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Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

04/08/2023

Número: 0019816-89.2017.4.01.3400
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: Vice Presidência
Órgão julgador: Gab. Vice Presidência
Última distribuição : 11/09/2019
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0019816-89.2017.4.01.3400
Assuntos: Contribuições Previdenciárias
Objeto do processo: 198168920174013400
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
EMBRAER S.A. (APELANTE) JOSE PAULO DE CASTRO EMSENHUBER (ADVOGADO)
FAZENDA NACIONAL (APELADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
23340 24/06/2022 15:09 Acórdão Acórdão
5047
JUSTIÇA FEDERAL
Tribunal Regional Federal da 1ª Região

PROCESSO: 0019816-89.2017.4.01.3400 PROCESSO REFERÊNCIA: 0019816-89.2017.4.01.3400


CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)
POLO ATIVO: EMBRAER S.A.
REPRESENTANTE(S) POLO ATIVO: JOSE PAULO DE CASTRO EMSENHUBER - SP72400-A
POLO PASSIVO:FAZENDA NACIONAL
RELATOR(A):NOVELY VILANOVA DA SILVA REIS

PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 23 - DESEMBARGADOR FEDERAL NOVÉLY VILANOVA
Processo Judicial Eletrônico

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0019816-89.2017.4.01.3400

RELATÓRIO

Fls. 427-34: A sentença recorrida (23.01.2018) rejeitou os pedidos da


autora/Embraer S.A. na ação de conhecimento para:

1) compensar os salários maternidade/paternidade (como prevê o art. 72, §


1º, da Lei 8.213/1991) durante a prorrogação das respectivas licenças
estabelecidas pela Lei 11.770/2008 de 60 dias e de 15 dias, respectivamente;
e

2) desobrigar, por inexistência de relação jurídica, de recolher as


contribuições previdenciária, adicionais e terceiros (Incra, Fnde e entidades do
sistema “S” e o Fundo Aeroviário instituído pela Lei 5.989/1973) sobre a
mencionada prorrogação das licenças, bem como restituir/compensar o
correspondente indébito.

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O julgado concluiu, em resumo, que a prorrogação das licenças maternidade
e paternidade, caracteriza-se como “benefício fiscal”, cabendo apenas deduzir
do imposto de renda devido.

Fls. 440-70: A autora apelou alegando, em resumo, que “embora


regularmente aceitas pela Ré (i) a dedução no IRPJ devido dos salários
maternidade e paternidade (Lei n° 11.770/2008, art. 5°), e (H) a redução nas
Contribuições Previdenciárias Patronais devidas dos valores totais pagos às
empregadas nos 120 (cento e vinte) dias de licença maternidade (Lei n°
8.213/91, art. 72, §1°), a mesma aceitação não é verificada quanto ao
tratamento previdenciário-tributário para os valores pagos às empregadas e
empregados na prorrogação de suas licenças maternidade e paternidade, de
60 (sessenta) e 15 (quinze) dias, respectivamente.”

Fls. 476-85: A União/ré respondeu ao recurso.

VOTO - VENCEDOR

PODER JUDICIÁRIO
Processo Judicial Eletrônico
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
Gab. 23 - DESEMBARGADOR FEDERAL NOVÉLY VILANOVA

APELAÇÃO CÍVEL (198) n. 0019816-89.2017.4.01.3400

VOTO

Salário maternidade

“É inconstitucional a incidência da contribuição previdenciária a cargo do


empregador sobre o salário maternidade” - RE/RG 576.967-PR, r. Ministro
Roberto Barroso Plenário em 05.08.2020.

Diante disso, é indevida a exigência de contribuição previdência durante a

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prorrogação da corresponde licença maternidade por 60 dias prevista no art.
1º/I da Lei 11.770/2008. É irrelevante que a autora/empregadora possa
deduzir esse encargo no imposto de renda devido (art. 5º).

Salário paternidade

Conforme a tese vinculante fixada pelo STJ REsp 1.230.957-RS, r. Ministro


Mauro Campbell Marques, 1ª Seção em 13.03.2014. É exigível as
contribuições previdenciária e de terceiro sobre o salário paternidade durante
todo o período da licença, inclusive de sua prorrogação. Mesmo porque a Lei
8.212/1991 não tratou disso. A tese fixada no RE/RG 576.967-PR aplica-se
somente ao salário maternidade.

