpretação dos indícios naturais, chamados augúrios ou
auspícios.

Para Cícero, era a natureza que proporcionava aos homens a


faculdade de distinguir o bem do mal, o honesto do desonesto.
Agir bem, honestamente e com justiça era agir de acordo com a
natureza, de acordo com a vontade das divindades.

Segundo Brito (1967:20-21), o homem, pelo conhecimento de si


mesmo, alcançaria a visão das divindades, dos legisladores
máximos, e essa identificação transformaria o mundo numa
grande comunidade onde deveria reinar a fraternidade. Tratava-
se de uma concepção interessante a ser defendida para uma
população não apenas romana, pois justificava a conquista pelo
facto de poder, por intermédio dela, levar a lei e a civilização aos
povos conquistados.

Na óptica de Cícero, os homens poderiam pertencer ao mesmo


tempo à pátria onde nasceram e a que os adoptou. Todos os
habitantes dos municípios teriam duas pátrias e deveriam morrer
por Roma, dedicando-se inteiramente a ela, pondo-se a seu
serviço e consagrando-lhe todos os seus bens.

Esta concepção estava plenamente de acordo com o


pensamento aristocrático à respeito da relação que deveria se
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desenvolver entre os cidadãos romanos, os aliados e os


provinciais.

A lei romana para Cícero era natural e comum a todos os


homens, por isso deveria ser levada a todos através da
constituição do Império territorial, Além de ser a base da relação
entre os homens de todos os cantos, a lei era também
identificada por Cícero como o verdadeiro vínculo que se
estabelecia entre os homens e os deuses.

Seguindo esta linha de pensamento que vincula a Natureza, a


razão e a lei, Cícero concluiu que o estabelecimento da lei gerava
um progresso moral que resultaria na ciência do bem-viver. Por
isso, a lei se constituía num elemento fundamental para se
consolidar os Estados, estabilizar as cidades, sanar os problemas
dos povos.

De acordo com o pensamento de Cícero, o homem era justo e


bom por natureza, por isso, não conseguia ignorar a lei da
Natureza. Quem a ignorava era injusto, estivesse a lei escrita ou
não em alguma parte, era natural ao homem desejar a equidade
e amar o Direito, pois só se conseguiria amar algo digno de amor,
algo natural. Por isso, a justiça não andaria em busca de
recompensa ou de remuneração, mas bastaria a si própria.

Quando os homens evitavam os excessos, tal facto não se


deveria ao temor à infâmia ou às leis e aos tribunais, mas por
medo da Natureza, de uma punição e de um castigo maior e mais
profundo, ligado às próprias divindades, que governavam a
consciência humana. Os homens tenderiam ao Bem Supremo e
não à busca do dinheiro, das honras, da beleza e da saúde, pois
não se saberia quanto tempo estes bens iriam durar. Porém, o
Bem era para sempre, depois de ser alcançado. E o Bem era tudo
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o que estava em conformidade com a Natureza e era favorável à


manutenção da vida.

De acordo com este pensamento, a Natureza levaria o homem a


formular leis em conformidade com ela, e estas leis estimulariam
os homens a gozarem de uma vida moderada e própria da
virtude. Os homens seriam disciplinados e viveriam sob uma
ordem comum à Natureza.

As leis poderiam, desta maneira, rectificar os vícios e fomentar as


qualidades humanas. As leis deveriam agir de modo persuasivo
mais do que coercitivo, pois seria, para Cícero, a eloquência
quem governaria os povos, daria força a estas leis, castigaria os
maus por seu intermédio, ampararia os bons, exaltaria os
grandes homens, consolaria os aflitos e imortalizaria os feitos e
os ditos dos sábios e dos heróis. Estas seriam as principais
funções das leis humanas, isto é, fazer os homens conhecerem a
si próprios, pois aquele que conhece a si mesmo começaria por
sentir-se de posse de algo divino, descobrindo todos os dons que
a Natureza lhe deu ao nascer e todos os instrumentos que dispõe
para obter e alcançar a sabedoria.

Portanto, no pensamento ciceroniano, a formulação e o respeito


às leis trazia consigo a ordem para a comunidade dos homens. E
só quando houvesse ordem e disciplina, o homem poderia ser
realmente feliz.

No segundo livro da obra De Legibus, Cícero afirma que os


homens ao formularem as leis deveriam ter em vista a
segurança, a tranquilidade e a felicidade dos próprios homens:

ássi ,à àf ilàe te de à ueàaoàfaze àap ova àpeloà


povo decisões prejudiciais e injustas, os
responsáveis quebram suas promessas, negam suas
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declarações e fazem qualquer outra coisa, menos


leis. (...) Do mesmo modo, não se chamará lei a
qualquer decisão do povo, quando este o houver
ap ovado,àapesa àdeàse àpe igoso à àDe Legibus, II,
3-4).

Com este pensamento, Cícero mais uma vez invocou as


concepções aristocráticas das quais compartilhava, enquanto
Senador. Ele defende que as leis populares eram perigosas,
principalmente se não fossem aceitas pelo Senado.

Cícero atentou para os poderes dos deuses, afirmando que eles


eram os senhores e governadores do universo, que nada se fazia
sem a ajuda de seu julgamento e de sua virtude divina e que
observavam o carácter, as acções e a responsabilidade de cada
um, levando em conta os piedosos e os hereges.

Por causa disso, os homens deveriam ter grande preocupação


com os ritos, respeitando as leis sacrais. Entre elas, destaca-se as
que dizem respeito à proibição de culto a deuses novos, não
reconhecidos pelo Estado; a preocupação em manter os deuses
tradicionais e os ritos familiares; a importância dada ao culto dos
heróis, das virtudes e da realização das cerimónias públicas; que
se fizesse um calendário de dias fastos e de festas; que se
respeitassem os sacerdotes e os áugures; que os prodígios
fossem interpretados segundo o Senado; que se castigasse o
incesto; que se reduzissem os gastos funerários; e que não se
consagrassem campos às divindades.

Cícero buscou por intermédio destas leis ressaltar a tradição e a


importância da manutenção dos costumes ancestrais, do status
quo, para garantir a manutenção da própria República, como
forma de governo aristocrático.
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Os deuses que deveriam ser consultados e celebrados eram os


antigos, não os novos, advindos das conquistas. Era fundamental
também controlar os prodígios, os poderes dos áugures e o
calendário, pois todas estas manifestações religiosas sempre
tiveram sua aplicação política, definindo por várias vezes o curso
dos acontecimentos. Era preciso estimular as tradições pela
manutenção dos cultos aos heróis romanos e às virtudes, como a
fides, a pietas e a própria iustitia.

Também era importante controlar a mudança dos costumes,


proibindo incestos e o luxo excessivo, demonstrado pelos
aristocratas enriquecidos pelo uso ostentatório de peças
advindas dos botins, saques e tributos chegados a Roma, a partir
das conquistas territoriais. Os funerais tinham perdido seu
carácter religioso em detrimento de uma demonstração de
riqueza e de poder.

Por fim, era necessário ordenar a utilização dos campos,


impedindo que se parasse a produção ao se consagrar um campo
às divindades. Desta forma, vemos como as leis enfatizadas por
Cícero regulavam muito mais do que a vida religiosa da
população, visando ordenar a vida política, social e económica da
Cosmópolis em construção.

Para Cícero a coesão só poderia ser mantida se a plebe fosse


conduzida pelos aristocratas. Devido a isso, o estabelecimento
dos poderes dos magistrados romanos, que ele definiu no
terceiro livro do De Legibus, seria fundamental para a
manutenção desta ordenação social, e importante para a
sobrevivência da própria República. A conservação do Estado
dependia inicialmente da manutenção das tradições religiosas e
das funções dos magistrados.
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Então, podemos concluir que Cícero testemunhou em sua obra o


aparecimento de um direito mais laico, racional e formal, mais
técnico e bastante útil para os aristocratas manterem a ordem e
os seus privilégios. Não é à toa que o áugure Cícero criticou os
juristas e jurisconsultos nascentes, pois estes homens se
profissionalizavam nas técnicas jurídicas, ao contrário dos
aristocratas mais tradicionais que viam as discussões jurídicas
como parte da educação da nobilitas.

A lei romana era uma lex iusta em sua essência, por seguir a
Natureza e a Razão. Deste modo, pode-se inferir que De Legibus
fazia o elogio da legislação romana existente, pois nela via-se a
aplicação ideal dos princípios e das normas legais (Brito,
1967:21). A obra pode ser vista como a defesa das leis perfeitas
para a constituição aristocrática republicana ideal do Estado
romano, defendida por Cícero na obra anterior e que
complementa esta, intitulada Da Republica

Portanto, a análise da obra De Legibus de Cícero nos auxiliou a


compreender as ambições e necessidades dos aristocratas
romanos no final da República, em meio a guerras civis e
convulsões sociais. Para Cícero, membro da ordem senatorial, a
solução deveria ser encontrada na tradição, pois só ela podia
garantir a permanência do poder e da ordem nas mãos dos
senadores.

1.2.1.3. O IMPÉRIO

A principal característica do Império Romano é a centralização


do poder nas mãos de um só governante. O longo período das
guerras civis, contribuiu para enfraquecer o Senado e fortalecer
o exército.
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Caio Octávio será o primeiro imperador de Roma e receberá uma


série de títulos, tais como: Augusto (honra dada somente aos
deuses), Tribuno da Plebe vitalício e Príncipe (o primeiro cidadão
do Senado). O seu governo vai do ano 31 a.C. até o ano 14 d.C.

Realizou reformas que contribuíram para a sua popularidade:


ampliou a distribuição gratuita de trigo para a plebe e de espaços
para a diversão pública (a famosa Política do Pão e Circo),
efectuou uma distribuição de terras aos soldados veteranos e foi
um protector dos artistas romanos.

Seu período é conhecido como a PAX ROMANA, dado ao


fortalecimento do exército, a amenização das tensões sociais -
graças à política do pão e circo - e a pacificação das províncias do
império.

O período imperial romano é dividido em dois momentos: o Alto


Império, marcado pelo apogeu de Roma e Baixo-império, que
representa a decadência e queda de Roma.
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ESQUEMA: Cronologia do Imperio Romano

Fonte:Danilo Virgens, in:www.Slideshare/roma/slideswo

1.2.1.3.1. ALTO IMPÉRIO

A partir do ano de 235, inicia-se um período de crises em virtude


do enorme custo para a manutenção do exército. Os gatos
militares minavam as finanças do Estado, que era obrigado a
aumentar os impostos. Esta política provoca tumultos e revoltas
nas províncias.

A crise militar acarreta o fim do expansionismo romano,


contribuindo - a médio prazo e de forma contínua - para diminuir
a entrada de mão-de-obra escrava em Roma. A chamada crise do
escravismo está na raiz da queda de Roma.

1.2.1.3.1.1.A CRISE E A QUEDA DE ROMA

Toda a riqueza do Império Romano advinha do uso da mão-de--


obra escrava, conseguida pela expansão territorial.
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À partir do século III, como forma de conter os excessivos gastos


militares, Roma cessou suas conquistas territoriais, acarretando
uma diminuição no número de escravos e, consequentemente,
uma expressiva queda na produção agrícola.

Como resultado desta crise económica o Estado romano passa a


aumentar, de forma sistemática, os impostos. O aumento dos
impostos reflecte em um aumento no preço das mercadorias,
gerando um processo inflacionário.

Diante desta situação, a política de pão e circo deixa de existir -


pois o Estado não pode mais arcar com a distribuição gratuita de
alimentos -contribuindo para aumentar as tensões sociais.

Como se não bastasse tudo isto, as fronteiras do Império


Romano começam a ser invadidas pelos chamados povos
bárbaros, trazendo um clima de insegurança e pânico a todos.

1.2.1.3.1.1. CONSEQUÊNCIAS DA CRISE IMPERIAL

 ÊXODO URBANO: marcada pela saída da população


urbana para o campo, fugindo da crise económica e dos
bárbaros. No campo, esta população tinha uma
oportunidade de trabalho pois, em virtude da diminuição
do número de escravos, os grandes proprietários passam
a necessitar de força de trabalho.
 O COLONATO: como solução para a falta de força de
trabalho e de uma forte onda inflacionária, desenvolve-se
no campo o regime de colonato, onde o grande
proprietário arrenda lotes de terras para os camponeses
que, em troca, trabalhavam e produziam para o grande
proprietário. O colono passa a ser um homem preso à
terra. A economia passa a ser auto-suficiente.
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 INFLAÇÃO: com a queda da produção agrícola, o Estado


tem sua arrecadação de impostos diminuída e, em
contrapartida, um aumento das despesas -como a
manutenção do exército para a defesa das fronteiras dos
ataques bárbaros. Na falta de dinheiro, o Estado passa a
exercer uma política emissionista (emissão de moeda)
provocando uma desvalorização do dinheiro. Sem
dinheiro, o Estado inicia a sua falência.
 CRISE MILITAR: sem recursos para manter o exército, o
Estado romano passa a recrutar bárbaros para defender
as suas fronteiras, que em troca do serviço prestado
recebiam terras.
No campo, a ausência militar e a necessidade de garantir
a propriedade, leva o grande proprietário a contratar
mercenários para a defesa da terra, criando um exército
pessoal.
 O CRISTIANISMO: um outro elemento que contribuiu para
a crise de Roma foi a difusão da religião cristã. O
fortalecimento do cristianismo ocorria, simultaneamente,
com o enfraquecimento de Roma. Os cristãos não
aceitavam as instituições romanas, ligadas ao paganismo;
não reconheciam a divindade do imperador e não
aceitavam a escravidão.

