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Justiça Federal da 3ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

22/07/2022

Número: 5009739-51.2022.4.03.6100
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 25ª Vara Cível Federal de São Paulo
Última distribuição : 29/04/2022
Valor da causa: R$ 180.520,77
Assuntos: IRPF/Imposto de Renda de Pessoa Física, Suspensão da Exigibilidade, Repetição de
indébito, Alimentação
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
A. C. P. H. (AUTOR) PAULA SEABRA PARISOT GUTERRES (REPRESENTANTE)
DAVID KASSOW (ADVOGADO)
J. C. P. H. (AUTOR) DAVID KASSOW (ADVOGADO)
PAULA SEABRA PARISOT GUTERRES (REPRESENTANTE)
UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
25504 29/06/2022 12:26 Decisão Decisão
2517
PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7) Nº 5009739-51.2022.4.03.6100 / 25ª Vara Cível Federal de São Paulo
AUTOR: A. C. P. H., J. C. P. H.
REPRESENTANTE: PAULA SEABRA PARISOT GUTERRES
Advogado do(a) AUTOR: DAVID KASSOW - SP162150,
Advogado do(a) AUTOR: DAVID KASSOW - SP162150,
REU: UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL

DECISÃO

Vistos etc.

Trata-se de PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA formulado em


sede de Ação Ordinária proposta por ANA CLARA PARISOT HABER, menor impúbere, e
JOSÉ CLEMENTE PARISOT HABER, menor impúbere, ambos representados por sua
genitora PAULA SEABRA PARISOT HABER, visando a obter provimento jurisdicional que
determine a suspensão da “cobrança de imposto de renda sobre quantias recebidas pelos
autores a título de pensão alimentícia até o julgamento final da presente demanda”.

Narram os autores que nasceram em 06/04/2011 e são filhos de PAULA SEABRA


PARISTO e RICHARD CLEMENT HABER, já falecido.

Afirmam que, em meados de 2014, seus pais se divorciaram e o genitor passou a


pagar, a título de pensão alimentícia, o valor mensal de R$ 40.000,00 mensais para ambos os
filhos. Relatam que, após o falecimento de seu pai, em 05/11/2016, a obrigação alimentar
passou para a avó paterna (alimentos avoengos).

Alegam que, tal como a maioria do E. Supremo Federal definiu, é inconstitucional a


cobrança de imposto de renda incidente sobre valor recebido a título de alimentos. “E ainda
que fosse constitucional, não se trata de hipótese de incidência do referido imposto”.

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Sustentam que “a presente demanda se presta à declaração de inexistência de imposto
de renda incidente sobre valores recebidos a título de alimentos, condenando a ré em restituir
todos os valores pagos pelos Autores a este título e ordenando à ré que se abstenha de cobrar
dos autores o imposto de renda sobre valores percebidos a título de alimentos”.

Com a inicial vieram documentos.

Determinado o recolhimento das custas processuais (ID 249140711).

Houve emenda à inicial (ID 249248029).

A apreciação do pedido de tutela provisória de urgência foi postergada para após a


vinda da contestação (ID 249560409).

Citada, a União Federal apresentou contestação (ID 253973086). Alega, em síntese,


que os valores recebidos a título de pensão alimentícia sofrem incidência do imposto de renda,
uma vez que a prestação não se destina a recompor o patrimônio do alimentando, consistindo
em acréscimo patrimonial.

Vieram os autos conclusos.

É o breve relato, decido.

Objetivam os autores/alimentandos a declaração de inexigibilidade de imposto de


renda sobre os valores recebidos a título de pensão alimentícia.

Pois bem.

Os valores pagos a título de pensão alimentícia, por se revestirem da natureza


remuneratória, estão sujeitos ao pagamento de imposto de renda (TRF3, Apelação Cível –
1439290/SP, Terceira Turma, Desembargador Federal Relator ANTONIO CEDENHO, DJ
17/12/2015), com possibilidade de dedução desses valores do imposto de renda devido, nos
termos do artigo 8º, inciso II, alínea “f”, da Lei n. 9.250/95, que regula o imposto de renda das
pessoas físicas, in verbis:

Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no ano-calendário será a diferença entre as


somas:

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(...)

II - das deduções relativas:

(...)

f) às importâncias pagas a título de pensão alimentícia em face das normas do Direito de


Família, quando em cumprimento de decisão judicial, inclusive a prestação de alimentos
provisionais, de acordo homologado judicialmente, ou de escritura pública a que se refere
o art. 1.124-A da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil”.

Assim, a legislação prevê a possibilidade de dedução do valor pago do imposto de


renda devido pelo alimentante.

A situação é diversa quanto ao alimentando.

Quanto a este, o E. STF afastou a incidência do IR.

Deveras, recentemente (em 03/06/2022), o E. Supremo Tribunal Federal concluiu o


julgamento da ADI 5422 e, por maioria, conheceu em parte da ação direta e, quanto à parte
conhecida, julgou procedente o pedido formulado, de modo a dar ao art. 3º, § 1º, da Lei nº
7.713/88, ao arts. 4º e 46 do Anexo do Decreto nº 9.580/18 e aos arts. 3º, caput e § 1º; e 4º do
Decreto-lei nº 1.301/73 interpretação conforme à Constituição Federal para afastar a
incidência do imposto de renda sobre valores decorrentes do direito de família percebidos
pelos alimentados a título de alimentos ou de pensões alimentícias, nos termos do voto do
Relator, vencidos parcialmente os Ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin e Nunes Marques,
que conheciam em parte da ação e, no mérito, julgavam-na parcialmente procedente, nos
termos de seus votos - Plenário, Sessão Virtual de 27.5.2022 a 3.6.2022 (
www.portal.stf.jus.br)

Desse modo, deve ser afastada a incidência do imposto de renda sobre valores
decorrentes do direito de família percebidos pelos alimentados a título de alimentos ou de
pensões alimentícias, conforme julgado do E. STF.

Isso posto, DEFIRO O PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA


para afastar a incidência do imposto de renda sobre os valores percebidos pelos autores
(alimentandos) a título de pensão alimentícia.

À réplica.

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Sem prejuízo, especifiquem as partes as provas que pretendem produzir,
justificando-as.

Int.

SãO PAULO, 27 de junho de 2022.

5818

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