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MÓDULO DO CURSO DE LICENCIATURA EM

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2º Ano

Disciplina: FINANÇAS PÚBLICAS

Código: ISCED22-FINPCFE001

Total Horas/2o Semestre: 125


Créditos (SNATCA): 6
Número de Temas: 4

STITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA- ISCED


ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Direitos de autor (Copyright)

Este módulo é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED),


e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste módulo, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no país.

Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED)


Direcção Académica
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Beira - Moçambique
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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação à Distância (ISCED) e o autor do presente


módulo agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração
deste módulo, designadamente, a Direcção Académica do ISCED, pela coordenação; A
Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED, pelo design; Ao Instituto Africano de Promoção
da Educação a Distância, pelo financiamento e logística. Agradece também ao Dr., pela
revisão do módulo.

Elaborado Por: Gil Chiboleca, Pós-graduado em Género e Políticas Públicas pela Faculdade
Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), e Licenciado em Economia pela Universidade
Eduardo Mondlane.

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ÍNDICE

VISÃO GERAL 5
Bem-vindo ao Módulo de FINANÇAS PÚBLICAS ............................................................. 5
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 5
OBJECTIVOS DO MÓDULO ............................................................................................... 6
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 6
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 7
Ícones de actividade ......................................................................................................... 9
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 9
Precisa de apoio? ............................................................................................................ 11
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 12
Avaliação ......................................................................................................................... 13

TEMA I: INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS 15


UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE AS FINANÇAS PÚBLICAS .................... 15
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 25
Exercícios de AVALIAÇÃO................................................................................................ 28
UNIDADE TEMÁTICA II: ESTUDO DO SISTEMA FISCAL ................................................... 29
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 29
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 40
Exercícios de AVALIAÇÃO................................................................................................ 42
Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 45

TEMA II: ECONOMIA DO BEM-ESTAR 46


UNIDADE TEMÁTICA I: FUNDAMENTOS PARA A INTERVENÇÃO PÚBLICA .................... 46
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 46
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 56
Exercícios de AVALIAÇÃO................................................................................................ 58
UNIDADE TEMÁTICA II: FALHAS DE MERCADO.............................................................. 59
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 59
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 67
Exercícios de AVALIAÇÃO................................................................................................ 70
Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................... 71
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 73

TEMA III: ORÇAMENTO DO ESTADO 74


UNIDADE TEMÁTICA I: ORIGEM, CONCEITO E FUNÇÕES DO ORÇAMENTO.................. 74
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 74
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 93
Exercícios de AVALIAÇÃO................................................................................................ 96

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UNIDADE TEMÁTICA II: EXECUÇÃO, FISCALIZAÇÃO E CONTROLO DO ORÇAMENTO DO


ESTADO. A CONTA GERAL DO ESTADO ........................................................................... 97
INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 97
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 115
Exercícios de AVALIAÇÃO.............................................................................................. 118
Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO ....................................................................... 119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 121

TEMA IV: DÍVIDA PÚBLICA 122


UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE A DÍVIDA PÚBLICA ........................... 122
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 122
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 130
Exercícios de AVALIAÇÃO.............................................................................................. 131
Exercícios – PREPARAÇÃO PARA O EXAME................................................................... 132
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 137

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VISÃO GERAL

Bem-vindo ao Módulo de FINANÇAS PÚBLICAS

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o debate político-económico, quer para os países


desenvolvidos, quer para os países em vias de desenvolvimento, como
é o caso de Moçambique, tem girado em torno da necessidade da
implementação de regras e procedimentos eficazes para a gestão de
Finanças Públicas. Este debate, embora deveras controversa, engendra
consenso sobre a necessidade de fortalecimento do Sistema de
Administração Fiscal na arrecadação de receitas compatíveis com as
necessidades financeiras do Estado para consecução dos seus
objectivos de política económica e social.

Neste contexto, o estudo de Finanças Públicas, no actual contexto da


crescente escassez de recursos, constitui um grande desafio e reveste-
se de capital importância na medida em que fornece ferramentas
analíticas e metodológicas para uma alocação racional de recursos
públicos com vista a atender as necessidades colectivas. Ademais, esta
escassez de recursos tem constituído uma das principais limitantes
para a implementação das actividades planificadas pelas entidades
públicas.

Numa altura em que no país, está em curso, a implementação do novo


Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE) como parte
integrante da “Estratégia Global de Reforma do Sector Público”, o
módulo de Finanças Públicas, permite combinar análise teórica com o
estudo empírico da realidade moçambicana, o que proporciona aos
estudantes, instrumentos necessários ao esclarecimento das políticas
públicas que terão de ser consideradas. Por outro lado, o módulo
permite ao estudante perceber o processo de arrecadação de receitas

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

e da realização de despesas públicas no quadro do SISTAFE.

Nestes termos, será levada a cabo uma formação aplicada ao


funcionalismo público pautada, sobretudo, pela observância dos
princípios de practicidade e operacionalidade, com vista a dotar os
estudantes de ferramentas necessárias para análise e compreensão da
actividade Financeira do Estado no processo de desenvolvimento
económico e social sustentável.

OBJECTIVOS DO MÓDULO

Objectivos Gerais

Este módulo, em termos gerais, tem como objectivos:

 Providenciar aos estudantes uma visão geral de Finanças


Públicas.
 Fornecer aos estudantes uma visão holística sobre a gestão de
Finanças Públicas em Moçambique tomando em consideração
o novo quadro do Sistema de Administração Financeira do
Estado (SISTAFE).

No fim deste módulo o estudante deve ser capaz de:

 Apresentar o conceito e as finalidades de Finanças Públicas


 Identificar os princípios teóricos de tributação
 Classificar o sistema tributário moçambicano

Objectivos Específicos  Descrever o processo de formulação, de execução, de


controlo e fiscalização do Orçamento do Estado.
 Descrever o papel do SISTAFE na macro-gestão financeira
do Estado.

Quem deveria estudar este módulo

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Este Módulo foi concebido especificamente para estudantes do 2º ano


do curso de licenciatura em Administração Pública do ISCED. Contudo,
dependendo do interesse de outros leitores, o manual pode ser usado
como um recurso adicional para consulta e informação.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Finanças Públicas, para estudantes do 2º ano do curso


de licenciatura em Administração Pública, à semelhança dos restantes
do ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice.
 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

Conteúdos da disciplina/módulo

Este módulo está estruturado em temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros


exercícios teóricos/práticos.

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Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal, o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma Digital
Moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

As tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no


final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas as respostas.

As tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-


avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau
crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a
seguir as outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos
trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para
efeitos de correcção e atribuição da nota. Também constará do
exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.

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Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
pedagógicos, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste módulo irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade,
etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender.


Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar


a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de


estudo de caso, se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de
manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor
com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de
intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que
já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar
o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada
tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se
descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo
não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades
obrigatórias.

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Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da
aprendizagem. O estudante que acumula um elevado volume de
trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, cria interferência
entre os conhecimentos, perde a sequência lógica, por fim ao perceber
que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e
desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobretudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana. Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto
tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o
curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a
matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a
estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições,
datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar
comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura
para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e
não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que
surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o

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material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como


falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc.
Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao
estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, Sms, E-mail, se
tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino à Distância (EAD), onde o recurso às TIC’s se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante –
CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante,


tem a oportunidade de interagir fisicamente com Staff do seu CR, com
tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para
acompanhar as suas sessões presenciais. Neste período pode
apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou
administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do


tempo de estudos a distância, é de muita importância, na medida em
que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de
apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater
assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes
nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas

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semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo
conta e é decisiva para ser admitido ao Exame Final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1é uma violação do direito intelectual do (s) autor (es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor,
sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e
o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos
trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Como é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um


mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos
do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um
máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do
estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação.

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Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
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Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, têm peso de 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos Exames.

Os Exames são realizados no final da cadeira disciplina/modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os Exames têm peso no
mínimo de 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui o módulo.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão do módulo.

Neste módulo o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (Exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a
identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação do ISCED.

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TEMA I: INTRODUÇÃO ÀS FINANÇAS PÚBLICAS

UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE AS


FINANÇAS PÚBLICAS

INTRODUÇÃO

A noção de finanças está intimamente ligada à ideia de dinheiro. Com


o desenvolvimento da humanidade a questão das finanças ganhou
proeminência tal que hoje discute-se as finanças como ciência que visa
estudar os aspectos da Economia, onde o processo económico se
caracteriza por quatro estágios a saber: produção, distribuição, troca e
consumo.

O estudo das finanças públicas é importante, pois permite a


compreensão de actividade financeira do Estado que visa atender as
necessidades colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos
económicos, políticos e sociais e que se concretiza na arrecadação de
receitas e na realização de despesas.

A presente unidade pretende trazer aos estudantes uma visão


holística sobre as finanças públicas, partindo da sua conceptualização,
olhando para os sentidos orgânico, o sentido subjectivo e o sentido
objectivo; iremos também apresentar as diferenças entre as finanças
privadas das finanças públicas; e as finanças intervencionistas das
finanças neutras. Por fim, de forma sumária iremos descrever as
funções do Estado na economia.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Apresentar o conceito e as finalidades de finanças públicas;

Objectivos  Explicar a diferença entre finanças privadas e finanças públicas;


Específicos finanças positivas e finanças normativas;

 Caracterizar as finanças públicas clássicas e intervencionistas.

 Descrever as funções do Estado na economia

1.1 Conceito de Finanças Públicas

A palavra latina finis é apontada como sendo a raiz etimológica do


termo finanças através duma evolução pelo qual, nos séculos XII e XIV,
surgiram as expressões finatio e financia que exprimiam as ideias de
débito e da prestação.

Entende-se também que da França, onde designava, no século XV, o


conjunto dos meios económicos postos á disposição de uma
organização política para a realização dos seus fins próprios, terá vindo
a generalização do vocábulo.

As finanças públicas são cruciais em qualquer país. Elas não são só se


preocupam com a problemática de geração de recursos, mas também
a aplicação destes recursos pelos diferentes objectivos e actividades
prosseguidos pelo governo.

As entidades públicas, ao satisfazerem as necessidades que lhes estão


confiadas, utilizam bens económicos, desenvolvendo uma actividade
de natureza económica. Ora fala-se em fenómeno financeiro para
procurar exprimir justamente essa utilização de meios próprios para a
satisfação de necessidades comuns.

Assim, as Finanças Públicas referem-se a um processo de “aquisição e


utilização de meios financeiros pelas entidades públicas. Por outras
palavras, dizem respeito às receitas e despesas do Estado, dos
municípios e das entidades paraestaduais” (Wandschneider, 1999). Em

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outras palavras, as Finanças Públicas “trata dos gastos do sector


público e das formas de financiamento desses gastos” (Hyman, 2002).

Da conceptualização de Wandschneider, podemos aferir que as


finanças públicas têm como objecto – o estudo da aquisição e
utilização de meios financeiros pelas colectividades públicas.

A expressão finanças públicas envolve três acepções, designadamente


(Waty, 2004):

I. Orgânica. Neste sentido, a expressão finanças públicas significa


instituição do Estado competente para captar e/ou gerir
recursos financeiros do Estado.

II. Objectiva. A expressão significa actividade de obtenção e


afectação de recursos públicos para satisfação das
necessidades colectivas.

III. Subjectiva. Referindo-se à disciplina ou ramo de conhecimento


económico que estuda os princípios e leis que regem a
actividade do Estado. É esta acepção que corresponde o nosso
enfoque no estudo de Finanças Públicas.

a) Mas porquê existem as finanças públicas?

As finanças públicas existem porque há necessidade do Estado realizar


despesas, e para o efeito, precisa cobrar receitas:

 O Estado tem como finalidade a realização de fins públicos, tais


como a segurança, a ordem públicas, a defesa nacional, saúde,
educação, a existência de infra-estruturas económicas e sociais
e a estabilidade macroeconómica.

 Tem também como objectivo atingir certos objectivos de


política económica e social, como a redução da pobreza, a
redistribuição do rendimento e o desenvolvimento económico.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Para alcançar estes objectivos, o Estado necessita de arrecadar


receitas. Para tal, o Estado usa instrumentos tais como os impostos, as
taxas, as receitas patrimoniais, os donativos e os empréstimos
públicos.

Todo este exercício insere-se no âmbito da actividade financeira do


Estado, entendida como aquela que visa satisfazer necessidades
colectivas ou alcançar outro tipo de objectivos económicos, políticos e
sociais e que se concretiza na arrecadação de receitas e na realização
de despesas.

1.2 Objectivos e Finalidades de Finanças Públicas

As finanças públicas têm como objectivos:

 Arrecadar receitas públicas para satisfazer necessidades


colectivas tais como a segurança e ordem públicas, defesa
nacional, administração da justiça, o acesso a educação e
saúde, estabilidade macroeconómica;

 Atingir certos objectivos de política económica e social, como a


redução da pobreza, a redistribuição do rendimento e o
desenvolvimento económico.

No tocante as finalidades de finanças públicas podemos destacar as


seguintes:

 Identificar e avaliar os instrumentos e os efeitos das políticas


do governo.

 Examinar os efeitos e as consequências das diferentes formas


de tributação e das despesas sobre os agentes económicos
(indivíduos, instituições, etc.) da sociedade e da economia no
geral.

 Analisar a eficácia das políticas implementadas pelo governo


para atingir certos objectivos e, consequentemente, para o

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desenvolvimento de procedimentos e técnicas com vista a


aumentar a eficácia das políticas.

1.3 Finanças Públicas e Finanças Privadas

O Estado tem as suas finanças, sem dúvida; mas também têm as suas
finanças os particulares. Há, assim, finanças públicas e finanças
privadas. Mas qual é a diferença entre elas?

Nas finanças públicas, os impostos constituem um meio de


financiamento específico do Estado, que não se encontra ao dispor de
nenhuma empresa privada.

Nas finanças privadas, as empresas obtêm as suas receitas através dos


preços que cobram pela venda de bens ou pela prestação de serviços.
O Estado também vende bens e serviços, mas as receitas dai
resultantes são secundárias se comparadas com aquelas que são
geradas pela arrecadação de impostos.

Por outro lado, a possibilidade do Estado recorrer aos impostos


implica que nas finanças públicas, ao contrário do que sucede nas
finanças privadas, não são as receitas que determinam as despesas.
Ou seja, as despesas do Estado não estão subordinadas às suas
receitas: o Estado pode cobrar receitas na medida das despesas que se
propõe realizar.

Tem-se, até, contraposto as finanças privadas às finanças públicas,


dizendo que, nas finanças privadas, são as receitas que determinam as
despesas, enquanto, nas finanças públicas, são as despesas que
determinam as receitas; dizendo em outras palavras, que nas finanças
privadas o montante das despesas é função das receitas, e nas
finanças publicas o montante das receitas é função das despesas.

Por último, o Estado procura satisfazer necessidades colectivas e


atingir outros fins com a realização de despesas e a cobrança de
receitas. As empresas privadas, por seu turno, têm como objectivo a

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maximização do seu lucro, através da minimização das despesas e


maximização das receitas.

1.4 Finanças Clássicas e Finanças Intervencionistas

As diferentes formas de abordar o papel do Estado têm uma tradução


concreta na forma como é encarado o fenómeno financeiro. Assim, os
defensores do Estado mínimo apoiam certas características associadas
as finanças públicas clássicas (neutras). Aqueles que apoiam a ideia de
um Estado de bem-estar (ou protector) apelam a um carácter mais
intervencionista do Estado. Esta distinção permite-nos compreender
melhor a evolução das finanças públicas ao longo do tempo.

1.4.1 Finanças Clássicas (neutras)

As Finanças Clássicas ou Neutras - correspondem ao período do


liberalismo económico (Séc. XIX ao início do Séc. XX). Está ligada à
concepção de Estado defendida por economistas clássicos, com
destaque para Adam Smith, Jean – Baptiste Say, David Ricardo. Estes
pensadores defendiam um Estado mínimo e pouco interventivo, o qual
se deveria limitar a garantir a defesa e segurança dos cidadãos, manter
a ordem, administrar a justiça e proteger os direitos de propriedade.

Entende-se por finanças neutras, aquelas onde a actividade financeira


do Estado não modifica as posições relativas dos particulares, e que,
portanto, tiram a cada indivíduo, através da cobrança de impostos,
tanta utilidade quanta a que lhe restituem através da prestação de
bens públicos.

Para os pensadores clássicos, o Estado não se deveria imiscuir em


questões como a distribuição do rendimento ou a produção de bens e
serviços. Pretendia-se que fosse o mercado a decidir qual a afectação
e distribuição de recursos na sociedade. Qualquer interferência estatal
na iniciativa privada e no livre jogo do

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

mercado seria prejudicial ao bem-estar dos cidadãos e a prosperidade


de uma nação. O Estado devia apenas cingir-se na construção de
algumas infra-estruturais, defesa nacional e outros serviços de
administração.

Na práctica, com base nestes princípios, as finanças públicas clássicas,


traduziam-se num volume mínimo de despesas e de receitas públicas,
e num reduzido peso do sector público na economia. As finanças
públicas deveriam estar sempre equilibradas, ou seja, o Estado apenas
deveria recorrer ao endividamento público em situações excepcionais,
como sejam o caso de uma guerra ou catástrofe natural. Face à fraca
expressão do património público, os impostos assumem-se como a
receita típica do período liberal (clássico). Em suma, as finanças
neutras, ou clássicas, caracterizavam-se por uma extrema simplicidade
e passividade.

A partir de finais do século XIX, as finanças públicas começam a perder


a sua neutralidade e a tornarem-se mais intervencionistas. Nesta
altura ganharam força teorias de que assentavam numa maior
intervenção do Estado na economia.

1.4.2 Finanças Públicas Intervencionistas

As Finanças Intervencionistas (activas) – têm a sua génese nas teorias


de John Maynard Keynes dos anos 30 do Séc. XX que defendia políticas
económicas com vista a construção de um Estado de “Bem Estar
Social” – Well Faire State.

Entende-se por finanças intervencionistas, aquelas onde a actividade


financeira do Estado afecta as posições relativas dos particulares. Pois
é através destas que o Estado intervém na economia para atingir
certos objectivos de política económica.

21
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Deste modo, as finanças públicas, tornaram-se activas e funcionais, ou


seja, as receitas e as despesas públicas passaram a ser definidas em
função dos objectivos que se pretende alcançar: redistribuição do
rendimento e redução da pobreza, combate a depressões económicas,
desenvolvimento económico, etc.

Assim, as despesas sociais ganham importância, os subsídios aos


preços e aos produtores tornam-se frequentes, o património público e
as receitas patrimoniais adquirem maior expressão, os impostos,
aumentam o seu peso. O princípio de equilíbrio orçamental clássico é
abandonado, passando o estado recorrer com frequência ao crédito.
Portanto, as finanças públicas perdem a sua passividade e simplicidade
– tornam-se activas e complexas.

Em suma, as finanças intervencionistas são compatíveis com


orçamentos deficitários, com uma dimensão significativa do sector
público, onde o peso das despesas sociais é significativo.

1.5 Finanças Positivas e Finanças Normativas

O estudo de finanças do Estado só pode ser devidamente


compreendido quando analisado em função das metas e fins que
aquele se propõe atingir. Neste contexto, o estudo de finanças
públicas pode ser feito sob duas vertentes distintas.

Quando se olha para as finanças públicas na perspectiva de se medir e


avaliar as consequências, em certas variáveis objectivo, de alterações
em uma ou mais variáveis instrumentais ou estruturais, estamos no
campo das finanças positivas. As finanças positivas fazem a teoria da
realidade, observando e explicando as uniformidades do
comportamento do Estado.

Por exemplo, a avaliação (quantificação) do impacto de uma redução


na taxa do imposto de circulação na inflação ou nas receitas públicas é
do domínio de finanças positivas. Também o são a análise da evolução

22
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

das receitas fiscais ou o estudo das características de um dado sistema


fiscal.

Por seu lado, as finanças normativas - produzem juízos de valor, quer


acerca da situação actual de uma dada sociedade quer acerca de
adopção de uma política pública na sua dupla componente de
avaliação dos instrumentos utilizados e da valoração das suas
consequências previsíveis. Portanto, as finanças normativas enunciam
as regras, as normas, a que o Estado deve subordinar-se para o melhor
alcance dos fins. Essas regras ou normas constituem a política
financeira do Estado.

A titulo de exemplo, uma discussão sobre quais as despesas públicas


que têm maior impacto na redução da pobreza (por exemplo, a
reabilitação de uma estrada secundária ou terciária; a ampliação da
rede de água rural, a construção de um posto de saúde). Esta
discussão situa-se na esfera das finanças normativas.

Resumindo, as finanças positivas pretendem explicar o que existe ou


que se prevê que aconteça, enquanto que as finanças normativas
pretendem avaliar as consequências das políticas e fazer
recomendações.

1.6 Funções do Estado na Economia

Embora os economistas estejam muitas vezes em desacordo acerca


das questões de índole normativa, estão no essencial de acordo acerca
das funções que o Estado deve desempenhar. Na óptica de Musgrave,
as funções do Estado na economia, desdobram-se em três,
designadamente:

 Alocação ou correcção da afectação de recursos (função


alocativa);
 Redistribuição da riqueza e do rendimento (função
redistributiva); e

23
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 Estabilização económica (função estabilizadora).

1.6.1 Função Alocativa

Na função alocativa o Estado está preocupado com alocação eficiente


dos recursos na economia. Isto porque nem sempre o mecanismo de
mercado (através da interacção entre a oferta e a procura de um
determinado bem) leva a alocações de recursos por parte da iniciativa
privada. Deste modo, o Estado intervém através de provisão de bens e
serviços públicos que, sendo desejados pelos cidadãos, não encontram
provisão através do funcionamento do mercado.