As autoridades romanas iniciam uma política de


perseguição sistemática aos cristãos, considerando-os
culpados por todas as calamidades que ocorriam. No
entanto, quanto mais os cristãos eram perseguidos e
torturados, maior o número de adeptos.
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1.2.1.3.2.REFORMAS DO BAIXO IMPÉRIO

Procurando evitar o colapso político-administrativo total do


Império, alguns imperadores empreenderam algumas reformas,
com o objectivo de reestruturar o império.

 DIOCLECIANO: dividiu o poder imperial em quatro parte -


a tetrarquia -procurando aumentar a eficiência
administrativa ao descentralizar a organização do Estado;
reintroduziu o serviço militar obrigatório; incentivou o
regime de colonato; editou a lei do Preço Máximo, para
combater a inflação; ampliou a perseguição aos cristãos.
 CONSTANTINO: sucessor de Diocleciano, realizando a
reunificação do Império e transferindo a capital de Roma
para Bizâncio na parte oriental do Império (futura
Constantinopla); o Édito de Milão (313), legalizando o
cristianismo. Esta medida tinha também um interesse
económico. O pagão, de perseguidor passa a ser
perseguido, e seus bens (maiores que os do cristão)
confiscados pelo Estado, constituindo assim, uma forma
de aumentar o erário estatal.

Sumário

São escassas as referências a doutrinas políticas dos grandes


impérios orientais. Admitiam como única forma de governo a
monarquia absoluta e sua concepção de liberdade era diferente
da visão grega, que a civilização ocidental incorporou -- mesmo
quando submetidos ao despotismo de um chefe absoluto, seus
povos consideravam-se livres se o soberano fosse de sua raça e
religião.

As cidades da Grécia não se uniram sob um poder imperial


centralizador e conservaram sua autonomia. Suas leis emanavam
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da vontade dos cidadãos e seu principal órgão de governo era a


assembleia de todos os cidadãos, responsáveis pela defesa das
leis fundamentais e da ordem pública. A necessidade da
educação política dos cidadãos tornou-se, assim, tema de
pensadores políticos como Platão e Aristóteles.

Em suas obras, das quais a mais importante é A república, Platão


define a democracia como o estado no qual reina a liberdade e
descreve uma sociedade utópica dirigida pelos filósofos, únicos
conhecedores da autêntica realidade, que ocupariam o lugar dos
reis, tiranos e oligarcas. Para Platão, a virtude fundamental da
polis é a justiça, pela qual se alcança a harmonia entre os
indivíduos e o estado. No sistema de Platão, o governo seria
entregue aos sábios, a defesa aos guerreiros e a produção a uma
terceira classe, privada de direitos políticos.

Aristóteles, discípulo de Platão e mestre de Alexandre o Grande,


deixou a obra política mais influente na antiguidade clássica e na
Idade Média. Em Política, o primeiro tratado conhecido sobre a
natureza, funções e divisão do estado e as várias formas de
governo, defendeu como Platão equilíbrio e moderação na
prática do poder. Empírico, considerou impraticáveis muitos dos
conceitos de Platão e viu a arte política como parte da biologia e
da ética.

Para Aristóteles, a polis é o ambiente adequado ao


desenvolvimento das aptidões humanas. Como o homem é, por
natureza, um animal político, a associação é natural e não
convencional. Na busca do bem, o homem forma a comunidade,
que se organiza pela distribuição das tarefas especializadas.
Como Platão, Aristóteles admitiu a escravidão e sustentou que os
homens são senhores ou escravos por natureza. Concebeu três
formas de governo: a monarquia, governo de um só, a
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aristocracia, governo de uma elite, e a democracia, governo do


povo. A corrupção dessas formas daria lugar, respectivamente, à
tirania, à oligarquia e à demagogia. Considerou que o melhor
regime seria uma forma mista, no qual as virtudes das três
formas se complementariam e se equilibrariam.

Os romanos, herdeiros da cultura grega, criaram a república, o


império e o corpo de direito civil, mas não elaboraram uma
teoria geral do estado ou de direito. Entre os intérpretes da
política romana destacam-se o grego Políbio e Cícero, que pouco
acrescentaram à filosofia política dos gregos.

Exercícios

1) O Estado Romano no Baixo-império caracterizou-se pela:

a) Aceitação do princípio da intervenção do Estado na vida social


e económica
b) tentativa de conduzir os negócios públicos exclusivamente a
partir de um determinado grupo social
c) Estabilidade nas relações entre o poder central e os governos
provinciais
d) perfeita harmonia dos órgãos legislativos quanto às ideias de
expansão territorial
e) Absoluta identidade de pensamento quanto às atitudes frente
ao problema religioso.

2)Entre as reformas introduzidas em Roma por Augusto,


podemos citar:
a) O estabelecimento do divórcio
b) A drástica redução dos efectivos militares
c) A restauração do antigo sistema de cobrar os impostos
provinciais
d) A criação de um sistema centralizado nos tribunais;
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e) A redução da autonomia das províncias.

3) Diocleciano (284-304) e Constantino (312-337) destacaram-se


na história do Império Romano por terem:

a) Conquistado e promovido a romanização da Lusitânia,


incorporando-a ao Império
b) Introduzido em Roma costumes religiosos e políticos dos
etruscos·
c) Concedidos à plebe defensores especiais os tribunos da plebe
que protegiam seus direitos
d) Consolidado o Direito Romano na chamada Lex Duodecim
Tabularum
e) estabelecido medidas visando deter a crise que abalava o
Império.

4) Os irmãos Graco:
a) Defenderam os camponeses sem terra contra a aristocracia
b) Foram os conquistadores de Cartago
c) Eram os principais líderes do partido aristocrático
d) Elaboraram a primeira lei escrita de Roma
e) Foram os autores da Lei das Doze Tábuas.
5) A expansão de Roma durante a República, com o
consequente domínio da Bacia do Mediterrâneo, provocou
sensíveis transformações sociais e económicas, entre as quais:
a) Um marcante processo de industrialização, êxodo urbano e
endividamento do Estado
b) O fortalecimento da classe plebeia, expansão da pequena
propriedade e propagação do cristianismo
c) O crescimento da economia agro-pastoril, intensificação das
exportações e aumento do trabalho livre
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d) O enriquecimento do Estado Romano, aparecimento de uma


poderosa classe de comerciantes e aumento do número de
escravos
e) A diminuição da produção nos latifúndios, acentuado processo
inflacionário e escassez de mão-de-obra escrava.

6) Sobre a ruralização da economia ocorrida durante a crise do


Império Romano, podemos afirmar que:
a) Proporcionou ao Estado a oportunidade de cobrar mais
eficientemente os impostos
b) Foi a causa principal da falta de escravos
c) Foi consequência da crise económica e da insegurança
provocada pela invasão dos bárbaros
d) Incentivou o crescimento do comércio
e) Proporcionou às cidades o aumento de suas riquezas.
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TEMA – II: IDEIAS POLITICAS NA IDADE MEDIA

UNIDADE Temática 2.1. CARACTERISTICAS GERAIS DA IDADE

Introdução

Esta unidade fornece subsídios em termos das relações


sociopolíticas vividos no período entre os seculos V a XV, que foi
designado por idade média, no qual o pensamento político é
dominado pelo cristianismo que introduziu a ideia da igualdade
entre todos os homens, filhos do mesmo Deus, contestava
implicitamente a escravidão, fundamento social económico do
mundo antigo.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Caracterizar a idade media

 Estabelecer a relação que existe entre os pensamentos de


Objectivos
Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.

 Relacionar as cruzadas e o declínio do sistema feudal;

 Descrever os factores que contribuíram para a emergência da


Monarquia;

O longo de mais de dezenas de séculos, o pensamento político


na Europa é dominada pelo cristianismo que introduziu a ideia
da igualdade entre todos os homens, filhos do mesmo Deus, uma
noção que contestava implicitamente a escravidão, fundamento
social económico do mundo antigo.

Ao tornar-se religião oficial, o cristianismo aliou-se ao poder


temporal e admitiu a organização social existente, inclusive a
escravidão. Santo Agostinho, a quem se atribui a fundação da
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filosofia da história, afirma que os cristãos, embora voltados para


a vida eterna, não deixam de viver a vida efémera do mundo
real. Moram em cidades temporais mas, como cristãos, são
também habitantes da "cidade de Deus" e, portanto, um só
povo.

A Idade Média é marcada politicamente pela existência de dois


poderes: um material (ou temporal) e outro espiritual (ou
celeste). O Papa representava o poder espiritual e o rei o poder
material. A igreja legitimava o poder do Estado, atribuindo- lhe
origem Divina.

As sociedades medievais são caracterizadas pela personalização


do poder. O detento eventual do poder - o rei cristão medieval,
por exemplo - confundia-se com o próprio poder, exercendo-o
durante toda a sua vida, como se dele fosse proprietário.
Identificando-se com a pessoa de seu depositário, em virtude de
qualidades ou privilégios de que estavam excluídos os demais
membros da sociedade, o poder personalizado era exercido
como se fosse exclusividade (propriedade) dos seus detentores,
que dele dispunham sem se submeterem a normas ou instâncias
superiores.

O poder estava sempre posto em questão, disputado por todos


aqueles que julgavam possuir as mesmas credenciais, tornando-
se objecto de constante competição. O poder pessoal
caracteriza-se pela instabilidade e pela descontinuidade, pois,
não tendo outro fundamento além das credenciais e dos títulos
daqueles que circunstancialmente o detêm, passa de mão em
mão, sendo garantido apenas pela força e pelo prestígio pessoal
de seus titulares.

Essa é uma da razão pelas quais a história política da Idade


Média é a crónica das guerras de rapina e das pilhagens, que
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acresciam as terras e as riquezas, das expedições militares que


exigiam as terras e as riquezas, e do terror, que, amedrontando
os súbditos, assegurava a permanência no poder. Identificado ou
confundido com pessoa, o poder personalizado era considerado
um poder de facto e não de direito, pois sua justificação, ou
legitimação, não resultava do consenso da maioria, mas das
condições de prestígio e de força dos seus detentores.

Ao contrário das concepções da Antiguidade, em que a função


do Estado é assegurar a vida boa, na Idade Média predominava a
concepção negativa do Estado. Isto porque o homem teria uma
natureza sujeita ao pecado e ao descontrole das paixões, o que
exige vigilância constante, cabendo ao Estado intimidar os
homens para que ajam rectamente.

Na Idade Média caracterizam-se duas figuras detentoras do


poder: Estado e Igreja. Aquele é de natureza secular, temporal,
voltado para as necessidades mundanas e caracteriza-se pelo
exercício da força física. A Igreja é de natureza espiritual, voltada
para os interesses da salvação da alma e deve encaminhar o
rebanho para a verdadeira religião por meio da força, da
educação e da persuasão.
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Os principais pensadores políticos da Idade Média foram Santo


Agostinho e São Tomás de Aquino.

UNIDADE Temática 2.2. PENSAMENTO POLITICO DE SANTO


AGOSTINHO.

Santo Agostinho (354-430) tem influência platónica em seu


pensamento. Em seu livro "A cidade de Deus" defende a
existência de duas cidades: a de Deus (ou celeste) e a dos
homens (ou terrena).

O Estado deve estar sempre subordinado à Igreja, pois seus


objectivos, uma vez que são temporários, são menores em
relação aos da Igreja que proporciona a paz eterna às almas
humanas.

Santo Agostinho afirmou que o estado devia ter por finalidade o


culto de Deus e velar pelos costumes de acordo com a moral
cristã. Defendeu também uma divisão de poderes: o poder
espiritual que ficaria a cargo da Igreja e o poder temporal que
pertenceria ao estado. Estas ideias irão ser largamente aplicadas
ao longo da Idade Média.
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Santo Agostinho não formulou uma doutrina política, mas a


teocracia está implícita em seu pensamento. A solução dos
problemas sociais e políticos é de ordem moral e religiosa e todo
bom cristão será, por isso mesmo, bom cidadão. O regime
político não importa ao cristão, desde que não o obrigue a
contrariar a lei de Deus. Considera, pois, um dever a obediência
aos governantes, desde que se concilie com o serviço divino.
Testemunha da dissolução do Império Romano, contemporâneo
da conversão de Constantino ao cristianismo, santo Agostinho
justifica a escravidão como um castigo do pecado. Introduzida
por Deus, "seria insurgir-se contra Sua vontade querer suprimi-
la".