A pretendida equiparação tributária depende de lei específica, nos termos do


art. 150, § 6º, da Constituição:

“Art. 150 (...) § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo,


concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos,
taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica,
federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima
enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

As contribuições previdenciárias e de “intervenção no domínio econômico” (de


terceiros: Incra, Fnde, entidades do Sistema “S” e do Fundo Aeroviário
instituído pela Lei 5.989/1973) têm a mesma base de cálculo: a folha de
salário (Lei 8.212/1991, art. 21 – RE 396.266-SC, Plenário em 26.11.2003).
Por isso ambas incidem sobre verbas salariais e não incidem sobre verbas
indenizatórias.

Conforme a Lei 8.212/1991, toda empresa paga contribuição de 20% sobre a


folha de salário (art. 22/I). Não existe uma contribuição autônoma para o
RAT, senão um adicional de 1% a 3% sobre essa mesma base (art.
22/II). Desse modo, a contribuição e seus adicionais não podem
incidir sobre as verbas indenizatórias.

Compensação

Sendo indevidas as contribuições, a compensação do indébito observará a lei


vigente na época de sua efetivação (limites percentuais, os tributos
compensáveis etc.), após o trânsito em julgado (REsp repetitivo 1.164.452-
MG, r. Ministro Teori Albino Zavaski, 1ª Seção/STJ em 25.08.2010).

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...

1. A lei que regula a compensação tributária é a vigente à data do encontro de


contas entre os recíprocos débito e crédito da Fazenda e do contribuinte.
Precedentes.

2. Em se tratando de compensação de crédito objeto de controvérsia judicial,


é vedada a sua realização "antes do trânsito em julgado da respectiva decisão
judicial", conforme prevê o art. 170-A do CTN, vedação que, todavia, não se
aplica a ações judiciais propostas em data anterior à vigência desse
dispositivo, introduzido pela LC 104/2001.

Juros moratórios

É devida a repetição do indébito dos cinco anos anteriores ao ajuizamento,


incidem somente juros moratórios mensais equivalentes à taxa selic desde o
recolhimento, nos termos do art. 39, § 4º da Lei 9.250/1995, não podendo ser
cumulados com correção monetária.

Nesse sentido: REsp 879.479-SP, r. Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma


do STJ:

4. Nos casos de repetição de indébito tributário, a orientação prevalente no


âmbito da 1ª Seção quanto aos juros pode ser sintetizada da seguinte forma:

... após a edição da Lei 9.250/95, aplica-se a taxa SELIC desde o


recolhimento indevido, ou, se for o caso, a partir de 1º.01.1996, não
podendo ser cumulada, porém, com qualquer outro índice, seja de
atualização monetária, seja de juros, porque a SELIC inclui, a um só tempo, o
índice de inflação do período e a taxa de juros real.

Honorários

Proferida a sentença depois da vigência do NCPC em 18.03.2016, a verba


honorária é fixada sucessivamente nessa ordem: (1º) sobre o valor da
condenação, (2º) do proveito econômico mensurável obtido pelo vencedor ou
(3º) valor atualizado da causa (art. 85, § 2º).

É ilíquido este acórdão condenatório de repetição/compensação, caso em que


os honorários são calculados sobre o valor correspondente e o percentual
somente será definido depois da liquidação do julgado, quando conhecido o
valor para o enquadramento em cada “faixa” a que se refere o art. 85, § 3º do
CPC e seus incisos:

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Art. 85...

...

§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos


honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os
seguintes percentuais:

§ 4o Em qualquer das hipóteses do § 3o:

...

II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos


previstos nos incisos I a V, somente ocorrerá quando liquidado o julgado;

Havendo sucumbência parcial, uma parte pagará a outra reciprocamente os


honorários que lhe couber, porque é vedada a compensação (CPC art. 85, §
14).

DISPOSITIVO

Dou parcial provimento à apelação para reformar a sentença, desobrigando


a autora de recolher as contribuições previdenciária, adicionais e de terceiros
(salário-educação, Incra, Sebrae, Sistema “S” e Fundo Aeroviário) sobre o
salário maternidade durante a prorrogação da licença por 60 dias.