Para além de provisão de bens e serviços, o Estado pode corrigir falhas


de mercado (externalidades negativas) através de tributação dos
agentes económicos ou concessão de subsídios aos consumidores
“penalizados” pelo mercado. Ainda nesta função, o Estado pode por
meio da regulação promover a concorrência e evitar a prática de
preços de monopólios ou oligopólios.

1.6.2 Função Redistributiva

Na função redistributiva o Estado busca a melhoria da redistribuição


dos rendimentos e da riqueza. Os mecanismos de mercado privilegiam
a eficiência, o que não garante que a sociedade está disposta a aceitar
essa distribuição da renda. Nesse caso, a correcção das desigualdades
na repartição dos rendimentos e da riqueza deve ser efectuada
mediante a intervenção do Estado. Um dos processos mais utilizados
consiste em utilizar os impostos e os gastos do governo para tal
finalidade. De um lado aumentando a progressividade dos impostos
(quem ganha mais, paga mais) e de outro lado aumentando os gastos
governamentais com transferências que beneficia directa ou
indirectamente (mediante manutenção de serviços gratuitos: saúde,
educação, ou transferência de rendimentos como programa subsidio
social básico, caso de Moçambique).

24
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

1.6.3 Função Estabilizadora

A função estabilização económica coloca-se ao nível macroeconómico


de contribuir para um crescimento sustentado da economia, para
níveis de emprego elevados, para uma estabilidade de preços e para
um equilíbrio de contas externas (balança de pagamentos). O livre
funcionamento do mercado não leva necessariamente a situações de
pleno emprego e que a política orçamental poderá levar a níveis
desejados de crescimento económico e de emprego. A utilização da
política orçamental com vista a alcançar certos objectivos de natureza
macroeconómica está precisamente relacionada com a função de
estabilização do sector público.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque com V as afirmações verdadeiras e com F as afirmações


falsas.

1. A palavra latina finis é apontada como sendo a raiz etimológica


do termo finanças através duma evolução pelo qual, nos
séculos XII e XIV. Modernamente, as finanças públicas referem-
se:
a) A utilização de meios financeiros próprios para a satisfação de
necessidades colectivas e individuais.
b) Ao processo de aquisição e utilização de meios financeiros
pelas entidades públicas.
c) A arrecadação de receitas e realização de despesas.
d) Receitas públicas e despesas públicas.

2. Segundo Waty (2004), a expressão “finanças públicas” envolve


as seguintes acepções:
a) Funcional, orgânica e objectiva.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

b) Económica, orgânica e subjectiva.


c) Orgânica, objectiva e subjectiva.
d) Territorial, funcional e objectiva.

3. As Finanças públicas têm como objectivos:


a) Reduzir distorções na alocação de recursos provocado pelas
falhas de mercado.
b) Cobrar receitas para satisfazer necessidades colectivas.
c) Atingir objectivos de política económica e social (crescimento e
desenvolvimento económico, etc.).
d) Redistribuir a riqueza através da aplicação da política fiscal.

4. O Estado tem as suas finanças, sem dúvida; mas também têm


as suas finanças os particulares. A grande diferença entre
finanças publicas e finanças privadas reside no facto de:
a) As finanças privadas as empresas terem a prerrogativa de
cobrar impostos;
b) Nas finanças públicas as receitas determinaram o volume de
despesas;
c) As empresas privadas poderem recorrer ao empréstimo
bancário;
d) Os impostos constituírem o meio de financiamento específico
para o Estado.

5. O estudo de finanças públicas, em função das metas e fins que


pretende atingir, pode ser analisado sob dois ângulos,
designadamente:
a) Finanças normativas e intervencionistas;
b) Finanças intervencionistas e positivas;
c) Finanças positivas e normativas;
d) Finanças clássicas e intervencionistas.

6. Os autores que defendem as finanças clássicas consideram:

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) Que a despesa pública deve ser financiada sobretudo pelos


impostos.
b) Que o peso do Estado na economia deve ser grande.
c) Que a distribuição do rendimento seja justa.
d) Que o orçamento do Estado pode não estar equilibrado

7. As finanças normativas diferem das finanças positivas pelo facto


de:
a) As finanças positivas produzirem juízos de valor e as finanças
normativas formular normas, regulamentos, e leis.
b) As finanças normativas explicarem o que existe ou que se
prevê que aconteça e as finanças positivas avaliar as
consequências das políticas e fazer recomendações.
c) As finanças normativas emitirem juízos de valor e as finanças
positivas fazem a teoria da realidade, observando e explicando
as uniformidades do comportamento do Estado.
d) Tanto as finanças normativas assim como finanças positivas
emitem juízos de valor.

8. Na óptica de Musgrave, as funções do Estado na economia,


desdobram-se em três, nomeadamente:
a) Função alocativa, redistributiva e fiscalizadora
b) Função promotora, fiscalizadora e estabilizadora
c) Função alocativa, redistributiva e estabilizadora
d) Função alocativa, reguladora e fiscalizadora.

9. A necessidade de intervenção do Estado na economia prende


com a constatação de que o mecanismo de mercado não
cumpre adequadamente algumas funções. Dentre as opções
abaixo aponte aquela que correcta esta associada a função
alocativa do Estado:
a) A função alocativa está associada ao fornecimento de bens e
serviços que são oferecidos adequadamente pelo mercado.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

b) O sistema de preços não consegue se auto-regular e, por isso, o


Estado deve actuar visando estabilizar tanto a produção
quanto o crescimento de preços.
c) A função alocativa é aquela que provoca a transferência de
recursos entre grupos da sociedade (entre classes de renda,
entre trabalhadores e empresários).
d) A função alocativa diz respeito às políticas relacionadas à
formação de capital, objectivando o crescimento económico de
longo prazo.

10. Na perspectiva dos pensadores clássicos, o papel do Estado na


economia devia apenas cingir-se na:
a) Redistribuição do rendimento
b) Produção de bens e serviços
c) Correcção das falhas de mercado
d) Construção de algumas infra-estruturas, defesa nacional e
outros serviços de administração.

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e sucinta as questões que


se seguem.

1. A Finanças Públicas “trata dos gastos do sector público e das


formas de financiamento desses gastos” (Hyman, 2002).
Explique a necessidade da existência de finanças públicas.

2. As finanças do Estado (públicas) podem ser do tipo neutro ou


intervencionista. Esta distinção permite-nos compreender
melhor a evolução das finanças públicas ao longo do tempo.
Explique de forma sucinta as concepções teóricas subjacentes
as finanças neutras e intervencionistas.

28
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

3. Que implicações as concepções acima apresentadas trazem as


finanças neutras e intervencionistas?

4. Apresente de forma clara e breve a diferença entre finanças


positivas e finanças normativas.

5. A tese de que o mecanismo de mercado nem sempre conduz a


uma alocação eficiente de recursos constitui um dos grandes
argumentos para a intervenção do Estado na economia.
Indique e explique as funções do Estado na economia, segundo
Musgrave.

UNIDADE TEMÁTICA II: ESTUDO DO SISTEMA FISCAL

INTRODUÇÃO

A análise da evolução dos sistemas fiscais dos vários países evidencia a


existência ao longo do tempo diferentes “modelos de tributação” e
grande diversidade e figuras tributárias. E isto, tanto quando se
consideram as autoridades públicas no seu conjunto, como quando se
retêm em separado os diferentes níveis de governo.

As razões para tal decorrem de múltiplos factores. Assim, para além


das influências e opções de ordem histórica e política, é necessário ter
presente que os sistemas fiscais são eles próprios reflexo das
estruturas sócio-económicas sobre que incidem e modelam, evoluindo
em função das características das mesmas e do grau de
desenvolvimento dos países.

Na presente unidade iremos abordar o sistema fiscal onde


debruçaremo-nos sobre as características desejáveis de um sistema
fiscal. Ainda nesta unidade iremos discutir os princípios de tributação
dos momentos da cobrança dos

29
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

impostos; por fim abordaremos o sistema tributário moçambicano.

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Descrever as características desejáveis de um sistema fiscal;

Objectivos  Enunciar os princípios teóricos da tributação;


Específicos
 Classificar as receitas públicas;

 Descrever o sistema tributário moçambicano.

2.1 Características Desejáveis de um Sistema Fiscal

Sistema fiscal – é um conjunto de impostos vigente num determinado


país ou espaço geográfico. Entende – se por imposto - uma prestação
pecuniária com carácter coercivo (tem carácter obrigatório, força de
lei) e unilateral (não constitui uma contrapartida de um serviço
prestado pelo Estado), sem carácter de sanção, exigida pelo Estado
para a realização de fins públicos.

De um ponto de vista normativo, isto é, do conjunto de características


que idealmente um sistema fiscal deveria respeitar, Pereira et al
(2009), apontam como integrantes de um “bom sistema fiscal” os
seguintes requisitos:

I. Equidade – A distribuição da carga fiscal entre os indivíduos


deve ser equitativa e não arbitrária, devendo cada um suportar
uma parcela considerada justa dos encargos com a actividade
pública.

II. Eficiência – Os impostos devem ser escolhidos de modo a


minimizarem as interferências com decisões eficientes dos
agentes económicos tomadas em mercados competitivos. Um
sistema tributário eficiente é aquele que não deve
desincentivar a actividade dos agentes económicos ou
detentores da riqueza, nem piorar o seu bem-estar.

30
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

III. Flexibilidade – A estrutura dos impostos deve ser concebida de


modo a constituir um instrumento eficaz de estabilização
automática da conjuntura. Os impostos são conhecidos como
estabilizadores automáticos, no sentido de que eles, quando
devidamente concebidos, têm a flexibilidade para reagirem por
forma a evitar efeitos indesejados das flutuações conjunturais.

IV. Transparência – As regras tributarias devem ser, tanto quanto


possível, estáveis e de fácil compreensão para os contribuintes,
e permitir a responsabilização politica dos governos pelas
medidas fiscais tomadas.

V. Baixo custo de funcionamento – Os custos associados à


administração e cumprimento do sistema de impostos e regras
fiscais devem ser tão baixos quanto o permitam os restantes
objectivos de política fiscal.

VI. Eficácia financeira – As receitas geradas por um sistema fiscal


devem ser adequadas e suficientes para fazer face às
necessidades financeiras e objectivos da política orçamental.

Apresentados estes seis requisitos, torna-se compreensível que face às


suas características e exigências, as estruturas fiscais concretas se
possam afastar, na prática, em maior ou menor grau, de alguns desses
princípios, nomeadamente por que concebidas e limitadas por um
conjunto de influências de carácter económico, social e político, não
raramente conflituantes.

2.2 Princípios Teóricos da Tributação

A teoria da tributação baseia-se em dois princípios fundamentais que


devem tornar o sistema harmonioso. Esses princípios são: a
neutralidade e a equidade.

31
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.2.1 Princípio de neutralidade

De acordo com este princípio, o sistema tributário deve interferir o


mínimo possível na alocação dos recursos disponíveis na economia,
por parte do sector privado. Este princípio tem como objectivo manter
inalterado o comportamento do sector privado no que toca às
decisões de produção e consumo.

2.2.2 Princípio de equidade

Este princípio estabelece que todo o sistema tributário deve ser


“justo”. Para tal, é preciso estabelecer um tratamento, em termos de
contribuição, para contribuintes em situação de desigualdade
(equidade vertical). Em contrapartida, devem merecer o mesmo
tratamento, contribuintes em idêntica situação (equidade horizontal).

Ao aplicar este princípio, surgem dois critérios básicos que


caracterizam essa finalidade de justiça social: princípio do benefício e
o princípio da capacidade de pagamento.

b) O critério do benefício, que propõe atribuir a cada indivíduo um


ónus tributário (contribuição) equivalente aos benefícios que
ele usufrui dos programas governamentais; e

c) O critério da capacidade contributiva, que advoga a repartição


do ónus tributário em função das respectivas capacidades
individuais de tributação. Se a questão é pacífica quanto aos
indivíduos iguais, ou seja quanto à equidade horizontal, o
mesmo não ocorre quanto aos indivíduos diferentes. Como se
pode diferenciar os desiguais? Deve o montante da
contribuição variar de forma absoluta, proporcional ou mais
que proporcional à variação da renda? Daqui emerge a ideia
dos chamados impostos proporcionais, progressivos e
regressivos.

32
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.3 Classificação dos impostos

Do ponto vista da distribuição da carga tributária os impostos podem


ser:

a) Proporcional – O Estado fixa uma fracção constante da matéria


colectável, a qualquer que seja o valor do rendimento (Ex. uma
taxa fixa de 10% sobre o rendimento);

b) Progressivo – O Estado pode também exigir uma fracção


crescente da matéria colectável, a medida que o rendimento
vai aumentar;

c) Regressivo – O Estado pode fixar uma fracção decrescente da


matéria colectável, a medida que o rendimento vai aumentar.

Do ponto de vista de incidência:

a) Imposto directo – aqueles que incidem sobre o rendimento (ex:


Imposto Sobre Rendimentos de Pessoas Singulares – IRPS;
Imposto Sobre Rendimentos de Pessoas Colectivas - IRPC);

b) Imposto indirecto – aqueles que incidem sobre a despesa (ex:


IVA, ICE, imposto de selo, imposto sobre veículos, etc.).

Do ponto de vista da base de incidência:

a) Renda – imposto que incide sobre a renda gerada na economia


(Ex: IRPS).

b) Património – imposto que incide pelas simples posse de imóvel


(Ex. imposto predial autárquico).

c) Vendas – imposto que incide sobre as vendas de mercadorias e


serviços.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.4 Momentos da Técnica Tributária

Técnica tributária refere-se a um processo júridico-financeiro


mediante o qual se define a forma como se reparte o sacrifício fiscal
por todos os membros da sociedade e qual é, em concreto, o sacrifício
fiscal de cada contribuinte até a efectiva cobrança da receita do
Estado.

A técnica tributária apresenta 5 fases nomeadamente:

(I) Incidência fiscal; (II) Determinação da matéria colectável; (III)


Fixação da taxa; (IV) Liquidação do imposto e (V) Cobrança.

I. Incidência Fiscal – consiste na determinação das situações em


que é devido o imposto. A incidência fiscal pode ser do ponto
de vista pessoal, real (património ou rendimento).

II. Determinação da matéria colectável – consiste na


determinação de processos ou métodos de avaliação da
matéria colectável a serem usados.

III. Fixação da taxa – definido o método a usar para avaliar a


matéria colectável, é necessário fixar a taxa, isto é qual ou
quais dentre os vários métodos serão usados para o
estabelecimento do montante do imposto.

IV. Liquidação do Imposto – consiste na determinação concreta do


imposto devido (colecta), pela aplicação da taxa a matéria
colectável.

V. Cobrança – definido o montante do imposto é necessário


cobrar, ou seja quando e como o contribuinte vai pagar o
imposto.

2.5 Receitas Públicas

Constituem receitas públicas “todos os recursos monetários ou em


espécie, seja qual for a sua fonte ou natureza, postos à disposição do

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Estado, com ressalva daquelas em que o Estado seja mero depositário


temporário” (Artigo 14 – Lei 09/2002 – SISTAFE).

Segundo Pereira et al (2009), as receitas públicas abrangem todas as


somas em dinheiro ou recurso equivalente, cujo beneficiário é o
Estado ou uma outra entidade pública administrativa, e que têm como
finalidade principal satisfazer as necessidades financeiras e outros fins
públicos relevantes.

2.5.1 Tipologia e Estrutura das Receitas Públicas

Existem várias modalidades de receita pública, cuja apresentação sob


varias perspectivas ou critérios se torna útil, pois que permitem
evidenciar algumas das suas características distintas. Assim, a receita
pública pode ser classificada obedecendo os seguintes critérios:

i. Natureza económica – receitas correntes e receitas de capital.


ii. Efectividade – receitas efectivas ou com carácter definitivo e
aumentam o património do Estado (Ex: taxas, impostos, etc); e
receitas não-efectivas, que ao contrário devem ser devolvidas
(não aumentam o património do Estado – ex: empréstimos);
iii. Coercividade – de carácter obrigatório ou
“facultativo”/voluntário de que se reveste o seu pagamento;
iv. Captação – receitas próprias ou de transferência.

Assim, segundo Pereira et al (2009:214), aplicando estes quatro


critérios à realidade concreta, podemos classificar e caracterizar seis
modalidades de receitas públicas:

1. Receitas fiscais (impostos). Prestações pecuniárias de natureza


corrente, definitivas com carácter coercivo e unilateral, porque
sem contrapartida imediata e directa para quem as

35
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

paga/suporta (ex. IRPS, IVA).

2. Receitas para-fiscais (contribuições sociais). Estas receitas são,


tal como os impostos, pagamentos de natureza obrigatória e
de carácter corrente, mas se diferenciando na medida em que
têm como contrapartida uma prestação social futura em favor
do respectivo beneficiário. Um exemplo deste tipo de receitas
são as contribuições da segurança social pagas pelos
trabalhadores com os respectivos empregadores calculadas
com base na remuneração dos trabalhadores.

3. Receitas patrimoniais. São receitas efectivas provenientes do


património mobiliário e imobiliário do Estado, podendo
assumir carácter corrente ou extraordinário (ex.
Rendimentos/juros de depósitos, rendas de edifícios,
dividendos recebidos de empresas públicas, produto de
alienação de imóveis, de venda de participações).

4. Taxas, licenças e tarifas/”preços”. São prestações pecuniárias,


efectivas de carácter corrente e de natureza bilateral, porque
pressupõem uma contraprestação específica (benefício ou não
para quem paga) por parte do serviço público que a cobra,
como nos casos, respectivamente de autorização de exercício
de uma actividade comercial, pagamento de taxa de portagem,
emissão de passaportes, certificados escolares). As taxas e
tarifas devem respeitar o princípio de proporcionalidade entre
o valor pago e o serviço obtido.

5. Multas, penalidades e coimas. São pagamentos efectuados


pelos particulares ao Estado e outros entes públicos, que têm a
natureza de penalização/compensação por infracção a um
regulamento ou outra disposição legal (ex. Multa pela
infracção do código de estrada, atraso no cumprimento de uma

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

obrigação fiscal).

6. Receitas creditícias ou empréstimos. São receitas resultantes da


contracção de dívidas por parte do Estado junto dos
particulares e demais entidades financiadoras (nacionais e
estrangeiras), normalmente de subscrição voluntária e de
natureza não-efectiva porque implicando o posterior
reembolso (amortização) do capital mutuado.

Nota Importante: Na estrutura das fontes de financiamento público, a


mais importante na maior parte dos países é constituída pelas receitas
fiscais, o que decorre não só das próprias características dos serviços
públicos que com elas se visam financiar, como da sua natureza de
“instrumento” de política económica usado pelos governos na
prossecução, de objectivos redistributivos.

2.6 Sistema Tributário de Moçambique

O sistema tributário de Moçambique assenta em critérios de justiça


social e o regime jurídico-fiscal, seguindo os princípios de legalidade
tributária, de equidade, da eficiência e da simplicidade do sistema
tributário.

O sistema tributário integra impostos nacionais e autárquicos. Os


impostos nacionais classificam em directos e indirectos. Os impostos
directos incidem sobre o rendimento (ex: IRPS, IRPC), ao contrário dos
indirectos que incidem sobre a despesa (ex: IVA, ICE, imposto de selo,
imposto sobre veículos, etc.).

2.6.1 Objectivos da Política Tributária em Moçambique

A política tributária em Moçambique tem como objectivos:

 Assegurar a eficácia, eficiência e equidade na aplicação das

37
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

políticas tributárias e aduaneiras;

 Garantir a comodidade no cumprimento das obrigações fiscais;

 Detectar irregularidades e evasão fiscal, (artigo 3 da Lei nº


1/2006 de 22 de Março).

2.6.2 Fins da tributação em Moçambique

Em Moçambique a tributação tem como fins:

 Satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras


entidades públicas;

 Promover da justiça social, igualdade de oportunidades e a


redistribuição da riqueza e do rendimento;

 Respeitar os princípios da generalidade, da igualdade,


legalidade, da não retroactividade, da justiça material e da
eficácia e simplicidade do sistema tributário, (artigo 2 da Lei n°
1/2006 de 22 de Março).

2.6.3 Atribuições do Sistema Tributário em Moçambique

O sistema tributário moçambicano tem como atribuições:

 Executar a política tributária e aduaneira, dirigindo e


controlando o funcionamento dos seus serviços;

 Planificar e controlar as suas actividades e o sistema de


informação;

 Formar e planificar os recursos humanos; e

 Elaborar estudos e apoiar na concepção de políticas tributária e


aduaneira.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.6.4 Sistema Tributário Autárquico

Denomina-se Autarquia ou Municípios – as cidades e vilas geridas


autonomamente por órgãos próprios, dirigidos por um presidente –
presidente do Conselho Municipal ou Povoação, também denominado
autarca.

As autarquias são criadas por lei para executar, de forma


descentralizada as actividades de administração pública; sendo
dotadas de autonomia financeira, administrativa e patrimonial, isto é,
elas possuem o seu património e receitas próprias, sendo tuteladas
pelo Estado.

Sendo parte integrante do sistema tributário vigente no país, o


Sistema Tributário Autárquico, aplica-se aos residentes das Autarquias
sujeitos aos impostos e taxas aprovados pela Lei nº1/2008 de 16 de
Janeiro, que define o regime financeiro, orçamental e patrimonial das
Autarquias locais, bem como, o próprio sistema tributário.

Assim, o Sistema Tributário Autárquico compreende impostos e taxas,


cuja aplicação é regido pelos Códigos Tributário Autárquico e de
Posturas aprovados pelo Conselho de Ministros. Constituem impostos
e taxas do sistema tributário autárquico os seguintes:

 Imposto Pessoal Autárquico;

 Imposto Predial Autárquico;

 Imposto Autárquico de Veículos;

 Imposto Autárquico de Sisa;

 Contribuição de Melhorias;

 Taxas por Licenças Concedidas e por Actividade Económica e;

 Tarifas pela Prestação de Serviços.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas.