UNIDADE Temática 2.3. PENSAMENTO POLITICO DE SÃO TOMÁS AQUINO

São Tomás de Aquino (1225-1274) tem influência aristotélica em


seu pensamento. Escreveu "Do Governo dos Príncipes". Suas
ideias revelam a procura de equilíbrio entre as várias ideias
políticas de sua época.
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O Estado, para Tomás de Aquino, é concebido como instituição


natural, cuja finalidade consistiria em promover e assegurar o
bem comum. A Igreja, por outro lado, seria uma instituição
dotada fundamentalmente de fins sobrenaturais. Assim o Estado
não mais precisaria subordinar-se à Igreja

São Tomás Aquino, retoma e desenvolve um conceito greco-


romano, o do Bem Comum. Defende que este princípio ético-
político, deveria orientar não apenas o Estado, mas também a
cidade e ser assumido pelos indivíduos no seu dia-a-dia. O
objectivo é unir num só princípio teórico política, religião e ética.

No século XIII, santo Tomás de Aquino, o grande pensador


político do cristianismo medieval, definiu em linhas gerais a
teocracia. Retomou os conceitos de Aristóteles e os adaptou às
condições da sociedade cristã. Afirmou que a acção política é
ética e a lei um mecanismo regulador que promove a felicidade.

Como Aristóteles, considerou ideal um regime político misto com


as virtudes das três formas de governo, monarquia, aristocracia e
democracia.

Na senda teológica, justifica a escravidão, que considera natural.


Em relação ao senhor, o escravo "é instrumento, pois entre o
senhor e o escravo há um direito especial de dominação".

UNIDADE Temática 2.4. ESTRUTURA POLÍTICA DA IDADE


MEDIA.

Prevaleceu na Idade Média as relações de vassalagem e


suserania. O suserano era quem dava um lote de terra ao
vassalo, sendo que este último deveria prestar fidelidade e ajuda
ao seu suserano. O vassalo oferecia ao senhor, ou suserano,
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fidelidade e trabalho, em troca de protecção e um lugar no


sistema de produção. As redes de vassalagem se estendiam por
várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso.

Todos os poderes jurídico, económico e político concentravam-


se nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras
(feudos).

As sociedades medievais não permitiam a mobilidade social, ela


estava dividida em estamentos:

 A Nobreza, que detinha as terras cultivadas pelos


camponeses que eram obrigados a destinar parte da
produção aos nobres, que viviam em actividades de laser;
 Os vilões, que culminavam por comprar suas liberdades.
Muito deles chegaram a ser burgomestres, com o
surgimento das cidades;
 Os servos, submissos aos interesses dos senhores feudais.
Eram convocados como soldados durante as guerras.
Estavam obrigados a pagar impostos extorsivos, com
consórcio, que incidia sobre o casamento
 O Rei, simplesmente usufruía das mordomias e dirigir as
relações de classe entre suseranos e vassalos, os
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primeiros recebedores e os segundos prestadores de


homenagens.
 O Clero, bastante rico, era detentor de grandes extensões
de terras, cultivadas pelos camponeses, no mesmo
esquema pertencentes aos nobres. Estava dividido em
alto clero, estreitamente ligado aos nobres e baixo clero,
vinculado aos servos. A Igreja, através dos cleros
buscavam apoios dos senhores e reis para atingir seus
intentos, como por exemplo organizar um motivo
armado, denominado de cruzada, com objectivo de
liberar Jerusalém e reconquistar o direito dos cristãos,
bem como aumentar a sua fortuna.

UNIDADE Temática 2.5. AS CRUZADAS E O DECLINIO DE


FEUDALISMO

Entre os seculos XI e XIII foram organizadas oito cruzadas para


reconquistar Jerusalém e outros territórios, desse
empreendimento militar-religioso resultou no declínio do poder
feudal em virtude dos inúmeros insucessos e das grandes somas
gastas, o consequente aumento do poder real, o aparecimento
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de novas ordens religiosas (templários, celeiros teutónicos e


hospitalários).

UNIDADE Temática 2.6.EMERGÊNCIA DAS MONARQUIAS.

Com a queda do poder feudal, verifica-se um fortalecimento do


poder dos Reis, que se desenvolveu paralelamente ao
crescimento das actividades comerciais e ao surgimento das
cidades. A centralização e o aumento do poder real (executivo,
legislativo e judiciário),submissão da nobreza feudal que se torna
nobreza cortesã e a aliança entre o rei e a burguesia, levaram a
emergência das monarquias nacionais.

As monarquias nacionais emergentes caracterizaram-se por:


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 Surgimento de nações, constituída cada uma delas por


um povo com idioma própria, religião, costumes e
historia;
 Delimitação territorial e geográfica de cada uma delas;
 Implantação e exercício de um poder nacional,
representado por um poder real, válido para toda a
nação.

O crescimento do poder real e a instalação das monarquias


nacionais foi um processo conturbado, pois constantemente
ocorreram choques com senhores feudais e a igreja, que se viam
perdendo o poder económico e politico. Para fazer valer o seu
poder, os reis acabaram por criar os exércitos reais, pagos pela
coroa, que substituíam a cavalaria feudal, da nobreza. Por outro
lado, os reis passavam a contar com o apoio da burguesia, que se
constituía dos grandes comerciantes que começavam a surgir.

O primeiro estado nacional a surgir foi Portugal, por volta do


século XII. Os reis portugueses conseguiram expulsar os
muçulmanos e com o apoio da burguesia consolidaram o seu
poder. Em seguida vieram a Espanha, Inglaterra e França.

A Espanha, união entre Fernando de Aragão e Isabel de Castela,


aliada ao fim da Guerra da reconquista garante a formação do
Estado da Espanha.

A Inglaterra, o estado se consolida após a guerra das duas Rosas,


dando origem, com aliança entre a família York e a família
lancaster, dando origem à dinastia Tudo.

A França, a Guerra dos Cem anos ajuda a fortalecer o poder real,


consolidando a formação do Estado Nacional.
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Sumário
A Idade Média na Europa foi um período compreendido entre os
séculos V e XV, que se estendeu por mil anos na história. Tal
época se divide da seguinte forma: Alta Idade Média e Baixa
Idade Média; a primeira com início marcado pelas invasões
germânicas (bárbaras), e a segunda finalizada pela retomada
comercial e pelo renascimento urbano.

Relatos históricos e renascentistas definiam o mundo medieval


o oàaà idade das trevas ,àouàseja,àu aà po aàsu u idaàpelaà
ausência de desenvolvimento racional, representando um
retrocesso para a ciência. Essa perspectiva foi corroborada pelo
domínio ideológico empregado pela Igreja Católica, deixando a
sociedade passível de manipulação, pelo poder da informação.
Entretanto, a Idade Média possui avanços artísticos e científicos
que proporcionaram conhecimentos para os dias actuais.
Guerra dos Cem Anos, Cruzadas, Pestes, Feudalismo,
Vassalagem, Suserania, Clero, Servos e Nobres: todos esses
termos fazem parte da construção da Era Medieval. Os
cavaleiros, donzelas e os incríveis castelos não só são figuras
conhecidas do imaginário das pessoas, como também fazem
parte do contexto histórico da época.
Período Medieval
A Idade Média é subdividida em dois segmentos menores: Alta
Idade Média e Baixa Idade Média.
Alta Idade Média, Idade Média Antiga ou Antiguidade Tardia

 Séc. V ao X;
 Formação de reinos independentes no final do
século V (Reinos Franco, Ostrogodo, Visigodo,
Vândalo, Suevo, entre outros). Estes reinos eram
governados por uma nobreza composta por
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germânicos e descendentes que invadiram o


Império Romano;
 Desintegração do Império Romano do Ocidente;
 Invasões Bárbaras;
 Formação do feudalismo, com a integração da
cultura romana com a germânica;
 Descentralização do poder politico;
 Ruralização e formação dos Feudos (extensas
propriedades de terras);
 Poucas trocas comerciais;
 Economia de subsistência e trabalho servil centrados na
agricultura;
 Sociedade dividida por estamentos (Nobreza, Clero e
Servos);
 Alta religiosidade e expansão do Cristianismo.

Baixa Idade Média ou Idade Média Tardia

 Séc. XI ao XIV;
 Crise do modo de produção feudal e relações
económicas, sociais e culturais relacionadas;
 Diminuição das invasões bárbaras, culminando em
momentos de paz para a Europa;
 Teocentrismo e enfraquecimento da cultura laica;
 Invasões nos séculos IX e X - vikings, húngaros,
sarracenos e eslavos invadiram e saquearam
várias cidades da Europa.
 Surto demográfico provocado pela fase de estabilidade;
 Com o excedente populacional, surgem algumas
consequências como: marginalização dos servos e
nobres;
 Surgimento das Cruzadas desencadeadas pela Guerra
Santa;
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 Renascimento comercial-urbano;
 Fortalecimento de cidades e do poder centralizado nas
mãos de monarcas;
 Nascimento da burguesia;
 Fim do Império Romano do Oriente e Queda de
Constantinopla.

Exercícios
1- Boas armas. [...] não podem existir boas leis onde não há
armas boas, e onde há boas armas convém que existam
boas leis [...]. [...] As forças com que um príncipe mantém o
seu Estado são próprias ou mercenárias, auxiliares ou
mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas
[...] não são unidas aos príncipes, são ambiciosas e
i discipli adas [...]. (MAQUIAVEL,197.
A partir das informações apresentadas acima, é correcto
considerar que:
A - Ao príncipe caberia conservar seu Estado mediante o
recurso da guerra travada por soldados mercenários, pois as
armas se ia à asàp i ipaisà asesà ueàosàEstadosàt .
B - A obra referida é uma análise política sobre como deve
agir um soberano perante um governo já estabelecido ou a
o uista .àDaíàaàalusãoà sà oasàleis àeà sà oasàa as .
C - Para Maquiavel, nas repúblicas democráticas, os conflitos
deveriam ser controlados e regulados pelo príncipe e suas
forças mais leais: as mercenárias e as auxiliares.
D - O pensamento de Maquiavel respaldou-se na ruína
imposta à Itália por outras nações no século XV. Devido a
isso, defendia a organização de Estados dissociados da
guerra.
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2.Para o historiador Jacques Le Goff:

Os ho e s da Idade Média e t a e co tacto co a


realidade física por intermédio das abstracções místicas e
pseudocie tíficas . LE GOFF, Jacques. 2005.
Isto quer dizer que o misticismo e o cristianismo dos homens
medievais interferiam na sua forma de entender o mundo que
os cercava e a natureza. Sobre a forma medieval de conceber o
mundo natural, é correto afirmar que aqueles homens

A - eram incapazes de entender a natureza e as leis que a


governavam, decretando assim o atraso da época medieval em
relação aos tempos de hoje.
B - tinham uma interpretação simbólica do mundo natural, pela
qual a fauna e a flora valiam pelo que significavam, não pelo que
podemos apurar pela experiência científica.
C - eram herdeiros do mundo grego fundado na primazia de um
Deus omnipotente e omnipresente, o que marcava a percepção
medieval sobre o ambiente, tida como uma manifestação do
poder de Deus.
D - tinham uma concepção mecanicista da natureza, entendida
como uma máquina perfeita, governada por leis e iluminada por
Deus.
E - desenvolveram o processo de matematização da realidade
natural, fundamentado na ciência moderna e exacta.
3.Leia, ate ta e te, o t echo a segui . Pa a os filósofos da
idade média, o fato de o cristianismo significar a verdade era
um dado praticamente irrefutável. A questão era saber se
tí ha os ue si ples e te ac edita a evelação c istã.
Sobre o pensamento filosófico da Baixa Idade Média, é correcto
afirmar que:
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A - o estudo da filosofia se restringia aos mosteiros, não estando


presente nas discussões universitárias dos centros urbanos.
B - as mais importantes ideias filosóficas negavam a validade das
obras dos pensadores da Antiguidade, por exemplo, Aristóteles.
C - o estudo dos problemas relativos aos fenómenos da natureza
passou a ser compreendido através de mitos que narravam a
actuação directa dos deuses.
D - um dos principais autores do período foi São Tomás de
Aquino, que defendia a necessidade de conciliação entre a fé e a
razão.
E - a perda de poder da Igreja Católica e a diminuição da
autoridade papal se manifestavam na falta de controlo sobre as
obras produzidas.
4.O direito medieval se desenvolveu lentamente, apesar da
influência do direito romano bizantino e do direito canónico,
uma das razões pelas quais os historiadores designam a Idade
Média Ocide tal co o o i pé io do costu e .
Um factor que contribuiu para que o período ficasse conhecido
como o i pé io do costu e foi:
A - o fortalecimento do poder real.
B - o aniquilamento da cultura romana pelos bárbaros.
C - o poder da igreja Católica.
D - o predomínio da cultura oral.
5.Terminada a Antiguidade, havia à disposição do Ocidente
medieval duas concepções filosóficas fundamentais e distintas:
a visão grega (resumida por Aristóteles) de que o homem foi
formado para viver numa cidade, e a visão cristã (resumida por
Santo Agostinho) de que o homem foi formado para viver em
comunhão com Deus. Nos últimos séculos da Idade Média, com
relação a essas duas filosofias, é correto afirmar que:

A - foram reconciliadas por São Tomás de Aquino ao unir razão


(livre-arbítrio) com revelação (fé);
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B - entraram em conflito e deram lugar a uma nova visão,


elaborada por frades beneditinos e dominicanos;
C - continuou a prevalecer a visão grega, como se pode ver nos
escritos de Abelardo a Heloísa;
D - sofreram um processo de adaptação para justificar a primazia
do poder temporal ou secular;
E - passou a predominar a visão cristã, depois de uma longa
hegemonia da visão grega.
6. A Idade Média ocorreu aproximadamente entre os séculos V
e XV. Sobre esse período pode-se afirmar que
A - o seu início foi precipitado pela queda do Império Romano do
Oriente com as invasões bárbaras.
B - tem como factor primordial o surgimento do Cristianismo.
C - nele, a sociedade feudal pode ser caracterizada como de
classes distintas: oradores, belatores e laboratores, com a
supremacia da primeira sobre as demais.
D - nele, Carlos Magno invadiu o Império Romano, causando sua
queda.
E - nele, a economia era baseada no comércio e exploração das
especiarias vindas do Oriente.
7.O triunfo do cristianismo e o estabelecimento de reinos
germânicos em terras que antes eram romanas representaram
uma nova fase na história ocidental: o ocaso do mundo antigo e
o prelúdio dos tempos medievais, período que se estendeu por
mais de dez séculos. Ao longo desse período se desenvolveu
uma civilização comum que integrou elementos cristãos, greco-
romanos e germânicos.
Sobre o período medieval, podemos fazer a seguinte afirmação:
A - O feudalismo, do ponto de vista político, representou uma
pulverização do poder real em detrimento dos grandes
mercadores, que aliados aos proprietários rurais garantiram o
desenvolvimento urbano e comercial.
B - No início do medievo, os reinos germânicos, além de
aderirem ao cristianismo romano, continuaram com a vitalidade
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das instituições urbanas, elemento mais marcante da civilização


clássica;
C - A servidão foi a relação de trabalho predominante no mundo
medieval, que através da vassalagem, estabelecia uma série de
compromissos e obrigações entre o produtor directo e o
proprietário da terra;
D - Entre as obrigações devidas pelos servos destaca-se a corveia
ou a prestação de serviço na reserva senhorial, além da
homenagem ou o serviço militar, requisitado pelo senhor em
época de guerra;
E - Hegemónico ao longo do medievo, o sistema feudal
caracterizou-se no plano sociojurídico pelas relações pessoais e
no plano mental pela valorização dos ideais guerreiros;
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TEMA - III: O RENASCIMENTO

UNIDADE Temática 3.1. CONCEITO E QUESTÕES


GERAIS.

Introdução

A Europa de fins da Idade Média e início da Idade Moderna


testemunhou, a formação dos chamados Estados Modernos,
também conhecidos como Nacionais ou Absolutistas. Grandes
proprietários rurais conhecidos como senhores feudais ou
nobres firmaram um pacto que possibilitou a formação de tais
Estados que seriam governados por um monarca de poderes
absolutos (daí essa forma de governo ficar conhecida como
absolutismo). A necessidade do surgimento dessa figura de
governante com muitos poderes veio em virtude de uma série de
revoltas camponesas que ocorriam na época. Mas, apesar de seu
poder ser absoluto, o rei não podia ferir os interesses da nobreza
feudal e devia também buscar satisfazer uma burguesia
nascente, que era pagadora de impostos.

O rei precisava negociar a sua autoridade e observar os


governos da época dentro de uma visão exclusivamente
autoritária leva a uma análise altamente reducionista. Um rei
com poderes absolutos deveria saber exercer a sua autoridade e
negociá-la no momento certo, principalmente depois da
expansão marítima e da obtenção de domínios ultramarinos,
onde a presença do rei era muito distante.

Assim, verifica-se o reflorescimento do pensamento da


Antiguidade, com seus valores e princípios, a construção e o
desenvolvimento do conceito de indivíduo e o destaque à
faculdade humana da racionalidade que fundamenta o
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pensamento político moderno, s que subsistem até os dias


actuais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir conceito do renascimento.

 Caracterizar o período renascentista;

 Estabelecer a relação que existe entre a Antiguidade clássica e


Objectivos

o renascimento

 Destacar a visão de poder e de estado segundo o pensamento


renascentista.

 Descrever o pensamento político dos teóricos da época;

Foi a efervescência artística e cultural vivida nos séculos XV e XVI


na Europa Ocidental que marca o início da Era Moderna e o
nascimento do universo burguês, especificamente em sua face
cultural. No Renascimento, fica claro o rompimento com a Idade
Média em grande parte de seus elementos. É, sobretudo, a
exposição do universo e dos valores da nova classe emergente, a burguesia.

O Renascimento foi um movimento restrito à Europa Ocidental


católica. Seu epicentro foi certamente a Itália e de modo mais específico, a
cidade de Florença. Desde o meio da Baixa Idade Média já se via um
florescimento das artes e da cultura, mas isso tomou uma forma
ampla mesmo apenas no século XV. A partir deste momento ela
sairá da Itália e ganhará todo o espaço da Europa Ocidental.

Um dos elementos que sublinham o afastamento com a Idade


Média é a visitação dos textos e livros clássicos da Antiga Grécia e do
Império Romano. Reliam-se os textos políticos, admirava-se a
arte daqueles povos e os seus conhecimentos sobre a natureza e o
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mundo. Inclusive a religião pagã desses povos antigos traz interesse,


mas o catolicismo não chega a perder força diante disto.

Ao contrário do extremo peso que tinha a Igreja e Deus na


cultura medieval, agora a atenção é voltada para o homem. Este,
agora, constrói o seu mundo, o homem pode construir o seu
conhecimento, conhecimento que pode modificar o mundo. O
próprio conhecimento e as acções do homem na Terra não se justificam
mais unicamente por Deus. Fala-se de um antropocentrismo – o
homem no centro de tudo – moderno ante um teocentrismo medieval.

A noção individual do mundo passa a ser valorizada contra uma


visão mais comunal ou religiosa, característica da Idade Média. E
esse indivíduo usa a razão para compreender o mundo. A razão,
durante a Idade Média, era menos importante do que a fé, era
submissa a esta.

Avanço do conhecimento e da técnica:

 Surge nesse período a origem do que depois será chamado de


ciência;
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 A razão agora será valorizada, mas ainda não será mais


importante do que a fé;
 O conhecimento racional das coisas começa a ganhar
corpo para depois triunfar no Iluminismo no XVIII.
Durante o Renascimento e os séculos seguintes, constata-se
um grande avanço de todos os campos do conhecimento e da
técnica.

De forma bem ampla, as artes vão ser renovadas. Novas técnicas,


novas formas de se fazer arte e também novos elementos
artísticos serão introduzidos enriquecendo e diversificando
bastante o campo das artes na Europa. As artes vão ser financiadas
pelos mecenas, homens ricos – burgueses ou nobres – que patrocinavam os
artistas para que estes fizessem as suas obras de arte. Com esse
financiamento, surgem alguns artistas profissionais, o que antes não
existia. Essa arte, porém, não é voltada para as massas, mas para uma
pequena elite apenas.

Sempre que faz-se referência ao movimento renascentista


(séculos XV e XVI), perpetua-se a visão de que a Idade Média
estava associada ao atraso; e o Renascimento, ao progresso. Esse
entendimento atravessou séculos e influenciou a mentalidade
moderna e contemporânea sobre o medievo europeu.

Dentro dessa perspectiva pessimista sobre a Idade Média,


muitos estudiosos defenderam a ideia de que o Renascimento
representou uma total ruptura com a Idade Média. Os
renascentistas continuaram produzindo obras de arte com temas
da religiosidade medieval, mas revalorizaram a cultura greco-
romana: a filosofia, as artes, a racionalidade, a ciência, etc.
Entretanto, renovaram na aplicação de outras técnicas, nas artes
e na arquitectura, valorizando os princípios matemáticos
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(profundidade, racionalidade, perspectiva) em contraposição a


uma pintura plana e sem perspectivas, aplicada na Idade Média.

O Renascimento cultural, artístico e científico trouxe um cenário


de mudanças em relação ao mundo medieval. Os comércios e as
cidades cresceram e prosperaram. Entretanto, ao analisarmos o
contexto histórico em que surgiu o movimento renascentista,
veremos que o mundo medieval era repleto de um sentimento
de insegurança, provocado pelas infindáveis guerras e conflitos
que ocorriam na Europa.

A fome, as epidemias e as guerras (muitas permanentes durante


a Idade Média) levaram o homem medieval a buscar na
religiosidade formas de escapar do mundo. A partir de então
surgiram diversas utopias (na religião, na literatura), que
idealizavam a sociedade pretendida pela população, conduzida
por leis diferentes da dura realidade cotidiana. Essas utopias
conduziam o tempo presente a partir de uma reflexão e análise
pautada no pessimismo, enquanto o tempo futuro era repleto de
esperanças.

A visão utópica do mundo continuou sendo uma prática dos


homens contemporâneos até os renascentistas modernos.
Segundo o historiador francês Fernand Braudel, as sociedades
são permeadas por mentalidades, que são perpassadas pelo
tempo da longa duração, em que tudo se move mais lento. O
indivíduo e a sociedade não modificam seus valores morais,
éticos e culturais de um ano para outro, ou de um dia para o
outro. Para a sociedade modificar sua mentalidade são
necessários séculos (tempo da longa duração).

Portanto, dentro dessa perspectiva da longa duração de Braudel,


podemos compreender por que o homem renascentista
continuou produzindo utopias.
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O humanista Thomas Morus, com o seu livro Utopia, é um


exemplo concreto da demora na mudança das mentalidades. O
escritor produziu um ensaio famoso em que construiu um
mundo fantástico, onde as injustiças sociais não ocorreriam com
ninguém. Morus descreveu a vida numa ilha, na qual tudo era
dividido igualitariamente entre a população, um local sem
opressão e onde todos viveriam confortavelmente. Dessa
maneira, a sociedade renascentista criou espaços imaginários
terrestres em que a vida seria vivida sem opressões, somente
com diversão, música e abundância de alimentos.

Outra utopia produzida no período do Renascimento foi a


criação da fonte da juventude, no século XVI. Segundo essa
utopia, os velhos e doentes eram conduzidos até a citada fonte,
e, após um rápido mergulho, as pessoas saíam da fonte jovens e
alegres.

Enquanto a elite intelectual produzia suas utopias, as camadas


populares também o fizeram. A visão do mundo utópico mais
interessante produzida pelos artesãos e camponeses foi a
representação do país da fartura, chamado de ‘terra de
o a ha’, local imaginário, onde a população estaria isenta de
trabalho.

UNIDADE Temática 3.2 A VISÃO DO PODER E DO ESTADO SEGUNDO


PENSAMENTO RENASCENTISTA

Os teóricos políticos do período caracterizaram-se pela reflexão


crítica sobre o poder e o estado. Em O Príncipe, Maquiavel
secularizou a filosofia política e separou o exercício do poder da
moral cristã. Diplomata e administrador experiente, céptico e
realista, defende a constituição de um estado forte e aconselha o
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governante a preocupar-se apenas em conservar a própria vida e


o estado, pois na política o que vale é o resultado.

O príncipe deve buscar o sucesso sem se preocupar com os


meios. Com Maquiavel surgiram os primeiros contornos da
doutrina da razão de estado, segundo a qual a segurança do
estado tem tal importância que, para garanti-la, o governante
pode violar qualquer norma jurídica, moral, política e económica.
Maquiavel foi o primeiro pensador a fazer distinção entre a
moral pública e a moral particular.

Thomas Hobbes, autor de Leviatã, considera a monarquia


absoluta o melhor regime político e afirma que o estado surge da
necessidade de controlar a violência dos homens entre si. Como
Maquiavel, não confia no homem, que considera depravado e
anti-social por natureza. É o poder que gera a lei e não o
contrário; a lei só prevalece se os cidadãos concordarem em
transferir seu poder individual a um governante, o Leviatã,
mediante um contrato que pode ser revogado a qualquer
momento.