É devida a restituição do indébito acrescida de juros moratórios mensais


equivalentes à taxa selic desde o recolhimento indevido, observada a
prescrição quinquenal. Pode também compensar de acordo com a lei que
estiver em vigor na data em que efetivada.

Uma parte pagará a outra reciprocamente a verba honorária calculada sobre o


valor da compensação/repetição cujo percentual será definido depois da
liquidação, observadas as faixas a que se referem o art. 85, 3º do CPC.

Intimar as partes (União/PFN): se não houver recurso, devolver ao juízo de


origem.

Brasília, 20.06.2022.

NOVÉLY VILANOVA DA SILVA REIS

Juiz do TRF - 1 Relator

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DEMAIS VOTOS

PODER JUDICIÁRIO
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Gab. 23 - DESEMBARGADOR FEDERAL NOVÉLY VILANOVA
Processo Judicial Eletrônico

PROCESSO: 0019816-89.2017.4.01.3400 PROCESSO REFERÊNCIA: 0019816-89.2017.4.01.3400


CLASSE: APELAÇÃO CÍVEL (198)
POLO ATIVO: EMBRAER S.A.
REPRESENTANTES POLO ATIVO: JOSE PAULO DE CASTRO EMSENHUBER - SP72400-A
POLO PASSIVO:FAZENDA NACIONAL

TRIBUTÁRIO. AÇÃO DE CONHECIMENTO. CONTRIBUIÇÕES


PREVIDENCIÁRIA E DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO.
VERBAS INDENIZATÓRIAS E SALARIAIS. SALÁRIOS MATERNIDADE E
PATERNIDADE.

Salário maternidade

1. “É inconstitucional a incidência da contribuição previdenciária a cargo do


empregador sobre o salário maternidade” - RE/RG 576.967-PR, r. Ministro
Roberto Barroso Plenário em 05.08.2020.

2. Diante disso, é indevida a exigência de contribuição previdência durante a


prorrogação da corresponde licença maternidade por 60 dias prevista

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no art. 1º/I da Lei 11.770/2008. É irrelevante que a autora/empregadora
possa deduzir esse encargo no imposto de renda devido (art. 5º).

Salário paternidade

3. Conforme a tese vinculante fixada pelo STJ REsp 1.230.957-RS, r. Ministro


Mauro Campbell Marques, 1ª Seção em 13.03.2014. É exigível as
contribuições previdenciária e de terceiro sobre o salário paternidade durante
todo o período da licença, inclusive de sua prorrogação. Mesmo porque a Lei
8.212/1991 não tratou disso. A tese fixada no RE/RG 576.967-PR aplica-se
somente ao salário maternidade.

4. A pretendida equiparação tributária depende de lei específica, nos termos


do art. 150, § 6º, da Constituição.

Contribuições de terceiros

5. As contribuições previdenciária, adicionais e de “intervenção no domínio


econômico” (de terceiros: Incra, Fnde, entidades do Sistema “S” e do Fundo
Aeroviário instituído pela Lei 5.989/1973) têm a mesma base de cálculo: a
folha de salário (Lei 8.212/1991, art. 21 – RE 396.266-SC, Plenário em
26.11.2003). Por isso ambas incidem sobre verbas salariais e não incidem
sobre verbas indenizatórias.

Compensação

6. Sendo indevidas as contribuições, a compensação do indébito observará a


lei vigente na época de sua efetivação (limites percentuais, os tributos
compensáveis etc.), após o trânsito em julgado (REsp repetitivo 1.164.452-
MG, r. Ministro Teori Albino Zavaski, 1ª Seção/STJ em 25.08.2010).

Juros moratórios

7. É devida a repetição do indébito dos cinco anos anteriores ao ajuizamento,


incidem somente juros moratórios mensais equivalentes à taxa selic desde o
recolhimento, nos termos do art. 39, § 4º da Lei 9.250/1995, não podendo ser
cumulados com correção monetária.

8. Apelação da autora parcialmente provida.

ACÓRDÃO

A 8ª Turma, por unanimidade, deu parcial provimento à apelação da autora,

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Número do documento: 22062317011403300000227983553
nos termos do voto do relator.

Brasília, 20.06.2022.

NOVÉLY VILANOVA DA SILVA REIS

Juiz do TRF - 1 Relator

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