1. Na perspectiva de Pereira et al (2009), um “ bom sistema


fiscal” deve apresentar os seguintes requisitos:
a) Equidade, neutralidade, eficiência, eficácia, regularidade
financeira e economia.
b) Flexibilidade, eficiência, eficácia, economia e regularidade
financeira.
c) Transparência, efectivo, completo, isenção, regular e estável
d) Equidade, eficiência, flexibilidade, transparência, baixo custo
de funcionamento e eficácia financeira.

2. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios


fundamentais:
a) Harmonia e eficiência
b) Equidade e eficácia
c) Neutralidade e equidade

3. Todo o sistema tributário deve ser “justo”. Este tese é


estabelecido pelo seguinte princípio:
a) Eficiência.
b) Eficácia.
c) Equidade.
d) Neutralidade.

4. Ao aplicar-se o princípio de equidade, surgem dois critérios


básicos que caracterizavam essa finalidade de justiça social:
a) Critério de equidade e benefício.
b) Critério de benefício e economia.
c) Critério de benefício e capacidade contributiva.
d) Critério de capacidade contributiva e eficiência.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

5. Cada indivíduo deve ser tributado mediante os benefícios que


ele usufrui dos programas governamentais. Este postulado
enquadra-se no seguinte critério básico:
a) Beneficio.
b) Equidade.
c) Eficiência.
d) Capacidade contributiva.

6. Do ponto de vista da distribuição da carga tributária os


impostos podem ser:
a) Proporcional, progressivo e efectivo.
b) Regressivo, efectivo e completo.
c) Proporcional, progressivo e regressivo.
d) Equitativo, proporcional e progressivo.

7. Do ponto de vista de incidência podem ser:


a) Imposto directo e indirecto.
b) Imposto proporcional e directo.
c) Imposto fixo e indirecto.
d) Nenhuma das afirmações.

8. A técnica tributária apresenta 5 fases, designadamente:


a) Incidência fiscal, determinação da matéria colectável, fixação
da taxa, liquidação do imposto e cobrança.
b) Incidência fiscal, avaliação da taxa, fixação da taxa, liquidação
do imposto e cobrança.
c) Avaliação da taxa, determinação da matéria colectável,
liquidação do imposto, fixação da taxa e cobrança.
d) Incidência fiscal, liquidação do imposto, cobrança, avaliação
fiscal e fixação da taxa.

9. A receita publica pode ser classificada obedecendo os


seguintes criterios:

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) Natureza económica, regularidade financeira, eficiência e


eficácia.
b) Natureza económica, efectividade, coercividade e eficácia.
c) Natureza económica, efectividade, coercividade e captação.
d) Captação, eficiência, flexibilidade e efectividade.

10. Em Moçambique a tributação tem como um dos grandes fins:


a) Satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas.
b) Garantir a segurança e ordem públicas.
c) Arrecadar receitas e realizar despesas.
d) Financiar o sector privado criando um bom ambiente de
negócios.

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. O sistema fiscal compreende um conjunto de impostos num


determinado país ou espaço geográfico. Do ponto de vista
normativo, existe um conjunto de requisitos/elementos que
um “bom sistema fiscal” deve integrar.
a) Enumere os requisitos que um “bom sistema fiscal”deve
integrar segundo Pereira et al (2009).
b) Descreve três requisitos de um “bom sistema fiscal”a sua
escolha.

2. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios principais


que devem tornar o sistema harmonioso.
a) Indique e descreve tais princípios.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

b) Ao aplicar-se um dos princípios da teoria da tributação surgem


dois criterios básicos que caracterizam a finalidade da justiça
social patente em um dos princípios. Indique e descreve tais
critérios.

3. O imposto constitui uma prestação pecuniária, coactiva,


unilateral, sem carácter de sanção, exigida pelo Estado para
atender fins públicos. Classifique os impostos do ponto de vista
da distribuição, incidência e base de incidência.

4. A Técnica tributária refere-se a um processo júridico-financeiro


mediante o qual se define a forma como se reparte o sacrifício
fiscal por todos os membros da sociedade. Enumere as fases da
técnica tributária e descreve as duas últimas fases.

5. No estudo das receitas públicas, Pereira et al (2009), classifica e


caracteriza seis modalidades de receitas públicas. Apresente e
classifique tais modalidades.

Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas.

1. Quando falamos de finanças públicas referimo-nos:


e) A utilização de meios financeiros próprios para a satisfação de
necessidades colectivas e individuais.
f) Ao processo de aquisição e utilização de meios financeiros
pelas entidades públicas.
g) A arrecadação de receitas e realização de despesas.
h) Receitas públicas e despesas públicas.

2. As finanças públicas têm como objectivos:

43
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

e) Reduzir distorções do mercado na alocação de recursos.


f) Cobrar receitas para satisfazer necessidades colectivas.
g) Atingir objectivos de política económica e social (crescimento e
desenvolvimento económico, etc.).
h) Redistribuir a riqueza através da aplicação da política fiscal

3. Na óptica de Musgrave, as funções do Estado na economia,


desdobram-se em três, nomeadamente:
e) Função alocativa, redistributiva e fiscalizadora
f) Função promotora, fiscalizadora e estabilizadora
g) Função alocativa, redistributiva e estabilizadora
h) Função alocativa, reguladora e fiscalizadora.

4. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios


fundamentais:
d) Harmonia e eficiência
e) Equidade e eficácia
f) Neutralidade e equidade
g) Eficácia e eficiência

5. Ao aplicar-se o princípio de equidade, surgem dois critérios


básicos que caracterizavam essa finalidade de justiça social:
e) Critério de equidade e benefício.
f) Critério de benefício e economia.
g) Critério de benefício e capacidade contributiva.
h) Critério de capacidade contributiva e eficiência.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Do Amaral, J.F., Louça, F., Ferreira, C., Fontaínha, E., Caetano,


G., Santos, S. (2002). Introdução à Macroeconomia, Escolar
Editora, Cap.3, pp. 57-66.

 Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M., Santos, J.C.G. (2009).


Economia e Finanças Públicas, 3ª Edição. Escolar Editora, pp. 3-
37.

 Ribeiro, J.J. Teixeira. (1997). Lições de Finanças Públicas, 5ª


Edição, refundida e actualizada. Coimbra Editora, pp. 29-45.

 Sousa Franco, A.L. (1996). Finanças Públicas e Direito


Financeiro, Vol.1, p.3; pp. 50-68.

 Wandschneider, T. S. (1998-99). Apontamentos de Finanças


Públicas. Universidade Eduardo Mondlane (UEM), pp. 1-8.

 Waty, T.A. (2004). Introdução ao Direito Fiscal. W&W Editora,


Lda. Maputo, pp.2-4.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

TEMA II: ECONOMIA DO BEM-ESTAR

UNIDADE TEMÁTICA I: FUNDAMENTOS PARA A


INTERVENÇÃO PÚBLICA

INTRODUÇÃO

A evolução do pensamento económico foi marcada por momentos de


debate aceso em torno da intervenção do Estado na economia. Por
um longo período o Estado foi atribuído um papel minimalista na
economia dando-se primazia ao mecanismo de mercado na alocação
de recursos. A partir dos anos 30 do século XX o papel do Estado
evolui, em parte, como consequência da grande crise económica que
se verificou na década de 30 que demonstrou que ao Estado cabe, e
muitas das vezes só a ele cabe, muitos papéis na economia.

Ademais, a ocorrência das falhas do mercado (bens públicos,


externalidades, poder do mercado e assimetrias de informação)
consubstanciadas na desigual distribuição de recursos e de
oportunidades de acesso à riqueza, entre outras formas,
fundamentam o consenso sobre a necessidade da intervenção pública
na economia por razões de equidade e de eficiência.

Nesta unidade iremos apresentar os fundamentos que norteiam a


intervenção pública na economia. E para fazer jus ao tema, vamos dar
especial atenção aos dois teoremas fundamentais da economia do
bem-estar, e por fim, sem entrar em aspectos de demonstrações
matemáticas, apresentaremos as teorias do bem-estar.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Explicar os objectivos da intervenção pública na economia;

Objectivos  Enunciar os dois teoremas fundamentais da economia do bem-


Específicos
estar;

 Identificar as teorias do bem-estar.

1.1 Objectivos da Intervenção Pública

Existem vários objectivos que norteiam a intervenção pública na


economia. Mas uma classificação clássica evidencia dois,
designadamente, a promoção da:

 Eficiência, e da
 Equidade.

(a) Promoção da Eficiência

A eficiência, no seu sentido económico mais simples, significa


utilização dos recursos económicos que produzem o nível máximo de
satisfação possível, sendo dados os factores de produção e a
tecnologia. De acordo com Vilfredo Pareto, a eficiência – significa
afectar os recursos económicos de forma óptima, no sentido de que
não é possível melhorar o bem-estar de um agente económico sem
que seja através da diminuição do bem-estar de outro. Este conceito é
explicado, de forma simples, no conceito da Fronteira das
Possibilidades Produtivas (FPP) em manuais introdutórios de
Economia, indicando movimentos sobre a linha da FPP.

Quando o mercado falha na alocação de recursos é preciso identificar


as circunstâncias em que isso ocorre, identificar as acções correctivas
necessárias e avaliar as condições específicas existentes no Estado
para que a intervenção correctiva seja comparativamente benéfica em

47
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

termos de eficiência.

As acções correctivas do Estado para promover a eficiência podem


incluir:

 Provisão de bens e serviços públicos,


 Impostos e/ou subsídios para corrigir efeitos externos
negativos à acção do sector privado, e
 Regulamentação de certas actividades.

(b) Promoção da Equidade

Equidade significa tratamento igual de indivíduos em situações


similares. A análise da equidade “visa determinar os efeitos da
distribuição da carga fiscal e dos benefícios de despesa pública no
bem-estar social” (Pereira et al, 2009).

O princípio de igualdade de oportunidades para todos os cidadãos,


pressupõe, entre outras coisas, uma igualdade de acesso aos bens
primários ou de mérito, como sejam educação básica, cuidados
primários de saúde. Essa igualdade de acesso implica que o Estado
intervenha ao nível do ensino básico obrigatório, ao nível das
campanhas de vacinação gratuitas e noutros sectores. Neste caso,
está-se na presença de uma provisão a todos os cidadãos de certos
bens e serviços directamente em espécie. Esta intervenção tem a
função distribuição para promover a equidade, a igualdade de acesso.

1.2 Os Dois Teoremas Fundamentais da Economia do Bem-Estar

Numa economia com mercados perfeitos – ou seja, mercados que se


caracterizam pela existência de concorrência perfeita e informação
perfeita, ausência de externalidades e bens públicos, e rendimentos
constantes à escala – o livre funcionamento do mercado garante uma
afectação óptima ou eficiente de recursos. Por outras palavras, conduz
a um equilíbrio (ou óptimo) de Pareto: não existe nenhuma afectação
de recursos alternativa que melhore o

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

bem-estar de um agente económico sem que seja através da


diminuição do bem-estar de outro. Este é, precisamente, o corolário
do primeiro teorema fundamental da economia do bem-estar.

Segundo Pareto existe um sistema de preços, de bens e factores


produtivos, para o qual as empresas utilizam os seus recursos
produtivos de forma óptima – isto é, com uma combinação de factores
produtivos que minimizam os seus custos – e os consumidores
utilizam os seus rendimentos de forma óptima. Estes preços resultam
da interacção de milhões de agentes de forma descentralizada sem
necessidade a priori de intervenção pública.

Este teorema demonstra que o mercado pode ser um poderoso


mecanismo de coordenação descentralizada de recursos. Por outro
lado, o teorema dá também a primeira racionalidade para a
intervenção da pública na economia baseada no critério de eficiência.
Portanto, não só assegurar que os mercados sejam e permaneçam
competitivos, como tentar ultrapassar as falhas de mercado que
existem quando pelo menos uma daquelas condições iniciais não se
verifica.

Dizer que a afectação de recursos é eficiente não significa que seja


considerada socialmente justa. Mas será que para promover a justiça e
equidade é necessário abdicar totalmente da eficiência? É aqui onde
entra o segundo teorema fundamental da economia de bem-estar,
segundo o qual, qualquer afectação de recursos eficiente (à Pareto)
pode ser alcançada como um equilíbrio competitivo de mercado após
uma apropriada redistribuição das dotações iniciais.

O que este teorema pretende é mostrar que não é preciso uma


sociedade ficar dependente da distribuição de rendimento que resulta
do funcionamento livre e competitivo dos mercados. Em teoria, outra
qualquer afectação de recurso eficiente, e socialmente mais justa,
poderá ser alcançada por via, quer de uma redistribuição inicial quer

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

do funcionamento dos mercados.

Neste contexto, o Estado, poderá, por isso, influenciar a distribuição


dos recursos na economia, sem contudo prejudicar a eficiência
económica, através de uma redistribuição ex-ante dos mesmos.
Através, por exemplo, de transferências de soma fixa (lump sum).

Concluindo: da interpretação dos dois teoremas, têm-se deste modo


as duas racionalidades distintas que potencialmente justificam a
intervenção do sector público na economia. Por um lado, razões que
se prendem com a ineficiência dos mercados, que em certas situações
se designam por falhas de mercado. Por outro, razoes que têm a ver
com a equidade e que justificam a intervenção pública redistributiva,
quer para corrigir a situação inicial em que os indivíduos “entram”no
mercado (as suas dotações iniciais), quer para alterar a situação
redistributiva resultante do seu funcionamento.

1.1 A Lei de Pareto

A “Lei da Eficiência de Pareto” é uma proposição devida ao engenheiro


e economista franco-italiano Vilfredo Frederico Damaso Pareto,
publicada em 1897, em seu livro “Cours d’Économie Politique”, e que
passou a ser conhecido como o “ÓPTIMO DE PARETO”. Mas a
formulação matemática do equilíbrio Paretiano foi publicado em
artigo da Giornale degli Economisti, em 1906 e expandido no Anexo do
livro Manuale di Economia Política.

 O que é uma situação “OPTIMO DE PARETO”?

O “óptimo de Pareto” ocorrerá, quando existe uma situação (A) onde


ao se sair dela, para que “um ganhe”, pelo menos “um perde”,
necessariamente. Desta forma, uma situação económica é óptima no
sentido de Pareto se não for possível melhorar a situação de um
agente, sem piorar a situação de qualquer outro agente económico.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Existem três condições que devem ser verificadas para que uma
economia possa ser considerada Pareto Eficiente:

1) Eficiência nas trocas - o que é produzido numa economia é


distribuído de forma eficiente pelos agentes económicos,
possibilitando que não sejam necessárias mais trocas entre
indivíduos, isto é a taxa marginal de substituição é mesma
para todos os indivíduos;

2) Eficiência na produção - quando é possível produzir mais de um


tipo de bens sem reduzir a produção de outros, isto é, quando
a economia se encontra sobre a sua curva de possibilidade de
produção;

3) Eficiências na “combinação/mistura” de produtos - os bens


produzidos numa economia devem reflectir as preferências dos
agentes económicos dessa economia. A taxa marginal de
substituição deve ser igual à taxa marginal de transformação.
Um sistema de preços de concorrência perfeita permite
satisfazer esta condição.

Numa estrutura ou modelo económico podem coexistir diversos


óptimos de Pareto. Um óptimo de Pareto não tem necessariamente
um aspecto socialmente benéfico ou aceitável. Por exemplo, a
concentração de rendimento ou recursos num único agente pode ser
óptima no sentido de Pareto, mas não é socialmente aceitável ou justa
sob ponto de vista de equidade.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

1.2 Teorias de Bem-Estar

1.2.1 Teoria Utilitarista

O Utilitarismo, que surgiu no século XVIII, com Say, Sênior e Bentham,


tornou-se a base da teoria neoclássica formalizada por Jevons, Menger
e Walras.

A economia do bem-estar tradicional é fortemente ancorada ao


utilitarismo e a optimalidade de Pareto. De acordo com a abordagem
utilitarista clássica, o bem-estar dos indivíduos é obtido quando cada
um, individualmente, maximiza a própria utilidade, e o bem-estar
social é resultante da maximização da soma das utilidades individuais.

As análises utilitaristas são realizadas a partir das chamadas Funções


de Bem-estar Social, que descrevem os pesos específicos atribuídos à
utilidade de cada indivíduo na determinação do que é socialmente
desejável, expressando uma condição técnica de avaliação. Vale
ressaltar que tal condição resulta de decisões políticas, ou seja, de
aspectos normativos.

A teoria utilitarista visa, ao analisar a distribuição dos bens, mostrar


como se alcança a maximização da utilidade total de uma sociedade,
levando em consideração dois aspectos: os bens são produzidos e
alocados de maneira eficiente; e não há a necessidade da equidade
para tanto.

 A redistribuição de rendimento

Os fundamentos éticos do Estado redistribuidor residem numa versão


do utilitarismo. O utilitarismo, segundo defendido por Jeremy
Bentham (1748-1832), é uma teoria ética baseada em três princípios
de utilidade: (i) Os seres humanos preferem o prazer à dor; (ii) O que
causa prazer é bom e o que causa é mau e; (iii) As acções que causam,
em termos agregados, mais prazer

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

que dores são acções morais defensáveis.

Em termos actuais pode-se formular o utilitarismo como uma teoria


que permite avaliar o efeito de certas acções no bem-estar a partir da
soma das variações de bem-estar (benefícios menos custos) em todos
os indivíduos resultantes dessas acções. Assim, se a utilidade de um
metical adicional para um indivíduo pobre é muito superior à
desutilidade de um metical a menos para um indivíduo rico, transferir
um metical do segundo para o primeiro fará aumentar o bem-estar
social.

A redistribuição de rendimento é pois um instrumento necessário para


a melhoria do bem-estar social e como ela não poderá ser
satisfatoriamente realizada pelo mercado, caberá ao Estado tal tarefa.
Actualmente as duas vias essenciais com que se processa esta função
do sector público são através do sistema fiscal e através de prestações
pecuniárias do sistema de segurança social (rendimentos social de
inserção e pensões sociais).

O rendimento é apenas uma dimensão do bem-estar, pois o acesso a


um conjunto de bens primários (saúde, saúde) é também uma
componente que não pode ser descurada.

1.2.2 Teoria da Justiça (Igualitária e Rawlsiana)

Um outro debate é sugerido pela Teoria da Justiça, que busca mostrar


como as acções governamentais podem actuar para combinar
eficiência e redução da desigualdade. Seus defensores não
apresentam uma resposta que represente um consenso sobre a
melhor forma de definir e quantificar a equidade. Porém, apontam
duas proposições teóricas alternativas: a Igualitária e a Rawlsiana.

A proposição igualitária é considerada uma crítica extrema ao


utilitarismo, ao propor que todos os membros da sociedade devem

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

receber iguais quantidades de mercadorias. Já a visão Rawlsiana tem


um carácter intermediário entre utilitaristas e igualitaristas, aceitando
a desigualdade quando esta é capaz de maximizar a utilidade do
indivíduo de menor poder aquisitivo da sociedade. Para Rawls, embora
a sociedade igualitária seja a ideal, não necessariamente deve ser a
regra.

Se o Estado deve ser uma instituição que contribua para uma


sociedade justa interessa questionar sobre quais os princípios que
norteiam uma sociedade justa. Poder-se-á argumentar que cada
indivíduo tem a noção do que deve ser uma sociedade justa e que
nenhum tipo de consenso poderá ser alcançado sobre isto. Na
realidade a posição que cada um tem na sociedade, condicionada
fortemente a sua concepção de sociedade justa.

Em relação a este ponto, Rawls (1971) apresentou dois princípios


fundamentais que norteiam uma sociedade justa, nomeadamente:

1) Princípio de iguais liberdades: cada pessoa deve ter as mais


extensas liberdades básicas, compatíveis com semelhantes
liberdades dos outros;

2) Princípio da diferença: desigualdades sociais e económicas


devem ser dispostas de forma a que: a) se espere que sejam
vantajosas para todos, b) estejam associadas a posições e
lugares acessíveis a todos.

Existem algumas ideias que convém clarificar em relação aos princípios


de Rawls. Em primeiro lugar, que o primeiro principio tem prioridade
sobre o segundo, isto é, que um afastamento do principio de igual
liberdade não pode ser justificado com base em maiores vantagens
económicas e sociais. Por exemplo, não se devem sacrificar certas
liberdades básicas (liberdade de expressão, pensamento) mesmo que
isso leve a um maior crescimento. Em

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

segundo lugar, as desigualdades são definidas em termos de bens


primários, ou seja não são definidas em termos apenas de
rendimentos. Há dois aspectos do tratamento das desigualdades que
merecem realce:

 As desigualdades devem estar associadas às posições a que


todos possam concorrer em pé de igualdade, o que pressupõe
não apenas igualdade de oportunidades legalmente definidas
por lei, mas ainda em certa medida uma discriminação positiva
em relação a grupos socialmente marginalizados.

 As desigualdades devem ser organizadas para ser do benefício


de todos, isto é, também dos mais desfavorecidos. Isto significa
que se aumentar o bem-estar daqueles que estão melhor na
sociedade, o bem-estar social não aumento. Este é o conhecido
princípio do maximin – o bem-estar social só aumenta se
melhorar a situação dos que estão pior na sociedade.

A estrutura básica da sociedade distribui certos bens primários, que


qualquer pessoa racional deseja, pois têm um determinado valor de
uso qualquer que seja o plano de vida da pessoa – bens primários
sociais: direitos e liberdades, poderes e oportunidades, rendimento e
riqueza. O papel do Estado é pois o de garantir que todos os indivíduos
na sociedade tenham acesso a esses bens primários sociais, sobretudo
os que estão em piores condições. A abordagem de Rawls é
essencialmente normativa. O rawlsianismo define o bem-estar social
antes do mais em termos de acesso a liberdade básicas e em segundo
lugar em termos da situação dos que estão pior na sociedade.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas.