Baruch de Spinoza prega a tolerância e a liberdade intelectual.


Temeroso dos dogmas metafísicos e religiosos, justifica o poder
político unicamente por sua utilidade e considera justa a rebelião
se o poder se torna tirânico. Em seu Tratado teológico-político,
afirma que os governantes devem cuidar para que os membros
da sociedade desenvolvam ao máximo as suas capacidades
intelectuais e humanas.

Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau destacam-se como


teóricos da democracia moderna. Montesquieu exerceu
influência duradoura com O espírito das leis, no qual estabeleceu
a doutrina da divisão dos poderes, base dos regimes
constitucionais modernos. Rousseau sustenta, no Contrato
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social, que a soberania pertence ao povo, que livremente


transfere seu exercício ao governante. Suas ideias democráticas
inspiraram os líderes da revolução francesa e contribuíram para
a queda da monarquia absoluta, a extinção dos privilégios da
nobreza e do clero e a tomada do poder pela burguesia.

3.2.1. O PENSAMENTO POLÍTICO DE MAQUIAVEL

Nicolau Maquiavel viveu num período de transição (1469-1527)


que é marcado pelo enfraquecimento do poder feudal, haja vista
o declínio da legalidade que sustentava toda a estrutura da Idade
Média, e, por outro lado, pelo aparecimento de um discurso
político que irá servir de base, ainda que insípida, para a Idade
Moderna. Crises frequentes em repúblicas e principados
marcaram a fundo a história da Itália e servem de modelo para
Maquiavel desenvolver seus discursos.

Suas obras mais importantes são: O Príncipe e Discursos sobre a


primeira década de Tito Lívio.

A transição que define esse período da história também deixa


suas marcas no espírito de Maquiavel. Assim como pressupõe,
em seus discursos a necessidade de trilhar um caminho novo,
ainda não proposto por nenhum outro pensador, Maquiavel tem
a consciência de que encontrar sistemas e métodos apresenta-se
tão perigoso quanto a descoberta de novas terras. Os discursos
de Maquiavel traduzem esse momento e ganham o carácter de
serem preliminares ao pensamento político e estatal que se
concretizará no século seguinte, além de trazerem a
caracterização que expõe a passagem da concepção medieval à
concepção moderna.

As suas obras nascem de sua prática política e de sua relação


com a família Médici. Sua teoria do Estado, concebida a partir de
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uma meditação forçada no exílio, trouxe um avanço na medida


em que rompe com os limites da pura especulação filosófica, de
tradição secular.

A investigação empírica proposta por Maquiavel será sustentada


por duas abordagens: de um lado a histórica e de outro a
explicação do comportamento humano.

Na primeira, apresenta o fenómeno histórico como constituído


por ciclos, que se repetem, a partir de revoluções. Conhecer e
entender os movimentos da história significa poder fazer uma
mais precisa leitura dos factos presentes.

A observação do passado pode trazer o modelo de como agir no


presente. Na falta desse modelo, a acção política poderá se
basear nas semelhanças das circunstâncias históricas, passadas e
presentes.

Na análise sobre o comportamento humano, conclui que todos


os homens, em todas as cidades e povos, são egoístas e
ambiciosos e que somente são obstados quando coagidos pela
força da lei.

As duas abordagens funcionam de forma a trazer estabilidade a


um pensamento que está alicerçado no método empírico-
comparativo. Sustentam não só as questões teóricas, mas
também um conjunto de técnicas sobre como governar.
Contudo, não fornecem um manual pronto e acabado para a
acção política, apesar de destacar a repetição da história e a
invariabilidade do comportamento humano, sugerem uma
profunda investigação das circunstâncias sobre as quais se quer
agir (arte de bem governar).
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Maquiavel foge do determinismo imposto pelo destino, já que os


espíritos determinados e empreendedores poderão interferir na
história, apesar das limitações impostas pela realidade.

Nesta senda, Maquiavel propõe uma acção política que tenha


êxito diante dessa realidade faz com que leve em consideração
as transformações e mudanças de seu tempo, com base em dois
conceitos que formam uma tensão no estabelecimento das
possibilidades da acção individual e colectiva, que são: a virtù e a
fortuna.

A primeira deve se sobrepor continuamente à segunda no


sentido de dominá-la. A análise correcta do Estado exige que se
deixe de lado a simples observação de períodos de boa ou má
sorte para se privilegiar a capacidade de adequação àquilo que o
momento exige, em função da sua objectividade. A virtù
apresenta-se não só como a capacidade de aproveitar o
momento oportuno, a ocasião, como a capacidade de adesão ao
que é emergente.

O homem não pode controlar a fortuna e o êxito da acção


política está em reconhecer esse factor por meio da virtù. O
homem dotado de virtù saberá reconhecer a ocasião posta pela
fortuna e adoptar uma acção que requeira o conhecimento dos
factos históricos e do comportamento humano a partir das
circunstâncias dadas pelo presente (adequação do agir à
realidade). O homem que tem a virtù é aquele que está
conformado ao seu tempo e que sabe reconhecer as
necessidades impostas pelas circunstâncias; é o inventor daquilo
que é possível diante de uma situação concreta.
O homem de virtù que esteja à frente de um Estado está isento
de culpa quando na persecução dos fins que visam a estabilidade
política, posição que rendeu diversas críticas ao pensamento de
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Maquiavel. Contudo, seu poder poderá se degenerar em tirania e


trazer novamente a instabilidade.

Dessa forma, o governante que tenha virtù deverá buscar a


estabilidade presente e futura do Estado que governa por meio
da criação de leis e instituições que possam perpetuar seu
legado. A ele, cabe a institucionalização da ordem e a busca pela
coesão social. Sustenta que quanto maior o nível de liberdade
maior os benefícios do Estado, pois homens livres identificam-se
com os negócios de seu Estado e o defendem como coisa sua.
Maior é o nível de solidariedade numa comunidade em que há a
possibilidade de participação do governo (MAQUIAVEL, 1994).

As grandes contribuições de Maquiavel podem ser observadas


principalmente no campo político. Foi capaz de captar as
mudanças concretas de seu tempo e traduziu-as nas suas obras,
que ganharam um ar de intensa contemporaneidade. Percebeu
um conjunto de circunstâncias, tais como: o primado do Estado
diante da religião e a dessacralização da figura do político.

Modernamente, têm-se procurado romper com a crítica ao


carácter ideológico das obras de Maquiavel, como também se
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procura estabelecer um corte dotado de isenção sobre o ponto


de vista moral.

Assim, torna-se inegável a sua imensa contribuição ao propor a


sistematização das questões políticas de seu tempo, pois enxerga
a realidade com os olhos de um pensador do Renascimento. No
seu pensamento estão presentes as linhas que contornaram a
visão moderna de homem segundo uma concepção de indivíduo
e a base para o entendimento do que sejam as instituições do
Estado, no momento histórico em que viveu.

3.2.2. O PENSAMENTO POLÍTICO DE DANTE


ALIGHIEIRI

Dante Alighieri (1265-1321) nasceu em Florença no seio de uma


família de origem nobre. Com grande actividade política no
partido favorável ao imperador (guelfos brancos), chegou a ser,
nos últimos anos do século XIII, membro do conselho e priore de
Florença.

Foto: Dante Alighieri

Fonte: Grabriel Paizan in:http://.historiaehistoria.com.br

Recebeu sua educação de ordens religiosas (dominicanos e


franciscanos), uma formação genuinamente escolástica, não
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representando um clérigo ou tampouco um laico iletrado, mas


antes um intelectual e um escritor que conheceu e utilizou as
argumentações filosóficas, canonistas, legistas e teológicas
sabendo vinculá-las entre si de modo independente e efectivo.
Foi perseguido pela sua actuação política e condenado à fogueira
por baratteria, concussione e opposizione illegale al pontefice, se
refugiou em diversas cidades italianas, como Verona, Pádua,
Treviso, Veneza e Ravena, sempre sob a protecção de nobres
ligados ao imperador. Morreu em 1321, sendo enterrado em
Ravena, onde actualmente encontram-se seus restos mortais.

Os constantes conflitos entre a esfera temporal e espiritual de


poder, principalmente entre seus respectivos representantes na
Baixa Idade Média, Filipe IV e Bonifácio VIII, e a fracassada
empreitada de Henrique VII pela Itália, em conjunto às colisões
entre as facções políticas guelfas e guibelinas, forneceram a base
empírica para o nascimento de pensadores originais em suas
propostas para a resolução desse complexo contexto. O Sacro
Império Romano Germânico passava por uma crise interna desde
Frederico II, que não seria resolvida até a Bula de Ouro (1356),
acarretando uma ausência de autoridades, não só imperiais,
como eclesiásticas, tendo em vista, por exemplo, o exílio de
Avinhão em 1307.

Dante Alighieri foi um dos que percebeu essas questões com


maior agonia, seu desejo de unidade e de resgate da figura régia
fez com que produzisse em 1312-3 o tratado De Monarchia,
dividido em três problemas:

 Se o cargo de imperador universal é necessário para o


bem-estar e a boa ordem do mundo;
 Se o povo romano exerceu o Império legitimamente;
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 Se a auctoritas do domínio universal romano depende


imediatamente de Deus ou do Papa. Principalmente a
partir do terceiro livro, Dante inicia o empenho em
comprovar que o Imperador derivava seu poder
directamente de Deus e não por intermédio do Papa.

Dante Alighieri escreveu as obras Convívio (1304) e Monarchia


(1312-3) partindo de objectos aparentemente diferentes:
respectivamente, discutir sobre aà o eza àdoàse à hu a oà eàaà
necessidade do Monarca Universal para o alcance da felicidade
terrena. Contudo, os objectos estão intimamente atrelados,
afinal, o monarca representa o homem detentor dessa nobreza,
ligado a contemplação filosófica, de forma que o conhecimento e
o poder coincidem em sua figura.

Dante propõe uma alternativa para o modelo político vigente,


construindo um novo princípio de autoridade, ideal característico
do século XIV, devido à falência de autoridades e as outras
muitas complicações já apresentadas.

Segundo Souza e Barbosa (1997), O suporte teórico,


característico do medievo, era simultaneamente de natureza
teológica, jurídica, filosófica e histórica, nunca tendo prevalecido
apenas um desses aspectos teóricos na elaboração do discurso.

As doutrinas políticas medievais foram pensadas num contexto


em que o espiritual e o temporal, o imanente e o transcendente,
o sagrado e o profano formavam um corpo uno. Em suma, a
discussão privilegiará as relações entre os poderes,
perspectivadas no confronto entre duas concepções políticas, a
hierocracia e a teocracia.

Defendia explicitamente a vida contemplativa, entendida como


um ideal de existência dedicada exclusivamente para o
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conhecimento, a qual não é isenta de dificuldades, tendo em


vista a natureza humana ser constituída também de uma parte
sensível, barreira superada mediante o uso da razão.

A vida contemplativa não seria somente a bem-aventurança


última e perfeita a ser obtida na outra vida, como também a
bem-aventurança menor e imperfeita que se pode alcançar
nesta, uma adequação/deformação do ideal platónico-
aristotélico que exaltou a contemplação acima da prática e a
considerou a única digna do filósofo e do homem.

A defesa da razão surge como o principal pressuposto


epistemológico de seu pensamento, como no início do Convívio:
P i ei o,à Da teà es eve:à ua doà seà dizà ueà oà ho e à vive,à
deve-seàe te de à ueàoàho e àusaàaà azão .àEàdepois,à ita doà
Bo io,àa es e ta:à ue àseàdesviaàdaà azãoàeàusaàso e teàosà
sentidos, não vive como homem, mas como um animal. Vive
o oàu àas o .à

Para Dante, o mundo da sensibilidade está separado do mundo


intelectual e o acesso ao conhecimento filosófico somente se
conquista mediante a superação do mundo sensível. Para se
alcançar a filosofia seria necessária uma luta constante pela
superação da sensibilidade.

Por um lado, ele se sente atraído pela filosofia, mas por outro
lado tem dificuldades em abandonar o mundo da sensibilidade.
Essa dúvida existencial parece se resolver pela força do destino
ou da Providência.

Essa actividade contemplativa não poderia passar a acto, inteira


e simultaneamente, se feita isoladamente. Então, esta potência
intelectual se actualiza somente através da pluralidade de seres
corruptíveis, os homens. É mesmo por esta razão que o género
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humano existe: toda esta multidão de seres pensantes é


indispensável como requisito actualizador à possibilidade total
do intelecto humano.

Foi considerado, aos indivíduos, que possuem todas as


faculdades ordenadas para o alcance da felicidade, necessitam
de um guia, o monarca universal.

É assim que Dante percebe a primeira finalidade do homem


enquanto vida terrena, actividade necessária para o alcance da
beatitude terrestre, um meio para impetrar uma grandeza ainda
maior, a beatitude eterna. Caminhos distintos que são
apresentados no Convívio e também ao longo do tratado De
Monarchia.

Dante Alighieri, tanto no Convívio como na Monarchia, defende


o exercício intelectual como um valor que o sujeito deve possuir
para exercer uma das duas beatitudes que possui: a beatitude
terrestre e a beatitude celeste.

No Convívio encontramos a delineação de uma existência


perfeita e nobre, deixando claro que a cultura do espírito se
reserva a um grupo selecto e menor, corifeu da comunidade
humana, mesmo que defenda a necessidade do conhecimento
para todos. Atribuindo um grande valor à razão, sempre se
preocupando com o género humano e através de quais métodos
e o uista /fu da à aà ve dadei aà o eza .à áà vidaà a tiva,à aà
acção do indivíduo na sociedade, do político na cidade, também
é vista como relevante nesta obra, enquanto na Monarchia
Dante preocupa-se mais em separar em dois caminhos precisos o
princípio do duplo fim.

Mais que qualquer outro, foi ele quem defendeu, durante o


edievo,à aà o ezaà i tele tual . No Convívio, a teologia de
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Aristóteles e a astrologia se fundiram num manifesto filosófico


escrito em vulgar toscano, por ser nutrido do pensamento greco-
romano e dos saberes cristãos, pretendendo se dirigir, não aos
eruditos das universidades, mas antes esclarecer os homens da
nobreza e do governo da cidade, crente que essa categoria,
superior e restrita, possuía as sementes da verdadeira nobreza.
Da teà expõeà aà teseà e t alà doà a isto atis oà i tele tual ,à
especificando a verdadeira figura do intelectual medieval. O
coroamento natural das virtudes é um estado de felicidade
particular: a felicidade mental – a contemplação filosófica.

No entanto, para que isto ocorresse, era necessário possuir a


nobildade, que não pode ser alcançada a não ser por intermédio
deàDeus.à Oàolha àdeàDa teà ãoà àoàdeàu àso iólogo,à àoàdeàu à
filósofo da natureza. A teoria de nobildade se inscreve numa
visãoàdoà os o:àaà o ezaà e aiàso eà e tosàho e sàvi tuosos .

Ao fazer apologia a essa nobreza, defende uma nova visão da


existência, de um novo ideal que transpõe o modo de vida
filosófico que durante os séculos XIII e XIV se apoderou da
Universidade de Paris. O emprego da língua vulgar facilitou a
difusão para a sociedade do modelo de vida que os mestres em
artes se haviam dado, universalizando a questão universitária,
ep ese ta doàoà i tele tual àdeàfo aàdasài stituiçõesàe uditas.

A interpretação da existência humana é feita através de uma


dupla ordem, ao mesmo tempo distinta e convergente: a da
natureza e a da graça.

No livro terceiro do tratado político De Monarchia, defende que


o homem, e somente ele, detém o meio das coisas corruptíveis e
incorruptíveis, assim como se considera o sujeito segundo uma e
outra parte essencial: a alma e o corpo. E como toda natureza
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está ordenada para a um fim último, resulta que o homem exista


para um duplo fim.

Dentre estes dois fins, a beatitude desta vida consiste no


exercício da própria virtude e que é representada pelo paraíso
terrestre e a beatitude da vida eterna, que consiste na fruição da
presença divina.

Dante acredita que toda a vida humana está subordinada à


realização da sabedoria teorética, ou seja, toda ciência
contemplativa ou fundada sobre a contemplação da verdade,
que antecipa e prepara para o alcance da beatitude.

A monarquia temporal, resgata a doutrina aristotélica de que


toda essência existe em vista de sua operação. Nenhuma
essência criada pode, pois, ser a intenção última do Criador,
buscando por este expediente um fim próprio para o género
humano em sua totalidade: o conhecer pelo intelecto.

A nobreza seria individual, e por isso, não seria transmissível. A


nobreza colectiva não passaria de uma ideia abstracta, desejada
talvez, mas sem possibilidades de ser colocada em prática. Não
defende o mérito individual, nem reivindica uma dignidade para
um novo grupo social.

A classe dos intelectuais será nobre se cada um dos membros


que a compuserem for nobre. Então todo o problema é saber de
que maneira a nobreza incide nos indivíduos, por que em uns e
não em outros; se nem a origem ou a função social podem
enobrecer o homem.

Sobre a nobreza intelectual, Dante comenta que ninguém


deveria se vangloriar de sua descendência, da aristocracia de
sangue. De forma que, aqueles que possuem a graça divina, a
nobildade, seriam muito superiores a esses, quase como Deuses,
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isentos de todos os vícios; porque somente Deus o dá à alma que


vê estar perfeitamente em sua pessoa; de maneira que, a alguns
é dada a semente da felicidade, que Deus coloca na alma bem
disposta.

No Convívio encontramos a configuração de um homem


detentor de grande capacidade, mostrando-o em sua dignidade,
liberdade e até imortalidade, como se fosse semelhante a Deus.
Isso porque somente ele possui a mais alta potência, a
capacidade de usar o intelecto

Assim, o pensamento é acto próprio da razão. A natureza


humana é a mais perfeita de todas as outras desta terra, mesmo
que mortais como os animais irracionais, no entanto, conta com
a esperança de outra vida, tornando sua imperfeição menor do
que qualquer outro animal.

É nítido nesse contexto que o homem conseguiu um status


próprio e certa independência da instituição religiosa, mesmo
que teoricamente. A crença na capacidade do homem para
ordenar seus próprios assuntos sem recorrer à Igreja fez com
que nas propostas estudadas não houvesse nenhuma instituição
superior ao Império/Estado, do mesmo modo que não havia
nenhuma instituição acima da Igreja concebida como corpo de
crentes.

Para o alcance do equilíbrio perfeito, a soberania era de ambos.


A península itálica nos séculos XIII e XIV teve como principal
qualidade a expansão e a consolidação das cidades, as quais
adquiriam cada vez mais autonomia. Na França, os reis
protegiam-nas para terem nelas apoio contra os senhores
feudais; na Alemanha, as lutas internas, principalmente a das
investiduras, davam-lhes tempo para administrarem-se e, até
mesmo, colocando-se ao lado do imperador Henrique IV; na
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Itália, a ausência de um monarca italiano que representasse o


poder central dava margem para o desenvolvimento de
autonomias locais, e as pretensões alemãs, apenas exacerbavam
o sentimento de autonomia. Assim, as cidades representam um
terceiro foco de poder entre o papado e império.

Essa pluralidade de focos dominantes, sem dúvida, era


problemática para o estabelecimento de um sistema político
como a Monarquia Universal. Afinal uma grande quantidade de
cidades que possuem seus próprios representantes, geraria uma
multiplicação dos problemas encontrados tanto em Florença,
como na península itálica em geral.

Mas, ao mesmo tempo, o florescimento das cidades, da qual


Florença é um dos exemplos mais magníficos, ao lado de Paris,
permitiu a génese de pensadores como Dante Alighieri e tantos
outros, que poderiam se sentir mais a vontade ao criticar a Igreja
e o Império, ou qualquer instituição infeliz em suas acções, tendo
em vista a liberdade, bem como a riqueza gerada nesses locais.
Era no meio urbano, em meio às universidades, ordens
mendicantes e escolas citadinas que o pensamento crítico
poderia se dilatar de forma mais completa e precisa.

A partir desse contexto histórico de produção do Convívio


Monarchia em conjunto com as reflexões filosóficas discutidas,
observamos que esse ser detentor da nobilidade é encarnado,
principalmente, pelo Imperador Universal, o guia necessário para
a condução do género humano ao seu duplo fim – ao exercício
do intelecto e a fruição divina. Por consequência, a Paz, entre
outros benefícios, como a Justiça, seriam alcançados, visto que
são fundamentais para um melhor desenvolvimento da
comunidade humana.
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Assim sendo, esses problemas que envolveram a vida de Dante,


como os longos conflitos entre diversas instituições e grupos
políticos, seriam, por conseguinte, resolvidos.

Aparentemente, o tratado filosófico como convívio não


trouxesse essas questões de forma explícita, a defesa de uma
existência tida como nobre, obviamente traria implicações
positivas para a situação de instabilidade característica do
período tardo-medieval.

áà teo iaà da tes aà pa aà aà a a te izaçãoà doà ho e à o e ,à


encontrada no Convívio, é elaborada não somente para
apresentar e justificar um grupo de indivíduos que possuem a
se e teà divi a ,à asà ta à fo tale e à osà ali e esà pa aà seuà
tratado posterior intitulado Monarquia.

Neste tratado, ao discutir a respeito da necessidade da


Monarquia temporal, recorre muitas vezes à legitimação do
poder Imperial concedida por Deus e também à predestinação
divina do Império, visto, por exemplo, a discussão tornar-se mais
viva nos momentos em que urge estabelecer a independência do
poder temporal em relação ao espiritual, ou seja, esclarecer a
vinculação directa do Imperador com Deus.

Monarca, esse que não era simplesmente um homem da espada,


mas também uma força filosófico-intelectual. Era
responsabilidade principal do imperador, por meio da razão
natural e da filosofia moral, guiar a mente humana para a
beatitude terrestre, tal como o papa era encarregado pela
Providência de guiar a alma cristã para a iluminação
supranatural.

Fica claro que o filósofo florentino arquitecta uma aproximação


inevitável entre esse Monarca e o divino, representando
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p i ei oà u aà teo iaà deà o ezaà i tele tual à desti adaà aà u à


grupo selecto de homens escolhidos por Deus, do que um
argumento para fundamentar somente a distinção entre o poder
temporal e espiritual.

Por fim, o Convívio e a Monarquia representam um elogio


explícito aos bens que a Filosofia e a vida contemplativa podem
fornecer aos homens. A perfeição humana, a perfeição da razão,
é o que fundamenta toda a essência e as acções do homem, já
que quem despreza a sabedoria e a doutrina é infeliz.

3.2.3. O PENSAMENTO POLITICO EM JEAN BODIN

Jean Bodin nasceu na França por volta de 1530, em uma família


burguesa, de prósperos artesãos de origem judia e faleceu em
1596. Jurista, teórico do absolutismo, inventor do princípio de
separação entre Estado e governo, precursor do Mercantilismo,
foi o primeiro a dar ao tema da soberania um tratamento
sistematizado, também dedicou-se ao direito civil e em Paris
estabeleceu-se como advogado do rei.

Foto: Jean Bodin

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/p11, acessado 16.09.2014


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JEAN BODIN publicou, em 1576, o livro "DE LÁ REPUBLIQUE",


vasta obra de teoria política, que se destacou pelos conceitos
emitidos sobre a soberania e o direito divino dos reis.

Em teoria política destaca-se por ser um autor que enaltece o


absolutismo, o poder absoluto, e o amplo exercício da soberania.
A primeira exposição sistemática da soberania é normalmente
atribuída ao jurista francês Jean Bodin. Ele irá defender o
fortalecimento do Estado, facto justificado pelo seu contexto,
que era de grande instabilidade política. Mas essa centralização e
fortalecimento do poder deverão passar pelas vias objectivas do
direito, e não na virtude política (virtú) de um deposta eficaz ou
na entrega, pelos indivíduos, dos seus direitos subjectivos a um
Deusà o tal à Estado .

Bodin preocupa-se em definir o que seja uma república (aqui


entendida como Estado). Sua definição virá representando o
o ju toà deà fa íliasà ouà deà ol giosà su etidosà aà u aà sóà eà
es aà auto idade .à ásà fa íliasà oà povo devem estar reunidas
sob a mesma autoridade, de modo que o poder aí já se identifica
como uma regência centralizada dos diversos grupos.
Toda república é governada a partir da convivência harmónica de
três espécies de leis: a lei moral (foro intimo de cada um), a lei
doméstica (aplicada pelo chefe de família) e a lei civil, que se
aplica a todos os participantes da sociedade política, tendo por
âmbito de aplicação as relações entre as famílias.

A soberania é o elemento mais importante caracterizador do


Estado, entendida pelo poder supremo sobre os cidadãos e
súbditos, sem restrições determinadas pelas leis. Segundo ele, a
autoridade do rei era concedida por Deus, cabendo aos súbditos
somente a obediência passiva. O direito a soberania é
inalienável, pertencente somente ao soberano, ser a
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representação de um poder absoluto é poder agir com a máxima


liberdade possível, no sentido de fazer cumprir as metas do
Estado. É preciso que os soberanos possam dar as leis aos
súbditos e anular ou revogar as leis inúteis para fazer outras. Ter
poder absoluto, ser soberano, significa estar acima das leis civis.
Ora, nesses termos, a soberania é o cimento das relações sócias
sobre o qual se constroem os modos de vida e o convívio em
sociedade, sem ela, torna-se impossível a vida organizada
politicamente, inviabilizando-se a ideia e o projecto de existência
do Estado.