1. No âmbito dos fundamentos/argumentos para intervenção


pública, a classificação clássica evidencia apenas dois
objectivos da intervenção pública, designadamente, a
promoção da:
a) Eficácia e equidade.
b) Eficiência e equidade.
c) Estabilidade e eficiência.
d) Transparência e boa governação.

2. Uma das acções correctivas do Estado para promover a


eficiência pode incluir:
a) Adopção de políticas redistributivas.
b) Eliminação das falhas de mercado.
c) Provisão de bens e serviços.
d) Melhoria do ambiente de negócios.

3. A economia do bem-estar apresenta dois teoremas


fundamentais. O primeiro teorema refere-se que com
mercados perfeitos, o livre funcionamento do mercado garante
uma afectação óptima de recursos. Ou seja, a um equilíbrio (ou
óptimo) de:
a) Walras.
b) Pareto.
c) Kaldor.
d) Wagner.

4. A interpretação dos teoremas da economia do bem-estar,


ilustra duas racionalidades distintas que potencialmente
justificam:

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) A não intervenção do Estado na economia.


b) A intervenção do Estado na economia.
c) A complementaridade entre o Estado e o mercado.
d) O ajustamento automático dos mercados.

5. Existe uma situação “Óptimo de Pareto” quando:


a) Não há melhoria da situação de nenhum agente económico
b) Há melhoria da situação de todos agentes económicos.
c) Não é possível melhorar a situação de um agente sem piorar a
situação de qualquer outro agente económico.
d) Todos os agentes económicos estão numa situação pior.

6. A principal condição económica para que ocorra um “Óptimo


de Pareto” é que os mercados sejam:
a) Imperfeitos
b) Perfeitamente competitivos
c) Incompletos
d) Monopolistas

7. Na análise das teorias de bem-estar, a abordagem utilitarista


clássica, o bem-estar dos indivíduos é obtido quando cada um,
individualmente:
a) Alcança o óptimo de Pareto.
b) Alcança a felicidade individual.
c) Maximiza a própria utilidade.
d) Aloca eficientemente os seus recursos.

8. A teoria utilitarista toma a utilidade como indicador do bem-


estar geral da pessoa. Todavia, existe outra dimensão de bem-
estar a tomar em conta.
a) Rendimento.
b) Poupança.
c) Felicidade.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

d) Liberdades individuais.

9. Na teoria da Justiça emergem duas proposições teóricas


alternativas: a igualitária e a Rawlsiana. A proposição igualitária
defende que:
a) Todos os membros da sociedade são iguais.
b) Tem as mesmas curvas de utilidades.
c) Todos os membros da sociedade devem receber iguais
quantidades de mercadorias.
d) Todos os membros da sociedade maximizam as suas utilidades
de igual forma.

10. A teoria de John Rawls tem um carácter intermediário entre


utilitaristas e igualitaristas, pois defende que:
a) A sociedade igualitária deve ser uma regra.
b) A utilidade não mede o bem-estar dos indivíduos.
c) A desigualdade é aceitável quando esta é capaz de maximizar a
utilidade do indivíduo de menor poder aquisitivo da sociedade.
d) Não há igualdades entre utilidades individuais.

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. No debate sobre a economia do bem-estar, dois teoremas


fundamentais foram formulados pelo Vilfredo Pareto. Enuncie
o primeiro teorema fundamental da economia do bem-estar.

2. Na sua opinião, os dois teoremas fundamentais da economia


do bem-estar apresentam fundamentos ou não que justificam
a intervenção do sector público na economia? Fundamente a

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

sua resposta.

3. Enuncie a lei de Pareto e explique em que condições uma


economia pode ser considerada Pareto Eficiente.

4. A economia do bem-estar tem como suporte teórico a teoria


utilitarista e a optimalidade de Pareto. Faça uma análise crítica
entre as teorias utilitaristas, igualitária e de Rawls, indicando os
pontos de divergência entre elas.

5. Para Rawls, embora a sociedade igualitária seja a ideal, não


deve necessariamente ser a regra. Enuncie o princípio do
maximin formulado por John Rawls. Mostre a diferença
existente entre o tal princípio e o conceito de “Óptimo de
Pareto”.

UNIDADE TEMÁTICA II: FALHAS DE MERCADO

INTRODUÇÃO

A afectação de recursos no sentido de óptimo de Pareto só é possível


quando os mercados são perfeitamente competitivos, mas no mundo
real os mercados raramente são perfeitos devido as falhas de
mercado, designadamente: (i) Externalidades; (ii) Bens públicos; (iii)
Poder do mercado (concorrência imperfeita); e (iv) Assimetrias de
informação.

Assim, as falhas de mercado constituem o primeiro e um dos maiores


argumentos para a intervenção pública na economia na medida em
que na presença das falhas, o mercado não conduz a uma alocação
eficiente de recursos. Assim sendo, em tais situações, a intervenção do
sector público para corrigir essas falhas de mercado poderá conduzir a
uma afectação mais eficiente dos recursos do que aquela que

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

resultaria do livre funcionamento do mecanismo de mercado.

Esta unidade temática aborda essencialmente as falhas de mercado,


todavia, convém salientar que para efeitos puramente didácticos
iremos apenas nos debruçar sobre duas falhas de mercado: Bens
públicos e Externalidades.

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Diferenciar os bens públicos das externalidades;

Objectivos  Explicar as características de bens públicos;


Específicos
 Descrever as políticas para correcção das externalidades.

2.1 Conceito de Falhas de Mercado

Entende-se por falhas de mercado a “situação em que existe um bem


ou serviço, que afecta o bem-estar dos indivíduos (é argumento da
função utilidade) ou que afecta os custos de uma empresa (é
argumento da função de produção), para os quais há pelo menos um
preço ao qual certos agentes estão dispostos a vender e outros a
comprar, mas onde não há mercado para esse bem” (Pereira et al,
2009). Importa salientar que na presença de falhas de mercado a
afectação de recursos é ineficiente tanto sob de vista de Pareto.

2.1.1 Bens Públicos

Entende-se por bens públicos aqueles em que, para a totalidade dos


indivíduos, não existe rivalidade no consumo. A exclusão ou não é
possível, caso seja possível, não é desejável do ponto de vista
económico. Na realidade, não havendo rivalidade no consumo, o custo
adicional de se ter mais um indivíduo a consumir o bem público é nulo.
Assim, qualquer forma de exclusão, baseada no preço ou no

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

racionamento, é ineficiente pois está a diminuir o consumo sem que


dai resulte algum benefício.

Nota: os bens públicos podem ser puros ou semi-puros.

As características dos bens públicos puros são:

 Indivisibilidade ou não-rivalidade no consumo ou oferta


conjunta,
 Impossibilidade de exclusão, e
 Não-rejeitabilidade.

Note que é raro encontrar bens públicos que atendam completamente


às características de não-rivalidade e não exclusividade. O que há em
geral é um contínuo em que uma parte maior ou menor dessas
características é observada. Um exemplo clássico de bem público puro
que completa estas características é a defesa nacional. O regresso de
um moçambicano que esteve no exterior não diminui a defesa
nacional dos que já estão cá no país e nem seria possível ao governo
excluir esse cidadão de usufruir da defesa das fronteiras do país.

(a) Indivisibilidade

Um bem diz-se indivisível se, dada certa quantidade do bem que é


consumida por um grupo de indivíduos, poder efectuar-se a inclusão
de consumidores adicionais sem que isso reduza o nível de utilidade
(satisfação) dos indivíduos do grupo inicial. Exemplos de bens
indivisíveis são a emissão do sinal de televisão, a iluminação pública,
as auto-estradas, pontes, salas de espectáculo, desde que, pelos seus
níveis de utilização não chegue a surgir congestionamento.

(b) Impossibilidade de exclusão

Um bem diz-se com impossibilidade de exclusão se, produzida certa


quantidade, esta tem necessariamente de se tornar acessível a

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

consumidores adicionais que a desejam. Quer dizer que o agente que


efectua a provisão do bem não tem a capacidade de excluir quem
esteja interessado no seu consumo.

A impossibilidade, ou dificuldade, de exclusão nos bens públicos dá


origem ao free-riding, ou boleia, dos agentes que podem beneficiar do
bem sem para ele contribuírem para a sua provisão. Cada indivíduo
sabe que se não contribuir, mas os outros contribuírem, irá também
beneficiar do bem público. Havendo uma proporção significativa a
pensar deste modo, a provisão do bem será ineficiente. No caso limite,
se todos pensarem assim então a provisão voluntaria, no mercado,
será mesmo nula.

(c) Não-rejeitabilidade

Um bem diz-se com impossibilidade de rejeição se, produzida certa


quantidade, esta tem necessariamente de ser consumida por todos os
indivíduos do grupo relevante, ainda que não a desejem. O consumo é
imperativo. A defesa nacional, como foi referido é o exemplo mais
claro deste tipo de bens.

2.1.2 Bens de Mérito ou Primários

Além dos bens públicos puros, há os bens semi-públicos que possuem


parte das características dos bens públicos. Estes bens podem também
ser designados por bens de mérito para justificar a actuação do
governo no seu fornecimento. A educação e a saúde são casos de bens
públicos meritórios. Estes bens para além de possuir algumas
características dos bens públicos, eles são tão fundamentais que
constituem direito humano e constitucional do cidadão e cabem ao
Estado garantir o seu fornecimento.

62
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.1.3 Formas de Produção e Provisão de Bens Públicos

Os bens públicos diferem dos bens privados no que toca as suas


características. Mas também, diferem na forma de produção e
provisão. É importante distinguir provisão de produção. A provisão
tem a ver com a forma de fornecimento e de acesso ao consumo do
bem, ao passo que a produção tem a ver com a actividade produtiva
que gera o bem. Assim pode-se ter quatro situações possíveis:
produção pública e privada; provisão pública e privada.

A provisão pública é aquela que é essencialmente financiada pelo


orçamento de uma entidade pública, orçamento do Estado ou de uma
autarquia local, pelo que os utilizadores não pagam um preço pela sua
utilização, o financiamento é indirecto, através dos impostos. Por
outro lado, a provisão privada é financiada através de um preço ou
tarifa, que deverá ser semelhante ao custo marginal ou médio de
produção. Neste caso é o utilizador o pagador do serviço.

Em contrapartida, a produção pública é aquela cujo processo


produtivo ou a manutenção é assegurada por uma entidade pública,
sendo a produção privada assegurada por empresas privadas. Neste
contexto, provisão e produção são duas coisas claramente distintas.

Do ponto de vista de políticas públicas interessaria clarificar quais os


argumentos que apoiam a produção pública e quais os argumentos
que favorecem a produção privada. Deixando por enquanto este
problema em aberto, pode-se clarificar com alguns exemplos estas
quatro possibilidades.

Considere-se o caso do “Jardim Dona Berta”, na cidade de Maputo.


Em teoria pode-se ter:

 Provisão pública e produção pública – o equipamento colectivo


aparentemente “gratuito”, isto é, financiado por um
orçamento local, com livre

63
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

acesso dos utilizadores. Pode também ter produção pública (no


sentido da sua manutenção ser feita por funcionários do
Conselho Municipal).

 Provisão pública e produção privada – caso em que o serviço


de jardinagem e manutenção é concessionado a uma empresa
privada, mas mantém-se o livre acesso.

 Provisão privada com produção pública – pagamento de uma


taxa de utilização aos Domingos para evitar congestionamento
excessivo.

 Provisão privada com produção privada – em que há exclusão


no consumo (pratica-se um preço) e a propriedade,
manutenção e gestão seria privada.

As formas de produção e provisão não devem pois ser confundidas


com as características dos bens. O “jardim Dona Berta” é bem que, se
assumirmos que nunca esta congestionada, pode-se classificar como
bem público local, isto é, um bem público cujos benefícios são
limitados territorialmente. Neste caso, não há rivalidade no consumo e
muito embora haja possibilidade de exclusão tal não é desejável. A
classificação de local prende-se com o facto de gerar benefícios
sobretudo para residentes de uma dada localidade.

2.1.4 Externalidades

Existe uma externalidade quando a acção de consumo, produção ou


outra, realizada por um agente, afecta significativamente o bem-estar
de outro, e esse efeito não é transmitido através do sistema de preços.

Portanto, as externalidades podem ser positivas ou negativas. São


positivas as que beneficiam a terceiros, como por exemplo, uma acção
de vacinação contra uma certa doença contagiosa numa determinada
comunidade reduz a possibilidade de contaminação na comunidade

64
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

vizinha. Contrariamente, as externalidades negativas formam os


efeitos colaterais, prejudiciais a terceiros mas não intencionais. Por
exemplo, emissão de gases por uma indústria de alumínio.

Quando se está na presença de externalidades, o livre


funcionamento do mercado não garante uma alocação eficiente de
recursos:

 No caso das externalidades negativas, os agentes económicos


não contabilizam os custos que impõem a terceiros quando
desenvolvem determinadas actividades, pelo que o farão em
excesso. Os custos sociais superam os custos privados.

 Do mesmo modo, quando a actividade de um agente


económico gera uma externalidade positiva, ele não beneficia
dos efeitos positivos da sua acção em terceiros.
Consequentemente, ele desenvolverá essa actividade em
menor quantidade do que seria socialmente desejável
(eficiente). Os benefícios sociais são superiores aos benefícios
privados.

1.2.5 Políticas para Correcção de Externalidades

Para correcção das externalidades negativas, o Estado poderá recorrer


a vários tipos de instrumentos ou politicas corrigir a falha de mercado:

 A imposição de multas. Por exemplo, um imposto sobre cada


unidade produzida por uma empresa que polui a atmosfera, o
mar ou um rio. Nestas condições a empresa ver-se-ia obrigada
a internalizar o custo relativo ao imposto pago ao governo ou a
comunidade que antes da imposição não era considerado
como custo. Assim, o governo promoveria a eficiência na
medida em que ele forçaria a igualdade entre os custos sociais
marginais e os benefícios sociais marginais da poluição.

65
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 Um subsidio às actividades que reduzem a externalidade


negativa. Por exemplo, poder-se-á conceder um subsídio a uma
fábrica por cada unidade de poluição que ela deixe de produzir.

 A introdução de legislação que limite a produção da


externalidade. Tal pode ser feito através da regulação do
processo produtivo (por exemplo, o tipo de equipamento a
utilizar e especificações técnicas sobre o produto final) ou do
nível de poluição (caso do estabelecimento de limites máximos
para os níveis de emissão de resíduos tóxicos).

No caso das externalidades positivas, o governo poderá utilizar vários


instrumentos de política com vista a melhorar a afectação de recursos:

 Subsídios que incentivem a produção da externalidade


positiva. É o caso da concessão de bolsas de estudo e da
distribuição gratuita de leite e outros alimentos na escola,
de forma a incentivar a presença nas aulas (expansão da
procura por educação);

 Legislação que garanta um determinado nível de


externalidade positiva: por exemplo, o estabelecimento de
níveis mínimos de escolaridade obrigatória;

 Outras medidas que se traduzam num aumento da


externalidade positiva. Por exemplo, a construção de
escolas. Esta origina não apenas origina um aumento na
oferta, mas também na procura, já que torna a educação
mais acessível para aqueles que antes não beneficiavam de
acesso fácil a instituições de ensino, baixando assim como o
custo de oportunidade associado à ida à escola.

Nota: Numa situação em que não existem externalidades, os custos e


benefícios privados são idênticos aos custos e benefícios sociais, e a
actuação dos agentes económicos vai

66
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

ao encontro dos interesses da sociedade. Não há, por isso,


necessidade de intervenção pública. Contudo, quando certas
actividades têm associada uma externalidade, o Estado poderá (e
deverá, em muitos casos) intervir de forma a “internalizar”o efeito
externo, fazendo com a actuação privada vá ao encontro do interesse
público.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas.

1. As falhas de Mercado constituem o primeiro e um dos maiores


argumentos para a intervenção pública. Constituem exemplos
de falhas de mercado os seguintes casos:
a) Concorrência perfeita, bens primários, bens públicos.
b) Informação simétrica, poder de mercado, economias de escala.
c) Externalidades, bens públicos, assimetrias de informação.
d) Concorrência perfeita, externalidades, bens públicos.

2. Na presença de falhas, o mercado apresenta a seguinte


característica:
a) Alocação eficiente de recursos.
b) Afectação ineficiente de recursos.
c) Equilíbrio óptimo de Pareto.
d) Equilíbrio geral na economia.

3. Os bens públicos definem-se pelas seguintes características:


a) Não-rivalidade, impossibilidade de exclusão, não-
rejeitabilidade.
b) Não-rivalidade, rejeitabilidade, impossibilidade de exclusão.
c) Exclusão, rejeitabilidade, possibilidade de exclusão.
d) Provisão pública, produção privada, provisão privada.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

4. A impossibilidade, ou dificuldade, de exclusão nos bens


públicos da origem a um comportamento, denominado:
a) Individualismo.
b) Liberalismo.
c) Free-riding.
d) Liberdade negativa.

5. Os bens públicos diferem dos bens privados no que tange as


suas características. Mas também, diferem na forma de
produção e provisão. A provisão pública é aquela que é
financiada:
a) Pelos orçamentos dos privados.
b) Pelos parceiros de cooperação.
c) Pelo orçamento de uma entidade pública.
d) Pelas tarifas pagos pelos consumidores.

6. Diz-se que há externalidades, quando a acção de consumo, ou


de produção, realizada por um agente:
a) Afecta positivamente o bem-estar de outro agente.
b) Afecta negativamente o bem-estar de outro agente.
c) Não afecta o bem-estar de nenhum agente.
d) O bem-estar mantém-se inalterado.

7. As externalidades podem ser positivas ou negativas. No caso


das externalidades positivas:
a) Beneficiam a terceiros.
b) Produzem efeitos colaterais a terceiros.
c) Não afectam a terceiros.
d) Nenhuma das afirmações.

8. Quando no sistema económico ocorre externalidades


negativas, o Estado pode intervir com vista a corrigi-las
recorrendo a vários instrumentos ou políticas, nomeadamente:

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) Apoio as empresas poluidoras, redução dos preços dos


produtos.
b) Imposição de multas, subsídios as actividades que reduzem a
externalidade negativa.
c) Políticas de redistribuição do rendimento, realocação de
recursos.
d) Nenhuma das afirmações.

9. As externalidades negativas diferem das externalidades


positivas, pois as negativas:
a) Aumentam a produtividade das empresas.
b) Aumentam o bem-estar dos agentes económicos.
c) Produzem efeitos colaterais a terceiros.
d) Eliminam as externalidades positivas.

10. Para a correcção de externalidades na economia, o Estado


pode usar os subsídios, tanto para externalidades negativas
assim como externalidades positivas. A diferença é que nas
externalidades positivas os subsídios servem para:
a) Incentivar a acção poluidora das empresas.
b) Alterar o comportamento dos consumidores.
c) Incentivar a produção da externalidade positiva.
d) Eliminar a externalidade positiva.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. A afectação de recursos no sentido de óptimo de Pareto só é


possível na ausência de falhas de mercado, por exemplo
Externalidades; Bens públicos, etc. Indique a diferença entre
estas duas falhas de mercado (externalidades e bens públicos).

2. Suponha que o “Jardim da Casa dos Bicos”, um bem público,


tenha sido construído com os fundos do Estado e cuja
manutenção é assegurada pela empresa privada “LIMPA
SECO”. Indique a forma de produção e de provisão daquele
bem público.

3. Embora as externalidades negativas formam efeitos


prejudiciais, mas não intencionais a terceiros, uma vez que
afecta negativamente o bem-estar de outros agentes
económicos, o Estado é chamado a corrigir esta situação.
Indique e explique os instrumentos e estratégias que o Estado
pode recorrer para correcção de externalidades negativas.

4. No caso de externalidades positivas, que instrumentos de


política o Estado pode usar para incentivar a produção de
externalidade positiva?

5. Explique as diferenças entre as externalidades positivas e


externalidades negativas. Dentre estas externalidades são as
mais desejáveis para uma sociedade. Fundamente a sua
resposta.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. No âmbito dos fundamentos/argumentos para intervenção


pública, a classificação clássica evidencia apenas dois
objectivos da intervenção pública, designadamente, a
promoção da:
e) Eficácia e equidade.
f) Eficiência e equidade.

g) Estabilidade e eficiência.
h) Transparência e boa governação.
e) Melhoria do ambiente de negócios.

2. A interpretação dos teoremas da economia do bem-estar,


ilustra duas racionalidades distintas que potencialmente
justificam:
e) A não intervenção do Estado na economia.
f) A intervenção do Estado na economia.
g) A complementaridade entre o Estado e o mercado.
h) O ajustamento automático dos mercados.

3. Existe uma situação “Óptimo de Pareto” quando:


e) Não há melhoria da situação de nenhum agente económico
f) Há melhoria da situação de todos agentes económicos.
g) Não é possível melhorar a situação de um agente sem piorar a
situação de qualquer outro agente económico.
h) Todos os agentes económicos estão numa situação pior.

4. As falhas de Mercado constituem o primeiro e um dos maiores


argumentos para a intervenção pública. Constituem exemplos

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

de falhas de mercado os seguintes casos:


e) Concorrência perfeita, bens primários, bens públicos.
f) Informação simétrica, poder de mercado, economias de escala.
g) Externalidades, bens públicos, assimetrias de informação.
h) Concorrência perfeita, externalidades, bens públicos.

5. Os bens públicos definem-se pelas seguintes características:


e) Não-rivalidade, impossibilidade de exclusão, não-
rejeitabilidade.
f) Não-rivalidade, rejeitabilidade, impossibilidade de exclusão.
g) Exclusão, rejeitabilidade, possibilidade de exclusão.
h) Provisão pública, produção privada, provisão privada.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M., Santos, J.C.G. (2009).