3.2.3.1. FORMAS DE EXERCÍCIO DA SOBERANIA

Para Bodin, a soberania é um poder perpétuo e ilimitado


juridicamente, indivisível e incontrastável, em que a força da
unidade acrescenta-se a força emanada da popularidade. A lei e
as instituições devem ser relativas e nunca absolutas. Para tal, só
pode ser exercida, em três tipos de comunidade: monarquia,
aristocracia e democracia.

Dos três modos possíveis para se exercer a soberania Bodin,


prefere a monarquia pelos seguintes argumentos:

 O monárquico é o Estado mais considerado para a


República, pois uma análise histórica revela a predilecção
dos povos antigos por essa forma de governo;
 Ela vem das leis de Deus. Grandes personalidades
históricas afirmam que a monarquia é o melhor governo
e mesmo na lei de Deus é dito;
 A principal marca da república, que é o direito da
soberania, se justifica em um só soberano. Se forem mais
de um soberano, ninguém é soberano.
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3.2.3.2. LIMITAÇÕES DO PODER SOBERANO

Há algo que a soberania antepõe: são as leis naturais e as leis


divinas. O detentor da soberania está submetido à lei divina,
segundo Bodin, porque é, antes de nada, um súbdito de Deus. O
soberano não pode transgredi-la em hipótese nenhuma.

As leis divinas e naturais são, portanto, um parâmetro para


definir a diferença entre o monárquico e o tirânico. Mas a
acusação de crueldade, de impiedade e de injustiça no exercício
da soberania não pode, em hipótese alguma, justificar a
resistência, mesmo que o soberano ordene coisas que são
consideradas contrárias às leis de Deus e da natureza. Não há
autoridade que possa julgar o soberano, pois isso seria uma
afronta a soberania.

Bodin não dá ao povo o direito a resistência, sua escolha é pela


manutenção do poder soberano, causa e sentido da ordem
social, que é melhor do que outro tipo de governo ou mesmo a
descentralização do poder. A anarquia, a desordem, o caos e o
desgoverno são males que Bodin quer afastar da sociedade. Por
isso a ideia de soberania: indivisível, incontrastável e absoluta.

A ideia de poder absoluto de Bodin está ligada à sua crença na


necessidade de concentrar o poder totalmente nas mãos do
governante; o poder soberano só existe quando o povo se
despoja do seu poder soberano e o transfere inteiramente ao
governante. Para esse autor, o poder conferido ao soberano é o
reflexo do poder divino, e, assim, os súbditos devem obediência
ao seu soberano.

A grande contribuição da obra de Bodin, para a formação do


Estado Moderno, é a afirmação da soberania como um poder
absoluto e perpétuo. A soberania é una e indivisível, porque num
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mesmo Estado não se admite a convivência de duas soberanias,


já que se configura como poder superior a todos os demais
existentes na sociedade política. Para o Direito, na ordem
interna, a soberania representa o poder dentro dos limites do
território.

Na ordem externa, é sinónimo de independência, pois os Estados


são unidades políticas igualmente soberanas e independentes.
Em razão disso, o conceito de soberania exposto por Bodin
encontra dificuldades de ser aplicado no plano internacional.

Sumário

Dante Alighieri (1265-1321) produziu entre 1312-3 o tratado De


Monarchia, para comprovar que o Imperador derivava seu poder
directamente de Deus e não por intermédio do Papa.

Neste tratado busca por uma unidade na universalidade, ou seja,


o ideal de uma sociedade do género humano. Assim, o principal
postulado é a afirmação de que o poder temporal teria sua
origem directamente de Deus, fundamentando a defesa de um
único sistema capaz de estabelecer e garantir regras para o novo
modo de conceber as relações políticas e sociais. Esse aparato
seria a Monarquia Universal, capaz de prover a felicidade
necessária para a boa condução da comunidade humana.

O caminho da argumentação é duplo: defender a origem divina e


directa do poder temporal, representado pelo Sacro Império
Romano Germânico e, consequentemente redefinir o papel do
poder espiritual da Igreja sobre a política mundana. Dessa forma,
afirma que não existe hierarquia entre os dois poderes,
propondo a distinção entre eles, antes que uma separação.
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A felicidade temporal não dependeria da espiritual, visto as duas


beatitudes intrínsecas ao homem: a terrestre e a divina. Sobre
estes dois fins, discutidos de maneira aprofundada no Convívio
(1304), existe a crença de que nesta vida podemos atingir
somente duas beatitudes (felicidades), segundo dois caminhos
diferentes, bom e óptimo, que a elas nos levam: um é a vida
activa e o outro é a vida contemplativa. Partindo do ideal de que
o homem é composto por duas partes: o corpo e alma, logo ele
também deve possuir dois caminhos para atingir a felicidade,
mesmo que em gradações diferentes. A beatitude desta vida
consiste no exercício da própria virtude (intelecto) e é
representada pelo paraíso terrestre e a beatitude da vida eterna,
consiste na fruição da presença divina.

Deste modo, Dante Alighieri fez com que a teoria dualista


ganhasse uma nova dimensão, o poder temporal passava a ser
visto como autónomo do espiritual, sendo que a única conexão
entre ambos seria a dependência em relação a Deus. O desejado
no interior dessa concorrência de poder, entre o Império e o
Papado, seria a complementaridade que permitiria o alcance do
equilíbrio.

As noções de soberania surgiram num momento em que a


França se via assolada pelas guerras de Religião do século XVI.
Foi o medo da anarquia que levou Bodin a sustentar que para
preservar a ordem social deveria existir uma vontade suprema
soberana.

A soberania foi definida pelo autor, como o poder absoluto que o


chefe de Estado tem de fazer leis para todo o país, sem estar,
entretanto, sujeito a elas nem às de seus predecessores, porque
"não pode dar ordens a si mesmo". A República (sinónimo de
Estado ou de comunidade política), sem o poder soberano não é
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mais República. Além de absoluta, a soberania é também


perpétua e indivisível.

Segundo Bodin, a soberania pode ser exercida por um príncipe


(caracterizando uma monarquia), por uma classe dominante
(caracterizando uma aristocracia) ou pelo povo inteiro (seria uma
democracia). Mas, ela só pode ser efectiva na monarquia,
porque esta dispõe da unidade indispensável à autoridade do
soberano.

Ao exercer a soberania, o governante deve criar órgãos,


associações ou conselhos (como os "Estados Gerais", na França)
que facilitem a administração. Porém o poder de decisão em
última instância é sempre do príncipe, sob pena de
desmoronamento da soberania, que é tão alta e tão sagrada.
Dentre as demais prerrogativas que o exercício da soberania
confere ao governante estão os direitos de decretar a guerra e a
paz, criar cargos públicos, condenar ou perdoar os réus, cunhar
moedas, estabelecer ou suspender impostos.

Mas a monarquia de poder absoluto não é uma monarquia


ilimitada ou despótica, é sim, "aquela em que os súbditos
obedecem às leis do monarca e o monarca às leis da natureza,
continuando a pertencer aos súbditos a liberdade natural e a
propriedade dos bens". 0 Monarca absolutista deve, pois,
respeitar as leis naturais (como o direito à liberdade e a vida e a
lei que regula a sucessão ao trono), bem como as propriedades
dos seus súbditos, não podendo tomá-las sem-motivo justo.

As noções de soberania de Bodin constituíram as bases da


ciência política e do direito público durante o Antigo Regime e
sua influência ultrapassou as fronteiras da França.
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Exercícios

1. Entre os séculos XV e XVII, a intelectualidade europeia cria


novas concepções teóricas sobre o poder do Estado e seu
exercício legítimo. Uma das mais célebres dessas concepções
buscava estabelecer uma explicação racional para o poder
absoluto do soberano a partir do conceito de Estado de
Natureza, no qual os indivíduos, egoístas e absolutamente
livres, viveriam em constante e violento conflito, resultando daí
a necessidade de que tais indivíduos cedessem, por contrato,
todos os seus direitos ao Estado, abdicando da liberdade para
garantir a segurança e a paz social. Trata-se das ideias de:

a) Thomas Hobbes. b) Jean Bodin. c) Nicolau Maquiavel.

d) Hugo Grotius. e) Jacques Bossuet.

2. O final da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), da Guerra das


Duas Rosas (1453-1485) e da Guerra da Reconquista (séculos XII
a XV) desencadeou processos diferenciados de

a) Fortalecimento da servidão clássica.


b) Enfraquecimento das burguesias.
c) Centralização política.
d) Afirmação do poder temporal da Igreja.
e) Declínio do racionalismo humanista.

3. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494 e


confirmado nos seus termos pelo Papa Júlio II em 1506,
representou para o século XVI um marco importante nas
dinâmicas europeias de expansão marítima. O tratado visava:

a) Demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo


como elemento propulsor o desenvolvimento da expansão
comercial marítima.
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b) Estimular a consolidação do reino português, por meio da


exploração das especiarias africanas e da formação do exército
nacional.

c) Impor a reserva de mercado metropolitano espanhol, por


meio da criação de um sistema de monopólio que atingia todas
as riquezas coloniais.

d) Reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do


Mediterrâneo para o Atlântico, depois das expedições de Vasco
da Gama às Índias.

e) Reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração


colonial, após a destruição da Invencível Armada de Filipe II, da
Espanha.

4. Considerando as relações existentes entre o Humanismo e o


Renascimento, pode-se afirmar CORRETAMENTE que:
a) o Humanismo constitui um movimento filosófico contrário ao
Renascimento
b) o Humanismo constitui uma visão de mundo que permitiu o
resgate à herança greco-romana
c) o Humanismo e o Renascimento, embora sendo movimentos
contemporâneos, eram bem distintos e não apresentavam
semelhanças
d) o Humanismo fazia uma severa crítica à herança greco-
romana
e) O Humanismo constituía-se num movimento de exaltação aos
valores medievais

5. (Pucrs) O Renascimento, movimento cultural com origem na


Itália, e o Humanismo, no princípio da Idade Moderna, tiveram
repercussão social de carácter _________. Ao representarem as
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relações do homem com Deus e com a natureza, as obras


renascentistas caracterizaram-se pelo _________, ao passo que
a renovação científica do período criou uma nova imagem do
universo físico, marcada pelo _________.
a) popular - antropocentrismo - geocentrismo
b) elitista - teocentrismo - heliocentrismo
c) popular - antropocentrismo - heliocentrismo
d) popular - teocentrismo - geocentrismo
e) elitista - antropocentrismo - heliocentrismo
6. Entre 1511 e 1516, foram escritas na Europa três das mais
fundamentais obras da Renascença, "Elogio da Loucura", de
Erasmo de Roterdã, "O Príncipe", de Nicolau Machiavel, e
"Utopia", de Thomas Morus. Diferentes pelo tom e pelas
respostas que trazem, essas obras têm em comum uma
constatação bastante sombria da sociedade da época e a
ambição de edificar um mundo mais harmonioso.
Em relação aos ideais intelectuais humanistas e à conjuntura
histórica da época, considere as seguintes afirmações.

I - O pensamento humanista elaborou uma forte crítica à


escolástica, embora não tenha rompido com a idéia criacionista,
colocando suas esperanças em uma nova forma de educação.
II - O mundo dos humanistas foi um mundo animado por
transformações: a difusão da impressão mecânica, os progressos
da navegação e a descoberta de novas terras, a intensificação
das trocas comerciais, a queda de Constantinopla e o exílio de
letrados gregos na Europa, todos fatores que provocaram uma
reflexão a propósito da condição humana.
III - O humanismo fundamentou-se, em primeiro lugar, na
restauração da cultura antiga, através de manuscritos que se
haviam perdido desde a Antigüidade, os quais são considerados
como tesouros de uma cultura viva.
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Quais estão correctas?


a) Apenas I. b) Apenas III. c) Apenas I e
II.
d) Apenas II e III. e) I, II e III.

7.Comente a relação entre expansão marítima e formação dos


Estados Nacionais no início da "Época Moderna".
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EXERCÍCIO FINAIS

Caro estudante responde as questões abaixo para verificar o


seu estágio de aprendizagem e dos conhecimentos adquiridos
nesta disciplina.

1. Na transição do Mundo Medieval para o Moderno, teve papel


de destaque:
A) A educação ministrada pelos leigos nos conventos e nas
abadias.
B) O processo de ruralização das vilas e dos centros urbanos.
C) O comércio e o renascimento das cidades.
D) O poder político altamente descentralizado.
E) A Igreja, que acatava o lucro e a usura.

2. Da uià as eàu àdile a:à à elho àse àa adoà ueàte ido,àouà


o inverso? Respondo que seria preferível ser ambas as coisas,
mas, como é muito difícil conciliá-las, parece-me muito mais
seguro ser temido do que amado, se só se puder ser uma delas
... . MáQUIáVEL,à N.,à Oà Príncipe. 1976, p. 89.A respeito do
pensamento político de Maquiavel, é correcto afirmar:
A) Mantinha uma nítida vinculação entre a política e os princípios
morais do cristianismo.
B) Apresentava uma clara defesa da representação popular e dos
ideais democráticos.
C) Servia de base para a ofensiva da Igreja em confronto com os
poderes civis na Itália.
D) Sustentava que o objectivo de um governante era a conquista
e a manutenção do poder.
E) Censurava qualquer tipo de acção violenta por parte dos
governantes contra seus súbditos.
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3. No início da Idade Moderna, buscando construir um novo tipo


de sociedade, por meio da difusão de novos padrões de
comportamento, surgiram, na Península Itálica, ricos
patrocinadores das artes e das ciências, que objectivavam não só
a promoção pessoal, mas também proveitos culturais e
económicos. Assinale a alternativa que indica como são
denominados esses patrocinadores.
a) Neoplatónicos
b) Condottieris
c) Mecenas
d) Humanistas
e) Hedonistas

4. O primeiro Triunvirato foi um sinal inequívoco da crise vivida


pela República romana. Apenas três homens, Pompeu, César e
Crasso, acumularam quase todos os títulos e cargos importantes.
O fim dessa aliança, marcado pela morte de Crasso em 53 a.C.,
representou imediatamente
A - o aumento da rivalidade entre os dois sobreviventes, César e
Pompeu, que resultou em uma violenta guerra civil.
B - o enfraquecimento da influência de César, em virtude do
fracasso de sua campanha militar na Gália.
C - o assassinato de César por membros da aristocracia romana
dentro do próprio senado.
D - a formação de um novo triunvirato, constituído por Octávio,
Marco António e Lépido.

5. A fim de controlar as inúmeras revoltas dos escravos e o


descontentamento popular entre os plebeus, o Imperador
romano Octávio Augusto adoptou a seguinte medida:
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A - a criação do Primeiro Triunvirato e a concessão de cidadania


aos plebeus.
B - Redividiu as terras e criou novas colónias para acabar com a
desocupação da plebe urbana e atraí-la para o trabalho rural.
C - Determinou que os latifundiários fossem obrigados a
empregar pelo menos um terço dos trabalhadores livres.
D - Usou uma política chamada pelos romanos de Pão e Circo, na
qual o governo organizava os espectáculos públicos onde se
distribuía porções de trigo à população.
E - A criação em 493 a.C., do Tribunato da Plebe, assembleia
formada exclusivamente por plebeus.

6. Observa o mapa abaixo e responde a questão que se segue.

O Império Romano ampliou seus domínios em torno do


Mediterrâneo. Esse fato tornou possível, entre outros aspectos,
a comunicação, as transacções comerciais e o deslocamento de
tropas para as diversas regiões romanas.
Sobre a expansão em questão, é correcto afirmar que
A - as conquistas propiciaram, pela primeira vez na Antiguidade,
a combinação entre o trabalho escravo em larga escala e o
latifúndio, associação que constituiu uma alavanca de
acumulação económica graças às campanhas militares romanas.
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B - a conquista de novos territórios desacelerou o processo de


concentração fundiária nas mãos da aristocracia patrícia, uma
vez que o Estado romano estabeleceu um conjunto de medidas
que visava distribuir terras aos pequenos e médios proprietários
e à plebe urbana empobrecida.
C - apesar da conquista do Mediterrâneo, os romanos não
conseguiram estabelecer a integração das diversas formações
sociais ao sistema escravista nem tampouco se dispuseram a
criar mecanismos de cooptação social e política dos seus
respectivos grupos dominantes.
D - as conquistas militares acabaram por solucionar o problema
agrário em Roma, colocando em xeque as medidas defendidas
por líderes como os irmãos Graco, que postulavam a
expropriação das terras particulares dos patrícios e sua
repartição entre as camadas sociais empobrecidas.
E - a expansão militar levou os romanos a empreender um duro
processo de latinização dos territórios situados a leste, o que se
tornou um elemento de constante instabilidade político-social
durante a República e também à época do Império.

7. Dentre os movimentos sociais que marcaram a República


Romana, podemos destacar as lutas entre patrícios e plebeus.
Sobre estas lutas, é correcto afirmar:
A - O casamento entre patrícios e plebeus não foi permitido,
apesar das conquistas do povo romano nas lutas contra os
patrícios.
B - Apesar da marginalização política, não havia discriminação
entre patrícios e plebeus.
C - Os plebeus conquistaram, em 367 a.C, o direito de participar
do consulado com a promulgação da Lei Licínia, que também
regulamentou a exploração das terras públicas.
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D - Quando um patrício tornava-se insolvente, sem condições de


pagar dívidas, tinha de se submeter ao nexum. Este foi um dos
factores que causou os conflitos entre plebeus e patrícios.
E - Em 450 a.C, foi publicada a Lei das Doze Tábuas, um dos
fundamentos do Direito Romano, que não assegurou a igualdade
jurídica entre patrícios e plebeus.

8. O poder político dos romanos não foi uma sucessão de vitória


e de crescimento de riquezas sem limites. A expansão do Império
trouxe problemas e dificultou os governos, trazendo um
aumento constante de conflitos políticos. Na época de Rómulo
Augusto houve: A - a redução do poder dos sacerdotes e da
Igreja católica.
B - a adopção oficial da religião cristã em todo o Império.
C - a divisão administrativa do Império para fortalecer sua força
militar.
D - a construção de uma aliança política com os muçulmanos.
E - queda de Roma, em 476, com a invasão dos chamados
bárbaros, fragmentando o Império.

9.No governo de Octávio Augusto, ocorreu em Roma:


A - um massacre dos povos insubordinados culturalmente.
B - um aumento majestoso dos gastos militares.
C - negociação entre os povos cristãos e o imperador.
D - a decadência administrativa e a crise militar.
E - um tratamento político mais diplomático com os povos
vencidos.

10. No ano 313 d.C., o Imperador Constantino reconheceu o


cristianismo como religião oficial do Império Romano, por meio
do Édito de Milão. Sobre o cristianismo na Antiguidade, é
Incorrecto afirmar:
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A - Os primeiros cristãos sofreram grandes perseguições por


motivos políticos.
B - Por serem politeístas, os romanos inicialmente resistiram em
aceitar o monoteísmo cristão.
C - Durante a Antiguidade, ocorreram conversões ao cristianismo
deà uitosàpovosà ha adosà a os .
D - No início de sua formação, a Igreja Cristã baseou sua
estrutura na organização do Império Romano, reproduzindo
também sua divisão de poder.
E - A partir do Édito de Milão, ficou estabelecido que somente
autoridades religiosas poderiam determinar os rumos da Igreja.

11. Entre os pobres muitos se dirigem a terras estranhas,


vendidos e cobertos de correntes [...].
Quantos dos que tinham sido vendidos, uns injustamente, outros
com justiça, fiz voltar para Atenas, sua pátria, fundada pelos
deuses [...].Dei liberdade a outros que, aqui mesmo (em Atenas),
sofriam servidão indigna e tremiam diante do humor dos
patrões. Eis o que realizei, graças à soberania da lei, fazendo com
que a força e a justiça agissem concordemente.
Sólon, Elegias. Apud HOLANDA, S. Buarque de. História da
Civilização. 6. ed. São Paulo: Nacional, 1979. p. 58.
Com base no texto acima e nos seus conhecimentos sobre a
sociedade e a democracia ateniense, assinale a(s)
proposição(ões) CORRECTA(S).
1 - Na experiência democrática vivida pelos atenienses durante o
período helenístico, a escravidão foi eliminada através da
legislação elaborada por Sólon, sobrevivendo apenas a servidão
voluntária.
2 - As leis de Sólon, consideradas avançadas para a época da sua
promulgação, admitiam a escravização dos endividados ou filhos
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de escravos, pois a perda de direitos individuais não feria os


princípios da democracia ateniense.
3 - Na sociedade ateniense, as três principais classes sociais eram
representadas por: cidadãos nobres, homens livres nascidos de
pai e mãe ateniense; metecos, estrangeiros autorizados a viver
na Ática; e escravos, prisioneiros de guerra ou filhos de escravos.
4 - Drácon publicou as primeiras leis escritas em Atenas e com
elas reforçou o direito dos nobres de interpretar as leis segundo
as próprias conveniências, dando origem à tirania e ao adjectivo
d a o ia o ,à ueàsig ifi aàsevero, rígido.
5 - As manifestações de descontentamento com as leis de
Drácon fez com que a administração de Atenas fosse confiada ao
arconte Sólon, que realizou importantes reformas: proibiu a
escravização de pessoas endividadas e perdoou as dívidas dos
pequenos lavradores, devolvendo-lhes as terras perdidas.
6 - As reformas implantadas por Sólon foram rechaçadas pelos
tiranos, nobres empobrecidos pelas decisões democráticas,
tomadas em praça pública e com a participação de toda a
população de Atenas.

12. átenas era uma cidade extraordinariamente cosmopolita.


Um ateniense poderia observar milhares de imigrantes
temporários e permanentes de outras cidades gregas ou de
terras não gregas trabalhando a sua volta, muitas vezes fazendo
exactamente o mesmo trabalho que ele, sem, contudo,
compartilhar de nenhum de seus direitos de cidadão. A
característica mais marcante da cidadania ateniense é que,
quando viajava para além dos limites de sua própria pólis, era
i ediata e teàp ivadoàdeàseusàdi eitosàpolíti os . JONE“, Peter
V. O mundo de Atenas: uma introdução à cultura clássica
ateniense. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p. 156) (Grifo do
Autor)
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No que se refere à democracia ateniense, é correcto afirmar que:


A - apesar da não inclusão de estrangeiros na cidadania
ateniense, as leis da pólis ateniense eram amplas e incluíam
direitos e deveres dos metecos.
B - o cosmopolitismo ateniense contribuiu para diversos avanços
intelectuais e económicos da cidade-estado ateniense, mas não
interferiu na constituição de um sistema político democrático
que realmente incluísse estrangeiros, mulheres e escravos na
cidadania.
C - a manutenção da escravidão durante a vigência da
democracia ateniense foi um factor impeditivo e desestruturante
do regime democrático na cidade-estado.
D - a transição da Aristocracia para a Democracia, na Atenas do
período clássico, se baseou nas reformas de Drácon e Sólon, que
pretendiam restringir o poder dos eupátridas (nobres), em favor
da ampliação dos direitos dos cidadãos: homens, mulheres,
nativos e estrangeiros.
E - a cosmopolita sociedade ateniense do século V a.C. deu
origem à democracia como regime político derivado da
convivência multicultural de nativos atenienses e estrangeiros,
chamados metecos, oriundos de civilizações mediterrâneas
diversas.

13. Levando-se em consideração os conhecimentos acerca da


historiografia grega na antiguidade, julgue os itens abaixo
colocando V para os itens verdadeiros e F para os falsos e em
seguida assinale a alternativa correcta:
1 – A estrutura político-administrativa de Esparta diferia da
estrutura social de Atenas, haja vista que a primeira estava
organizada da seguinte maneira: Diarquia, Gerúsia, Ápela, Éforos,
enquanto na segunda observamos a divisão em três classes
sociais distintas: Eupátridas, Metecos e Escravos.
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2 – A DEMOCRACIA ateniense pode ser classificada como sendo


elitista, patriarcal e escravista. Elitista, porque só os eupátridas
tinham direitos políticos; patriarcal, porque excluía as mulheres e
escravista, porque eram os escravos que sustentavam a glória
dos senhores.
3 – Quanto à vida económica na Grécia, de um modo geral,
observa-se para a prática agrícola um solo desfavorável. Com
excepção de algumas planícies férteis, o solo é pobre, árido e as
chuvas são raras.
4 – A investigação intelectual e o espírito de curiosidade foram
grandes características da mente grega. Foi assim que nasceu
entre eles a filosofia (do grego filos = amizade; sofia = sabedoria).
É na filosofia grega que encontramos, por exemplo, figuras como
Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomas de Aquino que
tanto marcaram o pensamento Ocidental;
5 – Na religião grega, podemos destacar duas características
fundamentais: o politeísmo (adoração a um único deus – Zeus) e
o antropomorfismo (os deuses retratados como figuras de
animais que assumiam forma e comportamento semelhantes aos
dos homens).
6 – Traçando um quadro comparativo entre Atenas e Esparta,
observaremos as seguintes distinções:
A) Enquanto em Atenas o regime político adoptado era a
democracia em Esparta era a oligarquia e,
B) Quanto aos povos fundadores: Atenas foi fundada pelos jônios
e Esparta pelos dórios.
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