Economia e Finanças Públicas, 3ª Edição. Escolar Editora, Parte
1, pp. 7-28; pp.39-53.

 Ribeiro, J.J. Teixeira. (1997). Lições de Finanças Públicas, 5ª


Edição, refundida e actualizada. Coimbra Editora.

 Sousa Franco, A.L. (1996). Finanças Públicas e Direito


Financeiro, Vol.1, Cap.1, pp. 13-41.

 Wandschneider, T. S. (1998-99). Apontamentos de Finanças


Públicas. Universidade Eduardo Mondlane (UEM), pp. 11-33.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

TEMA III: ORÇAMENTO DO ESTADO

UNIDADE TEMÁTICA I: ORIGEM, CONCEITO E FUNÇÕES


DO ORÇAMENTO

INTRODUÇÃO

A teoria do orçamento foi elaborada sobretudo durante o liberalismo


e liga-se aos objectivos inspiradores da democracia liberal. O reforço
do papel do Estado na vida económica, a diminuição dos poderes do
Parlamento em relação aos Executivos e a crescente complexidade dos
métodos de gestão financeira determinaram no século XX um certo
declínio da instituição orçamental clássica.

Todavia, a instituição orçamental continua a existir nas economias


modernas, em relação às quais fora inicialmente concebida, mas
também, embora com adaptações muito especiais, nas economias de
inspiração socialista.

Nesta unidade será abordada por um lado a origem e a conceito do


orçamento, suas funções, regras e princípios na sua organização. Por
outro lado, vai apresentar o ciclo orçamental em Moçambique,
classificação e estrutura da despesa pública e por último, iremos
abordar as teorias explicativas do crescimento da despesa pública.

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Apresentar o conceito e funções do orçamento;

Objectivos  Identificar as fases do ciclo orçamental em Moçambique;


Específicos
 Explicar as teorias do crescimento da despesa pública.

1.1 Origem
74
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Maior parte de autores considera que as primeiras aproximações do


Orçamento do Estado surgiram na Inglaterra. Consta que já no século
XIII, em consequência da luta contra o poder absoluto da monarquia,
os senhores feudais impuseram ao Rei a Magna Carta, da qual
constava o que é conhecido como primeiro orçamento da história,
subordinando o poder do Rei, no domínio tributário, ao
consentimento de um Conselho de Nobres.

No século XVII, precisamente em 1689, em resultado da revolucionária


Bill of Rights, inicia a obrigatoriedade de as receitas passarem a ser
aprovadas e as despesas autorizadas pelo Parlamento Inglês. Surge,
assim, o primeiro Orçamento do Estado mais semelhante ao que se
define hoje.

No final do século XVIII, com a revolução francesa de 1789, termina a


monarquia absoluta e inicia a democracia que se desenvolve no
sentido de separação de poderes. Nestes moldes, consagra-se o
Orçamento do Estado um instrumento de controlo da actividade
financeira do Estado, definindo princípios orçamentais que
delimitavam a acção do estado.

A revolução francesa ocorre dois anos depois da proclamação da


Constituição nos Estados Unidos da América (1787).

Por estes factos, podemos afirmar que o Orçamento do Estado é um


ganho das democracias parlamentares mais concretamente do
pensamento económico liberal dos séculos XVIII e XIX.

1.3 Conceito

75
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

A ideia de orçamento não começa e nem se limita ao nível


institucional. Na verdade, a ideia do orçamento, que nos remete à
disciplina na busca de recursos financeiros e na realização de
despesas, aplica-se também na esfera individual. Por isso, o conceito
genérico de orçamento é de um plano de acção expresso em termos
financeiros, pois indica o que um indivíduo ou organismo vai fazer com
os recursos que obtém de fontes identificadas.

De forma genérica, conceptualmente, o Orçamento do Estado é um


documento apresentado sob forma de lei, que comporta uma
descrição detalhada de todas as receitas e de todas as despesas do
estado, propostas pelo poder executivo (Governo) e autorizadas pelo
poder legislativo (Assembleia da República), e antecipadamente
previstas para um horizonte temporal de um ano.

Do ponto de visto jurídico, em Moçambique, o Orçamento do Estado é


visto como sendo um “documento no qual estão previstas as receitas a
arrecadar e fixadas as despesas a realizar num determinado exercício
económico e tem por objecto a prossecução da política financeira do
Estado” (artigo 12 da Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro, que cria o
SISTAFE).

 Mas porquê no orçamento se prevê as receitas e fixa-se as


despesas?

O orçamento constitui sempre uma previsão, já que se refere a um


período futuro – o próximo ano financeiro. E o futuro, é sempre
incerto. O Estado tem necessidade de fixar as suas despesas, a fim de
saber o montante de receita que necessita de arrecadar. Do mesmo
modo, precisa de prever as suas receitas, para assim poder determinar
os recursos de que dispõe e avaliar os limites a impor às suas
despesas.

As receitas necessariamente que cobrir as despesas. Por esta razão, é


absolutamente imperioso que se

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

fixem as despesas, para que elas não possam variar ao sabor da


vontade dos governantes ou dos funcionários públicos.

Ao contrário do que sucede para as despesas, as receitas não poderão


ser fixadas, mas apenas estimadas, já que contém um elemento de
incerteza muito maior que os gastos, pelo que, dependem de vários
factores, como sejam o nível de actividade económica, a eficiência na
cobrança e o grau de fuga e evasão fiscal. Dependendo das
circunstâncias futuras, elas serão geralmente superiores ou inferiores
ao montante orçado.

1.4 Dimensões e Funções do Orçamento

São três as dimensões do orçamento:

 Económica: o orçamento constitui uma previsão da gestão


orçamental e uma exposição do plano financeiro.

 Política: o orçamento, uma vez aprovado, é a autorização


política do plano financeiro. Autoriza o Governo a realizar
certas despesas e a cobrar determinadas receitas.

 Jurídica: o orçamento é o instrumento através do qual se


limitam os poderes financeiros da administração. Os órgãos da
Administração terão de seguir as linhas traçadas pelo
orçamento na execução da gestão financeira do Estado: não
poderão gastar mais do que aquilo que vem especificado no
orçamento nem cobrar receitas que não estão inscritas neste
documento.

As dimensões do orçamento estão directamente relacionadas com as


suas funções económicas, políticas e jurídicas. Tais funções assumem,
desde os tempos do liberalismo, uma importância extrema para o bom
funcionamento do Estado, da economia e do sistema político. Dai a
razão da existência do orçamento e a sua importância. Assim, seguem

77
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

as funções do orçamento:

No plano económico:

 Facilita a gestão dos dinheiros públicos, tornando-a mais


racional e eficiente. Por outras palavras, evita improviso, que é
sempre uma causa de desperdício.

 Constitui um elemento fundamental na definição e execução


da política económica e social do Governo, e permite aos
agentes económicos e à sociedade em geral conhecer as
principais linhas desta política.

No plano político:

 Garante que a tributação dos rendimentos dos cidadãos e a


utilização dos dinheiros públicos estão dependentes da
aprovação pelos representantes do povo na Assembleia da
República.

 Assegura o equilíbrio e a separação dos poderes: o Parlamento


autoriza a arrecadação de receitas e a utilização das mesmas; o
Executivo (o Governo) executa o orçamento; e o Parlamento
e/ou outro órgão jurisdicional fiscaliza a sua execução.

No plano jurídico:

 A autorização política que é concedida ao Estado para realizar


despesas e cobrar receitas limita os poderes financeiros da
Administração Pública.

As funções económicas, políticas e jurídicas do orçamento não são


independentes entre si. Sem a autorização parlamentar (dimensão
política) e a fiscalização das despesas e receitas do Estado (dimensão
jurídica), dificilmente se alcançará uma boa administração financeira
(dimensão económica):

78
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 O controlo político torna o processo de definição de políticas


financeiras mais rigoroso, participativo e transparente;

 A fiscalização das despesas e receitas públicas, por sua vez,


minimiza a ocorrência de desvios e abusos na obtenção e
utilização dos dinheiros públicos, garantida uma execução
orçamental mais verdadeira e eficiente.

2. Princípios e Regras Orçamentais

A elaboração do Orçamento do Estado obedece a um conjunto de


regras teorizadas durante o liberalismo, com as devidas excepções e
representam uma tradução concreta da ortodoxia liberal no plano da
prática financeira. Estas regras e princípios funcionam como
verdadeiras restrições técnicas, ao disciplinar, de forma rigorosa, as
opções em matéria de forma e conteúdo do orçamento.

Assim, seguem as regras e princípios da organização orçamental.

2.1 Anualidade

De acordo com esta regra, o Orçamento do Estado tem um período de


validade e execução anual, sem prejuízo da existência de programas
que impliquem encargos por mais de um exercício económico. Este
princípio implica que: (i) aprovação anual do orçamento pela
Assembleia da República; (ii) execução anual das despesas e receitas
públicas e; (iii) fiscalização anual das receitas e despesas públicas pelo
Parlamento e/ou um órgão jurisdicional. Convém realçar que em
Moçambique, o ano de vigência do orçamento é o ano civil (1 de
Janeiro a 31 de Dezembro).

2.2 Plenitude Orçamental: Unidade e Universalidade

79
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Este princípio apresenta dois elementos distintos que, no entanto,


entrecruzam e complementa-se: a Unidade e a Universalidade. Estes
princípios visam evitar que escape à autorização politica (na fase de
previsão), ao controlo politico e administrativo (na fase de execução) e
à responsabilização jurisdicional e/ou parlamentar (na fase de
execução de contas) uma quantidade significativa de fundos públicos –
fenómeno geralmente conhecido por desorçamentação das despesas
e receitas públicas.

Ambas as regras conferem uma maior abrangência, racionalidade e


transparência ao orçamento, facilitando assim como o controlo
político, a formulação de opções globais de natureza financeira e uma
execução orçamental rigorosa.

A Unidade orçamental determina que o conjunto das receitas e das


despesas deve ser apresentado num único documento, isto é, o
orçamento deve ser único ou unitário. No entanto excepções à regra.
O Orçamento do Estado não inclui receitas e despesas de órgãos
descentralizados e instituições que gozam de autonomia financeira,
administrativa e patrimonial, como é o caso das autarquias e do sector
público empresarial cujos orçamentos são elaborados, aprovados e
executados autonomamente.

A Universalidade determina que todas as receitas e todas as despesas


sejam na sua globalidade inscritas no orçamento para não defraudar a
função fiscalizadora do orçamento. As vantagens decorrentes do
princípio da universalidade consistem em assegurar que todos (eleitos,
eleitores e a administração pública) possam conhecer as fontes de
financiamento do orçamento e o destino que é dado aos dinheiros
públicos, situação que seria impossível de controlar se não houvesse a
obrigatoriedade de inscrever todas as receitas e todas as despesas.

2.3 Especificação

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Este princípio estabelece que o Orçamento do Estado deve especificar


ou individualizar de forma suficiente mas não exaustiva as receitas e
as despesas, constituindo excepção a inscrição no Orçamento do
Estado de uma dotação provisional, sob gestão do Ministro que
superintende a área das Finanças. Em Moçambique, as despesas
públicas são especificadas de acordo com a sua natureza económica,
funcional, orgânica e territorial. A especificação das receitas públicas
por sua vez, é feita de acordo com classificador económico e
territorial.

A dotação provisional constitui uma excepção à regra e não uma


violação do princípio em si, pois com a utilização da dotação, os gastos
não previstos deverão ser especificados. Outra excepção a este
princípio, no caso de Moçambique, é instituída no nº 3 do artigo 13 da
Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro.

2.4 Não Consignação

Este princípio determina que as receitas especificadas no orçamento,


quando liquidadas e arrecadadas não se destinam a atender a
compromissos específicos, antes constituem um único fundo que
servirá de cobertura de todas as despesas. Por outras palavras, a
totalidade das receitas orçamentais deve servir para financiar a
totalidade das despesas orçamentais, sem qualquer afectação a
determinadas despesas.

Assim, ao interditar consignação significa não permitir que uma


determinada receita seja afecta – consignada – a uma determinada
despesa. Diversas razoes o justificam.

A primeira, e mais importante, tem a ver especificamente com a


receita fiscal. Se a receita de cada tipo de imposto fosse, por hipótese
e na ausência da regra, consignada a uma despesa específica e só a
esta, os contribuintes “reconheceriam” a aplicação dos seus

81
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

pagamentos fiscais e poderiam não desejar continuar a faze-lo na


ausência de benefícios individuais directos.

Outra justificação é de que, se houvesse consignação, seria impossível


a realização plena daquelas despesas cujas receitas consignadas
fossem insuficientes na sua arrecadação ou então, montantes extras
de algumas seriam inaplicáveis para quaisquer outras despesas.

Todavia, a não consignação é, por vezes, violada, quando se pretende


proteger determinadas despesas. No caso de Moçambique, o nº 2 do
artigo 13 da Lei nº 9/2002, de 12 de Fevereiro exceptua o princípio da
não consignação das receitas orçamentais (ex. receitas provenientes
de créditos públicos, de doações, heranças ou legados).

2.5 Não Compensação

Este princípio designa-se também por princípio de orçamento bruto.


Ele pretende facilitar o controlo orçamental na medida em que
determina que as receitas e as despesas sejam inscritas pelos seus
valores ilíquidos, isto é, sem qualquer dedução de eventuais despesas
(encargos de cobrança) e de eventuais receitas (ganhos originados
pela realização de despesas) que lhe estejam associados.

A semelhança do que acontece com a regra da especificação, o


orçamento bruto permite uma maior clareza, veracidade e
racionalidade económica. Se as receitas e as despesas fossem inscritas
pelo seu valor líquido não se saberia qual o seu montante exacto nem
se estaria a respeitar a regras da universalidade, que prevê a inclusão
no orçamento de todas as despesas e todas as receitas.

2.6 Publicidade

A regra de Publicidade estabelece que devem ser publicadas no


Boletim da República a Lei Orçamental, as tabelas de receitas e as
tabelas de despesas e bem assim informações económicas e

82
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

financeiras julgadas pertinentes.

Ao nível autárquico, também existe uma obrigatoriedade expressa de


publicidade de orçamentos no Boletim da república (nº 1 do artigo nº
7 da Lei nº 11/97, de 31 de Maio) bem como colocar à disposição do
público pelo menos três cópias do orçamento aprovado para efeitos
de informação e consulta em local apropriado no edifício-sede da
autarquia (nº 2, do mesmo artigo nº 7, da mesma lei).

2.7 Equilíbrio

A regra de equilíbrio determina que todas as despesas previstas no


orçamento devem ser efectivamente cobertas por receitas nele
inscritas. Num certo sentido é correcto afirmar que um orçamento
está sempre em equilíbrio, contudo, deve-se distinguir as receitas e as
despesas efectivas. Assim, o saldo global ou efectivo, traduz a
diferença entre receitas e despesas efectivas e pode ser deficitário,
equilibrado ou superavitário.

2.7.1 Equilíbrio Orçamental

A regra do equilíbrio entre as receitas e as despesas, ou equilíbrio


orçamental, tem sido considerada, pelo seu alcance, como a mais
importante das regras orçamentais. Para uma melhor compreensão do
que está em causa, importa ter presente que todo e qualquer
orçamento – em qualquer época – apresenta sempre, portanto, ou
com receitas iguais ou com receitas superiores às despesas, isto é, ou
equilibrado ou superavitário.

Não se concebe um orçamento com receitas inferiores às despesas,


isto é, deficitário. Todavia, fala-se frequentemente do défice
orçamento. Se fala-se disto, então, é que pode haver défice mesmo
quando as receitas são iguais ou superiores às despesas. Isto acontece
porque o equilíbrio orçamental não se define pelo equilíbrio entre

83
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

todas despesas e todas as receitas, mas pelo equilíbrio entre certas


despesas e certas receitas.

Portanto, existe vários conceitos de equilíbrio orçamental


nomeadamente: (a) Equilíbrio entre despesas efectivas e receitas
efectivas; (b) Equilíbrio entre despesas ordinárias e receitas ordinárias;
e (c) Equilíbrio entre despesas correntes e receitas correntes.

Em Moçambique os critérios de equilíbrio orçamental comummente


usados são:

(i) Equilíbrio global;


(ii) Equilíbrio do orçamento corrente;
(iii) Equilíbrio antes de donativos; e
(iv) Equilíbrio após donativos.

(i) O critério do equilíbrio global é o que se aplica de forma mais


evidente. Por exemplo, a alínea a) do nº 1 do artigo nº 3 da lei
nº 1/2007, de 3 de Janeiro apresenta o equilíbrio do
Orçamento do Estado de 2007.

(ii) O critério do equilíbrio do orçamento corrente, pretende


disciplinar a despesa pública corrente promovendo as despesas
de capital. Na verdade, a legislação financeira moçambicana
não permite que receitas de capital sejam aplicadas para
despesas correntes. De igual modo os saldos orçamentais de
um exercício económico só podem ser aplicados em despesas
de capital.

(iii) O critério do equilíbrio antes dos donativos pretende medir,


através do saldo resultante da diferença entre as receitas
próprias (fiscais e não fiscais) e as despesas totais, a
dependência externa já que os donativos e os créditos, no
nosso caso, são fundamentalmente (apenas
fundamentalmente) externos.

84
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Portanto, isso não significa que o Estado não possa ter


donativos ou créditos internos.

(iv) O critério do equilíbrio após donativos permite verificar as


necessidades financeiras do Estado que devem ser financiada
com recurso ao crédito. É uma análise de grande importância
do ponto de vista de análise da dívida pública (ponto a ser
tratado no tema 4).

3. O Ciclo Orçamental em Moçambique: Fases e Competências

De forma genérica, o ciclo orçamental tem no essencial quatro fases


que compreende: A preparação do Orçamento do Estado, a Discussão
e Aprovação na Assembleia da República, a Execução e Fiscalização e
por fim da Conta Geral do Estado. Todavia, de forma desagregada, a
elaboração da proposta do Orçamento do Estado (OE), obedece as
seguintes etapas:

 Etapa 1 (31 de Janeiro): Submissão, ao Ministério de Economia e


Finanças, das propostas do Balanço do Plano Económico (PES)
e Social do ano anterior dos sectores, províncias e distritos.

 Etapa 2 (15 de Fevereiro): Submissão do Balanço do PES do ano


anterior à Assembleia da República.

 Etapa 2 (Fev. – Abril): Elaboração do Cenário Fiscal de Médio Prazo


(CFMP). O CFMP é o instrumento de planificação que garante
a previsibilidade de recursos para a continuidade da despesa
dos exercícios anteriores e permite em função do envelope de
recursos (definidos no Quadro Macro) definir novas despesas
públicas, através das quais se estabelecem os limites para o
OE. No caso de Moçambique, o CFMP tem enquadramento legal no
artigo 45º da Lei nº 9/2002 (Lei do SISTAFE). Mais especificamente,
o CFMP tem como objectivo de garantir maior articulação entre
Orçamento do Estado e o PES.

85
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 Etapa 3 (31 de Maio): Comunicação de limites de despesa pública


junto com as Metodologias para elaboração do PES/OE, Plano
Económico e Social e Orçamento Provincial (PESOD), Plano
Económico e Social e Orçamento Distrital (PESOD).

 Etapa 4 (20 de Junho – 30 Junho): Submissão das propostas do


PESOD pelas Direcções Provinciais e Governos Distritais à
DPPF; Apresentação globalizada dos Programas Económicos e
Sociais e Orçamento Distrital (PESOD’s) nos Plano Económico
e Social e Orçamento Provincial (PESOP’s).

 Etapa 5 (12 de Julho – 31 de Julho): Submissão da Proposta do


PES/OE à Assembleia Provincial; Apreciação da Proposta do
PES/OE à Assembleia Provincial e submissão das propostas do
PES/OE ao Ministério de Economia e Finanças.

 Etapa 6 (15 de Setembro): Submissão da proposta do PES/OE ao


Conselho de Ministros.

 Etapa 7 (30 de Setembro): De acordo com o artigo 25 da Lei nº


9/2002 (Lei do SISTAFE), o Governo submete até ao dia 30 de
Setembro de cada ano à Assembleia da República a proposta
do Orçamento do Estado a que se refere o N.º 1 do artigo 21
desta Lei.

 Etapa 8 (15 de Dezembro): A Assembleia da República delibera


sobre a proposta de Lei de Orçamento do Estado e
Regulamento do Plano Económico e Social até 15 de
Dezembro de cada ano (Artigo 26 da Lei nº 9/2002 – Lei do
SISTAFE).

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

4. Despesa Pública: Conceito, Classificação e Estrutura

Constitui despesa pública “todo o dispêndio de recursos monetários


ou em espécie, seja qual fora sua proveniência ou natureza, gastos
pelo Estado, com ressalva daqueles em que o beneficiário se encontra
obrigado à reposição dos mesmos” (Artigo 15 da Lei 09/2002 – Lei do
SISTAFE).

4.1 Classificação e Estrutura

Em qualquer orçamento, a despesa pública deve ser classificada,


simultaneamente, segundo diversos critérios. Cada um deles fornece
um tipo específico de informação que permite identificar a natureza, a
finalidade e a função da despesa pública. Assim, em Moçambique,
segundo alínea b do artigo 23 da Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro – Lei
do SISTAFE, a despesa pública é classificada de acordo com os
critérios:
 Económico;
 Funcional;
 Orgânico; e
 Territorial.

A classificação económica permite identificar a natureza económica da


despesa (rubricas orçamentais). Segunda esta classificação as despesas
públicas podem ser: despesas correntes e despesas de capital.

Segundo a classificação funcional a despesa é agregada pelos


diferentes domínios de intervenção do Estado – as funções e sub-
funções a que correspondem finalidades específicas (defesa nacional,
educação, saúde, etc.).

De acordo com a classificação orgânica a despesa pública é


discriminada por órgão ou instituição do Estado responsável pela
execução da despesa. Como vantagens, a adopção deste critério
permite: identificar, de uma forma

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

fácil e directa, o departamento/ministério responsável pela execução


de cada bloco de despesa e, assim, avaliar o seu contributo e
desempenho no cumprimento dos objectivos e políticas do Governo.

Por último, a classificação territorial permite o registo da despesa


segundo a divisão territorial do país (Central, Provincial e Distrital).

4.2 Classificação Económica da Despesa

A classificação económica da despesa pública atende apenas à


natureza económica. De acordo com o período de tempo em que
produzem os seus efeitos, segundo a classificação económica, as
despesas públicas podem subdividir-se em:

 Despesas Correntes

Todas aquelas que o Estado faz no decurso de determinado ano e que


se esgotam nesse mesmo ano, nomeadamente as despesas com os
vencimentos dos funcionários públicos ou aquisição de bens não
duradouros necessários para o funcionamento dos serviços das
administrações, ou ainda as transferências correntes de pensões de
reforma e de outros subsídios destinados, sobretudo, ao
funcionamento do consumo privado das famílias.

As despesas correntes abarcam cinco grupos agregados principais


(vide a tabela abaixo): (i) as despesas com o pessoal; (ii) bens e
serviços necessários ao funcionamento das instituições; (iii) os
encargos da dívida interna e externa; (iv) as transferências; (v)
subsídios e; (vi) outras despesas. Um grupo complementar, o sexto,
compreende despesas referentes ao(s) exercício(s) findo(s).

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Categoria da despesa Descrição

1.1 Despesas com o Englobam os salários, as remunerações e


Pessoal outros abonos que o Estado paga aos
titulares de cargos políticos e outros agentes
que prestam serviços ao Estado, aos agentes
militares e paramilitares. Subdividem-se e,
dois grupos desagregados: (i) salários e (ii)
remunerações e outras despesas com o
pessoal.

1.2 Bens e Serviços Este grupo agregado de despesa subdivide-


se em Bens e Serviços. A diferença entre
esses dois grupos consiste na possibilidade
de exercício de propriedade. Assim, os bens
tornam-se propriedade do Estado quando
adquiridos, enquanto que os serviços não.

1.3 Encargos da Os encargos da dívida englobam os juros, as


Dívida comissões bancárias e outras despesas
decorrentes da contratação ou utilização de
empréstimos contraídos pelo Estado, no país
ou fora dele. Incluem, portanto, juros
internos e juros externos. Note que os
reembolsos ou as amortizações dos
empréstimos (o principal) são contabilizados
como despesas de capital e não como
encargos da dívida, mais concretamente
operações financeiras passivas.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Categoria da despesa Descrição

1.4 Transferências e Estas são prestações sem contrapartida, ou


seja, prestações gratuitas. São transacções
1.5 Subsídios
através das quais o governo central fornece
bens, serviços ou activos a um outro agente,
sem que em contrapartida receba qualquer
bem ou serviço desse agente ou do
beneficiário. As transferências podem ser em
espécie (bens e serviços). Os subsídios são
uma forma de transferência a empresas,
privadas ou públicas, destinadas ao alcance
do seu equilíbrio financeiro ou garantir níveis
de preços de certos produtos ou serviços
básicos inferiores aos custos de produção.

1.6 Outras Despesas Agregam-se neste grupo agregado as


Correntes despesas não classificáveis nos grupos
anteriores. Tais despesas incluem, por
exemplo: a dotação provisional cuja gestão é
da responsabilidade directa do Ministro das
Finanças para fazer face às despesas
correntes não previstas e inadiáveis.

1.7 Exercícios Findos As despesas não pagas dentro do período


complementar e as dos exercícios
económicos findos são agregados neste
grupo. Incluem-se os salários e
remunerações do pessoal, outras despesas
com o pessoal, bens e serviços.

90
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 Despesas de Capital

Corresponde as despesas realizadas num determinado ano mais cujos


efeitos se prolongarão nos períodos seguintes, que englobam não só a
construção e compra de bens duradouros (investimentos em capital
fixo – infrastruturas, equipamentos, máquinas, tecnologia…) como as
compras de acções ou reembolsos de empréstimos ou mesmo as
transferências de capital que irão contribuir para a formação bruta de
capital fixo dos outros agentes económicos.

As despesas de capital dividem-se em três grupos desagregados: (i)


bens de capital; (ii) transferências de capital, e (iii) outras despesas de
capital.

4.3 Determinantes da Despesa Pública – Teorias Explicativas

Algumas hipóteses sobre o comportamento dinâmico das despesas


públicas têm sido formuladas. Ainda que Adam Smith tenha observado
a tendência da evolução dos gastos públicos, foi com a sugestão de
Adolph Wagner que uma hipótese de explicação deste fenómeno se
tornou verificável. Sobre o mesmo assunto, pode-se também destacar
as contribuições de Peacock/Wiseman e Musgrave/Rostow/Herber.

1. A Lei de Wagner

A lei de Wagner diz que com o crescimento da renda de um país, o


sector público ganha maior participação na economia, ou seja, o
sector público cresce a taxas maiores do que a economia como um
todo. As explicações para esse fenómeno são: (i) crescimento traz
maiores demandas por bens públicos e semi-públicos, tais como ruas,
hospitais, etc; (ii) aumento das necessidades relacionadas com o bem-
estar (educação, saúde, previdência social, etc.); (iii) surgimento de
estruturas de competição imperfeita, com necessidade de maior
intervenção governamental.

91
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Por detrás destes argumentos compreende-se que a renda per capita,


a população, a densidade demográfica, o grau de urbanização são
variáveis importantes na análise e determinação do crescimento da
despesa pública nas diferentes funções exercidas pelo Estado.

2. Contribuição de Peacock e Wiseman

Para Peacock e Wiseman (1961), o crescimento dos gastos deriva das


possibilidades de obtenção de recursos. Em face de períodos
particulares de instabilidade na sociedade (como guerras), os agentes
públicos, a coberto desses momentos, alteram quer a estrutura dos
gastos quer a formalidade das receitas. Ultrapassadas essas fases
extraordinárias, há uma fase de ajustamento recíproca (entre agentes
públicos e o conjunto dos restantes agentes económicos) mas com
uma fraca possibilidade de que a estrutura, sobretudo, dos gastos
regresse ao padrão anterior.

A hipótese de explicação deste fenómeno, segundo Peacock e


Wiseman (1961), está patente no facto de que os agentes económicos
se ajustam a um determinado nível de fiscalidade em períodos de
estabilidade social o que condiciona a evolução (taxas de crescimento)
das despesas efectuadas pelo Estado.

3. Contribuição de Musgrave, Rostow e Herber

Estes autores relacionam o crescimento dos gastos públicos com os


estágios de crescimento do país. Nos estágios iniciais do
desenvolvimento haveria maior demanda por gastos do governo
(estradas, educação, saúde, etc.). Nos estágios intermediários de
desenvolvimento haveria uma demanda para que o sector público
desempenhasse um papel de complementaridade dos investimentos
privados. Por fim, em estágios de maior desenvolvimento, os gastos
públicos voltam a crescer novamente (em relação aos investimentos

92
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

privados) devido a factores similares aos contidos na lei de Wagner.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. De forma simples, podemos definir Orçamento do Estado como


sendo um documento no qual:
a) Estão previstas as receitas e despesas.
b) Estão fixadas as receitas e previstas as despesas.
c) Estão fixadas as despesas e previstas as receitas.
d) Estão fixadas as receitas e as despesas.

2. “A totalidade de receitas orçamentais deve servir para


financiar a totalidade das despesas orçamentais”. Está
afirmação é referente ao seguinte princípio/regra orçamental:
a) Especificação.
b) Equilíbrio.
c) Não compensação
d) Universalidade

3. “As receitas e as despesas devem ser inscritas pelos seus


valores brutos”. Nesta frase está subjacente o seguinte
princípio/regra orçamental:
a) Não consignação.
b) Especificação.
c) Não compensação.
d) Universalidade.

4. No contexto da discussão sobre classificação e estrutura de


despesa, referimos que em Moçambique, a despesa pública é
classificada de acordo com criterios:

93
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) Funcional, económica, orgânica e programática.


b) Sectorial, orgânica, territorial e económica.
c) Distrital, provincial, funcional e orgânica.
d) Económica, orgânica, funcional e territorial.

5. De acordo com o período de tempo em que produzem os seus


efeitos, segundo a classificação económica, as despesas
públicas podem subdividir-se em:
a) Despesas patrimoniais e despesas efectivas.
b) Despesas efectivas e despesas correntes.
c) Despesas correntes e despesas de capital.
d) Despesas de investimento e despesas patrimoniais.

6. No estudo dos determinantes de crescimento da despesa


pública, Wagner formulou uma lei explicativa do crescimento
da despesa pública, segundo a qual:
a) Com o crescimento da renda de um país, o sector público
ganha maior participação na economia, isto é, o sector público
cresce a taxas maiores que a economia como um todo.
b) Com a industrialização de um país, o sector público reduz o seu
papel na provisão de bens públicos e semi-públicos.
c) O crescimento dos gastos públicos deriva das possibilidades de
obtenção de recursos.
d) O crescimento das despesas públicas resulta do aumento das
necessidades relacionadas com o bem-estar (educação, saúde,
previdência social, etc).

7. Os modelos macroeconómicos procuram analisar o


crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. Os
modelos que tentam associar o crescimento dos gastos
públicos com os estágios de crescimento do país foram
desenvolvidos por:
a) Peacock, Wiseman e Wagner.

94
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

b) Adolph Wagner.
c) Peacock, Wiseman e Herber.
d) Musgrave, Rostow e Herber.

8. Dentre vários fenómenos que explicam o crescimento da


despesa pública, Wagner apontou os seguintes:
a) Industrialização dos países através da substituição das
importações.
b) Surgimento de estruturas de competição imperfeita, com
necessidade de maior intervenção governamental.
c) Crescente militarização das nações.
d) Redução da taxa de crescimento populacional.

9. Analisando, historicamente, o sector público tem, ao longo do


último século, aumentado as suas funções no plano económico
e social. Uma das razões básicas para que isto suceda prende-
se com:
a) Crises económicas a escala mundial.
b) Necessidade de estruturação e afirmação do processo de
industrialização, no caso dos países subdesenvolvidos.
c) Crescente militarização das nações.
d) Redução da taxa de crescimento populacional.

10. As contribuições de Musgrave, Rostow e Herber no tange às


explicações do crescimento da despesa pública é indiscutível.
Para explicar o crescimento da despesa pública estes autores
associam:
a) A renda per capita com níveis de crescimento dos gastos
públicos.
b) O crescimento dos gastos públicos com os estágios de
crescimento do país.
c) A demanda por bens públicos e semi-públicos com crescimento
dos gastos públicos.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

d) Os estágios de desenvolvimento com a necessidade de maior


intervenção governamental.

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. “O Orçamento do Estado é um documento no qual estão


previstas as receitas a arrecadar e fixadas as despesas a realizar
num determinado exercício económico”. Partindo desta
definição explique porquê no orçamento as receitas são
previstas e as despesas são fixadas.

2. Considerando as regras ou princípios de organização


orçamental:
a) Justifique a sua importância no processo orçamental
Moçambicano.
b) Escolha três delas, caracterize-as e explique as razões da
existência de eventuais excepções legais ao seu cumprimento.

3. Em qualquer orçamento, a despesa pública deve ser


classificada, simultaneamente, segundo diversos criterios. Diga
qual a importância da distinção entre a classificação funcional e
orgânica da despesa.

4. No contexto da despesa pública, Wagner formulou teorias


sobre o comportamento dinâmico das despesas públicas. Ainda
sobre o mesmo assunto, Musgrave, Rostow e Herber
apresentaram suas contribuições.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

a) Enuncie a Lei de Wagner


b) Apresente as diferenças entre o pensamento de Wagner com
autores como Musgrave, Rostow e Herber no que toca aos
factores explicativos do crescimento da despesa pública.

5. Tomando em consideração a situação da economia


moçambicana, reflicta sobre os possíveis determinantes do
crescimento da despesa pública entre (2014-2015). Qual é a
teoria que melhor se enquadra para explicar tal tendência?

UNIDADE TEMÁTICA II: EXECUÇÃO, FISCALIZAÇÃO E


CONTROLO DO ORÇAMENTO DO ESTADO. A CONTA
GERAL DO ESTADO

INTRODUÇÃO

Após a aprovação no Parlamento, a promulgação presidencial e a


respectiva publicação (em Boletim da República, tal como qualquer
outro diploma legal), o orçamento entra em vigor, isto é, começa a ser
executado. Tal significa, em termos muito simples, que ao longo de
doze meses vão ser obtidas as receitas previstas (natureza e
montantes) de modo a realizar as despesas fixadas (natureza e
montantes) e desta forma concretizar os objectivos, as prioridades e
as metas da política orçamental e das políticas sectoriais.

Ainda durante esta actividade, faz-se o acompanhamento e controle


administrativo da execução do Orçamento do Estado, por foma a
prevenir, detectar ou corrigir problemas, erros e irregularidades.
Pretende-se, desta forma, assegurar a subordinação da administração
financeira à política financeira do governo.

A presente unidade apresenta o processo da execução orçamental


evidenciando as suas regras. Adicionalmente, iremos abordar o
processo de fiscalização e controlo do orçamento olhando para o

97
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

papel de cada instituição neste processo. Por último, iremos descrever


o processo da elaboração da Conta Geral do Estado.

Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Enunciar as regras gerais de execução do orçamento;

Objectivos  Explicar as regras de execução das despesas e das receitas;


Específicos
 Identificar as instituições responsáveis pela fiscalização e
controlo do orçamento assim como da elaboração da Conta
Geral do Estado;

 Descrever os resultados, constrangimentos e desafios do


SISTAFE na gestão financeira do Estado.

2.1 Execução Orçamental

Entende-se por execução orçamental ao conjunto de actos e


operações de gestão financeira e de tesouraria praticados para cobrar
as receitas e realizar as despesas inscritas ou para prover ao respectivo
ajustamento.

2.2 Execução do Orçamento – Regras Gerais

Para dar inicio á execução orçamental, o Governo aprova as


disposições que se mostrem necessárias, sem prejuízo da imediata
aplicação das normas da Lei do Orçamento do Estado que sejam
directamente exequíveis.

Compete ao Governo executar e fazer executar o orçamento, sendo


para tal coadjuvado pelo conjunto da Administração Pública. A
execução orçamental deverá obedecer a dois princípios básicos: o da
utilização mais racional possível das dotações orçamentais aprovadas
e o da melhor gestão de tesouraria.

98
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Na execução do orçamento, o Governo deverá respeitar as leis em


geral (legalidade genérica) e o próprio orçamento (legalidade
especifica):

 Não poderá liquidar e cobrar, nem inscrever no orçamento,


uma receita que não esteja autorizada por lei. A cobrança de
um imposto pode, todavia, superar o montante inscrito no
orçamento, já que, ao contrário das despesas, para as quais são
fixadas limites máximos, as receitas são uma previsão. Podem
variar de acordo com a conjuntura económica e outros factores
que estão fora do controlo do Governo.

 Não poderá realizar despesas que, além de terem base legal,


não se encontrem inscritas no orçamento ou não tenham
cabimento na correspondente verba orçamental, isto é,
superem o montante de verba fixado no orçamento.

A obrigatoriedade das receitas cobradas e das despesas efectuadas


terem que estar necessariamente inscritas no orçamento chama-se
tipicidade orçamental. De referir que a tipicidade orçamental
apresenta naturezas distintas, consoante se trate do orçamento das
despesas ou do orçamento das receitas:

 No caso das receitas, apenas se condiciona a espécie de receita


que poderá ser inscrita no orçamento (tipicidade qualitativa),
não o seu montante.

 No caso das despesas, pelo contrário, impõem-se limites aos


montantes que poderão ser gastos (tipicidade quantitativa).
Elas não poderão exceder as dotações globais fixadas no
orçamento: são autorizadas em espécie e em quantidade.

99
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

2.2.1 Fases da Execução do Orçamento

Uma vez aprovado o orçamento e iniciado o ano económico,


começam-se a cobrar as receitas e a pagar despesas. O processo de
execução orçamental compreende a execução de receitas e a
realização das despesas.

a) Execução das Receitas

Na execução de receitas deve-se respeitar o princípio da legalidade.


Ela só pode ser cobrada se não ferir as leis em geral e a própria Lei
Orçamental. A receita só poderá ser cobrada se tiver existência legal e
se estiver inscrita no orçamento.

A execução das receitas compreende as três fases seguintes:

 Lançamento e procedimento administrativo de verificação da


ocorrência do facto gerador da obrigação;

 Liquidação, cálculo do montante da receita devida e


identificação do respectivo sujeito passivo;

 Cobrança, acção de cobrar, receber ou tomar posse da receita


e subsequente entrega ao Tesouro Público.

b) Execução das Despesas

Na realização das despesas a lei estabelece as despesas só poderão ser


assumidas durante o ano económico para o qual estiveram
orçamentadas e deverão respeitar os princípios de economia
(minimização dos custos), eficiência (maximizar os resultados), e
eficácia (obtenção dos resultados pretendidos).

O processo de execução das despesas é bastante mais complexo que o


das receitas. Em primeiro lugar, a despesa tem de ser legal, tem de
estar inscrita numa classe e verba prevista no Orçamento do Estado, e
tem de ter cabimento orçamental (ou seja, tem de haver verba

100
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

disponível). No caso das despesas obrigatórias, a utilização da dotação


orçamental - do montante inscrito na rubrica de despesa - é
obrigatória, enquanto que no caso das despesas facultativas a sua
utilização é opcional.

A realização das despesas compreende as três fases seguintes:

 Cabimento, acto administrativo de verificação, registo e cativo


do valor do encargo a assumir pelo Estado;

 Liquidação, apuramento do valor que efectivamente há a pagar


e emissão da competente ordem de pagamento;

 Pagamento ou entrega de importância em dinheiro ao titular


do documento de despesa.

As despesas que sejam reconhecidas judicialmente no exercício em


curso, pertencentes a exercícios anteriores mas neles não liquidadas,
são pagas na rubrica adequada do Orçamento do Estado desse
exercício em curso.

Pode ser autorizada a realização de despesas sob o regime de


adiantamentos em numerário, denominado fundo de maneio, para
atender despesas cujos valores sejam de pequena monta e para as
quais se dispense o cumprimento do normal processo de realização de
despesas.

Compete ao Governo aprovar, quer os limites máximos para a


realização das despesas a que se refere o parágrafo anterior, quer as
dotações a este regime sujeitas, quer ainda á regulamentação sobre a
sua concessão, aplicação e prestação de contas.

3. Fiscalização e Controlo da Execução Orçamental

Durante o ano económico faz-se a fiscalização e controle


administrativo da execução do orçamento do Estado, de forma a
prevenir, detectar ou corrigir problemas, erros e irregularidades.

101
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Pretende-se, desta forma, assegurar a subordinação da administração


financeira à política financeira do governo. Mais concretamente, que:

 A arrecadação e afectação de recursos seja feita de acordo com


o que vem estipulado no orçamento do Estado, de forma a
evitar-se uma má utilização dos dinheiros públicos e a
ocorrência de desperdícios;

 Os objectivos que se pretende alcançar com a execução


orçamental, e que vêm definidos no Plano Económico e Social
(PES), estejam a ser efectivamente cumpridos.

3.1 Fiscalização do Orçamento

A fiscalização do orçamento é um processo que consiste em averiguar


se os serviços cumpriram a sua obrigação de cobrar as espécies de
receitas previstas no Orçamento do Estado, bem como verificar se
cada uma das despesas realizadas pelos serviços está prevista no
Orçamento do Estado e se cabe na respectiva dotação.

Uma vez executado o orçamento e aprovada a Conta Geral do Estado,


chega o momento de prestação de contas: de se detectarem os erros e
as irregularidades cometidas durante a execução orçamental e de se
apurarem responsabilidades.

Para tal, procede-se a fiscalização da actividade dos órgãos e


funcionários autorizados a cobrar receitas e a realizar gastos, os quais
respondem civil, criminal e disciplinarmente pelos actos ou omissões
que pratiquem no âmbito do exercício das suas funções de execução
orçamental.

A fiscalização visa assegurar que a execução orçamental não sofra


desvios, cumprindo-se assim os objectivos e a estratégia definidos no
orçamento. Procura-se garantir que o Executivo se mantém dentro
dos limites impostos pela lei - os quais foram determinados pela
Assembleia da Republica aquando da

102
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

aprovação da Lei do Orçamento - e evitar o desperdício e a má


utilização dos dinheiros públicos.

A fiscalização tem normalmente em vista as despesas, uma vez que o


montante das receitas é uma estimativa e esta sujeito a variações,
dependendo da conjuntura económica, entre outros factores. A sua
fiscalização é, por isso, menos rigorosa: limita-se a averiguar se as
receitas foram correctamente liquidadas e contabilizadas.

No caso das despesas, confere-se a sua legalidade, regularidade e


cabimento orçamental (fiscalização material), bem como o respeito
pelos princípios de economia, eficiência e eficácia (fiscalização
económica).

Em Moçambique a fiscalização do orçamento é feita pelo Tribunal


Administrativo (fiscalização jurisdicional), pela Assembleia da
República (fiscalização politica) e pela própria Administração Pública
(fiscalização administrativa):

 Compete ao Tribunal Administrativo fiscalizar as despesas


públicas e apreciar as contas do Estado.

 Cabe, por sua vez, á Assembleia da República pronunciar-se e


decidir sobre o relatório de execução do orçamento do Estado
elaborado pelo Tribunal Administrativo.

 Por último, a entidade responsável pela gestão e execução do


orçamento, as entidades hierarquicamente superiores e de
tutela, os serviços de contabilidade pública e os órgãos gerais
de inspecção têm o dever e a obrigação de acompanhar,
inspeccionar e controlar a execução orçamental.

NOTA: A fiscalização jurisdicional assume uma especial importância,


não só pela sua "forca", mas também pelo facto de depender de um
órgão externo e independente do Governo. Garante-se, assim, a
separação do poder executivo e

103
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

jurídico, essencial para o funcionamento de qualquer democracia.

É preciso salientar que a fiscalização não incide apenas sobre a Conta


Geral do Estado - não é feita somente depois de ser executado o
orçamento. Ela é também realizada ao longo da própria execução
orçamental. Trata-se, neste caso, de uma fiscalização prévia, por
oposição a fiscalização sucessiva, que se traduz numa verificação da
legalidade e da regularidade das receitas e da realização das despesas.

3.2 Controlo Orçamental

O controlo orçamental é um processo que consiste na verificação da


legalidade e regularidade de toda e qualquer receita cobrada e
despesa realizada segundo princípios estabelecidos pela legislação
atinente a matéria.

O controlo orçamental de dinheiros públicos tem duas ordens de


fundamentos: I) fundamentos jurídico-políticos - assegurar que o
executivo se mantém dentro do limite da lei e dos que lhe foram
assinalados pelo parlamento, através da aprovação de lei do
orçamento e II) fundamentos económicos - evitar os desperdícios e a
má utilização dos recursos públicos. Por isso, o controlo pode assumir
as formas de controlo jurídico-político ou controlo económico,
constante o predomínio de um ou de outro tipo de critério

No plano jurídico, o controlo pode assumir duas formas principais:


fiscalização e responsabilização. Fala-se de fiscalização (ou inspecção)
quando um órgão ou entidade pratica os actos necessários para
prevenir, apurar ou corrigir erros ou irregularidades da execução
orçamental e ajustar aos objectivos. Fala-se de responsabilização
quando o objectivo do controlo é o apuramento de eventuais erros ou
irregularidades, quer para ilibar as entidades controladas, quer para
promover a respectiva efectivação das formas de responsabilidade
que ocorrem.

104
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

No controlo em geral podem ser distinguir o controlo genérico e o


especifico. O controlo genérico recorre aos meios ou instrumentos
comuns para fiscalizar eventuais ocorrências negativas ou para apurar
as respectivas responsabilidades. Assim, por exemplo, pode-se exercer
o controlo financeiro por via da tutela administrativa ou da
efectivação da responsabilidade disciplinar, ou o controlo jurisdicional
dos crimes, mediante inquérito preliminar ou processo-crime, ou o
controlo politico-parlamentar, mediante interpelações, perguntas ao
governo, requerimentos parlamentares, monções de censura ou
inquéritos parlamentares.

O controlo financeiro específico é exercido por meios próprios,


exclusivos e adequados á actividade financeira, este é fundamental na
actuação política ou administrativa dos órgãos do Estado.

NOTA: o controlo pode ser feito dentro de uma instituição (Controlo


Interno) ou fora dela (Controlo Externo). Ainda referir que destacam-
se dois tipos de controlo interno. O Controlo Interno
Contabilístico/financeiro que visa garantir a fiabilidade dos registos,
facilitar revisão das opções financeiras autorizadas pelos responsáveis
e a salvaguarda dos activos. O Controlo Interno Administrativo que
compreende o controlo hierárquico e dos procedimentos e registos
relacionados com o processo de tomada de decisões e, portanto,
planos, politicas, e objectivos definidos pelos responsáveis.

O controlo Interno da execução orçamental é feito pelas entidades


responsáveis pela gestão e execução do orçamento, as entidades
hierarquicamente superiores e de tutela, os serviços de contabilidade
pública e os órgãos gerais de inspecção.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

3.3 A Conta Geral do Estado

Define-se a Conta Geral do Estado como um documento no qual estão


apresentadas as receitas arrecadadas e as despesas efectuadas num
determinado ano económico, assim como os devedores e credores
existentes no fim do ano.

Ela tem pôr objecto evidenciar a execução orçamental e financeira,


bem como apresentar o resultado do exercício e a avaliação do
desempenho dos órgãos e instituições do Estado e deve ser
apresentada anualmente à Assembleia da República pelo Governo.

A Conta Geral do Estado evidenciará os ordenadores e gestores de


despesas inscritos em “Responsabilidades Diversas” em decorrência
de irregularidades apuradas nos processos de prestação de contas ou
da não apresentação dos mesmos. A Conta Geral do Estado:

 Deve ser elaborada com clareza, exactidão e simplicidade, de


modo a possibilitar a sua análise económica e financeira;

 Deve reflectir a observância do grau de cumprimento dos


princípios de regularidade financeira, legalidade,
economicidade, eficiência e eficácia na obtenção e aplicação
dos recursos públicos colocados à disposição dos órgãos e
instituições do Estado;

 Deve ser elaborada com base nos princípios e regras de


contabilidade geralmente aceitas, tendo em vista reflectir a
situação financeira e os resultados da execução orçamental dos
órgãos e instituições do Estado.

O artigo 50 da Lei 09/2002 – Lei do SISTAFE, estabelece como prazos


referentes à apresentação e aprovação da Conta Geral do Estado os
seguintes:

106
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 O Governo deve apresentar à Assembleia da República e ao


Tribunal Administrativo a Conta Geral do Estado, até ao dia 31
de Maio do ano seguinte àquele a que a referida conta
respeite;

 O relatório e o parecer do Tribunal Administrativo sobre a


conta Geral do Estado devem ser enviados à Assembleia da
República até ao dia 30 de Novembro do ano seguinte àquele
em que a Conta Geral do Estado respeite;

 A Assembleia da República aprecia e aprova a Conta Geral do


Estado, na sessão seguinte à entrega do Relatório e Parecer
pelo Tribunal Administrativo.

4. SISTAFE na Macro-Gestão Financeira do Estado

Em Junho de 2001 foi aprovada a "Estratégia Global de Reforma do


Sector Público". Como parte integrante deste programa de reforma foi
iniciada a implementação do programa de modernização da
Administração Financeira do Estado - 1, através de vários estudos
efectuados.

A Lei 9/2002, de 12 de Fevereiro de 2002, denominada de Lei do


SISTAFE, redirecciona o Sistema de Gestão das Finanças Públicas para
uma nova filosofia de gestão orçamental, financeira e patrimonial
integrada, descentralizada e com abrangência à todos os Órgãos e
Instituições do Estado, alicerçada num sistema de contabilidade em
partidas dobradas.

Considera-se por Sistema de Administração Financeira do Estado


(SISTAFE) – o conjunto de órgãos, subsistemas, normas e
procedimentos administrativos que tornam possível a obtenção da
receita, a realização da despesa e a gestão do património do Estado,
incluindo suas aplicações e

107
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

correspondentes registos. Compreende também a obtenção e gestão


das receitas que não determinem alterações ao património do Estado.

Do ponto de vista de aplicabilidade, o SISTAFE aplica-se a todas as


instituições e agências do Estado, incluindo aquelas com autonomia
administrativa e financeira. Também é aplicável às empresas públicas
(Empresas do Estado) e às autarquias, excepto em relação à prestação
de contas, que é governada por regulamentação específica.

Convém salientar que ainda dentro do SISTAFE temos o e-SISTAFE –


que é um pacote informático que suporta o SISTAFE e atende a todos
os procedimentos previstos no regulamento do SISTAFE e nos seus
instrumentos complementares.

4.1 Objectivos do SISTAFE

O Sistema de Administração Financeira do Estado (SISTAFE), foi criado


através da Lei 09/2002 e regulamentado pelo Decreto 23/2004 e tem
os seguintes objectivos:

 Estabelecer e harmonizar regras e procedimentos de


programação, gestão, execução, controlo e avaliação dos
recursos públicos;

 Desenvolver subsistemas que proporcionem informação


oportuna e fiável sobre o comportamento orçamental e
patrimonial dos órgãos e instituições do Estado;

 Estabelecer, implementar e manter um sistema contabilístico


de controlo da execução orçamental e patrimonial, adequado
às necessidades de registo, da organização da informação e da
avaliação do desempenho das acções desenvolvidas no
domínio da actividade financeira dos órgãos e instituições do
Estado;

108
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

 Estabelecer, implementar e manter o sistema de controlo


interno eficiente e eficaz e procedimentos de auditoria interna,
internacionalmente aceitos;

 Estabelecer, implementar e manter um sistema de


procedimentos adequados a uma correcta, eficaz e eficiente
condução económica das actividades resultantes dos
programas, projectos e demais operações no âmbito da
planificação programática delineada e dos objectivos
pretendidos.

4.2 Princípios Fundamentais do SISTAFE

O SISTAFE, no seu funcionamento, rege-se por um conjunto de


princípios fundamentas, designadamente:

 Regularidade financeira - execução do orçamento do Estado


em harmonia com as normas vigentes e mediante o
cumprimento dos prazos estabelecidos;

 Legalidade – observância das normas legais vigentes;

 Economicidade – utilização racional dos recursos


disponibilizados, bem como uma melhor gestão de tesouraria;

 Eficiência - minimização dos desperdícios para a obtenção dos


objectivos delineados.

4.3 Os Subsistemas do SISTAFE

O SISTAFE é composto por 5 subsistemas, nomeadamente:

1. Subsistema do Orçamento do Estado (SOE)

2. Subsistema do Tesouro Público (STP)

109
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

3. Subsistema da Contabilidade Pública (SCP)

4. Subsistema do Património do Estado (SPE)

5. Subsistema do Controlo Interno (SCI)

4.4 Estrutura funcional dos subsistemas

Os órgãos e instituições do Estado exercem suas funções, no âmbito


do SISTAFE, por intermédio de unidades funcionais, designadas de
subsistemas, assim denominadas:

1) Unidade se Supervisão (US) – São responsáveis pela orientação


e supervisão técnica do Subsistema a que pertence, sendo que
nos Órgãos Centrais e em todos os Órgãos Locais (Províncias)
existe uma única Unidade de Supervisão para cada Subsistema
do SISTAFE, também responsável pela normalização do
Subsistema a que pertence.

2) Unidades Intermédias (UI) - São especializadas numa ou em


mais funções em cada Subsistema e representam o elo de
ligação entre a US e as Unidades Gestoras Executoras,
possibilitando a aplicação do princípio da desconcentração dos
procedimentos dos macro- processos do SISTAFE, sendo que
nos Órgãos Centrais e em todos os Órgãos Locais (Províncias)
existe uma UI para cada Subsistema do SISTAFE, classificadas
como sectoriais, provinciais ou distritais, de acordo com a
necessidade de desconcentração.

3) Unidade Gestora Executora – (UGE) - são órgãos e instituições


do Estado que têm a capacidade administrativa de executar os
procedimentos estabelecidos nos macro processos do SISTAFE
e apoiam as Unidades Gestoras Beneficiárias - UGB a ela
vinculadas.

110
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

4) Unidade Gestora Beneficiária (UGB) - São todos os órgãos e


instituições do Estado destinatários de uma parcela do
Orçamento do Estado ou detentora de uma parcela do
Património do Estado, não tendo a capacidade de execução
orçamental e financeira no e-SISTAFE precisando, para tanto,
do apoio das Unidades Gestoras Executoras – UGE, e sendo de
competência das UGB’s.

4.5 Conta Única do Tesouro – CUT

A Conta Única do Tesouro “ é uma conta bancária de tipo piramidal


com as necessárias subcontas, através da qual se movimenta quer a
arrecadação e cobrança de receitas quer o pagamento de despesas,
seja qual for proveniência” (Artigo 74 do Decreto n° 23/2004, que
aprova o regulamento do SISTAFE). É vedada a abertura de contas
bancária de que seja unicamente titular qualquer órgão ou instituição
do Estado.

A CUT é estruturado no Plano Básico de Contabilidade Pública em que


cada órgão o instituição do Estado tem uma conta contabilística que
representa a sua parcela na CUT. Os saldos das disponibilidades da
CUT deverão ser igual aos saldos das contas contabilísticas
representativas da CUT no Plano Básico de Contabilidade Pública
(PBCP).

A CUT é movimentada por transacções no e-SISTAFE e trata da


cobrança de receitas e pagamentos de despesas liquidadas ou
adiantamento de fundos.

Importa referir que o Banco de Moçambique, no seu papel de Caixa de


Estado é responsável pela administração, supervisão e manutenção de
regras de funcionamento da CUT.

111
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

4.6 Modalidade de execução da despesa

As despesas financiadas por recursos que transitam pela CUT serão


executadas pelas UGE’s por intermédio de uma das seguintes
modalidades:

 Como regra, “Via Directa”, que tem como principais


características o cumprimento das três fases da despesa
(cabimento, liquidação e pagamento) em ordem sequencial
compulsória, sendo que tanto o cabimento quanto o
pagamento são direccionados aos beneficiários finais
(fornecedores, prestadores de serviços, etc.);

 Excepcionalmente, “Via Indirecta”, com a utilização dos


instrumentos especiais “Adiantamento de Fundos” UGB –
consiste na entrega de numerário a determinada UGB, pela
execução do Orçamento por uma UGE que a apoie. No caso da
“via indirecta”a realização de despesas pelas UGE’s faz-se a
partir da requisição de fundos apresentada pelas UGB’s.

4.7 Resultados, Constrangimentos e Desafios do SISTAFE

A aprovação do SISTAFE resultou da reforma do sistema de


administração financeira herdado da administração colonial, de forma
a introduzir legislação e modelos de gestão mais adequados às
necessidades de uma administração pública moderna.

Volvidos mais de 10 anos de implementação do SISTAFE, pode-se, de


forma genérica, apontar-se alguns resultados, constrangimentos e
desafios do SISTAFE.

1. Resultados do SISTAFE

 Na Politica Cambial: Devido a manutenção da moeda


estrangeira na Conta Única do Tesouro, no Banco de

112
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Moçambique, tem proporcionado uma estabilidade cambial,


aumentando as disponibilidades financeiras em moedas
estrangeiras no BM.

 Na Execução Tributária: optimização da receita,


nomeadamente, no que tange a: (i) Obrigatoriedade do uso do
NUIT na execução da despesa, contribuindo para o
alargamento d base tributaria; (ii) Maior visibilidade dos
pagamentos efectuados aos fornecedores do Estado,
contribuindo para o controlo fiscal; e (iii) Retenção na fonte do
IRPS para funcionários públicos e serviços de consultoria.

 Na Politica Fiscal: Com a unificação da tesouraria do Estado


através da Conta Única do Tesouro (CUT), passou a registar-se
melhorias no controlo de liquidez, resultando em maior
disponibilidade de recursos para o Tesouro Publico. Deixou de
existir imobilização de recursos destinados ao pagamento dos
fornecedores do Estado. Passou haver maior controlo
financeiro e consequente redução da emissão de Bilhetes de
Tesouro, resultando num maior controlo da política monetária.

 Pagamento de Salários e Pensões: A utilização da base de


dados específicos no e-SISTAFE para o pagamento de salários e
pensões contribui em grande medida no seguinte: (i) Redução
do número de funcionários e pensionistas “fantasmas”; (ii)
Pagamento directo no domicílio bancário dos funcionários e
pensionistas do Estado; e (iii) Transparência e disponibilização
das informações sobre direitos e obrigações remuneratórias.

De um modo geral pode-se dizer que o SISTAFE teve como resultados:

(i) Melhoria na gestão das finanças públicas;

(ii) Melhoria da informação sobre os gastos públicos;

113
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

(iii) Redução de riscos de desvio dos fundos;

(iv) Aumento da racionalidade na utilização de fundos públicos

(v) Maior flexibilidade na tramitação de processos administrativos;

(vi) Aumento da eficiência no intercâmbio institucional com outros


órgãos do Estado.

2. Constrangimentos do SISTAFE

Do ponto de vista de constrangimentos enfrentados pelo SISTAFE


pode-se elencar os seguintes:

 Insuficiência de instituições bancárias nas zonas rurais impede


a implementação do SISTAFE;

 Fraco domínio das tecnologias de informação por parte dos


funcionários que lidam com o sistema;

 Fraca expansão das redes de telecomunicações e das


tecnologias de informação a nível nacional;

 Para realização duma despesa por via deste sistema impõe-se


que intervenha pelo menos três usuários, onde na ausência de
um inviabiliza o encerramento do ciclo completo duma
despesa.

3. Desafios do SISTAFE

Partindo dos constrangimentos do SISTAFE pode-se identificar


como desafios os seguintes:

 Implementação do SISTAFE em todo o país (a nível provincial e


distrital);

 Expansão das redes de comunicação e telecomunicações em

114
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

todo o território nacional;

 Bancarização de todos os distritos e das zonas rurais;

 Formação e capacitação dos funcionários públicos em matéria


do SISTAFE, e-SISTAFE e das tecnologias de informação
principalmente para aqueles funcionários que lidam
directamente com SISTAFE e o e-SISTAFE.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. A execução orçamental pode ser definida como um processo


de:
a) Discussão e aprovação do orçamento de Estado.
b) Fiscalização das receitas e despesas inscritas no orçamento.
c) Arrecadação de receitas e realização de despesas.
d) Acompanhamento do processo orçamental.

2. A execução das receitas obedece as seguintes fases:


a) Legalidade, tipicidade e regularidade financeira.
b) Lançamento, liquidação e cobrança.
c) Liquidação, cobrança e Verificação.
d) Cobrança, verificação e tipicidade.

3. A execução das despesas compreende as seguintes fases:


a) Cabimento, liquidação e pagamento
b) Lançamento, liquidação e cobrança
c) Cabimento, lançamento e cobrança
d) Lançamento, cabimento e pagamento

4. Em Moçambique a fiscalização do orçamento é feita por várias


instituições. Todavia, a fiscalização de cada uma delas tem

115
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

denominação específica. Assim, a fiscalização feita pelo


Tribunal Administrativo denomina-se:
a) Fiscalização administrativa.
b) Fiscalização política.
c) Fiscalização político-administrativa.
d) Fiscalização jurisdicional.

5. O controlo orçamental é um processo que consiste na


verificação da legalidade e regularidade das receitas e
despesas. Ele pode ser feito dentro de uma instituição
denominando-se:
a) Controlo contabilístico.
b) Controlo financeiro.
c) Controlo interno.
d) Controlo administrativo.

6. O SISTAFE criado pela Lei 09/2002, de 12 de Fevereiro e


regulamentado pelo Decreto 23/2004, de 20 de Agosto - visa
essencialmente assegurar uma gestão integrada de finanças
públicas. Deste modo, ela aplica-se as:
a) Instituições do sector privado empresarial
b) Instituições e agências do Estado.
c) Empresas públicas e as autarquias.
d) Instituições não-governamentais.

7. O SISTAFE, no seu funcionamento, rege-se por um conjunto de


princípios fundamentais, nomeadamente:
a) Regularidade financeira, legalidade, economicidade e
eficiência.
b) Tipicidade, legalidade, eficiência, eficácia.
c) Boa governação, accountability, transparência, eficiência.
d) Transparência, eficiência, eficácia, legalidade.

116
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

8. Do ponto de vista de resultados, a implementação do SISTAFE


trouxe melhorias na administração pública destacando-se os
seguintes:
a) Aumento dos desvios de fundos públicos.
b) Melhoria na gestão das finanças públicas.
c) Aumento do volume de exportações.
d) Melhoria na informacao sobre os gastos públicos.

9. Do ponto de vista de constrangimentos do SISTAFE, pode-se


apontar os seguintes:
a) Aumento da racionalidade na utilização de fundos públicos
b) Fraco cometimento dos gestores públicos
c) Insuficiência de instituições bancárias na zonas rurais que
impede a implementação do SISTAFE.
d) Fraca expansão das redes de telecomunicações e das
tecnologias de informacao a nível nacional.

10. No tocante aos desafios, o SISTAFE apresenta os seguintes:


a) Implementação do SISTAFE na cidade da Beira.
b) Implementação do SISTAFE em todo o país (a nível provincial e
distrital).
c) Bancarização das zonas rurais.
d) Geração de empregos a nível rural e distrital.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. Depois da aprovação do orçamento do Estado pela Assembleia


da República segue-se a fase da execução orçamental.
Apresente as regras gerais da execução do orçamento.

2. A execução orçamental visa a arrecadação de receitas e


realização de despesas. Descreve de forma clara e breve as
fases que compreendem a execução das receitas e a execução
das despesas.

3. Durante e depois da execução orçamental algumas instituições


do Estado, dotadas desse direito, iniciam o processo de
fiscalização e controlo do orçamento. Explique porquê a
fiscalização tem normalmente em vista as despesas.

4. Em Moçambique a fiscalização do orçamento é feita pelo


Tribunal Administrativo, pela Assembleia da República e pela
própria Administração Pública. Argumente porque se diz que a
fiscalização feita pelo Tribunal Administrativo assume especial
importância.

5. “O SISTAFE resulta de um processo de reformas no sector


público com vista a introdução de uma legislação e modelos de
gestão mais adequados a uma administração pública mais
moderna e actualizada”. Apresente os principais resultados,
constrangimentos e desafios do SISTAFE.

6.

118
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

Exercícios INTEGRADOS DE AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. “A totalidade de receitas orçamentais deve servir para


financiar a totalidade das despesas orçamentais”. Está
afirmação é referente ao seguinte princípio/regra orçamental:
a) Especificação.
b) Equilíbrio.
c) Não compensação
d) Universalidade

2. “As receitas e as despesas devem ser inscritas pelos seus


valores brutos”. Nesta frase está subjacente o seguinte
princípio/regra orçamental:
a) Não consignação.
b) Especificação.
c) Não compensação.
d) Universalidade.

3. Dentre vários fenómenos que explicam o crescimento da


despesa pública, Wagner apontou os seguintes:
a) Industrialização dos países através da substituição das
importações.
b) Surgimento de estruturas de competição imperfeita, com
necessidade de maior intervenção governamental.
c) Crescente militarização das Nações.
d) Redução da taxa de crescimento populacional.

4. A execução orçamental pode ser definida como um processo


de:
a) Discussão e aprovação do orçamento de Estado.
b) Fiscalização das receitas e despesas inscritas no orçamento.

119
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

c) Arrecadação de receitas e realização de despesas.


d) Acompanhamento do processo orçamental.

5. Em Moçambique a fiscalização do orçamento é feita por várias


instituições. Todavia, a fiscalização de cada uma delas tem
denominação específica. Assim, a fiscalização feita pelo
Tribunal Administrativo denomina-se:
a) Fiscalização administrativa.
b) Fiscalização política.
c) Fiscalização político-administrativa.
d) Fiscalização jurisdicional.

120
ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Editora, Cap.3, pp. 58-64.

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 Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M., Santos, J.C.G. (2009).


Economia e Finanças Públicas, 3ª Edição. Escolar Editora, Parte
IV, pp. 405-453.

 Ribeiro, J.J. Teixeira. (1997). Lições de Finanças Públicas, 5ª


Edição, refundida e actualizada. Coimbra Editora, pp.50-79; 91-
101.

 Sousa Franco, A.L. (1995). Finanças Públicas e Direito


Financeiro, Vol.1, Cap.V, pp. 335-342; pp.408-415; 427-440.

 Wandschneider, T. S. (1998-99). Apontamentos de Finanças


Públicas. Universidade Eduardo Mondlane (UEM), pp. 42-73.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

TEMA IV: DÍVIDA PÚBLICA

UNIDADE TEMÁTICA I: GENERALIDADES SOBRE A DÍVIDA


PÚBLICA

INTRODUÇÃO

No sentido de financiar a existência de défices orçamentais, as


autoridades podem recorrer a várias formas de financiamento. Entre
as mais usadas pelo Estado para obter recursos financeiros, quando as
despesas orçamentais são superiores às receitas orçamentais num
determinado ano, importa destacar as seguintes: a emissão de divida
publica; a alienação de património do Estado (por exemplo, venda de
imóveis ou privatização de empresas públicas); ou ainda o
financiamento monetário junto do Banco Central.

Moçambique tem podido cumprir com o serviço da sua dívida externa


apenas devido aos sucessivos reescalonamentos e ao perdão parcial
ou total concedido por alguns países credores.

Desde 1984, Moçambique beneficiou de várias operações de


reescalonamento da sua dívida no âmbito do Clube de Paris que
congrega a maioria dos países credores. Estes acordos apenas
abrangem a dívida pública bilateral e resultam no adiamento dos
pagamentos a efectuar e, em certos casos, numa redução da taxa de
juro.

A presente unidade, a única deste tema, aborda aspectos gerais


ligados a dívida pública. Ainda nesta unidade iremos abordar as
necessidades de financiamento do Estado, e por último, instrumentos
da divida pública.

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Ao completar esta unidade, espera-se que você seja capaz de:

 Distinguir a dívida pública da dívida externa;

Objectivos  Enunciar as vantagens e desvantagens do endividamento


Específicos
público

 Enumerar os instrumentos da dívida pública interna.

4.1 Conceito de Dívida Pública

A Divida Pública “compreende as obrigações financeiras assumidas em


virtude de leis, contratos e acordos e da realização de operações de
crédito” (Artigo 56 da Lei 09/2002 – Lei do SISTAFE).

De forma genérica, entende-se por dívida, “uma quantia emprestada


acrescida de juros, com uma previsão de pagamento futuro” (Grupo
Moçambicano da Divida, 2006).

4.2 Formas de Dívida Pública

A dívida pública, pode dizer-se, que tem as formas do crédito e dos


empréstimos que lhe dão origem. Assim, a dívida pública poderá ser
interna ou externa, consoante seja interno ou externo o respectivo
empréstimo.

A Lei 9/2002 de 12 de Fevereiro - Lei do Sistema de Administração


Financeira do Estado (SISTAFE) - define a Dívida Pública Interna como:

“aquela que é contraída pelo Estado com entidades de direito


público ou privado, com residência ou domiciliadas no País, e
cujo pagamento é exigível dentro do território nacional”.

A mesma lei 09/2002 define a Dívida Pública Externa como:

“aquela que é contraída pelo Estado com outros Estados,


organismos internacionais ou outras

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entidades de direito público ou privado, com residência ou


domicílio fora do País, e cujo pagamento é exigível fora do
território nacional”.

A dívida externa poderá reportar-se a situações passivas do Estado


relativamente às instituições monetárias e financeiras internacionais,
caso em que se designa de dívida internacional.

4.3 Dívida Interna Vs. Dívida Externa

Dada a importância e peso da dívida pública externa, que representa a


quase totalidade da dívida pública moçambicana, é pertinente fazer-
se aqui uma exposição dos principais argumentos que estão
normalmente presentes neste debate.

Segundo (Waty, 2004) a dívida pública externa, na óptica de credor,


poder ser do tipo comercial, bilateral ou multilateral:

 A dívida comercial, refere-se aos empréstimos contraídos junto


de bancos comerciais estrangeiros, a taxas de juro de
mercado;

 A dívida bilateral, por sua vez, resulta dos empréstimos


provenientes de outros Estados (por exemplo, a Dinamarca,
através da DANIDA e o Canadá, através da CIDA);

 Por último a dívida multilateral é consequência da contracção


de empréstimos junto de instituições financeiras multilaterais
(por exemplo, o Banco Mundial, o FMI e o Banco Africano de
Desenvolvimento).

No caso das dívidas bilateral e multilateral, trata-se de empréstimos


concessionais, ou seja, de empréstimos com uma taxa de juro muito
inferior à de mercado e que beneficiam de condições vantajosas de
pagamento, como sejam, um longo período de graça e prazos de
amortização muito dilatados. Fazem parte, conjuntamente com os

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donativos, que não implicam qualquer encargo para o Estado, da


ajuda externa.

4.4 Vantagens e Desvantagens do Endividamento

4.4.1 Vantagens

A dívida pública externa, proveniente de poupanças externas implica


um aumento dos recursos financeiros totais disponíveis para o
financiamento do investimento nacional que permite um mais rápido
crescimento económico.

Tal já não sucede no caso dos empréstimos internos. O recurso a este


tipo de empréstimos por parte do Estado absorve poupanças internas,
reduzindo assim o volume dos recursos financeiros disponíveis para o
sector privado.

Outra potencial vantagem do endividamento externo consiste no


aumento da disponibilidade de divisas para o país devedor,
contribuindo para o financiamento dos défices na balança de
transacções correntes e um aumento das reservas externas do Banco
Central.

Uma terceira vantagem dos empréstimos públicos externos,


nomeadamente daqueles que têm um carácter concessional, consiste
no seu baixo custo e condições favoráveis de amortização. A
concessionalidade dos empréstimos bilaterais e multilaterais torna-os
particularmente atractivos para os países de baixo rendimento que
não dispõem de recursos suficientes para suportar os juros de
mercado e cumprir com as condições de amortização associadas aos
empréstimos comerciais internos e externos.

Em resumo, podemos apontar com vantagens do endividamento:

 Aumento da disponibilidade de recursos para financiar um

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investimento;

 Entrada de divisas; e

 Concessionalidade dos empréstimos bilaterais e multilaterais

4.4.2 Desvantagens

O endividamento externo apresenta várias desvantagens em relação


ao endividamento interno (Waty, 2004):

 O serviço de dívida pública externa implica uma saída de


dinheiro do país. Na dívida pública interna, pelo contrário, a
amortização do capital e o pagamento de juros representam
uma transferência a favor de agentes económicos nacionais. O
dinheiro fica no país. Por outras palavras, as gerações futuras
pagam a si próprias os juros e o capital.

 A acumulação de dívida pública externa gera uma crescente


drenagem de divisas do país, com reflexos negativos na
balança de transacções correntes (pagamento dos juros) e na
balança de capitais (amortização do capital).

 Com a desvalorização da moeda e da inflação a dívida externa


sofre um agravamento cada vez que a moeda nacional se
desvaloriza, já que serão necessárias mais unidades de moeda
nacional para pagar os juros e o capital em moeda externa. Por
outro lado, o valor real da dívida pública externa não diminuiu
com a inflação.

Resumindo, podemos apontar como desvantagens do endividamento


público externo:

 O serviço da dívida implica saída de dinheiro do país;

 Impacto negativo do serviço da dívida na Balança de

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Pagamentos;

 Efeitos negativos da desvalorização da moeda nacional e


ausência dos efeitos positivos da inflação no valor real da
dívida.

4.4.3 Necessidades de Financiamento do Estado

A existência de um défice orçamental não significa, por si só, que num


determinado país exista algum problema ao nível das contas públicas.
Com efeito, o facto de o Estado ter, em cada, necessidades
orçamentais que são totalmente cobertas com as receitas habituais,
como sejam os impostos e as contribuições para a segurança social,
pode ser justificado, até certa medida, de um ponto de vista de
racionalidade económica.

As necessidades anuais de financiamento surgem da soma de várias


componentes, sendo, em princípio, o défice orçamental a mais
importante. Assim sendo, num determinado ano, o Estado terá que
recorrer ao mercado de capitais, essencialmente através da emissão
de dívida pública para fazer face às suas necessidades de
financiamento (NF). Essas decorrem da eventual existência de um
défice orçamental ou da amortização da dívida pública existente.

De um modo geral existem três razões principais para o


endividamento público interno:

I. Financiamento do défice orçamental. Se o Governo não for


capaz de fazer face aos seus compromissos de despesas a
partir de receitas mobilizadas a nível nacional, tais como
impostos e direitos, e de doações e empréstimos de fontes
externas, pode então contrair empréstimo a nível nacional.

Em Moçambique, assim como em muitos países menos desenvolvidos,


receitas públicas tem estado aquém do volume de despesas fixadas,

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

havendo então a necessidade de se recorrer a outras fontes.

O recurso ao endividamento interno para o financiamento do défice é


tomado como o último recurso. Último recurso porque quando se
recorre à dívida interna penaliza-se o sector privado, pois este fica sem
recursos suficientes para financiar os seus investimentos.

II. Implementação da Política Monetária. O Governo pode


implementar a política monetária através comprando ou
vendendo títulos do tesouro – através das operações de
mercado aberto. A venda de títulos do tesouro por parte do
Estado reduz a oferta de moeda e absorve a liquidez, pois as
pessoas e as instituições compram títulos de tesouro e ficam
assim com menos dinheiro, ao passo que a compra de títulos
do tesouro por parte do estado injectam dinheiro na economia,
pois as pessoas vendem títulos do tesouro e ficam com mais
dinheiro.

III. Desenvolvimento do sistema financeiro. Para desenvolver e


aprofundar os mercados do sector financeiro é necessário
haver uma oferta e uma gama firme de instrumentos de
instrumentos financeiros a transaccionar. No início deste
processo o governo oferece geralmente títulos do tesouro de
curto prazo, que proporcionam uma rentabilidade certa e
desenvolvem a confiança dos investidores nos instrumentos
públicos de dívida. Consequentemente, o aprofundamento do
mercado financeiro pode ser conseguido através da oferta de
instrumentos de mais longo prazo com estruturas diversas de
taxas de juro (fixas e flutuantes).

Importa salientar que o valor dos títulos emitidos é fixado em moeda


nacional, mas casos há em que os valores são convertidos para moeda
externa. Neste segundo caso, além dos encargos derivados da taxa de

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juros, há que ter em conta a taxa de câmbios, dados os riscos de sua


flutuação.

4.4.4 Instrumentos de Dívida Pública

Quando se fala de dívida pública, muitas vezes não se percebe qual o


conceito usado. Em termos gerais a dívida pública interna engloba o
conjunto de títulos emitidos pela Administração Pública, no mercado
de capitais, no sentido de captar os recursos necessários para financiar
a existência de défices orçamentais.

Existem dois instrumentos principais que os governos emitem no


processo de contratação de empréstimos internos: títulos de tesouro e
obrigações de tesouro.

 Título de Tesouro – títulos de crédito emitidos a breve data


pelo governo, geralmente vendidos a desconto em vez de
pagarem juros, com um vencimento de um ano ou inferior a
um ano. Também é possível os títulos de tesouro pagarem
juros no termo do prazo de pagamento e serem emitidos ao
par (100% do valor facial).

 Obrigações de Tesouro – instrumento de médio e longo prazo


emitidos ao par (100% do valor facial) e com juros pagáveis
anual ou semestralmente.

Para além destes instrumentos de dívida pública, existe em alguns


países, como é o caso de Portugal, os Certificados de Aforro (CA). Estes
instrumentos visam a captação de poupanças das famílias e são
distribuídos directamente juntos dos particulares. Têm montantes
mínimos de subscrição reduzidos, não são negociáveis e a sua
transmissão só se efectua por falecimento do titular. Os juros vencidos
em cada trimestre são capitalizados sendo possível resgatar os títulos
após a primeira capitalização de juros.

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. A divida pública compreende as obrigações financeiras


assumidas em virtude de leis, contratos e acordos e da
realização de operações de crédito. Ela pode assumir duas
formas principais:
a) Interna ou externa.
b) Nacional ou internacional.
c) Variável ou fixa.
d) Amortizável ou perpétua.

2. Existem dois instrumentos principais usados pelo governo para


a contratação de empréstimos internos, são eles:
a) Títulos de tesouro e papel-moeda.
b) Obrigações de tesouro e títulos de tesouro.
c) Taxas de juro e taxas de câmbio.
d) Emissão da moeda e taxa de juro.

3. Na óptica de credor a dívida externa pode ser classificada nos


seguintes termos:
a) Dívida multilateral, divida bilateral, divida comercial.
b) Dívida amortizável, divida multilateral, divida perpétua.
c) Dívida fundada, divida interna, divida externa
d) Dívida comercial, dívida fundada, dívida bilateral.

4. A dívida, pese embora implique a redução de recursos


financeiros no futuro para o país, face ao serviço da dívida, ela
apresenta algumas vantagens. Dentre várias vantagens do
endividamento externo, pode-se apontar as seguintes:
a) Entrada de divisas

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b) Amortização da dívida
c) Aumento da disponibilidade de recursos para financiar
investimentos.
d) Apreciação da moeda externa reduzindo os juros da dívida.

5. As necessidades anuais de financiamento surgem da soma de


várias componentes, dente várias, em princípio, destaca-se:
a) A ocorrência de calamidades naturais.
b) O défice orçamental.
c) O equilíbrio orçamental.
d) Desvio de fundos públicos.

6. No âmbito da contratação de empréstimos internos existem


dois instrumentos principais de divida públicos usados pelos
governos, nomeadamente:
a) Operações de mercado aberto
b) Operações cambiais
c) Taxas de juro e taxas de câmbio
d) Títulos de tesouro e obrigações de tesouro.

Exercícios de AVALIAÇÃO

Caro estudante, responda de forma clara e objectiva as questões que


se seguem.

1. O que entendes por dívida pública?


a) Indique as formas que uma dívida pode assumir.
b) Apresente as diferenças as formas de dívida mencionada na
alínea a).

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2. Apresente de forma clara as diferenças entre a dívida


comercial, dívida bilateral e dívida multilateral.

3. Indique as vantagens e desvantagens do endividamento


externo

4. No tocante ao endividamento, de um modo geral, pode-se


apontar três principais razoes para o endividamento público
interno. Apresente a principal razão que levado o governo
moçambicano a contrair a divida publica interna.

5. Identifique os instrumentos da dívida pública e mostre a


diferença existente entre eles.

Exercícios – PREPARAÇÃO PARA O EXAME

Marque V as afirmações verdadeiras e F as afirmações falsas

1. A palavra latina finis é apontada como sendo a raiz etimológica


do termo finanças através duma evolução pelo qual, nos
séculos XII e XIV. Modernamente, as finanças públicas referem-
se:
a) A utilização de meios financeiros próprios para a satisfação de
necessidades colectivas e individuais.
b) Ao processo de aquisição e utilização de meios financeiros
pelas entidades públicas.
c) A arrecadação de receitas e realização de despesas.
d) Receitas públicas e despesas públicas.

2. O Estado tem as suas finanças, sem dúvida; mas também têm


as suas finanças os particulares. A grande diferença entre
finanças publicas e finanças privadas reside no facto de:
a) As finanças privadas as empresas terem a prerrogativa de

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cobrar impostos;
b) Nas finanças públicas as receitas determinaram o volume de
despesas;
c) As empresas privadas poderem recorrer ao empréstimo
bancário;
d) Os impostos constituírem o meio de financiamento específico
para o Estado.

3. A teoria da tributação baseia-se em dois princípios


fundamentais:
a) Harmonia e eficiência
b) Equidade e eficácia
c) Neutralidade e equidade
d) Eficácia e equilíbrio.

4. A técnica tributária apresenta 5 fases, designadamente:


a) Incidência fiscal, determinação da matéria colectável, fixação
da taxa, liquidação do imposto e cobrança.
b) Incidência fiscal, avaliação da taxa, fixação da taxa, liquidação
do imposto e cobrança.
c) Avaliação da taxa, determinação da matéria colectável,
liquidação do imposto, fixação da taxa e cobrança.
d) Incidência fiscal, liquidação do imposto, cobrança, avaliação
fiscal e fixação da taxa.

5. Em Moçambique a tributação tem como um dos grandes fins:


a) Satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas.
b) Garantir a segurança e ordem públicas.
c) Arrecadar receitas e realizar despesas.
d) Financiar o sector privado criando um bom ambiente de
negócios.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

6. No âmbito dos fundamentos/argumentos para intervenção


pública, a classificação clássica evidencia apenas dois
objectivos da intervenção pública, designadamente, a
promoção da:
a) Eficácia e equidade.
b) Eficiência e equidade.
c) Estabilidade e eficiência.
d) Transparência e boa governação.

7. A economia do bem-estar apresenta dois teoremas


fundamentais. O primeiro teorema refere-se que com
mercados perfeitos, o livre funcionamento do mercado garante
uma afectação óptima de recursos. Ou seja, a um equilíbrio (ou
óptimo) de:
a) Walras.
b) Pareto.
c) Kaldor.
d) Wagner.

8. Diz-se que existe uma situação “Óptimo de Pareto” quando:


a) Não há melhoria da situação de nenhum agente económico
b) Há melhoria da situação de todos agentes económicos.
c) Não é possível melhorar a situação de um agente sem piorar a
situação de qualquer outro agente económico.
d) Todos os agentes económicos estão numa situação pior.

9. As falhas de Mercado constituem o primeiro e um dos maiores


argumentos para a intervenção pública. Constituem exemplos
de falhas de mercado os seguintes casos:
a) Concorrência perfeita, bens primários, bens públicos.
b) Informação simétrica, poder de mercado, economias de escala.
c) Externalidades, bens públicos, assimetrias de informação.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

d) Concorrência perfeita, externalidades, bens públicos.

10. Na presença de falhas, o mercado apresenta a seguinte


característica:
a) Alocação eficiente de recursos.
b) Afectação ineficiente de recursos.
c) Equilíbrio óptimo de Pareto.
d) Equilíbrio geral na economia.

11. Os bens públicos definem-se pelas seguintes características:


a) Não-rivalidade, impossibilidade de exclusão, não-
rejeitabilidade.
b) Não-rivalidade, rejeitabilidade, impossibilidade de exclusão.
c) Exclusão, rejeitabilidade, possibilidade de exclusão.
d) Provisão pública, produção privada, provisão privada

12. Os modelos macroeconómicos procuram analisar o


crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo. Os
modelos que tentam associar o crescimento dos gastos
públicos com os estágios de crescimento do país foram
desenvolvidos por:
a) Peacock, Wiseman e Wagner.
b) Adolph Wagner.
c) Peacock, Wiseman e Herber.
d) Musgrave, Rostow e Herber.

13. A execução orçamental pode ser definida como um processo


de:
a) Discussão e aprovação do orçamento de Estado.
b) Fiscalização das receitas e despesas inscritas no orçamento.
c) Arrecadação de receitas e realização de despesas.
d) Acompanhamento do processo orçamental.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

14. Em Moçambique a fiscalização do orçamento é feita por várias


instituições. Todavia, a fiscalização de cada uma delas tem
denominação específica. Assim, a fiscalização feita pelo
Tribunal Administrativo denomina-se:
a) Fiscalização administrativa.
b) Fiscalização política.
c) Fiscalização político-administrativa.
d) Fiscalização jurisdicional.

15. A dívida pública compreende as obrigações financeiras


assumidas em virtude de leis, contratos e acordos e da
realização de operações de crédito. Ela pode assumir duas
formas principais:
a) Interna ou externa.
b) Nacional ou internacional.
c) Variável ou fixa.
d) Amortizável ou perpétua.

16. As necessidades anuais de financiamento surgem da soma de


várias componentes, dente várias, em princípio, destaca-se:
a) A ocorrência de calamidades naturais.
b) O défice orçamental.
c) O equilíbrio orçamental.
d) Desvio de fundos públicos.

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ISCED CURSO: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; 2° Ano Módulo: FINANÇAS PÚBLICAS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 Do Amaral, J.F., Louça, F., Ferreira, C., Fontaínha, E., Caetano,


G., Santos, S. (2002). Introdução à Macroeconomia, Escolar
Editora, Cap.3, pp. 71-82.

 Lei n° 09/2002 de 12 de Fevereiro. Lei que cria o Sistema de


Administração Financeira do Estado (SISTAFE).

 Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M., Santos, J.C.G. (2009).


Economia e Finanças Públicas, 3ª Edição. Escolar Editora, Parte
V, pp. 507-511.

 Waty, T.A. (2004). Introdução ao Direito Fiscal. W&W Editora,


Lda. Maputo.

137

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